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Pesquisa de campo

A motivação para realização da pesquisa e projeto no Parque Estadual do Chandless surgiu durante uma viagem turística a Rio Branco (AC) em outubro de 2020. Lá tive a oportunidade de conhecer pesquisadores que realizam trabalhos acadêmicos na área do Parque. Ao ser apresentada para as características sociais e ambientais dessa região, uma curiosidade surgiu de imediato.

Em 2021 decidi ir mais a fundo no estudo sobre a arquitetura e cultura ribeirinha da região da bacia do rio Purus e foi quando comecei uma pesquisa de Iniciação Científica sobre o tema, juntamente com o professor Jair Antonio. De início realizei um estudo aprofundado com a bibliografia selecionada, além de conversas e entrevistas virtuais com um dos gestares da Unidade, Ricardo Plácido e com a engenheira florestal da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre, Flávia Souza. Mesmo assim, encontrei dificuldades de acesso à informações recentes, além da falta de levantamento fotográfico das construções locais. Em 2022 iniciei o presente trabalho final de graduação e, da mesma forma, encontrei dificuldades de obtenção de informações específicas para melhor desenvolvimento do projeto.

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A convite de Flávia Souza, da Semapi, tive a oportunidade de aprofundar minha pesquisa com uma visita de campo em julho de 2022. A visita permitiu um levantamento mais aprofundado da área de intervenção, bem como um contato direto com a problemática do trabalho. A experiência de hospedagem como pesquisadora nas dependências da sede do Parque Estadual do Chandless, possibilitou a compreensão das necessidades de infraestrutura locais, bem como a convivência com a comunidade e aproximação com o cenário cultural e ambiental.

Um exemplo do que pôde ser observado na pesquisa de campo foi a especificidade da paisagem no local de intervenção: o terreno onde a sede se localiza e seu entorno imediato tiveram sua flora afetada pelas ações humanas anteriores à transformação em Unidade de Conservação, já que essa área era a antiga Fazenda Jussara, onde haviam pastos.

Mapa de localização das casas da comunidade | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

A comunidade do Parque Estadual do Chandless se distribui ao longo do rio Chandless de forma a estabelecer agrupamentos familiares denominados “Colocações”. Atualmente, contam-se 20 famílias dentro da área. Os dados do mapa (Figura 3) foram obtidos no Diagnóstico Socioeconômico do Plano de Manejo do Parque Estadual do Chandless realizado por Mary Helena Allegretti com a Equipe da SOS Amazônia e publicado em outubro de 2008. Apesar de não serem dados recentes, as famílias continuam se estabelecendo da mesma forma: a mudança que ocorreu foi o crescimento das famílias dentro das Colocações existentes.

Imagem aérea da infraestrutura do Parque Estadual do Chandless | disponível em http://pechandless.org/

Legenda da imagem:

01. alojamentos e banheiros 02. redário 03. administração 04. alojamento adicional para auxiliares 05. auditório 06. lavabo e lavanderia 07. energia por gerador a óleo diesel e rede internet 08. telefone público Atualmente, a sede do Parque Estadual do Chandless consiste em um conjunto de construções para funcionamento das atividades de administração, serviço e alojamento temporário de funcionários e pesquisadores previamente autorizados pela Secretária de Estado de Meio Ambiente.

sede do Parque Estadial do Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

Diário de campo

19.07.2022 De Rio Branco (AC), saímos às 04h00 rumo a Manoel Urbano. No carro estava eu, o motorista Valfredo (Semapi), Flávia Souza (Semapi), Paola (atual Secretária de Meio Ambiente e Políticas Indígenas) e Márcio (Semapi). Chegamos em Manoel Urbano por volta das 8h00. Entramos na voadeira e seguimos viagem para o Parque Estadual do Chandless com o barqueiro conhecido como Luizinho. Por volta das 12h00 chegamos à boca do Rio Chandless e, por conta do período de seca, trocamos para uma embarcação menor. Chegamos na sede do Parque cerca de 16h00. Foi oferecida refeição (galinha, arroz e farofa), feita pela cozinheira Luana (Semapi). Além das pessoas que vieram junto comigo no carro e no barco, estão hospedados na sede outros três barqueiros, dois com mulher e filha, a cozinheira Luana da Semapi e duas assistentes sociais que trouxeram cestas básicas para os moradores.

20.07.2022 Acordei às 06h24. Comi ovo mexido com bolacha água e sal e farinha de macaxeira. Interagi com as crianças na sede, observei a paisagem e as aves. Fiz registros da estrutura da sede do Parque. Por volta das 8h15 os moradores do Parque chegaram para a grande reunião com a Secretária de Meio Ambiente. Os moradores foram chamados por família para assinatura do termos de compromisso, que os permitem continuar residindo dentro da Unidade de Conservação. Depois disso, as famílias foram chamadas novamente para entrega das cestas básicas pelas assistentes sociais Nayane e Tamires.

O almoço foi servido para todos: feijoada com arroz e farinha. Depois disso, o barqueiro Luizinho me acompanhou de quadriciclo para observar as dependências da sede e registrar a estrutura do local. Fiz registros fotográficos e medições. Mais tarde saímos para uma pequena trilha. Lá existe uma torre de observação que não está apta para subir por conta da falta de equipamentos necessários para escalada. Saindo de lá, fui acompanhada para a pista de pouso de avião para observar. O mato está alto e ele só é roçado quando tem necessidade.

Na mesma tarde fui tomar banho no rio Chandless. O rio é bem agradável para banho e a paisagem é linda. Depois fiquei descansando na rede no redário e conversando com as crianças e funcionários da Semapi. O uso das redes é uma característica da cultura acreana que pude observar e o costume é de cada um erguer a sua quando for deitar. Assim percebi como o redário e os espaços destinados ao descanso nas redes é essencial em um lugar como o Chandless. O jantar foi arroz, farofa e peixe (pescado no próprio rio Chandless).

21.07.2022 Acordei por volta das 7:30. Comi ovo mexido e bolacha água e sal. Logo de manhã, por volta das 8h30, fui visitar um núcleo familiar chamado “Colocação Nova Jerusalém”, dos patriarcas Antônio e Francisca. Junto comigo estava o barqueiro Luizinho, a assistente social Nayane, a Secretária de Meio Ambiente Paola e Márcio. O percurso de barco durou 20 minutos e, assim que chegamos, fomos recebidos pelo Antônio que estava trabalhando junto ao seu filho na produção de farinha de macaxeira, e ele nos explicou o processo de preparo.

Depois fui recebida pela Francisca em sua casa, onde fiz levantamento fotográfico, medições e pude conversar com ela sobre o processo construtivo da casa: o genro dela quem serrou a madeira de paxiúba da própria floresta e ergueu a estrutura.

O filho de Francisca, Moacir, mora na casa ao lado e sua esposa Zenilda me convidou para visitá-la, também fiz registros e medições e conversei sobre a construção. Moacir construiu a casa sozinho, serrou a madeira de cedro e, com a ajuda da mulher e dos filhos, arrastou a palha da floresta para compor a cobertura. Ela fez questão de me contar sobre o desafio que passaram no último período de cheia do rio, quando a água ultrapassou o assoalho da casa.

Voltando para a sede, todos estavam preparando uma festa de aniversário que aconteceria à tarde, para Pedro Henrique e Enzo Gabriel, que estão completando 2 anos de idade. Na festa, almoçamos galinha, farofa, arroz e macaxeira. Além disso, comemos pipoca, bolos e brigadeiro. Depois do anoitecer, todos ficaram para dançar forró, que durou até às 20h30. Fomos dormir às 21h.

22.07.2022 Acordamos às 04h00, comemos e saímos às 4h53. Ainda escuro, vimos o amanhecer durante a viagem de barco. Chegamos à Manoel Urbano minutos antes do meio dia. Encontramos o motorista Valfredo e seguimos viagem para Rio Branco, onde chegamos por volta das 15h15.

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