Entrevistas/Interviews:
Débora Umbelino (Surma)
Inês Caldas (I.C. Illustration)
Alexa Santos (Queering Style)
Março // March 2016
COVER PHOTOGRAPHS / FOTOGRAFIAS DA CAPA: Madalena Alves: mmfro.tumblr.com
Índice, artistas e links:
Pág 3 - Andreia Coutinho: andreiacoutinhoilustracao @ facebook
4 - Estelle Vargas: il-etait-une-fois-estelle-vargas.blogspot.it
5 e 6 - Entrevista a Surma ( surmapt @ facebook )
7 e 8 - Filipa Vargas: filipavargastattoos @ facebook
9 a 12 - Entrevista a Inês Caldas ( ic.illustration @ facebook )
13 - Luciana Bastos: be.net/lucianabastos
14 - Esther Caulfield,
15 e 16 - Raquel Nunes: raquelnunesart @ facebook
17 a 19 - Entrevista a Alexa Santos ( queeringstyle.com)
20 e 21 - Beatrice Bay, PANTS Chronicles
22 e 23 - Esther Caulfield, Crónica
24 - Reshika Tamang,
25 - Inês Lobo Temias,
Pequena Carta de Editora:
Obrigada a todas as pessoas que nos ajudaram a criar a zine com mais contéudo que alguma vez tivemos até hoje. Pelos trabalhos maravilhosos que nos enviaram, pela disponibilidade em responder às nossas questões e a todxs aquelxs que ainda acreditam na revolução, ela está dentro de cada um. Só me resta agradecer com um bem-haja de coração cheio.
Yours truly, Raquel Silva.
IM MEMORIAM
Ana Vieira ( 1940 - 2016 )
Andreia Coutinho
Música:
Entrevistamos a Débora aka Surma, uma míuda fixe de Leiria que toca vários instrumentos e tem suscitado muita curiosidade nos últimos meses pela sonoridade refrescante e descompremetida que nos tem apresentado e que tanto faz falta no panorama musical do nosso país. Saibam mais sobre este talento que promete:
1. Como e quando começou o projeto Surma? E já agora qual a origem do nome?
Débora: O projecto Surma começou primeiramente por uma página no facebook, nada sério!
Tinha acabado de sair da banda e decidi seguir por um caminho "one man band", neste caso, "one woman band" sem ter nada ainda definido no que toca à sonoridade nem mesmo à estética de página, lancei com low expectations no máximo! Isto tudo em meados de Outubro de 2014, comecei a sério com o projecto em Janeiro de 2015, é uma coisa bastante recente ainda. O nome veio de um documentário que estava a assistir, na altura, sobre tribos indígenas em que uma dessas tribos se denominava de Surma, o nome ficou automaticamente na minha cabeça e no ouvido, tinha vários nomes escritos num caderno mas assim que ouvi o nome Surma foi logo automático e senti que tinha que ser aquele!
2. Dizes estar ainda numa fase experimental em termos de sons e da sonoridade que podemos associar a Surma, o que te traz imensa liberdade criativa, no entanto o teu processo criativo varia muito ou tens alguns hábitos/rituais criados nesse sentido?
D: Desde o início que quero levar as pessoas para um outro mundo quando ouvem Surma, nunca gostei muito de labelizar a música que faço mas acho que o caminho experimental/noise sempre esteve muito presente desde o início do projecto. Não costumo ter nenhum ritual em específico, é juntar cada vez mais coisas e o que me vem à cabeça.
3 - Quais são as tuas maiores influências e que artistas te inspiram?
D: Eu sou muito por fases mas vou atirar Annie Clark (St.Vincent), Nanome (à esquerda), Grouper, Agnes Obel e Sleep Party People!
4 - Com que artista/banda gostarias de colaborar no futuro?
D: Annie Clark, (à direita) sem sombra de dúvida!
5. Desde que começaste esta aventura a solo, existem alguns momentos que te tenham marcado em especial e que queiras partilhar?
D: Todos eles me marcaram de maneiras diferentes, os sítios variam, as pessoas variam, tudo varia. Só tenho a dizer que tem sido uma viagem louca num sentido tão positivo que nem sei descrever por palavras.
6. O que podemos esperar da Surma para 2016?
D: O que podemos esperar...Ora um videoclip para breve e mais não posso dizer hehe mas talvez um bandcamp ou até mesmo um Ep para o final do ano :)
7. O que dirias às raparigas que gostavam de começar um projeto musical mas que ainda não tiveram coragem suficiente para dar os primeiros passos?
D: Tudo custa ao início e é muito trabalhoso e cansativo mas com vontade, esforço e dedicação tudo se faz. Não desistam nunca e se querem muito uma coisa é agarrar nela e ir para a frente sem medo. Ao início vai ser muito stressante e com muitos nervos à mistura mas vale tudo muito a pena no final :)
///HAVE YOUR OWN CUNTROLE\\\
- Quais seriam as três pessoas (mortas ou vivas) que gostavas de convidar para um jantar?
D: Hmm pergunta difícil ahah talvez Stina Nordenstam, Ian Curtis e Sarah Vaughan.
- Completa a frase “Antes de morrer...”
D: Antes de morrer gostaria de tocar por todo o mundo hehe
E Surma já tem bandcamp! Façam uma viagem sonora pelo mundo da Surma aqui: surma.bandcamp.com e facebook.com/surmapt
Filipa Vargas
Filipa Vargas
Ilustração:
As tote bags (e não só) da Inês Caldas já fazem parte dos festivais de verão e é quase impossível passar pela sua banca sem trazer algo com aquela letra que nos aperta o coração ou com os retratos maravilhosos de alguns dos nossos artistas favoritos. Mas a IC Illustrations é muito mais do que isso, leiam aqui:
1. Em primeiro lugar, quem é a Inês Caldas?
Inês: Sou do Porto, tenho 24 anos, licenciei-me nas Belas Artes e vivo e trabalho no Porto. Trabalho essencialmente com pintura, ilustração e vou desenvolvendo também trabalhos dentro da área têxtil. Neste momento encontro-me a criar vários projectos em paralelo, todos com diferentes temáticas mas sempre com a mesma linha condutora… digo eu que sou suspeita.
2. Quando e como começaste o teu projecto IC Ilustration?
I: O facto de em miúda ter passado as férias de verão em festivais de música com a minha irmã e com os meus pais fez com que o meu interesse pela música e pela natureza se desenvolvesse naturalmente. Este projecto foi-se criando gradualmente, depois de várias ideias que fui tendo. Os festivais sempre foram um espaço de negócio de família por isso acabava muitas vezes por ver muitos concertos sozinha, e nessas alturas observava muito e ia tendo ideias. O que mais me agrada nos festivais, para além dos concertos claro, é poder tranquilamente observar as pessoas, e o que mais me encanta nelas é a forma como elas olham para tudo o que se passa. Os olhos estão brilhantes e felizes, por estarem lá. Acho que esse ambiente de esperança é muito comum nos festivais. Provavelmente o que mais sinto é esse sentimento. Há uma cena no filme “Woodstock” em que um miúdo está a ser entrevistado e diz que o que mais sente é que as pessoas vão aos festivais para se encontrarem. Existe esperança do que vão encontrar, do que vão encontrar nelas próprias… E esse ambiente propaga-se e só cria um ambiente incrível.
Neste projecto consigo ligar duas das coisas de que mais gosto, o desenho e a música. A primeira vez que expus os desenhos foi no Primavera Sound, no Porto. Foi lá que comecei a pensar na ideia, por isso achei por bem começarem a aparecer por lá. Acabou por correr melhor do que estava à espera e não há melhor recompensa que isso para quem está a começar.
3. Quais os teus materiais de trabalho preferidos e por acaso tens alguns hábitos que te ajudem no processo criativo?
I: Não tenho preferidos, acho eu. Mas como trabalho muito com aguarela acaba por estar no topo da lista, sim. Mas não ponho de parte experimentar outras técnicas. Gosto de explorar e ver o que cada técnica tem de especial. As pinturas acabam sempre por ser feitas a acrílico. Às vezes as ideias na cabeça já vêm com os materiais adequados e eu só sigo o que elas me dizem. Eu sinto cada vez mais que uma das coisas que mais me entusiasma nos trabalhos que faço é o seu processo. Neste momento tenho feito uns desenhos muito baseados na concentração e no foco que tenho sobre eles. Mesmo neste projecto de ilustração uma das coisas que a meu ver salta mais à atenção é a linha cuidada que consigo apresentar, sendo em pormenores como os olhos, como também nas frases… Gosto de as apresentar como pequenas notas, que apesar de serem pequenas, estão lá e parecem-me sempre relevantes. O yoga ajuda-me a ter ideias mais claras do que quero fazer. È um ritual sim, e que pretendo manter.
4. O que é que tens ouvido ultimamente que nos possas recomendar? E quais são os teus artistas favoritos?
I: A minha última descoberta foi a Rosie Lowe. (em baixo, ilustração da Inês de uma letra da Rosie Lowe)
E recomendo ouvirem, claro! Quanto aos artistas favoritos não consigo dizer os “favoritos”.
Há tanta coisa que gosto… È muito difícil… Passo a vida a descobrir coisas novas e a entusiasmar-me com tanta coisa. Mas vá, posso dizer que vou sempre adorar o rock clássico dos anos 60, 70. Também adoro jazz como a Madeleine Peyroux, Chet Baker, tantos e tantas. Enfim, não parava de escrever. Também gosto imenso de electrónica tipo Trentemoller, The Knife , Anja Schneider, Nina Kraviz. Este é o tipo que mais me acompanha a trabalhar. E adoro ouvir electrónica de dia, ao sol. Adoro, adoro, adoro!
Tenho uma paixão enorme pelas pinturas do Monet. E outra pessoa que também consigo pôr em negrito é o Hayao Miyazaki. Tem talvez o trabalho que mais me encanta até hoje. Consegue ao mesmo tempo mostrar o pior que o mundo tem e virar isso tudo ao contrário e apresentar da forma mais mágica e encantadora a bondade que cada vez mais este mundo precisa.
5. O teu trabalho é muito influenciado pela música e por questões feministas, qual é a mensagem principal das tuas ilustrações?
I: A música tem este poder incrível de nos dizer “É isto que sentes? Tudo bem. Não tens de te sentir mal com isso.” Para mim essa é a coisa mais linda que a música e claro outras áreas artísticas nos têm para oferecer.
A ideia do feminismo neste projecto foi a ideia inicial, sim. Comecei por desenhar mulheres com mensagens de força ditas por elas e a coisa começou a desenvolver-se para outras vertentes, mas nunca decidi por de parte o conceito inicial, até porque nem fazia sentido para mim. Comecei a abordar o lado mais vulnerável não só das mulheres, como dos homens. E esta fusão entre a aceitação da vulnerabilidade das mulheres como um aspecto corajoso e não fraco e a demonstração de que os homens também são sensíveis e podem perfeitamente mostrá-lo é muito apresentado na música, é só uma questão de prestarmos bem atenção ao que dizem. Para mim a música, acima de tudo, mostra-nos que o que sentimos é sempre válido e consegue transformar isso numa coisa bonita. È essa a mensagem que mais me interessa expor, que tudo o que sentimos é valioso e que só passa de um processo na nossa evolução.
6. .Se uma banda/artista te convidasse para fazer a parte visual do seu próximo disco, quem gostarias que fosse? E o que é que podemos esperar da IC Ilustration para 2016?
I: Qualquer pedido de colaboração de uma banda ou artista seria óptimo. Preciso é de gostar da música para poder fazer um bom trabalho, claro. Mas adorava fazer para a Fiona Apple, (à esquerda) por exemplo. Ou uma coisa mais minimal para uma banda tipo Trentemoller ou Moderat. Trabalhar com os The Knife também seria uma coisa de outro mundo. E adoro os primeiros álbuns da Fka Twigs por isso colaborar na parte visual de
um novo disco dela seria uma grande viagem! Enfim, podia fazer uma lista gigante. Ficam os que me vêm à cabeça agora. Este ano sinto que a linha deste projecto se vai estender cada vez mais e vai continuar a abraçar as coisas boas que o mundo tem e a forma como a música e a parte no geral celebram isso. Por isso espero que muitas propostas empolgantes me apareçam e me ajudem a colaborar nessa celebração.
7 - O que dirias às raparigas que gostavam de fazer alguma coisa no mundo da arte mas que ainda não arranjaram a coragem necessária para começar a mostrar o seu trabalho? (em baixo, Ilustração da banda Savages pela Inês)
I: Uma coisa que reparo muito é que existe muita comparação…que as pessoas, principalmente as raparigas têm essa necessidade de saber o que as outras fazem para se avaliarem. A culpa não é delas obviamente, faz tudo parte da nossa cultura. E isso da comparação não serve para nada, é insignificante e uma perda de tempo. Pode haver competição de trabalho claro, mas isso também é outra coisa.Quando comecei admito que tinha medo, um medo geral, de mostrar trabalhos, falar deles… Infelizmente e como se sabe ainda é muito comum nas mulheres. Por alguma razão estúpida é muito mais “normal” ouvirmos um homem a falar com confiança sobre o seu trabalho do que uma mulher. Se uma mulher o fizer, é vista com outra conotação, como convencida, a querer destacar-se… Enfim... È isso que tem de acabar e é preciso lutar contra essas avaliações que se fazem constantemente. Se acreditarem no que fazem e conseguirem ver o propósito, digo para continuarem e mostrarem sempre e não terem receio da crítica. As críticas são sempre construtivas, mesmo se não mostrarem nenhum objectivo construtivo, e se forem só parvas, riam-se e usem isso (se quiserem) no vosso trabalho. Acho que o mais importante é estarem focadas e viverem mesmo o vosso trabalho e quando se aperceberem que é isso que vos faz felizes e vos faz evoluir, só têm de m mostrar isso. Digo para remarem sempre contra a corrente neste mundo da arte ainda tão machista e para nunca desistirem e mandarem passear as vozes que vos tentem r ebaixar. Termos de lidar com dúvidas existenciais já é tão cansativo… há coisas que não temos de aturar mesmo. Que a luta continue, e que continue sempre com curiosidade, trabalho, amor e alegria. São sempre as armas mais fortes.
///HAVE YOUR OWN CUNTROLE\\\ - Quais seriam as três pessoas (mortas ou vivas) que gostavas de convidar para um jantar?
I: Bem, vou pensar em pessoas que estão vivas. Porque querer jantar com alguém que está morto parece-me um bocado estranho. Vou escolher na música só para ser menos difícil para mim. Gostava de jantar com a Fiona Apple pela simples razão de a adorar. Com a Erykah Badu, (à direita) também pela mesma razão e por achar que ia sair de lá completamente renascida.
Outra pessoa… Tom Waits… Nick Cave… Vá, escolho o Dave Grohl. Depois ia-me meter numa alhada… Não o deixava ir embora sem se casar comigo. :p
- Completa a frase “Antes de morrer...”
I:“Tentei não fazer nada na minha vida que envergonhasse a criança que fui.” - José Saramago.
Faço minhas as palavras de Saramago e antes de morrer prometo fazer de tudo para não desiludir a criança que fui. Sei que isso acarreta muita força, trabalho e muito foco, mas estou disposta a isso.
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Podem espreitar as aventuras e os trabalhos incríveis da Inês aqui: . facebook.com/ic.illustration
Luciana Bastos
Ao passear na rua encontrei um raio de sol através das árvores uma borboleta a dançar com as flores um pássaro a cantar mesmo que chova uma mulher que de velha se fez nova
Ao passear na rua encontrei uma carta de amor perdida na calçada escrito pela Ana, à Sofia endereçada uma folha de outono caída no chão um gato a correr atrás de um cão
Ao passear na rua encontrei A Carina a quem ainda chamam "ele" O António a quem chamam pelo tom de pele Um ardina com ar de não querer trabalhar quando na verdade o trabalho não paga e as contas ficam por pagar.
Ao passear na rua encontrei O João e o Hugo de mão dada a olhar para uma montra sem pensar comprar nada A Joana a mudar de lado da estrada porque deste o menor que aconteceu foi ser assobiada.
Ao passear na rua encontrei palavras soltas a ameaçar alguém, seja por géneros, ausência deles e mais além. Encontrei caminhos diferentes do meu de gente que não pediu o que aconteceu.
Ao passear na rua encontrei desilusão pelo mundo em que vivemos esperança para encontrar o que queremos gente dita disposta a lutar por ideais sentada na esplanada a defolhar jornais.
Ao passear na rua, desiludida vi-me a casa regressada encontrei de tudo e de mudança pouco ou nada a Liberdade que é nossa continua inventada tanta gente a querer-se mover mas no fundo ninguém faz nada.
Esther C.
The Flowers
Raquel Nunes
Lady of
Raquel Nunes
O site Queering Style (visitem queeringstyle.com, yours truly também faz parte da equipa) veio preencher uma lacuna que há muito fazia falta em Portugal. Ligando experiências queer com feminismos, passando por moda e estilo, criando espaços seguros para confissões pessoais, dando voz às minorias e a manifestos politicos. Para além de muitas mais coisas fun claro. Alexa Santos é a mente por trás deste projecto e que para além de tudo dá a alma ao manifesto:
1. Em primeiro lugar, fala-nos um pouco sobre ti e sobre a história do QS.
Alexa: Eu sou a Alexa, sou trigémea e vivi até aos 18 anos no Algarve, onde mora a minha família de origem. Sou afrodescendente e o meu pai é Português.
Sou feminista e queer. Enquanto vivia no Reino Unido, x Jay, pessoa que vivia comigo na altura, incitou-me a começar um blog no tumblr, porque segundo elx havia muitas pessoas como eu e eu tinha estilo.. Disse-me que as pessoas iam gostar e mostrou-me várias pessoas que acabaram por ser a minha inspiração para criar o blog e para também aprender alguma coisa sobre estilo e moda queer que, até então não sabia nada. Assim, o blog foi ganhando forma, foi-se definindo. É um sítio em que partilho estilo mas também falo alguma coisa de ativismos LGBT, queer, feminismos.
Quando voltei para Portugal decidi que não ia trabalhar na minha área, eu sou assistente social de profissão e ia dedicar-me mais ao voluntariado com organizações LGBTI em Portugal (que na realidade sempre foi o que eu quis fazer da vida, trabalhar com juventude LGBTIQA+ em Portugal, é verdadeiramente o meu sonho). Assim, o blog passou a ser curto para tudo aquilo que tinha vontade de dizer, para todas as histórias que eu ia encontrando e para as mil formas de estar no mundo queer que me rodeava.
Comecei a falar mais do blog a mais pessoas e da ideia de torná-lo um site em Português que se centrasse em visibilidade queer e ativismo, ao mesmo tempo que pudesse ser uma plataforma para cultura queer. Um dia encontrei a minha equipa, primeiro a Vanda Noronha sem a qual o projeto não poderia ter acontecido e o Vini Landeira que criou a imagem do site. Conheci os dois no Queer Lisboa onde fiz voluntariado no ano passado. Depois a coisa mais ou menos foi-se compondo até que estabelecemos uma data e nessa data, o site saíu.
2. Depois de teres começado o QS no tumblr, o qual já tinha grande exposição e um elevado número de seguidores, quais são os principais objectivos do site QS?
A: O Queering style é um lugar de comunhão, de convergência de diferentes identidades. É um espaço onde podemos falar dos assuntos que nos interessam através dos meios que mais gostamos, da forma mais nossa possível. O Queering Style não é de ninguém, é de toda a gente que se identifique com o projeto. Não queremos representar pessoas, convidamos a que as pessoas se representem neste espaço. Que falem do que gostam, do que as ocupa e apaixona.
Neste espaço, ideias, pensamentos e provocações são bem vindas. Humor negro, críticas e questões, também. Não existe limite para o que pode ser. Do clássico ao transgressivo, transgressivamente clássica, não temos de concordar mas podemos dialogar. Somos quem somos e este espaço é para todas as pessoas dentro ou fora da norma, com ou sem binarismos.
O registo quer-se diferenciado porque cada pessoa é igual a si mesma.
Dizemos não à opressão ou às fobias, ao sexismo ao capacitismo. Temos portas abertas para todos os medos, inseguranças e experiências diárias ou histórias inventadas. Este espaço somos nós e é em tudo nosso.
O Queering style é um espaço queer feminista que tem como missão a visibilidade de discursos e de identidades variadas, para que pessoas possam falar de si, estar e ocupar espaço. Fala-se pouco da diferença, e normalmente não é pela boca de quem se sabe e se sente diferente.
A criação de autonomia e construção de contra discursos é importante para nós. Escolhemos as ferramentas que mais gostamos para visibilizar a comunidade que somos, as opiniões que temos, os desacordos que co-existem connosco e que nos fazem quem somos, conhecer mais, aprender mais e tornarmo-nos ainda mais iguais a quem somos.
3. Lembras-te de quando é que começaste a te interessar mais por moda/estilo nomeadamente dapper/queer e qual o impacto dessa experiência na tua identidade/identidades?
A: Foi há cerca de 3 anos atrás. Foi uma experiência que mudou a minha vida verdadeiramente. Adotar este estilo permitiu-se ser na minha pele, igual a quem eu queria ser. Teve um impacto tremendo na minha forma de estar na vida, na minha confiança em mim e em tudo o que queria alcançar. Parece que de laço eu posso conquistar o mundo.
4. Ainda existe uma grande necessidade de espaços LGBTQ+ seguros (físicos e online) em Portugal, onde se possam discutir livremente assuntos que se intersectam e que fazem parte das nossas experiências pessoais e sociais. Qual a tua opinião sobre esse tópico e o que achas que podemos fazer para melhorar esta situação?
A: Não há muito tempo escrevi um texto que publicámos no site chamado, “Onde é que elas andam” exatamente sobre este tópico. Sinto que estamos sempre a desculpar-nos por querermos espaços próprios onde podemos encontrar pessoas como nós. Chamam-nos de segregacionistas e que não somos pela igualdade. Eu digo, não sou pela igualdade, sou pela diferença. E é preciso sim espaços onde a diferença possa ser celebrada, elevada, possa reinar sem se justificar, sem se diminuir ou invisibilizar. Para melhorar esta situação acho que mais pessoas se deviam juntar na honestidade, na partilha. Sem um objetivo capitalista e de verdadeira comunhão e partilha.
Sei que parece um bocado kumbaia dizer estas coisas mas, acho que nos centramos muito em fazer coisas para obter benefícios e estes, normalmente são monetários. Acho que para verdadeiramente podermos construir em modo queer temos também de nos afastar deste modelo economicista em que o mundo nos obriga a viver e criar outras plataformas de troca e reciprocidade, de identidade e partilha.
5. Que sites sobre moda/estilo queer recomendarias neste momento e quais foram alguns dos nomes que te inspiram/inspiraram ao longo desta aventura?
A: Os dois sites que eu adoro de moda queer são o dapperq (http://www.dapperq.com/) e o qwear (http://www.qwearfashion.com/), ao nível de conteúdos feministas/queer o autostraddle (http://www.autostraddle.com/) é verdadeiramente incrível. Estes três juntos são aquilo que eu gostava de alcançar com o queeringstyle.com. Ao nível de pessoas que me inspiram a editora do dapperq, a Anita Dolce Vita, o Sonny da Qwear mas depois tenho 5 blogers que me inspiram desde o inicio a MIMI, que tem o blog: loverofstories.tumblr.com; x A.D. Sean do blog: exsouthernbelle.tumblr.com, depois a Sara do blog: adapperchick.com e a Danielle do shesagent.tumblr.com.
E por fim, o dueto, darkmatterpoetry.com (à direita) que, para além do estilo fazem-me acreditar na possibilidade de juntar palavra ao ativismo. Podia obviamente falar de muito mais pessoas que acompanho mas diria que estas são realmente importantes para eu pensar todos os dias em continuar.
6. O que é que podemos esperar do QS no futuro?
A: Existem muitos sonhos para o Queeringstyle, gostaríamos de deixar de ter uma presença só online para termos também uma presença física mas gostamos da ideia de não ficarmos num só local. Assim, pensamos em ter um espaço físico que seja um convite queer com muita música, arte e performance, que ofereça serviços de styling, barbearia queer e venda/troca de roupa acessórios, mas que possa ao mesmo tempo ser nómada e acontecer um pouco por todo o país em parceria com organizações, coletivos e pessoas individuais. No entanto ainda é tudo o sonho.
7 . Se pudesses dizer algumas palavras de encorajamento para alguém que tem um sonho de fazer algo relacionado com as suas paixões/interesses mas que ainda não encontrou a coragem necessária, o que dirias?
A: Acho que o importante é não achar que deve ser igual a alguma coisa que já se faça. Não nos centrarmos no que os outros acham e o que vão pensar. Não começar já a pensar que vai falhar, e ir fazendo, um dia de cada vez. O que eu costumo dizer sobre o QS é, quando não pudermos não fazemos. Não estamos a fazer isto pelos likes e shares. Fazemos porque acreditamos que como nós, outras pessoas também precisem deste espaço, não precisamos de ser milhares, podemos ser 50 mas para quem o QS faça realmente sentido. Depois é ter paciência. É pensar que as coisas não ficam feitas e não se constroem de um dia para o outro. Deixem a ideia maturar e quando a certeza vier, o momento chegar, o projeto vai acontecer. Eu não sei se o QS é um sucesso ou não. Isso não se mede pelos likes, pelo número de pessoas que nos seguem, afinal o site tem apenas um mês. Eu espero é daqui um ano poder olhar para o site e ver que tomou vida própria que existem células dele no país e que o entusiasmo continua. Que o crescimento é real nas atividades que formos promovendo, nos eventos em que formos participando. Aí sim, direi, o QS é um sucesso
///HAVE YOUR OWN CUNTROLE\\\.
- Quais seriam as três pessoas (mortas ou vivas) que gostavas de convidar para um jantar?
A: Nina Simone :poder (à esquerda) Louis Armstrong: serenidade Lauring Hill: sabedoria
- Completa a frase “Antes de morrer...”
A: Quero que o que eu tiver feito aqui tenha servido de alguma coisa.
The Diary of Beatrice Bay
Beatrice has been quite angry lately... but her anger is always fueled by love. So here are two of her journal entries that she so dearly named: PANTS (Pansexual Rants)
Terfs are fucking scary…
TERFADERP
their arguments are “WE HAVE PERIOD CRAMPS, IF YOU NEVER HAD PERIOD CRAMPS YOU CANNOT BE A WOMAN” so basically after the menopause… we are no longer women? are we men OR monsters or aliens?
also… intersex people exist? Idk if yall heard about it…
ALSO people who had to remove their “female” organs, are they also not women anymore?
ALSO HOW CAN YOU ERASE SO MANY IDENTITIES IN ONE VAPID PHRASE ?
WHY WOULD ANYONE WANT TO BE THE WEAKEST SEX? THE OPPRESSED GENDER? DO YOU THINK PEOPLE LIKE TO SUFFER? DO YOU STILL THINK IT’S A FUCKING CHOICE? HOW DARE YOU QUESTION ANYONE WHO IS NOT JUST LIKE YOU, BECAUSE YOU ARE LUCKY ENOUGH TO NEVER HAD TO QUESTION YOUR BODY/IMAGE/SEXUALITY/GENDER……
HOW DARE YOU INVALIDATE PEOPLE?
HOW DARE YOU CALL YOURSELF A FEMINIST?
HOW DARE YOU KEEP BUILDING WALLS WHEN SO MANY TRANS PEOPLE ARE ACTUALLY THE ONES WHO TORE DOWN THOSE WALLS AND RISKED THEIR LIVES BY DOING SO OR ACTUALLY DIED BY DOING SO… AND YOU ARE JUST THERE SAYING HOW PROUD YOU ARE OF HAVING PERIOD CRAMPS?
ARE YOU REALLY THAT (A)PATHETIC? ARE YOU REALLY SAYING THAT BEING A WOMAN IS ALL ABOUT THAT?
Guess what....
BOYS HAVE PERIODS TOO.
How I identify myself is not a personal attack to you.
How dare you?
You are attacking me by saying my identity is merely a trend, a choice, an insult to you, because I have evolved and found my own definitions. I am not going be something just because it’s more comfortable to you? I am not going to stand by saying I am this or that because you are afraid that means you are wrong. If your feelings get hurt when I’m proud to actually be myself, you should check out your sense of empathy and respect. NOT ME.
So why is it ok for bisexuals who’ve never been with the same gender, to call themselves BI... (which is totally legit btw) BUT when it’s about being pansexual you are merely looking for an excuse to be special?
Yes I have a type, I have plenty of types, they go from being attracted to butch baby dykes and also really pretty sensitive boys BECAUSE growing up in a society where ONLY the gender binary is available to you, you start feeling divided. Time to deconstruct. Like you need to choose between emotions, as if your heart or your libido can only be attracted to this or that, no way you can be attracted to more than just genitals or gender expectations, no way you can be in love with a person’s good will, personality or their beautiful flaws, no way is it okay for you to crave for something more than just one night stands (which is totally ok if you do btw, but in society’s standards not wanting to have sex is “weird”), and especially no way it is okay for you to fall somewhere in the beautiful spectrum of gender while being attracted to what a person actually thinks. To the way they defend their believes, to how passionate they are about something or everything, all at ONCE, sharing mutual love of music or films or books, or how they take time from feeling like shit to make YOU laugh, the way they smile upon your arrival, how their hug lingers strongly in your skin it is not mere coincidence you feel it in your bones and veins. Love in all forms and expressions. SO if there’s a possibility that those people happen to identify as trans/genderqueer/non binary/amazing unicorns why should I not say I am attracted to that?
WHICH MAKES ME PANSEXUAL, WHICH MAKES ME EXIST, WHICH MAKES MY FEELINGS VALID, WHICH MAKES ME FEEL OKAY WITH LIKING WHO I LIKE, AND EXPRESSING MY GENDER OR LACK OF AS I WANT TO.
Analyzing my own self about it, I have been iluminated, since many of these correlations might come from the simple fact that I’ve always liked people who are rules breakers, who go beyond social expectations, the misfits, to be outside of society means you had to grow a higher sense of sensibility, people who are interesting not only to look AT but once you actually know them, they are surprisingly THEMSELVES and NOT AFRAID to be.
Those are the kind of people I like. The kind of people who are kind. Gender, genitals and labels aside.
O senhor Ildefonso é um cidadão de certa idade com ar burguês e olhar atento. Entra num bar acompanhado de Joaninha, mulher jovem, de cigarrilha e luvas, olhar brilhante e de admiração quando olha para o seu amigo e sempre que se refere a ele tem um tom enternecedor e positivo como quem quer convencer alguém a comprar um artigo de luxo.
Ildefonso, do alto da sua idade, entra numa festa num bar qualquer de uma zona rural acompanhado pela sua fiel Joaninha, que dele só é vizinha, embora esta tenha idade para ser sua filha. O bar está cheio no sentido em que não há lugares sentados e há quem esteja no exterior a fumar. A entrada é feita pela passadeira vermelha: hoje é dia de festa, aniversário do bar. Perguntem-me pois, leitorxs, o que faz um homem acima dos 70 num bar onde polulam hormonas de gente jovem com 35 anos de idade em média. A razão concreta não sei, sei sim que o gerente do bar lhe teria pedido um favor nesse dia à tarde, aproveitando para o convidar para a festa. Apesar de não ser comum o Sr. Ildefonso surgir na vida nocturna – este visita o bar apenas nas tardes – ele decidiu aparecer com a sua amiga e vizinha Joaninha.
A música tardava em chegar e Joaninha e Ildefonso queixavam-se disso. Porém, Ildefonso estava entretido. Começou por elogiar as belas rosas (leia-se mulheres) que por ali estavam nessa noite, tecendo pelo menos um elogio a cada uma das (semi)desconhecidas com quem por obra do triste fado delas, estaria a privar. A certa altura, no meio das larachas (expressão do próprio) começa a contar a história da sua mais recente paixão que, por sinal da sua memória, se assemelhava a uma das mulheres do grupo. “Muito mesmo” acrescentou Joaninha. No meio dos elogios surgia uma pimentinha (expressão do próprio) que ele ousava não omitir. As mulheres, grupo de amigas que decidira sair nessa noite, começaram por achar piada, mas de tanta insistência, começaram a sentir-se constrangidas. Joaninha, de cigarrilha na boca, insistia em corroborar o que o seu idoso amigo dizia.
A música jamais chegava e a música vinda da boca do Sr. Ildefonso, que fazia tudo para ser cortês, um verdadeiro cavalheiro da velha guarda, tornara-se impossível de tolerar, mas, tendo em conta que não havia espaço para onde fugir, as amigas foram ficando.
Joaninha insistia em dizer que uma mulher do grupo era de facto “muito parecida” com a antiga paixão do cidadão sénior, bem como a filha desta. Não havia momento em que ela não estivesse ora olhando com admiração para o seu vizinho, ora comentando que a mulher em questão era parecida com a velha paixão, ora tecendo elogios ao velho cavalheiro que de tanto falar – e perseguir bar dentro e fora – tornara-se numa presença penosa como que assombração em casa abandonada.
- Ele escreve muito bem, é muito bom escritor. Escreveu um texto lindíssimo sobre a razão pela qual o mar enrola na areia. Já tem mais de 200 likes, não é Sr. Ildefonso? – Joaninha diz a certo ponto.
- Eu não me considero escritor, sou mais um filósofo que gosta de escrever uma história de vez em quando. Os likes pouco me dizem. – falsa modéstia, digo-vos eu e todas as outras que ouviram concordariam.
A música tardava a chegar e choviam piropos mal construídos, ou talvez demasiado bem construidos que se tornavam demasiado intensos para tolerar. Cavalheiros da velha guarda com um toque de pimentinha, digamos.
A música finalmente chega e julgamos chegar a derradeira altura em que o homem de porte altivo e cabelo branco se deixaria de se ouvir. Sai-se para fumar um cigarro e ele vai atrás, entra-se e ele vai atrás, e isto repetiu-se inúmeras vezes ao longo do tempo em que se estava no bar.
A música não é boa, mas a sangria é. Já bebiamos para esquecer – excepto quem iria conduzir – e o homem sempre de olhos postos na sósia, e Joaninha a insistir nas semelhanças. Já não chegavam todos os elogios antes da música pois Ildefonso quis até segredar ao ouvido da senhora em questão o quão bonita ela era. Teve espaço até para ser cordial à moda antiga (leia-se machista) acendendo o cigarro da senhora e trazendo-lhe uma almofada para que ficasse mais confortável. Não querendo ser indelicada, esta aceitou estes actos.
Eu estava presente e prestes a dar uma senhora dona chapada na cara do homem chamando-o de machista fanfarrão mascarado de cavalheiro, mas contive-me. A música aqueceu. Ninguém dançava mas havia quem batesse o pé. Sabem o que o Sr. Ildefonso e Joaninha fizeram em uníssono? Um bater de palmas constrangedor e constante enquanto a música tocava como se tivessem combinado. Tão empenhados e de aspecto trapalhão como se estivessem a ouvir música pela primeira vez e não soubessem como reagir. “Ridículo” pensei eu. E da vontade de me rir da situação, nasceu a vontade de escrever algo sobre o peculiar par improvável. Quase me ri, mas decidi dançar a música que não prestava para ver se me abstraía das teorias da criatura. É que foi de belos elogios para “de que cor serão as cuecas daquela moça ali ao fundo? Aquilo são collants ou as pernas dela?”. “Ò senhor Ildefonso, se tem assim tanta curiosidade vá lá perguntar-lhe.” - diz alguém a certo ponto.
- Não vou senão o jovem namorado ao lado dela ainda me bate com a cadeira.
- Ou então dá ela. – disse eu entre dentes, já com vontade de ser eu a dar-lhe com a cadeira, tendo repetido para que fosse ouvida. Cavalheiros da velha guarda my ass, é mais um velho babão, fanfarrão mascarado de príncipe encantado de uma cinderela que não o quis. Já não se fazem homens como antigamente. E ainda bem!
Esther Caulfield
How come we always end up here?
Let's go back to the beginning
Were you always going to end up touching my lips?
Let's go back to that moment
Did you know I would taste your skin? We always run away
And end up in someone else's bed
We always run
And we end up right in front of each other
Is it the way I smile?
Is it the way you smile?
Are we just two souls that can never quite fit?
Not to each other but we try anyways
Let's call it friendship
Let's call it freedom
Free from the commitment
Free from the complications
Free from it all
As we walk hand in hand
We can finally breathe
And when we say goodbye
We know it's never the end
We can run from the world
We can run from it all
But I'll still see you darling I'll be seeing you soon
Reshika Tamang 27th February 2016
trying not to fall seems easy when you, don’t feel anything at all. still wanna talk, though there’s no chance I will ever make that call. spend days talking to my walls, people aren’t static enough for me to withdraw. will I ever see myself again, through the lightning bolt? persecuted by my desires, I crawl, make waves out of corridors and cotton balls. lending space so my heart can invite yours to sprawl stay over for a night or two, promising with fingers crossed it’s all just so casual. does this mean I’m safe, does this mean I’m wrong? whatever it means, I don’t have this under control, I’m just trying not to fall, I’m just trying not to fall.