Sociedade e Cultura - Revista

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Sociedade e Cultura

Bairro São Paulo: nos marginalizados surge a esperança

ARTESANATO EM ITAJAÍ: CONHEÇA A VIDA

01 | JULHO 2022
DOS ARTESÃOS DA
CIDADE
TEATRO MUDA VIDA DE JOVENS NA REGIÃO DO VALE DO ITAJAÍ PÁGINA 03 PÁGINA 07

SUMÁRIO

ARTESANATO EM

ITAJAÍ:

CONHEÇA A VIDA DOS ARTESÃOS DA CIDADE

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CAPA: Bairro São Paulo - nos marginalizados surge a esperança

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TEATRO MUDA VIDA DE JOVENS NA REGIÃO DO VALE DO ITAJAÍ

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EXPEDIENTE

Conselho Editorial Revisão Fotos

Giovanna Pegoraro, João Victor Sagás Luz e Leni da Cunha Silva.

Giovanna Pegoraro, João Victor Sagás Luz e Leni da Cunha Silva.

Divulgação e acervo pessoal do conselho.

Realização Universidade do Vale do Itajaí.

Tem sugestões para a revista? Nos envie um e-mail! sociedadeecultura@hotmail.com.br

ARTESANATO EM ITAJAÍ: CONHEÇA A VIDA DOS ARTESÃOS DA CIDADE

Oartesanato é um dos maiores patrimônios culturais de uma sociedade. Nele está embutida a memória dos saberes tradicionais que são passados de geração em geração, por meio da arte do fazer. São mais que peças, são histórias de um povo representadas em objetos confeccionados de maneira artesanal. E Itajaí é muito rica nessa cultura.

Fomos atrás de pessoas que entendem do assunto para contar como são feitos, e os espaços que eles possuem para vender os artesanatos.

Conversamos com Carla Storino que trabalha na associação das artesãs há dois anos. Mas há quatro anos, ela trabalha com artesanatos e ficou interessada. Fez um curso para isso. A especialidade dela é a linha de creme corporais para pês e mãos, e velas aromática.

Erondina de Amorim, outra especialista no artesanato, nos relatou que gostaria que Itajaí tivesse mais espaço para expor os artesanatos. Citou a marejada como um dos lugares. Ela gostaria que tivesse uma vila açoriana com restaurantes, cafés e um espaço para expor os trabalhos artesanais. Também um palco para apresentar o folclore de Itajaí, “tenho lutado para que isso venha acontecer. Toda época de eleições tenho conversado sobre essa questão com prefeito e o secretário da cultura, mas ninguém faz nada. Itajaí e muito rico em artesanatos, mas tão pouco valorizado nessa área”.

Fomos também ao Mercado Público de Itajaí, conhecido como mercado do peixe, para saber um pouco mais sobre a história do artesanato da região. Conversei com Salete que tem um pequeno espaço no mercado.

Ela conta que faz artesanato e chama o espaço de mini loja, mas é o suficiente para mostrar os trabalhos. Fazem seis meses que ela está com esse pequeno espaço e está satisfeita pois tem muitos clientes que compram seus artesanatos no local. Ao total são 14 pessoas produzindo os artesanatos dentro do mercado público. Ela relata que na opinião dela não só pra loja dela, mas para todos artesões de Itajaí falta um caminho, para o turista que no final de ano chegam de navios fazer um caminho para esses turistas apreciarem os artesanatos de Itajaí mostrar a pessoas de outros estados e países como e rico nossa cultura artesanal.

Outra pessoa que entrevistamos foi a Sonia Regina, presidente da associação dos artesões, ela disse “eu trabalho com artesanato desde muito nova, começou com minha avô, depois passou para minha e com ela aprendi a confeccionar sabonetes artesanais, panos de prato, tapetes de crochê, entre outras coisas. Amo o que faço. Foi sempre o dinheiro do meu sustento, e hoje me tornei presidente dos artesões por mero conhecimento e luta pela causa que é uma profissão muito nobre e o mais importante, feito com dedicação e amor”.

As feiras sempre acontecem aos domingos na praça Beira Rio de Itajaí, das 8h às 18h. E na Hercílio Luz, nas quartas-feiras. No Facebook você também pode encontrar o ‘Cantinho das Arteiras’, onde são expostos vários artesanatos e dicas de como fazê-los.

3 ARTE O DE VIDA
ROFISSÃO CULTURA ARTE E CULTURA
TEXTO POR: LENI DA SILVA CUNHA Associação dos Artesãos em Itajaí | Acervo Mercado Público de Itajaí | Acervo

bairro são paulo: nos marginalizados surge a esperança

OBairro São Paulo, localizado nas margens da BR-470, entre os 14 bairros de Navegantes era o sexto maior bairro populacional do munícipio, segundo os dados do Censo 2010. Hoje cerca de 9 mil habitantes residem no bairro.

Há uma década, era marcado como um dos bairros mais perigosos de Navegantes por conta das disputas entre gangues, tráfico de drogas, roubos e os homicídios segundo a Análise do Crime de Homicídio do Município.

A mais recente disparada no número de homicídios ocorreu em 2013, com o registro de 23 assassinatos, enquanto em 2012, foram 11.

Para a dona Genacir Tomiello, moradora há 30 anos do bairro, a região já mudou muito. Ela conta que até o início dos anos dois mil, o choque entre a polícia e gangues era grande, principalmente chacinas entre traficantes de drogas.

Onde tem a igreja Universal era um ponto de droga. E teve uma noite que os policiais vieram ali para matar todo mundo. Havia uma mulher que estava com um recémnascido, ela só não foi atingida porque se escondeu de baixo da cama. Ela disse que o coração estava batendo forte. O medo dela era da bebê chorar e serem encontradas”.

O acontecimento relatado ocorreu há 18 anos. Hoje, a realidade é diferente no bairro. Nos últimos anos, a violência diminuiu por conta das operações realizadas pela Polícia Militar, como apreensão em massa dos traficantes de drogas da região. Além do fechamento de uma das saídas estratégicas do bairro, o que dificulta a fuga de criminosos.

A polícia reforçou o efetivo na cidade. Operações especiais também foram realizadas, e a situação ficou mais controlada nos últimos anos.

No primeiro quadrimestre de 2020, quarenta e seis roubos aconteceram na cidade, e neste ano, dezesseis. Nos homicídios, em 2020 eram vinte, até o início deste ano, foram dois.

O Major Rodrigo de Carvalho do vigésimo quinto batalhão de Polícia Militar de Navegantes, esclarece a logística e estratégias utilizadas pela polícia, “realizamos o policiamento com base em índices estáticos. A fim de aplicar o policiamento de uma forma inteligente e mais eficiente. Então foram realizadas várias operações, não só no Bairro São Paulo, mas em outras localidades, barreiras policiais, fiscalização de estabelecimentos, alvarás. Enfim, toda uma logística para que a gente consiga efetivamente trazer essa sensação de segurança para as pessoas”.

Para Tarcila Amaral, moradora e comerciante no bairro há 12 anos, conta que quando chegou ao bairro, era violento. Mas mudou por conta da crescente população na região, principalmente pelos cidadãos que vieram de outros estados.

“Estavam chegando mais pessoas, de uma índole melhor. Então, hoje o bairro está muito bom de se morar. Ele é aconchegante, as pessoas são boas, amigas. Nós podemos deixar nossas crianças brincando sossegados”.

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TARCILA
Foto área do território do Bairro São Paulo | Google Maps TEXTO POR: GIOVANNA PEGORARO

Teixeira Judô

Existem alguns projetos promovidos no bairro, como o “Texeira Judô”. José Teixeira é o responsável pelo projeto que tem objetivo de oferecer apoio a partir do judô para as crianças e adolescentes vulneráveis da cidade.

O projeto teve início pela Lei de Incentivo ao Esporte Municipal. Hoje atende cerca de 120 alunos de 4 a 18 anos em um espaço cedido pela Igreja Quadrangular no Bairro São Paulo nas segundas e quartas-feiras.

Lucileia Pinheiro (32), mãe do Davi de 7 anos, comenta sobre a importância do projeto para o seu filho, principalmente para a saúde e bem-estar, “o Davi sentia muita dor nas pernas. E o pediatra falou que tinha que fazer algum exercício e daí a gente colocou ele aqui. Hoje ele não sente dor nas pernas, ele gosta de vir para cá. Quando não tem ele fica perguntando, “mãe, não vai ter o judô?” e eu gostei porque tá ocupando a mente dele”.

“O maior intuito é tirar essa criançada da rua. Porque o judô não é somente um esporte, é uma filosofia de vida que oferece o respeito, a educação e a qualidade de vida”.

RECONHECIMENTO

No começo deste ano, o projeto foi certificado pelo Instituto Selo Social em parceria com a Prefeitura Municipal de Navegantes pela contribuição ao atingimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) na região, principalmente pela boa saúde e bem-estar, educação de qualidade e igualdade de gênero promovidos pelo projeto.

Apesar do reconhecimento, José relata poucos incentivos destinados ao esporte pelos órgãos públicos. A falta de patrocínios para estes jovens em competições, transporte e alimentação são os principais fatores, além de um local fixo destinado para as aulas durante toda a semana.

Por agora, José e seus alunos utilizam de materiais e uniformes patrocinados pelo Porto de Navegantes, empresa privada da cidade.

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Reunião de pais e alunos envolvidos no projeto de José | Divulgação Aula de judô no espaço cedido pela Igreja Quadrangular | Acervo José recebe reconhecimento pelo Prefeito de Navegantes | Divulgação

cidadania

Hoje não há representante do bairro na Câmara de Vereadores ou associação de moradores. Mas nos encontramos o José. Morador há 29 anos do bairro, ele é cabelereiro e trabalhou 12 anos na Prefeitura de Navegantes, e em 2009 foi eleito como vereador, conhecido como ‘Zé do Bairro’.

José sente muito carinho pelo Bairro. Apesar de não estar mais envolvido nos órgãos públicos, ele promove ações que ajudam os moradores. Ele realiza cortes de cabelo gratuitos para as crianças nas escolas do bairro.

Economia

OBairro conta com comércios, indústrias da área têxtil e centros de distribuições. Como exemplo de empresa que se originou no bairro, há o Supermercados Malvasul. O Malvasul começou como uma pequena mercearia do Bairro São Paulo, e hoje possui mais 2 filiais, no Centro e Meia Praia. Há ainda planos para uma terceira filial.

A região tem demonstrado um grande potencial na economia, mas também há o que melhorar, segundo os moradores. A maior reclamação é a falta de uma lotérica.

“Faço ação social para a comunidade porque eu sou um cidadão. Apesar de não ser mais um vereador, quero continuar a ajudar no que eu puder e no meu alcance”.

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ZÉ DO B A I ORR
José na Escola Giovana Soares da Cunha no Bairro São Paulo | Divulgação
Supermercados Malvasul | Acervo
Salão e Barbearia do José, ex-vereador do bairro | Acervo

Para Tarcila, “no bairro, praticamente temos de tudo um pouco, menos uma lotérica, a gente precisa sair do bairro para ir para o Centro para estar pagando as contas. Se tivesse uma lotérica aqui no Bairro, seria muito bom. “Em questão de saúde, a gente precisa que o nosso posto tenha mais médicos, tenha um atendimento melhor”.

O posto de saúde mencionado por Tarcila foi reformado em maio. Passou por uma nova pintura, mas carece de atendimento especializado.

Algumas pessoas têm certo receio do Bairro São Paulo. Mas é um local em constante crescimento social e econômico, com uma segurança que aumenta com o desenvolvimento da região.

Para a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, em seu discurso ‘O perigo de uma histórica única’, as histórias não devem ser retratadas em apenas um ponto de vista. Mas sim, em todo o seu aspecto histórico, social e cultural.

O Bairro São Paulo luta para que a violência não seja a sua história única, e sim parte de um todo que também conta com momentos felizes, alegres, que são transmitidos de geração em geração.
“Por que as pessoas perguntam ‘sobre o que se trata’ o livro? Como se um livro tivesse que ser sobre uma coisa só” - Chimamanda Ngozi Adichie (2012).
Unidade Básica de Saúde do Bairro São Paulo | Acervo

TEATRO MUDA VIDA DE JOVENS NA REGIÃO DO VALE DO ITAJAÍ

Desde o século XX, quando o teatro se tornou uma linguagem mais autêntica no país, diversas pessoas aderiram a essa cultura e consequentemente à arte como um todo. Na região do Vale do Itajaí, a situação não é diferente, o teatro vem transformando a vida dos jovens da região, até mesmo na dança que por sua vez pode se ramificar com o teatro.

Existem diversos benefícios para os alunos, alguns deles são: o desenvolvimento da capacidade respiratória, flexibilidade, coordenação e mobilidade corporal, entre outros. Além é claro de outras atividades que beneficiam o corpo e a mente.

Mas como é o começo para as pessoas que estão iniciando no teatro? Quais as oportunidades e desafios? E o mais importante, como é a primeira vez em um palco com diversas pessoas assistindo? Vamos entender melhor!

Para isso, conversamos com pessoas que passaram boa parte de suas vidas dentro desse universo imenso e com muitas experiências para compartilhar.

O início da jornada no teatro

Pedro Henrique Vieira, 20, estudante de teatro pela Udesc, conta que teve o primeiro contato com atuação aos 9 anos quando iniciou com cursos gratuitos, mas sem nenhum compromisso. Contudo, ele afirma que sua “entrada definitiva” foi com 14 anos.

“Eu acho que para quem está começando, a gente precisa entender quais são as necessidades dessas pessoas que estão buscando o teatro. Uma turma quer aprender a falar melhor, outra quer ir para a televisão e tem gente que quer só para perder a timidez. Tudo depende da necessidade que a pessoa tem com o teatro”, declara Pedro.

Contudo, no teatro as oportunidades tendem a ser difíceis, principalmente quando as pessoas que estudam se profissionalizam. Isso porque os editais que liberam verbas para as produções individuais dos artistas possuem uma burocracia imensa. Sendo assim, para quem inicia no teatro, essa não é uma pauta tão relevante. “Quando a gente começa se desenvolvendo, só depois podemos pensar em impulsionar para conseguir uma renda ou um trabalho formal”, afirma Pedro.

Não podemos esquecer também da sensação de estar no palco pela primeira vez. Afinal, como é estar de frente para uma multidão e ter que interpretar um personagem? Se colocar no lugar do outro, assim como Téspis fez na Grécia Antiga quando ele se colocou no altar, olhou para as pessoas e disse: “Eu sou Dionísio, o Deus.” Onde foi a primeira vez no em que houve a enceneção.

A primeira vez no palco

Para muitos, só o pensamento de ter que se apresentar em qualquer ocasião social já é um sufoco. Agora imagine esse sufoco multiplicado. Pois é, realmente pode parecer assustador para muitas pessoas.

Já outras pensam diferente, estar nesse meio, se apresentando como um personagem é algo mágico. É um mundo dentro de outro mundo. Sabrina Sartori, 21, nos conta que sua experiência com a primeira vez no palco foi quando ela ainda era criança, e isso despertou uma paixão nela.

“O teatro me faz muito bem, eu esqueço dos meus problemas e me permito ser várias versões que eu não posso. O teatro faz bem para as pessoas tanto para quem atua quanto para quem assiste”, conta Sabrina.

Quando estudamos teatro tanto na teoria quanto na prática, vamos nos soltando de maneira gradativa, a desenvoltura melhora sem que nos darmos conta. Não percebemos o resultado de maneira instantânea, mas sim no dia a dia, com pequenas atitudes que mostram diferença.

Para Pedro e Sabrina, o teatro já fez muita mudanças na vida deles, no trabalho, na faculdade, nas rotinas diárias, literalmente tudo. E para as outras pessoas não é difente, para quem se identifica ou quer aprender a se soltar mais, esse ambiente é ideal.

“A palavra teatro e desafio estão conectadas. Estar no teatro é ser desafiado o tempo inteiro, tem que estudar, se descobrir, se desconstruir. Se colocar no lugar do outro, no espaço artístico. O teatro também é política, então devemos nos colcar nesse espaço político como uma pessoa que faz arte, é um desafio gigantesco”

- Pedro Henrique Vieira

8 ARTE E CULTURA
Casa da Cultura Dide Brandão, localizada em Itajaí-SC | Fundação Cultural de Itajaí TEXTO POR: JOÃO VICTOR SAGÁS LUZ

cursos de teatro disponíveis na região do vale do itajaí

Em conversa com o professor Valentim Schmoeler, 66 anos, que atua há mais de 56 anos nesse ramo, e hoje leciona teatro, apuramos alguns lugares com cursos disponíveis de teatro, confira;

Existem professores do projeto “Arte nos bairros” ministrando cursos gratuitos, inclusive Valentim. Curso básico de teatro que acontece duas vezes ao ano (também ministrado por Valentim). Sendo o intensivo de janeiro e o de inverno que acontecerá neste ano do dia 1 à 12 de agosto na Casa da Cultura.

Outro teatro disponível é o Carlos Gomes, em Blumenau, com o grupo do Pepe, conhecida como uma escola maravilhosa de teatro segundo o professor Valentim.

E para quem busca algo mais especializado, existe o curso de graduação de teatro (licenciatura) oferecido pela Furb, um dos poucos em Santa Catarina. Com duração de 4 a 5 anos.

“Em 1966 na escola foi onde tudo começou. Em uma festa junina eu iniciei fazendo uma esquete de teatro com meus amigos da escola, nessa época eu tinha 10 anos de idade. Então de lá pra cá eu nunca mais parei, neste ano eu fiz 56 anos de teatro”

- Valentim Schmoeler

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Pedro Vieira em uma apresentação de natal | Facebook Banco de imagens | Freepik

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