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Vida produtiva longa e lucrativa

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ENTREVISTA

ENTREVISTA

MATÉRIA DE CAPA

Larissa Vieira

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O Sumário de Touros Girolando 2021 inova e traz Índice de Longevidade, permitindo ao criador adotar uma estratégia de seleção capaz de melhorar a eficiência do uso de recursos disponíveis para produzir leite com sustentabilidade

Descarte de vacas de rebanho leiteiro não pode ser, em geral, uma decisão baseada em apenas um ponto. Vários fatores precisam ser considerados pelo produtor para garantir que a escolha foi certeira, pois terá reflexo em outra característica que vem sendo perseguida pelas principais raças leiteiras. A longevidade está ligada não só ao desempenho econômico das fazendas, mas também à sustentabilidade da cadeia produtiva e ao bem-estar animal. Ter vacas longevas significa que o criador soube combinar bem vários aspectos diferentes durante a vida útil do animal.

A raça Girolando dá um passo importante nessa direção, com o lançamento do ILG (Índice de Longevidade), publicado pela primeira vez no Sumário de Touros da Raça. Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinícius Barbosa da Silva, trata-se de uma característica influenciada por diferentes fatores ligados ao ambiente, como: alimentação adequada, cuidados veterinários, disponibilidade de novilhas, custo de recria, entre outros. Mas também está relacionada a fatores genéticos. “Com esse novo índice, será possível selecionar touro cujas filhas tenham maior taxa de permanência no rebanho, o que pode reduzir os gastos com a recria e aumentar os lucros da atividade. Quando a longevidade é aumentada, abre-se a oportunidade para o maior descarte de vacas menos produtivas, gerando impacto positivo na lucratividade da atividade leiteira, em virtude da redução dos custos de reposição e do aumento da produtividade por animal, que é obtido em sua maturidade”, explica o pesquisador.

Na composição do ILG entraram algumas das diferentes medidas de longevidade associadas à vida produtiva dos animais e sua disponibilidade de informações no banco de dados da Girolando. As medidas escolhidas foram: produção total de leite em todas as lactações; número total de dias durante todas as lactações; e número de lactações completas da vaca. A pós- -doutora Darlene Daltro, responsável pelo desenvolvimento do ILG, esclarece que a seleção de vacas longevas deve levar em conta vários fatores. “Para estabelecer essas três medidas que compõem o índice, desenvolvemos estudos relativos aos efeitos fixos influenciados pela longevidade, estimativa dos parâmetros genéticos e do valor genético dos animais e o tipo de modelo que seria usado. A partir dos resultados obtidos, foram feitas análises tradicionais genômicas para definir a herdabilidade para cada medida de longevidade, já que cada uma tem sua peculiaridade”, explica Darlene.

Líder do Sumário de Vacas, Máxima Harmonia FIV da Prata, ilustra a capa desta edição da revista

Segundo a pesquisadora, o ILG permite classificar os animais de acordo com sua habilidade para transmitir um balanço das três características que o compõem, possibilitando futuramente alterar o desempenho médio da população.

Além dos ganhos em rentabilidade, maior produção média de leite e melhor proporção de vacas adultas no rebanho, a longevidade traz impactos na fertilidade. Trabalhos científicos mostram que vacas mais longevas apresentam menor intervalo entre partos, menos problemas de parto e menor CCS (Contagem de Células Somáticas). “O aumento da longevidade de três para quatro lactações permite acréscimo no rendimento médio de leite por lactação e a elevação dos lucros, por ano, entre 11 a 13%”, diz a pesquisadora.

De acordo com o pesquisador Marcos Vinícius, o melhoramento genético da longevidade está diretamente ligado à capacidade da vaca em produzir um bezerro por ano sem assistência, de ciclar normalmente apresentando cios visíveis regularmente, com alta taxa de concepção e manutenção da condição corporal. “Um animal longevo também deve ser resistente às desordens metabólicas e mastite, apresentando altas produções de leite de qualidade. As vacas que falham em apresentar uma dessas características, em geral são descartadas prematuramente e causam prejuízos aos criadores, com gastos na cria, recria e tratamentos”, esclarece.

Longevidade na prática

O novo índice foi bem recebido pelos criadores que veem nessa característica uma possibilidade de tornar o sistema mais eficiente. “O índice trará impacto positivo importante na seleção da raça, pois é uma forma de, a cada ano, com a vaca persistindo no rebanho, mostrar sua capacidade produtiva e reprodutiva. No nosso rebanho, temos conseguido selecionar animais longevos, que apresentam uma grande capacidade de produção e agora vêm persistindo e transmitindo isso para seus filhos, tanto nas progênies de macho quanto de fêmeas”, assegura o criador Rogério Corrêa, da 2R Jataí, no município de Jataí/GO.

Vaca Esparta Windstar OG é um exemplo de longevidade na raça, produzindo até seus 16 anos.

Segundo o criador, as avaliações da raça Girolando têm melhorado muito nos últimos anos e, com a incorporação desse novo índice, tendem a melhorar cada vez mais. O criatório 2R Jataí tem em seu plantel a vaca líder para produção de leite do Sumário de Vacas 2021. Nascida em 2008, a vaca Girolando, Máxima Harmonia FIV da Prata JAC, está na liderança das top 1.000 pelo quinto ano consecutivo. “Ela é recordista em lactações e tem PTA de 3.017kg, bem acima das outras primeiras colocadas. Vem de uma família muito importante e está passando essa genética para as progênies. Tem três filhas entre as top 15 do Sumário, uma filha entre as dez primeiras top jovens, com idade inferior a 24 meses, e dois filhos PS liderando o Teste de Progênie”, diz Corrêa. Máxima é a vaca que ilustra a capa desta edição da revista.

Outra vaca que representa bem a longevidade da raça é a Esparta Windstar OG, que entre as vitalícias do Girolando figura com o maior volume produzido em todas as lactações: 153.793,52 kg. Segundo o zootecnista Gustavo Gonçalves, do criatório Girolando OG, essa característica sempre foi muito observada nos animais do Girolando OG e é um objetivo de seleção. “Ela produziu por 16 anos e meio, teve 12 partos e mais de 150 mil quilos de leite produzidos. Enfrentou pouquíssimos problemas de saúde, nunca teve um problema de casco, teve a fertilidade como um dos pontos fortes, muita saúde em sua glândula mamária e com histórico de CCS muito bom. Vemos isso também em suas filhas, como a Fanta, uma vaca Puro Sintético, que em quase 10 anos encerrou oito lactações e quase 60 mil kg de leite produzidos”, informa Gustavo Gonçalves. Esparta Windstar OG iria completar 18 anos em novembro, mas faleceu em março.

Para o zootecnista, o novo ILG contribuirá para acelerar ainda mais o processo de evolução da raça e de seleção com foco nessa característica. “Sem dúvida, vai ajudar bastante nessa proposta que o Girolando tem, que é de ser uma raça extremamente longeva, com baixo nível de descarte, os animais permanecem muito tempo no rebanho e muito tempo produzindo, entregando receita e não simplesmente existindo ali com baixos índices de fertilidade e problemas de saúde. Esperamos que muito em breve isso chegue para a realidade das fêmeas também, como agora foi publicado para os machos. Com avaliação genômica, será possível saber qual o nível de superioridade genética de uma bezerra para longevidade.”, assegura.

Terceira geração à frente do Girolando OG e com a experiência de ter atuado quatro anos no Serviço de Controle Leiteiro e coordenado o PMGG por dois anos, Gustavo Gonçalves ressalta que a longevidade é um dos pontos fortes da raça e está no DNA do Girolando. “Agora, com o novo índice, teremos condições de sair do nível das impressões, das evidências observadas e confirmações coletadas em nível de campo e passar para um nível mais científico. Uma informação muito mais precisa, onde os efeitos ambientais são separados para que possamos saber realmente o quanto das diferenças entre os animais em relação à essa característica são explicadas pela genética”, conclui.

Próximas inovações nos Sumários de Touros e de Vacas

Para avançar nas avaliações genéticas e genômicas, o PMGG (Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando) reforçou a equipe de pesquisadores. O Fundo de Investimentos do PMGG viabilizou a contratação de três pesquisadoras pós-doutoras: Darlene Daltro, que desenvolve o ILG, agora foca seus estudos na característica Persistência; Renata Negri, que está trabalhando a Resistência ao Estresse Térmico; e Sabrina Kluska, que está desenvolvendo pesquisa com a parte de avaliação multirracial.

De acordo com o diretor Técnico da Girolando, José Renato Chiari, a entidade vem trabalhando em conjunto com a Embrapa e o FIPMGG para desenvolver soluções que atendam as necessidades do criador em relação à seleção genética. “Um exemplo é a novidade deste ano, do Sumário de Vacas, que traz as tops por composição racial. Essa era uma reivindicação de muita gente e em 2021 foi possível publicar”, diz Chiari.

O pesquisador Marcos Vinícius adianta que nos próximos anos deve ser entregue a possibilidade de usar a biópsia embrionária e genotipagem visando à seleção genômica e ao diagnóstico de anomalias cromossômicas em sistema de produção in vitro de embriões. “Também em breve haverá a possibilidade de escolher o touro de acordo com a localização geográfica, levando em conta a questão climática. Essa informação virá junto com a PTA e ajudará o criador a definir os animais mais indicados para a região em que sua propriedade se encontra. Ainda será possível ter dados sobre o desempenho das filhas do touro de acordo com o tipo de manejo”, informa Marcos Vinícius.

O pesquisador destaca que, de 2000 a 2018, o Girolando aumentou a produção em 60%, e o melhor, respeitando o meio ambiente, já que houve redução da emissão de metano em 40%. Ele alerta que, para esse avanço ser constante nos próximos anos, é preciso aumentar a entrada de dados no PMGG. “Melhoramento genético não vive sem coleta de dados em qualidade e em grande quantidade. Precisamos melhorar nossa coleta de dados, pois isso é vital para o PMGG. Má informação é pior que falta de informação, pois leva ao erro. O criador precisa coletar não somente os dados tradicionais, mas outros, tais como sólidos e facilidade de parto, para que possamos ter novas características publicadas”, conclui o pesquisador da Embrapa.

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