Raptada pelo Amor

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Raptada Pelo Amor (The Leopard’s Woman)

Linda Lael Miller

Raptada em pleno deserto e vendida a um desconhecido!

Olívia mal podia acreditar em seu destino. Agora, estava, nas mãos de Esteban Ramirez, um homem a quem não conhecia e que dizia ter direitos sobre ela, afinal pagara um preço muito alto para tê-la a seu lado. Olívia não queria acreditar em seu cruel destino. E não queria acreditar também que aquele homem bonito e educado pudesse ser seu algoz. Principalmente quando olhava nos olhos dele e via mais do que ódio...

Digitalização: Vicky Revisão: Bruna Cardoso


Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Copyright © 1992 by Linda Lael Miller Originalmente publicado em 1992 pela Silhouette Books, divisão da Harlequin Enterprises Limited. Título original: The Leopard's Woman Tradução: Júlia C. Cardia Editor: Janice Florido Chefe de Arte: Ana Suely Dobón Paginador: Nair Fernandes da Silva Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma. Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited. Toronto, Canadá. Silhouette, Silhouette Desire e colofão são marcas registradas da Harlequin Enterprises B.V. Todos os personagens desta obra são Fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Rua Paes Leme, 524 – 10º andar CEP: 05424-010 - São Paulo - Brasil Copyright para a língua portuguesa: 1999 - EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Fotocomposição: Editora Nova Cultural Ltda. Impressão e acabamento: Gráfica Círculo ROMANCES NOVA CULTURAL

CAPÍTULO I Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller

Olívia tinha os pulsos amarrados atrás das costas e, a cada solavanco, seu corpo batia contra o chão sujo e áspero do jipe. A única parte de sua mente ainda não dominada pelo terror, uma parte mínima, por sinal, lhe dizia que a aventura poderia lhe render um bônus generoso. Caso sobrevivesse para recebê-lo, evidentemente. O sol mexicano ardente cozinhava e tostava a pele de seus braços e pernas expostos pela blusa de algodão sem mangas e a bermuda caqui. O calor e a poeira faziam seus cabelos castanho-avermelhados, à altura dos ombros, grudarem no pescoço e no rosto. Mais um quilômetro viajando feito uma lagosta a caminho do caldeirão de água fervente, Olívia tinha certeza que acabaria vomitando. Não que preferisse que seus captores parassem. Ou que seguissem fosse para qual fosse o terrível destino planejado para ela. Fechou os olhos, tentando restringir-se à escuridão da mente, mas também não pôde esconder-se. Ali se passavam cenas horripilantes e a cores de um filme de terror classe B que vira há muitos anos. Incapaz de mudar as cenas e disposta a não pensar no presente, deixou os pensamentos viajarem para o passado. Até aquela fatídica manhã sua vida vinha transcorrendo de forma normal sob todos os aspectos. Logo que saíra da faculdade, há cinco anos, fora trabalhar para seu tio Errol, um famoso escritor de aventuras românticas com grande sucesso especialmente entre o público feminino. Começara como integrante da equipe de pesquisas e se apaixonara pelo trabalho demonstrando um ótimo desempenho. Com o acúmulo de experiências e muita dedicação acabou conquistando o direito de dirigir outras equipes e poder escolher entre as pesquisas solicitadas pelo tio. Fora uma conquista alcançada com trabalho árduo e idéias inovadoras. Claro que muitos não davam crédito ao seu esforço pessoal. O fato de ela ser o único parente vivo de Errol McCauley e porque fora criada e educada por ele, levava muita gente a acreditar que sua carreira excitante lhe fora oferecida numa bandeja de prata. Mesmo agora, naquelas circunstâncias recompensa, ainda que modesta.

desesperadoras,

Olívia

queria

uma

Pela milésima vez, o lado direito de seu rosto bateu no chão do jipe. E só naquele segundo, ela teria dado o emprego que tanto amava, ao primeiro que aparecesse. Ao sentir os cílios úmidos ficou aliviada em saber que não estava desidratada a ponto de não conseguir chorar. Derramou mais algumas lágrimas e fungou. Mal acreditava que ainda há pouco, naquela mesma manhã, estivera feliz da vida almoçando no terraço do seu quarto de hotel, protegido do sol causticante do México por um toldo listrado de vermelho e branco. Havia terminado a pesquisa de duas semanas, tio Errol estava escrevendo um romance sobre uma rica herdeira americana que depois de muitos julgamentos e tribulações, casara-se com um matador, e decidira se recompensar com algumas peças de cerâmica feitas numa colônia de artistas sobre a qual lera a respeito. Olívia adorava trabalhar com o barro. E tinha em casa um torno e um pequeno forno de cerâmica. Na verdade, fazia peças muito bonitas e até alimentava aspirações de algum Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller dia exibi-las em galerias e exposições de arte. Por mais que amasse seu trabalho e as aventuras dele provenientes, outro lado de sua natureza vinha se desenvolvendo com uma rapidez espantosa. Nos últimos tempos andava pensando em uma nova carreira e ser mãe. Não que um tivesse algo a ver com o outro. Já antevendo as maravilhas que seriam as peças, pedira instruções a um dos porteiros do hotel e partira num carro alugado para a tal colônia de artistas. Corria tudo muito bem, quando, em algum ponto do deserto, ela tomara uma direção errada. O horror que se seguiu teria servido de inspiração para um livro de Stephen King. A começar pelo sedã alugado, que lhe parecera em ótimas condições quando partira da firma onde o alugara na pequena cidade de San Carlos. De repente o motor começou a dar sinais de superaquecimento. Ela parou para verificar o radiador e este havia explodido, espirrando água fervente do lado interno do capo. Claro que não houvera como fazer o carro pegar novamente. Mesmo assim, Olívia não se alarmou. Já enfrentara situações semelhantes em partes bem mais selvagens do mundo, a que tio Errol costumava chamar de "atmosferas encharcadas". Lugares como a Colômbia, Marrocos e Nepal. Pelo menos tinha um cantil, protetor solar e um boné. Nem por um momento duvidara que se caminhasse um pouco mais, encontraria a tal colônia de artistas. Uma vez lá, alguém a levaria de volta para o hotel. De óculos escuros, braços e pernas lambuzados de protetor, e boné na cabeça, partira confiante pela estrada empoeirada. Vários tipos estranhos passaram por ela e Olívia ia anotando mentalmente a cor da pele, a estatura, o tipo de vestimenta. Quanto mais detalhes levasse para casa, mais feliz tio Errol ficaria. Em geral os romances que ele escrevia eram ricos em descrições minuciosas e vibrantes sobre os locais onde se passavam as aventuras. Já fazia uma hora que ela caminhava e nem sinal da colônia de arte. Para todos os lados que olhasse só via deserto, cactos e uma montanha ao fundo. Aquelas alturas suava em bicas e a coragem inicial rapidamente se transformava em medo. Foi quando o jipe apareceu, levantando duas faixas de poeira na estrada de terra. Olívia nem teve tempo de suspirar aliviada. Assim que o veículo freou ao lado dela, percebeu que os ocupantes, dois homens com olhares malignos, carregando rifles, não haviam parado para ajudá-la. Sem pensar duas vezes, fez meia-volta e se pôs a correr na direção do deserto sem fim, a areia quente queimando a sola de seus pés, apesar das sandálias. Eles a alcançaram facilmente. Olívia ainda gritara e lutara selvagemente, certa de que seria estuprada, depois largada para os abutres. Quando o mais jovem dos dois bandidos ergueu o braço para esbofeteá-la com as costas da mão, o outro lhe segurou o pulso, gritando furiosamente em espanhol. Depois disso, amarraram seus pulsos atrás das costas, prenderam os tornozelos com uma corda e a amordaçaram. O boné havia caído durante a luta. Olívia já havia perdido a noção do tempo. A sensação era de que viajavam há dias, mas sabia que quando muito só fazia umas poucas horas. Virou-se para o lado soltando um gemido baixo. A garganta e o nariz ardiam, todos os músculos do corpo latejavam, mas era o medo que mais a fazia sofrer. Não conseguia Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller esquecer os filmes baratos sobre garotas capturadas no México. De repente, fizeram uma parada brusca e ela bateu com a cabeça atrás de um dos bancos. Seu coração veio parar na boca. O bandido mais velho foi para trás do jipe, agarrou-lhe o braço e a fez sentar-se. Estava com a camisa encharcada de suor, foi só o que Olívia conseguiu notar antes da vista começar a escurecer. Então ouviu o bandido gritar num espanhol rápido demais para que ela entendesse em seguida desatar a mordaça e aproximar um cantil de sua boca. Ela bebeu com sofreguidão. O homem se zangou e afastou o cantil até que ela entendesse que devia tomar mais devagar. Olívia aquiesceu e novamente foi agraciada com o líquido abençoado. Quando ele finalmente decidiu que bastava, afastou o cantil e ordenou que ela se deitasse de novo. Olívia obedeceu, já que suas opções eram limitadas e ele a cobriu com um cobertor listrado, desses vendidos em bancas de mercado junto com estatuetas de louça, toalhas de mesa e bijuteria barata. O jipe partiu novamente. O calor embaixo do cobertor grosso se tornou dez vezes pior, mas Olívia ainda sabia reconhecer um gesto de bondade. Sem a coberta, o sol causticante literalmente a cozinharia viva. A viagem prosseguiu e parecia não ter fim. Olívia vagava do consciente para o inconsciente. Ainda tinha tanto a fazer, pensava com desespero. Conquistar um lugar no mundo das artes, casar-se, ter filhos, ganhar na loteria... Ela queria viver! Por outro lado, se estivesse prestes a ser vendida no mercado de escravos brancos, conforme suspeitava preferia mil vezes morrer. Como se alguém fosse lhe dar a opção! Houve mais uma parada para beber água, mas, àquelas alturas, Olívia se encontrava num mundo de sonhos. Estava em Connecticut, no sótão da magnífica mansão antiga de tio Errol, feliz da vida torneando potes, vasos e fruteiras que doaria para venda nas feiras locais de artesanato. Aos poucos, o calor insuportável foi amenizando e substituído por um ar gelado que a trouxe de volta à realidade amarga. Ela não ficou exatamente agradecida, mas sentiu-se feliz por ter o cobertor. Embaixo de seus ossos doloridos, o jipe seguia com os solavancos sem piedade, como se buscasse de propósito cada buraco da estrada, cada depressão ou sulco. De vez em quando, fazia uma curva abrupta e ela era jogada contra as ferragens que prendiam os bancos. Havia dado um jeito de espiar para fora do cobertor e podia ver uma galáxia de estrelas prateadas espalhadas pelo céu escuro como um estandarte numa festa cósmica. A faixa parecia dizer:

Adeusinho, Olívia. E uma pena que vá perder tanta coisa... A idéia de morrer a fez contrair a garganta de pavor. Tinha só vinte e seis anos e o mundo era lindo demais para ser deixado. De repente, o jipe subiu, desceu, e subiu de novo. Quando finalmente parou, ela ouviu novas vozes, todas de homens e falando a língua nativa. Desmaiou. Quando acordou, Olívia pensou que estivesse morta. Praticamente tudo no quarto onde se encontrava, desde os lençóis de linho bordado até as cortinas esvoaçantes, todos os detalhes eram em branco ou tons pastéis bem desmaiados. Estava agradavelmente Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller fresco. Pela janela aberta, ela podia ver as ondas brancas do mar azul-turquesa beijando as areias cor de marfim da praia. Tentou falar, não conseguiu. A garganta doía demais. Sentou-se e deslizou a mão pelos lençóis macios e caríssimos. Olhou para si mesma. Vestia uma camisola folgada de percal e tinha a pele vermelha e descascada dos braços untada com um creme liso e perfumado. Apesar de todo o luxo do quarto, na mesinha-de-cabeceira encontrava-se uma garrafa d'água modesta e uma vasilha de cristal com frutas frescas. Olívia se apavorou. Talvez não fosse um lugar amigável, afinal, fora trazida até ali por bandidos. Talvez se encontrasse numa espécie de casa intermediária, até ser enviada para a América do Sul ou então... Para a Líbia! O que tinha a fazer, claro, era encontrar suas roupas, descer pelo terraço e fugir. Viajaria a pé, se necessário. Ou caso tivesse sorte, tentaria roubar um carro. Felizmente, não precisaria das chaves. Numa das últimas pesquisas que fizera para tio Errol, aprendera até a fazer ligação direta. Com todo o cuidado para que os hematomas e as queimaduras não doessem ainda mais, afastou as cobertas e desceu da imensa cama de quatro postes. Mal tocou o chão, seus joelhos dobraram e por pouco ela não foi parar de cara no tapete macio de lã branca. Achou prudente voltar para o colchão. Deitou-se de novo, mas só do pequeno esforço, agora, além das queimaduras e hematomas, a cabeça latejava e o estômago ficara revirado. Olívia fechou os olhos com força. Precisava descobrir um meio de sair dali, pensou. Por mais terrível que seu seqüestro tivesse sido, ela sabia que o pior ainda estava por vir. Mas onde encontraria forças para tal? De repente, a porta foi aberta. Ela se encolheu toda, prendendo o ar, mas quem entrou foi uma mexicana de uns sessenta anos, nem gorda nem magra, usando um vestido simples de algodão e... Descalça! Exibia um sorriso sereno. Se também era bandida, ou melhor, alguém envolvida no mercado de escravas brancas, realmente não dava indícios. A mexicana se aproximou da cama e cumprimentou-a em espanhol. Pela primeira vez, desde que partira do hotel em San Carlos, Olívia conseguiu entender uma frase inteira. Com certa dificuldade, perguntou se a mulher falava inglês, mas, infelizmente, a resposta foi uma negativa com a cabeça. — Maria — foi tudo o que disse apontando para si mesma e depois para ela, Olívia que no mesmo instante disse seu nome. — Olívia. A mulher sorriu depois se virou para encher um copo com a água da garrafa e aproximou-o dos lábios de Olívia. Ela bebeu, agradecida, e o líquido fresco ajudou a melhorar a náusea. Em seguida recostou-se nos travesseiros macios e ficou olhando para o teto. Queria fazer tantas perguntas à simpática Maria, mas teria que falar demais para se expressar e o esforço só faria aumentar sua dor de garganta. Provavelmente acabou adormecendo porque quando abriu os olhos de novo, o sol, já mais fraco, entrava pela porta do terraço iluminando o chão de um ângulo diferente. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Houve outro barulho no trinco da porta, mas daquela vez Olívia não se alarmou, achando que fosse Maria. Mas não era. E quando o novo visitante entrou, ela simplesmente parou de respirar. Nunca vira um homem tão bonito em toda a sua vida. Tão forte charmoso e envolvente. Ele lhe pareceu perfeito, dos pés à cabeça. Mais alto que a média, com cabelos muito pretos e brilhantes, ligeiramente longos, pele cor de sândalo e dentes alvíssimos, quase parecia uma visão. Tudo nele encantava, mas foi à cor dos olhos que mais chamou a atenção de Olívia. Nem castanhos nem pretos, como os da maioria do povo mexicano, mas de um raro tom de violeta escuro. Olívia teve todos os motivos do mundo para acreditar que finalmente conhecia o chefe da quadrilha de traficantes de escravas brancas. Apesar de toda a dor de garganta, abriu a boca e soltou um grito de estourar os tímpanos. O mexicano fez uma expressão intrigada, virando-se para trás como se o grito tivesse sido para algum monstro que vinha logo atrás dele. Depois sorriu e fechou a porta. Usava calça preta, de algodão, enfeitada com uma fileira de botões prateados nas laterais das pernas. Calçava botas de cano longo e vestia uma camisa creme com mangas bufantes e aberta até o meio do peito. Na verdade fazia bem mais o estilo dos heróis lendários dos romances de tio Errol do que de um bandido. Mas Olívia não se deixou enganar. Deu outro grito, esticou a mão para a vasilha de frutas na mesa de cabeceira e arremessou uma das belíssimas romãs para o outro lado do quarto. A fruta passou rente à cabeça do bandido e espatifou-se na porta. — Fique longe de mim, seu... Seu... Rufião! Ele apoiou as mãos enluvadas nos quadris e soltou uma gargalhada, que soou como música aos ouvidos de Olívia. — Bem, pelo menos fico contente em saber que acabo de comprar uma mulher com personalidade.

CAPÍTULO II Projeto Revisoras

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Esteban Ramirez lançou um olhar para a vasilha ao lado da cama repleta de laranjas, maçãs, bananas e várias outras romãs e achou melhor se proteger contra novos ataques. Mas nenhuma outra fruta voou pelos ares do quarto. Sua bela e temperamental hóspede continuava ajoelhada no meio da cama encarando-o com uma expressão de horror e ao mesmo tempo desafiante. Ele experimentou uma sensação diferente. Um aperto num canto escondido do coração, uma impressão nítida de que sua vida acabava de sofrer algum tipo de mudança e nunca mais seria a mesma. Aprumou o corpo e tratou de afastar o pensamento. Agora já estava exagerando no sentimentalismo, censurou-se. Ainda assim, sentiu pena da garota, embora desconfiasse que, mesmo nas atuais circunstâncias, aquela criatura selvagem preferiria morrer a aceitar sua compaixão. De qualquer forma a terrível experiência pela qual ela passara, somada ao calor do sol mexicano, talvez tivesse afetado a mente da pobre moça. — Qual é o seu nome? — perguntou-lhe em inglês fluente e educado. — O que lhe interessa saber meu nome? Esteban suspirou. Em nenhuma de suas viagens aos Estados Unidos conhecera uma mulher tão insolente. A audácia daquela americana ao mesmo tempo em que o encantava, começava a irritá-lo. — Escute senhorita... — Eu exijo que me deixe ir embora. Imediatamente! Caso contrário, prometo que darei um jeito de entrar em contato com a polícia! Esteban riu de novo, admirando o espírito combativo da moça e, de certa forma, aliviado. Por trás do escudo metálico dos olhos, brilhava uma mente tão perspicaz quanto à dele. — Estamos numa região bastante selvagem do México, senõrita. Acredite-me, será bem melhor negociar comigo do que com os federais. Vou perguntar de novo. Qual é o seu nome? — Qual é o seu? Ele deveria tranqüilizar a moça, sabia disso e também sabia que Maria lhe arrancaria o couro se descobrisse que ele não estava se empenhando muito em aquietar os temores da hóspede. Mas o jogo começava a diverti-lo. E muito. Só de estar perto da garota era como beber água fresca depois de um dia no deserto ensolarado. — Esteban Ramirez — revelou com um ligeiro sorriso. Ela ergueu uma das sobrancelhas e afastou os cabelos da testa com movimentos graciosos demais para um temperamento tão forte. — Esteban... E a versão de Steve, certo? Esteban balançou a cabeça e durante alguns segundos ela o encarou como quem avaliava se o nome combinava com ele. Caso decidisse que não, Esteban pensou, podia apostar como mudaria para outro que achasse mais adequado. — Mas você não é o tipo de sujeito que se possa chamar de Steve. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Ele tentou conter o riso, mas provavelmente foi traído pelo olhar. — Não, "Steve" realmente não combina comigo — concordou e manteve-se quieto, aguardando. — Olívia — ela disse, finalmente. — Olívia Stillwell, mas não vejo o que isso tenha a ver. Uma escrava não precisa de um nome. — Você não é uma escrava, Srta. Stillwell. Devo dizer senhorita, não? Esteban fez a pergunta com toda a casualidade, mas, de repente, era como se seu mundo, sua vida inteira, dependesse da resposta que ela daria. Como se a fazenda que herdara do avô, as minas de prata, tudo o que ele possuía, mais o que era e o que sempre sonhara, dependesse do que ela ia dizer. Extraordinário, ele pensou. Precisava sair mais vezes. — Você me deixaria ir se eu fosse casada? — ela perguntou. — Como assim? — Bem, porque se esperava uma virgem, negociou a mulher errada. O coração de Esteban deu algumas batidas fora do compasso. Não deveria ligar a mínima se Olívia já se deitara com outro homem ou não, mas ligava. Esperava que sim e ao mesmo tempo em que não. — Como eu já disse antes, señorita, você não é minha prisioneira. Quando se sentir melhor, poderá ir para onde bem entender. Ela estreitou os belíssimos olhos cinzentos, extremamente desconfiada. — Fui raptada, senõr Ramirez. Ou será que ser levada contra a vontade própria não se chama mais rapto? E depois você mesmo disse a pouco que me comprou! — E falei a verdade, eu a comprei. Achei que seria mais gentil do que deixá-la à mercê da outra possibilidade, talvez bem menos... Civilizada. — Quero ir para casa. — E irá depois que tiver tempo de se recuperar da má experiência. — Não. Preciso ir já. Se permitir que eu ligue para o meu tio Errol, em Connecticut, tenho certeza que ele providenciaria um transporte especial. Ah, ela não era casada nem comprometida, Esteban concluiu. Se fosse, não teria dito que queria ligar para o tio. A descoberta o deixou estranhamente feliz, mas em seguida veio uma espécie de frustração ao pensar que ela partiria. Tratando de esconder, e muito bem, o conflito interno, Esteban se zangou consigo mesmo. Podia ter a mulher que quisesse em qualquer parte do mundo. Mulheres bem mais bonitas e sofisticadas que aquela. Não precisava daquele trapo vermelho insignificante, coberto de sardas, bolhas e valentia. Nunca! — Daqui ao telefone mais próximo são setenta quilômetros, senõrita. Como se fosse possível o rosto dela ficou ainda mais vermelho. — Mas meu tio ficará preocupado se eu não der notícias! — Entenda as coisas aqui no México andam num passo mais lento que no seu país. — Mas... Mas você deve ter um rádio de ondas curtas para casos de emergência. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Poderia enviar uma mensagem através dele, não? Esteban suspirou. — Não há rádios, moça. Aqui vivemos quase como no tempo de nossos avós. Temos um gerador que mantém o aquecedor de água e os aparelhos elétricos da cozinha. Esteban a viu olhar para a lamparina a querosene sobre a mesa-de-cabeceira e depois para o teto vazio onde deveria ter um lustre como em todos os prédios das cidades grandes. — Quer dizer que vocês não têm um rádio? — Não. — Nem telefone? Nem fax? Ele riu e por um momento teve vontade de tomá-la nos braços. — Sinto muito, mas por aqui estamos mais para a baixa tecnologia. Maria até que possui uma tevê bem pequena, movida a bateria. Mas não acho que vá gostar de cópias dubladas em espanhol. Ela fez um adorável beicinho de birra e entrou embaixo das cobertas, só deixando a cabeça de fora. — A sua ajuda também não foi das melhores, señor Esteban. — Você acha, é? Pois vou lhe dizer uma coisa, Srta. Stillwell. Se não fosse por mim a esta altura estaria implorando para morrer. Ela arregalou os olhos ao ser lembrada do que poderia ter acontecido, mas logo depois o fulminou de novo. — Desculpe-me se não consigo me sentir agradecida por me manter prisioneira aqui nesta casa. Cansado de tentar se explicar e irritado porque ela não acreditava em nada do que ele dizia, Esteban abriu a porta. — Pois saiba que eu nunca esperaria gratidão de uma colegial americana mimada e sem um pingo de juízo já que vagueia sozinha pelo deserto. E depois daquelas palavras duras ele achou melhor se proteger, saindo. De fato, mal fechou a porta, ouviu o barulho de mais uma fruta se espatifando na madeira. Afastou-se rindo. Por mais que amasse a fazenda, Esteban reconhecia que era um lugar solitário. Pelo menos durante os próximos dias á Srta. Stillwell poria um pouco de agitação em sua vida normalmente calma. Pouco depois que Esteban saiu, a gentil Maria trouxe o almoço, que consistia numa espécie de sopa gelada com verduras picadas chamada gazpacho. Olívia ficou constrangida por causa das frutas espalhadas pelo chão, mas enquanto tomava a sopa, a governanta limpou toda a sujeira, sempre com um sorriso curioso no rosto simpático. Quando se aproximou para retirar a bandeja de seu colo, Olívia deu um longo suspiro. — Oh, como eu gostaria que você falasse inglês, Maria... Assim poderíamos conversar, nós duas. Eu lhe contaria sobre o meu tio Errol, sobre os prêmios que ganhei com a minha cerâmica e você poderia me contar sobre o seu patrão. Ele é um grande bastardo. Digo o señor Ramirez, não o meu tio. Mas imagino que goste dele. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Maria ouvia educadamente, apesar de entender só uma palavra ou outra. Quando Olívia ficou quieta, sorriu de novo e disse alguma coisa gentil. Assim que saiu do quarto, Olívia se levantou com as pernas ainda trêmulas e foi até o banheiro. Ficou feliz em descobrir que possuíam sistema de água encanada o que era um consolo. De volta à cama, decidiu arquitetar um plano de fuga, mas logo percebeu que não conseguia raciocinar direito. Ainda estava com a cabeça um tanto embaralhada o que não era de surpreender em quem tivera o cérebro praticamente gratinado pelo sol escaldante do México. Fechou os olhos e dormiu. Quando acordou, Maria acendia a lamparina ao lado da cama e a pequena mesa no canto do quarto estava arrumada com uma refeição leve. — Buenas noches, sehorita. — Buenas noches, Maria. A lamparina acesa trouxe um ar tão aconchegante ao quarto, que Olívia quase esqueceu que era prisioneira naquela casa. O jantar consistia de arroz e uma mistura pouco condimentada, mas muito colorida, de lascas de peito de frango, pimentões verdes e vermelhos, cenouras e cebolas cortadinhas. Ela comeu com apetite, depois fez questão de dizer "gracias" quando Maria voltou para recolher os pratos vazios. A governanta sorriu exultante. Maria lhe dispensava tanto luxo, que durante alguns minutos a fez esquecer a condição estranha e perigosa em que estava vivendo. Mas bastou Maria se retirar para que Olívia voltasse a ficar deprimida. Apesar da barreira do idioma, gostava da companhia da governanta por quem se sentia agradecida pela ajuda. Agora ela sabia que fora Maria quem lhe dera um banho quente quando chegara à fazenda. Lembrava-se vagamente da cena, Maria tratando seus ferimentos com antisépticos e as queimaduras de sol com uma loção refrescante. Sentia-se em débito para com aquela amiga silenciosa. Inquieta, Olívia decidiu explorar o terraço. Talvez houvesse uma treliça ou algo parecido, por onde pudesse descer quando se sentisse forte o bastante para fugir. Ou talvez até descobrisse que estava no andar térreo da casa, embora duvidasse. Destravou as portas duplas e quando saiu o impacto da beleza tropical a deixou paralisada. Aquele lugar não tinha nada a ver com o México da areia, aranha e cactus que ficara gravado em sua mente desde o rapto. Não. Ali, a paisagem mostrava palmeiras curvas de encontro a um céu magnífico, pontilhado de estrelas, e uma lua de prata banhando-se nas águas tão azuis do mar, que mesmo à noite era possível distinguir o tom. Logo abaixo do terraço havia um pátio de tijolos e mármore, uma grande fonte, flores tropicais em várias tonalidades de rosa, azul e amarelo e diversos bancos brancos de ferro batido. Todo o conjunto era iluminado pelas estrelas e a lua além de velas tremeluzentes dentro de globos de vidro. Encantada, Olívia foi acompanhando o gradil atrás de um lugar para descer. Não encontrou nada, nem treliças nem árvores. Na verdade, a única alternativa seria um salto de três metros e meio de altura para dentro de uma banheira redonda de água quente. Uma aventura e tanto, ela pensou, e para a qual não se sentia preparada. Enquanto olhava, a água verde-esmeralda da banheira começou a borbulhar. Não estava nem um pouco preparada para a aparição de Esteban, magnificamente nu, Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller atravessando o deque de pastilhas para mergulhar o corpo atlético dentro da banheira. Mesmo sabendo que devia se afastar, ela continuou olhando, mais uma vez paralisada pelo impacto da visão. De repente, ele ergueu o olhar para cima e ela sentiu o rosto em chamas. — Quer me fazer companhia? — Esteban a convidou, exibindo fileira de dentes alvíssimos. — Já que me comprou suponho que deveria ordenar. — Então se eu ordenasse você obedeceria? — Claro que não. — Pois é... — Ele ergueu a mão resignado. — Já não se encontra mais uma boa escrava amante nos dias atuais. A água batia na cintura dele. Olívia deu graças por não ter pulado do terraço para dentro da banheira ou teria enterrado a cabeça até o pescoço. — Você não disse que não havia eletricidade na casa? — perguntou mudando de assunto. — Refere-se a isto? — ele apontou para a banheira borbulhante. — Eu disse que temos um gerador portátil. Diversos, na verdade. Olívia cruzou os braços, desconfiada. — Pois acho que está me enganando, señor Ramirez. Exijo que me liberte imediatamente. — Sinta-se à vontade, sehorita. — Esteban fez um gesto para escuridão em volta do pátio. — Só a aconselho a seguir para o norte, levar o máximo de água possível e tomar cuidado para não ser raptada de novo. Teve muita sorte da primeira vez. Olívia mordeu o lábio com força. Por mais que odiasse admitir, Esteban tinha razão. Pelo menos de vez em quando ele bem que podia estar errado, não? — Certo e obrigada pelos conselhos. — Disponha. Esteban se refestelou na banheira, pousando os braços musculosos na beirada. Não dava para ver com certeza, mas Olívia podia apostar como fechara os belos olhos, entregando-se ao calor e movimento da água. — Você é bem vinda, Olívia. Toda vez que se perder no deserto, por favor, sinta-se à vontade para pedir aos seus raptores que a tragam para cá. Ficarei feliz em comprá-la de novo embora, claro, não por um preço tão alto quanto paguei da primeira vez. Olívia sabia que não passava de uma provocação, mesmo assim não achou a menor graça. — Naturalmente pretendo reembolsá-lo por cada centavo gasto assim que puder ir ao meu banco, Sr. Ramirez. — Tenho certeza que sim, mas creio que dinheiro não me faz falta, ao contrário. Tenho mais do que preciso. Talvez seja melhor pensar numa outra maneira de saldar o seu débito, Srta. Stillwell.

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CAPÍTULO III

Olívia disse a si mesma que Esteban estava somente brincando. Claro que ele não esperava que ela pagasse o resgate com seu corpo. Ainda assim tinha dúvida suficiente para amedrontá-la por completo. Trancou-se no quarto, fechando a porta do terraço. Suas bochechas latejavam por causa do calor do sol mexicano. No escuro, iluminada apenas pela romântica luz da lâmpada de querosene, as mãos pressionando o rosto, tentava desesperadamente negar os sentimentos e as imagens que criava em sua mente. Mas não conseguia. Com exceção de um romance de escola, nunca tivera uma verdadeira experiência sexual. O único o homem de sua vida a convencera que uma experiência completa era supervalorizada. Depois que conhecera Esteban Ramirez, no entanto começava a duvidar de suas convicções, não só física, como psicologicamente. Só de estarem juntos, no mesmo quarto, ela se sentia eletrizada, fosse a conversa interessante ou banal. Na verdade, não tinha certeza se importava que houvesse uma conversa ou não. Voltou para cama, mas não conseguiu esquecer a imagem de Esteban andando nu, logo abaixo no pátio, tão perigosamente charmoso quanto um gato selvagem. Pensou no que homens e mulheres faziam nos romances do tio, nada parecido com os encontros tímidos que tivera com seu primeiro namorado. Sentiu um arrepio quente. Era muito fácil imaginar-se fazendo aquelas coisas com Esteban, visualizar o corpo forte e dominador se apossando do dela. Olívia fechou os olhos, procurando acalmar-se, apesar do desejo. Apertou os dentes no lábio inferior e tentou inutilmente esquecer o que sentia. Talvez não fossem apenas ficção, aquelas bobagens de livros e filmes. Esticou o braço e agarrou a cabeceira da cama como se o medo pudesse ser apagado por algum dilúvio invisível. Talvez realmente existissem partes desconhecidas de sua natureza, partes onde somente um homem como Esteban poderia chegar. — Pare com isso, Olívia! — repreendeu-se, desesperada para esquecer. Esteban Ramirez alegara que a comprara com intenção de protegê-la, mas devia estar mentindo. Ele bem podia ser um traficante de escravas brancas. Um criminoso que planejava cuidar dela até que estivesse em melhores condições para ser vendida. Por que mais teria se recusado a ajudá-la a entrar em contato com tio Errol? Cansada de atormentar-se, Olívia se obrigou a relaxar, apesar de não estar nem um pouco cansada, já que cochilara durante o dia. Deitada, olhando para o teto, mais uma vez avaliou sua situação ridícula. A idéia de ser vendida para algum homem inescrupuloso como se fosse um simples objeto ou ser forçada a entrar para a prostituição, a deixou gelada de medo. Por outro lado, a idéia de deitar-se na mesma cama que Esteban e fazer aquilo que apenas lera em livros, a fez suar de calor. Com tantas mudanças abruptas de temperatura, acabou concluindo que acordaria Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller com pneumonia se não desse um jeito de controlar-se. Já era madrugada quando adormeceu e seus sonhos foram coloridos e agitados de emoção. De manhã, quando acordou, sentiu como se tivesse passado a noite dirigindo numa estrada de ferro em direção a um chão rochoso. A visão da blusa e da calça na cadeira aumentou-lhe o ânimo. Haviam sido consertadas, lavadas e passadas assim como suas roupas íntimas. A expectativa de vestirse a fez se sentir menos prisioneira. Tomou um banho rápido, ensaboando-se com a loção de aloe-vera com o mesmo aroma que Maria usara nas roupas. Após escovar os dentes, pentear-se e arrumar a cama, aventurou-se a cruzar a porta do quarto pela primeira vez desde que chegara. A casa possuía uma espécie de mezanino com grades em todos os lados. Embaixo, num pátio coberto, enfeitado com plantas exuberantes em vasos maravilhosos, uma fonte rodeada por bancos de pedra emprestava um encanto especial ao lugar. De algum ponto distante, chegava o concerto abafado dos pássaros. Olívia desceu as escadas com a mente fervilhando de idéias. Descrições da casa dariam autênticos detalhes para o novo livro de seu tio; queria memorizar tudo até poder encontrar papel e caneta para registrar o que via. Cada vez mais corajosa, começou a explorar, fazendo na mente todo o tipo de anotação que conseguia. Passou por uma sala de jantar enorme, onde Esteban provavelmente recebia os convidados, apesar do isolamento da casa. Depois entrou no estúdio, onde as paredes eram repletas de estantes com livros em inglês, espanhol e francês. Pelo visto, seu anfitrião era muito bem-educado e apreciava coisas finas. Prosseguindo a exploração, ela entrou numa saleta, cheia de pequenos aparelhos de musculação. Sorriu consigo mesma. Ali estava à explicação, pelo menos parcial, para o corpo atlético e musculoso de Esteban. Na frente à casa, com vista para o oceano, havia uma magnífica sala com enormes janelas do chão até o teto. O esquema básico de cores se limitava a tons pastéis com alguns toques de azul-turquesa e pêssego pálido. A impressão geral era de que sala e mar se uniam numa harmonia mística. Olívia teve a sensação de estar sendo tocada com delicadeza pela música silenciosa do ambiente. Teve vontade de capturar em sua cerâmica as cores e texturas, em suma, a verdadeira alma mexicana. — Bom dia. Ela deu um pulo, assustando-se, e quando se virou, deu com Esteban na escada. — Bom dia — respondeu num tom que considerou calmo. Não queria que ele percebesse o quanto a amedrontava. A maneira como assombrava seus pensamentos e os lugares secretos de sua alma. Lugares que nem ela mesma conhecia. Apesar de empoeirado da cabeça aos pés, revelava elegância. Vestia uma calça de montaria, preta, adornada com uma carreira de tachas prateadas ao longo da costura lateral, camisa branca aberta até o meio do peito e um colete de couro com o mesmo tacheado da calça. Em qualquer outro homem o visual pareceria ridículo. Em Esteban, inspirava Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller fantasias perigosas. Fascinada Olívia só percebeu que o encarava quando ele baixou o olhar para si mesmo. — Algo errado com as minhas roupas? Ela enrubesceu. Não fora por causa da sujeira que o encarava e Esteban sabia disso tanto quanto ela. — Bem, imagino que você faz um trabalho onde se sujar é normal. Aliás, que espécie de lugar é este? — Oh, pensei que soubesse... É uma fazenda. Criamos gado e cavalos e também temos algumas minas de prata. Poderia ser mentira, refletiu Olívia. Um disfarce para o comércio de escravos ou talvez até de drogas! A idéia a fez recuar um passo, arregalando os olhos. Por um momento, Esteban lhe pareceu desconcertado, mas em seguida endereçou-lhe um daqueles sorrisos letais. — Relaxe, Srta. Stillwell. Se eu tivesse intenções de arrastá-la para a minha cama e tratá-la sem nenhuma consideração, acha que já não o teria feito? Olívia se sentiu ao mesmo tempo aliviada e ofendida. Claro que não gostaria de ser arrastada para a cama dele e ser tratada sem consideração, conforme ele colocara. Mas alimentava algumas fantasias primitivas em relação à Esteban, por isso doía saber que ele provavelmente as acharia engraçadas. Sem saber como responder civilizadamente, virou-se de costas fingindo que apreciava a vista. De repente duas mãos fortes tocaram-lhe os ombros com extrema gentileza e a fizeram virar-se. Esteban a fitou por alguns instantes, depois a beijou. Olívia ficou tensa. Nada em sua experiência, nem a das noites de sonhos eróticos, a havia preparado para o que sentiu. Foi como se um relâmpago a tivesse atingido. O impacto da emoção a sacudiu de tal forma que Esteban percebeu e agarrou-lhe os ombros com força. Beijou-lhe os lábios como se estes fossem cobertos de mel. Quando se afastou, estavam num caloroso abraço, seus seios esmagados de encontro ao peito forte. Olívia mal conseguia acreditar na intensidade de seu desejo. Esteban acariciou-lhe o rosto enquanto ao mesmo tempo tocava seus lábios com o polegar. — Desculpe Olívia. É uma hóspede em minha casa. Eu não devia me aproveitar de você. Ela não respondeu, estava tão assustada que se debulharia em lágrimas se tentasse falar. Ainda se sentia dominada pela força do beijo e pela experiência nova e assustadora de ter cruzado uma importante barreira pessoal. Não tinha palavras para expressar o quanto Esteban Ramirez a mudara. Sentia-se forte, viva e confiante como nunca. Esteban a fitou por um momento como se ela fosse uma estranha. Em seguida virouse e deixou a sala arrumando as luvas de equitação. Durante um longo tempo, Olívia continuou imóvel como a estátua da fonte. No íntimo, esperava que ele voltasse. Felizmente, não voltou. O fogo que Esteban iniciara dentro dela ainda queimava. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Por fim, ela se recompôs e continuou a explorar a casa. Encontrou Maria na cozinha espaçosa e arejada, onde foi obrigada a tomar o café da manhã com broa de milho, frutas, pudim e iogurte. Depois, quando quis lavar a louça, a governanta a impediu. Sacudindo o avental branco e despejando uma rajada de palavras em espanhol, a mandou embora. Ao encontrar um enorme chapéu de palha sobre o banco da varanda, Olívia o colocou para se proteger do sol e sentou-se para apreciar a vista. No curral, Esteban e os empregados gritavam e levantavam uma nuvem grossa de poeira. Ainda sensível ao sol forte, Olívia voltou para dentro de casa e decidiu prosseguir as explorações. Foi direto para o estúdio e se pôs a folhear aleatoriamente uma série de álbuns com encadernação de couro. Em todas as páginas haviam recortes de jornais e revistas, com textos em espanhol e inglês, enaltecendo as proezas de um tal de El leopardo. O leopardo. Olívia sentiu um arrepio. Os álbuns eram obviamente trabalho de Maria. Quanto ao

El leopardo, não foi difícil deduzir que se referia ao próprio Esteban Ramirez.

Com medo de ser surpreendida, ela só folheou alguns artigos em inglês para notificar-se do conteúdo e pelo que compreendeu, Esteban tinha outra identidade. Desconfiada, Olívia deixou a casa novamente e encarou a praia de areias brancas. O Leopardo. A palavra ficava se repetindo em sua mente. Se não conhecesse todos os livros de tio Errol poderia jurar que estava diante de um deles. Seria lindo, fantástico se não fosse tão assustador e se ela não estivesse atraída por Esteban. Aliás, o apelido se encaixava perfeitamente nele. Sem sombra de dúvida Esteban possuía a coragem e a força fatal de um leopardo. Com os pensamentos ainda mais tumultuados do que antes, Olívia percorreu o caminho cercado folhagens tropicais e seguiu para a praia. O Leopardo. Talvez Esteban realmente fosse um escravizador de brancos ou traficante de drogas, como concluíra antes. Ou talvez fosse simplesmente um bandido. Fora astuto ao assegurar que ela poderia voltar para casa assim que se recuperasse e, apesar das provocações, não a levara para a cama. Nada disso indicava que os homens que a haviam raptado não trabalhavam para ele. Olívia já estivera situações bastante complicadas, mas aquela era sem precedentes. Ao chegar a uma pequena enseada, oculta por palmeiras e folhagens, sentou-se no chão, tirou o chapéu e chutou as sandálias. Escorrendo a areia entre os dedos pensou que era tão branca e fina, que poderia usá-la como açúcar em seu chá. Havia um clima tão calmo e tranqüilo na pequena lagoa escondida que, aos poucos, sua mente perturbada começou se aquietar. Apesar dos receios, experimentou uma sensação de retorno ao Paraíso. Algum tempo depois, incapaz de resistir, tirou a blusa e a bermuda e entrou na lagoa. A água refletia o azul do céu e era tão clara e limpa que se podia ver o cascalho branco no fundo. O frescor agia como um bálsamo na pele e ela mergulhou para molhar os cabelos também. Quando subiu à superfície, refrescada e leve, pronta para usufruir da paz do lugar, Esteban se encontrava em pé na margem, olhando para ela.

El leopardo, Olívia pensou vagamente, antes de alarmar-se. Sem dúvida, Esteban

Ramirez se movia tão sorrateiramente quanto o felino. Projeto Revisoras

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CAPÍTULO IV

Olívia levou um choque ao dar com Esteban em pé, na beira da lagoa, coberto de barro dos pés à cabeça. Quando cruzou os braços na frente dos seios nus para escondêlos, já era tarde demais. E não foi nenhum consolo descobrir que Esteban ficou tão chocado quanto ela ao encontrá-la nadando na lagoa. — Posso saber o que está fazendo aqui, Srta. Stillwell? Ela abriu e fechou a boca. Ia fazer a mesma pergunta a ele. — Como assim? — Este é o meu refúgio particular. — É mesmo? Ora, sinto muito. — Não parece. — Bem, eu não sabia que precisava pedir sua permissão para nadar no mar. — Isto não é mar, e sim, uma lagoa formada por uma fonte natural. — Esteban se inclinou para estudá-la mais de perto. — Aliás, espero que não cometa a tolice de nadar no mar, Srta. Stillwell. Além das correntes perigosas, esta região está infestada de tubarões. Correntes e tubarões não eram nada comparados aos problemas que ela estava tendo, Olívia pensou e quando percebeu Esteban já desabotoara a camisa e estava com a mão no cinto. — Escute, que tal você voltar mais tarde, hein? — sugeriu depressa. — Que tal "você" voltar mais tarde? — ele retrucou sentando-se na areia para tirar as botas. — Madre de Dios! Vocês americanas vivem falando sobre independência e liberdade pessoal, no entanto são verdadeiras tiranas. Olívia estreitou o olhar e encolheu-se toda, procurando esconder-se já que a água era transparente como cristal. — Não precisava ser tão rude. Céus, ninguém quis atacar a sua masculinidade! Apenas sugeri que voltasse mais tarde para tomar o seu banho. Além disso, não posso sair daqui com você aí me olhando com essa cara de bobo, posso? E digo mais. Não precisa insultar todas as mulheres do meu país só porque não gosta de mim. Esteban ficou novamente em pé e começou a tirar a calça. Antes que ela desviasse o olhar, endereçou-lhe um sorriso sarcástico. — Estou cansado, sujo e suado, Srta. Stillwell. Passei a tarde toda sonhando com um banho frio nesta lagoa, portanto, se não deseja a minha companhia, pode ir embora. Os incomodados que se retirem. E em seguida ele mergulhou. Nuzinho em pêlo. Tão nu quanto ela, o que a deixou completamente confusa, perturbada e curiosa. Por mais que tentasse não olhar, Olívia não conseguia. Era como se existisse um imã atraindo seu olhar para Esteban. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller E ela nunca vira nada tão magnífico. Nem Michelangelo teria esculpido um homem assim. Somente Deus poderia ter alcançado tamanha graça e perfeição. Em poucos segundos, ele emergiu bem perto dela. — Você é muito bonita, sabia? Apesar de ele ter dito as palavras como se elogiasse uma obra de arte, não um ser humano, Olívia sentiu-se corar. Oh, alguma coisa diferente estava acontecendo e ela não sabia definir o que era. — Quer parar de me olhar? — pediu sem muita convicção e ele riu. — Impossível. Nadando até o local onde se despira, Olívia saiu depressa, recolheu as roupas e foi esconder-se atrás de uma folhagem. — Que bela maneira de tratar uma companhia — resmungou enquanto se vestia. — Digo, depois de tudo que passei, eu imaginava que poderia ao menos tomar um banho em paz, mas não... Esteban deu outra de suas risadas. — Não vá embora, Srta. Stillwell. Prometo que sua virtude estará a salvo comigo. — Oh, claro! — Na verdade, Olívia se sentia meio desapontada por ter saído da lagoa. — Você é o Zorro de tão bonzinho! — Por favor... Fique. Apesar da intenção inicial de ir embora, Olívia acabou se vestir e sentou-se na areia quente. Na verdade, não tinha tanta pressa assim em voltar para o mundo real, ou melhor, em deixar a companhia daquele homem incrivelmente charmoso e irritante. Além do mais, ainda não se recobrara totalmente do incidente. — Mas quero deixar bem claro que não estou ficando porque você pediu — disse a ele com o queixo erguido. — É que... Deu-me vontade de ficar, foi isso. — Claro. — Esteban concordou educadamente. — E agora será que poderia me atirar o sabonete? Tratava-se de um pedido simples e além do mais o sabonete que ele trouxera se encontrava ali bem perto de Olívia. Ela atendeu ao pedido, mas quando Esteban começou a lavar os cabelos, a intimidade da cena a deixou com uma sensação estranha de que estariam para sempre ligados um ao outro. O sangue ferveu em suas veias e os pensamentos por si só se encarregaram de aumentar sua excitação. Apoiando a testa nos joelhos dobrados, tentou acalmar a respiração ofegante, mas continuou tendo imagens de Esteban e ela deitados juntos, não ali na areia, mas na penumbra de um quarto arejado, entre lençóis macios de cetim. Tinha consciência de que seria melhor voltar para a casa imediatamente, mas permaneceu sentada, indiferente à costumeira força de vontade. O que aconteceu a seguir a pegou totalmente desprevenida. Ouviu um ruído e quando ergueu a cabeça, deu com Esteban sentado ao lado dela, todo molhado, apenas com uma toalha em volta da cintura. — Oh, céus! — murmurou baixinho e no instante seguinte ele a beijava. Olívia nunca imaginara que pudesse existir algo semelhante ao que sentiu quando Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Esteban traçou o contorno de seus lábios com a língua para em seguida mergulhá-la em sua boca. Comparou o tumulto dentro dela a um terremoto de nove graus na escala Richter. Estremeceu quando Esteban a empurrou para trás e se esticou ao lado dela, na areia. Apesar de estar com as mãos espalmadas no peito molhado, sua intenção não era empurrá-lo. Não podia e nem queria. A atração era feroz demais, embora soubesse que se rendia por vontade própria. Esteban rolou para cima dela e a fez sentir a rigidez do corpo másculo, porém sem machucá-la. Mas as roupas e a toalha continuaram entre eles. Finalmente, ele liberou seus lábios, mas lhe deu pouco tempo para voltar à terra. No instante seguinte, a boca úmida pressionava a pele sensível do pescoço, provocando novas emoções. Olívia ainda tentava assimilar tudo o que estava acontecendo quando os dedos longos e fortes abriram sua blusa e os lábios partiram em busca dos seios firmes e arredondados. Incapaz de protestar, Olívia enterrou os dedos nos cabelos negros e o puxou mais para perto de si. A sensação da língua macia nos mamilos rijos era tão quente e doce que ela desejou prolongá-la por horas a fio. De repente, Esteban inverteu as posições. Rolou para o lado puxando-a para cima dele, posicionando-a com os seios à altura dos lábios famintos. Pressionando as coxas entre as pernas de Olívia, segurou-lhe os quadris com as duas mãos e começou a se mover lentamente. Em nenhum momento, afastou os lábios dos mamilos eretos. Olívia se sentia absoluta e totalmente perdida. Algo quente e trêmulo adquiria vida dentro dela. Algo sobre o qual só lera em livros. Algo que fazia parte de um novo universo que começava a se formar. Após o que pareceu uma eternidade de momentos sublimes, ela alcançou o ponto culminante num esforço de corpo e alma. Esteban aguardou até vê-la com a respiração normalizada e a fez rolar para o lado mantendo os braços embaixo de seu pescoço. — El Leopardo... — Olívia murmurou ainda atordoada demais para pensar com coerência. Esteban agarrou-lhe os ombros com força e a obrigou a encará-lo. — O que disse? Ela o fitou confusa. — Eu... Eu o chamei de El Leopardo. — Por quê? Olívia hesitou. Talvez não devesse mencionar o livro de recortes. Talvez se tratasse de um assunto privado. Talvez ele não quisesse que ela soubesse de certos fatos. Fossem quais fossem esses fatos. — Bem, eu li esse nome em algum lugar, só isso. Depois não foi difícil deduzir que ele se referia a você. Ele soltou os ombros de Olívia. — Então não ouviu ninguém se referindo a mim por este nome? — Não. — Nem notou algum homem estranho, digo, alguém que lhe pareceu meio deslocado entre os meus homens? Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Distraidamente, Olívia começou a fechar a blusa. — Não, não creio. E depois nem sequer conheço os seus homens pelo nome. O que houve Esteban? Por que ficou tão transtornado quando o chamei por este nome? Ele se pôs em pé, pegou as calças e deixou cair à toalha dando a Olívia a opção de olhar ou não. Ela virou o rosto. — Não posso explicar, agora — respondeu enquanto se vestia. — Você deve voltar para casa, Olívia, e não pôr os pés para fora enquanto eu não disser que estará em segurança para andar pela fazenda. Olívia reparou que quando ele ficava nervoso, o inglês de Esteban era muito mais formal. Teve vontade de confortá-lo, mas ao mesmo tempo seu lado rebelde se recusou a aceitar uma nova ameaça à sua já limitada liberdade. — Não vou fazer nada disso. Não sou nenhuma toupeira para viver trancada. Preciso de luz, sol e ar fresco. Além do mais, você vive repetindo que não estou aqui como prisioneira. — E se eu digo, é verdade. Não costumo mentir. Olívia ficou em pé e encarou-o com as duas mãos nos quadris. — Mas também não é dos mais comunicativos, diga-se de passagem. Quer que eu fique aqui, pelo menos por enquanto, mas se recusa a me explicar o motivo. Agora insinua que estou correndo perigo de vida, mas, de novo, não explica por quê. Você acha justo? — Acho conveniente. E quando Olívia abriu a boca para protestar, ele já se afastava em direção à casa. Ela o seguiu, hão por obediência, mas porque a lagoa e seus arredores haviam perdido o encanto. Desde que Olívia pronunciara o nome Leopardo, Esteban continuava com certo malestar. Os cabelos de sua nuca ainda estavam arrepiados. Só agora se dava conta de que havia algo estranho no ar. Uma sensação de perigo iminente, a partir do momento em que Olívia chegara à fazenda. Apesar de terem-se passado muitos anos desde que armara a emboscada que lhe rendera um exército de inimigos mortais, seus velhos instintos continuavam aguçados. Bem que o haviam prevenido de que algo não estava bem. Mas fascinado pela americana, optara por ignorar os sinais alarmantes na boca do estômago e nos cantos mais profundos da mente. Não era seu estilo. Virou-se para Olívia, que vinha logo atrás dele e por um instante pensou na pior possibilidade de todas: e se ela fosse um deles, enviada ao rancho para se vingar? Que bobagem! Ele estava começando a ficar paranóico, isso sim. De qualquer maneira seria prudente ficar atento. Não sobrevivera aos velhos dias de Leopardo bancando o ingênuo ou subestimando seus inimigos. Iria descobrir exatamente o que se passava para poder encarar o perigo e o eliminar. Nesse meio tempo, cuidaria para que Olívia não se machucasse nem ferisse outras pessoas.

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CAPÍTULO V

Ao chegar ao quarto, Olívia percebeu que Maria estivera ali há pouco tempo. Uma refeição leve, composta de salada de frutas e mini sanduíches de pão caseiro, esperava por ela sobre a mesa de vime. E estendido na cama, encontrava-se um vestido longo de gaze, num lindo tom verde-esmeralda com mangas bufantes e decote canoa à altura dos ombros. A gentileza da governanta suavizou-lhe os ânimos. Examinando o traje mais de perto, concluiu que o vestido pertencera à Maria e que esta tivera o cuidado de ajustá-lo com perfeição para que a hóspede americana do señor Ramirez pudesse vestir algo mais formal em vez da bermuda caqui e a camiseta branca. Olívia foi ao banheiro onde jogou bastante água fria no rosto, tomando o cuidado para não se olhar no espelho. Não queria se ver com o olhar mais brilhantes e as faces coradas em conseqüência dos momentos de paixão vividos à beira da lagoa. Voltou para a mesa com a dignidade de quem ia jantar na Casa Branca, acompanhada de seu famoso tio, em vez de sentar-se sozinha no que se resumia a uma luxuosa cela de prisão. Comeu todos os mini sanduíches e devorou a salada. Satisfeita, pendurou o vestido no armário, tirou as sandálias e se esticou na cama. Sua pele ainda ardia em virtude das queimaduras solares, mas o corpo estava lânguido, desde as carícias de Esteban junto à lagoa. Não tinha forças nem para mais um acesso de raiva. Bocejou algumas vezes, fechou os olhos e dormiu. Algumas horas depois, acordou com sussurros e barulho de passos no corredor. Assustada e confusa sentou-se na cama. Por alguns segundos pensou que ainda estava em mãos dos raptores, mas, felizmente, logo se lembrou de tudo. Até aquele instante, pelo menos, apesar das dúvidas e desconfianças, encontrava-se em lugar seguro e vinha sendo muito bem tratada. Mas alguma coisa estava diferente, Olívia pensou. Haviam pessoas no corredor. Curiosa, levantou-se, ajeitou a blusa e os cabelos, e foi conferir. Assim que abriu a porta, deu com dois homens de bigodes enormes, vestidos como membros do bando de Pancho Villa e portando rifles. Olívia os encarou friamente. — Onde está o señor Ramirez? Os dois começaram a falar ao mesmo tempo, em espanhol, e tão depressa que ela não entendeu uma só palavra. Mas era óbvio que só poderiam estar ali por dois motivos: ou para não deixar ninguém entrar em seu quarto, ou para impedi-la de sair. Ergueu o queixo com altivez a fim de mostrar que não a intimidavam. — Tudo bem, senhores. Acho melhor eu mesma ir procurá-lo! Mal deu dois passos, no entanto, os dois mexicanos cruzaram os rifles diante dela formando uma espécie de barricada. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Olívia deu de ombros, conformada. Pelo menos uma das perguntas estava respondida: encontravam-se ali para impedi-la de sair. Recusando-se a entrar em pânico, Olívia apontou o indicador para o chão e daquela vez exigiu de forma mais categórica ainda. — Então tragam o señor Ramirez até aqui! O mais alto dos guardas a fez voltar para o quarto gentilmente, pensou alguns instantes e tirou um pedaço de papel do bolso, entregando-o para ela.

"Estes homens estão aqui para protegê-la, por isso, por favor, não os enlouqueça. Se tiver medo, pode vir dormir comigo. E.R." A letra de Esteban era firme e parecia denotar um sorriso. A cada minuto a situação ficava mais parecida com os livros de tio Errol, Olívia pensou e corou. Sim, porque no bilhete, Esteban a convidava e era justamente o que gostaria de fazer. Amassou o papel e, sob o olhar assustado dos dois bigodudos, atirou-o no chão do corredor. Um deles fechou a porta devagar e pouco depois ela ouviu a chave virar na fechadura. De repente ela se viu tomada por uma infinidade de emoções onde se mesclavam frustração, raiva, confusão e medo. E não podia nem culpar Esteban porque a simples lembrança dele despertava sensações indesejáveis. Resolveu concentrar a raiva em tio Errol. Muito bem, ali estava ela, prisioneira no México, sem a menor idéia do que o destino lhe reservava. E tudo porque Errol McCauley resolvera escrever um livro sobre uma colunável milionária, um matador e uma operação no mercado negro. Tio Errol, por sua vez, se encontrava bem seguro numa de suas três mansões, sem dúvida tomando vinho na companhia do amigo de muitos anos. Olívia apostaria seu melhor par de sapatos italianos como nenhum dos dois fazia a menor idéia de que ela fora raptada numa estradinha qualquer em pleno deserto e vendida para um homem a quem chamavam de

El Leopardo.

Furiosa, começou a andar pelo quarto. O pior de tudo era pensar que, "quando" e "se" conseguisse voltar para casa, no instante em que relatasse sua experiência ao tio, este esfregaria as mãos, excitado, pedindo mais detalhes da aventura. Olívia sabia que era o tipo de material precioso para os livros dele. No lugar de consolo, provavelmente tio Errol a presentearia com um bônus generoso e uma passagem de avião para algum outro lugar remoto onde pudesse viver novas aventuras do tipo. Olívia parou no meio do quarto. Seu tio podia ser um excêntrico, podia ser diferente dos tios convencionais, mas ela o amava muito e morria de saudade dele. Há quinze anos atrás, quando ainda não passava de uma garotinha infeliz de onze, enclausurada num rígido colégio interno da Nova Inglaterra, seus pais morreram num acidente de carro na França. No dia seguinte, tio Errol foi resgatar a freirinha confusa para matriculá-la numa escola pública de Connecticut, onde pela primeira vez Olívia pôde vestir roupas normais, conviver com crianças normais e voltar para uma casa normal depois das aulas. Olívia deu um longo suspiro. Claro que sua vida com tio Errol nunca pudera ser chamada de convencional. Não, quando na platéia de seus recitais de piano em vez do pai e da mãe, sentavam-se lado a lado, tio Errol e James o companheiro de muitos anos. Mas tio Errol fora mais do que um pai para ela. Mais do que seus pais haviam sido. Com ele, Olívia aprendera o significado das palavras segurança e amor. E a cidade onde moravam Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller se mostrara tolerante porque haviam muitos artistas locais e todos sabiam que "eles", James e seu tio, eram diferentes. Com um ar pensativo, Olívia se sentou na beirada da cama. Sempre alimentara certa culpa por gostar tanto do tio. Por ter sido tão feliz ao lado dele. Parecia uma traição para com seus pais de quem não sentia muita falta e não sofria a perda. Mas a verdade era que não chegara a conhecê-los bem. Jack e Susan Stillwell a mandaram para um colégio interno no dia em que ela completara seis anos. Daquele dia em diante, raramente ligavam, escreviam ou a visitavam. Nas férias, quando tio Errol não podia buscá-la, ou ficava na escola ou era enviada para uma daquelas mansões dos "amigos" de seus pais, onde passava dias ignorada pelos adultos e maltratada pelas demais crianças. Por todas essas razões, Olívia guardava na lembrança que sua infância, por sinal feliz, começara aos onze anos. Quando tio Errol, único irmão de sua mãe, a adotara e lhe dera um lugar na extraordinária vida que levava. Os olhos dela se encheram de lágrimas. Sempre pudera contar com o tio, quando tinha onze anos e em várias outras ocasiões. Mas agora havia crescido. Teria que se virar sozinha para se livrar dessa última enrascada. A pergunta era: como? Diante da parede envidraçada da sala de estar, Esteban via o pôr-do-sol tropical tingir de vermelho as ondas revoltas do mar. Tomara um banho ao voltar da lagoa, mas nem a água gelada do chuveiro ajudara a apagar a chama que ardia dentro dele. E ainda por cima, tinha problemas piores em que pensar em vez de ficar se torturando com as lembranças dos lábios ardentes da doce Olívia. O passado que acreditava ter enterrado estava de volta. Uma década atrás, bem depois de ter completado os estudos na Inglaterra e feito aperfeiçoamento no continente, o avô exigiu que ele voltasse para casa. Esteban nem cogitara em desobedecê-lo. Abuelito, como se dizia "avô" em espanhol, exercia uma autoridade bem mais profunda que simplesmente a de El patron, numa remota fazenda mexicana. Segundo filho mimado de uma família vizinha, o pai de Esteban fugira, sem se casar, com sua jovem e rebelde mãe. Depois que esta morrera, em conseqüência de uma queda de cavalo, a educação de Esteban ficara a cargo do avô com a grande ajuda de Maria. Seu destino sempre fora o de tornar-se El patron, não importava o quanto ele relutasse em aceitá-lo. Mas foi só depois de ver a saúde do avô dia-a-dia mais debilitada e de várias discussões bravas com o velho regente, que Esteban fez o que dizia o americano: pôs a mão na massa. Aprendeu tudo o que pôde sobre criação de gado e cavalos de raça e como administrar suas minas de prata. Atualmente, as minas já não produziam muito e estavam quase todas desativadas, mas os rendimentos obtidos desde o dia em que Abuelito descobrira o metal nas terras da fazenda, haviam sido muito bem investidos. Os lucros tinham crescido a ponto de despertar interesse em bancos americanos e suíços. O isolamento da fazenda, no entanto, sempre significou um problema para Esteban. Principalmente depois da morte do avô. Apesar de gostar muito de seu trabalho, havia dias em que ele não conseguia nem comer nem dormir de tão inquieto. E foi durante uma dessas ocasiões, quando se encontrava na cidade do México, se divertindo um pouco, que conheceu o Americano. Sempre o identificara como o Americano, porque, embora o homem tivesse jurado que se chamava Tom Castleberry, Esteban nunca acreditara que Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller fosse realmente o nome dele. Durante os meses seguintes, encontrou-o praticamente em todos os lugares aonde ia. Por fim, o velho lhe contou uma história longa e intrigante sobre um perigoso governo estrangeiro que estava instalando as bases de operação em território mexicano. Mostroulhe identificações e provas documentadas e, para resumir, Esteban e mais alguns que acreditaram foram recrutados para trabalhar na contra-espionagem. Ele deu um sorriso amargo. Era o tipo de oferta atraente para um jovem impetuoso que ansiava por emoção e aventura. E como! Ele fez o que lhe pediram e mais! Depois que os bandidos começaram a trazer os equipamentos, inclusive pequenos mísseis, Esteban planejou ataques aos campos inimigos. Eles revidaram claro, trazia no corpo as cicatrizes daquilo, mas após um tempo desistiram e se retiraram para a América Central. E tudo sem envolver tanto o governo americano como o mexicano. Durante a operação, Esteban usara o codinome leopardo, no entanto nunca mais o escutara, desde a última vez vira o Americano, na pequena cantina na cidade do México, onde combinaram um encontro. As últimas palavras do agente para ele foram: "Fique atento. Talvez tenhamos vencido esta batalha, mas a luta não acabou. Há muita gente por aí que teria lucrado com aquele pequeno projeto de mísseis e alguns deles sabem quem você é. Ganhou inimigos perigosos, meu caro." Com as palavras ecoando em sua mente, Esteban se afastou da janela. Pessoalmente, não se importava muito em correr perigo. Gostava de dificuldades porque lhe davam vantagens e o mantinham com o espírito aguçado. Todavia, daquela vez sem querer envolvera Olívia. A simples idéia de que algo pudesse acontecer à Olívia o enchia de pavor e fúria. Após um instante, ele se virou para Maria que devia estar ali há algum tempo. Ela sorriu ao entregar-lhe uma boa dose de conhaque e falou com ele em espanhol. — A bela Olívia não ficou nada satisfeita em descobrir que a mantém prisioneira no quarto, Esteban. Exigiu aos guardas que o levem até lá, imediatamente. Esteban sorveu um longo gole do drinque. Assim que voltaram da lagoa, encontrara um mensageiro com um telegrama dos Estados Unidos. Tom Castleberry, o agente americano que lhe dera o codinome de Leopardo, fora encontrado morto num quarto barato de motel. As circunstâncias misteriosas do fato levaram o Departamento de Estado a notificar outras pessoas que poderiam tornar-se possíveis alvos. Esteban não temia por si mesmo. Mas quando pensava no que aqueles desgraçados vingativos poderiam fazer à Olívia, especialmente se soubessem que ele se importava com ela, se arrepiava de pavor. Por isso tratara de manter dois de seus melhores homens na porta do quarto de Olívia. Ele esvaziou o copo e entregou-o para Maria com um agradecimento. — A Srta. Stillwell pode exigir o que bem quiser, mas ainda sou El patron e não recebo ordens de uma mulher. Maria ergueu uma das sobrancelhas. — Pois para mim esta moça é diferente de todas as outras, Esteban. Ela já faz parte deste lugar e de você, assim como as palavras de uma canção de amor são parte da música. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Esteban a beijou na testa. Maria fora sua babá e tornara-se uma grande amiga. — Maria, Maria... Aposto como andou vendo aquelas novelas americanas de novo. Apesar da brincadeira, no íntimo Esteban começou a imaginar Olívia dormindo em sua cama. Olívia comendo em sua mesa, Olívia ao seu lado, percorrendo as fazendas. Olívia dando à luz um filho dele. E a vontade de tê-la como companheira foi tão intensa que chegou a doer. As esporas de prata tilintaram quando Esteban atravessou o pátio central em direção à porta. Acima de sua cabeça, ficava a sacada do quarto de Olívia, mas ele resistiu ao desejo de olhar para cima. Mesmo depois que resolvesse a questão pendente com seus inimigos, pensou com tristeza, não haveria futuro para ele e Olívia. Ela o via como um raptor, além disso, vinham de duas culturas diferentes. De dois séculos diferentes. Todo o contexto lhe parecia impossível, portanto, o quanto antes tirasse Olívia Stillwell de sua vida, melhor para ele.

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CAPÍTULO VI

Olívia passou várias horas fechada no quarto, obrigada a conviver com a raiva e a frustração, o que só fez o tempo se arrastar ainda mais. Foi um alívio quando Maria chegou trazendo uma pilha de livros, ricamente encadernados, e uma pequena caixa de veludo azul-marinho. Recorrendo a uma interessante mímica de gestos graciosos e engraçados, Maria esforçou-se para convencê-la a descansar por mais algumas horas e depois vestir-se para o jantar. A caixa continha um belíssimo e antigo conjunto de pentes de prata trabalhados com marfim e os livros, uma série de volumes caros, impressos na Inglaterra, obviamente tinham a finalidade de ajudá-la há passar o tempo. Sem muita escolha e bastante agradecida pelos livros, Olívia aceitou a sugestão de Maria e acomodou-se para reler Jane Eyre. Foi uma benção. A bela história manteve sua mente ocupada fazendo-a esquecer por um bom tempo sua situação precária. Mais tarde, arrumou-se para o jantar. Vestiu o belo traje que Maria gentilmente diminuíra para ela e usou os belíssimos adornos de prata para prender seus cabelos acobreados no alto da cabeça. Apesar do estilo mexicano do vestido, os ornamentos de prata e o penteado à moda antiga a deixaram com um ar da típica garota americana do final do século XIX. A Olívia que a fitava do espelho do banheiro era uma estranha. Um ser que ela via pela primeira vez. Alguém sofisticada e sensual, ciente de seu poder como mulher, e que seria capaz de ir até o fim em suas decisões. E o mais alarmante sobre a recém-chegada estava no fato de que ela não chegara para uma visita passageira; viera para ficar, trazendo na bagagem uma tonelada de sonhos novos, claros e brilhantes, muitas esperanças, metas e desejos. Olívia sorriu e, claro, a mulher do outro lado sorriu de volta. — Eu esperava por você há muito tempo — Olívia confessou-lhe, suavemente. Mas ainda havia a questão de sua prisão. Esteban veio pessoalmente buscá-la para jantar. Estava deslumbrante. Calça escura, camisa bufante e colete de couro com botões prateados, em qualquer outro homem aquele traje ficaria teatral demais, mas nele parecia uma segunda pele. Ao vê-la, os olhos cor de violeta literalmente cintilaram enquanto ele murmurava algumas palavras em espanhol, que Olívia não compreendeu, mas interpretou como uma carícia. Em seguida, porém tratou de aprumar-se. — Eu me recuso a continuar aqui como uma prisioneira, Esteban. Se não confia em mim, por favor, não finja ser meu amigo. — Eu confio em você, Olívia. Só não sei bem por que, este é o problema. — ele ofereceu-lhe o braço — Vamos? Olívia aceitou com graça e ao passarem pelos dois guardas, um de cada lado da porta, pensou ter visto um ar vagamente desaprovador na expressão solene dos dois. Quanto a Esteban, se percebeu não se abalou, virando-se para ela com um sorriso. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller — Você está encantadora. Olívia teve um arrepio agradável ao longo da espinha, mas achou melhor não se deixar levar pelas emoções. Tinha muitas dúvidas e antes de mais nada, queria saber se dali em diante as coisas seriam diferentes. — Vai mandá-los embora, não? Esteban olhou por cima dos ombros e disse algumas palavras em espanhol. Os homens imediatamente abandonaram os postos. — Pronto. Já se foram. Daquela vez, em vez de descerem pelas escadas laterais, seguiram em frente passando por uma porta dupla e em arco, no final do saguão. Apesar da pouca visibilidade, já que a iluminação vinha apenas de candelabros com velas, Olívia logo percebeu que se tratava de uma suíte. Obviamente os domínios particulares de Esteban. Quando seus olhos se acostumaram com a escuridão, notou que era um cômodo muito espaçoso, decorado com móveis pesados e masculinos. Na parede oposta à entrada, havia outro arco dando para um terraço e onde, através da porta aberta, ela viu uma faixa do céu pontilhado de estrelas. Pelo canto dos olhos, vislumbrou a cama larga, com quatro postes e cabeceira maciça. Fechou os olhos, experimentando um delicioso pressentimento. Não queria ir embora. Sim, aquela nova e perigosa Olívia queria ficar ali, entregar-se a Esteban naquela penumbra mexicana e depois gerar um filho dele, uma criança forte e sadia, com a beleza arrogante do pai. Queria trazer seu material de trabalho e capturar no barro os contornos rústicos daquela bela terra. Esteban a conduziu ao terraço, onde Maria arrumara a mesa com capricho, enfeitando-a com mais velas e vasos de flores com aromas sensuais. Havia também uma garrafa de vinho dentro de um balde de prata com gelo e vários pratos cobertos com tampas entalhadas. A porcelana era Limoges, os cristais da Bohemia e a prataria uma coleção antiga, provavelmente herdada dos antepassados de Esteban. Olívia reconheceu de imediato porque seu tio era um colecionador. Em vez de sentar-se, aguardou que Esteban lhe puxasse uma cadeira. Uma atitude inédita. Aliás, naquela noite sentia-se uma pessoa totalmente diferente. Seus poucos conhecimentos de psicologia, que se resumiam a artigos lidos em revistas femininas, lhe diziam que talvez fosse o trauma sofrido naqueles últimos dias que a levaram a desenvolver a nova personalidade. Apesar de tudo, estava desesperada para quebrar o encanto de Esteban, do luar e do quarto semi-escuro ali bem perto deles. Fez um trejeito de mulher afetada. — Então você concordou que me manter trancada no quarto é uma atitude bárbara? Esteban provava o vinho seguindo o ritual dos verdadeiros conhecedores. — A palavra "bárbara" não serve nem para começar a definir o destino de uma mulher que se atreve a andar sozinha por certas regiões do México — respondeu servindo-a. — E esta é uma dessas regiões, eu lhe garanto. Olívia suspirou. Não queria mais viver longe de Esteban nem daquela terra, no entanto tinha sérias dúvidas de que algo real e duradouro pudesse acontecer entre eles. Afinal, pertenciam a culturas diferentes, tinham passados diferentes. Até se poderia dizer que vinham de séculos diferentes no que se referia a seus propósitos e intenções. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller — Para ser sincera, não tenho certeza se qualquer um de nós estaria seguro onde quer que fosse. — Sim, e talvez não seja tão bom assim viver em segurança o tempo todo. Olívia tomou um gole do vinho. Era de excelente safra, constatou. Tio Errol teria aprovado e comprado dúzias de caixas para presentear os amigos. — Você mora aqui durante o ano todo? — perguntou mais relaxada. — Não. Tenho outra propriedade em Santa Fé e gosto muito de viajar. — Oh, eu também. Se bem que ando com idéias de me fixar em algum lugar para me dedicar inteiramente à minha arte. Digo, explorando o que vi e aprendi até hoje. — Sua arte? Que arte? Engraçado como quase não sabiam nada um sobre o outro, no entanto havia um elo muito forte ligando-os. — Eu faço cerâmica. Olívia falou com entusiasmo sobre os prêmios ganhos e seus pequenos sucessos, esquecendo por algum tempo a natureza instável do relacionamento deles. — Claro que não espero ganhar muito dinheiro, pelo menos por enquanto. Mas esse não é o problema. Recebo um bom salário e minhas economias são boas já que não tenho grandes despesas. Esteban sorriu. — Fale-me de sua infância, Olívia. Aposto como tinha sardas, usava rabo de cavalo e vivia com os joelhos esfolados. Ela riu com prazer. Há muito tempo não se sentia assim tão leve e feliz. — Bem, eu diria que você acertou pelo menos em dois pontos. De fato, tive sardas e usava rabo-de-cavalo. Quanto aos joelhos esfolados, só comecei a brincar de verdade depois que tio Errol me salvou do colégio interno. Ela deu uma versão resumida e verdadeira de sua vida e, quando terminou, sentiuse meio tola. Em geral, não fornecia tantos detalhes pessoais para ninguém e pela simples razão de que sentia dificuldade em se abrir. Esteban retribuiu falando do avô e sobre a infância na fazenda. Ele também estudara num colégio interno, na Europa, só que nele o efeito fora positivo. Na essência, aprendera a contrabalançar o velho e o novo mundo com uma facilidade que Olívia invejou. Usou palavras que foram se mesclando com o sangue dela, com a mesma elegância e suavidade do vinho. De repente, ficou tarde demais para se manter insensível a elas. Apesar de estar faminta, um ótimo sinal de que começava a se recobrar da trágica aventura, teria trocado, sem hesitar, a mesa farta de Esteban pela cama no quarto ao lado. Caso, ele sugerisse, claro. A constatação a deixou com mais medo do que nunca. Assim que terminaram a refeição, Esteban se recostou na cadeira com uma expressão preocupada. — Você deve tomar muito cuidado, Olívia. Há certos homens... — Que... Que homens? — ela perguntou com o coração disparado, lembrando-se do livro de recortes de Maria. Antes tivesse lido tudo a respeito, pensou arrependida. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller — Alguns inimigos meus — ele explicou. — Se eles já a notaram, e seria ingenuidade pensar o contrário, devem considerá-la o alvo perfeito para se vingarem de mim. Estão esperando há muito tempo por uma oportunidade destas. Apesar do calafrio na espinha, Olívia se forçou a argumentar. — Certamente, ninguém conseguiria entrar na casa. Os guardas não o deixariam passar. Esteban ficou algum tempo pensativo, depois concordou. — De fato, confio em meus homens. — Por outro lado, você... Poderia me mandar de volta aos Estados Unidos, certo? Apesar da sugestão, no íntimo Olívia torceu para que ele contestasse. Esteban ficou observando-a durante um bom tempo antes de responder. — Alguma coisa está se desenrolando entre nós e estou muito a fim de descobrir o que é. Olívia olhou para o céu pontilhado de estrelas tão brilhantes quanto os botões do traje que Esteban usara durante o dia e suspirou. A lua espalhava um brilho prateado sobre o mar, as folhagens tropicais e as montanhas ao longe. — Também estou — confessou baixinho e no instante seguinte, a mão de Esteban segurou a dela sobre a mesa. — De agora em diante você tem permissão de andar à vontade pela casa. Mas só dentro de casa. Não quero que ponha o pé nem mesmo no terraço se estiver sem uma escolta. Apesar de feliz com a pequena vitória, Olívia se recusou a demonstrá-lo. Tomou um gole de vinho e ergueu uma das sobrancelhas. — E não é no terraço que estamos agora? — Mas, obviamente, estou com você — ele argumentou tenso. — Além disso, Manolito e Luís se encontram de guarda, lá embaixo no pátio. Só por isso permiti que viesse. Olívia não soube o que responder. Suas emoções nunca estiveram tão atrapalhadas. Honestamente, não tinha certeza do que a apavorava mais: ser capturada pelos misteriosos inimigos de Esteban ou apaixonar-se tão intensamente pelo Leopardo. A cada minuto que passava mais confusa ficava. Seu corpo ardia em desejo. Cada gesto de Esteban, por mais inocente que fosse, aumentava ainda mais o calor vulcânico que a consumia. No final, para seu grande desaponto e alívio, Esteban não a levou para a cama. Simplesmente a escoltou de volta ao seu quarto. Naquela noite, ela dormiu pessimamente. O corpo faminto e insatisfeito não conseguiu relaxar apesar do vinho. Pela manhã, havia tomado uma decisão drástica. Todos os seus sonhos lindos eram apenas isso: sonhos lindos. Precisava sair daquele país atrasado, mas acolhedor, e voltar para o mundo que conhecia, mas não amava. E tinha que fazê-lo antes que se viciasse no amor de Esteban a ponto de não conseguir mais viver sem ele. Seu desejo por ele começava a se tornar profundo demais. Primitivo. Básico. A única esperança era ir embora. Esquecer. Saltou da cama, tomou banho e vestiu novamente a bermuda caqui e a camisa Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller branca. Como não havia nenhuma bandeja com café da manhã sobre a mesa de vime, deduziu que Esteban não mudara de idéia a respeito de sua liberdade dentro de casa. De fato, a porta estava destrancada e não havia sinal dos guardas quando deixou o quarto. Desceu as escadas e foi direto para o escritório verificar se os livros com recortes sobre Esteban ainda estavam lá. Infelizmente, haviam desaparecido e ela mais uma vez se recriminou por não ter lido os artigos a respeito do Leopardo quando tivera a chance. Ou será que no fundo não quisera saber a verdade? O lado frio de sua mente ponderou. Olívia foi para a cozinha. Maria batia uma massa branca numa vasilha. Ao vê-la, sorriu, indicando uma mesa junto da janela ensolarada. Sentado perto da porta aberta, encontrava-se um dos homens de Esteban. Segurava um rifle sobre os joelhos e mantinha a cabeça apoiada no batente. Não parou de bocejar o tempo todo em que Olívia tomava o café da manhã. Ela terminou, levou a louça para a pia, lavou e enxugou sua xícara. Depois ficou por ali rodeando, fingindo-se interessada na novela que Maria escutava pelo rádio enquanto passava as camisas de Esteban. Mas se mantinha atenta ao guarda sonolento perto da porta. Talvez ele tivesse feito o turno da noite, ela pensou. Ou então estava mesmo com preguiça. O fato era que o homem continuava bocejando cada vez mais vezes e mais alto como quem estivesse prestes a dormir. Finalmente fechou os olhos e a cabeça pendeu. Olívia procurou manter-se calma. Sabia que Maria era muito observadora e não queria que a governanta desconfiasse de seus planos. Depois do que lhe pareceu uma eternidade, Maria saiu da cozinha com uma pilha de camisas impecavelmente passadas. Ela ainda esperou mais um minuto para garantir que a governanta não voltaria e passou facilmente pelo guarda que àquelas alturas roncava feito um porco bem alimentado. Talvez por intuição feminina ou por mera questão de sorte, seguiu direto para um galpão que há algum tempo andava querendo explorar. Quando abriu a imensa porta de madeira, quase não conseguiu acreditar no que via. Sob uma lona velha e descorada a silhueta bastante familiar de um carro a fez engolir em seco. Lentamente, aproximou-se e ergueu uma das pontas da lona. Sentiu ao mesmo tempo uma ponta de esperança e uma pontada de desespero. Ao contrário do que aparentava Esteban não se desligara totalmente do mundo moderno, ela pensou. O veículo escondido pela lona tratava-se de um Blazer vermelha uma dessas caminhonetes equipadas com os mais acessórios mais avançados. Prendendo a respiração, Olívia experimentou a porta do motorista e esta se abriu. Para seu espanto, as chaves se encontravam no lugar mais óbvio, embaixo do tapete, perto do acelerador. Ela voltou para fechar a porta do galpão que deixara entreaberta para entrar claridade, e aproveitou para sondar os arredores. Ninguém a vista. Voltou para o Blazer, sentou-se atrás do volante, apertou os olhos com força e deu a partida. O motor pegou. Ainda incrédula com tanta sorte, Olívia abriu os olhos e consultou o marcador de combustível. Bom demais para ser verdade. O ponteiro esbarrava na marca do vazio. Ela desligou o motor, apoiou a cabeça na direção e, enquanto esperava a frustração passar, percebeu que bem lá no fundo experimentava uma incômoda e vaga sensação de alegria. Encontrara transporte, ou melhor, um veículo equipado para o solo irregular Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller mexicano e o tanque se encontrava vazio. — Diabos e aleluia! — desabafou em voz alta para exprimir seus sentimentos contraditórios.

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CAPÍTULO VII

Olívia mordia o lábio inferior, enquanto colocava a capa de volta no veículo. Se eles tinham um Blazer, matutava com seus botões, era óbvio que também tinham uma bomba de combustível em algum lugar da propriedade. Pena que não lhe sobrava muito tempo para procurá-la, já que a qualquer momento alguém daria por sua falta. Foi até a porta, abriu uma fresta e olhou ao redor. Ninguém à vista. Após uma olhada ao redor, saiu do barracão. A porta era larga o bastante para passar um veículo e abria dos dois lados. Fechou-a com cuidado e respirou fundo antes de voltar para a casa. O guarda, a quem ouvira Maria chamar de Pepito, continuava dormindo embaixo do enorme sombrero enfiado até o meio do nariz. Dava para ouvir-lhe o ronco e pelo tipo de ruído Olívia achou que estava prestes a acordar. De fato, assim que ela passou por ele na ponta dos pés e pegou uma soda na geladeira, Pepito acordou. Olívia abriu-lhe um sorriso e o guarda retribuiu com um olhar desconfiado. Ela ergueu a lata de refrigerante, fazendo um brinde. — Aos Estados Unidos! Pepito respondeu com um som que provavelmente correspondia à “saúde" em latim. Pelo visto, não era um grande fã do vizinho ao norte do México, ela concluiu. E pelo visto achava que tomar conta de uma mulher americana estava abaixo de sua dignidade. Olívia endereçou-lhe mais um sorriso, desta vez vitorioso e retirou-se. Mas não voltou para o quarto. Apesar de achá-lo aconchegante, foi para sala e parou diante da janela de vidro para admirar o mar azul-turquesa, o verde exuberante das árvores, as cores intensas das flores. Como adoraria deitar-se de novo na areia branca da lagoa, ter a mão de Esteban em seu corpo, os lábios úmidos nos mamilos... Embriagada pela visão e com os próprios pensamentos virou-se para sair. E ali estava Esteban. — Oh... Não é para menos que o chamam de Leopardo! Coberto de pó dos pés à cabeça, nem por isso menos soberbo, ali estava o homem que sabia quem era e acreditava na própria identidade. Olhou para ela de um jeito que a deixou com as pernas bambas, o rosto em chamas e o sangue fervendo. Era humilhante a maneira como ela se mostrava disponível, incapaz de esconder as emoções. Suas intenções ficaram tão sutis quanto um luminoso de néon diante de um cassino em Las Vegas. Ainda assim, Esteban não deu nenhum indício de que a achava irresistível. — Maria encontrou estas roupas e as lavou para você — disse entregando-lhe uma trouxa de roupas. — Vá se trocar e me encontre na sala de jantar. Almoçaremos juntos e depois da siesta, sairemos a cavalo. O coração de Olívia deu um pulo de alegria e ao mesmo tempo formou-se um nó em Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller sua garganta. — Está me dizendo que... Que vai me levar de volta para os Estados Unidos? Esteban a fitou durante um longo tempo antes de balançar a cabeça para os lados. — Não. Alguns dos meus melhores cavalos se desgarraram do bando, cremos que em direção ao sul. Preciso ir atrás deles. Olívia avançou um passo, depois parou insegura de seus sentimentos. Eram tão contraditórios que ela não conseguia entendê-los. — Então está planejando me levar junto? Por quê? — Porque não posso deixá-la aqui, Olívia. Ela engoliu em seco. Se ficasse, seria sua chance de procurar pelo combustível, encher o tanque da Blazer e dar o fora. — Você mesmo não disse que eu só ficaria segura atrás destas paredes e com guardas do lado de fora? — E verdade, mas por outro lado eu não conseguiria me concentrar na busca dos cavalos tendo que me preocupar com você o tempo todo em que estivesse fora. Por favor. Apenas faça o que eu disse. Desde que conhecera aquele homem, Olívia tinha a sensação de que possuía duas mentes. Queria fugir, acima de tudo por desprezo ao arrogante Leopardo. Ao mesmo tempo, reconhecia, que a idéia de cavalgar ao lado dele e dos empregados era como o fruto de uma fantasia. Quando Esteban já ia se retirando lembrou-se de um detalhe importante. — Bem, não sou muito boa amazona. Na verdade, poucas vezes montei num cavalo. — Mas eu sou — ele retrucou e saiu em seguida como se a resposta houvesse resolvido o problema. Olívia foi para o quarto e desfez o nó da trouxa de roupas lavadas por Maria. Haviam duas camisas velhas de algodão e dois jeans também usados. Ela se despiu e vestiu as roupas, provavelmente esquecidas na fazenda por algum vaqueiro. O homem era pequeno. As camisas caíram como uma luva, mas as calças ficaram bem justas nas coxas e um pouco largas na cintura. Dez minutos mais tarde, descia à sala de jantar conforme as ordens recebidas. Daquela vez, a expressão de Esteban mostrou claramente que ele gostava do que via. Sem disfarçar a aprovação, levantou-se para puxar-lhe uma cadeira e sentou-se novamente. Os cabelos molhados, a pele sem poeira e as roupas limpas indicavam que ele estivera na lagoa. Olívia teve inveja dele pela liberdade de poder ir e vir, de refrescar-se na lagoa fria enquanto ela ficara suando em bicas. Maria serviu-lhes uma refeição leve composta de frutas fatiadas, frios e pão caseiro recém-saído do forno. Em seguida os deixou a sós, retirando-se com um sorriso misterioso nos lábios, um ar de quem sabia algo que Esteban e Olívia ainda estavam por descobrir. Assim que a governanta fechou a porta, Olívia olhou para Esteban, preocupada. — E quanto à Maria? Ela estará segura, digo, ficando aqui sozinha? — Maria não ficará sozinha. Deixarei dois homens com ela. Além do mais, ao contrário de você, Maria não é um alvo. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Depois do almoço, durante o qual Esteban pouco falou, mas praticamente a devorou com o olhar, Maria voltou para retirar os pratos. Em seguida ele se levantou, afastou a cadeira de Olívia è pressionou a mão em suas costas, dirigindo-a para a escada. Ela se virou, assustada. — O que... — Hora da siesta, minha querida No México, costumamos descansar durante o período mais quente do dia.

Siesta'? O coração de Olívia quase saiu pela boca. Fora a sensação perturbadora causada pela mão de Esteban na base de sua espinha dorsal, a simples palavra siesta evocou imagens sensuais que a deixaram com o rosto rubro. E daquela vez nem se deu ao trabalho de pôr a culpa nas queimaduras de sol. — Eu... Bem, não estou nem um pouco cansada por isso acho que... — Mas vai ficar. — Como? Esteban abriu um sorriso cujo brilho daria para iluminar três estádios de futebol — Você vai ficar cansada, eu disse. Ele a conduziu ao andar de cima, passando direto diante da porta do quarto dela e cruzando o arco de madeira que dava entrada ao dele. Assim que fechou a porta, já foi puxando a camisa de Olívia para fora da calça. — Eu... Eu não sou sua diversão — ela murmurou zangada consigo mesma, pois sabia que faria tudo o que ele quisesse. — Você parece uma fruta madura... Creio que um pêssego doce e suculento. Não sabe como precisei me conter para não saboreá-la lá mesmo, na mesa da sala de jantar. Olívia queria resistir, mas quem estava no comando era um lado mais primitivo de sua natureza. Limitou-se a dar um suspiro quando Esteban segurou os dois lados de sua camisa e abriu-a num golpe seco que arrancou todos os botões de uma só vez. Por causa do calor intenso e das queimaduras de sol, ela estava sem sutiã. Seus seios firmes e arredondados, com os mamilos pequeninos de tão rijos, arrancaram uma exclamação de pasmo dos lábios de Esteban. — Madre de Dios... A expressão dele era a de quem via o corpo de uma mulher pela primeira vez. Sem desprender o olhar dos seios, segurou-a pela cintura com as duas mãos e foi aproximando o rosto devagar, até pousar os lábios na pele rosada e macia. Com a língua, saboreou cada centímetro sem pressa, absolutamente controlado. Quando ela arqueou o corpo, só então começou a sugar, no início gentilmente, depois com voracidade. Depois de alguns segundos, a fez sentar-se na beirada da cama, tirou-lhe as sandálias e o jeans. Com medo da intensidade de emoções que estavam por vir, Olívia ainda tentou erguer-se, mas Esteban a segurou, mantendo-a presa pelos quadris. Abaixou a cabeça morena de encontro a seu ventre e deslizou a boca pela curva dos quadris, ao longo da linha suave das coxas. Deitada de costas, com os braços acima da cabeça, Olívia entregou-se totalmente à suave persuasão dos lábios masculinos. Com as mãos, ele forçou suas pernas a se separarem levando-a perto da loucura Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller através de beijos cada vez mais íntimos. Olívia agarrou os lençóis com força e começou a virar a cabeça de um lado para o outro, rendendo-se a uma força selvagem, a uma intimidade que nem em cem mil anos poderia se imaginar desejando. — Esteban... Oh, Esteban... Segurando-a pelos quadris, ele há ergueu um pouco mais e continuou saboreando-a como teria saboreado o pêssego maduro e suculento com o qual a comparara. Olívia fechou os olhos. De repente, sentiu uma vontade louca de tocá-lo também. Com as mãos e com os lábios. Quando o clímax chegou, ela gritou alto, erguendo o corpo e se virando de um lado e de outro. Se Esteban estava preocupado que alguém os ouvisse, não demonstrou. Esperou até vê-la lânguida, com o olhar perdido e a respiração acelerada. Olívia percebeu vagamente quando foi mudada de posição e quando Esteban tirou as próprias roupas para deitar-se ao lado dela. Durante algum tempo, ele ficou acariciando seu ventre, provocando-a com círculos leves em torno do umbigo. — Esteban, por favor... Mesmo adivinhando o que ela queria, ele meneou a cabeça, negando. — Não, Dulce. Agora você deve descansar. Só descansar. Mas Olívia ainda tentou manter-se acordada, porém nem o aviso de perigo pairando no fundo da mente conseguiu trazê-la de volta ao estado consciente. Dormiu atormentada por uma triste e inegável certeza: para Esteban, tudo não passava de um jogo. Ele gostava de saber que a excitava. De vê-la respondendo às carícias que fazia nela. No entanto, se recusava a render-se ao próprio desejo. De fato, ela era apenas uma diversão. Olívia mergulhou num sono inquieto e teve sonhos permeados de desaponto e dor. Acordou durante o crepúsculo, com uma brisa do mar soprando sobre seu corpo nu e os olhos molhados de lágrimas. Olhou para o lado. O lugar de Esteban na cama estava vazio. Nele, só restava o cheiro familiar nos lençóis e o aroma da colônia no ar. Sentando-se, ela passou os braços em torno das pernas, apoiou a testa nos joelhos e soluçou. Se já achava horrível amar o Leopardo e ter que deixá-lo, perceber que ele estivera apenas brincando com seu corpo era devastador. Como quem fora atraído por seus pensamentos, ele entrou no quarto e aproximou-se da cama de mansinho, silencioso. Olívia ergueu os olhos vermelhos e desafiantes. — Não toque em mim! Você já teve a sua diversão! Tão rápido quanto o animal cujo nome usava Esteban a agarrou antes que ela chegasse ao outro lado da cama. — O que foi? Do que você está falando? Olívia ainda tentou escapulir, mas logo percebeu que seria uma luta inútil. Apesar da situação humilhante, encarou-o furiosa. — Você acha divertido, não é mesmo? Primeiro me provoca, me faz desejá-lo a ponto de gritar de prazer, depois vai embora sem realmente ter feito amor comigo! Esteban ficou pálido como o lençol que a envolvia. Devia ser ator em vez de fazendeiro, Olívia pensou, mas depois de alguns segundos mudo, ele virou uma fera. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller — Eu não a satisfiz, é isso que está me dizendo, Olívia? — Não me satisfez?! — A pergunta a deixou ainda mais furiosa. — Você não estava querendo me satisfazer, apenas me testando! Isso mesmo, testando! Do jeito que se faz com um carro antes de comprá-lo! O maxilar de Esteban ficou rijo. Era óbvio que lutava para manter o autocontrole. — Pelo que estou entendendo, o fato de eu ter tentado respeitar a sua honra a aborreceu. Muito bem, já recebi o seu recado. Você não gosta de ser tratada como uma dama, certo? Foi a vez de Olívia ficar branca como o lençol. — Eu... Eu... — Não seja por isso, minha adorável e encantadora prisioneira. Vamos fazer a coisa ao seu modo. Ele agarrou a ponta do lençol com uma das mãos e com a outra começou a desabotoar a camisa.

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CAPÍTULO VIII

Com facilidade, Esteban puxou o lençol que enrolava Olívia como os mágicos tirariam a toalha de uma mesa sem derrubar a porcelana. Só que, ao contrário dos utensílios, Olívia rodopiou feito um pião e caiu de costas, completamente nua. De olhos arregalados, ficou observando enquanto Esteban se despia de novo. A honra a mandava reagir, mas bem no fundo de seu ser, tinha consciência de que preferia perder. — Nem ouse pensar, Esteban Ramirez! — Por que não? Não vai demorar muito e estará me implorando. Ele se deitou junto dela, virou-se de lado, segurou-lhe o rosto com as duas mãos e começou a beijá-la. Olívia ainda tentou manter os lábios cerrados, mas a doce e agradável persuasão da língua masculina acabou por vencê-la. Quando finalmente ele lhe deu uma trégua, desabafou sem muita convicção. — Você é um canalha, Esteban... — Si, eu sei. E você não é mais virgem, é? — Não. — Melhor assim. Não irá sentir nenhuma dor, só prazer. Virando-se de costas, Esteban a puxou para cima dele, posicionando-a com uma perna de cada lado dos quadris. Ao sentir a rigidez da virilidade pulsante de encontro ao ventre, Olívia estremeceu e fechou os olhos, totalmente dominada. — Oh, céus... — Abra os olhos e olhe para mim, Olívia. Ela obedeceu, mesmo contra a vontade. A última coisa que desejava era conversar. Quando os olhares de ambos se encontraram, Esteban começou a se mover, levando-a para cima e para baixo, uma, duas, três vezes. De repente parou. — O que estou fazendo com você, Olívia? Ela estremeceu, sentindo uma forte onda de ansiedade. Mordeu o lábio inferior durante alguns segundos e respondeu, usando apenas duas palavras bem íntimas. Esteban a fez sentar-se e começou a brincar com os mamilos rijos. — E você acha que seria tão bom assim entre nós se eu estivesse apenas usando-a? Olívia não confiou em si mesma para falar. Até Esteban segurar-lhe os quadris e sacudi-la uma três vezes. — Não! — A resposta saiu como um grito de desespero. — Por que não, Olívia? — ele insistiu, continuando a provocá-la com carícias por todo o corpo. — Oh, Esteban, eu... Eu não sei! Juro que não sei! Ele ergueu o corpo o suficiente para abocanhar um dos seios e ficou brincando com o mamilo entre os dentes. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller — Você agora é minha, Olívia. De hoje em diante será minha mulher. — Sim, sim... Ele mudou de posição, rolando para cima dela e começou a beijá-la selvagemente. O peso do corpo masculino aumentou ainda mais o desejo. Uma grande urgência crescia em seu ventre no mesmo ritmo que as ondas de sensação a faziam tremer com violência. Esteban ergueu a cabeça, buscando-lhe o olhar. Tinha uma expressão indecifrável, mas logo em seguida entregou-se a ela com força total, sem conter nada. Olívia fez algo que só havia lido nos livros: enterrou as unhas nas costas dele. Depois pôs a culpa nos movimentos enlouquecidos dos quadris masculinos e da invasão rítmica da virilidade pulsante, pensou. O que mais podia fazer se tudo contribuía para deixá-la selvagem? Quando finalmente aconteceu, quando a satisfação máxima chegou, seu corpo arqueou várias vezes enquanto o espírito flutuava. Era como saltar de um avião e descobrir que o pára-quedas não abria. Só que não havia medo. Ficou dando cambalhotas no céu, ciente de que quando atingisse o chão, haveria outra liberação e depois nada. Estava chegando o momento. Olívia se encontrava prestes a colidir fortemente com a terra. Ficou tensa nos braços de Esteban, lançou um grito selvagem no escuro e durante vários segundos deixou de existir porque acabara de se dar inteira, sem nenhuma restrição, ao homem que amava. Quando voltou a si, era Esteban quem cruzava a soleira. Tinha a cabeça inclinada para trás, os dentes cerrados e os músculos do peito e dos braços saltados por sustentarlhe o peso. No momento crucial, ele deixou escapar algumas palavras em espanhol e Olívia não resistiu ao impulso de acariciá-lo, murmurando em troca, algumas palavras gentis. Finalmente o corpo musculoso relaxou, Esteban se deixou cair para o lado e, com um gemido de desespero, a puxou para perto dele. Era um abraço perfeito, firme e protetor. Olívia sorriu, apesar de saber que agora corria mais perigo do que nunca. A brisa aveludada ondulou as cortinas da porta do terraço e veio acariciar sua pele nua com delicadeza. Apoiado num dos cotovelos, Esteban observava o sono de Olívia. Ele era um tolo. Havia tomado a firme decisão de não sucumbir aos encantos da americana, que em sua opinião precisava mais de uma surra que de carícias, mas no afã de agradá-la, acabara louco de desejo por ela. Aqueles mamilos delicados, pontudos, convidativos, pareciam dois confeitos tentadores oferecendo-se para ele. Engoliu em seco, arrastando o olhar para o resto do corpinho sedutor e suculento. Os quadris tinham largura para gerar um filho dele, mas não eram exagerados. As coxas lembravam almofadas firmes, perfeitas para absorver o impacto de seu fervor quando fazia amor com ela, e o ventre era achatado e liso, irresistíveis ao contato. Até podia imaginá-lo crescendo a cada dia quando ela estivesse grávida de um filho dele... A idéia o deixou excitado o bastante para saber que não conseguiria cavalgar ao pôrdo-sol, horário que combinara com seus homens para saírem atrás dos cavalos desgarrados. Por mais valiosos que fossem Esteban afastou os animais do pensamento por um Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller instante e traçou o contorno dos lábios macios e carnudos de Olívia com o dedo indicador. As pálpebras tremelicaram e ela pousou nele os maravilhosos olhos cinzentos, abrindo um sorriso encantador. Algo amargo e vigoroso se mesclou dentro dele. Não resistiu ao impulso de beijá-la. — Estou precisando de você, Olívia... — Então venha que lhe darei conforto — ela respondeu com um suspiro sedutor e se remexeu sob as cobertas de forma tão convidativa quanto a lagoa num dia de calor extenuante. Ela estava pronta para ele. Olhar sonhador, a feminilidade úmida e quente. Deixando escapar um murmúrio, arqueou as costas para recebê-lo e Esteban experimentou a sensação calorosa de estar voltando para casa após anos de ausência. Muito tempo depois, quando finalmente seus pensamentos voltaram a ser coerentes, Olívia teve certeza de que precisava ir embora do México na primeira chance possível. O poder de Esteban sobre ela começava a assustá-la. Se adiasse a fuga e acabasse engravidando só tornaria esse poder ainda maior. E não era só isso. Esteban Ramirez levava uma vida perigosa. Ficar ao lado dele significava partilhar desse perigo e o que era pior, forçar uma criança a correr riscos também. Esteban e seus homens estavam selando os cavalos e ela os observava. Tinha certeza que poderia lidar com tudo o mais, afinal, tantas mulheres haviam superado coisas piores, não? Mas o que tornava seu sonho impossível era outro fator: Esteban nunca se casaria com ela. No fundo, ela sabia que sempre seria a mulher do Leopardo, jamais a esposa de Esteban. Homens como Esteban Ramirez só se casavam com mulheres do mesmo status social que ele. Da mesma religião. As demais, todas seriam classificadas de amantes. Olívia tivera uma educação ampla. Tio Errol, dono de uma alma aventureira, a levara para fazer safáris na África, conhecer as pirâmides do Egito, escalar montanhas no Tibet. Além disso, ela própria tivera inúmeras aventuras excitantes, claro, durante as pesquisas para os livros do tio. Com tantas experiências, no entanto, nunca aprendera a cavalgar. Provavelmente estava com uma expressão bastante apreensiva quando Pepito aproximou-se montado num cavalo baio, com aparência de cansado, puxando uma égua avermelhada de porte robusto e elegante. Resmungou algumas palavras em espanhol e jogou-lhe as rédeas da égua. Resignada, Olívia fez como vira os outros cavaleiros fazerem: segurou no Sant Antônio do selim, firmou um dos pés no estribo e deu impulso, passando a perna para o outro lado. Nesse meio tempo, deixou cair às rédeas. A égua dançou para os lados e para trás, o que a deixou apavorada com medo que o animal quisesse derrubá-la. Por precaução, grudou ainda mais no Sant Antônio até ficar com as juntas brancas. Foi quando Esteban se aproximou rindo, inclinou-se para apanhar as rédeas e, ao entregá-las para ela, passou a língua no lábio superior num gesto claramente malicioso. Olívia sentiu o rosto em chamas e para salvar o orgulho, recusou-se a lembrar da intensidade com que respondera às carícias dele e pensou na possibilidade de uma fuga. Agora que tinha um cavalo, talvez desse um jeito de voltar à fazenda a fim de procurar o combustível. Depois, seria só encher o tanque do Blazer e pegar o rumo de casa sem nenhuma escala no caminho. Uma pergunta apenas a deixou indecisa. O que exatamente faria com o resto de sua Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller vida? Tentava encontrar uma resposta para a difícil pergunta, quando Esteban segurou o cabresto de sua égua para mantê-la a par com o garanhão que ele cavalgava. — Não saia de perto de mim, ouviu bem? Olívia se remexeu na sela incômoda. Logo estariam atravessando o deserto, Esteban e ela no comando e os quatorze homens armados, atrás. Durante um bom tempo seu corpo sofreu com o desconfortável sobe e desce em cima da sela. Até que finalmente ela pegou o jeito e conseguiu acompanhar o ritmo da égua. Mas sabia que no dia seguinte estaria inteira dolorida. Pelo canto dos olhos, observava Esteban e torcia para que ele se cansasse. Mas a noite caiu e ele ainda não demonstrava o menor sinal de fadiga. Por fim, quando a lua alcançava o alto do céu e se podia ouvir os uivos lamentosos dos coiotes, o bando parou numa cabana rústica de costas para uma ribanceira. Haviam bem poucas árvores ao redor, algum capim e uma tina de madeira, daquelas onde se punham alimentos para cavalos. Esteban disse alguma coisa aos homens, que estavam ansiosos para dar água aos animais e, com certeza, eles próprios saciarem a sede. Em seguida, apeou. Provavelmente cavalgava a tanto tempo quanto andava a pé, já que se mostrava muito à vontade perto daqueles animais nervosos e temperamentais. Segurando-a pela cintura, tirou-a da sela, fazendo seu corpo deslizar rente ao dele antes que seus pés tocassem o chão. Durante alguns segundos manteve as mãos em sua cintura, fitando-a como se fosse beijá-la. Mas não beijou e Olívia não se surpreendeu. Ali naquele lugar ermo, demonstrar ternura diante dos companheiros seria uma violação da crença masculina. Um sinal de fraqueza. Em vez disso, Esteban fez um gesto na direção da cabana. — Vá entrando. Na mesa à sua esquerda encontrará fósforos e uma lamparina. Olívia cerrou os dentes com força. Se Esteban achava que ela iria obedecê-lo feito marionete estava redondamente enganado. — E... E se houver aranhas e ratos lá dentro? — Eu a protegerei. — Ah, posso imaginar. Aliás, até agora você tem sido o perfeito Robin Wood. Furiosa, ela entrou na cabana, torcendo para que a resposta sarcástica houvesse disfarçado o fato de que no fim das contas acabara por obedecê-lo.

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CAPÍTULO IX

Dentro da cabana estava escuro, abafado, cheirando a rato e abandono. Olívia só não fez meia-volta e se atirou nos braços de Esteban como uma criança amedrontada, porque não podia passar por uma vergonha daquelas. Endireitando os ombros, respirou fundo e partiu em busca dos tais fósforos que Esteban mencionara. Felizmente, encontrou-os logo. Riscou um e a luz amarelada iluminou a lamparina prometida além de uma mesa com uma vela no centro, duas cadeiras capengas e uma cama com um estrado de corda e sem colchão. Resmungando, suspendeu o vidro da base da lamparina, mas antes que pudesse acendê-la o fósforo queimou seu dedo e apagou-se. Praguejou baixinho enquanto ouvia as risadas debochadas dos homens de Esteban do lado de fora da cabana. Afinal, o que sabia sobre aquele homem? Perguntou-se enquanto tentava de novo acender a lamparina e com sucesso dessa vez. E se estivesse redondamente enganada a respeito de Esteban Ramirez? E se ele fosse um bandido da pior espécie? E se todos começassem a beber e Esteban a oferecesse aos homens, como recompensa? Desanimada, percorreu a pobre cabana com o olhar, horrorizando-se de novo com o estado da cama. Esteban não esperava que ela dormisse naquela cama, ou melhor, naquele catre? Mas então onde dormiria? Sem fazer o menor ruído, ele entrou na cabana. Olívia sentiu a presença dele na pele, antes mesmo que falasse, ou se aproximasse. — Quando garoto, este era um dos meus lugares favoritos — Esteban contou num tom suave. — Costumava me esconder aqui quando ficava zangado ou magoado e meu avô fazia de conta que não sabia onde eu estava. Olívia se virou a tempo de ver um vestígio daquele garoto nos olhos negros. — Mas não vamos ficar aqui, vamos? — perguntou cautelosa. — Vamos, sim. Por esta noite, pelo menos. E agradeça aos céus porque amanhã os mosquitos não vão ter muito trabalho em nos encontrar. Ela deu de ombros. Esteban regulou a lamparina e saiu de novo. Pouco depois, voltou trazendo dois rolos de cobertores e uma bolsa de couro dupla, dessas que se penduram na sela do cavalo. Apesar do medo e da certeza que estava para se atirar de cabeça em sua última grande aventura, Olívia ficou feliz em vê-lo. Ficou observando enquanto Esteban foi até a cama, deu-lhe uma forte sacudida para tirar o grosso da poeira, depois estendeu um dos cobertores sobre o estrado de cordas, colocando o outro nos pés. — Vai mesmo dormir nesta... Coisa? — ela insistiu, começando a sentir-se inquieta, cansada e com medo. — Vou, Dulce. E você também. — E... Eu?! — A menos que queira fazer companhia aos ratos, no chão. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Olívia limitou-se a erguer uma das sobrancelhas, o que o fez rir. Depois afastou uma das cadeiras capengas, também a bateu no chão para tirar a poeira e curvou o corpo, convidando-a a sentar-se. — Acomode-se, Dulce. Agora vou servir-lhe o jantar. Olívia obedeceu tentando imaginar que tipo de jantar comeria num lugar daqueles. Provavelmente cachorro na brasa, pensou. Mas estava cansada demais e faminta o bastante para comer o que fosse. Para sua surpresa, Esteban tirou da bolsa algumas frutas, barras de chocolate, um saco plástico com biscoitos feitos por Maria e carne enlatada. Ela ia começar a comer quando se lembrou dos homens lá fora. Podiam não ser a nata da sociedade mexicana, ainda assim eram seres humanos e deviam estar tão famintos quanto ela. — E quanto aos homens, Esteban? Eles... — Trouxeram as próprias provisões, Dulce. Mais tranqüila, ela comeu com gosto. Não sabia como seria o dia seguinte e precisava de forças. Enquanto isso, evidentemente sem fome, Esteban saiu de novo da cabana. Ao voltar, encontrou-a andando de um lado para o outro, aflita. Bastou um olhar para que ele interpretasse corretamente o que ela precisava. Deu uma risada, estendeu-lhe a mão e levou-a para fora. Os homens haviam disposto os sacos de dormir em torno de uma fogueira e já se encontravam acomodados. Quanto aos cavalos, descansavam num pequeno curral improvisado com galhos de árvores. Andaram alguns passos e, quando atingiram uma boa distância da cabana, Esteban indicou-lhe uma moita de arbustos. Assim que voltaram à cabana, novamente ele desapareceu. Daquela vez, Olívia achou que não voltaria mais e que passaria a noite jogando cartas com os empregados. Já se sentia só e abandonada quando Esteban entrou carregando uma velha tina cheia de água quente que colocou sobre uma das cadeiras, perto da cama. Em seguida, apagou a lamparina. Subitamente, a cabana mergulhou na mais total escuridão. Com certeza uma nuvem passava na frente da lua, Olívia concluiu. Em pé, perto da mesa, teve a sensação de que havia despencado no imenso vazio das profundezas do oceano, num lugar onde os peixes não precisavam ter olhos. Um momento depois sentiu as mãos de Esteban em sua cintura. Ele, provavelmente, além do apelido, tinha olhos de felino, já que a conduziu até a cama com facilidade e começou a despi-la gentilmente. Quando ela ficou nua, iniciou o banho. Usando um pedaço de pano que ia mergulhando na água quente da tina limpou primeiro o rosto e as mãos, mas depois o banho tornou-se mais íntimo. Olívia estremeceu. — Com frio? — Esteban perguntou e ela balançou a cabeça. — Não. Vai fazer amor comigo, não vai? — Vou, Dulce. Com tudo o que tenho direito. — Mas e... — Ela diminuiu o tom de voz. — e se eu gritar... Digo, você sabe que Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller não consigo me controlar e com todos os homens aí fora, eles... Eles vão ouvir! Esteban riu e continuou lavando-a. — A estas alturas eles já sabem o que está acontecendo aqui dentro, Dulce. Quanto aos gritos, bem, você já gritou na praia e depois durante a sesta. Já não é mais segredo que gosta de sentir prazer, minha pequena. Olívia sentiu o rosto em chamas. Esteban a fez deitar-se na cama de corda, que apesar da aparência rústica, cedeu de maneira confortável, e cobriu-a com o segundo cobertor. Pouco depois ela o ouviu banhando-se. lado.

— Por que me trouxe até aqui? — perguntou quando conseguiu deixar o orgulho de — Eu já disse. Para protegê-la dos meus inimigos.

Esteban juntou-se a ela na cama e já foi puxando-a para cima dele, fazendo-a sentir a força de sua masculinidade. — E quem vai me proteger contra você, Leopardo? Ele passou a língua nos lábios de Olívia, que àquelas alturas praticamente já estava dominada pelo desejo, e começou a se mover lentamente dentro dela. — Ninguém, Dulce. Contra mim ninguém poderá protegê-la. — De repente, ele parou. — O que vai querer, desta vez, hein? — Tudo. Você inteiro. Esteban brincou com os mamilos, movendo-se dentro dela com mais e mais força. Olívia soltou um pequeno soluço, mas foi de puro prazer e ele com certeza o sabia. Afastou-se um pouco e depois a penetrou mais profundamente do que antes. — Eu vou gritar... Oh, por favor, Esteban. Não vou conseguir me controlar, vou gritar. — Ótimo, minha pequena. Assim os homens saberão que minha mulher se satisfaz em minha cama. Num dado momento, Olívia achou que ambos acabariam no chão empoeirado tamanha a força das investidas de Esteban. Mas a cama resistiu. Finalmente sua jornada se completou. Nos últimos instantes de felicidade suprema, tinha a pele molhada de suor e almíscar. Abandonou o corpo ao lado de Esteban e se deixou levar por mais alguns instantes de satisfação enquanto ele acariciava-lhe os seios. — Eu gritei, não foi? — E como! Usando o pouco da força que lhe restava, Olívia desvencilhou-se da perna de Esteban. — Seu verme machista! Ele riu, puxando-a de volta para cima dele. — Cuidado com o que diz ou posso fazê-la gritar de novo. E quem sabe uma oitava mais alto, dessa vez. Nem por um segundo, Olívia duvidou que ele fosse capaz, tratou de acalmar-se. Continuou em cima dele, com o queixo apoiado no peito amplo enquanto brincava com os pêlos macios em torno dos mamilos. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller — Você acha que vamos encontrar os cavalos, amanhã? — Amanhã, talvez depois de amanhã. Mas vamos encontrá-los. Agora durma. Ela fechou os olhos e ficou imaginando o que Esteban diria se lhe confessasse que estava se apaixonando por ele. Provavelmente tomaria como uma grande piada. Quando acordou, as primeiras luzes da madrugada invadiam a cabana e Esteban ainda se encontrava ao lado dela. Ele sorriu. — Muito conveniente. E antes que ela registrasse as palavras, puxou-a pelos quadris e possuiu-a com extrema delicadeza. Daquela vez, ao aproximar-se do clímax, Olívia tomou o cuidado de enterrar a cabeça no pescoço dele para abafar seus gemidos e gritos. Após outro banho de tina, mais uma ida ao arbusto e um farto café da manhã, ela montou em sua égua e partiu com Esteban e os homens. Usava um chapéu de palha com aba larga e agradecia a Maria por tê-lo emprestado antes de saírem. Além de protegê-la do sol escaldante, escondia seu rosto dos olhares curiosos dos empregados de Esteban. Num dado momento, quando arriscou um olhar para Pepito, este sorriu deixando-a de novo totalmente envergonhada. Oh, céus! Provavelmente já estava com a reputação arruinada, disse a si mesma e começou a pensar seriamente em fugir. Ao meio-dia, quando o sol se encontrava no alto do céu, eles pararam numa antiga e charmosa casa das missões com paredes brancas e sino na porta. Enquanto os cavalos bebiam água e os homens descansavam no chão de tijolos do pátio sombreado, ela e Esteban foram até a capela, conversar com o padre. Pelo menos Esteban foi. Olívia não conseguiu entender quase nada da conversa, apenas ficou sentada escutando enquanto saciava a sede com uma jarra inteira de água gelada. Assim que saíram para o pátio, virou-se para Esteban, curiosa. — O padre tinha alguma informação sobre os cavalos perdidos? — Os cavalos? Oh, não perguntei nada sobre os cavalos. — Não? — Na verdade a única palavra que Olívia entendera o padre falar fora siesta por isso achava que ela e Esteban iam descansar até o calor amenizar. — Então sobre o que conversaram? Esteban abriu uma porta dando para um quarto vazio, decorado apenas com um crucifixo e duas camas de campanha. Assim que entraram ele a puxou pela cintura da calça, encarando-a bem dentro do olhar. — O padre acha que devemos nos casar.

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CAPÍTULO X

Olívia experimentou uma sensação de vertigem. Foi como se o chão de pedra do pequeno quarto, já desgastado pelo tempo, balançasse sob seus pés. Nunca esperara que Esteban tocasse naquele assunto nem mesmo depois de terem feito amor. — Você disse... Casar-nos? — repetiu, sem disfarçar o espanto. — Isso mesmo, Dulce. O padre jura que queimaremos no inferno por toda a eternidade se não corrigirmos nosso erro imediatamente. — Agora me soa como uma possibilidade atraente. Esteban sorriu, pousando a mão nos ombros dela. — De fato não foi o mais poético dos pedidos de casamento... — Então foi um pedido?! — Hum, hum. — Ele deu um longo suspirou como quem estivesse surpreso consigo mesmo. — Case-se comigo, Olívia. Fique comigo. Sorria comigo, durma comigo. Capture a beleza desta terra em sua arte. Olívia engoliu em seco. Às vezes, ter esperanças podia ser muito perigoso. — Esteban, existem tantos problemas... — Resolveremos todos eles. Quem disse que todos os problemas, possíveis ou reais, devem ser solucionados antes do casamento? O que começou entre nós não pode ser interrompido, Dulce. Não consigo mais manter minhas mãos longe do seu corpo e depois, aprendi que uma única mulher na vida de um homem deve ser acariciada e honrada acima de todas as outras. Apesar das lágrimas de felicidade escorrendo por seu rosto, Olívia teve medo. E o demonstrou quando Esteban a beijou. Ele segurou-lhe o rosto entre as mãos fitando-a bem dentro do olhar. — E acredito que você seja esta mulher, Olívia. — Mas... Mas ainda nem fizemos testes de sangue. Não tiramos a licença... O sorriso largo de Esteban parecia dançar diante dela. — Quantas vezes preciso lembrá-la, minha pequena flor do deserto? Estamos no coração do México. Do velho México. Por aqui acontecem coisas que jamais aconteceriam em outras partes do país. E muito menos ao norte da fronteira. O coração de Olívia batia feito um louco. Pensou em tio Errol, no quanto ele ficaria excitado com sua inusitada situação. No tio Errol que sempre a encorajara a ser ousada, arriscar-se, não perder nenhuma chance, agarrar a vida com as duas mãos. E decidiu agarrar o que queria. Amava Esteban desesperadamente e queria ser esposa dele. Esposa e amante. — Tudo bem, eu aceito, Esteban. Mas estou com medo. Esteban baixou o rosto, aproximando os lábios da orelha de Olívia. — Eu também, Dulce. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller No instante foram procurar o padre que os casou no pátio, à sombra de uma imensa árvore. Olívia não entendeu uma só palavra do que disse, mas sentiu na alma o significado de todas elas. Para a cerimônia ficar perfeita só faltou Esteban dizer que a amava. Mas nada na vida era perfeito, isso ela aprendera há muito tempo. E depois, Esteban já afirmara que ela era "aquela mulher". A que ele desejava acariciar e honrar. E Olívia enxergara séculos de tradição atrás dessas palavras. Apenas uma dúvida ainda a incomodava. — Se... Será que este casamento seria reconhecido nos Estados Unidos? — perguntou quando ficaram a sós, no quarto com chão de pedra. Esteban cruzou os braços, inclinando a cabeça para o lado. — Ele é reconhecido nos céus, disso eu sei. Por isso se voltar ao seu país e casar-se com outro homem, estará cometendo bigamia. Olívia sentiu um arrepio ao longo da espinha. Não era particularmente religiosa, mas acreditava em Deus e nos votos sagrados do casamento. Esteban sentou-se numa das camas de lona para tirar as botas e depois se deitou como se fosse descansar. Bocejou algumas vezes, puxou o chapéu para o rosto e no instante seguinte adormeceu. Olívia teve vontade de esganá-lo, mas limitou-se a acomodar-se na outra cama e, com a mente rodando a todo vapor, ficou tentando assimilar o fato de que acabara de se casar. E que bela lua-de-mel, pensou. O noivo dormia a sono solto e o leito nupcial se resumia num catre de monge! Apesar de tudo, no entanto, sentia-se feliz. Feliz demais para dormir. Levantou-se e foi até o muro das missões admirar a vastidão do deserto. Estendeu o olhar para um lado, para o outro e ao longe, avistou uma flor de cactos, cor-de-rosa, ainda em botão. De repente, teve curiosidade de vê-la de perto, descobrir se além de bela, também era perfumada. Seu lado artístico precisava memorizar a tonalidade exata da flor exótica para depois preparar um esmalte no mesmo tom. Olhou ao redor da missão e não viu viva alma. Assim como Esteban, os homens deviam estar fazendo a siesta, deduziu e pulou o muro para ver a flor de cactos. Pretendia voltar antes que alguém desse por sua falta. Não por medo de Esteban se aborrecer, mas porque já conhecia os efeitos drásticos do sol mexicano àquela hora do dia se ficasse muito tempo exposta. O botão de flor era ainda mais lindo e delicado do que Olívia imaginara. Tão belo que se formou um nó em sua garganta e os olhos se encherem de lágrimas. Admirou-o por certo tempo e já ia voltar para as missões quando pousou o olhar numa formação rochosa diferente, um pouco mais adiante. A forma das pedras chamou-lhe a atenção e ela desejou reproduzi-la no barro. Decidiu examiná-la mais de perto. A seguir, foi seduzida pelas diversas camadas de terra em tons pastéis contra o horizonte. Ficou literalmente hipnotizada. Com o cérebro fervilhando de idéias maravilhosas, ela continuou andando, andando. Só quando procurou abrigo do sol sob o telhado de uma velha cabana sem paredes foi que percebeu o quanto se distanciara das missões. Tentou avistá-la, mas nem sequer podia mais ver o pequeno muro branco da construção. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Apreensiva, analisou o solo implacável e enrugado, porém belo, ao seu redor. Não havia motivo para se apavorar, disse a si mesma. Bastava fazer o caminho de volta por... Aquele lado? Ou seria aquele outro? Esteban se espreguiçou languidamente ao acordar da siesta. No frescor da tarde que se aproximava, ele, Olívia e os homens poderiam partir atrás dos cavalos desgarrados. Olhou para a cama ao lado, esperando encontrar Olívia toda encolhida, provavelmente seminua por causa do calor, mas a cama estava vazia. Sentiu um frio na boca do estômago. Uma sensação horrível de pânico que procurou afastar no mesmo instante. Com certeza Olívia acordara antes dele e saíra para dar uma volta pelas missões. Provavelmente a encontraria usufruindo da paz do jardim onde o padre costumava se refugiar para meditar sobre os grandes mistérios do espírito. Quando abriu a porta, viu que alguém colocara um balde de água fria e uma caneca esmaltada do lado de fora. Trouxe-o para dentro, bebeu copiosamente e molhou a nuca. Em seguida, saiu atrás de Olívia. Mal deixou o quarto, o padre juntou-se a ele. Queria conversar sobre o plano de construir dormitórios e salas de aula nas missões, onde as crianças pudessem morar e receber educação. Já conseguira doações de livros e material escolar de uma organização norte-americana que ficara de mandar também alguns professores. Mas ainda faltava o dinheiro para a construção e que não seria pouco. Enquanto caminhavam, metade da atenção de Esteban estava voltada para a conversa e a outra, em torno das missões, procurando por Olívia. De quando em quando, ele balançava a cabeça. — Si, si, padre. — Acho que poderíamos abrigar de quarenta a cinqüenta crianças, Esteban. Crianças perdidas ou abandonadas que, do contrário, ficariam soltas pelas ruas de nossas cidades, vivendo de esmolas. Esteban começava a experimentar uma sensação estranha, como se alguém tivesse amarrado sua alma e tentasse puxá-lo para algum lugar. — O senhor sabe que vou ajudá-lo, padre. — Sei, sim, filho. — Ah, por acaso viu Olívia por aí? — Sua esposa? — o padre gracejou. — Pensei que ela estivesse com você, filho. A partir dali Esteban não conseguiu mais controlar a preocupação. Ou a raiva, crescendo a cada instante. Olívia o abandonara depois da promessa de passar a vida ao lado dele. Para ela tudo não passara de uma mentira, uma forma de zombar do homem que acreditava ser seu raptor. Pior, Ela se colocara em perigo, deliberadamente. O deserto inóspito abrigava tantos demônios, tantas armadilhas. Era tão fácil de se perder. Ela podia cair direto na mão de seus inimigos, ou mesmo dos tipos que a haviam raptado. Esteban empurrou o chapéu para trás das costas e entrou na capela. Não ia a uma igreja para rezar desde a morte de seu avô, mas ainda se lembrava dos rituais. Mergulhou os dedos na pia de água benta e fez uma reverência junto com o sinal da cruz. Não haviam imagens no altar. Somente as paróquias abastadas podiam se Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller dar ao luxo de ter imagens. No entanto, a tosca cruz de madeira pendurada na parede conversou com ele como nunca fizera antes. Ajoelhado diante da cruz, Esteban abaixou a cabeça e fez sua primeira oração séria desde que ficara adulto. — Proteja-a, Senhor. Peço-Lhe que a proteja. A tarde caiu e Olívia continuava incerta quanto à direção que devia tomar. No final, acabou decidindo permanecer onde estava. Sentia muita sede e medo, mas só pioraria a situação se começasse a vagar sem um rumo certo. O clima do deserto, abrasador durante o dia, esfriava rapidamente e ela sabia que depois que o sol se pusesse faria muito frio. Lembrou-se da noite anterior, dos instantes de paixão vividos nos braços de Esteban e desejou que ele estivesse ali com ela. Aquelas alturas, com certeza, seu marido já dera por sua falta. E provavelmente deduzira que ela o abandonara de propósito, ficara furioso e decidira lavar as mãos sem se dar ao trabalho de ir procurá-la. — Esteban... Oh, Esteban... Escureceu de uma vez e ela tentou dormir, encolhendo-se toda no chão gelado do deserto. No céu, as estrelas pareciam enormes, mas contá-las, um jogo que costumava fazer quando se via em dificuldade, daquela vez não surtiu efeito. Olívia cochilou, acordou tremendo e cochilou de novo. Sonhou que escutava o som de cascos de cavalos e o tilintar de arreios. Algo duro e frio como aço pressionou-lhe o peito e daquela vez a sensação foi real. Ela abriu os olhos e se horrorizou ao constatar que havia um cano de espingarda apontado diretamente para o seu peito. No outro extremo da arma, com o dedo no gatilho, encontrava-se um homem que ela nunca vira antes. O homem sorriu um sorriso feio de dentes amarelados, mas não afastou o rifle. — Ah, a mulher do Leopardo. Mas onde está Ramirez? — Ele procurou ao redor de forma teatral e suspirou balançando a cabeça. — Oh, vejo que Esteban Ramirez não se encontra com ela. Não sei não... Os cavalos fogem e a mulher também. Será que o Leopardo já não é mais o homem que acreditávamos ser? — Com isso, ele jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada. A primeira reação de Olívia foi entrar em pânico, mas controlou-se. Não se permitiria tal benevolência. Com o rifle ainda lhe pressionado o peito, foi se levantando devagar, centímetro a centímetro. Se houvessem outros bandoleiros, estavam muito bem escondidos porque não via mais ninguém. Encarou o homem sem demonstrar o menor receio. — Quem é você? — Pancho — ele respondeu e agarrou-a pela camisa com a mão livre colocando-a em pé. — Vamos ser amigos, coisinha linda? — Sim, vamos ser muito "amigos". — Olívia concordou, num tom nada amigável. — Desde que você suba de novo em seu cavalo e dê o fora, me deixando em paz. Pancho soltou outra daquelas gargalhadas debochadas. — Nem pensar, bonequita. Você é muito valiosa. Existe um homem que pagaria muito dinheiro para pôr as mãos em você, depois mandar um bilhete para o Leopardo contando o quanto é apetitosa. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Olívia sentiu um enjôo forte e por um segundo achou que ia vomitar nas botas de Pancho. Naquele mesmo instante, foi como se seu universo pessoal entrasse em perspectiva. Os mistérios estavam resolvidos. Ela percebeu o que era importante. Amor. Esteban. O filho dele que esperava estar carregando. A coragem voltou e ela encarou o bandido com altivez. — O Leopardo ama muitas mulheres, não sabia? Se ficar sem uma delas não irá sentir a menor falta. — Não, engana-se. Esteban Ramirez se importa apenas com uma e ela é você. Nós sabemos. Estivemos observando. Venha, vamos partir agora. Após amarrar as mãos de Olívia atrás das costas, Pancho a colocou em cima do cavalo, subiu em seguida e mergulhou na noite, só Deus sabia para onde. Aquelas alturas, Olívia estava em choque. Apavorada. Com náuseas de tanto medo. Algo lhe dizia que o novo homem para o qual estava sendo levada como carga roubada não se parecia nem um pouco com Esteban. O sol nascia quando chegaram a uma casa de tijolos relativamente pequena, mas sólida. De seu ângulo de visão Olívia podia ver uma piscina, uma quadra de tênis e um curral cheio de cavalos bem alimentados. Aqueles que haviam se desgarrado da manada de Esteban, o sexto sentido lhe disse. Um homem alto, loiro, de olhos azuis alarmantes se aproximou, examinando-a como se ela não fosse um ser humano, portanto não entendia o significado da inspeção. — Esta é a mulher do Leopardo, patron — Pancho anunciou cheio de si. — Muito bem, Pancho. Muito bem. — O loiro aplaudiu num inglês mais correto que o de Pancho, porém com forte sotaque espanhol. Passou a mão pela perna de Olívia, apertando o tornozelo com força quando ela tentou se esquivar. — Agora só nos resta esperar. Sem sombra de dúvida o Leopardo vai aparecer.

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller

CAPÍTULO XI

Olívia se esforçava ao máximo para não perder a compostura, mas as circunstâncias não ajudavam muito. Sem se preocupar em desamarrar-lhe as mãos, seu novo raptor a levara para dentro da casa e agora se servia calmamente de conhaque, junto a um belo móvel entalhado. — Quem é você? — perguntou-lhe sem rodeios. — Um traficante de drogas? Ou o chefe de uma quadrilha especializada em escravidão branca? O mexicano riu, erguendo o copo de cristal. — Nada tão dramático, formosura. Vivo da venda de armas para certos governos com os quais costumo cooperar. A revelação não a deixou muito aliviada. Afinal, encontrava-se nas mãos de um homem capaz de vender países inteiros, não apenas indivíduos. — Qual é a sua desavença com Esteban Ramirez? — perguntou para ganhar tempo e também por curiosidade. O mexicano misterioso sorriu. Era de fato atraente, pena que a aparência fosse prejudicada pela imoralidade do caráter, que, aliás, impregnava a sala como um mau cheiro. — Esteban Ramirez interferiu num projeto que me teria rendido muitos milhões de dólares americanos. Fiquei praticamente arruinado e levei anos para recuperar minha situação financeira. Meu plano é bem simples e se compõe de duas partes. Retribuirei a Ramirez todo o mal que ele me causou e depois garantirei que não me prejudique nunca mais. Olívia empalideceu. Aquele homem tinha claras intenções de matar Esteban. Por dentro, sentiu-se mortificada; por fora, continuou impassível. — Pois saiba que ele vai rir na sua cara. Não significo nada para Esteban. — Tanto melhor. Você mentiria para salvar o leopardo, não? Meus instintos me dizem que ele iria ainda mais longe para salvá-la, señorita. Acredito mesmo que dê a própria vida por você. Olívia apertou os olhos com força, lutando para se controlar. Gostaria de se desmanchar em prantos, de render-se ao pânico, mas tinha consciência de que muita coisa dependia de sua capacidade de manter a mente lúcida. A vida de Esteban por exemplo. Assim como a dela, aparentemente. — Você está enganado. — É o que veremos moça. Mas até lá devemos cuidar para que não perca a formosura. — Ele pousou o copo vazio sobre o aparador e bateu palmas. — Juana! Uma graciosa garota mexicana apareceu quase em seguida. — Si, señor Leonésio? Olívia percebeu que o loiro não gostou nem um pouco de ser chamado pelo nome. Provavelmente não planejara apresentar-se. Bradou algumas ordens para a garota, que se Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller encolheu toda, como se também fosse uma prisioneira. A despeito do próprio drama, Olívia teve pena da moça. Quando Leonésio terminou o pequeno sermão, Juana se virou para ela com uma expressão de súplica no olhar. Os enormes olhos negros pareciam implorar para que Olívia obedecesse sem contestar. Achando que qualquer coisa seria melhor do que continuar na presença de Leonésio, Olívia se levantou e a seguiu ao andar superior. Juana a levou para um banheiro. — Você não deve tentar fugir — cochichou num inglês tosco enquanto cortava a corda que lhe amarrava os pulsos. — O vento trás para Leonésio notícias de tudo o que acontece. Maravilhada pelo fato da bela Juana falar sua língua, Olívia mal prestou atenção no que ela dizia. — Você fala inglês! — Não muito — Juana ergueu os ombros com modéstia e abaixou-se para abrir as torneiras da banheira. — Mas ouço. Depois ficou repetindo as palavras para mim mesma até decorá-las como o rosário. Olívia se comoveu. — Está... Apaixonada por Leonésio? — Bem, ele vive dizendo que serei mulher dele quando ficar mais velha. Vou ser treinada para saber dar prazer. Um calafrio subiu pela espinha de Olívia. Ela fechou os olhos. — Quem é a mulher dele, no momento? você.

— Oh, há várias. Acredito que durante algum tempo quem vai dormir com ele é Olívia ficou pálida. — Só passando por cima do meu cadáver! — Oh, não diga isso! Ele manda espancarem você, se disser que não quer. Olívia engoliu em seco. — Oh, céus!

Juana colocou sais com aroma de jasmim no banho e fez um gesto para que Olívia entrasse. Na verdade, ela sentia vontade de se rebelar contra tudo e todos, mas estava tão cansada, suja e suada, tão necessitada de um bom banho, que achou melhor concordar. Talvez um pouco de limpeza a ajudasse a recobrar a razão, pensou livrando-se das roupas imundas e entrando na banheira. Enquanto lavava os cabelos e ensaboava o corpo dolorido, Juana ficou por perto. Quando ela terminou, ofereceu-lhe uma toalha enorme e felpuda para se enxugar e em seguida trouxe um vestido longo, branco, ainda com o preço preso na etiqueta, e um par de sandálias douradas. Depois a levou para um quarto luxuoso onde a fez sentar-se diante de um toucador e começou a pentear-lhe os cabelos molhados. Ao terminar, abriu um sorriso gentil. — Agora vou buscar comida para lhe dar forças. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller A última coisa que Olívia tinha vontade era de comer. Mas Juana tinha razão. Além de precisar de força física, tinha que evitar uma crise de histeria. Sua própria vida e talvez a de Esteban podiam depender desses dois fatores. A intenção de Olívia era tirar vantagem de cada oportunidade, por menor que fosse. Assim que Juana saiu do quarto, trancando a porta pelo lado de fora, ela correu para o terraço e olhou para baixo. Não havia nada, exceto o pátio de tijolos ao redor da piscina. Se resolvesse pular, seria uma queda da altura de uns dois andares. Sem chance, Olívia pensou. Ficaria reduzida a cacos, dos pés à cabeça. Feito uma peça de porcelana antiga. Voltou para o quarto e ficou andando em círculos, tentando imaginar outro plano. Nada lhe ocorreu. Não gostava de admitir, já que era uma pessoa de ação, mas, a menos que Esteban viesse salvá-la, estava entregue à mercê da sorte. O sol se punha no horizonte, quando Esteban e Pepito chegaram ao lugar onde Olívia havia sido raptada. — Leonésio — Esteban murmurou em voz alta. Nos momentos difíceis ele costumava se basear na lei de Murphy: quando algo estava para acontecer, acontecia. Leonésio de Luca Santana era o seu inimigo mais ferrenho. O mais cruel. O mais vingativo. Nada poderia ser pior do que um dos homens de Leonésio ter topado com Olívia em fuga. — E, pelo visto, os rumores estavam certos, Pepito. Leonésio voltou. — Si, patron. — Vá até as missões e avise os outros, Pepito. Sabe onde Leonésio costuma ficar quando vem para o México, não? — Si, patron. Na propriedade de St. Thomas. — Isso mesmo. — Haverá luta, patron. — Não, se pudermos evitar. Só quero minha mulher de volta, sã e salva. Pepito balançou a cabeça, com um ar cético. Tanto ele quanto Esteban sabiam muito bem que homens como Leonésio faziam dos conflitos um meio de vida. Esteban fez um gesto para que o amigo se fosse e montou novamente pegando o rumo do luxuoso retiro que ao longo dos anos passara pelas mãos de vários donos. Quando ele era criança, a propriedade pertencia à família de seu amigo, Enrique St. Thomas. Filho de mãe mexicana e pai francês, ambos temperamentais, vivia numa casa em clima de guerra. Tragicamente, o casal explosivo acabara morrendo durante uma epidemia de gripe, uma década antes. Enquanto seguia ao encontro de Olívia, porque era ela o foco principal e único de toda a sua existência, o magnetismo contra o qual ele não conseguia resistir, Esteban se perguntava por onde andaria Enrique e como seria ótimo rever o velho amigo. Já estava completamente escuro quando ele chegou ao seu destino. Amarrou o cavalo num local afastado do belíssimo jardim tropical que circundava a casa e aproximouse sorrateiramente. Havia guardas, claro, mas nenhuma evidência do pequeno exército de Leonésio. Apenas duas sentinelas, um encostado no portão, fumando, e dois fazendo a ronda do lado de fora da propriedade. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller Uma armadilha, sem dúvida. Leonésio queria se vingar por sua intromissão no esquema de venda de armas anos antes e sabia que ele viria atrás de Olívia. Estava à espera dele. Esteban suspirou. Havia jurado nunca mais entrar nesse tipo de jogada, mas isso fora antes que a bela ruiva americana surgisse em sua vida e a virasse de cabeça para baixo. Sem escolha, Esteban Ramirez deixou de lado sua identidade normal para, o que esperava ser a última vez, tornar-se o Leopardo. Passar pelos guardas foi tão fácil que o deixou decepcionado. O jantar foi servido no pátio, numa mesa sob um guarda-sol, junto à piscina. Olívia recebeu ordens de comparecer. Quando se encontrou com Leonésio, aparentava uma dignidade fria, um comportamento calmo e tranqüilo. Mas no íntimo mantinha-se alerta. Podia ouvir o menor estalido, qualquer pio de pássaros na vegetação rente ao muro baixo, de pedra, ao redor da propriedade. Talvez não passasse de um desejo oculto, mas quase podia jurar como Esteban se encontrava por perto. Era como seu coração e o dele batessem no mesmo ritmo. Leonésio sorveu um gole de vinho tinto e encarou-a bem dentro do olhar. — Esta noite você irá dormir em minha cama. — Só nos seus sonhos. Prefiro dormir com um dragão. Leonésio riu, jogando a cabeça para trás. — Ardente demais. Não é para menos que Esteban está obcecado por você. Olívia se obrigou a tomar alguns goles de vinho com calma e até mesmo arriscou algumas garfadas da comida sofisticada. — Sabe, você vai acabar tendo uma grande decepção. Ele a devorou com o olhar. — Não é o que meus instintos me dizem. — Pois saiba que o señor Ramirez já se cansou de mim. A estas alturas ele até deve ter comprado outro brinquedo. Leonésio ergueu as sobrancelhas. — Então ele a comprou? — Aposto como gostou da idéia, não é mesmo? E aposto como seus pais vivem imaginando onde foi que erraram com você. — Engana-se. Sou exatamente o que eles queriam. Mas creio que estávamos falando de você e não de mim. Quer dizer que Esteban a comprou? — Na verdade, dois homens me raptaram numa estrada onde meu carro alugado havia quebrado. Depois me venderam ao señor Ramirez e eu fugi assim que tive uma chance. — Ela deu de ombros, suspirando. — Só que acabei sendo capturada de novo por você. Enquanto Olívia torcia para que o inimigo acreditasse em sua história de fuga, viu um vulto pulando o muro logo atrás deles. Esteban pensou aliviada, mas continuou esforçando-se manter uma expressão impassível. — A vida de uma escrava branca não é fácil, Sr. Leonésio. Este é o seu primeiro Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller nome, não? Por acaso tem algum apelido? A conversa serviu de distração o tempo suficiente para que Esteban se aproximasse e passasse o braço em torno do pescoço de Leonésio, obrigando-o a levantar-se. — Si, ele tem um apelido — Esteban respondeu. — E pollo, que significa "frango". — Em seguida notou o vestido branco de Olívia e estreitou o olhar. — A sua parte nessa aventurazinha, discutiremos mais tarde. No momento quero que volte para a casa e fique lá dentro me esperando. Fui claro? Olívia, que àquelas alturas já não tinha tanta certeza se com o resgate sua situação melhorava ou piorava, obedeceu. Esteban estava furioso e ela podia imaginar o sermão que ouviria assim que ele desse um jeito em Leonésio e no bando. Ela e Juana sentaram-se num sofá do escritório de Leonésio e ficaram esperando. Quando ouviram um tiro as duas deram um pulo e Olívia correu para a porta, certa de que Esteban fora ferido e que, no fim das contas, o havia perdido. Colidiu com ele na porta. Provavelmente o tiro fora um sinal para os homens de Esteban. — Você não gosta mesmo de obedecer ordens, não é dulce? Aninhando-se nos braços dele, ela sorriu. — De fato esse não é um dos meus pontos fortes. Mas eu te amo, Esteban Ramirez. E acredite ou não, jamais quero me separar de você novamente! Ele afastou-a um pouco a fim de encará-la. — Então vai ficar? Mas você havia fugido... — Eu não fugi seu tolo. Saí para procurar flores de cactos e acabei me perdendo. Sabe, antes de eu vir parar neste mundo louco e conhecê-lo, eu vivia a vida de meu tio Errol, não a minha. Agora, pela primeira vez, estou sendo eu mesma e não quero abrir mão desta conquista. O sorriso de Esteban mostrou que ele a compreendia. E o beijo mais ainda. Um mês depois... Tio Errol usava um terno branco, Armani, ideal para os trópicos, e exibia um ar de felicidade como qualquer mãe de noiva. Despachara o forno e o torno de Olívia, assim que ela ligara para ele da cidade do México, comunicando que, apesar de já estarem casados, ela e Esteban queriam ter uma cerimônia formal na fazenda. Olívia sorriu ao observá-lo do terraço. O pátio todo fora decorado com flores e fitas e as longas mesas do bufê estavam repletas de travessas com as especialidades de Maria. Convidados de todas as partes do mundo bebericavam champanhe ao pôr-do-sol. Esteban aproximou-se dela, enlaçou-a por trás e depositou um beijo na base de seu pescoço. Olívia vestia uma longa túnica branca que lhe deixava os ombros de fora, portanto, muita pele para ser beijada. — Feliz, Dulce? — Oh, sim... Mais feliz que nunca. Ele a fez virar-se e beijou-a longamente. Ela ainda estava zonza quando, de braço dado com Esteban, seguiram em direção ao local onde, pela segunda vez, fariam os votos do matrimônio. Projeto Revisoras

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller — Só não espere que eu prometa obedecê-lo — Olívia o avisou e ele soltou uma gargalhada. — Mesmo que prometesse eu não acreditaria nem por dois segundos. Eu te amo, señora Ramirez. Olívia ergueu o rosto para ele e sorriu. Sorriu com os olhos, com o coração e com os lábios. — E eu também te amo, meu Leopardo. ************************************************

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Bianca Duplo 709.2 – Raptada pelo Amor – Linda Leal Miller

LINDA LAEL MILLER, autora constante da lista dos livros mais vendidos do New York Times, começou a escrever aos dez anos, e tem construído um nome para si mesma

tanto nos romances contemporâneos como nos históricos. Seu estilo arrojado e inovador transformou-a na preferida dos leitores. Considerada pelo Romantic Times como a "Melhor Autora de Romances Sensuais", Linda Lael Miller jamais nos desaponta.

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