JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR
FEVEREIRO/MARÇO DE 2014
Seminário discute arte contemporânea e seu direito autoral, visto a facilidade da reprodutibilidade técnica. Página 2
ANO 4 N° 11
Escola adota rádio como projeto educativo
As Crianças reforçam valores de responsabilidade e competência enquanto se divertem nas gravações
Programa de rádio cearense oferece oportunidade para crianças participarem de gravações em estúdio, possibilitando experiências profissionais e construtivas Andrezza Albuquerque e Fernanda Façanha
O programa Rádio Criança surgiu com o objetivo de preparar os jovens para o protagonismo juvenil e mostrar aos ouvintes que as crianças têm capacidade de transformar sua realidade, por conhecerem os desafios, os anseios, as leis, a educação e a cultura. “A rádio dá a elas esses elementos de conhecimento, permitindo que digam ao público o quanto é importante a vida, a família, a sociedade, a política, a educação, a partir de leituras e tarefas, tornando-se adultos responsáveis e cidadãos”, explica o padre Gilberto Silva, idealizador do programa. Também diretor da Rádio FM Dom Bosco, ele ressalta que o projeto surgiu tendo como base princípios salesianos. Inspirado na história de São João Bosco, que a partir de um sonho percebeu a sua
missão cristã de transformar a vida de crianças e jovens para no futuro tornarem-se adultos de bom caráter, padre Gilberto tomou a iniciativa de levar os ideais religiosos de bondade, fraternidade e companheirismo à juventude. O projeto foi colocado em prática no dia 25 de agosto de 2013 e, segundo os organizadores, já começou com a audiência elevada. Desde então, o horário de 9h às 10h30, nos domingos, é reservado para as edições da Rádio Criança. Edvânio Alencar e Nilcemar Linhares, além de participarem de outros programas na FM Dom Bosco, tomaram a frente do projeto e hoje são os animadores e organizadores do programa. Em 2012, Nilcemar Linhares, também assessora do Banco do Nordeste e locutora da Rádio, deu início ao projeto, convidando crianças do Colégio Dom Bosco e filhos de ouvintes e amigos da paróquia para participar do programa experimental. A partir de então, a notícia da criação da rádio atingiu rapidamente os bairros de Fortaleza e, hoje, várias crianças ouvem, participam e têm interesse de fazer
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Como tudo começou Aos nove anos de idade, Dom Bosco sonhou com uma briga entre seus colegas. Para ele, as blasfêmias não poderiam conduzir as pessoas para o céu. Incomodado, quis que os amigos parassem de brigar para viverem em harmonia. Mas, ao impedir a briga, ele age também de forma violenta. Aparece Jesus e o alerta que não será com pancadas que transformará esses jovens em amigos, mas com a mansidão. Além disso, Nossa Senhora o alerta que sua missão é transformar crianças que estão em risco em bons cristãos e honestos cidadãos. Então, ele cresce e esquece esse sonho, que, no futuro, relembra e percebe que a única forma de preparar os jovens em risco para assumir a responsabilidade de conduzir os outros era a partir do protagonismo juvenil. Com isso, surgem os Salesianos, composto por meninos de rua, órfãos, formando uma das maiores congregações religiosas do mundo; associação que possui escolas, universidades, orfanatos, creches, abrigos, paróquias, rádios e jornais, presente em 130 países. O trabalho deles foca no protagonismo juvenil e dessa ideia surgiu a Rádio Dom Bosco e o programa Rádio Criança.
Foto: Fernanda Façanha
parte da equipe. O número de crianças que se inscreveram para participar de uma edição do programa já passa de 100 e os organizadores afirmam que todas terão essa oportunidade, mas será priorizada a ordem da lista de inscrição.
Nilcemar Linhares
“O esperado é que elas identifiquem, na realidade que vivenciam, quais as coisas que não estão bem. Bolem ações que possam ajudar a resolver as questões, planejem e protagonizem” Organizadora do programa Rádio Criança
Quem faz a rádio A ideia de disponibilizar o espaço da rádio para crianças precede um futuro promissor às que pretendem permane-
cer no meio da Comunicação Social, como é o caso de Pedro Kaian, 11, um dos âncoras do programa. Ele diz que tem interesse em continuar na rádio, não só para evangelizar, mas para preparar e orientar, futuramente, outras crianças. Para Nathan Mota, 12, também âncora do programa, a Rádio Criança é o primeiro passo para o seu futuro como jornalista televisivo. “A rádio e a televisão não são muito distantes, por isso eu me aproximo da rádio e gosto de estar interagindo com as pessoas”, afirma motivado. O reconhecimento por parte dos ouvintes empolga e estimula as crianças que participam. “Nós andamos na rua, na escola e as pessoas apontam pra gente, nos reconhecem. Muitos dizem que nós vamos ser padres!”, afirma Pedro Kaian, que diz ser muito bem acolhido pelos ouvintes. Além do reconhecimento, Nathan comenta sobre a interação social em geral. “Aqui a gente faz novos amigos, não só da rádio, mas os ouvintes que gostam do nosso trabalho. Muitas pessoas nos reconhecem, olham pra gente e dizem: ‘olha o Nathan, o Pedro!’ E dizem também que
a gente faz muito sucesso!”, ressalta. A timidez também foi um problema resolvido rapidamente. Para as crianças, o início das atividades foi uma experiência diferente, mas também muito arriscada. “No começo, eu tive vergonha de trabalhar, mas depois as pessoas foram muito receptivas e eu fiquei logo amiga de todos”, afirma Isabella Dornelles, 11. Brincando, as crianças falam que, depois da rádio, tornaram-se muito mais comunicáveis, confiantes e receptivas. “Minha professora não sabe o que tenho pra falar tanto”, diz Pedro. Nilcemar relata que o principal objetivo da rádio é “despertar o protagonismo das crianças filhas de amigos ouvintes e de paroquianos”. Como efeito, isso despertou o interesse e atuação crescente das crianças, por meio de uma participação construtiva. “O esperado é que elas identifiquem, na realidade que vivenciam, quais as coisas que não estão bem. Bolem ações que possam ajudar a resolver as questões, planejem e protagonizem”, afirma a responsável pelo programa.
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Seminário discute reprodução e direito autoral de obras de arte Evento debate Arte Contemporânea e Direito Autoral: reflexões sobre derivação, apropriação, reprodutibilidade técnica e dissolução de autoria Thaís Praciano
Com uma apresentação da Camerata da Unifor como abertura, o Seminário de Direito das Artes foi um dos eventos mais aguardados do segundo semestre de 2013. Idealizado pela professora mestra do curso de Direito Carolina Campos, o auditório da biblioteca contou com a presença de alunos, professores, coordenadores, artistas, galeristas e apaixonados pela arte. Premiado pelo Edital de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do Ceará (SecultCE), o seminário nasceu pelo desejo da professora e dos seus alunos do grupo de pesquisa Direito das Artes em ampliar este assunto no universo acadêmico, devido ao contexto nacional de reprodução e distribuição das produções artísticas e os processos jurídicos que elas causam. A paixão pelo tema começou desde cedo na vida da professora Carolina, já que seu avô era o contista Moreira Campos e sua mãe a escritora Natércia Campos. “Quem enriquece o mundo é o artista. É muito difícil ser artista em uma terra em que o mercado é tão incipiente. A arte é o patrimônio da humanidade, é o que nos faz humanos, quase deuses”. A plateia começou o dia assistindo a apresentação da professora de História da Arte e da Estética Hermínia Lima sobre a sua tese de mestrado, que investiga o diálogo entre obras de arte. Ela avaliou duas obras derivadas do quadro Moça com Brinco de Pérola, de Johannes Vermeer: o romance de Tracy Chevalier e o filme de Peter Webber. Na primeira mesa da manhã, presidiada pelo professor Doutor Sidney Guerra, diretor do Centro de Ciências Jurídicas da Unifor, foi debatida a experiência da Arte Contemporânea. O professor, artista plástico e coordenador de formação Pablo Manyé, do Porto Iracema das Artes, discursou sobre a dificul-
Direito autoral sobre as obras de arte é discutido por Pablo Manyé, Sidney Guerra e Carlos Macêdo
dade em dar uma opinião sobre os direitos autorais. Ele exemplificou mostrando várias obras que colocam o debate sobre a perspectiva dos interesses do artista, explicando que o processo envolve a divulgação, a promoção e o problema financeiro. Na tela foram projetadas as obras de Piero Manzoni, um artista italiano que, em 1961, desafiou os limites entre a arte e a não-arte ao criar a “Base do Mundo”. Trata-se de um pedestal que se encontra de cabeça para baixo, ou seja, como se o planeta estivesse sobre ele. Dessa maneira, o mundo pertenceria a Piero assim como uma escultura sobre qualquer pedestal pertence ao seu escultor. Já o professor Carlos Macêdo, artista plástico e filósofo, também indagou sobre qual é o verdadeiro conceito de arte. “O grande problema é a indicação do que é arte. O conceito de arte nunca estará fechado, novos são inseridos todos os dias”. Ele ainda questionou sobre os limites que estabelecem o direito autoral de uma produção. “Até que ponto aquela obra pode ser retirada ou removida daquele lugar, se ela foi feita para estar naquele ambiente, para fazer parte dele?”. A segunda mesa, presidida por Viviane Queiroz, coordenadora de patrocínio cultural do Banco do Nordeste, discutiu a gestão pública de cultura e teve como convidados Henilton Menezes,
Carolina Campos
É muito difícil ser artista em uma terra em que o mercado é tão incipiente. A arte é o patrimônio da humanidade, é o que nos faz humanos, quase deuses. Professora de Direito da Unifor e organizadora do evento
secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura (Sefic-MinC), e o vereador de Fortaleza Guilherme Sampaio. O vereador destacou a importância da cultura na sociedade e no projeto de uma nação. “É indispensável que a política de cultura seja um eixo principal no projeto de um país como o Brasil. A economia e a educação de um país é decorrente de sua cultura”, defendeu Sampaio, lembrando que nos últimos anos há uma evolução na criação de programas culturais na cidade. Contemporaneidade No período da tarde, a terceira mesa discutiu as perspectivas de autoria, as inovações tecnológicas e o desafio da reprodutibili-
Foto: Thiago Gadelha
dade técnica, comandada pelo professor doutor Carlos Velázquez. O primeiro palestrante, Ricardo Paiva, vice-presidente da Organização dos Advogados do Brasil Secção Ceará (OAB-CE), falou sobre as dificuldades do direito autoral na Internet, quando as pessoas postam conteúdos como se fossem suas. Ele também destaca o quanto a cópia de conteúdo é prejudicial aos alunos do Ensino Superior. “A questão da cópia é um problema grave porque os alunos não têm a capacidade de desenvolver raciocínio, simplesmente copiam e colam. Não existe uma política pública formal que venha coibir esse tipo de comportamento”. Já o segundo convidado, o professor doutor e coordenador do Grupo de Pesquisa Direitos Culturais Humberto Cunha discursou sobre o direito autoral no âmbito do direito cultural, mostrando que este possui intervenção de diversas pessoas na sua criação e defendendo a igualdade para todos. “É adequado que a expressão direitos culturais esteja no plural, pois há uma atuação de diversos autores culturais. Qualquer coisa que afete a dimensão de igualdade, as pessoas gritam”, exclamou. A última mesa do evento, presidiado pelo professor mestre Carlos Augusto, teve a presença do historiador e crítico literário Humberto Pinheiro, que contou sobre a história da autoria.
Antes, as obras circulavam apenas oralmente, tornando difícil identificar quem era o autor. Só com o surgimento da imprensa é que essa relação começou a ser estabelecida. Gregório de Matos, por exemplo, somente foi reconhecido como autor a partir do século XIX. Assim também surgiram os interesses financeiros e jurídicos sobre uma obra e a originalidade passou a ser valorizada. A professora Geovana Cartaxo contribuiu na discussão, questionando se a cópia prejudica a inovação. Sobre a economia, ela afirma: “se você copia, está prejudicando completamente a economia”. A professora explicou que o copyleft é a cópia autorizada, fora do direito autoral e do contrato jurídico, diferente da conhecida coypright, o direito de reprodução do autor. Para ela, o primeiro é importante porque o compartilhamento da arte traz mais criatividade e aumenta o valor da obra. O evento foi encerrado com as considerações finais do professor Humberto Cunha e das perspectivas e agradecimentos da professora Carolina Campos. Sobre a importância dessa discussão para a sociedade, o professor Pablo Manyé afirma que “nos esperam novos desafios e precisamos de seminários como este para exercer juntos o apaixonante exercício de pensar sobre o que ainda não foi pensado”.
Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão: Profa. Maria Clara Bugarim - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Diagramação: Aldeci Thomaz e Claudia Cabral - Professor orientador: Alejandro Sepúlveda - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Revisão: Prof. Antônio Celiomar - Edição: Giovânia de Alencar e Thaís Praciano - Redação: Andrezza Albuquerque, Fernanda Façanha, Larissa Sales, Lorrana Feitosa e Thaís Praciano - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 750 exemplares
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VALE-CULTURA
Direito do consumidor
Projeto visa ampliar acesso a bens culturais Cartão facilita a participação em atividades culturais por pessoas de menor poder aquisitivo fornecendo R$ 50 reais mensais Larissa Sales e Lorrana Feitosa
Historicamente, no Brasil, o investimento cultural esteve em segundo plano, devido, principalmente, às necessidades primárias serem deficientemente ofertadas à população. No entanto, a deputada Manuela D’Ávila (PC do B-RS) deu iniciativa ao projeto de lei que cria o Vale-Cultura, sancionado pela presidente da República Dilma Rousseff, em dezembro de 2012. O projeto tem como objetivo promover a universalização do acesso e fruição de bens e serviços culturais, estimulando uma maior participação em eventos, espetáculos e estabelecimentos ligados à cultura. O programa oferta R$ 50 mensais a trabalhadores contratados em regime de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que recebem até cinco salários mínimos (R$ 3,39 mil) anuais, possibilitando a inserção dos trabalhadores em programas culturais, como ir ao cinema, teatro, museu, show, circo, alugar livros, DVDs, comprar jornais, revistas, entre outros produtos e serviços. O benefício ainda não é de total conhecimento por parte dos trabalhadores. Não é o caso de Alice Maria, funcionária de serviços gerais que, através do rádio, soube do programa e prontamente buscou mais informações. “Eu procurei os meus superiores e eles não sabiam nem do que se tratava o programa. Eu espero que a empresa faça a adesão, pois eu usaria o vale para comprar livros e ir ao cinema com o meu filho. Infelizmente, não é um lazer acessível para todas as classes sociais”, lamenta. Como meio de estimular a adesão ao Programa, o Governo Federal descontará até 1% do imposto de renda das empresas que aderirem ao benefício cultural. Ricardo Eleutério, economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), avalia de forma positiva o Vale-Cultura. “Quanto mais estímulos culturais se tiver, melhor para o desenvolvimento da sociedade e formação dos cidadãos. Como diz a música, ‘A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte’”, explica. Sobre o valor do Vale, Eleutério acredita que
Alice Maria espera fazer bom proveito do Vale com livros e cinemas
Foto: Larissa Sales
CARTÃO DE CRÉDITO
Pode exigir valor mínimo de compra? Não, não pode. A prática é considerada ilegal. “Esta conduta de condicionar o fornecimento de serviços a limites quantitativos é vedada pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), ao qualificá-la como prática abusiva (art. 39)”, explica o advogado Paulo André Aguiar. Se o lojista escolhe adotar o cartão como forma de pagamento, então qualquer valor, mesmo pequeno, deve ser aceito para as compras à vista. “O consumidor deve exercer o direito de pagar somente aquilo que consumiu e questionar perante o gerente da loja. Caso o estabelecimento se recuse, poderá o consumidor denunciar esta conduta abusiva ao
DECON”, orienta Aguiar. Os comerciantes alegam que as taxas cobradas pelas operadoras de cartões são elevadas (custos com aluguel das maquinetas, mais percentual incidente sobre cada transação realizada), e há, portanto, prejuízo quando operam com pequenos valores. Mas é bom lembrar: o consumidor, para manter o uso do cartão, também paga tarifa à administradora. O lojista, se respeita a legislação, evita multa e, mais importante, pode ganhar a credibilidade do comprador. SERVIÇO Procon Fortaleza Rua Major Facundo, 869, Centro (85) 3105 1136
COMPRAS COLETIVAS
O que fazer quando o produto não chega?
O economista Eleutério defende a cultura como primordial para a educação
abrirá possibilidades de avanço no futuro. “Com R$ 50 reais dá pra ir algumas vezes no cinema, mas dependendo do show, já não dá pra ir. Livro também, porque é caro no Brasil”, analisa. Entre artesanatos, livros, cinema e shows, o Vale incentiva uma interação de grupos Saiba mais...
O que comprar com R$50 Com base na média de preços desses produtos e serviços culturais, calcula-se que, em Fortaleza, com R$50 é possível adquirir os seguintes benefícios: Comprar um livro (preço médio de R$ 34) Ir ao cinema de cinco a dez vezes (média do preço do ingresso é R$ 10 a inteira e R$ 5 a meia) Fazer assinatura para receber diariamente um jornal local (preço médio de R$ 47) Ir a shows populares pelo menos duas vezes ao mês (preços variando de R$ 10 à R$ 40) Visitar museus pelo menos 12 vezes no mês (com variação de entrada entre R$ 2 a R$ 28)
Foto: Lorrana Feitosa
que estejam afastados do âmbito cultural. “Como gastar esse dinheiro depende da região, pois será influenciado pelos hábitos culturais, históricos e educacionais. De repente, o trabalhador lá do Rio vai gastar num baile funk, aí o cara que mora no Leblon vai usar para assistir a uma peça de teatro. Aqui em Fortaleza, a pessoa pode comprar um livro na livraria ou pode assistir a um show de forró. A educação, os regionalismos, a formação cultural, ou a própria ausência dela, vão influenciar”, explica Eleutério. Cadastramento das Empresas Os interessados em oferecer o Vale-Cultura aos seus funcionários podem efetuar cadastro no site do Ministério da Cultura, sem prazo limite para a atividade. O empregador preenche o cadastro, apresenta os documentos solicitados no Formulário de Credenciamento da Empresa Beneficiária e escolhe com qual empresa operadora do cartão Vale-Cultura quer trabalhar. Qualquer empregador que recrute trabalhadores com carteira assinada e que recebem até 5 salários mínimos pode participar do programa. O site para cadastramento é: vale.cultura.gov.br
O problema mais comum é o que envolve a falta de compromisso com a entrega dos produtos adquiridos. O consumidor se vê desassistido, sobretudo, por desconhecer de quem é a responsabilidade pelo transtorno, já que não sabe quem deve ser acionado na maioria das vezes. Embora não existam ainda leis que tratem precisamente sobre a matéria, podemos aplicar o Código de Defesa do Consumidor (CDC), com a lei 8.078. É neces-
sário, portanto, ficarmos antenados e desconfiar de propostas e anúncios que veiculam produtos com preços excessivamente vantajosos ou discrepantes daqueles praticados no mercado. A minha orientação é que se procure o Procon ou os Juizados Especiais Cíveis, acionando judicialmente todos os possiveis responsaveis, através da busca ao CNPJ dessas empresas. Raíssa Teles Duarte, advogada
PLANOS E SEGUROS DE SAÚDE
Quem fiscaliza? As empresas de planos de saúde estão em meio às que mais recebem reclamações dos consumidores. Além de altas mensalidades, os usuários também reclamam da dificuldade em agendar consultas, realizar exames e internações. A regularização dos planos de saúde, a partir de 1998, foi dada pela Lei 9.656, que tem como finalidade o cumprimento das normas exigidas por esse tipo de empresa. Além disso, os usuários poderão contar com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), através da atuação da justiça e a participação de Procons. A fiscalização dessas em-
presas é dada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Porém, por ter sido criada recentemente, ano 2000, e conhecida por apenas uma pequena parcela da população, esse órgão recebe poucas reclamações. Vale ressaltar que a ANS também atua quando existe controvérsia da cobertura de procedimentos, como cirurgias, a partir da Notificação de Investigação Preliminar (NIP). SERVIÇO Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Telefone: 0800-700-9656 Site: www.ans.gov.br
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Entrevista
Documentário de jornalista belga mostra outra face de Fortaleza Com características físicas que já denunciam tratar-se de uma estrangeira, a belga de 25 anos, Maryse Williquet, chama a atenção pela sua aparência: pele branca, cabelos aloirados e sotaque francês, ainda carregado. Em apenas dois meses no Brasil, a jornalista, formada pelo IHECS (Institut des Hautes Etudes des Communi-
cations Sociales-Brussels), em Bruxelas, aproveita a bolsa de estágio para fazer seu trabalho de fim de estudo: um webdocumentário sobre os impactos e preparativos que antecedem a Copa do Mundo, realizada em Fortaleza. Desta forma, pretende fazer um retrato da cidade dentro do projeto
Fernanda Façanha
Maryse Williquet já trabalhou em uma ONG, na Bélgica, e gosta de fazer Comunicação de multimídia e Jornalismo com engajamento social. A duração da bolsa é de três meses, com três semanas de aulas de português e 12 semanas de estágio que será realizado no Instituto da Primeira Infância (Iprede). “A prática do Jornalismo é muito importante. Algumas universidades têm muita teoria e depois os alunos chegam no mercado de trabalho, na prática, e não sabem o que fazer. A experiência de um intercâmbio no curso vale a pena, você vive uma outra cultura, outra habilidade de trabalho”, ressalta. Em entrevista para o Coletivo, ela conta como veio ao Brasil, os impactos que sentiu ao chegar aqui, o foco social da sua formação e o que aprendeu em apenas dois meses no Nordeste.
Foi muito difícil ver crianças com mães que dormem e passam muito tempo na rua
Coletivo - Por que você escolheu o Brasil para fazer intercâmbio? Maryse Williquet - Porque é um país muito controverso, paradoxal, emergente, com economia e diferenças sociais muito fortes. Eu queria entender essa contradição e como as pessoas vivem aqui. Depois me perguntei como ir ao Brasil, pois gasta-se muito dinheiro. Eu procurei uma bolsa no Ministério do Trabalho, da parte francesa da Bélgica que tem um programa voluntário em um dos países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), então postulei para o Brasil.
C - O que você já fez nesse tempo no Brasil? Gostaria de ficar mais tempo aqui? MW - Na verdade, tenho um projeto de webdocumentário que fala sobre os preparativos, desapropriações e impactos antes da Copa em Fortaleza. Antes de vir para cá só havia feito leituras, porque eu não falava português. Agora já tive muitos contatos com várias pessoas em comunidades, particularmente as que foram e vão ser deslocadas para as obras da Copa, em especial o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Também me comuniquei com a Nigéria, um coletivo de jornalistas cearenses que já trabalharam muito sobre este assunto. Eles fizeram um documentário que se chama “Com Vandalismo”, sobre os protestos que ocorreram em junho de 2013.
C - Você falou que o Brasil é caracterizado por um grande contraste social, já que é uma economia emergente. Percebeu isso quando chegou aqui? Ficou surpresa com o que tem visto? MW - Sim, muito. Para mim foi um grande choque. Na Bélgica nós também temos populações pobres que ficam na rua, mas não tanto quanto aqui e não é uma pobreza tão dura. Foi muito difícil ver crianças com mães que dormem e passam muito tempo na rua. Acho que na Bélgica nós temos uma melhor assistência social, o mínimo você pode ter. Temos miséria educacional, econômica também, mas não como aqui. Eu senti muito a diferença entre os ricos e as outras classes, como se tivessem dois mundos.
Acho que na Bélgica nós temos uma melhor assistência social, o mínimo você pode ter. Temos miséria educacional, econômica também, mas não como aqui
C - Quais as dificuldades que você encontrou para fazer o webdocumentário? MW - A língua! Eu não falava nada de português dois meses antes. Então, isto com certeza foi e é a maior dificuldade, falar com um vocabulário melhor é “demais difícil”. Também os contatos com boas pessoas, porque nós não conhecíamos ninguém daqui. Necessito de muitas pesquisas, muito tempo para pesquisar os sites e mídias belgas que poderiam difundir o documentário, e para isso precisamos de muitos e-mails e redação.
C - Como avalia a sua estada em Fortaleza, até o momento? MW - Tenho que aprender a me acostumar com o ritmo do dia: muito quente e também com a atmosfera de medo daqui, ter cuidado todo tempo. Já aprendi sobre a história da cidade, da urbanização muito rápida. Encontrei alguns artistas que trabalham sobre este tema e é bem interessante para entender a vida da cidade hoje. Parece-me que as remoções de algumas comunidades por causa das obras da Copa são a continuação de uma política bem antiga, porque não é a primeira vez que a população pobre é deslocada na periferia da cidade. Assim, as elites e turistas podem viver sem ter que ver a pobreza. Enfim, tenho que aprender ainda muito mais, acho que entendo gradualmente a cidade e que esta região do Brasil é muito rica em histórias. Parece-me, também, que muitos jovens adoram a cidade em que vivem e querem conhecer sua história, evolução e partilhar todo este conhecimento comigo. Mostrar que Fortaleza não é só as praias de Iracema e do Futuro. Enfim, eu adoro descobrir a cidade, ir atrás dos olhos destes jovens, artistas, ou simplesmente pessoas, voilà!
A pesquisadora acredita ter vivenciado boas experiências com sua vinda ao Brasil Foto: Pedro Vinícius