Solteiro Sob Medida Front Page Engagement
Laura Wright
Escândalos da Alta Sociedade 2/6 Park Avenue, 721 Apartamento: 12C Moradora: Carrie Gray, uma vizinha normal. Escândalo: Ela se casaria por dinheiro? Trent Tanford o poderoso magnata da mídia, tinha uma semana para encontrar uma esposa... ou perderia seu império. Mas nenhuma de suas amantes casuais satisfazia as exigências de seu pai. Até que Trent reparou em sua inocente vizinha. Com seus óculos de aros grossos e camisetas largas, Carrie Gray com certeza não tinha um passado que a condenasse. Mas como ela se sentiria a respeito dos... deveres conjugais tão vitais para um homem como ele? Trent tem dinheiro e charme suficientes para convencê-la. Porém, jamais trocou uma palavra sequer com Carrie! Como ele poderia aparecer do nada e perguntar: “Quer se casar comigo?”
Digitalização: Crysty Revisão: Ana Ribeiro
Desejo 124 – Solteiro sob medida – Laura Wright
Tradução Ligia Chabú HARLEQUIN B O O K S 2010 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: FRONT PAGE ENGAGEMENT Copyright © 2008 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2008 por Silhouette Desire Arte-final de capa: núcleo i designers associados Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM Tel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11) 2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 11)2195-3186/2195-3185/2195-3182 Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4o andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
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CAPÍTULO UM
...transfira um milhão de dólares para uma conta bancária clandestina no exterior... ou as indiscrições de seu passado serão expostas... No centro de seu escritório feito de aço e camurça, Trent Tanford inclinou-se em sua cadeira e jogou a carta no cesto de lixo. Não sentia raiva ou preocupação, apenas um desejo de voltar ao trabalho. Ameaças não lhe eram estranhas... por e-mail, por correspondência ou por outras formas. Ele as recebera de seu pai; de empregados demitidos recentemente do império de meios de comunicação de sua família, a AMS, que tinham ficado furiosos. E de mulheres, ex-amantes que haviam se recusado a aceitar o fim de um relacionamento. As ameaças eram irritantes, sim, Mas impactantes? Não. O magnata dos meios de comunicação de 31 anos sabia quem ele era e o que queria... nos negócios e na vida... e nenhuma influência externa mudaria isso. Trent assinou uma pilha de contratos enquanto, do lado de fora das janelas que iam do chão ao teto à sua esquerda, o sol subia no horizonte, trazendo consigo um novo dia quente de agosto e um edifício de escritórios repletos de atividades. — Bom dia, sr. Trent. A porta de Trent estava aberta, como de costume, antes das 7h da manhã. Ele cumprimentou sua nova executiva com um gesto de cabeça quando ela passou... uma bela ruiva que tinha se formado na Universidade de Nova York no ano anterior. Trent olhou para o relógio em seu monitor. — São 6h30. Bom para você. — Sim, senhor. — Ela deu um sorriso muito profissional e continuou andando. Trent voltou ao trabalho. Ela era bonita, mas ele nunca misturava trabalho com vida pessoal, sem mencionar o fato de que ela era jovem demais. Mas Trent gostava de ruivas. Na verdade, tinha um encontro com uma ruiva naquela noite. Uma mulher muito linda, porém não muito brilhante. O que era bom. Trent meneou a cabeça ao se recordar do encontro deles na noite anterior. A mulher havia passado vinte minutos insistindo que Mitt Romney não era um político, mas sim um famoso jogador de beisebol. Trent sorriu. Adorava as mulheres. Adorava suas fragrâncias, o jeito como elas riam, se moviam... uma tão diferente da outra; entretanto, tão similares em sua crença de que era ela quem iria mudá-lo, capturá-lo, que o faria se esquecer do código ultra restrito sobre namoros que ele seguia nos últimos dez anos: quatro semanas no máximo, então todos os laços eram cortados. Por que elas não entendiam que nunca seria mais do que isso? Em sua experiência passada, Trent aprendera, pelo caminho difícil, que, após quatro semanas, uma mulher 3
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podia se tornar mais do que uma distração casual, e repetir aquela experiência era inaceitável nesta altura de sua vida. Trent moveu-se para seu computador a fim de ver a programação para o ano seguinte. Não era um sujeito insensível no que dizia respeito a relacionamentos. Era sempre sincero sobre as quatro semanas, deixando claro o que elas não deviam esperar dele. Isso não era nada pessoal, não tendo a ver com a beleza ou a personalidade da mulher. Era simplesmente um fato, uma regra... e, talvez, se fosse forçado a admitir, uma maneira de se deleitar com o momento, sem ter dor de cabeça depois. Uma dor de cabeça que atrapalharia seu único objetivo: sua ascensão à presidência da AMS quando seu pai se aposentasse. No entanto, para o desgosto de Trent, seu pai possuía uma visão muito diferente sobre relacionamentos. Segundo James Tanford, esposa e filhos estabilizavam um homem, fortalecendo-o. Uma família tornava um homem mais aberto ao poder, assim como mais respeitado por seus colegas e concorrentes. Na visão de um homem dos anos 1950, uma esposa cuidava dos detalhes e deixava o marido se focar nos assuntos realmente importantes. Infelizmente, o Tanford sênior acreditava tanto nisso que, após várias tentativas fracassadas de coagir seu filho a se casar, apelara para memorandos referentes ao assunto. O último estava na mão de Trent. O memorando fora colocado — sem dúvida por um dos empregados fiéis de seu pai — sob um dos monitores de Trent, um aviso de que James talvez decidisse não abrir mão da diretoria da AMS até que Trent estivesse acomodado na felicidade matrimonial. Ou no inferno matrimonial, pensou ele. Sim, ameaças chegavam ao escritório de Trent em todos os formatos, tamanhos e meios de comunicação. Todas num único dia de trabalho. Trent jogou o bilhete de seu pai no lixo, vendo-o cair ao lado de outro papel amassado no cesto... aquele que exigia o depósito de um milhão de dólares numa conta clandestina na ilha de Grand Gayman, se ele não quisesse que certas ações desagradáveis de seu passado fossem reveladas. Alguma coisa estava prestes a acontecer, pensou ele. Como a possível necessidade de Trent Tanford adquirir uma noiva em breve.
Era hora do brunch em Nova York... a refeição que é mais do que um café da manhã e menos do que um almoço, um evento sagrado para a maioria das pessoas que mora em Manhattan, que trabalha sessenta horas por semana, e usa as manhãs de domingo para relaxar, antes que comece tudo de novo na segunda-feira. No geral, Carrie Gray celebrava este horário com um bolo, ovos, roscas sortidas, e, se fosse apropriado, um drinque alcoólico. Infelizmente, estivera muito cansada para preparar um pequeno banquete para suas amigas naquela manhã. Ora, mal tivera tempo de prender seus longos cabelos castanhos num rabo de cavalo. E havia esquecido as lentes de contato; teria de usar óculos o dia inteiro. Depois de uma longa noite trabalhando em alguns esboços de um conceito de logotipo para um emprego de design gráfico que estava tentando conseguir, fora 4
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acordada por outro membro da "Tropa de Trent". Trent, ou melhor, Trent Tanford, o homem magnífico, alto, de cabelos escuros e olhos azuis que morava no apartamento do fim do corredor, um homem que recebia visitas constantes de mulheres diferentes entrando e saindo a qualquer hora da noite. Essas mulheres eram a "Tropa" dele. O nome tinha sido inventado por Carrie e suas duas amigas, Amanda Crawford e Mia Prentice, íntimas o bastante para permitir que Carrie reclamasse sobre seu vizinho irritante. O problema era que algumas das amigas de Trent ainda não tinham aprendido a ler, e confundiam o número 12B— do apartamento em Upper East Side, onde Carrie residia, a fim de tomar conta do lugar para o executivo e príncipe europeu, Sebastian Stone — com o 12C, o apartamento de Trent na Park Avenue, 721. E, na noite anterior, por volta da uma hora da manhã, outra das mulheres de Trent, uma magérrima de cabelos ruivos e lábios cor de ameixa, batera à sua porta. — Novamente, desculpem-me pela refeição — Carol falou para suas lindas amigas louras enquanto elas estavam sentadas ao redor da mesa de vidro e ferro batido no apartamento de três quartos de Sebastian Stone, o qual era desorganizado, mas finamente mobiliado. Os olhos acinzentados de Amanda brilharam de modo provocativo enquanto ela cruzava as pernas longas e delgadas. — Sem problemas. Café e pães doces são típicos de Nova York. Julia tocou sua barriga crescida e acrescentou: — E estes açucarados são os favoritos do meu bebê. — grávida de quatro meses, Julia ocupara o apartamento 9B no prédio de Carrie, até se mudar para a casa de seu noivo, Max Rolland, no mês anterior. Agora, sua companheira de apartamento, Amanda, tinha o 9B inteiro para si mesma. Aliviada com as palavras complacentes de suas amigas, Carrie observou-as comerem um pão doce em dez segundos, então pegar outro. Era engraçado. Julia e Amanda não podiam ser mais diferentes de Carrie. Ambas de famílias aristocratas, graduadas na universidade Ivy League, em Vassar, e ambas impecavelmente vestidas. E então havia a simples Carrie, com seus olhos verdes e cabelos escuros, seios grandes, quadris curvilíneos e roupas antiquadas estilo hippie. Possuía boa aparência talvez até fosse bonita, mas nada comparado às suas amigas deslumbrantes. E não se incomodava com isso. Carrie não tinha inseguranças sobre sua aparência ou sobre sua procedência. Era quem era. E Julia e Amanda não podiam concordar mais. As socialites e planejadoras de eventos não se importavam sobre a aparência de Carrie ou sobre sua falta de dinheiro. Queriam apenas sua amizade. — Além de quiche de frango e salada de rúcula, eu realmente queria fazer pão de canela — disse Carrie para suas amigas. — Mas leva tempo para a massa crescer, o que não tive muito hoje. — Está tudo bem, Carrie — Amanda a assegurou.—Você foi dormir tarde ontem? — Ela sorriu, o rosto perfeito mesmo sem maquiagem. — Um encontro amoroso, talvez? — Não — respondeu Carrie com uma risada, como se aquela fosse a pergunta mais tola do ano. Então parou e questionou-se por que isso seria tanta tolice, e quanto tempo fazia desde que tivera um encontro amoroso. Muito tempo. Um ano, talvez, desde que sua mãe recebera o diagnóstico... Com os olhos azuis se estreitando, Mia interrompeu-lhe os pensamentos. 5
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— Deixe-me adivinhar. Outra visita de madrugada? — Ela disse que não teve um encontro amoroso — murmurou Amanda, pegando mais um pão doce. . — Não estou falando de uma visita masculina — esclareceu Julia. — Eu me referia a outro membro da "tropa". Amanda quase engasgou com o pão doce. — Oh, não. Uma das mulheres deTrent apareceu aqui? — Sim — confirmou Carrie, recostando-se na linda cadeira do século XIX. — A loura novamente? — Ruiva. Amanda deu de ombros. — Pelo menos, o sujeito é versátil. Mas Julia não se sentia tão relaxada sobre a situação. Ela podia ser de estatura baixa, mas possuía um temperamento de tigresa protetora quando via injustiça. — Carrie, isso é insanidade. Você precisa confrontá-lo. — Eu sei — concordou Carrie. E sabia, era apenas que... —.Ou pelo menos pôr uma placa na sua porta — brincou Amanda, servindo-se de outra xícara de café, os cabelos louros curtos caindo no rosto. Julia meneou a cabeça. — Você jurou que, se mais uma mulher aparecesse procurando por Trent..... — Eu sei, eu sei — disse Carrie rapidamente. Estava apenas embaraçada pela própria falta de coragem na situação. — Nunca tive um problema de confronto antes, mas este homem... Trent Tanford... ele é... não sei, bonito demais. AqueIas lindas covinhas no rosto forte... são perturbadoras. Ele é como o garoto que a encantou na escola, fazendo você querer usar sua sombra azul e seu perfume Love's Baby Soft todos os dias, caso ele a notasse, por algum milagre. Julia arqueou uma sobrancelha. — O garoto por quem você se apaixonou? Trent é como o garoto por quem você foi apaixonada, Car? — Eu só quis dizer que ele é bonito e carismático, provavelmente despertando paixão nas mulheres que o conhecem. — Você quer que Trent a note? — Não. — Carrie suspirou. — Quero dizer, somente com o propósito de censurá-lo. — Porque, se você quiser conhecê-lo, falar com ele, tudo que precisa fazer é bater à sua porta. — Sim, Jules, eu sei — murmurou Carrie. Claramente escondida em seu próprio mundo, não ouvindo muito sobre a troca de Carrie e Julia, Amanda bebia seu café e parecia sonhadora. — Eu me lembro do garoto. Mas não era o perfume Love 's Baby Soft. Era óleo Patchouli. Carrie e Julia se viraram para fitar Amanda, então caíram na gargalhada. Quando Carrie parou de rir, disse: 6
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— Por acaso, ele nunca me notou, exceto para apontar quando eu tive uma espinha. — Querida — palpitou Julia —, o garoto agora trabalha numa barraca de cachorroquente. — Na verdade, ouvi dizer que ele joga futebol para Indianopolis Colts. ,— Bem, neste caso tenho certeza de que ele é rejeitado por muitas líderes de torcida. Carne suspirou. — Duvido. Homens como o sr. Goleiro e como Trent passam suas vidas sem ouvir a palavra não. -— Ela deu de ombros. — Eu não entendo. O que faz uma mulher enlouquecer por um homem assim? Um sujeito arrogante, que está basicamente atrás de sexo? — Beleza, físico atlético e riqueza são elementos importantes — disse Mia. Amanda assentiu. — Para algumas mulheres, isso é tudo que importa. Garrie fez uma careta. — Estou falando sério, meninas. — Nós também — disse Julia. — Para algumas mulheres, aparência e dinheiro é tudo. Dando um gole em seu café morno, Carrie pensou sobre o quê suas amigas tinham acabado de dizer, e em como era ingênua até mesmo em discutir o ponto. Entendia as realidades do mundo. Mas era difícil acreditar que a maioria das mulheres, no fundo, não quisesse mais substância de seus homens. Dinheiro e beleza eram ótimos, mas não duravam. Eles não massageavam seus pés quando você tinha um dia duro de trabalho. Não se importavam quando você conseguia um emprego pequeno, porém substancial. Não se sentavam ao seu lado para ajudá-la a se lembrar de seu passado quando você tinha de enfrentar os primeiros estágios de Âkheimer. Carrie reprimiu o pensamento. Não levaria a própria experiência à conversa. Em vez disso, levantou-se e foi para cozinha, fazer outro café. Uma hora depois, as mulheres estavam paradas à porta da frente, saciadas e pensando sobre o que fariam pelo resto do domingo. Elas agradeceram a Carrie pelo café da manhã e estavam prestes a seguir o corredor quando Julia pisou em alguma coisa do lado de fora da porta da amiga. Ela se abaixou e pegou. — Aqui está — murmurou, erguendo uma cópia do New YorkPost. Carrie meneou a cabeça, mas pegou o jornal de qualquer forma. — Não é meu. Eu assino Times. — Ela olhou para o nome da etiqueta adesiva acima da manchete do jornal. Amanda sorriu. — Sr. Tanford, presumo ― Carrie assentiu. — Inacreditável. Eu não apenas preciso redirecionar as mulheres dele, como entregar-lhe o jornal. Estou pronta para brigar. — Ei, acho que ela está exaltada, Jules — disse Amanda, sorrindo. — Finalmente. -— Julia apertou o braço de Carrie e sussurrou: — Enfrente-o, tigresa. 7
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— Grrrr. — Carrie imitou um rosnado enquanto suas amigas iam em direção ao elevador.
Trent tinha acabado de calçar um par de tênis de corrida, e estava checando sua enorme lista de músicas que baixara em seu iPod no dia anterior, quando ouviu uma batida à sua porta. — Só um momento — gritou ele, andando para o hall, distraído pela estranha adição de Yani em sua lista de músicas. Quando abriu a porta, viu uma mulher pequena e de aproximadamente 25 anos parada ali. Ela usava um vestido tingido estilo hippie do mesmo tom verde-garrafa dos olhos, os quais, por acaso, estavam velados atrás de óculos com armação de tartaruga. Os cabelos longos e castanhos estavam presos num rabo de cavalo, e os lábios carnudos revelavam uma expressão furiosa. Ela era bonita, curvilínea, e ele já a vira no edifício antes. — Olá. — Oi — disse ela, sem mesmo a dica de um sorriso. — Eu conheço você — murmurou Trent, inclinando a cabeça como se tentando descobrir de onde. — Como eu a conheço? Ela fez uma careta, meneou a cabeça e lhe estendeu o New YorkPost. — Aqui está. — Meu? — Sim. Ela não falava muito, mas havia alguma coisa interessante sobre a moça. Talvez fosse o jeito que os lábios carnudos se moviam. Ele poderia observar aquilo por um tempo. Olhou do jornal para ela. — Você é a entregadora do jornal? — Não. — Ótimo, porque são 2h da tarde, e, se você fosse a entregadora, eu teria de despedi-la por chegar tão tarde. — Isso não é muito gentil. — Não. Mas eu não sou muito gentil. — É bom saber. — Você mora no prédio? A pergunta a fez sorrir. Não um sorriso feliz, mas um quase irritado. — No fim do corredor, na verdade. Oh, sim. — Certo. — Trent sorriu. — Então, por que meu jornal foi entregue na sua porta? — Hábito, acho — replicou ela, aqueles lábios rosados ainda entreabertos, como se fosse acrescentar mais alguma coisa. 8
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— Hábito? — Seu jornal não é a única coisa que se perde e vai parar à minha porta, sr. Tanford. Senhor Tanford. Aquilo não era bom. Nenhuma mulher, exceto suas colegas de trabalho, o chamava de sr. Tanford. Refletiu, tentando achar uma razão pela qual aquela mulher, em particular, não gostava dele. Levou um momento, mas então entendeu. Suas visitas do sexo feminino, madrugadas... apartamentos errados. Trent inclinou-se contra a moldura da porta e cruzou os braços sobre o peito. — 12B, certo? Ela assentiu. — Em pessoa. — Então, você e Sebastian Stone são... — Eu moro lá para tomar conta do apartamento enquanto ele está fora —esclareceu ela, os olhos verdes brilhando. Mulheres esquentadas, mulheres que não gostavam dele e mulheres que não eram afetadas por seu charme eram escassas. Aquela não era seu tipo, mas definitivamente tinha de vê-la de novo. — Obrigado pelo jornal — disse ele. — E sinto muito pelas freqüentes intrusões no meio da noite. Eu pretendia ir me desculpar pessoalmente. — É claro que pretendia. — Ando ocupado. — Nós todos somos ocupados, sr. Tanford. — É claro. E, mais uma vez, peço desculpas. De agora em diante, vou me certificar de que minhas visitantes não façam mais confusão. Mas, do contrário, por favor, não hesite em passar aqui e me dar outro puxão de orelha... — Você acha que isso é engraçado — interrompeu ela. — Não. — Sim, acha. — Garanto-lhe que não acho engraçado ser acordado no meio da madrugada — disse ele com muita seriedade. Carrie ergueu o queixo. — Ótimo. — A menos que seja por uma razão muito, muito boa. Os olhos verdes se estreitaram quando ela pareceu pronta para golpeá-lo no estômago. — Espero que você cuide deste problema imediatamente. Esta noite. — Eu não tenho um encontro amoroso esta noite. Ela suspirou. — Talvez você deva dar um mapa às suas convidadas. — Ela pausou, então acrescentou com sarcasmo: — Ou talvez não. Elas sempre parecem um pouco confusas com instruções. Trent gostava daquela mulher. Gostava muito. Talvez precisasse ampliar seu leque de opções. —Verdade? Ela assentiu. 9
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— Eu até mesmo precisei trazer uma delas até sua porta. Ele sorriu. — O que posso dizer? Mulheres inteligentes não combinam com homens como eu. Ela desviou o olhar. — Sim, certo — murmurou baixinho. — Perdão? — perguntou Trent, embora a tivesse ouvido. Ora, qualquer desculpa para observar aqueles lábios se moverem. — Nada. Eu preciso ir. — Ela lhe acenou, o gesto parecendo uma saudação militar, antes de seguir o corredor. — Obrigado mais uma vez — disse ele. Ela olhou para trás. — Eu diria "disponha", mas estaria mentindo. Trent riu. — Ei. Espere um segundo. — O quê? — Se eu encontrá-la no corredor ou no elevador... — Sim? — Ela arqueou as sobrancelhas. — Posso chamá-la de 12B? Desta vez, ela deu um sorriso de verdade, um sorriso divertido. — Não se quiser que eu responda. Os lábios dele se curvaram nos cantos. — Qual é o seu nome? — Carrie Gray. — Você é uma garota inteligente, Carrie Gray? Novamente, o sorriso. — Lamento, mas sim. Trent a observou andar para o apartamento 12B, o traseiro firme e arredondado balançando com os movimentos. Parte garota, parte mulher. Muito atraente. Ela era bonita, sexy à sua própria maneira... mas definitivamente não o seu tipo usual. Não mentira ao dizer que mulheres inteligentes não combinavam com ele. Adorava mulheres inteligentes, assim como ser desafiado por elas, mas, no momento, tinha todo desafio com o qual podia lidar no trabalho. Por enquanto, queria o simples e descomplicado. Trent entrou em seu apartamento, sentou-se no sofá e abriu o jornal, esquecendo completamente que ia sair para correr antes que sua pequena vizinha aparecesse. Ele folheou o jornal. Primeiro as notícias, depois os esportes. New York Yankees e ofensas ocultas. Perde credibilidade, perde respeito. Desgostoso com seu time favorito de beisebol, Trent vibrou a página... e arregalou os olhos. — Droga — praguejou ele. Grandes fotografias de Trent e Marie Endicott, a mulher com quem ele saíra algumas vezes — a mulher que tinha puIado do telhado do seu prédio mais de um mês atrás — olhavam para ele da seção de entretenimento do jornal. A manchete dizia: "Vítima de Suicídio Trocando Afagos com o Playboy da AMS um Pouco Antes de sua Morte?" Trent jogou o jornal de lado e pegou seu Black-Berry, um celular sofisticado, de cima da mesinha de centro. Como esperado, sua caixa de e-mails estava repleta de pedidos para entrevistas, declarações e diversas fotos de Marie em sua companhia. 10
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— Droga. Dez minutos depois, o telefone tocou. Era a polícia, requisitando-o a dar um tipo muito diferente de entrevista. — Sr. Tanford, nós gostaríamos que viesse à delegacia para responder algumas perguntas.
CAPÍTULO DOIS
Dos 14 aos 17 anos, Trent Tanford se relacionara com pessoas de reputação duvidosa. Talvez isso se devesse à vida protegida e mimada que levara com seus pais ausentes, uma escola rígida e uma babá superprotetora, mas, quando a puberdade chegara, ele havia se descoberto sendo atraído como um ímã para problemas. Com o pretexto de se recolher para fazer a tarefa de casa e ter uma boa noite de sono, colocava travesseiros debaixo do cobertor e escapava pela janela. Saía com garotos da cidade, provando suas oposições contra regras e autoridades com atitudes como beber demais, derrubar caixas de correio e fazer ligações diretas em carros. Não levou muito tempo para que se encontrasse dentro das paredes frias e cruéis de uma delegacia de polícia. Desnecessário dizer que ter de tirar seu filho criminoso da cadeira não fora motivo de orgulho para James Tanford. Antes que Trent desistisse de um relacionamento com seu pai, vira aquelas viagens de carro da delegacia até em casa como um modo de passar algum tempo com ele, mesmo se este consistisse de um sermão e um ou dois tapas. Mas aqueles anos eram quase irreconhecíveis para Trent agora. Agora, era um homem rico e poderoso, e, quando entrou na delegacia de polícia naquele domingo à tarde, não tinha medo nem nada para esconder. Contudo, levara seu advogado. Trent era confiante, não estúpido. — Obrigado por ter vindo, sr. Tanford. — É claro. — Na verdade, era uma chateação estar numa delegacia num domingo à tarde, mas ele gostara de Marie Endicott. Embora não houvesse existido química entre os dois, Marie era uma pessoa decente, e Trent se sentia muito mal pelo que acontecera a ela. E, se pudesse ajudar, assim o faria. Numa sala abafada com iluminação fluorescente, paredes desbotadas, que um dia tinham sido pintadas de amarelo, Trent e seu advogado, Evan Wallace, se sentaram a uma mesa instável diante de um policial com seus 40 e poucos anos, de aparência cansada. Os olhos verdes anêmicos do detetive Arnold McGray se fixaram em Trent com curiosidade, o que Trent facilmente reconheceu como uma descrença prematura em qualquer coisa que ele fosse dizer. 11
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As questões vieram de forma rápida e sem emoção. O detetive McGray ergueu uma cópia do New York Post, a qual Trent estivera lendo mais cedo. — Você publicou estas fotos pessoalmente? — Não. — Saiu com Marie Endicott? — Sim. — Por quanto tempo? — Algumas vezes. — Pode ser mais específico? Trent suspirou. — Duas vezes. — Por que o relacionamento acabou? — Jamais começou. — Por quê? Ela não estava apaixonada por você? — Nós não estávamos apaixonados um pelo outro. — Não é fácil ser rejeitado. Isso deve ter aborrecido você. Wallace interrompeu rapidamente: — Isso é ridículo. O sr. Tanford saiu com a mulher duas vezes. Siga em frente, detetive. Trent silenciou o advogado. — Tudo bem, Wallace. McGray olhou para Trent. — Você está acostumado a conseguir qualquer garota que queira, sr. Tanford. — Isto é uma pergunta ou uma afirmação? — Homens como você não lidam bem com rejeição. Trent tentou simplificar as coisas. — Nós não tínhamos nada em comum. Não houve sentimentos de mágoa de nenhum dos lados. — Como você sabe disso? — Marie e eu conversamos sobre o assunto no nosso segundo e último encontro, rimos sobre o fato. Ela disse que preferia um trabalhador regular a um executivo viciado em trabalho. As perguntas continuaram nas mesmas linhas depois disso... sobre os sentimentos de Trent em relação a Marie, e os de Marie em relação a ele, onde eles tinham ido quando saíram, e assim por diante. Como esperado, Wallace continuou a interromper com suas indagações, e o detetive continuou a pressionar. Finalmente, quando o detetive McGray não obteve as respostas que queria, mudou para uma pergunta que fez Trent se sentar ereto. — Você recebeu alguma ameaça nos últimos tempos? E-mail? Telefonemas? Cartas? — Sim. 12
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Wallace ergueu os olhos de seu Black-Berry. — O quê? Eu nunca fui informado... Trent continuou rapidamente: — Eu recebi uma carta. O detetive McGray fungou. — O que dizia a carta? — A pessoa queria que eu depositasse um milhão de dólares numa conta em Cayman; caso contrário, revelaria alguma coisa desagradável sobre meu passado. — E o que seria isso? Wallace deu um olhar para Trent, que significava que ele deveria parar de falar. Mas Trent não tinha nada a esconder, e nada a ver com a morte de Marie. — Não tenho idéia. Por isso joguei a carta fora. Pensei que fosse uma brincadeira. — O que acha agora? — indagou o detetive. — Acho que alguém me quer aqui falando com você sobre a morte de Marie. O detetive se levantou, pediu licença por um momento, e saiu da sala. Trent estreitou os olhos para porta. O que aquela carta queria dizer? Enquanto esperava pelo retorno do detetive, seu celular tocou. — Em que bela posição você nos colocou, Trent. Seu pai. Trent virou-se e olhou para Wallace, que apenas ergueu os olhos antes de retornar a atenção ao seu Black-Berry. Claramente, Trent precisaria contratar o próprio advogado dali para a frente. O advogado da empresa era leal a James, acima de tudo. Trent suspirou. — Olá, James. — Trent não o chamava de pai há mais de 15 anos. E jamais usara a palavra papai. — Pensei que os dias de telefonemas da polícia tivessem acabado — murmurou James. — Eu não estou preso. Estou respondendo algumas perguntas. — Sobre a mulher com quem você estava saindo. — A mulher que eu saí duas vezes — esclareceu Trent com uma onda de irritação. — Uma mulher que morreu no mês passado em circunstâncias muito misteriosas. E agora há fotos espalhadas pela mídia de vocês dois. Trent recusou-se a defender o fato de que fora pego numa coincidência. — O que você quer, James? — Quero saber como você pôde ser tão descuidado. — Saí com alguém, e, por acaso, ela era suicida. Eu não chamaria isso de descuido. Todavia, fatos não cancelariam o escândalo que aquilo causaria para James Tanford. — Eu quero acabar com a especulação e as fofocas. Agora. — Assim como eu — replicou Trent entre dentes cerrados. — Mais alguma coisa? — Ele tinha saído com Marie poucas vezes, mas a morte dela o afetará, e o jeito frio com que seu pai fazia a vida de Marie, e, a morte, parecerem um grande aborrecimento, enojava Trent. 13
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James suspirou. — Não vou mais tentar lhe explicar as coisas de modo racional, Trent. Conversa parece não funcionar com você. — Tem razão quanto a isso. — Você tem uma escolha para fazer, e 24 horas para tomar uma decisão. Quando o detetive voltaria?, perguntou-se Trent irritadamente. Não tinha tempo para aquilo. — Ultimatos e ameaças não me interessam. — Esta pode interessá-lo. Com a ÂMS em jogo. Trent deu uma risada amarga. Então seu pai ia fazer aquilo de novo, não ia? Malditas ameaças. E daí? Ele estava praticamente nadando nelas nos últimos tempos. As palavras do homem mais velho vieram lentamente, como arsênico com mel saindo de uma garrafa: — Há uma coisa que pode salvar o bom nome de nossa família e a reputação profissional. — O quê? Demitir-me? — Não. Um casamento. Trent praguejou. — Este não é um escândalo tão grande assim. — Um casamento muito tradicional. ― Não vamos começar com essa conversa de novo. — Como se realmente uma esposa pudesse limpar a imagem de bad boy de Trent. — Esta é a minha empresa, o sangue de minha vida — continuou James —, e não vou permitir que a situação saia de controle. Todos irão querer fazer matérias sobre isso, e não posso demiti-los por causa de suas ações tolas. Se você é tão devotado a essa empresa como alega, então fará qualquer coisa que seja necessária para manter a AMS no topo e livre de escândalos. Trent não disse nada. — Você pode ser tão arrogante quanto quiser, meu garoto, mas esta é uma oferta que receberá uma única vez na vida. Eu garantirei sua posição fatura como diretor da minha empresa hoje, por escrito, mas você deve estar casado até o fim desta semana. — Eu serei diretor dessa empresa porque sou muito bom no que faço — disse Trent de modo tenso. — Ninguém pode me tocar, e você sabe disso. — Neste momento, não me importo o quão bom você seja. Ora, Trent, não se importa nem um pouco com o nome da família? — Você não vai gostar da minha resposta. James fez uma pausa, então falou: — Anuncie seu noivado até amanhã à meia-noite, e eu anunciarei sua nova posição para os executivos da empresa e para a mídia. Ignore meus desejos e aceitarei isso como uma demissão verbal. Fúria percorreu as veias de Trent, tornando-o quase incapaz de enxergar através do painel de vidro embaçado e do lado de fora do corredor, onde o detetive fazia seu caminho de volta para sala. — Eu vou desligar agora. 14
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— Mais uma coisa. A mulher que você escolher não pode ser seu tipo usual. Traseiros permanentemente bronzeados e seios de silicone são divertidos para brincar, mas esta é uma parceira de vida, uma Tanford. Ela não precisa vir de família rica. Deus sabe que eu não vim, mas deve ter inteligência e classe. Escolha sabiamente. — Adeus, James. — Você precisa que eu contate Wallace? Um músculo saltou do maxilar de Trent. — Eu acho que ele já o contatou. No exato momento em que Trent pressionou o botão para desligar o celular, o detetive McGray entrou na sala. Tanto ele quanto Wallace retomaram seus lugares prévios à mesa. O detetive arqueou as sobrancelhas. — Você teve passagem pela polícia quando jovem. — Isso é uma pergunta? Wallace protestou rapidamente: — Os registros do sr. Tanford estão selados e não devem... Trent o deteve, e perguntou ao detetive: — O que você quer saber? O homem o olhou sem piscar. — O quão terrível você foi quando criança, sr. Tanford? — Não tão terrível. Mas dei o melhor de mim para isso. A resposta irônica fez o detetive dar meio sorriso e assentir com um gesto de cabeça. Novamente, olhou para Trent por diversos segundos, como se estivesse tentando decidir se continuava o interrogatório naquela mesma linha ou não. Então, baixou o olhar e recostou-se em sua cadeira. — Você não foi o único que recebeu uma carta. A informação surpreendeu Trent. — Quem mais? — Uma pessoa de seu edifício. — Você não vai me contar quem é? — Isso não é importante. O que importa é que você me conte tudo que puder se lembrar sobre o conteúdo daquela carta.
Eram quase 5h naquela tarde, quando Carrie estava parada na esquina da Seventyseventh com a Second Avenue, e pegou um táxi. Não tinha realmente condições de pagar o táxi, mas a temperatura beirava 37 graus do lado de fora, e ela simplesmente não podia lidar com o metrô. Além disso, estava atrasada e precisava chegar à casa de sua mãe e liberar a enfermeira, antes que tivesse de pagar hora extra para a mulher. Carrie entrou no táxi e deu o endereço de sua mãe, no bairro de TriBeCa. Havia tentado centenas de vezes levar sua mãe para morar com ela, como Sebastian Stone graciosamente oferecera, mas Rachel Gray não aceitaria isso. O apartamento alugado de um dormitório em TriBeCa era o amor de sua vida. Aquele tinha sido o primeiro apartamento delas quando Rachel se mudara com Carrie do norte de Nova York, quase vinte anos atrás. Rachel ficava altamente agitada se passasse muito tempo longe de seu espaço e de suas coisas. Carrie não estava disposta a forçar o assunto da mudança. 15
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A solução era deixar sua mãe o mais confortável possível, enquanto ela lutava ao longo de sua doença. Carrie entrou no apartamento da mãe com sua chave. Como sempre, a primeira coisa que viu foram os trabalhos de arte de sua mãe nas paredes. Eles variavam de ousado a simples, e cobriam quase todos os centímetros de espaço. Arte era a razão pela qual Rachel se mudara para a cidade. Bem, uma das razões... Durante 15 anos, Rachel Gray tinha apreciado uma carreira incrível. Mas, como qualquer artista, quando parará de produzir, o influxo de dinheiro também cessara. Ela ainda recebia pagamento por peças recentemente vendidas, e havia sido esperta com suas economias. Mas, em Manhattan, isso quase não era suficiente. Carrie acenou para a enfermeira, Wanda, que estava na cozinha preparando o jantar, enquanto ia para o quarto de sua mãe. O quarto era como sempre fora desde que Carrie podia se lembrar: abajures antigos, armário de madeira, que Rachel tinha trazido consigo de Albany, fotografias e bugigangas, livros numa estante abarrotada, diversas pinturas abstratas originais nas paredes, algumas da própria Rachel, outras de seus amigos artistas. No meio do quarto havia uma enorme cama de ferro trabalhado, coberta por uma colcha vermelha e travesseiros roxos. Carrie foi se sentar ao lado da mãe, na cama. Aconchegada debaixo da colcha vermelha brilhante, os cabelos castanho-escuros de Rachel estavam empilhados no topo da cabeça. O rosto pálido parecia cansado. Ela sempre fora magra, mas agora parecia doente. Após tantos anos entrando pela porta da frente, depois da escola, para ouvir os sons retumbantes da banda Depeche Mode enquanto sua mãe trabalhava nas telas, com pincel na mão, Carrie sempre necessitava de um momento para se firmar nesta nova realidade. Rachel a estudou, os olhos castanhos brilhantes parecendo intrigados. — Você se parece com minha filha. — Eu sou sua filha. — Qual é o seu nome? — Carrie. Rachel sorriu suavemente. — Como a menina de Pequena Casa na Campina. — Isso mesmo. Você me nomeou em homenagem a ela. — Que bonito. — Também acho. Pigarreando, Carrie se sentou mais ereta. — Eu estou com sede — disse sua mãe. — Vou buscar alguma coisa para você beber. Volto já. Carrie saiu do quarto, imediatamente sentindo falta do aroma suave de ervas e menta que sempre parecia emanar da pele cremosa e branca de sua mãe. Ora, sentia falta de muitas coisas. Da primeira vez que Rachel dissera "Você se parece com minha filha", Carrie tinha escapado para o banheiro e, depois de respirar fundo diversas vezes, vomitado na pia. Aquilo era algo que uma filha nunca deveria ouvir de sua mãe. Felizmente, nem todos os dias eram ruins. Alguns dias eram ótimos. Quando Rachel sabia exatamente quem Carrie era. Estes eram os dias brilhantes e alegres. 16
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Ao retornar, Carrie sorriu para sua mãe e lhe estendeu o copo de chá. — Aqui está. Rachel a olhou como se Carrie estivesse tentando lhe entregar uma bomba. — Eu não quero isso. — Você adora chá gelado. Ela uniu as sobrancelhas. — Adoro? Carrie assentiu. — Tudo bem, então. — Sua mãe bebeu o copo inteiro, depois começou a mascar os cubos de gelo. Olhou para cima e franziu o cenho para Carrie. — Quem é você? Pacientemente, Carrie pegou a mão da mãe. — Sou Carrie, sua filha. — Ótimo. — Rachel mascou o gelo, então disse: — Pode ler para mim? Sim, alguns dias eram piores que outros. Carrie pegou o livro de cima do criado-mudo e começou a ler. Leu enquanto sua mãe jantava, depois enquanto ela cochilava e dormia. Mas, quando saiu de lá, algumas horas depois, não podia se lembrar de uma palavra do que tinha lido.
Eram quase nove horas quando Trent entrou no elevador, seu casaco ensopado de chuva. Tinha saído da delegacia de polícia algumas horas atrás, mas, em vez de ir diretamente para casa, entrara num restaurante para um rápido jantar. No momento em que o elevador estava prestes a se fechar, alguém enfiou um cabo de guarda-chuva entre as portas de metal, fazendo-as apitarem, pararem, e então reabrirem. Trent assentiu com um gesto de cabeça para a mulher que entrou no elevador. — Ei, 12B. Quando a bonita morena levantou a cabeça, vendo quem lhe dirigia a palavra, comprimiu os lábios, dando-lhe um sorriso falso em retorno. — Ei. Assim que as portas se fecharam, Trent observou-lhe a expressão triste, as roupas e cabelos molhados dela. — Foi pega pela tempestade? — Definitivamente — veio a resposta curta. — Você está bem? — Bem. Trent observou enquanto ela tentava secar seus longos cabelos escuros com um lenço que tirou da bolsa. Ela não possuía uma beleza facial ofuscante, mas os lábios em formato de "biquinho", o corpo pequeno e curvilíneo e a atitude "não mexa comigo" lhe davam qualidades que faziam Trent querer puxá-la para seus braços, abaixar a cabeça e beijá-la. Beijá-la até fazê-la relaxar e esquecer qualquer coisa que a estivesse fazendo agir de maneira tão irritadiça. 17
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Talvez um bom beijo também o fizesse esquecer sobre sua tarde. Ele se encostou contra a parede do elevador e tentou conter um pouco da irritação que sentia vindo dela. — Desculpe. Ela o olhou, confusa. — Pelo quê? — Por tê-la chamado de 12B quando você entrou no elevador. Eu só estava brincando. Ela desviou os olhos por um instante, então o fitou novamente e meneou a cabeça. — Tudo bem. Estou somente tendo problemas com pessoas esquecendo meu nome hoje. — Assunto de trabalho? — Não. Pessoal. — Problemas com um homem? Um pequeno sorriso tocou os lábios dela. — Não. Apenas pessoal. Pessoal, certo? Ele trocou de posição contra a parede. Mas não um homem... Por que àquele fato lhe interessava, afinal de contas? — Bem, eu não pretendia aumentar o problema. Só estava tentando injetar algum humor num dia bastante sem graça. — Você também teve um dia ruim? — perguntou ela. — Sim. Carrie se sentia um trapo molhado, parada ali no espaço confinado do elevador, e o fato de que provavelmente também parecia um trapo no momento a fez querer fugir daquele homem lindo o mais rapidamente possível. Tentou não encará-lo de um jeito óbvio, mas não era fácil. Trent também tinha sido pego na chuva, mas estava incrível, até mesmo mais bonito do que mais cedo aquele dia, quando ela lhe levara o jornal. Como isso era possível? Como era possível que ela parecesse ter saído de uma guerra, e ele da capa da revista Men's Healthl Carrie lutou contra a vontade de lhe perguntar sobre sua tarde ruim, de trocar histórias tristes. Afinal de contas, mal conhecia o homem, e não queria realmente os fardos de outra pessoa no momento. As probabilidades eram de que os problemas de Trent fossem tão profundos quanto uma loura que o deixara esperando, porque tinha conseguido marcar uma entrevista com o famoso estilista Karl Lagerfeld. Quando as portas de aço inoxidável finalmente se abriram, Carrie acenou para Trent, então saiu do elevador e foi em direção à porta de seu apartamento. Sabia que ele estava atrás dela, bem perto... podia sentir a presença de Trent. — Que tal um drinque? Uma taça de vinho? Ela não se virou. Todavia, tremeu. — Não, obrigada. — Você parece estar precisando de alguma coisa para relaxar. Carrie estava. Mas temia que o que precisava não fosse álcool. Encontrava-se em sua fase solitária... uma fase pela qual passava algumas vezes por ano, quando a vida 18
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não acontecia conforme seus planos. Naquela noite, tiraria o bolo de sorvete do freezer e tentaria esquecer o fato de que não tinha um emprego. O fato de que sua mãe nunca iria melhorar, e de que teria de se acostumar a ficar sozinha permanentemente. Então, mais tarde, passaria dos doces para os lanches salgados, enquanto se lembraria do quanto era boa a sensação do corpo de um homem sobre o seu de vez em quando. Como era delicioso sentir os toques de dedos leves percorrendo sua pele, de lábios suaves em suas têmporas, suas orelhas, seu umbigo. Ela finalmente chegou à porta. Graças a Deus. Novamente, acenou para Trent. — Boa noite. — Espere um momento. Tolamente, Carrie se virou. Ele estava lá, grande e poderoso, tão alto quanto um homem deveria ser, os olhos azuis incertos sobre o que estava fazendo à porta dela. — Talvez nós pudéssemos conversar um pouco, ou algo assim. — Não estou com vontade de conversar. — Nós poderíamos sair? O que você está com vontade de fazer? — Nada. — Ora, vamos lá. Ela suspirou. — Ouça, eu não quero ser rude, mas tenho a noite planejada, um banho muito quente, então um bolo inteiro de sorvete. E, se eu não estiver enjoada até lá, um pacote daqueles salgadinhos apimentados que deixam seus dedos vermelhos. Ele sorriu, e as lindas covinhas apareceram. — Uau. — É, eu sou assim. Também estou cansada, molhada e... — E o quê? Carrie suspirou de novo. — E nada. — Ela meneou a cabeça, depois se virou e abriu a porta. — Até mais, Trent. Ele lhe segurou a mão. Carrie parou, enrijecendo o corpo, ouvindo as batidas de seu coração acelerarem contra o peito. Se a mão de Trent lhe causava uma sensação tão boa, então... Ela não terminou o pensamento. Trent a virou e puxou-a para si. Braços fortes a rodearam, pressionando seus seios contra a parede sólida do peito dele. Carrie prendeu a respiração enquanto via a cabeça escura abaixar, e sentia os cabelos macios e os pelos que despontavam no queixo másculo roçando uma de suas faces. Ela não se moveu. Queria saber o que Trent planejara, o que faria a seguir. Ele lhe afastou os cabelos molhados de lado com o rosto, e beijou aquele ponto entre seu ombro e pescoço. Um beijo suave, mas, para Carrie, era como se aquele ponto, em particular, fosse uma represa, contendo cada gota de paixão que ela vinha estocando. E, quando a boca de Trent conectou com aquele ponto, a represa inundou e o dilúvio de sentimentos foi impossível de ser detido. Suas pernas tremiam, e, entre elas, uma pulsação úmida provocava seus sentidos. Carrie fechou os olhos e ergueu o queixo, dando boas-vindas à boca de Trent na sua. O beijo foi quente, suave e lento, e ela se derreteu contra ele, deixando-o abraçá-la, enquanto explorava a boca sedenta. Fazia tanto tempo que ninguém se importava com 19
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ela, que ninguém a abraçava. Nenhum dos dois liderou o beijo. Cada um deles tinha o próprio estilo e deu o que o outro queria. Trent gostava de mordiscar seu lábio inferior, antes de beijá-la com profundidade. Carrie adorava a sensação da língua dele na sua boca, dos beijinhos suaves contra seus lábios, enquanto ela lhe acariciava os cabelos. Então, sentiu a mão de Trent em sua barriga nua, sentiu os dedos quentes se moverem para cima. Cobriu-lhe a mão com a sua, por cima de sua blusa, mas, em vez de detê-lo, conduziu-a para o local onde seu coração batia violentamente no peito. Ela falou de modo apressado, e sem pensar: — Você quer entrar? Ele assentiu. — Sim. Carrie sorriu. — Mas eu não posso — acrescentou Trent. As palavras dele a fizeram congelar, seu coração se comprimir. Ela engoliu em seco dolorosamente e o olhou. O maxilar de Trent parecia tenso, como se ele estivesse realmente irritado, mas tentando conter a emoção. Então a afastou de si. — Eu tenho de ir. — O quê? — Preciso ir. Agora. Carrie apenas o fitou, chamando-se de tola. Uma completa tola masoquista. O que esperava daquele homem? — Então, por favor, vá — replicou ela, furiosa. Virando-se, murmurou a palavra idiota enquanto entrava no seu apartamento. Carrie não era rainha do drama, mas, naquela noite, bateu a porta. Depois, trancoua e passou o trinco, virou-se de costas e encostou-se contra a madeira. Certo. Fora uma tola. Mas não ia se lamentar por aquilo. Não passaria a noite inteira castigando a si mesma por causa disso. Então beijara um homem bonito. Grande coisa. Isso acontecia o tempo todo... talvez não para ela, mas tanto fazia. A sensação tinha sido boa, e, agora que sabia o que estivera perdendo, talvez pudesse se abrir mais, convidar alguém para sair, ir a um ou dois encontros românticos. Trent Tanford estava esquecido! Então, houve uma batida à porta, e ela tremeu. Percebendo que estivera prendendo a respiração, exalou, virou-se e abriu a porta, preparando-se para ser educada. Carrie olhou com expectativa para o homem do outro lado da porta. — Por favor, diga-me que você não voltou para mais — disse ela, o tom de voz cheio de sarcasmo, enquanto tentava não pensar na terrível percepção de que se seu corpo tivesse um cérebro próprio, andaria diretamente para Trent Tanford e uniria seus lábios ao dele. Trent se inclinou contra a moldura da porta, e havia uma expressão preocupada nos olhos azuis. — Eu sou tão cretino. 20
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Por um breve segundo, ela pensou em bater a porta no rosto dele, mas era uma nova-iorquina. Discussão e tiradas irônicas eram muito mais o seu estilo. Suspirou. — Acho que sou obrigada a concordar com você. Ele riu, então meneou a cabeça. — Ouça, eu tive um dia realmente ruim hoje. — Sim, eu sei como são esses dias. Trent inclinou a cabeça para um lado. — Peço desculpas. A raiva de Carrie diminuiu um pouquinho, e ela assentiu. — Desculpas aceitas. — Posso recompensá-la por isso? — perguntou ele. — Obrigada, mas tenho tudo que preciso. — Bolo de sorvete e salgadinhos apimentados? Ela parou, pensou no que ele tinha acabado de falar e deu de ombros. — Colocado desta maneira, isso parece muito patético. Mais uma vez ele riu. — Eu insisto em recompensá-la, srta. Gray. — Não há nada pelo que me recompensar Você não precisa fazer nada... — Pare, por favor. — Trent se afastou da porta. Ele era tão maravilhoso. Tão alto, musculoso, com covinhas e olhos que falavam de sexo. Era de tirar o fôlego. —Acho que você sabe o bastante sobre mim, ou sobre minha reputação, para ter ciência de que eu não faço nada por obrigação. — Isso provavelmente é verdade, mas... Ele lhe pegou a mão, e as pernas de Carrie ameaçaram se dobrar. Os olhos azuis estavam sérios quando Trent disse: — Eu gosto de você. O bastante para impedir que as coisas fossem longe demais no corredor de nosso prédio. — Quando ela sorriu, ele continuou: — Há alguma coisa sobre você que mexe comigo, Carrie Gray, e não é apenas no departamento de sexo. Eu quero vê-la novamente. Aquelas palavras provocaram um calor na barriga dela, subindo para os seios. — O que você tem em mente? — Saia comigo. — Quando? — Na sexta-feira à noite. Carrie arqueou as sobrancelhas. — Um encontro amoroso? Ele assentiu. — Às 7h30. — Não era uma pergunta. Carrie tentou se agarrar a alguma sanidade. — Detesto dizer isso, mas não sou seu tipo, Trent. Ele a estudou, depois meneou a cabeça e sorriu. — Talvez você seja. Talvez esteja na hora de eu gostar de mulheres inteligentes e bonitas. Bem, pensou Carrie, neste caso era melhor mandar a sanidade ir dar um passeio. 21
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Ela sorriu. — Tudo bem. — Então se lembrou de que estaria voltando da casa de sua mãe. — Podemos nos encontrar em algum lugar? — Claro. Que tal na igreja Lexington? Ela arqueou as sobrancelhas. — Uma igreja? Ele pausou um momento, parecendo um pouco envergonhado. — Há algo que eu preciso lhe contar. Oh, Deus, o que era agora? — Você é padre? Trent sorriu. — Não. — Não — murmurou ela. — Acho que não. — Na verdade, é uma coisa que preciso lhe pedir. De súbito, era como se uma centena de borboletas tivesse sido libertada embaixo da blusa de Carrie... uma sensação que normalmente indicava que aquele era um bom momento para fugir o mais depressa possível. — Carrie 12B Gray? — Sim... — Isso vai parecer completamente insano. — Esta não a melhor maneira de começar um pedido. Ele se abaixou sobre um joelho diante dela. — Eu só a conheço por um dia. — Não melhorou muito, Trent. ― Mas acho que você é a mulher. A mulher? Fantasias começaram a girar na cabeça de Carrie. Trent sorriu, exibindo as lindas covinhas. — Você quer se casar comigo?
CAPÍTULO TRÊS
Perplexa não era a palavra certa para como Carrie se sentia. Estupefata também não descrevia exatamente. Talvez, enfurecida? Era como se estivesse na oitava série de novo, e o garoto mais bonito e popular, Stuart Kaplan, houvesse levado uma excitada Carrie ao jogo de futebol importante, onde ele tinha segurado sua mão, beijado-a com excesso de língua, e desfilado ao seu lado na 22
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frente de todos os seus amigos. Mas não porque realmente gostasse dela. Estava querendo ridicularizá-la, o que fez capturando a goma de mascar de dentro do lábio inferior e colocando-a nos cabelos de Carrie. O sentimento daquele momento viveria na memória de Carrie para sempre. A sensação de ser totalmente enganada. Ela tentou manter o tom de voz calmo quando falou para Trent: — Eu saí do ensino médio há um bom tempo, e não estou disposta a joguinhos típicos de adolescentes. Ele ergueu o corpo. — O quê? Carrie arqueou uma das sobrancelhas. — Você precisa ir para casa agora. — Sei que isso parece... — Eu vou entrar. — Ela se virou e tentou fechar a porta, mas Trent a impediu. — Carrie, espere um segundo. — Não. — Sou um cretino. De novo. Eu estava tentando encontrar uma saída para a posição muito difícil na qual me encontro. Realmente gosto de você. Se pelo menos me deixar explicar... Ela lhe deu um olhar venenoso. — Nunca mais bata à minha porta. — Então, fechou a porta diante do rosto dele. Desta vez, não se inclinou contra a madeira, sentindo-se triste. Andou diretamente para a cozinha e para o freezer, onde seu bolo de sorvete lhe esperava. Adorava Nova York, mas havia muitos loucos andando livremente pela cidade. E pensar que se sentira tão atraída por ele, acreditando que houvesse, de fato, uma conexão entre os dois, saboreando um vislumbre de como seria ter uma pessoa com quem compartilhar um dia ruim... Isto é, até que o lado cruel subira à superfície.
— Rumores estão voando neste lugar como moscas nas baias em Riverdale, onde minha irmã tem aulas de equitação. Trent olhou para cima. Danny, o entregador de sanduíches, estava parado à porta, um sorriso torto no rosto redondo e sardento. Ele era ousado e atrevido no modo como se dirigia à segunda pessoa mais importante da AMS; sempre fora. E Trent permitia isso, embora jamais tinha deixado que nenhuma outra pessoa lhe falasse daquela maneira. Para Trent, o jovem era divertido, como um irmãzinho mais novo procurando seu caminho. Um irmão que Trent sempre desejara ter. Ninguém no escritório sabia, mas Trent vinha pagando uma faculdade para Danny nos últimos dois anos. O garoto era muito inteligente, e seria um excelente advogado algum dia. 23
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— Eu não tenho tempo para fofocas, Dan. Você sabe disso. Danny fechou a porta e entrou na sala. — Mesmo quando se trata de você? — Especialmente quando se trata de mim. — Tudo bem, mas, se você se casar, vai me convidar, certo? Trent franziu o cenho. — Você não tem aula? — Não até as 2h. — Não tem sanduíches para entregar? Danny sorriu. — Então, quem é ela? Trent não respondeu. — Modelo ou atriz? — Você deveria chegar à aula mais cedo. Isso mostra comprometimento. — Isso mostra que sou um verdadeiro nerd. Mas, falando em comprometimento... não acredito que você vai se casar. — Tenha um bom dia, Dan. Danny apontou para o trabalho na mesa de Trent. — O que você está fazendo aí? Escrevendo seus votos matrimoniais? O olhar que Trent deu a Danny o fez andar de costas em direção à porta com as mãos erguidas. — Tudo bem, tudo bem. Depois que Danny saiu, Trent se recostou em sua cadeira e consultou as informações que seu investigador particular reunira. Carrie Glaudette Gray, aspirante a designer gráfica, que, no momento, trabalhava cuidando da casa de um príncipe, havia freqüentado escola pública, sendo uma ótima aluna. Conseguira um emprego numa galeria de artes com a idade de 14 anos, trabalhara como voluntária num hospital, e tinha sido instrutora numa escola de inglês para estrangeiros, A mãe era artista, o pai não constava no arquivo. Depois do ensino médio, Carrie freqüentara a Escola de Artes Visuais em Manhattan. Sobre namorados e casamentos... nenhuma palavra. Interessante, pensou Trent. Ela era uma boa garota, isso com certeza, mas a melhor parte de todas era que Carrie precisava de ajuda financeira. Grandes empréstimos para pagar escolas, uma posição como uma espécie de caseira, e nenhum emprego como designer gráfica ainda. Ele se virou na cadeira e olhou para o horizonte através da janela. Poderia realmente fazer aquilo? Ser um homem casado? Chegara perto disso uma vez, quando era um tolo entre seus 18 e 20 anos. Durante a faculdade, havia conhecido uma mulher e acreditado que ela fosse o amor de sua vida. Ela era uma linda socialite, mais velha, com 25 anos, e queria se casar e ter filhos logo. Tolamente apaixonado, Trent concordou. Uma semana antes do casamento, ela lhe telefonara para lhe dizer que tinha se casado com outra pessoa, e que estava, naquele exato momento, em lua de mel com ele. Não pedira desculpas, apenas lhe dando uma rápida explicação de que o homem com quem se casara tinha oferecido uma vida melhor, um acordo mais lucrativo. O coração de Trent ficara despedaçado por um bom ano depois disso. Então, ele 24
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passara a entender uma coisa: que casamento era apenas um acordo a ser feito quando você estivesse pronto. Então, refletiu, virando-se para sua mesa: estaria pronto agora? Poderia fazer o acordo por um curto período de tempo, a fim de aplacar seu pai e assumir o controle da AMS? Sim. Ser o diretor da AMS valia um ano de cadeia. Especialmente se a carcereira beijasse daquele jeito. Trent pegou o telefone, discou alguns números e, quando seu pai entrou na linha, informou-o de que aceitaria o acordo. Agora, tudo que tinha de fazer era persuadir a moça.
O Park Café ficava localizado na esquina da Seventy-first com a Park, e era anexo ao prédio de Trent. O lugar espaçoso era popular, especialmente durante as duas maiores tréguas em atividades cerebrais: no começo da manhã e entre 4 e 5h da tarde. No momento em que Trent entrou, no último horário, avistou Carrie imediatamente, sentada a uma mesa com Elizabeth Wellington. Elizabeth morava na cobertura com o marido, Reed, com quem Trent jogara beisebol algumas vezes. Ele não os conhecia muito bem, mas eles pareciam felizes. Quando Trent se aproximou da mesa, notou que a ruiva bonita estava chorando, enquanto conversava seriamente com Carrie. Ele não pôde evitar ouvir parte da conversa. — Eu disse a ele um milhão de vezes, mas você sabe que Reed não é o tipo de homem que aceita... Elizabeth o viu e parou de falar no ato. Quando percebeu que ele estava indo em direção à mesa, ela se inclinou para a frente, sussurrou alguma coisa para Carrie e então pegou a bolsa e saiu da mesa. Não encontrou os olhos de Trent ao passar por ele. Carrie recostou-se em sua cadeira e cruzou os braços sobre o peito. — Trent Tanford, você está espantando todas as mulheres de Manhattan. Ele assentiu. — Sim, suponho que eu mereço isso. Ela deu um gole de seu café. — Você veio aqui para tomar um café, ou apenas para ouvir conversas alheias? Trent se sentou na cadeira que Elizabeth vagara momentos antes. — Eu vim aqui para me desculpar. —- Já está esquecido. — Pelo som da sua voz, isso não parece sincero. — Não? Ele meneou a cabeça. — Tudo bem. — Carrie respirou profundamente. — Pedido de desculpas ouvido e aceito com má vontade, então. Os cantos da boca dele se curvaram em divertimento. Nossa, realmente gostava daquela mulher. Nunca tinha conhecido alguém como ela, que o fizesse sorrir tanto. — Ouça — começou Trent —, a proposta de casamento... 25
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— Certo, está esquecida. De verdade. — É o seguinte: eu não vim procurá-la para que você esqueça a proposta de casamento... somente a maneira como foi feita. Antes que ela pudesse dizer outra palavra ou se levantar e ir embora, Trent continuou: — Eu tenho um problema e preciso de sua ajuda. Estou muito perto de conseguir tudo que sempre quis... a posição na minha empresa, que nasci para ter, que trabalhei muito para alcançar. Todavia, para obtê-la eu preciso — ele arqueou uma sobrancelha — estar casado. Carrie o olhou por um segundo antes de exclamar: — Meu Deus. — Ela se levantou e pegou seu café. — Estou saindo daqui. — Carrie, espere. — Ele a seguiu. — Você precisa de ajuda para problemas mentais. — Talvez sim, mas não para isto. Ela passou por ele e se dirigiu ao elevador. — Aonde você vai? Eu preciso lhe falar. Quando ele a seguiu para o elevador e apertou o botão para o andar deles, Carrie virou-se para olhá-lo com sua expressão mais furiosa, cutucando-lhe o peito com o dedo. — Ouça, entendo que você pense que, porque ganha muito dinheiro, é mestre em impressionar as mulheres a fazer qualquer tipo de jogo para agradá-lo. E tenho certeza de que diversas mulheres desta cidade caem nos seus encantos, mas eu não sou uma delas. Trent decidiu que precisava tomar uma atitude. Por mais divertido que fosse assistir àquela mulher ficar incendiada, ele não tinha muito tempo. Inclinou-se para a frente e parou o elevador. Ambos foram jogados para a frente com o impacto. Carrie arfou. — O que você pensa que está fazendo? — Você fala demais. — Você também. — Eu não falei para insultá-la. Gosto disso. Adoro ver sua boca se mover, e estou ansioso para ver isso muitas vezes no futuro, mas, no momento, preciso que você me ouça. O queixo de Carrie enrijeceu e o tom de sua voz era ameaçador quando disse: — Você precisa se mover e colocar este elevador em funcionamento de novo, ou eu vou gritar. — Eu conheço sua situação — murmurou ele. — Que situação? — Sua situação financeira. Ela permaneceu imóvel. Engoliu em seco e falou com uma falta de confiança que ele nunca vira antes. — O quê? 26
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— Ouça, eu tive de fazer o que era necessário. — Você me investigou? — questionou Carrie. Trent deu de ombros de forma relaxada. — Algo puramente profissional. Se você vai se tornar uma Tanford, eu necessitava saber sobre sua procedência. Carrie ergueu as mãos no ar. — Eu não vou me tornar uma Tanford! Na verdade, neste momento, a ideia de socar um Tanford parece muito mais satisfatória do que me casar com um. — Acho que nós seremos bons juntos. Eu preciso de alguém que me impulsione. — Você é louco. — Ela apertou o botão de emergência e o elevador começou a subir. Ele se tornou sério. — Case-se comigo, Carrie. Fique casada comigo por um ano, e, em retorno, eu saldarei seus débitos e lhe darei cinco mil dólares. As portas se abriram. Trent continuou: — Tenho certeza de que há alguma coisa importante que você pode fazer com esse dinheiro. — Adeus, Trent. — Um apartamento próprio. Ela o ignorou. — Alguém que você poderia ajudar — acrescentou ele. Carrie parou no meio do corredor. Não se moveu por um minuto inteiro. Então, meneou a cabeça e continuou andando, até que desapareceu dentro de seu apartamento.
CAPÍTULO QUATRO
Rachel Gray tinha sido uma ótima mãe solteira. Sim, ela trabalhara noite e dia e todas as horas possíveis em sua arte. Mas, mesmo assim, Carrie nunca se sentira pouco amada ou negligenciada. Muito pelo contrário, na verdade. Rachel sempre encontrara uma maneira de envolver a filha em seu trabalho, colocando uma tela ao seu lado para Carrie, ou emprestando-lhe suas tintas e deixando-a enlouquecer com as cores em uma das paredes da sala de estar. E, quando Rachel estava trabalhando, a vida era divertida e engraçada... um tipo de diversão rara, como Carrie acordando no meio da noite com diversos rolos de papel higiênico enfiados debaixo da blusa do pijama de flanela, e um sorriso travesso no rosto. — Vamos subir no terraço da cobertura, dar às árvores um pouco de cor branca. Fingir que é Natal. 27
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Carrie fechou a porta da geladeira altamente sofisticada do príncipe e sorriu ao se recordar daquela noite. No passado e no presente, sentia orgulho de sua mãe, e sabia que Rachel também se orgulhava dela. Respirou fundo. Sua mãe ficaria orgulhosa de uma filha que se vendesse por dinheiro? Carrie serviu-se de um copo de suco de laranja. Os tempos haviam mudado desde aquela época, quando Rachel era pintora em tempo integral, livre para levar a vida do jeito que quisesse, com controle de seus pensamentos e de sua memória. Agora, Rachel precisava que alguém pagasse seu aluguel, suas refeições e uma enfermeira em tempo integral, e sua filha mal estava dando conta disso tudo. Carrie bebeu todo o suco de laranja, então entrou no quarto para vestir seu melhor traje social. Precisava estar em perfeitas condições para sua próxima entrevista, porque a reunião que tivera naquela manhã não resultará em nada. Não possuía experiência suficiente. Tinha ouvido isso cinco vezes no último mês. O problema era que vinha tentando posições de alto nível em design gráfico, aquelas que pagavam bons salários. Infelizmente, não possuía a experiência exigida para tais cargos. Estava apenas esperando que alguém desconsiderasse a questão da experiência e visse seu talento e determinação, então lhe desse uma chance, porque o emprego que não requeria experiência não ia pagar o suficiente. A cama afundou com seu peso. Ela removeu os sapatos. Não pensaria naquela possibilidade... sem chance. Aquela ideia maluca de Trent. Carrie tirou as meias de nylon. Como alguém podia até mesmo sugerir um casamento por um ano? Basicamente, um arranjo comercial. Sem sexo, apenas para aparências. Bem. Ela pausou. Estava presumindo que não haveria sexo. Mas nunca deveria presumir... especialmente quando se tratava de Trent Tanford. Uma onda de excitação a percorreu ao se imaginar deitada na cama de Trent, enquanto ele lhe removia as roupas e pairava acima dela, cada centímetro do corpo másculo e sólido à mostra, e pronto para lhe dar prazer. Trent Tanford removendo seus sapatos, suas meias de nylon... Carrie inclinou-se para a frente, pôs a cabeça entre os joelhos e tentou respirar. Suas dívidas de empréstimos seriam coisa do passado. Teria até condições de aceitar um emprego para iniciantes em design gráfico, escalar na carreira, usar o tempo para aprender e adquirir experiência sem se preocupar com a situação financeira de sua mãe. E, no futuro, seria capaz de pagar um tratamento a longo prazo para Rachel. O telefone tocou e Carrie deu um salto para atender, esperando que fosse Trent, suplicando-lhe que reconsiderasse. Mas não era. — Ei, Tessa. — Carrie manteve o tom de voz leve ao falar com a assistente pessoal do príncipe Sebastian. Como estão as coisas? — Tudo indo. — Tessa fez uma breve pausa, e Carrie podia imaginar a bonita loura de olhos verdes sentada à sua mesa, a qual estaria, como de costume, impecavelmente organizada. — Eu tenho uma novidade. Príncipe Sebastian irá retornar em breve. — Algum problema? 28
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— Nada de mais. — TessaBanks não era de fazer fofocas, mas Carrie sentiu alguma coisa no tom de voz dela, uma preocupação pelo seu chefe que nunca estivera lá antes. E claro que poderia estar mal-interpretando a situação., — Tessa? A mulher não disse nada por um momento, então suspirou. — Há um pequeno problema com a empresa. — Sebastian está bem? — Você conhece o príncipe. Ele não fica feliz se as coisas não estão saindo conforme o planejado. — Sim, eu sei. — Sebastian Stone era um bom homem, mas também um chefe exigente, que mostrava seu mau humor de tempos em tempos. — Eu ligo para você alguns dias antes do voo dele — continuou Tessa —, e me certificarei de que seu quarto no Mercer seja reservado. Embora Carrie apreciasse a consideração de Sebastian Stone em lhe prover um lugar para ficar enquanto ele estava na cidade, morar num hotel era uma existência solitária. Mais uma vez, refletiu se deveria ficar com sua mãe. Mas não havia espaço realmente, e ela não queria tirar o espaço de Wanda, que passava boa parte do tempo lá. — Você sabe quanto tempo o príncipe ficará na cidade? — Não sei, lamento. — Sem problemas. Obrigada, Tessa. Carrie desligou o telefone e, por uns bons sessenta segundos, permaneceu sentada na cama, imóvel e silenciosa. Então, sem outro pensamento, pegou caneta e papel de cima do criado-mudo. Com a mão firme, escreveu um pequeno bilhete, depois apanhou as chaves de sua casa e deixou o apartamento. Não podia fazer aquilo pessoalmente. Se tentasse, provavelmente se sufocaria e desistiria. Seu coração bombeava violentamente no momento em que ela se abaixou na frente da porta dele e deslizou o bilhete por baixo.
Às 7h em ponto da manhã seguinte, Trent entrou no Park Café, seu olhar percorrendo cada mesa de um jeito quase predatório. Então ele a viu. Ela estava sentada sozinha a uma mesa perto do banheiro, olhando para seu café e mordiscando o lábio. Estava nervosa. Trent se perguntou por quê. O que Carrie tinha a lhe dizer? Afinal de contas, não havia lhe dado uma resposta definitiva no bilhete, somente pedindo que ele a encontrasse no Café. Trent manobrou as mesas, poltronas largas e confortáveis, uma longa linha de clientes sedentos. Ele ficara apenas parcialmente surpreso ao ouvir notícias de Carrie novamente. Ela iria aceitar sua oferta? Uma onda de calor o envolveu, não um calor sexual, mas alguma coisa que não lhe era familiar, algo parecido com o sentimento de posse. Ela era sua. A força de sua reação o apavorou, e, enquanto se aproximava da mesa, disse a si mesmo que aquilo se devia à sua necessidade desesperadora de resolver seu problema, de fazer aquilo acontecer, de modo que assumisse a direção da AMS, e não uma necessidade incontrolável de tê-la. 29
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Trent não se sentou. — Tenho tempo de pedir um café expresso, ou esta vai ser uma conversa muito rápida? Carrie respirou profundamente, então falou sem rodeios: — Eu vou aceitar o acordo. — O acordo? — Ele sabia exatamente sobre o que ela estava falando. Ela o fitou e disse de modo tenso: — Casar-me com você. Por um ano. Ele assentiu. — Ótimo. Carrie também assentiu. — Ótimo. Ele se virou então, e acenou para a garçonete, que o conhecia bem, e pediria seu expresso imediatamente, apesar da fila. Trent sabia que parecia calmo quando se sentou ao lado dela, mas, por dentro, sentia-se quase atordoado pela satisfação de conseguir o que mais desejava. Ela era sua. Por um ano. Assim como a AMS. Observou-a dar um gole no café, o qual, sem dúvida, estava frio àquela altura. Embora não estivesse usando óculos, Carrie tinha a mesma aparência de sempre: graciosa, pequena e casualmente vestida de jeans e camisa preta. Mas, quando ele a estudou, desde o topo da cabeça até mais abaixo, percebeu que Carrie parecia brilhar. Os cabelos longos escuros estavam penteados para trás do rosto, revelando aqueles olhos verdes intensos. E ele quase podia sentir o gosto dos lábios carnudos formando um biquinho. E as curvas. Cada centímetro dela parecia reluzir sob seu olhar. A garçonete apareceu e colocou um expresso duplo diante dele, então lhe deu seu sorriso mais sexy. Trent mal notou. — Obrigado — murmurou ele. A mulher à sua frente estava brilhando. Completamente focado em Carrie, Trent não conseguiu evitar as palavras que saíram de sua boca em seguida, como pedras brutas de um polidor: — Sei que sugeri que esse casamento fosse um acordo comercial, mas deve saber que eu a acho incrivelmente atraente. Sei que não será fácil não tocá-la, não beijá-la novamente, mas, se você não quiser isso... — Eu não quero. A recusa rápida feriu o ego de Trent, mas ele não demonstrou seus sentimentos. Deu de ombros. — Tudo bem. Eu posso respeitar isso. — Ótimo. — Ela foi ligeira ao acrescentar: — Mas entenderei se você quiser encontrar... isso... — Isso? 30
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— Sexo. — Carrie sussurrou a palavra como se eles estivessem na igreja, e não num Café repleto de pessoas falando, rindo e usando seus celulares. Ele não foi capaz de evitar um sorriso. — Certo. — Se você quiser encontrar isso em outro lugar... O sorriso de Trent permaneceu. — Obrigado. Ela assentiu sucintamente. — De nada. Trent observou-lhe a expressão, as faces rosadas e a curiosidade sexual desmascarada nos olhos. Não era tolo. Carrie Gray gostava dele, e bastante, se não estivesse enganado. E quaisquer razões que ela tivesse naquele dia para não querer que seus limites fossem transgredidos, Trent estava confiante de que seria capaz; de fazê-la mudar de idéia em breve. — Sabe — começou ele calmamente —-, pela minha experiência, as mulheres não apreciam compartilhar seus maridos. — Tenho certeza de que isso é verdade. —- Os olhos verdes brilharam quando ela os ergueu da xícara de café para ele. — Mas você não será meu marido... não no sentido verdadeiro. Novamente, aquele incontrolável sentimento de posse o assolou. Ele levantou a xícara e deu um gole em seu expresso, esperando que o líquido quente acalmasse aquela nova fera em seu interior. — Ouça, Carrie, apesar de você não se importar que eu procure prazer físico por fora, lamento, mas não posso lhe permitir o mesmo privilégio. Ele nunca vira alguém endireitar o corpo na cadeira com tanta rapidez. — Permitir-me? — repetiu ela em total perplexidade. — Isso mesmo. — Eu não aceito ordens, Trent. — Apenas pense nisso como parte do acordo. — Você não pode acrescentar alguma coisa ao acordo a qualquer momento que quiser. — Ficaremos casados por um ano. Procurar sexo fora do casamento seria humilhante e prejudicial para a reputação de nós dois. — Trent pôs a xícara sobre a mesa e encarou-a com seriedade. — Eu juro, aqui e agora, que não vou violar as promessas de casamento que fizer a você. Ela o estudou, incrédula. — Sem outras mulheres? — Isso mesmo. Por um ano, nenhuma outra mulher, exceto minha esposa. Ela engoliu em seco enquanto registrava aquelas palavras. Então, deu um pequeno sorriso. ― Então você vai ficar celibatário por um ano inteiro, certo? Realmente acha que consegue fazer isso? Não. Ele não achava. Especialmente com Carrie andando por seu apartamento noite 31
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e dia, relaxando em sua banheira, sentando-se ao seu lado no sofá, excitando-o o tempo inteiro. Trent deu um gole em seu café e assobiou entre dentes. — O que foi? — perguntou ela, evidenciando preocupação. — Muito quente? Ele a olhou. — Pode ser. Pode ser muito, muito quente.
Eles se casaram no sábado seguinte num evento apressado e organizado pela dona de um bufê, Abigail Kirsch, em Light-house, no complexo de entretenimento Chelsea Piers. Um local maravilhoso, porém muito grande para a pequena festa deles, e só conseguido por causa do que o nome Tanford representava na sociedade de Nova York. Uma cerimônia não tradicional e sem alianças tinha sido os dois maiores pedidos que Carrie fizera a Trent. Desde criança, ela sonhava com um anel perfeito e um casamento na igreja. Todavia, uma vez que aquele não era um compromisso "real" que sempre imaginara, havia insistido que ela e Trent trocassem os votos sem anéis e num lugar nada tradicional... embora público e fabuloso o bastante para convencer o pai de Trent de que o evento sairia nos jornais. O que acontecera, juntamente com a iminente aposentadoria de James Tanford da AMS. Carrie usou um lindo vestido Amsale absurdamente caro, selecionado pela coordenadora de casamentos que trabalhava para os Tanford. Ela até mesmo usara os cabelos do jeito que a mulher sugerira. Sentia que, afinal de contas, aquele não era o "seu" casamento, então o que importava? Todos os convidados eram convidados dos Tanford, é claro, uma vez que Carrie não convidara sua mãe ou nenhuma de suas amigas. Planejava dizer a elas que seu casamento com Trent tinha sido decidido e executado com incrível rapidez, sem que restasse tempo hábil de avisar as pessoas. Mas sabia que surgiriam questões desconfortáveis e embaraçosas. Às 4h da tarde do sábado, encontrava-se em pé ao lado de Trent — magnífico num smoking preto —, diante de janelas que iam do chão ao teto e davam vista para Hudson River. Perante os convidados e a família estóica de Trent, eles concordaram em se casar. Depois, Carrie falara com os pais dele, que eram altos e imponentes, e pareciam genuinamente satisfeitos pela união dos recém-casados. Mas também eram tão pouco afetivos quanto a maioria das pessoas ricas que ela conhecera em Manhattan, e, portanto, optaram por não abraçar Carrie ou o filho. Havia música e uma incrível abundância de alimentos, mas Carrie comera pouco. Enquanto andava ao redor da festa com Trent, sentia-se preocupada e solitária. A única coisa familiar, a única coisa que a aquecera naquela tarde de agosto muito abafada, fora o beijo de Trent, e o fato de que ele não tinha saído de seu lado desde que a cerimônia terminara. E, então, tudo acabara. Às 7h, eles foram para casa de carro e, com aquele beijo ainda presente em sua cabeça, Carrie tentou imaginar o que viria a seguir, como seria o dia seguinte... e como iria lidar com o fato de ser a senhora Tanford apenas no nome. 32
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CAPÍTULO CINCO
Carrie passou sua noite de núpcias em uma das maneiras mais românticas: empacotando seus pertences e mudando-se do apartamento estilo europeu do príncipe Sebastian. Uma vez que Sebastian voltaria para Manhattan em breve de qualquer forma, ela lhe telefonara mais cedo, durante a semana, a fim de pedir demissão. Ele lamentava perdê-la, dissera, mas entendia sua necessidade de progredir. Carrie não tinha lhe contado que tipo de progresso estava fazendo, mas garantira que cuidaria da casa dele até seu retorno, como prometido. —Pronta? Trent parou à porta do quarto, parecendo pronto para trabalhar na mudança. Ele abandonara o smoking por um traje muito mais esporte: jeans desbotado e uma bonita camiseta preta. Quando Carrie assentiu, os dois saíram do velho mundo europeu e entraram no moderno e ultra masculino apartamento de dois dormitórios. O apartamento de Trent possuía um layout muito similar ao do príncipe, mas as escolhas de quadros, objetos decorativos e "brinquedos" eram totalmente diferentes. Havia arte moderna e fotografias emolduradas nas paredes de cor cinza, a maioria tirada em Nova York e suas redondezas, num estilo foto jornalístico. Uma televisão de tela plana era localizada acima da lareira de tijolos brancos, na sala de estar, e, ao redor de uma mesinha feita de metal e vidro, estavam os modernos sofás em metal e couro preto. Atrás disso, perto de uma das janelas, havia uma área que parecia designada para relaxamento, com uma cadeira de massagem de alta tecnologia, cercada por um aparelho de som e um de DVD, além de alguns objetos masculinos que ela não reconheceu. No caminho para seu novo quarto, eles passaram pela cozinha, a qual era aberta e arejada, e parecia novinha, com balcões de granito, azulejos azuis e eletrodomésticos sofisticados e caros. Carrie sorriu e balançou a cabeça quando viu pratos empilhados dentro da pia. Ele podia ser um homem rico, mas era um homem, de qualquer forma. Trent carregou as malas para um quarto de bom tamanho, pintado de cor de areia e ostentado com uma penteadeira de madeira branca com pés de aço inoxidável e um ventilador de teto cinza metálico com pás largas. Abaixo dele estava a enorme cama de casal com a cabeceira acolchoada e colorida, pernas de metal e muitas cobertas fofas e brancas. Dois abajures modernos jaziam sobre dois criados-mudos de metal. Carrie notou que os vasos largos e curtos em cada criado-mudo estavam preenchidos com rosas vermelhas. Era um lindo quarto. Trent pôs as malas dela no chão. — Este costumava ser meu escritório, mas acho que ficará muito melhor com você 33
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aqui dentro. O coração de Carrie amoleceu com o elogio. Muito doce. Ela o fitou por sobre o ombro. — É gentileza sua dizer isso. Ele arqueou as sobrancelhas. — Tenho mais gentilezas a oferecer. Ela sorriu. — Sinto muito por ter tirado seu escritório de você. — Sem problemas. Mas, se você se sentir muito mal sobre isso, pode sempre se mudar para o meu quarto, e eu colocarei a mesa e os computadores de volta aqui. — Que tal se eu apenas agradecer e deixar as coisas como estão? — Ele era muito charmoso, Carrie tinha de admitir. Resistir a Trent seria difícil, mas precisava conseguir. Caso contrário, o que isso faria dela? Ele seria seu por um ano, e então sairia de sua vida... com o pagamento quitado. A idéia a fez estremecer por dentro. Talvez sentindo seu desconforto, Trent continuou com o tour pelo apartamento. Aproximou-se e apontou para a porta à sua direita, a qual era delineada por fotografias emolduradas de velhas janelas com pinturas descascadas. — Este quarto tem seu próprio banheiro. Há toalhas limpas lá, e eu pedi que Hannah, minha governanta, lhe arranjasse um roupão e algumas... coisas de garota. — Coisas de garota? — repetiu ela. Trent a olhou e riu. Era um som contagioso. — Eu não sei. Ora, me dê um desconto. Você é minha primeira hóspede de verdade, Carrie. — Sim, até parece. — Acredite ou não. —- Você sabe que não posso acreditar. Eu costumava guiar suas pobres ovelhinhas perdidas para cá, lembra? Trent andou até ela com o olhar sério. — Eu trouxe mulheres para cá, é verdade. Mas nenhuma permaneceu até depois das 7h da manhã. Carrie ficou apavorada com a honestidade dele. — Isso é horrível. — Talvez, mas era compreendido. Ela arqueou as sobrancelhas, incapaz de falar. — Eu sou quem sou, Carrie. Levo minha vida do jeito que quero, e qualquer pessoa que decida entrar nesta vida possui uma escolha. Ela assentiu. — Tudo bem, eu entendi. Mas por que nada depois das 7h da manhã? Ele deu de ombros. — Isso enviaria a mensagem errada. — E que mensagem é esta exatamente? "Eu não gosto de pessoas que durmam até tarde ou tomem café da manhã?" — Não. Mais na linha: "Não quero que você pense que isso é algo mais do que 34
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algumas horas de divertimento." Carrie uniu as sobrancelhas. — Café da manhã é muito íntimo? — Exatamente. — Conversar sobre o que vai acontecer no futuro enquanto comem panquecas e ovos... — Eu sou um homem honesto. Ninguém entra nesta casa sem este conhecimento. — Entendo. — Sim, você entende. — Aconteceu num piscar de olhos. Trent pegou-lhe a mão e levou à boca. — Por um ano. — Então, virou-lhe a mão e beijou-lhe a palma. Os joelhos de Garrie quase cederam enquanto um calor subia pelo seu pulso, para seus braços, seus ombros... Aboca de Trent era incrível, gentil e carnuda, provocando-a com movimentos lentos e deliberados. E então ela se recordou da situação real e afastou a mão. — Vou desfazer as malas agora. — E eu vou deixá-la fazer isso — murmurou ele casualmente, embora a expressão dos olhos fosse ardente. Trent estava a caminho da porta quando Carrie o chamou. — O que estamos fazendo aqui é uma loucura. A porta, ele parou e virou-se. — O quê? O casamento ou a nossa atração? Os olhos verdes se arregalaram. — Sim. Ele riu, entendendo que o "sim" significava que ambas as coisas eram loucura. — Você não faz muitas loucuras, faz, Carrie? Ela meneou a cabeça. — Não. Na verdade, não. — Bem, apenas para sua informação, o nível de loucura depende inteiramente de você. Perfeito, pensou ela com ironia. Deixar a decisão de quanta água beber na mão de uma pessoa que estava morrendo de sede. Espertinho, o garoto da Park Avenue! — Eu vou preparar o jantar — disse Trent. —Depois que você desfizer as malas, é bem-vinda para se juntar a mim. Carrie queria dizer sim. Queria muito. Mas precisava de algum tempo para refletir, calcular suas próximas ações, planejar aquele "casamento" com duração de um ano. Então, meneou a cabeça. — Estou realmente cansada. Foi um longo dia. Ele pareceu desapontado, mas não pressionou. — Bem, boa noite — murmurou Trent e fechou a porta. E ela estava sozinha novamente. Liberando uma respiração trêmula, Carrie se sentou na cama, vestida em seu conjunto de moletom preto na "noite de núpcias", e olhou para a janela, a fim de admirar sua nova vista, ignorando o friozinho na barriga e o calor que ainda pulsava alguns centímetros abaixo dela. 35
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Era um sonho. Ela sabia que era um sonho. Apenas não queria acordar para que o sonho não acabasse. Seu corpo parecia metal derretido, frio, suave, flexível... se movendo sob o dele. Todavia, em seu interior, em contraste, seus músculos, ossos e sangue... tudo irrompia numa chama de calor. — Carrie? O som suave de seu nome não estava vindo dos lábios dele, da boca que pairava acima da sua. Embora a voz fosse a mesma. — Carrie? E então o sonho desapareceu num flash branco, e ela podia sentir o lençol frio contra suas costas, e seus cabelos no rosto. Abriu os olhos. Trent estava em pé ao lado da cama, parecendo ter saído da capa de uma revista. De terno e gravata, barbeado, os olhos tão azuis quanto o jeans desbotado. Delicioso, foi tudo que Carrie pôde pensar. — Que horas são? — Sete — respondeu ele. — Desculpe-me sobre entrar aqui e acordá-la, mas eu não queria sair sem me despedir. Pensei que você poderia achar estranho acordar e... Bem, um bilhete, me pareceu... — Tudo bem. — Aquilo era consideração da parte dele, e Carrie sorriu. — Obrigada. De onde estava, aconchegada debaixo das cobertas brancas, ela sentiu o aroma da colônia pós-barba, e o cheiro limpo de mar fez seu corpo, já trêmulo e desejoso, responder. Se estendesse os braços e agarrasse as lapelas daquele terno bem-cortado, puxasse Trent para cima de seu corpo e o beijasse, o que ele faria? O que pensaria dela? O que Carrie pensaria de si mesma? Acabara de se casar com Trent no dia anterior, acabara de guardar seu vestido de casamento numa caixa dentro do armário do "escritório" dele, acabara de fazer um pacto consigo mesma de não se envolver fisicamente com Trent. Então, outro aroma captou seus sentidos... alguma coisa mais terrena. Nozes ou café? Ela olhou para seu lado direito e viu café, torradas e algumas frutas sobre o criadomudo. Olhou para ele, arqueando as sobrancelhas. — Isto parece café da manhã, Trent. Ele sorriu. — Suponho que pareça. — O que aconteceu com sua regra? — As regras que discutimos ontem à noite não se aplicam a você ou a nós. Carrie sentiu uma forte onda de felicidade envolvendo-a, e desejou que o sentimento doce nunca desaparecesse. — Você está tentando arduamente, não é? — questionou ela. — Como assim? — Você está tentando ser um bom marido. Trent sorriu. — Eu sempre sou extremamente competente em tudo que faço. 36
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— Você, com certeza, me faz sentir bem-vinda aqui. — Carrie sentou-se, sabendo muito bem que seus cabelos estavam desalinhados, mas não se importando com isso naquele momento. — Então, precisa sair neste segundo? Ao seu lado, ela sentiu o corpo de Trent ficar tenso. —- Por quê? Carrie deu um gole no café. — O comentário que você fez ontem à noite sobre minha falta de loucura... — Sim? — Acho que é hora de enlouquecer um pouquinho. — E como exatamente você planeja fazer isso? Com um sorriso, Carrie apontou para o prato ao lado da cama. — Você preparou isto para mim, então que tal me alimentar agora? Trent riu, o corpo inteiro relaxando. — Eu gosto de você, sabia? Gosto muito. — Trent estendeu um dos braços e pegou o prato branco. — Aqui está — murmurou, pondo uma linda amora na boca aberta de Carrie. Quando ela fechou a boca e sorriu-lhe, ele meneou a cabeça e murmurou: — Safada. Ambos riram, e Trent continuou alimentando-a até que não restasse uma única amora. — Obrigada por isso — disse ela, antes de dar um gole no café. — De verdade. Foi muito bom. — Eu fui sincero sobre o que falei no Park Café, Carrie. Você é a única. Enquanto seu coração se expandia com aquelas palavras, Carrie não pôde evitar se perguntar por que este protagonista principal no mundo dos namoros estava tão focado nela, por que estava sendo o tipo de marido tão gentil e com tanta consideração. Era apenas por honrar os votos quê eles haviam trocado? Ou era algo mais? Mas, então, Trent inclinou-se para perto de sua boca e sussurrou: — Você é a única... entendeu? Carrie se esqueceu de tudo que estivera pensando, fechou os olhos e sussurrou de volta: — Entendi. E depois ele a beijou. E ela permitiu. Primeiro, ele beijou sua boca, com incrível suavidade, então seu queixo, ambas as faces, os olhos, os lóbulos e sua boca mais uma vez. Os toques eram leves, e não intensamente sexuais, mas o baixo-ventre de Carrie doía, pulsava, suplicava para que ele continuasse. Onde estavam as mãos de Trent? Os dedos? Mas, quando ela abriu os olhos, ele havia se afastado, a expressão nos olhos ainda parecendo excitada. —-Eu preciso ir — disse Trent. — Eu sei — concordou ela. 37
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— Jantar esta noite? — Eu vou cozinhar — declarou Carrie, então sorriu. — E eu alimentarei você. Ele inalou profundamente e desviou o olhar. — Você é uma mulher travessa e atormentadora, Carrie Tanford. Era como se alguém tivesse envolvido uma toalha quente ao seu redor. Carrie Tanford. O nome parecia tão estranho, tão errado; entretanto, ela queria ouvi-lo falar novamente. Trent notou sua reação e sorriu, detendo-a antes que Carrie pudesse falar qualquer coisa. — Chegarei em casa por volta das 8h. Quando ele saiu, Carrie se recostou contra os travesseiros e gemeu. Estava frustrada e insatisfeita, tomada por um desejo sexual pelo homem com quem tinha se casado... o homem que ela jurara não tocar. Trent estava nas nuvens.
À 1h30 daquela tarde, na sala C de conferência, com todos os altos executivos sentados ao redor da mesa de mogno oval, James Tanford anunciara sua aposentadoria, com vigência imediata. Assumindo a presidência da empresa, estaria seu filho, Trent Tanford. Ninguém pareceu chocado com a novidade; eles sabiam que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde. Mas, para Trent, ouvir seu pai dizer as palavras tornou a vida infinitamente mais doce. Após o anúncio de seu pai, Trent anunciou quem substituiria seu cargo anterior, assim como outras posições e promoções de pessoas com cargos mais baixos, antes de revelar seu plano de transformar a AMS na melhor empresa de meios de comunicação do país até o final do ano. Por volta das 7h30 daquela noite, estava alegremente exausto e pronto para ir para casa, para sua esposa. Com um sorriso confiante no rosto, saiu do edifício da AMS para a noite quente de agosto. O carro da empresa o esperava do lado de fora, a pintura preta brilhando na luz fraca do pôr do sol. Seu motorista, Michael, estava parado à porta, e cumprimentou-o com um gesto de cabeça quando Trent se aproximou. — Boa noite, senhor. Trent concordou jovialmente: — Será muito boa. — Sim, senhor. Michael abriu a porta e Trent sentou no banco de trás, onde a surpresa de uma vida inteira estava sentada diretamente à sua frente. — Carrie. O que... — Olá. Ela lhe sorriu de um jeito tão suave e caloroso que fez o baixo-ventre de Trent pulsar de desejo. — Oi. 38
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Ela parecia diferente, embora sua maneira de ser fosse exatamente a mesma. Mas havia uma mudança definitiva. Jeans, camisas largas e vestidos tinham desaparecido... todas as roupas muito boas, pensou ele, mas nada como o que estava diante de si. Trent sabia que Carrie possuía curvas incríveis, mas nunca as vira antes, não assim. Sua boca aguou enquanto seus olhos a percorriam, começando pelos pés e as sandálias de saltos altos metálicos, que mostravam dedos lindamente pintados. As pernas estavam nuas, todavia cobertas na maior parte por um vestido longo vermelho sem alças, que abraçava as curvas exuberantes e expunha os seios volumosos ao seu olhar sedento. O único pensamento de Trent naquele momento era erguer a divisória que os separava do motorista e deleitar-se em Carrie. Estava tão excitado que mal podia falar, mal ouvia qualquer coisa acontecendo do lado de fora do carro ou do lado de dentro. Mas, através da onda de calor que o percorria, a ouviu murmurar: — Você quer saber por que eu estou aqui? — Sim — respondeu Trent. — Pensei em levá-lo para jantar. — Verdade? —- Para comemorarmos. Ele a estudou, vendo aquele rosto lindo, que quase não precisava de maquiagem, os cabelos longos escuros que cascateavam soltos sobre os ombros. Ela riu. — Seu grande dia, Trent. — O quê? — Você não foi promovido hoje? Não obteve o cargo pelo qual vem trabalhando sua vida inteira? Algo que estou falando faz sentido? Trent achou seu caminho de volta à realidade e assentiu. — Certo. É claro. Eu estou somente... — Somente o quê? Sim, estava somente o quê? Desesperado? Enfeitiçado por ela? O que sentia exatamente? — Surpreso — foi a resposta que lhe veio à mente. — Bem, ótimo. — Carrie olhou para a frente. — Ao Babbo, Michael, por favor. — Muito bem, senhora. Carrie voltou-se para Trent mais uma vez. — E, apenas alguns dias atrás, eu era um "fracasso". — Você está deslumbrante. Ela enrubesceu totalmente. Olhou para baixo, depois lhe fitou o rosto de novo. — Obrigada. Como um dia conseguiria ir para casa e não tocá-la estava além da compreensão de Trent. Que promessa estúpida tinha feito a ela... ir no ritmo de Carrie ou 39
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nada em absoluto! Que tolo! Recostou-se contra o assento de couro. — E se eu dissesse que o jantar não me interessa? — Então nós teríamos a nossa primeira grande briga. — Eu não quero isso. — Nem eu. Trent sorriu-lhe. — Isso é muita gentileza de sua parte. Carrie sorriu de volta. — Eu também sou muito competente no que faço. E uma boa amiga. O sorriso dele desapareceu com o comentário sobre amizade, mas Trent recobrouse rapidamente, e, quando eles pararam diante do restaurante, alguns minutos depois, ele se forçara ao bom humor mais uma vez. Antes que ela descesse do carro, Trent disse: — Sabe que, uma vez que entrar neste restaurante, você será observada? — Da cabeça aos pés? — Do começo ao fim. — Eles irão querer saber tudo sobre a nova noiva de Trent Tanford? — Sim — confirmou ele, saindo do veículo e lhe oferecendo a mão. — E, honestamente, quem poderia culpá-los? Carrie sorriu, pegou a mão dele e o deixou conduzi-la pelo caminho sujo e cheirando a lixo, mas ao longo da calçada sempre mágica de Nova York. Eles andaram de mãos dadas para dentro de um dos restaurantes italianos mais finos de Manhattan.
CAPÍTULO SEIS
— Pare! Ladra! Sentada à mesa da cozinha, Carrie ergueu os olhos de seu trabalho. Eram 10h da noite, e eles tinham voltado do restaurante aproximadamente meia hora atrás. Trent havia ido para o banho, e Carrie decidiu fazer seu trabalho de pesquisa. Usando um roupão azul-marinho, Trent entrou na cozinha, os cabelos ainda molhados. — Este é o meu pacote de comida para viagem, que sobrou do restaurante? Ela olhou para seu trabalho novamente, porque evitar o homem lindo de roupão e descalço parecia uma ideia sensata. 40
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— Quando você começou a chamar este pacote assim? — disse Carrie. — De pacote para viagem? O que houve como pacote para o cachorro? — Não tenho ideia. Você está evitando a minha pergunta? — Que pergunta seria esta? Com uma garrafa de cerveja na mão, Trent veio se sentar ao seu lado na mesa. — Onde está o seu pacote para o cachorro? — Ainda na geladeira. Você não o viu lá dentro? Ele riu, balançando a cabeça. — Ouça, Trent — começou Carrie com uma seriedade irônica —, vamos ser realistas aqui. Você é muito educado e muito chique para comer restos, e sabe disso. — Não é verdade. — Qual parte? — Eu não sou chique. — Ele inclinou a cerveja na direção dela. — Quer um pouco? — Claro, por que não? — Após um grande gole, com Trent a observando o tempo inteiro Carrie lhe devolveu a garrafa e retornou ao seu trabalho. — Então, o que você está fazendo aí? — perguntou ele. — Reescrevendo meu curriculum vitae. — Precisa de alguma ajuda? — Não, obrigada. — O cheiro dele era tão bom... um misto de sabonete com uma essência natural almiscarada. Ela tentou respirar pela boca em vez de pelo nariz, o que não era uma façanha fácil. Certamente um prendedor de roupa ou algo assim teria ajudado. — E só uma questão de fazer minhas poucas qualificações em design gráfico parecerem mais substanciais do que realmente são. — Deixe-me ver. — Trent pegou o papel. Carrie se sentou mais ereta, como se estivesse fazendo uma entrevista para um cargo ali, naquele momento. — Estou determinada a conseguir um bom emprego em design gráfico até o outono — disse ela, enquanto ele a estudava. — Um cargo de principiante está bom, mas eu quero muito que seja numa grande empresa. Quero aprender com os melhores. Trent lhe devolveu o currículo e declarou: — Eu sei o que você precisa fazer para acertar isto. — O quê? — perguntou ela, roubando a cerveja dele e dando um gole. — Precisa mudar seu sobrenome. — O quê? — Mude seu sobrenome para Tanford, e não terá dificuldades de encontrar um emprego. Carne pareceu chocada. — Eu não posso fazer isso. — Por que não? Ela se recostou na cadeira e cruzou os braços sobre o peito de maneira protetora. 41
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— Quero conseguir esse emprego por meus próprios méritos. — Um empregador não desperdiçará tempo para avaliar seus méritos, Carrie. — Ele também se recostou, e bebeu sua cerveja. — Sabe quantas pessoas estão competindo por vagas em design gráfico em Manhattan? E não o tipo de emprego no qual você organiza jornais, serve lanches e cafés para os executivos nos seus momentos de folga. Ela brincou com suas unhas. — Tenho certeza de que muita gente. — Milhares. — Ele pôs a garrafa de cerveja sobre a mesa e pegou-lhe a mão, aquela com a qual Carrie estava brincando, e ela ergueu os olhos para fitá-lo. — Um caçador de talentos nem mesmo vai ler o seu currículo, a menos que alguma coisa nele atraia sua atenção. — Como o nome Tanford. Trent assentiu. — Exatamente. — Mas existe mais de um Tanford nesta cidade. — Não Carrie Tanford. Todos na cidade sabem que eu me casei, e com quem me casei. Carrie suspirou. — Eu não sei. — Não é um nome ruim. Ele parecia um garotinho orgulhoso, e ela lhe sorriu. — Não, não é. — O que a estava impedindo de fazer aquilo? O que a fazia estremecer com a idéia? O fato de que só teria o nome por um ano? De que o nome não lhe pertencia realmente? Estava se tornando uma pessoa confusa. Não gostava de se sentir assim, de não conhecer os próprios sentimentos, de ter dúvidas quanto à escolha certa a fazer. Mas, na verdade, quanto mais tempo passava na companhia de Trent, mais confusa se tornava. — Consiga o emprego, Carrie, então mostre a eles os seus méritos. — São bons méritos — insistiu ela, mais para si mesma do que para ele. — Ótimos — concordou Trent. — Méritos tão atraentes que nenhuma empresa, nem ninguém, poderia rejeitar. Eles estavam se tornando amigos rapidamente. Ela conseguia sentir o calor e a familiaridade de um elo crescendo entre os dois. E isso era ótimo, adorável. O que lhe preocupava era a atração inegável que circulava aquela amizade. E não se devia apenas à proximidade, embora isso certamente ajudasse a alimentar a atração. Não, Carrie sentira aquela atração irresistível por Trent desde o primeiro dia que eles haviam se falado, à porta do apartamento dele, quando ela censurara sobre os jornais e namoradas que erravam de endereço. Carrie deu mais um gole da cerveja dele, e olhou para seu currículo novamente. Ela era, afinal de contas, Carrie Tanford, a senhora Trent Tanford. Qual era o dano naquilo? Trabalhava duro e aprendia com facilidade. Seria um bem para qualquer empresa que tivesse o bom-senso de contratá-la. Carrie pôs o currículo sobre a mesa e declarou: — Muito bem, então. Eu vou fazer isso. — Ótimo. 42
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Trent inclinou-se para a frente e beijou-a. Foi um beijo quente e possessivo, um que deixava claro o que ele queria fazer a seguir. No momento que ele se afastou, as bocas de ambos estavam a apenas alguns centímetros de distância. O coração de Carrie bombeava no peito, enquanto ela esperava para ver o que ele iria fazer. Ela umedeceu o lábio superior com a língua. Então, Trent estendeu os braços e ergueu-a sobre seu colo, procurando-lhe a boca com a sua. Os braços de Carrie lhe rodearam o pescoço, e, enquanto ela correspondia ao beijo, sentiu a excitação viril pressionada contra seu traseiro. Suspirou dentro da boca dele. Seu corpo não parecia seu, ou talvez estivesse apenas desconectado do cérebro. De qualquer forma, aquele era um caso perdido. Ela não podia mais resistir aos próprios desejos. Teria simplesmente de lidar com as conseqüências, quando estas viessem. Por enquanto, iria se permitir o prazer. Cansada de sua posição de lado, Carrie passou uma das pernas sobre o colo dele e sentou-se de pernas abertas. O roupão de Trent abriu na cintura, revelando a cueca, não a carne pronta e rígida, e ela se acomodou sobre a virilidade masculina. Mãos fortes lhe acariciavam as costas, enquanto a boca sensual provocava a sua, mudando os ângulos, ambas as línguas trabalhando numa dança incrivelmente erótica. Então uma das mãos de Trent estava no topo de seu vestido vermelho, descendo uma das laterais, expondo seu seio pesado ao frio do cômodo com ar-condicionado. Carrie arfou quando ele abaixou a cabeça e tomou um de seus mamilos na boca. Trent segurou-lhe o seio por baixo, levou-o gentilmente à boca e provocou-o enquanto ela murmurava: — Sim, aí mesmo. Continue. O fato de que sua calcinha estava molhada não era uma surpresa, uma vez que seu corpo inteiro ardia de um desejo que ela não podia se recordar de ter experimentado algum dia. Queria Trent de um jeito quase doloroso, queria a virilidade poderosa que sentia contra si pulsando dentro de seu corpo. Nenhum dos dois ouviu a batida à porta. Não de imediato, pelo menos. Mas a pessoa do outro lado era insistente, e a força das batidas aumentava com cada arfada e gemido que Carrie e Trent emitiam. Trent praguejou e se afastou, os olhos sem foco, como um homem embriagado. — São 11h da noite — murmurou Carrie. Vindo do corredor, eles ouviram os sons muito excêntricos dos latidos do cachorro do vizinho, e uma voz feminina aguda. Carrie suspirou. — É melhor que não seja Vivian Vannick-Smythe. Trent acariciou o rosto de Carrie. — Eu volto já. — Então, ele fechou o roupão e foi para porta. Carrie se sentou à mesa, grogue e excitada a ponto de querer chorar se não conseguisse ter Trent em sua cama aquela noite. Mas, através de seu estado, ouviu um som perturbador... a voz de uma mulher, alta e persistente, e depois a voz baixa, impaciente e irritada de Trent. Como um animal possuído — um animal muito feminino — ela se levantou, se certificou de que seu vestido não estava expondo nenhuma parte íntima, e seguiu para o 43
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corredor. Trent estava entrando e fechando a porta naquele exato momento. — O passado veio me intimidar — ele conseguiu dizer antes que houvesse outra batida à porta, seguida por uma voz feminina chorosa. — Trent, por favor. Trent meneou a cabeça para Carrie. — Sinto muito. Não sei como ela entrou aqui. Ela nos viu no Babbo esta noite e está tendo alguns problemas. Ele se virou, abriu a porta novamente. Desta vez, seu tom de voz era calmo e compassivo quando acrescentou: — Madeline, vá para casa. A ruiva alta, magra e espetacular balançou a cabeça e fez um biquinho. — Não. — Eu vou chamar um táxi para você. — Eu não quero um táxi. O que quero é que você me diga por que levou aquela mulher insignificante ao Babbo e chamou-a de sua esposa. Tudo bem, pensou Carrie. A mulher insignificante entraria em ação. Empurrando Trent, ela saiu no corredor. — Carrie, espere — começou ele. — Sem problemas. Isso é coisa de mulher. — Carrie encarou a modelo deslumbrante, embora um pouco desalinhada, e pensou que talvez fosse realmente insignificante, porque precisava olhar para cima a fim de ver a mulher, que devia ser uns 15 centímetros mais alta que ela. — Olá, Madeline. A mulher pareceu assustada ao ver Carrie ali, mas se recuperou rapidamente. — Então você é a mulher que alega ter se casado com Trent? — Sim, sou eu.— replicou Carrie calmamente. — E você é uma pessoa muito alta e muito bonita que bebeu além da conta, e está batendo à porta de um homem às 11h da noite. Pense sobre isso. As sobrancelhas perfeitamente arqueadas de Madeline se uniram. Carrie continuou num tom de voz suave e gentil: — Isso não parece uma atitude muito desesperada para uma mulher como você? Quero dizer, olhe para si mesma. Madeline engoliu em seco, arregalando os olhos castanho-claros. — Sim. Sim, parece. — Vá para casa, tome um banho, acorde amanhã e recomece. — Carrie estendeu um dos braços e tocou-lhe o ombro. — Aqui é Manhattan, querida. Há milionários razoavelmente bonitos e disponíveis em cada esquina. Ela sorriu e assentiu com vigor. — Você tem toda razão. Obrigada... — Carrie — disse ela rapidamente. — Obrigada, Carrie. — Podemos chamar um táxi? Ela meneou a cabeça. — O porteiro fará isso. Ele me adora. Pena que seja apenas um porteiro. 44
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Carrie assentiu em cumplicidade. — Eu entendo. Boa noite. No momento em que Carrie fechou a porta, virou-se para encontrar Trent estudando-a, boquiaberto, com a expressão totalmente atônita. Ela balançou a cabeça. — Não posso acreditar nisso. — Eu sei. Mais uma vez, sinto muito... — Não posso acreditar que uma de suas ex-namoradinhas achou o caminho da sua porta sem ajuda. Ele a olhou, então esboçou um sorriso amplo, revelando aquelas covinhas maravilhosas. Ela sorriu também, e logo os dois estavam gargalhando. Depois que conseguiu parar de rir, Carrie passou por Trent e deu-lhe um tapinha no ombro. — Boa noite, marido. — Espere. Ela se virou. — O quê? A questão pairou no ar... se eles deveriam terminar o que tinham começado antes que a modelo da Calvin Klein tivesse batido à porta e os interrompido. Carrie respondeu pelos dois, com um sorriso tenso e um meneio lento da cabeça. Trent assentiu, claramente desapontado. — Tudo bem. — Boa noite. — Carrie? — Sim? Ele arqueou uma sobrancelha. — Quando você disse "milionário razoavelmente bonito", estava falando sobre mim? — Boa noite, Trent. — Ela sorriu, então se virou e foi para seu quarto, ouvindo-o murmurar em tom inseguro: — Você só disse aquilo para se livrar dela, certo?
— Eu consegui um emprego! — Carrie anunciou alguns dias depois enquanto entrava no apartamento com ar de uma pessoa que tinha finalmente sido aceita num clube ultra exclusivo. — Acabei de ler a mensagem no meu celular. Estou tão feliz! Trent estava na cozinha, fazendo o jantar. Quando ela rodeou o canto e o espiou enrolando sushi, ele olhou para cima e sorriu. — Parabéns. Carrie inclinou a cabeça de modo régio. — Obrigada. Ele estava bonito. Tirara o terno e estava vestido casualmente, numa calça jeans desbotada e uma camiseta azul-clara que acentuava a pele bronzeada e caía com perfeição sobre o estômago, peito e ombros bem-torneados. 45
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— Então, qual é a empresa de sorte? — perguntou Trent, estendendo-lhe um copo de vinho branco. — Ebette Gregg. As sobrancelhas dele se arquearam. — Bom. Muito bom. — Trent inclinou o copo para o dela. ― Ao sucesso. — Ao sucesso. — Enquanto sorvia o Chardonnay seco, ela o estudou. — Espere um segundo. — O que foi? Carrie se aproximou. — Por que você não parece surpreso sobre isso? — Você pôs o nome Tanford em seu currículo? — Sim. Ele franziu o cenho e gesticulou com as mãos, como se dissesse: "Por isso." Ela lhe deu um soco no ombro de brincadeira. — Arrogante. Trent passou as mãos ao redor da cintura dela e a puxou contra si. — É assim que as pessoas me chamam. — Verdade? — disse ela, o coração disparando no peito. — Elas o chamam assim? Até mesmo no escritório? — Aham. — Então, quando sua assistente reúne todos os alto-executivos em sua sala, ela diz: "Aí estão eles para sua reunião das 2h, sr. Arrogante.” Trent riu e beijou-lhe o pescoço, fazendo-a gemer. Então, afastou-a gentilmente. — Vá para seu quarto e vasculhe seu guarda-roupa. — Por quê? — Carrie gostava de estar perto dele, de sentir o peso do corpo másculo, o calor da pele de Trent contra a sua. — Apenas faça isso — ordenou ele. Ela fez uma careta, então se virou e saiu da cozinha. Trent a seguiu para o quarto de hóspedes, então apontou para o closet e deu um passo atrás. Confusa e curiosa sobre o que poderia conter ali, Carrie abriu a porta do closet cautelosamente. — Meu Deus! Trent riu. — Reação interessante. Não exatamente a que eu esperava. Cada centímetro do closet espaçoso estava tomado por roupas, sapatos, bolsas e coisas que era melhor não mencionar. Tudo do seu tamanho e nas escolhas perfeitas de cores. Ela estendeu uma das mãos, tocando um conjunto Chanel cinza. —- Esta é a seção feminina inteira da Barneys? — Não a seção inteira — replicou ele com absoluta seriedade. Carrie virou-se e o fitou. — Certo, você sabia sobre esse emprego antes que até eu mesmo... — Eles deixaram um recado aqui algumas horas atrás — confessou Trent sem um pingo de remorso. 46
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— Você fez isso em algumas horas? — Não foi nada demais. Carrie se sentou em sua cama e suspirou. Simplesmente não era capaz de imaginar como uma coisa como aquela poderia ser realizada em tão pouco tempo. Mas Trent parecia realmente ter feito isso sem esforço. Talvez alguns telefonemas e uma boa quantidade de dinheiro bastassem. De qualquer forma, refletiu ela, o gesto era... Carrie o olhou. — Trent, isso é muita consideração de sua parte. É maravilhoso, adorável... Ele a deteve. — Antes que você continue, deve saber que foi uma atitude puramente egoísta da minha parte. — Verdade? — Com minha nova posição, nós iremos a eventos, e, bem, suas... Os lábios de Carrie se curvaram com humor. —- Minhas roupas não são adequadas. Sim, estou ciente disso. — Além do mais, você precisa de roupas para trabalhar. Ela se levantou, andou até ele e o abraçou. Sem nenhuma hesitação, como se tivesse de ser daquela forma, Trent a rodeou com os braços e a puxou para mais perto. Os músculos dele, o cheiro, o jeito como seus seios sempre pressionavam as costelas fortes... tudo se tornava familiar para ela. Carrie o olhou fixamente. — Eu não sou uma daquelas garotas que vai fazer papel de envergonhada e recusar um presente adorável, quando realmente quer aceitar. — Não? Ela meneou a cabeça. — Eu adoro roupas, cara. — Você acabou de me chamar de "cara"? Ela se afastou dos braços fortes e riu. — Obrigada. — De nada. E agora eu vou terminar de fazer o jantar antes que você beba muito vinho, fique tonta e me ataque. — Eu nunca fico tonta — replicou Carrie. Ele franziu o cenho antes de sair do quarto, murmurando consigo mesmo como um adolescente mal-humorado: — Bem, um homem pode sonhar, não pode?
— Sr. Tanford, há uma sra. Davis ao telefone para você. Trent nem mesmo ergueu os olhos de seu trabalho. Não reconhecia o nome, e tinha uma reunião em dez minutos. 47
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— Pegue o recado. Sua assistente não saiu. Ele a ouviu pigarrear. — Ela diz que é muito importante, senhor. — É sempre importante — murmurou Trent. — Pegue o recado.
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— Ela falou que é sobre sua sogra. — Eu não tenho... — Trent parou no meio da sentença e processou o que sua assistente dissera. Sim, na verdade, ele tinha uma sogra. Pegou o telefone. — Passe a ligação. — Sim, senhor. — Aqui é Trent Tanford — disse ele, curioso sobre o motivo pelo qual a mãe de Carrie estaria lhe contatando. Carrie falara muito pouco da mãe... somente que ela morava na cidade e era artista, as mesmas informações que Trent obtivera através do investigador particular. — Sr. Tanford — veio uma voz frágil de uma pessoa mais velha. — Aqui é Wanda Davis, eu sou a enfermeira da sra. Gray. — Enfermeira? Por que a sra. Gray precisa de uma enfermeira? — Nós temos uma situação difícil aqui. — Que tipo de situação? A mulher hesitou. — Sabe onde Carrie está, sr. Tanford? — No trabalho. — Trent de repente se sentiu alarmado. Não sabia bem por quê. — Do que se trata? — Tentei localizar Carrie no celular e no número de casa, mas caía no correio de voz. A sra. Gray está num estado lastimável. Carrie geralmente é capaz de acalmar a agitação da mãe, de modo que não temos de passar pelo trauma de chamar uma ambulância. — O quê? A sra. Gray está doente? — Bem, sabe, ela tem... — Wanda pausou. — Oh, meu Deus. Eu pensei que o senhor soubesse. Por um breve segundo, Trent pensou sobre seu dia, sua nova posição e nas inúmeras reuniões que marcara para depois do almoço. Então falou para Wanda num tom de voz calmo: — Não chame uma ambulância. Eu estou indo para aí. — Ele pegou uma caneta. — Só preciso do endereço.
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CAPÍTULO SETE
Quando Carrie chegou ao apartamento de sua mãe, estava perto de ter um ataque de nervos. Estivera numa reunião com os sócios da empresa e um novo cliente, e tinha sido exigido que todos desligassem seus celulares. Ela nunca mais faria isso. Deixar no modo vibratório teria de ser suficiente. No momento que voltara para sua sala, ouvira os cinco recados deixados por uma Wanda mais preocupada a cada telefonema. Imediatamente, tinha pegado sua bolsa e saído para um almoço mais cedo, certificando-se de que os assistentes soubessem que aquela era uma situação de emergência. A primeira coisa que Carrie viu ao entrar no apartamento foi a enfermeira esgotada, andando de um lado para o outro na cozinha escura, parando de vez em quando para fazer o sinal da cruz. Carrie se aproximou dela. — Wanda? O que aconteceu? Um súbito alívio foi revelado nas feições de Wanda ao ver Carrie. A mulher balançou a cabeça freneticamente. — Eu não sei. Ela está falando sobre seu pai. — Oh, Deus — murmurou Carrie, uma onda de dor preenchendo seu coração. — Ela já havia feito isso antes e... nada aconteceu. Então, desta vez, eu pensei que ela estivesse bem. Eu ia lhe preparar uma sopa, mas, um momento depois, sua mãe se tornou muito agitada, chorando, dizendo que precisava encontrar seu pai, fazê-lo ouvir, levá-lo de volta para você. — Não. — A sra. Gray tentou se levantar e sair do apartamento! Ela tentou sair pela porta, Carrie. — Oh, meu Deus — sussurrou Carrie, seu estômago se contraindo em nós. Sua mãe não tentava sair da casa há seis meses. — Eu nunca a vi tão aborrecida. Não sabia o que fazer. Então, liguei para seu marido. O coração de Carrie disparou. — Oh. — Trent não tinha idéia sobre a doença de sua mãe. Ela não quisera lhe contar até sentir que pudesse confiar nele com alguma coisa tão pessoal, sem mencionar algo assustador e doloroso. — Ele está lá dentro com ela pelos últimos trinta minutos — explicou Wanda. —- O quê? — Ele estava lá? A mente de Carrie ficou em branco. Não podia imaginar os dois juntos. — No instante em que ele chegou aqui, conseguiu acalmá-la imediatamente. — 49
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Carrie mal ouvia Wanda enquanto corria ao longo do corredor. — Eu não sei como ele fez isso. A porta estava levemente entreaberta, e, quando Carrie entrou, encontrou sua mãe dormindo sobre a cama, parecendo uma garotinha, o rosto pálido e relaxado. Trent estava sentado numa cadeira ao lado dela, um livro nas mãos. Ele virou-se quando a viu entrar, pondo um dedo nos lábios para pedir silêncio. — Ela acabou de dormir — sussurrou ele. Carrie se aproximou de Trent, pôs as mãos sobre os ombros dele e olhou para o rosto doce e calmo de sua mãe. — Ela está bem? — Sim. — Ele manteve o tom de voz baixo. — Ela estava determinada a sair de casa, encontrar seu pai. Lágrimas inundaram os olhos de Carrie enquanto ela meneava a cabeça, desejando que pudesse fazer sua mãe entender que o pai dela partira muito tempo atrás, e que ambas estavam muito melhor sem ele agora. Mas Rachel mergulhava cada vez mais no passado nos últimos dias. Aquelas emoções dolorosas, que eram apenas um sussurro de memória para Carrie, eram vividas e reais na cabeça de sua mãe. — Como você conseguiu acalmá-la? — Eu disse que o encontraria para ela, e para você. — Não... Trent... — Tive de fazer isso, Carrie. Carrie apenas assentiu, entendendo completamente. — Ela me perguntou quem eu era — disse Trent, olhando-a. —- Eu falei que era seu marido. — O que ela disse? — No começo, não tinha muita certeza de quem você era, mas, antes de adormecer, olhou-me, apontou para meu rosto e murmurou: "Você é marido de Carrie." Carrie apertou-lhe os ombros. Não podia acreditar que ele estava lá, fazendo aquilo por ela. — Que livro você tem aí? — Orgulho e preconceito. — Um romance? — Segundo sua mãe, este é um dos favoritos dela, então... De qualquer forma, a leitura a acalmou. — Trent deu de ombros. — E, para um romance, não é nada mau. — É bom saber que um gênio da literatura, como Jane Austen, recebe a sua aprovação — sussurrou Carrie secamente. Ele inclinou a cabeça para um lado, estudando-a. — O que foi? — Você me lembra Elizabeth Bennet... a heroína de Orgulho e preconceito. Ela também tem um traseiro muito bonito. Carrie riu com suavidade. — Sim, é verdade. — Então ela respirou fundo e disse: — Ouça, por que você não volta para o trabalho? Eu cuido das coisas por aqui. Trent meneou a cabeça. 50
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— Não. — Como assim, não? — E a sua primeira semana na empresa. — Eles terão de entender. — Não vão entender. O que eles farão é demiti-la. Carrie refletiu. Trent tinha razão. Mas ela não podia deixar sua mãe sozinha. Se alguma coisa acontecesse novamente, se sua mãe insistisse em sair de casa, Wanda precisaria de suporte extra. Trent a olhou com uma expressão tão séria que ela quase deu um passo atrás. — Eu vou ficar. Carrie meneou a cabeça em negativa. — Você não pode. — Por que não? — Você tem trabalho também. Ele lhe deu um sorriso arrogante. — Eu sou o diretor da empresa. Posso fazer o que quiser. Perdi três dias de trabalho na minha vida inteira. Hoje, estou perdendo o quarto com sua mãe. — Trent... — Vejo você mais tarde. Carrie não se moveu. Sua mente girava com mais perguntas para aquele homem que agia como... bem, como um marido. — Se ela piorar... — começou Carrie. Trent a tranqüilizou: — Eu ligo para você. Aquele emprego era o seu futuro, a segurança de sua mãe. Ela apertou o ombro de Trent uma última vez antes de liberá-lo com pesar. — Eu voltarei às 5h30 para assumir o controle aqui. — Claro. Agora vá. — Ele lhe acenou e voltou para seu livro. — Quero ver o que o personagem sr. Darcy vai fazer a seguir. Carrie sorriu para as costas dele, deu uma última olhada para sua mãe e saiu do quarto.
Trent estava na cama, lendo alguns currículos para o cargo de gerente de vendas do setor de propaganda quando ouviu a porta da frente se abrir. Já passavam das 11h, e ele estava em casa há diversas horas depois de ter deixado Carrie com a mãe, no começo da noite. Tinha se oferecido para lhe fazer companhia, mas ela insistira que ele fosse para casa. Trent a ouviu entrar no quarto, então fechar a porta, e, após alguns minutos, imaginou-a na cama. Por que ela não estaria lá? Tivera um dia longo e difícil. Ele voltou aos currículos, tentando combater o desapontamento. Mas então sua porta se abriu e Carrie entrou. O coração de Trent começou a bater mais rapidamente. Ela vestia nada além de uma camisola de seda, uma das brancas que ele encomendara 51
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de La Perla. Enquanto Carrie andava na sua direção, e parava aos pés da cama, ele a olhava com total encantamento. O rosto dela estava rosado e sem maquiagem. Os longos cabelos escuros soltos, caindo sobre os ombros em cachos suaves, e os seios pesados e firmes eram quase visíveis atrás da fina camisola de seda bordada. Ele inalou, sentindo suas narinas se alargarem. — Trent — murmurou ela suavemente. — Pare! Assustada pela raiva na voz dele, ela parou. — O que foi? O que aconteceu? — Não entre aqui vestida assim. — Porquê? — Você sabe por que, Carrie. A boca de Carrie se curvou num sorriso compreensivo, e ela audaciosamente levantou a bainha da camisola alguns centímetros, expondo a calcinha branca de seda. — Estou falando sério, Carrie. — Trent quase gemeu, sua pele fervendo de desejo, sua excitação claramente visível sob o lençol frio que o cobria da cintura para baixo. — Agora eu vou lhe dar cinco segundos para se virar e sair do quarto. Se não fizer isso, espere para sentir minhas mãos no seu corpo, e meus lençóis contra suas costas. Os olhos verdes de Carrie brilharam com desejo. Ela não se moveu. — Um — começou Trent, sentando-se. — Dois... Ela não se moveu, mas ele viu um sorriso dissimulado no rosto bonito. — Três... Carrie deu um passo na sua direção. — Quatro... Ele parou a contagem por aí. Que sentido fazia continuar? Estava fora da cama, com Carrie em seus braços em questão de segundos. Tomou-lhe a boca num beijo ardente enquanto a puxava para cama. Por um breve momento, ela ficou por cima dele, fitando-lhe os olhos com intensidade, e alguma coisa aconteceu entre os dois que o abalou profundamente. Aquela mulher era sua. Por quanto tempo ele a quisesse. Então, Trent pressionou os quadris delgados contra sua excitação e sua mente o abandonou. Tudo que queria era prová-la, saboreá-la, preencher aquele corpo glorioso, e não saúde dentro de Carrie até que ambos estivessem ofegantes e prontos para dormir. Ele a rolou sobre as costas e devorou-a com beijos, começando pela base do pescoço. Carrie emitiu um gemido suave e inclinou a cabeça para o lado, dando-lhe melhor acesso. Ele lambeu e beijou o ponto onde sua pulsação estava acelerada e seu sangue corria nas veias. Ela se contorceu sob Trent, movimentando os quadris com sensualidade, encontrando-o, dizendo-lhe com o corpo que já estava pronta para ele, que estava pronta há semanas. Mas Trent estava determinado a ir devagar. Iria reivindicar cada centímetro de Carrie para si. 52
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Carrie sentiu um louco tremor por dentro e por fora, como se estivesse à beira do clímax, mas temia que seu corpo não fosse capaz de conter a intensidade do que a esperava. Um Trent totalmente nu tinha seu lóbulo entre os dentes, mordiscando-o e provocando-o com a língua, e ela deslizou as mãos pelos ombros largos antes que seus dedos se entrelaçassem nos cabelos dele. — Beije-me, por favor — sussurrou ela, movendo a cabeça de modo que ele liberasse seu lóbulo e tomasse sua boca. — Carrie — sussurrou ele antes de capturar-lhe os lábios nos seus, enquanto descia as mãos pelas costas dela até segurar as nádegas firmes e balançar Carrie contra sua virilidade. Ela reagiu rapidamente, envolvendo as pernas ao redor da cintura dele e levando as mãos ao rosto de Trent no toque mais íntimo e amoroso. Sexo não fazia parte de sua realidade por dois anos agora, e mesmo então, fora bastante comum... nada tão extraordinário quanto o que estava acontecendo... nada como Trent e a maneira que ele a tocava, a envolvia, fazendo sua mente sussurrar com pensamentos e sonhos que nunca soubera que queria. Mas os queria agora, e queria todos esses sonhos com Trent. E o melhor de tudo era que sabia que ele a acompanharia nessa jornada. Estava tão desesperado por ela que isso era evidente em cada beijo, em cada respiração ofegante. Carrie tinha tanta sorte. Trent deixou sua boca então, depositando pescoço e descendo até parar acima do corpete gentis e ansiosos, deslizou as alças da camisola Carrie, e o tecido de seda escorregou, passando sobre os quadris.
beijinhos molhados ao longo de seu da camisola de seda fina. Com dedos sobre os braços, cotovelos e mãos de por seus seios, barriga, até descansar
O olhar de Trent parecia queimá-la enquanto ele admirava os magníficos seios nus que suplicavam por seu toque, por seus beijos. Carrie inclinou a cabeça contra o travesseiro, inalando o cheiro almiscarado de Trent no momento em que ele abaixou a cabeça e tomou um dos mamilos rijos na boca. Os seios de Carrie sempre tinham sido sensíveis. Mesmo usar uma blusa de moletom sem sutiã às vezes lhe causava uma leve pulsação abaixo da cintura. Mas isso não era nada comparado ao que estava lhe acontecendo agora. Enquanto Trent provocava um de seus mamilos com a boca, usava o polegar e o indicador para dar a mesma atenção ao outro, rolando o botão entre os dedos, até que ela pensou que enlouqueceria. Carrie arqueou os quadris, contorceu-se contra os lençóis emaranhados, enterrando os dedos nos cabelos de Trent. Sentiu um pingo da semente de Trent no interior de sua coxa e perdeu o que lhe restava de controle. Seu clímax foi rápido e poderoso, fazendo-a gritar como um animal ferido e desesperado, enquanto seus quadris se movimentavam como se ele estivesse em seu interior. — Carrie — sussurrou Trent, roçando-lhe um seio com o nariz, e movendo a mão entre suas pernas. — Oh, Carrie, querida. Você é tão doce. Diga-me o que precisa. Assim que Carrie se recuperou do primeiro orgasmo, seu desejo por Trent se intensificou. — Você. Dentro de mim. Profundamente. Você... Trent abria a gaveta do criado-mudo antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa. Ele rasgou um pacotinho de preservativo e se protegeu rapidamente. Após lhe remover a camisola e jogá-la no chão, pairou acima dela. Abriu-lhe as pernas com a coxa, os pelos 53
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das pernas de Trent roçando-lhe a pele, deixando seu corpo fraco, úmido e ardente de desejo. A excitação viril estava posicionada à entrada de seu corpo, e Carrie levantou os quadris, tomou-o dentro de si apenas um centímetro, só para sentir o início da invasão. Eles se encaixariam com perfeição. Fazer aquilo mudava tudo. Ela sabia disso. Mas seu desejo era forte demais para examinar as conseqüências irrevogáveis. As narinas de Trent se moviam enquanto ele ofegava e a olhava como um predador prestes a atacar. Com uma ousadia que sempre soubera possuir, Carrie levou ambas as mãos aos próprios seios, provocou os mamilos até a rigidez total, enquanto Trent assistia fascinado, à luz do abajur. ― Você — foi tudo que ele falou antes de penetrá-la. Uma investida feroz e poderosa dentro de seu corpo. Carrie gritou, abriu mais as pernas, passando os braços ao redor dele e preenchendo as mãos com nádegas firmes e musculosas. Pressionou-o mais fundo dentro de si, até senti-lo contra seu interior. Então ele começou a se mover, cada investida atingindo o ponto que lhe causava um aperto na garganta, um formigamento nos seios... tornando-a desesperada e pronta para explodir. Carrie envolveu as pernas ao redor dos quadris de Trent e acompanhou o ritmo, movendo-se com ele. Ávida por senti-lo, não apenas dentro de seu corpo, mas em suas mãos também, deslizou uma mão entre os dois e capturou os pesos gêmeos na base da masculinidade. Trent gemeu, encorajando-a a brincar mais ali, à provocá-lo, enquanto ela sentia o corpo másculo estremecer sob seus toques. E então ele acelerou o ritmo com investidas tão frenéticas que fizeram Carrie agarrar-se os lençóis procurando apoio. As mãos de Trent encontraram seus seios, e ele os segurou enquanto continuava os movimentos do corpo com incrível rapidez e ferocidade, até que ambos perderam completamente o controle. Então Carrie gritou, o clímax poderoso clamando por ela. Incapaz de se conter, Trent seguiu com uma investida profunda dentro de seu corpo, antes de tombar sobre ela, tremendo contra a pele úmida e quente de Carrie. Diversos minutos se passaram antes que algum deles pudesse falar. Estavam deitados de lado, debaixo do lençol, Trent abraçando Carrie com firmeza, as costas dela em sua barriga, as nádegas contra sua virilidade saciada. Carrie estava tão calma... mais relaxada e em paz do que se sentira em muito tempo. Era por causa do sexo, perguntou-se, ou pelo fato de estar deitada nos braços de seu marido? Ou eram as duas coisas, envolvidas numa nuvem cor-de-rosa de felicidade? Ela se virou para encará-lo, precisando ver-lhe os olhos, ver se era capaz de ler a reação de Trent em relação ao que acabara de acontecer entre eles. Mas os olhos dele estavam fechados, o semblante pacífico. Como qualquer mulher persistente após um ato de amor, ela fez o possível para acordá-lo de um jeito doce e carinhoso; Beijou-lhe as pálpebras, a ponta do nariz, então a boca. Levou apenas um minuto para que Trent respondesse. — O que foi, mulher? — brincou ele. — Está pronta para mim novamente, é isso? — 54
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Ele lhe rodeou a cintura e gentilmente deu-lhe um tapinha no traseiro nu. Ela riu, e Trent abriu os olhos e sorriu-lhe. — Gosta de apanhar, não? Eu terei de me lembrar disso. Carrie tocou-lhe o rosto. — Eu gosto de você. No momento em que as palavras saíram de sua boca, ela percebeu que estava errada. Não gostava de Trent, não mais, estava completa e perdidamente apaixonada por ele. Trent a estudou, as sobrancelhas se unindo numa expressão interrogativa. — O que houve? Você está bem? Carrie assentiu. — Tem certeza? — Ele a envolveu nos braços e segurou-a perto de si. — Você parece triste. É por causa de hoje? Ela o beijou para tranquilizá-lo. — Não. Mas, uma vez que você levantou o assunto, eu quero lhe agradecer pelo que fez hoje. Por minha mãe. — Foi por você. — Obrigada. Ele não disse nada por um momento, mas continuou abraçando-a junto ao seu corpo. Quando finalmente falou, o tom de voz era suave e cauteloso: — Por que você não me contou, Car? — Eu lhe falei sobre minha mãe. — Você disse que ela era uma artista ocupada. Carrie roçou os lábios contra o braço dele. — Eu não sei. — Alzheimer, Carrie. É um problema sério. — Sei disso. Acredite, Trent... — Eu não estou tentando censurá-la, querida — murmurou ele gentilmente. — Eu me importo com você, e, se soubesse antes, poderia ter ajudado mais cedo. Ela o fitou, envolveu-lhe o pescoço com uma mão e puxou-o para um beijo. Na verdade, o julgara erroneamente. Trent podia ter sido um playboy, mas tinha coragem, caráter e era um amigo devotado. — Ei — sussurrou ele contra sua boca. — Hmm. — Posso lhe fazer mais uma pergunta? — É claro. — E quanto ao seu pai? Ela ficou tensa nos braços dele, e sabia que Trent sentira isso. Mas ele não a soltou. — O que tem ele? — Por que não me contou que ele as abandonou? Então sua mãe experimentara alguns momentos de lucidez enquanto Trent estava lá, na noite anterior, ela pensou. Carrie tentou se desvencilhar do abraço dele, mas Trent não permitiu, segurando-a com firmeza. Ela parou de lutar e falou rapidamente: 55
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— Pelo mesmo motivo que não lhe contei sobre minha mãe. São assuntos muito pessoais. — Muito pessoais? — Nosso casamento deveria ser um acordo de negócios, Trent. Não deveria ser pessoal; ou sexual, a propósito. — Mas foi. — Ele a liberou então, e Carrie se sentou. — Eu quero que continue assim, Carrie. — Ela se virou para encará-lo, incerta se o ouvira corretamente. Trent assentiu em confirmação. — Você precisa me contar tudo. Carrie desviou os olhos. — Eu não sei se posso concordar com isso, Trent. — Por que não? — Um ano. Isso foi tudo que prometemos um para o outro. — Ela sentiu uma forte necessidade de se proteger naquele momento. — Nós não somos como um casal de verdade, compartilhando passados e esperanças para o futuro. Isto é incrível, você é incrível, mas não convivemos por tempo o bastante... Independentemente de como me sinto a seu respeito... — E como você se sente? Ela balançou a cabeça. Não podia falar. De jeito nenhum confessaria que estava apaixonada por ele. Não até que Trent dissesse primeiro. Se isso algum dia acontecesse. Carrie o fitou de novo. — Independentemente de como me sinto a seu respeito, não sei se posso confiar em você. — Carrie... O celular ao lado da cama tocou. Carrie e Trent se entreolharam enquanto os toques persistiam. Então, ela gesticulou para o Black-Berry e disse: — Atenda. Trent pegou o telefone. Carrie puxou as cobertas sobre seu corpo, enquanto o ouvia responder, então falar: — Sim. O quê? Certo, tudo bem. Ele saiu da cama. — Eu preciso sair. — São quase meia-noite — murmurou ela, sentindo um frio repentino. — Eu sei. — Está tudo bem? Trent pegou roupas do closet e se vestiu rapidamente. — Sim. Nada que deva preocupá-la. Carrie o observou. — Você também não confia muito em mim, certo? O maxilar dele estava tenso quando Trent andou de volta até a cama. Inclinou-se e a beijou nos lábios. — Você estará aqui quando eu voltar? Carrie suspirou. Ela e seu marido tinham um longo caminho a percorrer. Ambos queriam aquilo que o outro não parecia disposto a dar... confiança. Todavia, após aquela noite, como ela previra mais cedo, no momento que os braços de Trent estavam 56
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envolvidos ao seu redor e a masculinidade viril enterrada em seu interior, nada jamais seria o mesmo. Tudo mudaria. Tinha de ser assim. Mas talvez a confiança mútua pudesse fazer parte daquela mudança. Seu passado, seu pai. O presente de Trent, e para onde ele estava indo no meio da noite. Ela assentiu antes de dizer: — Eu estarei aqui. E Trent saiu do quarto.
CAPÍTULO OITO
― E melhor que haja uma boa razão para que você tenha me chamado aqui. Numa sala bagunçada e velha, do outro lado de uma mesa gasta, o detetive McGray tirou o palito de dente da boca e dirigiu-se a Trent e ao novo advogado, sentado ao lado dele. — Eu não estou aqui para desperdiçar o seu tempo, sr. Tanford, ou para tirá-lo daquela sua nova esposa bonita. O maxilar de Trent enrijeceu com irritação. — O que você quer, então? — Eu queria lhe mostrar isto. O detetive deslizou um pedaço de papel para o outro lado da mesa. E tanto Trent como seu novo advogado, Jerry Devlin, se inclinaram para a frente a fim de dar uma olhada. — A carta ameaçadora que você recebeu — começou Mc-Gray — não era exatamente assim? Trent leu a página. Um milhão. Conta bancária da ilha Grand Cayman. Uma semana para realizar o depósito. A parte seguinte, todavia, estava bloqueada com uma fita preta, presumivelmente pela polícia, portanto Trent não podia ver com o quê a pessoa que escrevera a carta estava ameaçando o receptor da mesma. Ele olhou para cima. — Sim. Parece exatamente a mesma. McGray assentiu. 57
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— Ótimo. Obrigado. Isso é tudo. — Isso é tudo? — Nós precisávamos saber se a carta era igual a esta, igual à primeira.
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Trent não entendeu. —- Por que você não me pediu que eu olhasse a carta da última vez em que estive aqui? No meio do dia? — Na ocasião, eu não achei que fosse apropriado. — Mas à meia-noite num fim de semana, é? Devlin pôs uma mão sobre o ombro de Trent. — Sr. Tanford, por favor. — Sim, acalme-se, sr. Tanford. Uma testemunha agitada numa delegacia de polícia pode ser... — O detetive McGray parou de falar ao ver alguma coisa pela janela atrás de Trent, e se levantou. — Com licença por um minuto. — Claro, por que não? — murmurou Trent mal-humorado enquanto o homem saía. — Isso é ridículo. — Verdade — admitiu Devlin. — Mas parece ter acabado. Vamos manter o clima relaxado. Nós não queremos rumores nas ruas dizendo que o diretor da AMS não coopera com a polícia. — Certo — replicou Trent. O advogado franziu o cenho. — Vou ter uma conversa com o detetive, ver se podemos adiantar as coisas, certo? — Boa idéia. Alguns minutos depois, um homem de aproximadamente 55 anos, com o corpo troncudo e uma cabeça cheia de cabelos escuros, pôs seu rosto muito familiar dentro da sala do detetive. — Trent? Como vai você? O policial chefe da delegacia, que era amigo da família de Trent há longo tempo, ofereceu a mão. Trent se levantou e apertou a mão do homem. — Bem, Mike. Mas um pouco cansado. — Sim, sinto muito quanto a isso, mas foi necessário chamá-lo. — Se você diz. — O caso não está progredindo, e temos recebido muita pressão da cidade. — Ele se inclinou para a frente. — Entre você e eu? Trent assentiu. A voz de Mike abaixou para um sussurro: — Nós acreditamos que a morte de Marie Endicott pode não ter sido um suicídio, afinal de contas. Trent franziu o cenho. — O quê? Por que não? As sobrancelhas de Mike se arquearam. — Isso eu não posso lhe contar. Mas apreciei o fato de 'você ter vindo esta noite. Mande lembranças aos seus pais por mim. — E claro. 58
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— E parabéns pelo seu casamento. Eu nunca pensei que veria este dia. — Mike piscou. — Ela deve ser muito especial. —- Ela é. —Trent nunca tinha sido o tipo de homem que falava bobagens ou compartilhava alguma coisa pessoal sobre as mulheres com quem saía, e não estava prestes a começar agora. Os dois homens apertaram as mãos e o policial-chefe saiu da sala no exato momento em que o detetive e o advogado de Trent retornaram. McGray não se sentou. Em vez disso, gesticulou para que Trent e o advogado o seguissem. Eles saíram do escritório, desceram um corredor e foram em direção à porta do distrito policial. — Obrigado por ter vindo. Eu o informarei se precisar de você ou da sra. Tanford para mais alguma coisa. Trent enfureceu-se. O que o detetive estava fazendo? Oferecendo uma ameaça? Certificando-se de que Trent andasse na linha e corresse para o detetive cada vez que fosse chamado? — Você precisa deixar minha esposa fora disso — avisou Trent. Devlin interferiu rapidamente. — O que o sr. Tanford está tentando dizer... — Não, Jerry — interrompeu Trent com ironia. — O que estou dizendo para o detetive é muito simples. Minha esposa não tem nada a ver com isso. O rosto de McGray era uma máscara de compostura. — Você provavelmente está certo, mas nunca se sabe. — Eu sei — insistiu Trent, o tom afiado como uma lâmina. — E não quero vê-la arrastada para um interrogatório inútil. McGray deu de ombros, então murmurou casualmente: — Se não for necessário, prometo que não farei isso. Mas espero que você me traga qualquer nova informação que surgir no seu caminho. Dois minutos depois, Trent saiu da delegacia de polícia, entrou no carro que usava para dirigir na cidade e bateu a porta. Não podia acreditar que deixara sua esposa curvada em seus lençóis, nua e quente por 35 minutos de bobagens. Contudo, enquanto o carro alcançava velocidade, e ele recostava-se contra o assento de couro e suspirava algumas vezes, percebeu que, pela primeira vez na vida, tinha alguém o esperando voltar para casa. Tal realidade teve o poder de acabar com seu mau humor completamente, substituindo-o por alguma emoção que lembrava contentamento. Quando Trent entrou em sua cama quente vinte minutos depois, sentiu o aroma de sexo envolvendo-o e inalou profundamente. Aquele cheiro viciante estava em todos os lugares: nos lençóis, nos travesseiros, e na figura suave e adormecida de Carrie. Ele tentou suavizar sua excitação no momento em que a puxou para si, mas era impossível, especialmente quando ela arqueou as costas e acomodou o traseiro contra seu corpo. — Ei— sussurrou Carrie. — Ei. — Trent beijou-lhe a nuca, subitamente aliviado por estar em casa, em sua cama, abraçando-a. 59
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— Está tudo bem? — perguntou ela. — Tudo bem. — Você quer me contar sobre isso? — Não esta noite. — Certo. Mas você está... — Estou bem. Juro. — Certo. Mais uma vez, ela pressionou o traseiro contra sua excitação, e as mãos de Trent lhe rodearam â cintura, acariciaram sua barriga, então subiram até os seios. Ela ofegou quando ele rolou os mamilos entre os dedos, e, contra sua masculinidade pulsante, Trent sentiu o calor do corpo de Carrie. Pronta e desejosa. Eles fizeram amor até as primeiras horas da manhã, dando as boas-vindas ao amanhecer avermelhado com gritos de prazer e liberação.
— Eu tenho uma coisa para contar a vocês, e não quero que fiquem frenéticas. Alguns dias depois, Carrie estava sentada numa poltrona fofa de um spa, os pés mergulhados numa banheira de água quente e espumante, com suas duas amigas, uma de cada lado seu. Uma vez que Amanda estivera em Nova York, trabalhando diligentemente nos preparativos de uma festa que aconteceria no mês seguinte, para inauguração do edifício da Park Avenue, 721, como monumento histórico, a loura alta sabia exatamente o que Carrie estava prestes a dizer. Julia, por outro lado, estivera em Bermudas com seu novo marido, e não tinha idéia do que vinha acontecendo na vida de Carrie durante as duas últimas semanas. A loura grávida olhou para Carrie com curiosidade. — Isso tem alguma coisa a ver com o fato de você nunca ter respondido aos meus e-mails durante a minha viagem? — Mais ou menos. — A propósito, Jules, não acredito que você teve tempo de mandar e-mails para alguém — comentou Amanda, segurando dois vidrinhos de esmalte de unha, tentando decidir que tom de rosa combinaria mais com o tom de sua pele. — Você estava em lua de mel, pelo amor de Deus. — E daí? Amanda pareceu embaraçada. — Deveria estar fazendo o tipo de coisas que pessoas fazem em lua de mel. Dando um tapinha em sua barriga arredondada, Jules replicou: — A barriga está começando a atrapalhar, sabia? — Verdade? 60
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— Verdade. — Você não pode simplesmente tentar isso de... — Oh, meu Deus, Amanda! — exclamou Julia, fingindo-se chocada e horrorizada com a mente suja de sua amiga. Carrie não podia agüentar mais. Inalou profundamente, então contou seu segredo: — Eu me casei com Trent Tanford. As duas mulheres esqueceram o que estavam falando e se viraram para olhá-la. Amanda apenas sorriu e balançou a cabeça, enquanto Jules a olhava como se Carrie tivesse enlouquecido. — Perdão? O que você disse? — Eu me casei com Trent Tanford. Meu vizinho. — Oh, eu sei quem ele é, Carrie. — Julia a estudou por um longo tempo, talvez tentando ler em sua expressão por que Carrie fizera uma coisa daquelas. — Por quê? Carrie abaixou os olhos. — Eu me apaixonei por ele. Mas Jules não estava pronta para esquecer o assunto. — Quando você se apaixonou? Carrie suspirou. Esperara aquilo, principalmente de Julia, mas sabia que era apenas por que suas amigas gostavam dela. O problema era que Carrie não queria compartilhar os detalhes de seu casamento, ou de como acontecera, com ninguém. Em primeiro lugar, porque os motivos eram embaraçosos. Em segundo, porque teria de admitir que não se casara por amor... e isso era algo doloroso a fazer. Ninguém precisava saber como seu casamento começara, apenas como estava agora. — Ouça — ela falou para Jules —, eu sei que isso parece repentino e uma loucura total, mas assim é. Eu o amo. Agora. Ela o amava agora. E isso era tudo que importava. Um sentimento doce e agradável envolveu Carrie com a admissão. Sim, realmente amava Trent. Ela olhou de Julia para Amanda, então de volta para Julia. — Agora, eu estava esperando por desejos de felicidade e congratulações. — Carrie estendeu uma mão.— Não porque nós somos amigas, mas porque estou pagando este tratamento dos pés para vocês duas. Julia pareceu querer continuar com as perguntas, mas, em vez disso, sorriu, suspirou e inclinou-se contra a poltrona. — E acha que pode nos subornar a não fazer perguntas de amiga apenas com uma massagem nos pés? — Esta era a esperança, sim. Ao lado de Carrie, Amanda emitiu um suspiro de êxtase. — Acho que posso perdoar você, Car. Julia bufou. — Traidora. 61
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Elas permaneceram sentadas em silêncio por alguns minutos, apreciando a hidromassagem nos pés, mas logo a necessidade feminina de discutir, conversar e interrogar venceu o silêncio mais uma vez. — Então, como é a vida de casada? — questionou Julia. — Você deveria saber, Jules — apontou Amanda. — Eu não saberia como é estar casada com Trent Carrie sorriu. — E surpreendente, na verdade. Julia ergueu suas sobrancelhas perfeitamente cuidadas. — Interessante escolha de expressão verbal. — Surpreendente como? — Amanda quis saber, entregando o esmalte escolhido para a pedicura com um sorriso gracioso. — Pequenos bilhetes sobre seu travesseiro quando você acorda pela manhã? Ou um closet repleto de chicotes e correntes? Julia riu enquanto Carrie respondia. — O primeiro tipo de surpresa que você mencionou. Ele tem muita consideração, é incrível e carinhoso, me tratando como uma rainha. Não é como eu esperava, de maneira alguma. — Especialmente após o acordo que Trent lhe oferecera na época... um acordo totalmente profissional. Aquele que ela aceitara. Por um momento, Carrie se perguntou o que Trent pensava a seu respeito e do casamento deles agora. Nutria os mesmos tipos de sentimentos que Carrie tinha por ele? Estaria sentado num bar agora, falando sobre ela com os amigos? Provavelmente não. — Bem, você sabia um pouco como ele era, não sabia? — perguntou Jules. — Antes de se casar? Quero dizer, foi isso que a fez tomar uma decisão tão rápido, certo? Descobrir que ele era um homem incrível e se apaixonar por ele? — Certo — respondeu Carrie rapidamente. — É claro. Estou apenas dizendo que, embora eu tivesse visto o lado doce de Trent antes do casamento, ele era tão farrista quando nós nos conhecemos que fiquei um pouco preocupada, pensando que talvez ele nunca fosse sossegar, vamos dizer assim. — Carrie parou antes que se atrapalhasse na mentira e se tornasse incoerente. — Entendi — disse Mia, agindo como se realmente tivesse entendido. Amanda estudou Carrie, uma preocupação revelada nos olhos acinzentados. — Apenas tome cuidado, Carrie. — Por quê? — Não cometa o erro de pensar que você pode mudar um homem. — Não vou cometer— Carrie a assegurou. — De jeito nenhum. — Eu não estou tentando colocá-la para baixo, juro, mas é que pela experiência... — Que experiência é esta? — perguntou Carrie, subitamente curiosa. Apesar de possuir uma personalidade extrovertida, Amanda nunca fora tão aberta sobre seu passado. Mas Amanda não compartilhou nada de valor. Deu de ombros, o olhar na banheira de hidromassagem diante delas, o rosto adorável inexpressivo de repente, como se ela estivesse tentando esconder suas emoções das duas amigas. Sem perder o ritmo da conversa, Julie voltou ao seu assunto favorito do dia. 62
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Todavia, desta vez, surgiu com uma perspectiva totalmente nova: — Talvez Trent fosse um farrista que estava esperando a mulher certa aparecer. Carrie gostou da avaliação, e sorriu. — Acho que sim. — Espero que sim. Mia ergueu uma das mãos. — A propósito, quero que fique registrado que foi minha a idéia de que Carrie fosse à porta dele reclamar, o que claramente a levou à felicidade e ao amor de uma vida inteira. Amanda olhou para cima e balançou a cabeça. — Nós duas a encorajamos. — Eu não lembro que foi assim. — Podem parar por aí, meninas. — Sorrindo para suas amigas, Carrie tentou estabelecer paz. — Uma vez que vocês estão competindo pelo crédito da minha felicidade, eu simplesmente agradeço a você, Julia, e a você, Amanda... porque, honestamente, sem um pequeno empurrãozinho, eu não estaria aqui hoje... muito feliz e apaixonada. — Não tem de quê, Car — replicou Amanda de imediato. — Sim, meus parabéns, garota. — E, com isso, Julia recostou-se na poltrona e suspirou quando a massagista começou a trabalhar em seus pés. Carrie a olhou esperançosamente. — Então, você me perdoa por não ter respondido ao seu e-mail, certo, Jules? Julia estava tão perdida no aroma de óleo de rosas e nas mãos mágicas de Jeanne Marie que mal registrou a pergunta. Com olhos fechados, murmurou distraída: — Quê? Oh, sim, claro. Tanto faz. Carrie virou-se e olhou para Amanda. As duas mulheres riram da amiga, então se recostaram em suas poltronas e seguiram a liderança de Mia.
CAPÍTULO NOVE
Conversar com clientes importantes era uma tarefa padrão nos negócios de Trent. Normalmente, fazia isso sozinho, e nunca sentira o respeito de um cliente diminuir por ele por causa de seu estado de solteiro. Mas, essa noite, via o mundo com olhos diferentes... com olhos de um homem casado. E ficou um pouco chocado ao descobrir que seu pai estivera certo em sua crença de que pessoas em cargos executivos altos ganhavam mais respeito quando tinham uma aliança de casamento no dedo e uma mulher ao seu lado. Agora, sua esposa saíra de seu lado aproximadamente uma hora atrás, mas apenas para circular pelo salão... algo que Trent nem lhe pedira para fazer nem a imaginara 63
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fazendo quando eles haviam descido da limusine preta e entrado no Nanni, localizado na East Fprty-Sixth. A AMS alugara o restaurante inteiro para aquele evento. Organizar uma festa para altos executivos das filiais da AMS não era algo pequeno, particularmente para Trent, uma vez que aquele era seu primeiro grande evento como diretor da empresa de meios de comunicação. Seu pai estava fora do país, então Trent e Carrie eram os únicos Tanford presentes. Trent observou Carrie no centro de um grupo de mulheres... algumas executivas, algumas esposas... com a graça é a tranqüilidade de uma socialite experiente. Ela estava linda, num vestido cor-de-rosa clarinho sem alças, que abraçava os seios generosos e caía numa onda suave pelo resto do corpo. Os cabelos estavam penteados para trás e presos na nuca num coque simples, porém chique, e a maquiagem parecia natural e juvenil... como ela. Um garçom silenciosamente lhe ofereceu um canapé de risoto, o qual Trent declinou. Apenas alguns dias atrás, ele concluíra que estava completamente apaixonado por Carrie. Compreender tal fato colocara seu relacionamento passado em perspectiva, acabando de vez com a noção de que nunca se casaria. Sua noiva havia sido uma paixão de adolescente, uma luxúria vazia que se mascaram como alguma coisa mais forte. Ele sabia disso porque sentia esta "coisa mais forte" por sua esposa. Toda vez que a olhava, queria envolvê-la nos braços e levá-la consigo. Toda vez que outro homem a olhava, Trent queria socar a parede. E houvera diversos solteiros playboys da Costa Leste perguntando se ela já estava compromissada, e com quem. Carrie o fazia se sentir como um homem possessivo das cavernas. — Eu nunca senti inveja, Tanford. Trent olhou para o homem que tinha acabado de lhe dar um tapa nas costas, então seguiu a linha de visão dele. Alan Dowd era presidente e gerente-geral de uma das maiores filiais da AMS em Los Angeles, e era também amigo de longa data do pai de Trent. O olhar de Alan estava fixo em Carrie, enquanto ela conversava graciosamente com um grupo de afiliados de Oregon e Washington. — Não. Eu nunca senti inveja de um homem até esta noite, quero dizer. Trent assentiu, e falou de modo agradável e profissional: — Eu sou um homem de sorte. — Com certeza. Não deixe esta ir embora. — Isso não será possível, Alan. Ela está casada comigo. Alan arqueou as sobrancelhas. — Isso não é uma garantia. Minha ex-esposa está vivendo com seu novo amor em nossa casa no Taiti, e eu vou dormir com uma pasta repleta de reclamações do departamento de Recursos Humanos. Embora o comentário fosse destinado a provocar risadas e brincadeiras, Trent era um profissional sério. Agir como qualquer outro "sujeito" passaria uma imagem não profissional quando Alan refletisse sobre a questão, mais tarde. E, quando Alan estivesse de volta em seu quarto de hotel — e sóbrio —, ele refletiria.
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Então Trent não levou a conversa em frente, mas deu um sorriso largo, disse a Alan que era bom vê-lo de novo, e o que sucesso contínuo em Los Angeles era esperado. Depois, pediu licença e foi conversar com o gerente-geral de sua filial em Utah. Quando a noite estava perto de terminar, Trent se aproximou de Carrie, que lhe sorriu com os lábios e com os olhos, como se estivesse muito feliz em vê-lo. Ele lhe circulou a cintura com um braço e sussurrou no seu ouvido: — Pronta para ir embora? — Com certeza. Eles se despediram de alguns convidados remanescentes antes de saírem do restaurante da East Forty-Sixth. Esperaram apenas um momento para que a limusine navegasse pelo trânsito pesado da cidade e parasse diante do restaurante. Trent gesticulou para que o motorista permanecesse dentro do carro e abriu a porta para Carrie. Quando ele se sentou ao seu lado e fechou a porta, ela acomodou-se contra o assento e exalou. — Certo, detesto dizer isso, Trent, porque sei que você faz negócios com essas pessoas, mas esta noite foi... — Tediosa? Ela fez uma careta. — Eu lhe disse que detestava dizer isso. — Meu trabalho pode ser assim, às vezes. — Não, não é o seu trabalho. Ele sorriu. — Certo, as pessoas podem ser tediosas, às vezes. — Na verdade, a maioria das pessoas era agradável. Foram somente alguns dos executivos... — Daniel Embry? Carrie o olhou. — Sim. Ele é muito chato. Pesca e coleção de mármore... — E quanto a Megan Frost? — Bem, ela é totalmente louca. — E aquele namorado dela... — Não — interrompeu Carrie. — Eu acho que era apenas um acompanhante de Megan. Do tipo contratado. E ator. O sujeito não parava de falar de si mesmo e perguntar a todos ao redor se eles conheciam Andrew Lloyd Webber. — Ela meneou a cabeça. — Eu tive vontade de dizer: "Saia dos anos 1980, amigo." Trent riu. — Sim, mas a tatuagem dele era bacana. Carrie riu com ele, e o som bonito reverberou nas paredes do carro e no peito de Trent. Ele a puxou para si e a beijou. Não podia evitar. — Você foi incrível esta noite. Carrie se aninhou mais perto. — Obrigada. — Tão natural. Ela deu de ombros nos braços dele. — Eu só estava fazendo o meu dever. A boca de Trent se curvou num sorriso de divertimento. 65
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— Bem, neste caso é meu dever lhe dar um agradecimento apropriado. Ela sorriu. — Oh, meu Deus. O olhar de Trent não deixou o seu quando ele chamou: — Por favor. — Sim, senhor? — respondeu o chofer imediatamente. — Circule o parque, vamos dizer... três vezes antes que nos leve para casa. — Sim, senhor. — Três vezes? — repetiu Carrie, arqueando as sobrancelhas. — O que você está planejando, Tanford? Trent apertou um botão preto do seu lado direito, e a divisória que os separaria do motorista e lhes daria privacidade subiu. Todas as janelas eram escuras e à prova de som, mas Trent ligou o rádio somente para garantir segurança. O ritmo suave e sexy de Ne-Yo vinha dos alto-falantes enquanto Trent saía do lado de Carrie e se posicionava aos pés dela. — O que você está fazendo? — perguntou ela, os olhos verdes brilhando com travessura. Ele lhe removeu os sapatos, um de cada vez. —- Você passou muitas horas sobre seus pés esta noite. Eles devem estar doloridos. — Trent prendeu-lhe o olhar enquanto massageava os seus pés. Ela suspirou, relaxada contra o banco de couro preto. Trent a observou avidamente. Á vida de casado o surpreendia muito. Estava feliz, satisfeito e completamente despreocupado que sua regra de quatro semanas se aproximava com rapidez. Carrie era diferente. Ela era sua. Sua esposa, seu coração. Carrie o curara de tudo aquilo. Quando os pés delicados relaxaram contra suas palmas, ele moveu as mãos para os calcanhares e canelas de Carrie. Sentiu seu próprio corpo enrijecer e sua respiração acelerar no momento em que ergueu a saia do vestido. Ela abriu os olhos, vendo-o deslizar a seda cor-de-rosa até seus quadris. O peito de Trent se movimentava rapidamente com a respiração ofegante. Ela viu as mãos fortes indo para o interior de suas coxas, subirem, então desaparecerem debaixo da bainha do vestido no instante em que ele encontrou seu centro quente e úmido. Carrie gemeu e arqueou as costas. Trent achou que atingiria o clímax naquele momento, mas mordeu o lábio e curvou os dedos ao redor da pequena tira de renda cor-de-rosa, a qual cobria o paraíso que estava tão ávido para provar. Em segundos, a calcinha dela estava no meio das coxas, depois ao redor dos tornozelos, e, por último, no bolso do paletó de Trent. Ele mal conseguia respirar. Era realmente difícil se conter naquele momento. Todavia, estava determinado em lhe dar prazer, saboreá-la, deixar que o aroma de Carrie o marcasse e permanecesse com ele a noite inteira. Gentilmente, apartou-lhe as pernas, então deslizou um dedo para o centro feminino do prazer, com tanta suavidade e lentidão que Carrie ergueu os quadris para seguir o 66
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movimento de sua mão. Ele gemeu com a reação dela. — O que aconteceu? — sussurrou Carrie. — Nada. Você está tão molhada. Os olhos verdes reluziam com puro desejo, e ela lhe sorriu. — É você. O jeito que me toca. A honestidade de Carrie, a maneira como o olhava, como se confiasse totalmente nele com o seu corpo, provocou alguma estranha resposta em Trent, e ele falou de modo impulsivo, como um tirano, mas não se importava: — Você é minha, Carrie. Ninguém a toca, exceto eu. Nunca. Entendeu? Carrie ouviu as palavras, porém mal conseguiu registrá-las. Trent tinha se posicionado entre suas pernas, e os dedos másculos pressionavam as dobras suaves de seu centro aberto. Então, a língua dele tocou-lhe um ponto interno sensível, e ela gemeu e inclinou a cabeça para trás. Queria pressionar a cabeça dele mais perto... A língua sensual e habilidosa continuou provocando-a, torturando-a, enviando-a para o topo do mundo, enquanto seus quadris se erguiam e se abaixavam em resposta. Carrie não tinha controle sobre seu corpo, o qual se movia e se ondulava, suplicando que Trent continuasse as carícias íntimas. Ele fez isso, e, no processo, deslizou uma das mãos por baixo de seu traseiro, enquanto os dedos brincavam com ela, circulando a abertura úmida da feminilidade. Então, no momento em que Carrie estava ofegando com desespero, Trent penetrou dois dedos em seu corpo. Carrie gritou, arfando quando fogos de artifício explodiram sobre suas pálpebras fechadas. Ela estava à beira do clímax. Trent devia ter sentido isso também, porque não permaneceu imóvel por muito tempo. Estimulou-a com os dedos, enquanto continuava provocando-lhe o ponto sensível intumescido com a língua, Carrie contorceu-se contra ele, movimentando os quadris e enterrando as unhas no assento de couro... e então o clímax veio, onda após onda de espasmo abalando todo seu ser. Carrie levantou os quadris, manteve-os erguidos. Não conseguia respirar, não conseguia pensar. E então a nuvem se dissipou e seus quadris se abaixaram, enquanto os tremores começavam a diminuir aos poucos, até finalmente pararem. Trent levantou a cabeça, mas ainda manteve os dedos dentro dela, acariciando-a gentilmente conforme os espasmos do clímax relaxavam. Ele lhe observou o rosto, sorriu quando Carrie lhe sorriu, e, enquanto eles rodeavam o parque pela terceira vez, Carrie conseguiu encontrar voz para murmurar as palavras: — Você é tão bem-vindo, querido. No momento em que eles chegaram ao apartamento e desceram do carro, estavam ambos desalinhados e agindo como dois adolescentes excitados. De mãos dadas, se beijavam loucamente enquanto atravessavam as portas pesadas de mogno. Não estavam nem perto de terminar um com o outro. Aquele episódio rápido e ardente na limusine era apenas o começo, e Carrie detestava admitir, mas entendia 67
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agora, sem um pingo de ciúme, por que as mulheres apareciam à porta de Trent às 2h da manhã. Ele era espetacular. E todo seu. O grande saguão do prédio estava vazio, exceto pela presença de Vivian VannickSmythe e seus dois cachorrinhos barulhentos, vestidos com cores berrantes, como sempre. O candelabro de cristal no teto era muito brilhante após a iluminação fraca da limusine. Carrie queria enterrar a cabeça no paletó de Trent, de modo que não fosse notada e não tivesse de conversar com a mulher ou com mais ninguém que cruzasse o caminho deles naquela noite. Tudo que queria era subir e ficar sozinha com Trent, tê-lo inteirinho para si mesma. E, desta vez, ela queria tocá-lo, senti-lo nas mãos, fazer as pernas dele tremerem e a cabeça girar. Vivian estava parada ao lado da larga mesa de mogno no centro do saguão, conversando com Henry Brown, o porteiro. O jovem magricelo e a mulher mais velha nada convencional estavam entretidos em sua conversa, e foi necessário o eco alto dos saltos de Carrie contra o piso de mármore para chamar a atenção de ambos. — Olá, Vivian — cumprimentou Trent suavemente, enquanto ele e Carrie andavam em direção ao elevador. Vivian sorriu de um jeito nervoso e murmurou: — Olá, Trent. — Então rapidamente se afastou de Henry, embora Carrie tivesse notado que os cachorros permaneceram aos pés dele. Frustrada com o estranho comportamento de seus cães, a sra. Vanniek-Smythe puxou as coleiras com força antes que eles desistissem de Henry e a seguissem para fora do prédio. — Do que se trata tudo isso? — perguntou Carrie depois que as portas do elevador se fecharam. — Com essa mulher, nunca se sabe. E isso era tudo que ele iria comentar sobre o assunto porque, assim que apertou o botão para o 12º andar, circulou-a pela cintura e pressionou-lhe as costas contra a parede do elevador. Os olhos azuis de Trent brilhavam com travessura enquanto ele posicionava o joelho entre as coxas de Carrie. Inclinando-se, encontrou a orelha delicada e mordiscou o lóbulo. — Eu quero ficar com seu cheiro a noite inteira. Ondas de desejo percorreram o corpo de Carrie, e ela sorriu para si mesma, os olhos fechados. Se conseguisse o que queria, Trent Tanford jamais diria aquelas palavras para outra mulher. A língua sensual passeou gentilmente ao longo de sua orelha, então soprou uma leve rajada de ar. Com o corpo em chamas, ela se derreteu contra ele e lhe rodeou o pescoço com os braços. Eles subiram até o andar do apartamento, saíram no corredor tropeçando, e mal tinham acabado de entrar em casa quando Trent já removera paletó e gravata, e o seu vestido estava erguido acima dos quadris. Ainda estavam se abraçando e se acariciando no hall de entrada do apartamento quando o telefone começou a tocar. 68
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— Não atenda — murmurou Carrie. Ele riu. — Está brincando? Ela se encostou contra a parede enquanto Trent trilhava beijos ao longo de seu pescoço, sobre seu peito. Ele desceu o corpete do vestido e liberou seus seios. Foi quando Carrie assumiu o controle. Ela o queria. Queria sentir sua virilidade nas mãos, ajoelhar-se aos pés dele e tomá-lo na boca, sabendo que Trent estava assistindo o ato, assim como ela fizera, com a cabeça dele entre suas pernas dentro da limusine. Ela o abraçou pela cintura e o virou, de modo que Trent ficasse contra a parede. Em algum lugar da casa, o telefone continuava tocando. Carrie sorriu e começou a abrir o cinto de Trent, então desceu o zíper. Ambos estavam respirando com dificuldade quando a secretária eletrônica ligou e ouviu-se o recado: — Sr. Tanford, aqui é o detetive McGray. Carrie parou, os dedos enganchados no elástico da cueca. — Você esqueceu seu Black-Berry na delegacia na outra noite. Quando passar aqui para apanhá-lo, por favor, me procure. Eu tenho mais uma pergunta sobre aquela carta, e sobre seu — houve uma pausa — tempo com a srta. Endicott. Quando a mensagem terminou, Carrie deu um passo atrás e arrumou o vestido no corpo, de modo que cobrisse seus seios. — Quem é o detetive McGray? — Ninguém. — Trent se aproximou, tentou beijá-la, tentou afastar-lhe a mente do que ouvira, voltar o foco para ele, para eles. Mas Carrie não queria nada disso. Sua pele havia esfriado em segundos. — Ele estava falando sobre Marie Endicott? Percebendo que o momento de prazer dos dois tinha acabado, Trent suspirou e respondeu: — Sim. Uma onda de ansiedade ameaçou sufocá-la. — Então foi onde você esteve na outra noite. Na delegacia de polícia. — Carrie, você precisa se acalmar. — Você foi chamado para um interrogatório sobre a morte dela? — Sim... — Mas foi um suicídio. — Ela quase gritou, puro pânico a atingindo com força total. Ele desviou o olhar. — Eles não têm mais tanta certeza disso. — O quê? — Carrie o fitou, seu coração bombeando dolorosamente no peito. — Oh, meu Deus. Você é um suspeito?
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CAPÍTULO DEZ
Trent estava parado no corredor, onde nem dez segundos atrás estivera feliz, fazendo amor com sua esposa. Não gostava do jeito como Carrie o olhava agora, de forma acusatória e pronta para acreditar no pior. Mas estava calmo e controlado no momento em que respondeu: — Diversas pessoas deste edifício foram chamadas na delegacia para falar com a polícia, Carrie. Afinal, Marie Endicott morava neste prédio. — Eu não fui — disse ela, indignada. — Bem, você não a conhecia. — E você a conhecia. — Sim. — Você costumava sair com ela, não é? Trent ergueu as duas mãos. — Oh, meu Deus. — Estava tão enojado daquele assunto. — Eu saí com ela duas vezes. Não significou nada. Mas, obviamente, Carrie não acreditava nisso. — Se não tivesse significado nada, a polícia não estaria ligando para cá, ou o intimando para ir à delegacia no meio da madrugada. — Ela inclinou a cabeça para um dos lados. — Do que se trata tudo isso? A necessidade de ir à delegacia às 11h da noite num final de semana? Deve ter havido um motivo muito importante. Trent podia sentir sua paciência diminuindo. Por que não esclarecia logo sobre a carta, tornando tudo mais fácil e mais simples? Talvez porque nada fosse simples no que dizia respeito às mulheres... e àquela mulher em particular. Suspeitava que Carrie não queria acreditar nele, independentemente do que Trent dissesse. — Eles tinham perguntas, Carrie. Queriam descobrir se eu sabia alguma coisa sobre o motivo pelo qual Marie Endicott tirara a própria vida. — E você sabia? — Não — replicou ele de maneira enfática. Ela pausou, e ele pensou, por um breve momento, que Carrie iria desistir do assunto. Mas os olhos verdes estudaram os seus, procurando por mais respostas. — Você não está me contando tudo, está? Ele começou a andar. — Acabei aqui. — Espere um minuto. E quanto ao fato de o suicídio não ser um suicídio, afinal de 70
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contas? — Boa noite, Carrie. — Você realmente vai fugir da conversa? Trent virou-se para ela. — Isto não é uma conversa. É um interrogatório. — Bem, você deveria estar acostumado com interrogatórios a esta altura. Raiva o assolou. — Você está... — O quê? — interrompeu ela, os olhos verdes emitindo faíscas. — Isso é inacreditável. Você está agindo como... — Como o quê? — interrompeu Carrie novamente. — Como uma esposa? Ele a olhou com expressão furiosa. — Eu ia dizer como uma pessoa louca. Trent a viu se afastar emocionalmente. Ela olhou para baixo e mordeu o lábio. Quando ergueu os olhos para ele, havia lágrimas ali. A voz de Carrie estava rouca e cansada. — Bem, talvez eu seja louca. Talvez eu seja louca por ter pensado que este poderia ser um casamento de verdade, em que duas pessoas compartilham assuntos pessoais. O estômago de Trent se contorceu. — Como você compartilhou comigo o assunto sobre seu pai? Ou sobre a doença de sua mãe? Aquelas palavras a pegaram de surpresa, e ele a viu se fechar imediatamente. — Eu estou cansada — sussurrou Carrie, passando por ele e indo em direção ao seu quarto. Trent permaneceu lá, meneando a cabeça. — Sim, eu também. Carrie estava sentada na beira da cama, sentindo-se como uma criança assustada de dois anos de idade que não queria compartilhar seus brinquedos, mas esperava que as outras crianças do playground compartilhassem os seus. O que tinha acontecido agora pouco? Nunca em sua vida ela reagira daquela maneira, tratando alguém com tanto desrespeito e nenhuma tolerância. Trent estava certo, ela era completamente louca. E, com certeza, loucamente apaixonada. Por qual outro motivo teria aquela reação? Agredindo um homem com palavras de uni modo totalmente destemido? Do lado de fora da janela, as luzes da cidade brilhavam sob o céu escuro. Ela havia pedido a verdade á Trent, mas, se olhasse honestamente para si mesma, veria que não quisera ouvir a verdade. Quisera pular a parte na qual ele confessasse ter feito algo tão tolo que ela não teria escolha senão deixá-lo. Carrie suspirou e enterrou a cabeça nas mãos. Era isso que estava fazendo? Usando a questão do abandono de seu pai com Trent? Encontrando uma desculpa para deixá-lo antes que ele a abandonasse? 71
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Do lado de fora da porta, ouviu o barulho da televisão sendo ligada, e algum tipo de jogo de esporte soou através dos alto-falantes espalhados pelo apartamento. Precisava consertar aquilo. Tinha de falar com ele. Se não fizesse isso, eles não teriam uma chance de continuar o relacionamento além daquela noite, muito menos por um ano. Ela pegou uma escova de cabelos da bolsa e uma calcinha branca da gaveta e saiu do quarto. Como esperado, Trent estava na sala de estar, deitado no sofá, o olhar fixo na televisão. Beisebol. Os Yankees estavam jogando com alguém, mas Carrie não prestou a menor atenção ao jogo. Seu coração batia descompassado no peito no momento em que ela parou atrás do sofá. Jogou a calcinha sobre o cabo da escova de cabelos, então estendeu o braço sobre a , cabeça de Trent e balançou a pequena peça branca diante do rosto dele. Trent ficou imóvel por um momento, então olhou para trás e para ela, e disse: — Por acaso este é um jeito perverso de sua parte para oferecer uma trégua? Ela afastou a escova para trás e deu de ombros. — Qualquer coisa que nos leve de volta ao elevador. — Carrie sorriu ao acrescentar: — Metaforicamente falando. Divertimento brilhou nos olhos dele. — Sente-se. Carrie rodeou o sofá. Trent desligou a televisão enquanto ela se sentava na mesinha de centro à sua frente. — Que tal eu começar? — sugeriu ela, — Tudo bem. — Sinto muito. Ele lhe pegou a mão na sua e assentiu. — Eu também sinto. O nó no estômago de Carrie relaxou com a rápida aceitação dele por seu pedido de desculpas, sem mencionar que Trent também estava se desculpando, o que realmente não tinha necessidade de fazer. — A maneira que eu reagi agora pouco... foi um comportamento inaceitável. Eu nunca falei assim com alguém em toda minha vida. — Uau, eu me sinto honrado — disse ele, humor ainda brilhando nos olhos azuis. Carrie respirou fundo e tentou encontrar um lugar por onde começar. — Eu tinha 9 anos quando meu pai foi embora de casa. Gostaria de dizer que ele não nos deu nenhum aviso, mas, na verdade, sempre nos avisou. Talvez apenas, não quisesse ser pai, ou talvez estivesse apenas confundindo nossas mentes, eu não sei. Mas eram sempre as mesmas frases: "Um dia você não me terá em casa trazendo um salário. Um dia não me terá para brincar com você, ou para colocá-la para dormir, ou para ensinála a pescar." E assim por diante. Então, um dia, ele não estava mais lá. Ela sentiu Trent apertando sua mão, e isso lhe deu coragem para continuar: — E talvez eu tenha ficado aliviada. Mas acho que isso me tornou cautelosa com os 72
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homens, e não disposta a acreditar neles. Claramente, isso aconteceu. Eu só não tinha notado antes. Nunca tive relacionamentos de longo prazo. — Carrie deu de ombros. — Eu sempre acabava antes que a relação se tornasse muito séria, de modo que não ficasse séria, entende? Trent assentiu com um sorriso. — Sim. Entendo perfeitamente. Ela sorriu. — Você esteve se protegendo também? — Sim, mas por uma razão muito diferente. Ela não o pressionou para falar sobre aquilo. Era sua vez de abrir o coração. Prendeu-lhe o olhar. — Eu não lhe contei sobre meu pai porque, honestamente, ainda não me permito confiar completamente em você. Trent não disse nada por um momento, apenas a estudou. Então, ergueu-lhe a mão para sua boca e beijou-lhe os dedos frios. — Eu entendo, e respeito isso. — Mas eu quero confiar em você. — E eu quero que confie. — Quero confiar em você porque... — Ela parou. Parou porque estava prestes a dizer as três palavras mais importantes, que jamais dissera a um homem antes, e teve medo. Todavia, com o espírito de abrir seu coração, respirou fundo e declarou: — Quero confiar em você porque eu o amo. Carrie esperou pela reação dele, esperou ver a expressão apavorada de Trent, ou pior. Mas não viu nada. O semblante dele era inescrutável, e aquilo a assustou tanto que, quando Trent abriu a boca para falar alguma coisa, ela o deteve. — Por favor, não. Não responda nada. Eu só precisava extravasar meus sentimentos por enquanto, está bem? Os olhos dele escureceram subitamente, porém, eram muito, muito calorosos. Trent assentiu, apertou-lhe a mão mais uma vez e disse: — Tudo bem. Vamos deixar assim. — Ótimo. Obrigada. Mas ele acrescentou com veemência: — Por enquanto. Carrie assentiu, dando um suspiro de alívio. Simplesmente não poderia lidar com a rejeição dele no momento. Trent se inclinou para a frente em seu assento. — Acho que agora é minha vez. — Certo — murmurou ela com um leve desconforto. — Diversos meses atrás, eu saí com Marie Endicott. Ela era uma mulher agradável, engraçada. Mas nós não tínhamos nada em comum, e, após o segundo encontro, ambos concordamos que não haveria um terceiro. Encontrei-a no prédio algumas vezes e nos cumprimentamos. Contudo, nada mais. — A voz dele se tornou levemente instável durante a parte seguinte: — Então veio a notícia do suicídio dela. Uma notícia horrível. Trent fez uma pausa para suspirar. 73
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—- Algumas semanas atrás, recebi uma carta anônima. A pessoa que a enviou queria que eu depositasse um milhão de dólares numa conta na ilha Grand Cayman; do contrário, exporia as indiscrições de meu passado... as quais, mais tarde, percebi que era meu "não relacionamento" com Marie. Uma vez que eu só havia saído com ela duas vezes e não tinha nada a esconder, originalmente ignorei a carta. Pensei que fosse uma bobagem, alguém querendo brincar comigo, e joguei o papel fora. — De qualquer forma, os policiais me chamaram a fim de questionar sobre meu relacionamento com Marie, ver se eu sabia de alguma coisa, e, enquanto estava na delegacia pela primeira vez, mencionei a carta. Eles me disseram que uma carta similar tinha sido enviada para alguém deste edifício. — Quem? — perguntou Carrie, bastante curiosa agora. Trent balançou a cabeça. — Eles não me contaram. Mas, quando fui chamado para retornar lá recentemente, o detetive me mostrou a carta. Queria saber se era a mesma. — E era? Trent assentiu. — Basicamente, embora eles tivessem bloqueado a seção com a ameaça, então eu não pude ver esta parte. Carrie meneou a cabeça, pensando sobre as pessoas do prédio. — Quem será que recebeu a carta? — Ela se perguntou se Julia ou Amanda sabiam de alguma coisa sobre Marie ou sobre a carta. Mas não podia perguntar para suas amigas, podia? Aquele era um problema de Trent, e Carrie não iria compartilhar algo tão pessoal, nem mesmo com suas melhores amigas. — Uma última coisa — disse Trent, capturando sua atenção mais uma vez. — Quando eu estava lá, o policial-chefe, que é amigo da minha família, mencionou que eles estavam começando a pensar que a morte de Marie poderia não ter sido um suicídio, afinal de contas. Mas ele não esclareceu sobre isso. Carrie liberou um suspiro exasperado. — Meu Deus. — Sim. — É isso. — Ele lhe ergueu a mão novamente, beijando seus dedos. Com um sorriso lento no rosto, Carrie o olhou. — Sem mais segredos guardados no seu bolso? Ele levantou os braços. — Venha checar meus bolsos por si mesma. Rindo, Carrie foi até ele, sentou-se no seu colo e circulou-lhe o pescoço com os braços. — Esta foi nossa primeira briga? — Sim. — Trent a puxou para mais perto. — E, porque tivemos de enfrentar uma primeira briga tão desagradável, acho que merecemos ser recompensados com uma primeira reconciliação muito ardente... — Sexo? — ofereceu ela, então riu. — Sim. — Ele a tirou de seu colo e se levantou. — Mas não aqui. — O quê? — Espere um segundo. — Trent saiu da sala, e, quando voltou, pegou-lhe a mão e a conduziu para fora do apartamento. 74
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— Aonde nós vamos? — perguntou Carrie enquanto eles andavam ao longo do corredor. No momento em que Trent chegou ao elevador, apertou o botão para chamá-lo. — Você falou: "Qualquer coisa que nos leve de volta ao elevador." — Ele inclinou a cabeça. — Tudo que quero fazer é lhe dar prazer, querida. Uma onda de desejo percorreu o corpo de Carrie, esquentando-lhe a pele. As portas do elevador se abriram, e, enquanto Trent a impulsionava para dentro, ela riu suavemente, como uma garotinha travessa. — Mas e quanto aos moradores? Eles não serão capazes de usar... As portas mal tinham se fechado quando ele lhe capturou a boca. O elevador mal começou a se mover antes que Trent apertasse o botão de emergência. — Mas Trent... — Carrie inalou profundamente quando ele a pressionou contra a parede do elevador, desceu a parte de cima de seu vestido e preencheu as mãos com seus seios. — Nós seremos rápidos —- murmurou ele, abaixando a cabeça. Carrie gemeu quando a língua habilidosa começou a brincar com um de seus mamilos. — Não tão rápidos. — Cada centímetro de seu corpo abaixo da cintura estava pulsando dolorosamente. — Apenas tempo o bastante para que você atinja o clímax. Ele deslizou uma mão quente sob a bainha do vestido, os dedos roçando-lhe o interior das coxas. Ela agarrou a barra de aço do elevador no momento em que Trent a encontrou úmida e pronta. — Sim, isso pode ser muito rápido. — Ele a penetrou com dois dedos, fazendo-a arfar fortemente. — Oh, oh, Trent, oh... Dez minutos depois, o porteiro Henry Brown cancelara a chamada de emergência para a empresa que reparava os elevadores, e os moradores irritados do prédio estavam finalmente subindo para seus respectivos apartamentos. Carrie e Trent sentados numa árvore. BEIJANDO-SE.
Primeiro vem amor, depois vem casamento. Então vem... Espere um segundo! Primeiro vem casamento. Rindo de sua música infantil, Carrie olhou para o relógio de seu notebook. Já passavam das 18h. Droga, pensou ela. Tinha um encontro com uma mulher muito importante naquela noite, e, caso não se apressasse, iria perdê-lo. 75
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Carrie arrumou a mesa, desligou o computador e pegou sua bolsa. As coisas estavam indo muito bem no seu novo emprego. Ela conseguira impressionar todos em seu departamento, com sua eficiência e idéias sempre criativas. A maioria dos empregados já tinha ido embora, embora algumas pessoas viciadas em trabalho permanecessem às suas mesas, coladas aos seus monitores de computador. Carrie acenou-lhes alegremente para se despedir e se dirigiu aos elevadores. Era tão afortunada. Aquele era verdadeiramente um emprego dos sonhos, e tinha de agradecer a Trent pela oportunidade. Trent. Seu marido. Seu amor. Apertou o botão do andar térreo e desceu para o saguão, durante todo o tempo recordando-se de seus dez minutos no paraíso dentro do elevador do prédio deles na outra noite. Um arrepio de desejo a percorreu quando as portas se abriram. Mas tal desejo logo foi derrotado pelo enorme peso que vinha carregando em seu coração desde que tinha enlouquecido completamente e dito aquelas três palavrinhas para Trent. Do lado de fora, o forte calor do dia não diminuíra muito, e o encantador cheiro de suor dos pedestres a assaltou. Carrie foi para a esquina, a fim de chamar um táxi. Não podia acreditar que dissera a Trent que o amava. Como uma tola completa. Pelo menos, havia sido esperta o bastante para impedi-lo de responder; Não que precisasse da resposta dele para adivinhar o que Trent diria. Trent Tanford era amável, carinhoso e um amante incrível, mas simplesmente não parecia ser o tipo de homem que dizia "Eu amo você", ou quê até mesmo pensasse uma coisa dessas. Quando um táxi parou no meio-fio, Carrie entrou rapidamente e deu o endereço ao motorista. Acomodou-se contra o assento, observou o motorista manobrar no trânsito pesado da cidade, enquanto pensamentos continuavam girando em sua cabeça. Se Trent tivesse conseguido responder naquela noite, provavelmente teria dito alguma coisa educada e evasiva como: "Obrigado. Eu acho que você é incrível." Os ombros de Carrie se curvaram para a frente. Ou talvez ele tivesse lhe dado um sorriso largo, mostrando as covinhas, e um longo discurso sobre o que queria e não queria em sua vida. Como, embora gostasse dela, eles haviam feito um acordo, um plano anual, e Trent não podia enxergar além disso no momento... Carrie sentiu uma leve tontura. O ar dentro do táxi não estava muito melhor que o ar do lado de fora. Era muito ruim estar apaixonada. Ou talvez fosse muito ruim a paixão unilateral. Quando o táxi parou na frente do prédio de sua mãe, ela agradeceu ao motorista e deu-lhe uma boa gorjeta juntamente com o dinheiro da corrida. Então, subiu a escada correndo e chegou à porta de sua mãe com uma camada de suor sobre as sobrancelhas. Wanda estava na cozinha com a cabeça enfiada no armário que guardava pratos e travessas. Deu um passo atrás no momento em que ouviu Carrie entrar. — Olá, querida. — Oi. — Carrie sorriu, e deixou sua bolsa sobre a mesa do hall. — Como estão as 76
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coisas? Tudo bem? — Está tudo ótimo — anunciou Wanda bem-humorada, usando uma de suas novas palavras favoritas, porque, após um tempo dizendo "bem" e "bom" para descrever o estado emocional de Rachel durante o dia, isso se tornou tedioso. Wanda estava morando na casa agora, algo que Carrie sempre, quisera, mas não tinha sido capaz de convencer sua mãe de tal necessidade. Ora, Rachel nem mesmo gostava que Carrie ficasse lá por muito tempo, muito menos um membro que não fosse da família. Todavia, como a condição de Rachel havia piorado nos últimos meses, Carrie passara a se preocupar com a segurança de sua mãe das 10h da noite às 6h da manhã. Graças a Deus, Rachel finalmente aceitara a idéia de Wanda morando em sua casa, o que fizera Carrie se sentir muito mais tranqüila. — Então, pensei que pudéssemos pedir alguma coisa para o jantar — disse Carrie, olhando dentro da gaveta de bugigangas, onde elas costumavam guardar todos os panfletos de restaurantes e lanchonetes desde que ela era criança. — Isso já foi feito — Wanda a informou, pegando pratos e copos dos armários e colocando-os sobre o balcão. —Deve chegar a qualquer minuto agora. — Oh, excelente. O que você pediu? — Eu não pedi. — Como assim? — perguntou Carrie confusa. Wanda pareceu envergonhada. — O jantar tem sido encomendado todas as noites. Chega pontualmente às 7h. Carrie meneou a cabeça. — Eu não entendo. Wanda pausou, uma faca e um garfo na mão. — O sr. Tanford organizou isso. Ele falou que, com tudo que eu tenho de fazer por aqui, não deveria cozinhar três refeições por dia. Eu disse que não me importava, mas ele insistiu. Carrie não podia acreditar no que estava ouvindo. — Quando ele disse isso? — Alguns dias atrás. Ele esteve aqui para uma breve visita durante seu horário de almoço. Mais uma vez, ela ficou totalmente atônita. — Trent não me contou que esteve aqui, ou sobre os jantares. Wanda deu de ombros. — Talvez ele tenha desejado surpreendê-la. — Ele me surpreendeu. Trent estivera lá? No horário de almoço? Mas por que não mencionara isso para ela? Por um breve segundo, Carrie sentiu aquela familiar ponta de desconfiança envolvêla, mas então reprimiu o sentimento. Que diferença fazia por que ele tinha ido lá e esquecido de lhe contar? Trent estivera na casa de sua mãe. Isso era o bastante. — A comida vem até mesmo acompanhada de uma pessoa para servir — disse Wanda alegremente. — Oh, sua mãe acordou, a propósito. Ela tomou um banho delicioso 77
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e estava descansando. — Obrigada, Wanda. Carrie seguiu o corredor e entrou no quarto de sua mãe. A primeira coisa que viu foi o rosto de Rachel. Ela parecia tão jovem... pálida, mas jovem. Os cabelos grisalhos estavam penteados para trás do rosto, e sua mãe parecia bonita e lúcida. Mas talvez Carrie estivesse vendo somente o que queria ver. — Oi, mamãe. Os olhos de Rachel se ergueram, e Carrie viu reconhecimento. — Carrie? Os olhos de Carrie se encheram de lágrimas. Momentos como esse eram tão poucos e tão raros ultimamente que, quando aconteciam, Carrie era preenchida com quantidades iguais de gratidão e raiva. Ela foi se sentar ao lado da cama. — Meu marido, muito gentil, pediu jantar para nós três. Você gostaria de conversar enquanto comemos, ou prefere ver televisão? — Carrie, querida? — O que foi, mamãe? Rachel balançou a cabeça. — Eu sinto alguma coisa. — O quê? — Uma dor. O coração de Carrie disparou de medo. — Onde? Mostre-me. Rachel apontou para seu próprio coração. — Dói muito? — perguntou Carrie, começando a entrar em pânico. — E porque seu pai foi embora. E então um diferente tipo de pânico se instalou, compartilhando espaço com o coração triste e zangado. — Eu sei, mamãe. Isso faz muito tempo. — Ele foi embora por minha causa. — Não deveria estar pensando sobre isso agora. — Do outro lado do corredor, a campainha tocou. —- A comida chegou. Talvez aquelas torradas de alho que você tanto gosta tenham vindo... Rachel segurou o braço de Carrie, apertando-o até que seus dedos ficassem brancos. — Eu preciso pensar agora. Preciso falar sobre isso agora. Um nó se formou na garganta de Carrie com a visão do desespero de sua mãe. Não queria vê-la triste a ponto de ter outro episódio como o da outra noite, mas também entendia a necessidade de Rachel de falar. Sua mãe necessitava falar o que quer que fosse. Agora. Porque poderia não haver o amanhã. Carne assentiu. — Tudo bem. 78
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Rachel suspirou, parecendo agradecida. — Eu pedi que ele fosse embora, Carrie. Você não sabia disso, sabia? — Não. — Eu estava tão cansada das ameaças de seu pai. Todos os dias. Porém, acima de tudo, o jeito que você se sentia cada vez que ele falava que ia embora. Eu não podia permitir que aquilo continuasse. Uma noite, eu disse ao seu pai: "Vá embora. Vá agora." — Rachel olhou para cima, os olhos inundados de lágrimas. — E ele foi. Carrie cobriu a mão de Rachel com a sua e murmurou com total sinceridade: — Fico feliz que você tenha feito isso. — Mas ele não se despediu de você — disse ela com tristeza, liberando o pulso de Carrie. —- Eu nunca me perdoarei por isso. — Você precisa se perdoar. Assim como eu tive de me perdoar por desejar que ele fosse embora. Com olhos arregalados, Rachel estudou a filha. Carrie continuou, satisfeita por finalmente ter a chance de extravasar sua própria culpa oculta. —- Eu também não agüentava mais. Rezava todas as noites, antes de dormir, para que papai partisse. Naquela manhã, quando eu acordei só para você, fiquei... aliviada, excitada por começar uma nova vida. Senti falta dele, não me entenda errado, mas entendi que as lembranças que escolhi ter de papai eram muito melhores que a realidade de tê-lo ali. Entende, mamãe? Sua mãe assentiu, e sorriu, parecendo a velha Rachel por um momento. — Eu também fiquei aliviada. Então, Wanda e a garçonete entraram no quarto com uma bandeja repleta de comida com aroma delicioso, e Carrie silenciosamente agradeceu a Trent por tornar a vida um pouco mais fácil para todas elas. As quatro jantaram, Carrie insistindo que a garçonete compartilhasse da refeição com elas. Durante o jantar, Rachel sorriu para sua filha e sugeriu que todas elas assistissem a um filme depois. — A escolha é sua, mamãe —- disse Carrie, mordendo um pedaço de pão. — To Sir With Love! Carrie riu, mas se levantou e pegou o DVD do gabinete. — Ouçam, todas. Apenas para que saibam o que vão enfrentar, serão duas horas ouvindo minha mãe apaixonada dizendo como Sidney Poitier é lindo. Wanda sorriu. — Estou disposta a isso. A garçonete deu de ombros. — Ele é maravilhoso. Rachel sorriu para sua filha. — Não se preocupe, querida. Duas horas passam rapidamente com aquele homem na tela. Rapidamente demais, pensou Carrie enquanto colocava o DVD no aparelho e ligava a televisão. Em duas horas, Sidney teria ido embora, Wanda estaria a caminho de sua 79
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cama, Carrie iria para casa, e Rachel Gray poderia estar dormindo, mergulhando em sua mente perturbada mais uma vez.
CAPÍTULO ONZE
Ele tinha uma esposa. Ela dormia em sua cama. E ele não via problema nisso. Na verdade, pensou Trent enquanto a olhava deitada com a cabeça sobre o travesseiro, sentia-se radiante sobre isso. O sol da manhã estava subindo no céu, centímetro por centímetro, seus raios pálidos se infiltrando pelas janelas, banhando sua linda esposa. Seu pequeno anjo sexy, que descera à Terra para salvá-lo de si mesmo. E, esperançosamente, enquanto ela estava ali, ao seu lado, ele podia mimá-la, dar-lhe sua proteção e sua lealdade, e lhe oferecer o que restava de seu coração. Carrie se mexeu e inalou profundamente, Trent foi tomado por uma onda de excitação. Ela estava deitada ao seu lado, nua, abraçando o lençol entre as pernas, e ele queria saber como era o gosto da pele de Carrie às 6h da manhã. Inclinando-se para a frente, beijou-a suavemente, primeiro o ombro, depois a parte superior do braço. Os olhos de Carrie se abriram. Ela piscou, tentando registrar onde se encontrava e o que estava lhe acontecendo. No instante em que viu Trent, sua visão se clareou e ela sorriu. — Bom dia. Trent se aproximou mais, deitando-se de lado, de frente para ela, os narizes dos dois quase se tocando. — Ei. — Ele lhe roçou o nariz com o seu. — Dormiu bem? — Muito bem. E você? — Maravilhosamente. — Ela estendeu um dos braços e tocou-lhe o rosto. — Ei, meu príncipe encantado. Ele riu. — Fale. — Obrigada. — Pelo quê? 80
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Carrie envolveu uma perna ao redor da cintura dele e puxou-o ainda para mais perto. — Eu fui à casa de minha mãe ontem à noite, e tive uma refeição adorável com ela e Wanda... e a garçonete. —- Que garçonete? — Ora, a moça que leva e serve os jantares que você encomendou. Trent riu. — Não foi nada demais. Rachel deveria ter todo conforto. — Assim como você, pensou ele, trilhando uma mão sobre a coxa dela. — Oh, eu me esqueci de mencionar uma coisa sobre sua mãe. — O quê? — perguntou Carrie, preguiçosamente. — Fui visitá-la outro dia, durante meu horário de almoço. Não lhe contei antes porque achei que você pudesse se sentir mal sobre isso. Carrie apoiou-se sobre um cotovelo. — Porquê? — Com seu novo emprego, sei que você não tem tempo de ir lá tanto quanto costumava ir, e eu não queria que se sentisse pressionada a visitá-la mais porque eu fui. Tenho certeza de que você está trabalhando durante o horário de almoço também, não está? Ela assentiu. — Eu gostaria de continuar visitando-a, se você não se importar. — Importar-me? Você é louco ou apenas — Carrie inclinou-se e o beijou — totalmente incrível? — Ela o empurrou de costas na cama e subiu nele. — Ou ambas as coisas? — O que sou no momento — murmurou ele com voz rouca de desejo — um homem muito feliz por tê-la sentada em cima de mim. Carrie sorriu, claramente sentindo a extensão rígida contra suas nádegas. — Estou num enorme apuro aqui. — Que ótimo jeito de alimentar meu ego, querida. Ela fez uma careta. — Você é bom em interpretar as palavras da maneira que lhe convém, não é? — Isso eu sou. — Trent riu. — Quero dizer, ora, eu sou homem. — Notando que ela não estava rindo, perguntou: — Você está bem, querida? — Eu quero você, Trent. — Ótimo — ele a tranqüilizou. — Não é a sexo que me refiro agora. Eu quero você. Não apenas por um ano. — Carrie liberou uma respiração trêmula, olhando para o teto por um segundo. — Deus, eu sou horrível nisto. Calor envolveu o corpo e o coração de Trent. — Você está indo muito bem. Os olhos verdes brilhavam como esmeralda enquanto ela o fitava, parecendo tão vulnerável quanto uma criança. 81
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— Eu quero isto, você e nosso casamento. Trent refletiu. Não sabia o que dizer ou como se sentia. — Eu choquei você — afirmou Carrie. — Um pouco — admitiu ele. — E você quer se levantar desta cama e me dizer calmamente que nós fizemos um acordo. E que, embora goste de mim, e se sinta atraído por mim, de jeito nenhum quer... — Pare, Carrie. Você está tirando suas próprias conclusões. Ela não podia encontrar-lhe os olhos. — Eu vou tomar um banho. Carrie tentou se desvencilhar, mas Trent não ia deixá-la fugir. — Converse comigo. Fique aqui e fale comigo. Ele lhe segurou os quadris, e, após um momento, ela o fitou. — Tudo bem. — Como você estava dizendo... Ela inalou profundamente. — Acho que nós somos ótimos juntos. Eu não quero estar com mais ninguém; não posso nem imaginar isso... nunca. — Carrie engoliu em seco nervosamente. — O que você acha? — Eu acho — respondeu ele enquanto estendia um dos braços e curvava uma mecha de cabelos dela ao redor de seus dedos — que tudo bem. — Tudo bem? — repetiu Carrie. Ele lhe sustentou o olhar e assentiu. Era, se nada mais, um homem de palavra. Então Trent puxou-a para si como se ela fosse sua, por mais de um ano, por uma vida inteira. Às 3h daquela tarde, um buquê de flores foi entregue no trabalho de Carrie, peônias cor-de-rosa num arranjo tão lindo que parecia uma pintura de natureza morta sobre sua mesa. Ela soube instantaneamente que eram de Trent, e sorriu ao abrir o cartão. Encontre-me esta noite, às 19h. 5ª Avenida 727, eu serei aquele segurando a caixa azul. Curiosa e incapaz de esperar até as 19h, Carrie girou em sua cadeira e procurou o endereço no Google. Como era a vida antes da Internet!, perguntou-se, enquanto, impacientemente, esperava a localização aparecer na tela. Então, viu onde deveria encontrar Trent naquela noite, e uma onda poderosa de excitação a percorreu, como fogos de artifício contra um céu dourado. Era uma espécie de excitação que somente uma mulher poderia verdadeiramente entender. Ela olhou para o relógio e franziu a testa. Faltavam quatro longas horas tediosas... Trent a avistou antes que ela o visse, andando rapidamente ao longo da rua, usando um bonito conjunto branco de calça e blusa e sapatos pretos de salto alto. A loja tinha acabado de fechar, e sua surpresa ia chegar a qualquer momento. Ele estava impressionado por ter conseguido aquilo. Mas tudo, até mesmo a famosa loja Tiffany, permitia-se alugar pelo preço certo. Verdade, a coisa toda era um pouco 82
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antiquada, e já tinha sido feita em alguns filmes, mas o lugar também era típico de Nova York. Ele observou o guarda de segurança conduzir Carrie através das portas fechadas de aço. E, então, ela estava à sua frente com um sorriso levemente preocupado nos lábios. — Estamos entrando aqui ilegalmente? Ele riu. — Não. Há seguranças do lado de fora, como você viu, e há mais deles observando do andar de cima. E, em algum lugar por aqui, há um vendedor, mas todos estão sendo discretos. Carrie olhou ao redor, vendo estojo após estojo de jóias caras. — O que nós estamos fazendo aqui? — Já ouviu falar no filme Breakfast at Tiffany sim? — É claro. Trent pegou-lhe a mão. — Bem, em vez de café da manhã na Tiffany, este será um jantar na Tiffany. Os olhos verdes se arregalaram. — Você está falando sério? — Nunca falei tão sério em toda minha vida. Trent a conduziu para a sala principal, onde uma mesa estava arrumada para o jantar, completa, com toalha de linho branco, talheres de prata e mais peônias Cor-derosa. Carrie o olhou. ― Não acredito que vamos jantar aqui. Na loja. Cercados por todas estas pedras preciosas e metais caros. Ele assentiu. — Depois faremos uma compra. — O quê? — perguntou ela, balançando a cabeça e rindo daquela loucura toda. — Eu achei que estivesse na hora. — Hora do quê? — Olhe para seu dedo. Sorrindo de maneira travessa, Carrie ergueu ambas as mãos e balançou-as. — Qual delas? Ele apontou para o dedo anular direito dela. —-Não há anel aí, querida. — No seu dedo também não —- apontou ela. — Eu sempre pensei que, se um dia me casasse, jamais usaria um anel ou aliança. Carrie arqueou as sobrancelhas. — Interessante. E o que você pensa agora? Trent a envolveu em seus braços e a beijou. — Estou pensando que quero que você escolha um para mim. Ela sorriu. — Tudo bem. 83
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— E eu escolho um para você. O sorriso de Carrie se ampliou. — Certo. Atrás deles, duas pessoas do serviço de bufê esperavam para servi-los. Então, Trent saiu do lado de Carrie, deu a volta na mesa e segurou a cadeira para ela. Carrie se sentou com um agradecimento gracioso ao seu anfitrião e ajeitou o guardanapo no colo com um grande floreado. Trent lhe sorriu. Saber que ela estava se divertindo tanto lhe dava imenso prazer. Depois que os garçons puseram a refeição diante deles, Carrie olhou para cima, a expressão um misto de surpresa e ansiedade. — Pizza? — exclamou ela. — Eu pensei que você adorasse pizza. — Eu adoro. E perfeito. A noite toda está perfeita. — Pizza e loja Tiffany. Típico de Nova York. Enquanto eles comiam, conversavam sobre viagem, trabalho, família... Até aquele ponto, Trent compartilhara pouco sobre seus pais, principalmente porque não sabiá muito sobre eles como pessoas. Mas contou a Carrie sobre sua babá adorada enquanto ele crescia e sobre como eles faziam loucas escapadas na cidade, e sobre a vez em que tinham pegado a balsa para ilha de Staten e ficado tão perdidos a ponto de perderem a balsa de retorno, e terem de passar a noite na casa da prima da babá. — Foi o melhor dia da minha vida — ele contou a Carrie. — Exceto, talvez, por hoje. Ela sorriu e deu outra mordida na sua fatia de pizza. Quando o celular de Trent tocou, eles estavam tão entretidos numa conversa sobre o trabalho de arte da mãe de Carrie, que Trent deixou tocar. Mas logo um bip avisando que havia uma mensagem de texto o fez olhar para baixo. — Desculpe-me sobre isso. — Está tudo bem? — perguntou Carrie. Ele leu a mensagem na tela. — Nada vital. Apenas uma de minhas assistentes avisando que está indo embora depois de um dia de trabalho. — Uma de suas assistentes? Eu não sabia que você tinha mais de uma. — Eu tenho quatro. — Uau! — exclamou ela. — Boas promoções aconteceram. — Sei que parece loucura, mas elas são todas vitais. Minha carga de trabalho triplicou desde a promoção. Não que eu esteja reclamando. De qualquer forma, ela ficou até mais tarde para trabalhar com uma papelada que eu precisava para amanhã cedinho. — Ah. Bem, ela teve a atitude certa em avisá-lo. Muito profissional. Trent ouviu a pequena tensão no tom de voz de sua esposa, então guardou o telefone no bolso e a estudou, — Eu não queria interrupções esta noite, mas, infelizmente, o diretor da AMS não pode ficar indisponível. — Eu entendo — murmurou Carrie, o olhar desviando de Trent para o prato. — Isso pode ser frustrante algumas vezes. Você tem certeza que ainda quer continuar comigo? 84
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Ela fingiu pensar sobre o assunto. Então riu e respondeu: — Absoluta. Trent estendeu um braço sobre a mesa e pegou-lhe a mão. — Eu estou aqui com você. Levou alguns segundos para que Carrie respondesse, mas então assentiu. — Eu sei. — Ela gesticulou ao redor de si mesma. — Simplesmente não posso acreditar que você fez isto. — Qualquer coisa por você. Ela entrelaçou os dedos nos de Trent e sorriu amplamente. — Você está feliz, Carrie? — questionou ele. — Estou com você, Tanford. Isso sempre me faz feliz. Agora, pode me passar o azeite?
— Oh, meu bom Deus! — Você vai olhar para esta coisa a noite inteira? — Não a chame de "coisa". Eles estavam na cama. Trent lia, e Carrie olhava para o anel como se fosse um recém-nascido e ela quisesse memorizar seu rosto. Trent olhou por baixo de seus óculos sexies de leitura. — O anel é do sexo feminino? — Sim, e agora você feriu os sentimentos dela. Ele riu e pegou-lhe a mão na sua. — Você é louca, mas adoro vê-la tão feliz. — Eu estou feliz e nunca mais quero não estar feliz. Trent examinou o anel, a bonita aliança entrelaçada com diamantes que escolhera para Carrie após vê-la quase chorar ao avistar a jóia atrás de um vidro. — Ele é muito despretensioso... desculpe, ela é muito despretensiosa. — Eu não sou o tipo de garota que gosta de pedras grandes. —- Esta aliança é minha, nossa, perfeição. — Carrie virou-se para ele, as pernas deslizando sobre as coxas de Trent, cobertas pelo pijama. Aquele era um movimento padrão de Carrie, e ela sabia que ele adorava.—Você tem um excelente gosto, a propósito. Ele passou um dos braços ao redor dela. — Eu não tive nada a ver com isso, mas obrigado de qualquer forma. — Você gostou da sua aliança? — Sim. Porém gostei mais do que você mandou gravar nela. — Ah, sim. — Ela pigarreou e murmurou em tom dramático: — Um dia, um ano, para sempre. Nossa, eu sou boa. — Quando ele riu, Carrie o olhou. —Você não mudou de ideia quanto a isso, certo? Sobre a parte do "para sempre"? 85
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—Quer dizer, depois de vê-la conversar com seu anel como se fosse um ser vivo? Surpreendentemente, não. — Bom homem. — Sorrindo, ela estendeu os braços e removeu-lhe os óculos. — Faça amor comigo. — Psiu... — Trent estava em cima de Carrie em segundos. — Não na frente do anel. Carrie riu. — Ela é legal. Vai gostar de assistir. — Hmm. — Ele lhe encontrou a boca. — Estranho.
CAPÍTULO DOZE
Trent saiu da delegacia de polícia pela terceira vez naquele mês, com seu BlackBerry na mão. Despediu-se de seu advogado com um aceno de cabeça silencioso, e entrou em seu carro: O interrogatório havia começado com o mesmo tipo de perguntas de sempre, com uma bem ridícula no final. McGray questionara Trent se a carta que ele recebera tinha chegado em sua casa ou no escritório, e de que tipo de papel a carta e o envelope eram feitos. Trent lhe dissera tudo de que podia se lembrar, mas McGray pareceu frustrado, quando, finalmente, liberou Trent. Obviamente eles não estavam mais perto de solucionar o mistério da morte de Marie. O motorista manobrava através do trânsito congestionado do fim de tarde. Trent já tivera um dia cheio de trabalho, então aquele encontro com a polícia, e agora estava a caminho do restaurante Pacheco. Iria encontrar dois donos de agências publicitárias e os executivos importantes do grupo deles no restaurante espanhol. Ele quisera levar Carrie consigo, mas ela já dera a noite de folga para Wanda, portanto, ia ficar até tarde com a mãe. Trent agora detestava ir sozinho aos eventos sociais. Ele sorriu, meneou a cabeça. Que mudança! E realmente a queria lá esta noite, mais do que nunca, porque seu pai estaria presente, simbolicamente passando a tocha na frente de seus publicitários mais antigos. Mas ele a encontraria mais tarde, na cama, e se certificaria de que Carrie tivesse um café da manhã adorável. Deus, ele era tão patético. 86
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Faltavam cinco minutos para as 20h quando eles pararam diante do restaurante. Trent desceu do carro e entrou no estabelecimento.
Era hora do almoço no Park Café, e duas mulheres estavam sentadas a uma mesa pequena, bebendo café com leite e dividindo um pão doce grande demais. — Olhe este homem. A mulher pequena com os cabelos louros presos num coque agarrou o jornal da mão da amiga de cabelos escuros e o estudou. — Uau. Ele é tão lindo. — Veja a garota que está com ele. — A mulher de cabelos escuros falou em tom sério e quase deprimido. — Ela é perfeita. Deve ser atriz ou modelo. — Ela suspirou. — Eu nunca poderia arranjar com homem como esse. — Nenhuma mulher com aparência normal conseguiria agarrar um homem assim — disse a garota do coque. — Isso porque ele nem notaria uma de nós se passássemos por ele. Depois de dar um gole em seu café, a moça do coque sério falou: — Eu não posso continuar olhando para nenhum dos dois. Preciso ir trabalhar. Você quer ir ao cinema esta noite? — Em vez de fazer o quê? — perguntou a morena, sorrindo. — De ir à boate exclusiva Bungalow 81. A do coque louro bufou. — Sim, até parece. As duas riram, então se levantaram e saíram do Park Café, deixando para trás xícaras de café vazias e o jornal que estavam folheando antes. Carrie pegou seu cappuccino duplo e observou-as saindo. No passado, ouvira aquela conversa centenas de vezes em sua própria cabeça ao ver um homem muito bonito que estava fora de seu alcance. Ora, pensara todas aquelas coisas quando conhecera Trent. Graças a Deus, essa parte de sua vida estava acabada, pensou, relembrando-se da manhã muito satisfatória que passara com seu marido, seguida pelo gesto doce de Trent de lhe servir o café da manhã na cama. Curiosa, Carrie andou até a mesa das moças — desocupada agora — e pegou o jornal. Virou na seção de entretenimento, a fim de procurar o homem e a modelo aos quais elas haviam se referido. No momento em que os encontrou e focou os olhos na fotografia no centro da página, sentiu como se todo o ar tivesse sido drenado de seu corpo. Lá estava a foto de seu marido com uma loura maravilhosa. Os dois estavam muito perto, o braço de Trent ao redor da mulher. Ele parecia prestes a beijar-lhe o rosto. A manchete de jornal parecia gritar para Carrie: As Pessoas Bonitas Festejam no Pacheco. 87
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Ela sentiu frio, e um tipo de entorpecimento a envolveu enquanto lia o artigo para procurar o nome de seu marido e alguma explicação sobre o motivo pelo qual ele estava com aquela mulher, quando deveria jantar com um bando de homens velhos. Porque tinha de haver uma razão, certo? Trent não lhe mentiria. Não estaria saindo com outra mulher, enquanto Carrie estava cuidando da mãe doente. Ela reprimiu seu ciúme e seus rápidos sentimentos de desconfiança. Não ia mais fazer isso; prometera a si mesma. Havia uma explicação. Apenas precisava encontrá-la. Quando Carrie encontrou o artigo, leu: "Ontem à noite, no Pacheco, o atraente diretor da AMS, Trent Tanford, socializou-se intimamente com uma loura misteriosa." Com o coração disparado de ansiedade, Carrie estudou a mulher no jornal. Havia alguma coisa sobre ela... parecia tão familiar. Carrie continuou olhando a foto. Ela a conhecia. Mas como? De onde? Ela era modelo ou atriz, como as duas mulheres sentadas à mesa antes tinham sugerido? Ou era... Então Carrie congelou. Como um filme silencioso passando em sua cabeça, viu a si mesma, tarde da noite, abrindo a porta para mais um membro da "Tropa de Trent", Seu coração se apertou de tristeza. A loura misteriosa não era mais um mistério. Era uma das mulheres que batera à sua porta, procurando por Trent. Carrie jogou o jornal de volta na mesa, deixou seu café e croissant e saiu do Park Café. Por que havia se permitido apaixonar-se por um playboy! Por que não deixara as coisas como tinham sido combinadas no começo? Por que não conseguira cumprir sua parte no acordo de negócios... sem sexo, sem amor? Droga. Na noite anterior, quando Carrie chegara tarde da casa de sua mãe, Trent dissera que a reunião de negócios tinha sido "boa". Obviamente. Ele mudara de assunto logo depois disso, ela lembrou. As palavras de Amanda ecoaram em sua cabeça: "Não espere que um homem mude." De volta ao seu edifício, Carrie apertou o botão do 2º andar, e tentou não pensar sobre o que ela e Trent haviam feito no elevador menos de uma semana atrás. Ela saiu no corredor e entrou no seu apartamento. Não, aquele era o apartamento de Trent, corrigiu-se. Ela teria de ir morar com a mãe por enquanto. De maneira alguma ficaria ali com ele. Não depois daquilo. Carrie podia ter sido uma esposa comprada, mas não aceitaria um marido traidor. Um que tinha lhe mentido e lhe prometido fidelidade. Ela andou de um lado para o outro, então se sentou à mesa de Trent, pegou um pedaço de papel e uma caneta. Por um momento, imaginou se estava agindo com racionalidade, se suas ações e reações estavam erradas, ou sendo influenciadas, mais uma vez, pelas lembranças que possuía de seu pai. Todavia, nem mesmo seu pai, com todos os seus defeitos, traíra a esposa. Os fatos estavam ali. Aquela loura tinha aparecido à porta de Carrie no meio da noite, procurando 88
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Trent. E Trent nunca negara que aquelas mulheres eram suas amantes. Pura raiva a assolou. Estava cansada de confrontá-lo, de conversar racionalmente. Bastava para Carrie. Após terminar a carta e colocá-la sobre a mesa dele, ela apanhou seus pertences e foi embora.
Ele era um homem casado feliz, com chance de construir uma família de verdade. A única coisa que seu pai lhe fizera de certo. Um mês atrás, tudo se tratara de poder e status para Trent. Agora, era tudo sobre Carrie e os dois construindo um futuro juntos, talvez um pequeno Trent ou uma Carrie em miniatura, se sua esposa adorável estivesse disposta a engravidar. Trent entrou no hall de seu apartamento às 7h30 da noite, com uma sacola de comida na mão. Não tinha idéia se Carrie gostava de comida tailandesa, mas eles poderiam experimentar. Então talvez um filme. As últimas noites haviam sido preenchidas com trabalho e obrigações. Esta noite, seriam somente os dois. Mas, antes, Trent teria de lhe dar um pouco de vinho, porque tinha quase certeza de que ela vira o jornal do dia. Carrie não retornara nenhum de seus telefonemas durante o dia, o que significava uma das duas coisas: que estava loucamente ocupada no trabalho, ou lhe dando um gelo. Não que Trent a culpasse. Era um tolo por não ter avisado Carrie. O que estivera pensando para deixar sua esposa ser pega de surpresa daquela maneira? Ele vira aquele fotógrafo, mas estivera muito preocupado com os publicitários, e com o fato de que esquecera algumas folhas do projeto no escritório. — Querida, cheguei. Não houve resposta. Trent andou pelo apartamento escuro, verificando os banheiros. Nada. Ela não estava em parte alguma. Ele franziu o cenho. Talvez Carrie não tivesse chegado em casa ainda. Ou talvez tivesse dado uma passada na casa da mãe. Ele foi para sua mesa e pegou o telefone. Mas, quando viu o bilhete com seu nome, parou. Enquanto lia, choque se apoderou de seu ser, e o manteve firme até que ele terminasse a última palavra. Então, ao entender o que Carrie fizera, a raiva penetrou seu sangue e pareceu escorrer de suas veias. Sim, ela havia visto a foto, mas, em vez de conversar com ele sobre isso, fugira. Abandonara-o, como o maldito pai de Carrie fizera. As palavras dela no outro dia não tinham significado algum. Carrie não confiava nele ou no casamento que alegara querer tanto. Porém, pior do que tudo, não tivera a coragem de enfrentá-lo e lhe dizer aquilo pessoalmente. Isso Trent não podia tolerar. Seu rosto era uma máscara de ódio quando amassou o bilhete na mão e atirou-o na lata de lixo.
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CAPÍTULO TREZE
Carrie estava morando com sua mãe há quatro dias quando recebeu uma carta de Trent. Era a primeira vez que ouvia notícias dele desde que saíra do apartamento, e da vida dele. Havia alguns papéis que ela precisava olhar, ele escrevera, e iria deixá-los no escritório para que Carrie apanhasse. Trent também tinha incluído os horários do dia em que estaria fora de seu escritório, de modo que eles não se encontrassem. O coração de Carrie se contraiu dolorosamente. Aqueles tinham sido os quatro dias mais longos de sua vida. Sentia tanta falta de Trent que chegava a doer. Mas era óbvio que ele não se sentia da mesma forma. Ela parou diante do balcão da cozinha em seu traje social e olhou para o bilhete digitado, nem mesmo escrito a mão. Papéis que ela deveria dar uma olhada... Sobre o que se tratavam? Papéis de separação? Papéis de divórcio? Ele certamente queria acabar com aquilo o mais rapidamente possível. Talvez quisesse tornar as coisas menos complicadas para ele e a loura, pensou com amargura. Talvez a mulher já tivesse se mudado para o apartamento dele, para a cama de Trent. Subitamente ela sentiu como se um peso enorme estivesse posicionado sobre seu peito, intensificando a dor em ondas de desespero e ansiedade, e sofrimento pela perda de uma amizade maravilhosa. Mas Carrie era uma pessoa teimosa, e não rastejaria para um homem que não a amava, um homem que pensava que ter uma amante loura fora do casamento não fazia mal algum. Ela pegou sua bolsa e saiu para trabalhar. Passaria no escritório de Trent naquela tarde, durante um dos horários em que ele estaria "fora". Era melhor acabar com aquilo de uma vez por todas...
— Alguma coisa para almoçar hoje? Trent olhou para cima e meneou a cabeça. — Não, obrigado. Danny, o entregador de sanduíches, não se moveu. Continuou parado à porta e 90
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esperou. Trent deu um suspiro exasperado. Não estava no humor para aquilo. — Nada pessoal, Dan. Eu vou almoçar fora. — Com sua esposa? — Não. — Trent murmurou entre dentes, o maxilar tenso. — Não que seja da sua conta. — Isso é verdade. Trent olhou para cima, encarou o garoto de rosto sardento que entregava sanduíches durante o dia e mergulhava em livros de advocacia às noites. — O que você quer? — Eu quero lhe fazer uma pergunta. — Pergunte logo, então. Tenho uma montanha de trabalho aqui. Danny raramente entrava no escritório de Trent, mas, dessa vez, resolveu fazer exatamente isso, e se sentou à mesa diante dele. —- Se eu tivesse me transformado em uma máquina durante a noite, uma máquina que nunca saiu do escritório, você me diria alguma coisa? Trent o fitou. — Sim, eu diria: bom para você... que entende como se virar nesta cidade. Danny bufou. — Talvez você tivesse dito isso antes de... — Eu não tenho tempo para esta conversa — interrompeu Trent, irritado. — Você estava feliz, Trent. Mais feliz do que eu jamais o vi. Que diabo aconteceu? Trent o olhou com impaciência, realmente furioso agora. —-É sr, Tanford. Danny suspirou e se levantou. — Tudo bem, sr. Tanford. Eu vou embora. Mas antes, só quero falar uma coisa. — Embora Trent estivesse meneando a cabeça com irritação, Danny continuou: — Quando você se ofereceu para pagar minha escola, alguns anos atrás, minha família não gostou. O semblante de Trent se transformou numa carranca. — E por que não? — Eles achavam que apenas família deveria ajudar família. — É claro. — Mas eu disse a eles que você era como família para mim, como um irmão. Expliquei-lhes que família nem sempre vinha do sangue. — Aonde você está querendo chegar, amigo? — perguntou Trent com menos hostilidade do que um momento atrás. — O que estou tentando dizer é que talvez você não tenha tido o tipo de família que queria quando era criança, mas pode ter agora. Trent assentiu. 91
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— Este é um bom pensamento, Danny. — Ela é sua família. — Pare. — Trent balançou a cabeça. — Vá embora agora. Eu preciso voltar ao trabalho. Até amanhã. Depois que Danny saiu, Trent tentou recuperar sua linha de pensamento, mas era impossível. As palavras de Danny quase o fizeram acreditar, por um segundo, que ele realmente poderia ter o que o garoto sugeria. Uma família. Com Carrie. Então a realidade o encarou de frente. Ele não tivera uma família quando criança, nem quando jovem adulto, e não teria uma agora. Aquela espécie de sonho era para crianças idealistas e adultos que adoravam a Disneylândia. A mulher para quem ele entregara seu coração o jogara de volta em seu rosto. Enquanto Trent olhava para a tela de seu computador, um pensamento, uma questão, entrou em sua mente sem convite. Era uma pergunta sobre a qual nem mesmo queria pensar, porque aquilo talvez o fizesse se sentir parcialmente culpado pela partida de Carrie. Sim, Carrie havia se agarrado fortemente a medos, mas o quanto Trent verdadeiramente tentara aliviá-los? Também tinha escondido coisas dela, como o encontro com a polícia. Não abrira e desnudara toda sua vida diante de Carrie. Era possível que também tivesse seus próprios medos? Trent balançou a cabeça, tentando clarear seus sentimentos, mas era uma tarefa impossível. A idéia de que pudesse ter ofendido Carrie de alguma maneira, ou o relacionamento deles, agora não saía mais de sua cabeça, juntamente com a imagem do rosto dela... aquele rosto doce e sorridente que ele sabia que jamais conseguiria esquecer.
A mulher atrás da mesa pediu que Carrie esperasse apenas um minuto. Carrie assentiu para a secretária de Trent e se sentou na sala de espera. Seu estômago se revolvia com nervosismo. O que estava fazendo lá?, perguntou-se com tristeza. Indo apanhar alguns papéis? Algo que legalmente cancelava o "acordo" deles? A porta do corredor estava aberta, e Carrie podia ouvir a secretária de Trent falando com alguém. Virou-se e olhou sobre o ombro. Tudo que conseguiu ver foram bexigas e saltos altos. Mas, então, a pessoa que estava segurando as bexigas entregou-as para a secretária de Trent, e Carrie foi capaz de ver a mulher que as estivera segurando antes perfeitamente. Oh, meu Deus! A loura da fotografia. Carrie se levantou num salto. Uma raiva desenfreada a dominava, e ela mal conseguia respirar. Com pernas instáveis, andou até a porta. A loura continuou falando com a secretária de Trent, e não notou a aproximação de Carrie. E então Carrie estava diante dela, inundada de raiva e com o coração partido. — Você — exclamou Carrie em tom de acusação, encarando a jovem excepcionalmente bonita. 92
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— Sra. Tanford? — A secretária de Trent pareceu preocupada. — Se apenas aguardar sentada, eu já irei lhe falar. — Sra. Tanford? — perguntou a loura com um sorriso genuíno. Ela estendeu a mão para Carrie. — Olá, eu sou uma das assistentes do sr. Tanford. Acho que não nos conhecemos. Carrie fez uma careta. — Oh, nós nos conhecemos. — Assistente dele? Bela cobertura. As sobrancelhas da mulher se uniram. — Perdão? — Você está pedindo perdão por ter destruído um casamento? A secretária de Trent engasgou, e a loura pareceu chocada. — Acho que você está me confundindo com alguma outra pessoa. — Não. Acho que me recordo de você agarrando meu marido no jornal. A loura meneou a cabeça. — Não, não, não. A foto deu uma impressão completamente equivocada. —É claro que deu. — O restaurante estava muito barulhento. O sr. Tanford teve de se inclinar para me pedir que voltasse ao escritório e pegasse um arquivo que ele tinha esquecido. Carrie bufou, deu de ombros. — Claro, isso pareceria totalmente lógico se eu também não me lembrasse de você batendo à minha porta no meio da noite, procurando por Trent. — Isso aconteceu diversas semanas atrás, certo? — Certo. — Eu estava procurando o sr. Tanford. Carrie deu um suspiro exasperado. A mulher era tão estúpida quanto uma caixa de pedras. — Eu sei. Acabei de dizer isto. Ela balançou a cabeça. — Não, eu costumava ser assistente do sr. Tanford pai. Ele não conseguia encontrar o filho naquela noite, e enviou-me para procurá-lo. Mas sinto muito por ter perturbado você. De verdade. Alguma coisa começou acontecer dentro do peito de Carrie. Um calor a circundou, fazendo-a pensar que talvez tivesse cometido em enorme erro. — Mas o sr. Tanford está aposentado. Uma outra mulher se aproximou delas, com um presente na mão. — Lauren, nós temos de ir. Estão todos esperando. A loura, que Carrie agora sabia que era Lauren, voltou-se para ela e disse: — Meu chá de cozinha. — Chá de cozinha? — repetiu Carrie com fraqueza. — Na verdade, chá de cozinha e chá de bebê, ao mesmo tempo. — Lauren tocou o braço de Carrie e explicou a situação: — Quando o sr. Tanford se aposentou, eu ia ficar 93
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sem emprego. Prestes a me casar, grávida e desempregada. Nada bom. Os joelhos de Carrie ameaçaram ceder. Lauren continuou: — O novo sr. Tanford disse que me manteria como assistente, e, depois que o bebê nascesse, também. Meu noivo ainda está estudando Medicina, portanto não temos uma ótima renda no momento. Esta empresa oferece grandes benefícios. Se Carrie pudesse escolher um superpoder naquele momento, teria optado por se tornar invisível. Mas não era super-heroína; na verdade, possuía muitos defeitos. Ela balançou a cabeça e fechou os olhos por um segundo. — Eu sou tão boba. Uma idiota ciumenta e insegura. A secretária de Trent suspirou. — Nós todas já passamos por isso, querida. — Sinto muito — Carrie desculpou-se com Lauren. Lauren sorriu. — Está tudo bem. — Não está, mas obrigada de qualquer forma. Você pode esperar um enorme presente meu para o bebê. Um carrinho de passeio, um berço, uma casa nova ou algo assim. Lauren riu. — Você é divertida. Não é de admirar que o sr. Tanford está sempre tentando ir para casa mais cedo. Carrie sentiu como se tivesse levado uma bofetada. Precisava ir embora dali, e depressa. Virou-se para a secretária de Trent. — Eu falo com você assim que possível. Trent me deixou alguns papéis... A mulher assentiu. — Estão sobre a mesa do sr. Tanford. Você quer que eu vá buscá-los ou... — Eu mesma vou. Obrigada. Após mais um rápido pedido de desculpas para Lauren, Carrie virou-se, voltou em direção à sala de espera e então entrou no escritório de Trent. Ela permaneceu parada ali por um momento, tentando se recompor após aquela situação desastrosa com Lauren. Então olhou ao redor. É claro que Trent não estava lá. Todavia, Carrie podia senti-lo em todos os lugares. Seu gosto, suas cores no ambiente, seu aroma. Ela o queria. Queria-o tanto. Mas sabia que, depois do que tinha feito e da maneira como agira, não o merecia. Pegou o envelope sobre a mesa. Seu nome estava escrito lá, com a letra de Trent. Carrie teve medo de ver o que havia ali dentro. Mas sabia, mesmo antes que abrisse o envelope. Papéis de divórcio. Teve vontade de vomitar. Novamente. Estava tudo lá... o contrato de um ano... Oh, Trent. Ele não ia faltar com nada que havia lhe oferecido. Carrie suspirou. Não se importava com isso. Não aceitaria mais nada de Trent. Mas foi o que estava incluído na página seguinte que levou lágrimas aos seus olhos. Trent iria pagar as despesas médicas de sua mãe pelo resto da vida de Rachel. 94
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Carrie colocou o envelope de volta sobre a mesa e saiu do escritório sem assinar os papéis.
CAPÍTULO CATORZE
― Que jogo ela está fazendo, Devlin? Ela quer mais dinheiro? — Trent estava sentado na sala de seu advogado, olhando para ele do outro lado da mesa, que parecia totalmente confuso. — Ela alega não querer nada de você. — Não é possível — murmurou Trent com irritação. — Ela diz que não vai assinar os papéis, a menos que você retire cada ajuda que ofereceu. Trent praguejou. — Eu não vou fazer isso. Devlin deu de ombros. — Por que você está lutando contra isso? E o sonho de qualquer homem. — Isto dificilmente é um sonho, Jerry. Para mim, toda esta situação é um maldito pesadelo. Uma semana atrás, eu estava feliz. Minha esposa estava feliz. Ela me amava. Eu... — O quê? — perguntou Jerry, confuso pela atitude estranha de seu cliente. Trent meneou a cabeça e olhou para fora pela janela. — O que você quer fazer, sr. Tanford? — pressionou Devim, a mão posicionada sobre os papéis de divórcio não assinados. — Eu quero acabar com isto — retrucou Trent. — Acabar com tudo isto. — E exatamente o que estou tentando ajudá-lo a fazer. Acabar com seu casamento. — Não, Jerry. Eu quero acabar com isto, com esta conversa. Meu casamento? — Ele se levantou e pegou sua maleta. — Este eu quero de volta.
Estar na ilha de Staten numa quarta-feira à noite era uma experiência nova para Carrie, mas desconfiava que iria embarcar em muitas boas experiências novas a partir daquela noite, se tudo saísse como planejara. Estava do lado de fora de Denino 's Pizzeria Tavern, esperando por Trent, nervosa até a alma, mas sabendo que o que precisava dizer a ele, o que tinha a propor, era bom e 95
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certo. — Este é um lugar interessante para um encontro. Oh, aquela voz... ela sentira tanta saudade. Carrie ergueu os olhos para vê-lo andando na sua direção, os passos longos e determinados. Ele estava vestido casualmente, de jeans e camisa branca, com a mesma aparência de sempre: alto, bonito e formidável. Carrie tentou um humor leve. — Pensei que você adorasse pizza. Os olhos azuis de Trent escureceram, indicando que ele não estava no humor para nada leve. — O que houve, Carrie? Você não aceitou o acordo. — Eu disse que assinaria os papéis. — Eu não me importo com os papéis — replicou ele. — O que quero saber é por que você não quer me deixar ajudá-la. Ela sentiu o coração se apertar, e tudo que queria era correr para ele, enterrar o rosto no peito largo. — Por que você quer me ajudar, Trent? Por que não sair do casamento sem nenhum tipo de elo? Ele meneou a cabeça. — Eu não posso fazer isso. — Por que não? — perguntou Carrie gentilmente. — Não sou esse tipo de sujeito. Carrie inclinou a cabeça para um dos lados. — Tem certeza de que este é o motivo? — O que você quer dizer? — perguntou ele na defensiva, inclinando-se contra a parede externa do restaurante. Atrás deles, um grupo de clientes saiu do restaurante, andando em direção aos seus carros, com o cheiro de molho de tomate e alho seguindo-os. Carrie olhou para Trent. — Talvez você queira cuidar de mim e de minha mãe, manter estes elos, porque me ama. — Carrie... — Você me ama tanto quanto eu o amo, e não quer o fim de nosso casamento, mas seu orgulho está ferido, e entendo isso. É justo que se sinta assim. Eu o magoei, entrei em pânico, fiz tudo errado, e sinto muito... Trent bateu na parede com o punho cerrado. — Você me abandonou. — Eu sei — disse ela suavemente. — E foi errado e estúpido, mas não acho que isso deva pôr fim no nosso casamento. Ele olhou ao redor, e gesticulou. — Por que estamos aqui? Ilha de Staten. 96
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— Aquela história que você me contou sobre sua babá. Como ela o trouxe para cá no melhor dia de sua vida. Pensei que pudéssemos nos encontrar aqui, porque esta é a única história que conheço. A raiva desapareceu das feições de Trent. — O quê? — Nós nos apaixonamos um pelo outro imediatamente, e de maneira intensa. Tínhamos uma amizade também, mas não aprofundamos, Trent. Ele arqueou uma sobrancelha, e ela riu. — Sim, tivemos sexo fantástico, mas não trocamos histórias. O modo como nos casamos não foi convencional, para dizer o mínimo. Nós não tivemos o nosso tempo. — Nosso tempo para quê? — Para nos conhecermos. Eu não conheço sua história, sua infância, o que faz de você o homem que amo, o quê faz de você a pessoa que é. —Ela se aproximou um passo, parecendo esperançosa. — Entendi que eu me sentia tão insegura sobre amá-lo, porque não tinha a segurança de conhecê-lo... de conhecer sua história, sua vida. — Não é uma grande história — murmurou ele suavemente. Carrie estendeu um dos braços e tocou-lhe o rosto. — Não me importo. É a sua história, e eu o amo. O maxilar de Trent enrijeceu, e então ele assentiu com a cabeça. — Eu a amo, também. Lágrimas queimaram nos olhos de Carrie. Vinha querendo ouvir aquelas três palavras da boca de Trent por tanto tempo, e ouvi-las agora era o melhor presente, a melhor razão para ter esperança que ela poderia ter imaginado. — Ótimo — disse Carrie, o coração bombeando no peito. — Porque eu quero lhe oferecer um novo acordo. As sobrancelhas dele se arquearam. — Um novo acordo? Ela assentiu, respirou profundamente, prendendo-lhe o olhar com firmeza. — Eu quero lhe oferecer meu amor, meu coração, minha honestidade, meu compromisso com este casamento, e todas as minhas histórias. Trent puxou-a para si, então, e a envolveu em seus braços. — E o que eu terei de lhe dar? — O mesmo — replicou ela, descansando a cabeça contra o peito dele. Trent suspirou. — Desculpe-me por não ter lhe contado sobre a polícia e sobre o fotógrafo. Durante toda minha vida, meus pais, principalmente meu pai, pareciam concluir que eu era o culpado de tudo, sempre o culpado. Eu não podia arriscar isso com você. — Está tudo bem — Carrie o tranqüilizou. — Entendo que tentei conter meus sentimentos. — Trent beijou-lhe o topo da cabeça. — Eu estava me apaixonando por você e me recusei a reconhecer isso. Carrie meneou a cabeça. 97
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— Já passou. Está acabado. Hoje, aqui e agora, vamos recomeçar. — Ela ergueu a cabeça, fitou os olhos azuis com intensidade. — Aceite o acordo, Tanford, e não apenas para que conheçamos a história um do outro, mas também para que possamos criar um futuro juntos. Ele a abraçou com mais força. — Oh, meu Deus, eu a amo tanto. Estava enlouquecendo sem você, Carrie. — Eu também. — Nunca tirei minha aliança. Sou tão patético. — Então eu também sou patética — ela riu —-, porque nunca tirei a minha. Trent inclinou-lhe o rosto e beijou-a; um beijo terno e suave, que falava de amor e continha a promessa de um futuro aberto e honesto. — Casa-se comigo de novo? Lágrimas escorreram dos olhos de Carrie enquanto ela assentia. — Sim. — Um casamento na igreja? — Sim. Ele a beijou novamente, e desta vez o beijo continha ardor e paixão. Atrás deles, um casal saiu do restaurante, e a mulher bufou e falou secamente: — Vão para um hotel — antes de seguir seu caminho para a rua. Carrie e Trent caíram na gargalhada. — Você está com fome? — perguntou ele. — Quer pizza? — Estou faminta — disse ela, passando os braços ao redor da cintura dele mais uma vez, inalando aquele cheiro único que tanto adorava. — De pizza, de você, de nossa vida juntos, e daquelas suas histórias levemente perturbadoras de quando você era um menininho malvado. Trent sorriu. Oh, aquelas covinhas. — Por que não começamos com a pizza, depois fazemos esta lista, certo? — Com certeza — concordou Carrie, aconchegando-se a ele, enquanto eles entravam no Deninò, prontos para recomeçar, iniciando com uma pizza, e uma noite que era verdadeiramente típica de Nova York.
Fim PR
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