Folego 32

Page 1

SOB

FÔLEGO - JORNAL LABORATORIAL DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA // MAIO DE 2014 // ANO 09 Nº 32

Fôlego

PRESSÃO

Veja os títulos conquistados pela seleção brasileira

A Copa chega no Brasil A Copa do Mundo traz boas expectativas econômicas e sociais, mas também gera controvérsias

P.02

Entrevista

“Teremos duas Copas: a da vergonha e a dos estádios”

Lígia Costa e Victor Lima

É quase chegada a hora do apito que anunciará a abertura da Copa do Mundo Fifa 2014. O Brasil, após um intervalo de 64 anos, sediará pela segunda vez o evento, que chega em sua vigésima edição. O mascote da edição do torneio no Brasil foi inspirado no tatu-bola, animal da fauna brasileira que está em risco de extinção. Já a bola oficial, faz referência às fitas do Senhor do Bonfim, padroeiro de Salvador. Reza a lenda que, quando um desejo é realizado, a fita se rompe e o desejo de todas as seleções presentes é conquistar a Copa. Mas o Mundial também traz novidades, dentre elas a primeira participação da Bosnia-Herzegovina (antiga Iugoslava), país que possui 3,7 milhões de habitantes, sendo a maioria deles torcedores da Ucrânia – país com quem faz fronteira. Enquanto isso a Alemanha e o Brasil disputarão sua centésima partida em Copas. Controvérsias Se em 1950 o clima era de total otimismo nacional, dessa vez as opiniões estão divididas. Uma parcela dos brasileiros se opõem à realização do torneio em casa, insatisfeitos com os bilhões de reais investidos nos estádios e com a falta de infraestrutura das cidades-sedes. A influência que o evento teria na economia também gera discussões. De acordo com estudo realizado em 2010, pela consultoria Ernst & Young, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), os investimentos voltados para a realização da Copa serão quintuplicados, chegando a ser injetado na economia brasileira um total de R$ 142,39 bilhões, até 2014. Já os levantamentos feitos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade de Hamburgo, apontam que o impacto na economia seria bem menor. Com visibilidade mundial garantida pelo maior torneio de

Em entrevista ao Fôlego, Paulo César Norões, chefe da editoria de esportes da TV Verdes Mares, conversou sobre as suas expectativas sobre a Copa Camila Mathias e Lígia Costa

FÔLEGO: Como você espera que a população irá receber a Copa? PC NORÕES: Quando a bola começar a rolar, o clima de Copa do mundo tomará conta, ainda que a gente vá conviver com alguns protestos. Uma coisa é a situação política do país, como a corrupção, porém isso não quer dizer que tenham que condenar a Seleção Brasileira. Mas acho que, de uma maneira geral, a população mostrou ano passado que sabe separar bem as coisas: o Brasil do futebol e o que ninguém gosta de ver.

futebol, o Brasil se prepara para atrair e receber turistas, fator que, desde o início, levou o Governo a estipular a geração de milhões de empregos. O site oficial do Governo Federal aponta que cerca de 710 mil empregos permanentes e temporários devem ser gerados no período, em âmbito nacional. Em fevereiro de 2014, só em Fortaleza foram abertas mil vagas. O estudante Thomas Pacheco aguarda resposta de uma promessa de emprego na área de turismo. “Essa é uma oportunidade porque estou precisando de dinheiro e vou poder lidar com turistas”, explica. Leia, nesta edição especial sobre a Copa do Mundo, divisões de opiniões, protestos, Comitê Popular, debates, indicações de filmes, documentário, livro, retrospectiva da seleção brasileira e um artigo, todos acerca do evento.

F: Acredita que o Brasil está preparado para receber esse tipo de evento? PC: Claro que não. Não foi feito nem 10% do que estava proposto. Quanto a estrutura, será muito aquém do que se imaginava. Mas serão feitas adaptações para que as coisas funcionem. F: Qual é o legado que a Copa deixará para o pais? PC: Os estádios são os únicos legados. Estão 100% prontos e já sendo usufruídos pela população. Mesmo que as outras obras sejam terminadas depois, se perdeu a oportunidade de criar um sentimento na população de que aqui é um país sério. A resposta é exatamente essa onda de protestos, essa insatisfação. A parte do futebol não tenho dúvida de que será um sucesso, como foi a Copa das Confederações. Agora o entorno, o lado de fora, vamos passar vergonha com obras inacabadas. Vamos ter duas copas, a da vergonha e a dos estádios. Estes pelo menos vão salvar em parte a nossa imagem.


2

FÔLEGO / MAIO 2014

Seleção Brasileira

ganha título de Tricampeã Mundial em 1970, no México Foto: Arquivo PUC-Rio, portal Nucleo de Memória

Retrospectiva de um pentacampeão A seleção brasileira é a que mais ganhou Copas do Mundo de futebol e foi a primeira seleção tricampeã mundial com a conquista da Copa do Mundo de 1970 Tatiana Alencar e Victor Lima

Suécia 1958: primeira conquista O Brasil chega à Suécia com pouco otimismo, já que quatro anos antes não havia nem passado das “quartas-definal”. E ainda amargurava a decepção da Copa de 1950, em que perdeu o título para os uruguaios no Maracanã. Todavia, o torneio disputado em gramados suecos marca o surgimento de Pelé, um garoto de 17 anos que encanta com a bola em campo. Logo na estreia, o Brasil ganha de 3x0 da Áustria. O segundo jogo foi mais disputado e não saiu do 0x0 diante dos ingleses. Pelé e Garrincha estreiam na terceira partida contra a antiga União Soviética, com vitória de 2x0. Passando para as “quartas-de-final”, o Brasil vence o País de Gales com um gol inesquecível de Pelé. Num jogo emocionante, a seleção vence a França nas semifinais com o placar de 5x2. Na final, o mesmo placar se repete contra a Suécia, e o Brasil conquista seu primeiro título mundial.

Chile 1962: Brasil sagra-se bicampeão do mundo Com um time muito parecido com o da conquista de 1958, o Brasil estreia com uma vitória de 2x0 sobre o México. O jogo seguinte contra a Tchecoslováquia é dramático: não saiu do 0x0, tendo ainda Pelé machucado sem poder disputar o restante da Copa. Amarildo resolve no jogo seguinte, substituindo Pelé com maestria. Marca 2 gols na vitória de 2x1 sobre a Espanha e classifica o Brasil para as quartas. Garrincha começa a brilhar a partir daí e o Brasil passa pela Inglaterra por 3x1, pelo Chile por 4x2 e pela Tchecoslováquia, de virada, por 3x1.

México 1970: Brasil tricampeão No México, o Brasil ganhou a terceira de suas Copas e, com isso, ganhou também a posse definitiva da Taça Jules Rimet. A seleção contava com várias estrelas lideradas por Pelé e foi campeã vencendo todas as partidas: 4x1 Tchecoslováquia, 3x2 Romênia, 1x0 Inglaterra, 4x2 Peru, 3x1 Uruguai e 4x1 Itália. Marcaram na final: Pelé, Jairzinho, Gérson, Carlos Alberto Torres numa bomba, aos 42 minutos do segundo tempo, que deu início a festa do terceiro mundial ganho. Essa Copa é considerada uma das campanhas mais perfeitas de Copa do Mundo. Tão genial que até os gols não feitos pelo craque Pelé entraram para a história. Anos depois, a Taça Jules Rimet, de ouro, foi roubada e derretida no Rio de Janeiro.


FÔLEGO / MAIO 2014

3

Saiba mais

Origem dos torneios Criada pelo francês Julis Rimet em 1928, a Copa do Mundo surge como um torneio internacional. Com evolução nas últimas décadas, tem se tornado o segundo maior evento esportivo do mundo, perdendo apenas para os Jogos Olímpicos

Vanessa de Carvalho e Victor Lima

Estados Unidos 1994: é tetra Diferentemente da performance impecável de 1970, o Brasil levou a taça em 1994 com um futebol defensivo e desinteressante. Nada de “futebol-arte”: muita defesa e Bebeto ou Romário marcando pelo menos um gol pra garantir a vitória. Para chegar à final, o Brasil teve o seguinte placar: 2x0 Rússia, 3x0 Camarões, 1x1 Suécia, 1x0 EUA, 3x2 Holanda e 1x0 Suécia. A final contra a Itália foi a única decisão de Copas do Mundo sem gols. Com o placar de 0x0 a decisão foi para os pênaltis nos quais o Brasil ganhou por 3x2.

Japão e Coreia do Sul 2002: pentacampeão do mundo Dessa vez o “futebol-arte” foi à tona novamente e com uma performance empolgante e craques como Rivaldo, Ronaldo, Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho, contando ainda com Lúcio, um zagueiro cheio de raça, o Brasil levou a taça em 2002. Assim como em 1970, o Brasil ganhou a Copa do Mundo vencendo todos os jogos: 2x1 Turquia, 4x0 China, 5x2 Costa Rica, 2x0 Bélgica, 2x1 Inglaterra, 1x0 Turquia e 2x0 Alemanha.

A Copa do Mundo é realizada de quatro em quatro anos e conta, atualmente, com a participação de 32 seleções que disputam o título juntamente com o país anfitrião. Nos três anos anteriores à competição são realizadas, em cada continente, as eliminatórias para o evento. Em média, as eliminatórias contam com a participação de 200 seleções que concorrem às 31 vagas restantes. A Federation International Football Association (FIFA), foi criada em Paris, no dia 21 de maio de 1904, pelo francês Robert Guérin. Vinte e quatro anos depois, o também francês Julis Rimet assume a presidência da FIFA e cria a primeira edição da Copa do Mundo. Realizada no Uruguai em 1930, a primeira competição contou com a participação de apenas 13 seleções, onde o próprio país-sede consagrou-se campeão. Nas duas edições seguintes, a Itália ficou com o título. Durante os anos de 1942 a 1946, a competição foi suspensa devido à eclosão da Segunda Guerra Mundial. Em 1950, o Brasil foi escolhido para sediar a Copa. Com uma ótima seleção, o país chega na final contra o Uruguai. Um simples empate daria aos brasileiros o seu primeiro título, porém os uruguaios conseguiram o que parecia impossível. Venceram o Brasil por 2x1 e calaram um púbico de 200 mil pessoas que ali estavam, no Maracaná. O Brasil só sentiu o gosto da vitória em 1958, na Copa disputada na Suécia.

Campeão A Seleção Brasileira de Futebol, conhecida como Seleção Canarinho desde 1954, é a atual campeã da Copa das Confederações, com cinco títulos mundias. Tal evento consiste em um torneio realizado um ano antes da Copa do Mundo. A sua última edição foi realiza em 2013 e contou com a participação da Espanha (atual campeã mundial), dos seis campeões das eliminatórias em cada continente, e do Brasil. Após 64 anos, o Brasil – único país que participou de todas as edições e que possui mais títulos mundiais – sediará novamente a Copa. A competição será disputada entre os dias 12 de junho e 13 de julho de 2014. As 12 cidades-sede escolhidas para seriar os jogos passaram por grandes mudanças de infraestrutura.


4

FÔLEGO / MAIO 2014

Comitê popular acompanha preparativos para o evento O responsável pelo Comitê popular da Copa avalia o cenário da cidade e a reação da população durante o evento Andrezza Albuquerque

A população tem se organizado para fazer sua voz ter força nas decisões tomadas pelo poder público com relação aos preparativos para a Copa do mundo. É dessa forma que surgem comitês, como o Comitê Popular da Copa de Fortaleza. Ele nasceu em 2009, alguns meses depois da escolha das cidades que vão sediar a Copa do Mundo de 2014. Desde então, estas cidades criaram um comitê popular, reunindo pessoas interessadas no assunto e membros de outros grupos sociais que se mobilizam contra o evento e seus efeitos na cidade. Em princípio, a proposta é acompanhar as intervenções realizadas pelo poder público nas localidades que sediarão os jogos da Copa. Especificamente aqui, em Fortaleza, as obras propostas pelo governo exigem um considerável investimento em ações de mobilidade, como é o caso da implantação do Veículo Leve

sobre Trilhos (VLT), que vai atingir o espaço físico de 22 bairros. Roger Pires, 24, representante do Comitê de Fortaleza e comunicador social, alega que a organização está preocupada com os impactos sobre os cidadãos. “Estamos atentos às violações dos direitos humanos. Constataremos nessas transformações da Copa e nesse discurso do legado do que fica pra a cidade, se essas mudanças não violam os direitos humanos das pessoas, na ilusão de que vai haver melhorias”. Desde 2009 são realizadas reuniões em locais como centros de pastorais, em igrejas ou espaços que estejam disponíveis, onde os membros estudam todas as possíveis alterações físicas causadas na cidade. Neste ano, tendo em vista que o assunto está em evidência, os encontros são mais frequentes e contam com um número maior de participantes. “Desde o começo do ano, nós utilizamos como estratégia fazer o que a gente chama de Plenária Ampliada, que são reuniões

maiores, feitas de 15 em 15 dias, onde convidamos vários outros grupos que não faziam parte ainda do Comitê para se juntar a nós. A gente está indo para a quinta reunião realizada desse tipo e contamos com a presença de 70 a 80 pessoas”, pontua Pires. Ao contrário do que se pensa, são poucas as ações de rua executadas pelo Comitê. Pires explica que o grupo não são contra as pessoas que fazem ações diretas, porém, eles buscam outras formas de atuações. “Tentamos passar para as pessoas a informação que colhemos durante esses anos de pesquisa, para que elas saibam como podem transformar, além de trazer uma formação política para elas. O que a gente quer é que todo mundo saiba da existência desse outro lado, por trás dos jogos da Copa”. Para tanto, serão realizados seminários, palestras e oficinas abertas ao público. Está nos planos da organização, ainda, a produção e distribuição de uma cartilha contendo resumidamente todas as pesquisas realizadas pelos membros do Comitê, que será distribuída em escolas, universidades e sindicatos até o início da Copa.


FÔLEGO / MAIO 2014

As manifestações de junho de 2013, em Fortaleza, contaram com grande presença de jovens levantando bandeira contra a Copa do Mundo deste ano, 2014 Fotos: Giovânia de Alencar

5

Mais pão e menos circo Andrezza Albuquerque

A frase começou a ser empregada nas redes sociais, denominando um grupo no Facebook que mobilizou a Cidade para as manifestações de junho de 2013 e faz alusão à expressão romana Panis et Circenses. Um grupo intitulado “Mais pão e menos Circo” faz uso, em seus movimentos e campanhas, do seguinte questionamento: “Copa pra quem?”, indagando a importância e a utilidade da Copa para a sociedade. Panis et Circenses, que em português significa Pão e Circo, foi um termo utilizado para designar a política vivenciada no período imperial de Roma. A estratégia de fazer com que os plebeus se mantivessem afastados de questões políticas e sociais do país, para muitos, é utilizada ainda hoje. Os imperadores faziam o possível para evitar revoltas e manifestações, promovendo espetáculos, lutas sangrentas e distribuição mensal de pão para as pessoas carentes. O representante do Comitê de Fortaleza, Roger Pires, acredita que atualmente a situação está ainda pior. “Está faltando o pão, só tem o circo”. Na atualidade, o termo passa a ser encarado como todos os conhecidos meios de alienação da população. Especialmente em 2014, com a Copa do Mundo, a população que não se alimenta de “Pão e Circo” está atenta aos efeitos que o evento pode acarretar.

Depoimentos

Opiniões divididas Diferentes visões sobre os efeitos da Copa na cidade são mostradas por universitários que se interessam pelo assunto Andrezza Albuquerque e Gustavo Nery

Com vandalismo

Jéssica Sampaio

Fernanda Façanha

Baseado nos movimentos populares ocorridos em Fortaleza, em junho de 2013, o documentário “Com Vandalismo” retrata, por meio de falas de cidadãos de diversas classes sociais, uma visão diferenciada do que é apresentado nas grandes mídias. O foco principal é mostrar quem são os chamados vândalos, pessoas que, segundo a imprensa brasileira, como mostra o longa, não possuem motivações políticas e seu único objetivo é manter o caos. O filme desmitifica essa hipótese, apresentando motivos que levaram as pessoas a depredarem patrimônios públicos e quais são suas opiniões a respeito desse conflito com

“Eu sou a favor da Copa porque acredito que seja uma grande oportunidade para o Brasil se mostrar pro mundo. Acredito que vai abrir muitas portas pra gente em tudo que é sentido, é claro que se fizermos um bom trabalho na época da Copa, né? O povo insiste em reclamar do dinheiro gasto, mas esse dinheiro é da Fifa! A gente tem que mostrar que consegue comportar eventos grandes e que não somos só bunda e carnaval, que a gente sabe resolver muita coisa. O Brasil é um país enorme e tem muito potencial, mas não cresceu o suficiente ainda. Existem países muito menores em território que são maiores que a gente em todos os termos possíveis. Não existe mais a desculpa de que somos um país novo, já passamos dos 500 anos”.

estudante de Direito da Unifor a imprensa. O Brasil foi surpreendido pela insa- tisfação popular contra diversos pro-blemas políticos, econômicos e sociais. A corrupção política, a saúde precária, a falta de investimento em educação e transportes de baixa qualidade motivaram a população a levar a sua revolta para as ruas, vendo como resultado as manifestações. As imagens foram produzidas pelo grupo de mídia independente Nigéria, de Fortaleza, durante as manifestações que ocorreram de 19 a 27 de junho do ano passado, demonstrando a força e a luta do povo cearense em busca de um país melhor. O vídeo é disponibilizado na íntegra pelo canal no youtube: Nigeria Audiovisual.

“Copa do Mundo no Brasil? Até que soa bem, mas o que há de tão frustrante nisso? Simplesmente o fato de obras faraônicas serem construídas em um piscar de olhos com o dinheiro do povo, meramente com o intuito de colocar o Brasil como um país de primeiro mundo de fachada. Uma mera linha de metrô demora mais de dez anos pra ser concluída em Fortaleza. Essas obras foram feitas baseadas naquela expressão ‘para inglês ver’. O pior é que a maioria das pessoas pensa que não tem nada de errado nisso, porque o Brasil é o país do futebol e tem que ter esse tipo de coisa. Se o Brasil ganhar a Copa, o povo irá mais uma vez para as urnas cego, cheio de emoção por conta da vitória, e os líderes atuais do governo irão se repetir por mais quatro anos”. Lucas Siqueira Girão estudante de Direito da Unifor


6

FÔLEGO / MAIO 2014

Fórum debateu legado da Copa Desde que o Brasil foi escolhido como país-sede do Mundial de Futebol, muitos questionamentos têm surgido quanto ao legado que o evento deixará para os brasileiros. Há controvérsias a respeito dos benefícios e da capacidade que o país possui em sediar a Copa

Giovânia de Alencar e Milena Santiago

Apesar de todas as controvérsias a respeito da capacidade que o Brasil possui hoje, o país terá a atenção internacional voltada para ele, durante os dias que receberá, em seu território, o evento de maior audiência na televisão mundial. A população se divide a respeito do porte que o país tem em sediar o evento, tendo em vista os seus graves problemas sociais, políticos e econômicos. A fim de atender a todas as demandas exigidas pelo evento, o país está se preparando não só em termos de infraestrutura esportiva. Obras que já estavam previstas para serem efetuadas foram adiantadas a favor da Copa. Na Universidade de Fortaleza (Unifor), o tema foi debatido em um evento promovido pelo Fórum Integrado de Comunicação (Focom), no início de fevereiro deste ano. Ele contou com a presença dos coordenadores do curso de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda, Wagner Borges e Bittencourt Paiva, respectivamente; o coordenador

de Empreendedorismo do Governo do Estado, Luis Soares; o chefe de esportes da TV Verdes Mares e comentarista do Sportv, Paulo César Norões; e o estudante de jornalismo da Unifor que trabalha na TV Jangadeiro, Juliano de Medeiros. Sobre a criação de símbolos vinculados à Copa, Soares aposta no surgimento de algum ícone que venha se tornar marco neste ano. Tomando o exemplo da “vuvuzela”, objeto que ganhou destaque na Copa do Mundo ocorrida na África do Sul, em 2010. Ele acredita ser possível fazer algo semelhante, não necessariamente criando algo novo. “A vuvuzela já existia, apenas popularizou-se nos jogos, não é preciso inventar algo. É interessante que tenham foco em produtos já existentes, mas que seja algo original e pertencente à cultura cearense, já que a Copa será aqui”, frisou. Ele também lembrou o artesanato como grande ofício a ser explorado. Quanto à produção e execução jornalística na Copa do Mundo, foi abordado sobre as dificuldades que o repórter aca-

ba tendo com coberturas grandes. Os coordenadores do curso ressaltaram a carga de responsabilidade que os jornalistas têm no período. Juliano de Medeiros destacou que, pela rotina corrida, muitas vezes o jornalista não tem tempo para assistir aos jogos por existir também outras preocupações na cobertura das matérias, como entrevistar jogadores e o público em geral. “A história nem sempre está com as pessoas mais importantes”. Para Norões, um fator positivo no aspecto da atuação jornalística na cobertura da Copa do Mundo foi a experiência recente com a Copa das Confederações, “que acaba servindo como um ensaio para quem pretende atuar dentro da Copa do Mundo da Fifa”. Experiente em coberturas esportivas, já tendo trabalhado em três edições da Copa – Alemanha, França e África –, Norões alerta sobre as oportunidades de crescimento das cidades-sedes, assim como o desenvolvimento de setores e a criação de empregos. “A Copa impacta a vida da cidade, é preciso um bom planejamento para cobrir o

evento. Na Copa do Mundo, o futebol é apenas um detalhe”. Contestação A palestra, em geral, seguiu uma linha bem otimista a respeito da Copa, mostrando-se mais favorável do que contra. Ao final do evento, entretanto, quando o debate foi aberto ao público, a estudante de Publicidade e Propaganda da Unifor, Juliana Ordéas, formulou uma pergunta aos convidados que acabou arrancando aplausos da plateia. Ela indagou sobre os problemas que a Copa traz à cidade, uma vez que haverá aumento na quantidade de feriados e modificação no cronograma das escolas e universidades. Também questionando os altos investimentos que vem sendo gastos nos preparativos do evento esportivo, se tudo isso era realmente necessário. Paulo César rebateu argumentando sobre a falta de planejamento. “O problema é que o Brasil se comprometeu e não cumpriu, desde 2007 já sabiam que a Copa ocorreria aqui”.


FÔLEGO / MAIO 2014

7

Saiba mais

Respectivamente: Luís Soares, Wagner Borges, Juliano de Medeiros, Paulo César Norões e Bittencourt Paiva Foto: Thiago Gadelha

Tribunal dos Megaeventos Milena Santiago

11ª edição do Focom debate sobre Jornalismo, Marketing Esportivo e Empreendedorismo Foto: Thiago Gadelha

Com a finalidade de levar a discussão até os jovens, a Rejupe-CE (Rede de Adolescentes e Jovens pelo Esporte Seguro e Inclusivo do Estado do Ceará) organizou o Tribunal dos Megaeventos Esportivos no Brasil. Um encontro aconteceu em março deste ano, no auditório Murilo Aguiar da Assembleia Legislativa, contando com estudantes e professores. Os participantes se dividiram em três equipes: o tribunal do júri, os “advogados” de defesa e os de ataque. Entre os principais aspectos discutidos pelos estudantes da defesa relacionados à Copa, foi constatada a melhoria da segurança pública, da saúde, a geração de emprego e renda para os brasileiros e um melhor andamento das obras de infraestrutura. Para a coordenadora pedagógica Shirley Oliveira, do Colégio Batista - Santos Dumont, a simulação do tribunal foi de grande relevância para a formação dos alunos. Ela acredita que há uma necessidade de ocorrer mais eventos como este. “Foi um espaço rico de discussão e debate para que os alunos possam ampliar a sua visão de mundo. São questões cotidianas que realmente precisam ser debatidas e levadas para o ambiente escolar”. O encontro também aconteceu em outras cinco regiões brasileiras, onde foram elaboradas cartas contendo as recomendações e conclusões dos próprios estudantes, a partir do Tribunal. As cinco cartas foram escritas com a intenção de serem unificadas e encaminhadas ao Governo Federal, com objetivo de estabelecer um diálogo entre a unidade política e os jovens estudantes. “Nosso objetivo era que jovens de diferentes classes sociais refletissem sobre os dois lados da Copa para o Brasil, o positivo e o negativo. E esse objetivo foi atingido”, afirmou satisfeita a estudante Letícia Lima, integrante da Rejupe.


8

FÔLEGO / MAIO 2014

Futebol: paixão e brasilidade Milena Santiago

O povo brasileiro, em geral, tem pelo futebol um sentimento de paixão. Os outros esportes, em território nacional, ficam em segundo plano. Podemos analisar essa paixão brasileira pelo esporte bretão segundo uma visão mais sociológica: o futebol no Brasil vai além de um simples esporte. É comum em nossa cultura, desde a infância, sermos influenciados a manter um contato intenso com o esporte como forma de entretenimento. No caso do futebol, a emoção se torna constantemente mais significativa que o lazer. É um assunto que sempre paira nos pensamentos, nas rezas e nas conversas dos brasileiros. O envolvimento com o que acontece em campo nos permite vibrar de alegria ou nos abater de desesperança. Dessa forma, torna-se mais adequado dizer que o futebol brasileiro é constituído de um espetáculo ritualizado. Segundo o antropólogo Roberto DaMatta, a dramatização do esporte consiste em uma parte fundamental do futebol brasileiro. Tal ritualização estabelece uma hierarquia dentro desse cenário: os melhores e os piores, os ganhadores e os perdedores. Para entender a importância desse esporte em nosso país, é relevante ressaltar o contexto histórico em que ele foi inserido. Oriundo de uma elite branca e rica de país anglo-saxão, o football foi importado para o Brasil por membros da elite local e por ela praticado, inicialmente de forma amadora — pouco tempo depois de ser proclamada a República. Sua popularização e democratização desdobraram-se numa espécie de movimento modernizador vigente na época, um processo que envolveu a necessidade de construir a identidade cultural brasileira e o próprio conceito de nacionalidade. O espaço conquistado pelo mulato e pela classe baixa em geral, dentro de um esporte originalmente elitista e europeizado, manifestou-se como a singularidade que distinguiria o futebol praticado no Brasil. Os brasileiros demonstraram uma habilidade singular de ma-

A Copa do quadribol Ravelle Gadelha

Jogo fictício no mundo dos bruxos da saga Harry Potter, da escritora JK Rowling, apresenta uma metodologia um pouco distinta do futebol tradicional. Com três tipos de bolas diferentes (uma goles, dois balaços e um pomo de ouro) e sete jogadores em cada time que alçam voo em vassouras aerodinâmicas quando o apito do juiz soa. Ficam divididos em um apanhador, três artilheiros, dois ba-

nipular a bola. O denominado “jeitinho brasileiro”, um malandro “jogo de cintura”, ganhou espaço nos campos e isso tornou o esporte parte da identidade brasileira e, consequentemente, uma verdadeira paixão nacional. É o que o historiador Gilberto Freyre intitula de “estilo brasileiro”, que incorporou um teor tradicionalmente nativo ao esporte bretão. “Acaba de se definir de maneira inconfundível um estilo brasileiro de futebol, e esse estilo é uma expressão a mais do nosso mulatismo ágil em assimilar, dominar, amolecer em dança, curvas ou em músicas, as técnicas europeias ou norte-americanas mais angulosas para o nosso gosto: sejam elas de jogo ou de arquitetura. Porque é um mulatismo o nosso – psicologicamente, ser brasileiro é ser mulato – inimigo do formalismo apolíneo sendo dionisíaco a seu jeito – o grande feito mulato”, explica Gilberto Freyre em seu livro Sociologia, de 1945. O estudo histórico e sociológico de inserção do futebol no Brasil pode contribuir para a percepção de nossa identidade. Ele vai buscar, nas raízes da nossa cultura, as razões de ter adquirido esse estilo, bem como apresenta quando e de que forma o futebol deixou de ser apenas uma manifestação cultural de um segmento da sociedade para se transformar em um dos símbolos da identidade cultural brasileira. Com a tamanha relevância do futebol para o Brasil, o esporte tornou-se um importante elemento cultural que, se analisado, discute inúmeras questões de ordem social. De acordo com DaMatta, é essencial a abordagem do futebol além do seu caráter esportivo, uma vez que é possível compreendê-lo como manifestação cultural que desempenha funções de cunho social e político. Com a tamanha relevância do futebol para o Brasil, o esporte tornou-se um importante elemento cultural que, se analisado, discute inúmeras questões de ordem social. De acordo com DaMatta, é essencial a abordagem do futebol além do seu caráter esportivo, uma vez que é possível compreendê-lo como manifestação cultural que desempenha funções de cunho social e político. tedores e um goleiro. O objetivo principal do quadribol é fazer mais pontos ao acertar os aros em cada ponto do campo. O jogo termina quando o apanhador pega o pomo de ouro, o que contabiliza 150 pontos e a provável vitória da equipe. Ele também tem sua própria Copa Mundial a cada quatro anos e é igualmente famoso no mundo dos “trouxas” (“não-bruxos”). O esporte já é presente em filmes e games da saga e neste ano passa a ganhar também versão literária. O livro História da Copa Mundial de Quadribol foi recentemente disponibilizado no site: pottermore.com, em que explana sobre o histórico de torneio da Copa Mundial deles.

Filmes

Estreias no cinema Vai ficar na cidade durante a Copa e não gosta de futebol? Confira as principais estreias no cinema programadas para o período do evento

Gustavo Nery

29 de Maio “Malévola” - A aguardada produção da Disney mostra um pouco sobre as origens da famosa vilã, vivida nessa adaptação por Angelina Jolie. O filme conta com Elle Fanning (irmã da atriz Dakota Fanning) no papel de Aurora, a “Bela Adormecida”.

05 de Junho “A Culpa é das Estrelas” - Adaptação do romance best-seller de John Green, o filme está rodeado de expectativas, prometendo emocionar bastante os fãs do livro. Shailene Woodley e Ansel Elgort estão no elenco, ambos astros da saga “Divergente” nos cinemas.

19 de Junho “Como Treinar o Seu Dragão 2” - A sequência das aventuras de Soluço e Banguela apresenta os protagonistas quatro anos depois, obedecendo ao intervalo de tempo entre as duas produções. A animação sucede o filme que foi exibido em 2010.

03 de Julho “Anjos da Lei 2” - A comédia, com Channing Tatum e Jonah Hill, traz de volta os policiais Jenko e Schmidt, dessa vez disfarçados como universitários para investigar e capturar um grande traficante. Ice Cube e Dave Franco também estão no elenco.

17 de Julho “Transformers: Era da Extinção” - A continuação da saga dos “carros-robôs” mostra o que ocorre anos após o confronto entre Autobots e Decepticons, quando Cade (Mark Wahlberg) encontra Optimus Prime, o líder dos Autobots, abandonado.

Caderno Fôlego - Fundação Edson Queiroz - Universidade de Fortaleza - Diretora do Centro de Comunicação e Gestão: Maria Clara Bulgarim - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Professora orientador: Alejandro Sepúlveda - Projeto Gráfico: Camille Vianna - Diagramação: Aldeci Tomaz - Edição: Giovânia de Alencar - Redação: Andrezza Albuquerque, Camila Mathias, Fernanda Façanha, Giovânia de Alencar, Gustavo Nery, Lígia Costa, Milena Santiago, Ravelle Gadelha, Vanessa de Carvalho, Victor Lima, Tatiana Alencar - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 750 exemplares


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.