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Oito cavaleiros mercenários, cada um deles nascido bastardo, cada um deles forçados por inexprimíveis torturas em um cárcere sarraceno, cada um deles selado com a marca da espada por toda a vida. Cada um de seus destinos marcado por uma mulher. Foi sussurrado ao longo das fronteiras que os cavaleiros do demônio, os quais cavalgavam sobre negros cavalos, levando negras armaduras e esgrimiam negras espadas, mataria a qualquer homem, mulher ou menino que se atrevesse a olhá-los. Foi sussurrado que sua lealdade era só para uns aos outros e ninguém poderia dividi-los, não havia suficiente ouro ou prata no Reino para comprar seu juramento. Era bem sabido que cada um deles não foi tocado pela mão de Deus, mas sim pelo próprio Lúcifer. Foi sussurrado também, mas só pelas mais valentes das almas, que cada Espada de Sangue estava destinada a encontrar a uma única mulher em toda a Cristandade, que arcaria com ele e somente seus filhos, e até que a mulher fosse encontrada, ele batalharia e devastaria a terra...
Revisão Inicial: Rafaela, Jessica, Juliana, Luisa Revisão Final: Lilly M. Visto Final: Anahi Projeto Revisoras Traduções
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— Você me deseja? — Arian perguntou. Stefan engasgou: — Que tipo de pergunta é essa? — Uma que requer uma resposta honesta. Ele balançou a cabeça. —Sim, eu desejo você. — Por quê? Porque sou útil? Ele sorriu e tocou em seus cabelos. Os cabelos eram como seda sob a ponta dos seus dedos calejados. O seu sangue, já aquecido, vivo. — Porque você é corajosa, apaixonada e bonita. — E se eu não fosse corajosa ou apaixonada. — Ela tirou os cabelos do alcance dele. — E se meu rosto fosse parecido com uma bruxa, e tivesse esse corpo. Será que você ainda me desejaria? —Eu desejaria o seu corpo. — Qual é a diferença? Ele sorriu lentamente. — Um homem pode encontrar a libertação em qualquer mulher que tenha as pernas dispostas. — É o mesmo para as mulheres? — Eu sei de algumas mulheres que amolecem apenas com um toque de um homem. Ela olhou firme para ele e disse lentamente: — É onde eu fico confusa. Os beijos do meu noivo eram quentes e macios. Eu não me importava. Mas você? — Ela apertou a mão no peito dele, e seu coração bateu contra ela. — Você faz alguma coisa comigo. Aborrece-me que seu toque evoque libertinagem em mim quando meu noivo não o faz.
Prólogo 3
1047. Castelo Dinefwr, Carmarthenshire, West Wales.
—Empurre Minha Senhora, empurre!― pedia Jane, a enfermeira real. A princesa Branwen apertou os dentes e empurrou com toda a força, rezando para a Deusa e para seu Senhor Jesus Cristo que ela iria ver esta criança viva depois de todo este trabalho. —Eu vejo uma cabeça tão vermelha quanto o fogo de Beltane! — Mal as palavras saíram da boca de Jane quando o choro vigoroso de um bebê encheu o pequeno quarto. Outra contração dolorosa tomou conta da princesa Branwen quando forçou a criança de seu corpo. — É uma princesa!— Jane chorou. Branwen desmoronou de volta no colchão de palha, tinha rezado fervorosamente para ter um filho, não podia conter um sorriso de satisfação. — Deixe-me ver, mostre-me a minha filha— Branwen disse suavemente, sua força, depois de três dias de trabalhos forçados, quase a esgotaram. Estendeu os braços trêmulos para a criança que berrava quase incapaz de manter o gesto, mas ficou feliz pelo esforço quando acariciou o bebê que estava em seus braços. Branwen olhou para baixo, os ralos cabelos cor de fogo sobre o rosto mais angelical que jamais tinha contemplado. O bebê se acalmou no instante em que a parteira colocou-a nos braços de Branwen. Com a ponta dos dedos, delicadamente retirou os rastros de sangue dos olhos da menina, e foi recompensada com um olhar calmo e penetrante. Ela suspirou, e seu coração se encheu ainda mais de amor. Olhou para a parteira, ignorando as linhas de expressão que lhe franziam a testa. — Uma velha alma, Jane. Ela já esteve aqui antes. — Branwen olhou de volta para a filha, o orgulho a encheu tão completamente que se sentiu dominada pela emoção. O aguilhão quente de lágrimas nublou sua visão. Embora a criança não fosse um filho, Hylcon seria muito orgulhoso. Depois de tanta dor, eles tinham finalmente sido abençoados com um filho vivo. Jane cacarejou sua resposta. Ignorando a criança, a parteira franziu os lábios como se tivesse tomado um gole de vinagre. — Mais um empurrão, Minha Senhora, para livrar seu corpo da placenta. Muito fraca e quase sem forças, Branwen empurrou e, quase tão fortemente quanto à saída da criança, sentiu a placenta deixá-la. Afundou-se nas almofadas úmidas e abraçou sua filha perto, pressionando um beijo na testa quente. Fechando os olhos, satisfeita com sua tarefa, colocou a criança contra o peito e respirou fundo várias vezes. Sem uma palavra, Jane apertou as mãos robustas na barriga de sua senhora e começou a amassar. Lentamente Branwen abriu os olhos e olhou para baixo, a criação em seus braços. Assim encantada com sua linda filha, Branwen não deu muita atenção para o fluxo contínuo de sangue entre as coxas. 4
— Vai passar. Sempre passa. — Branwen olhou para a parteira e para a sua filha, que estava enraizada em seu peito. Transpiração cobria a testa da serva, enquanto continuava a massageando-a. Quando ela se recusou a olhar para cima e encontrar o seu olhar, um calafrio tornou a pele de Branwen gelada. ― Jane ― ela sussurrou, seus braços tremendo, quase largando o bebê. A parteira lentamente ergueu os olhos da tarefa, um laço de preocupação marcava as linhas profundas ao redor dos olhos castanhos escuros, e por isso Branwen sabia, como uma pontada de medo, tão frio que ela sufocou um suspiro. Nesse momento de clareza, sua vida inteira, uma vida cheia de amor, riso e bondade, passaram lentamente diante de seus olhos, e teve a percepção de que não veria sua filha, que não seria desta vez. — Chame o meu marido — Branwen sussurrou. Ao seu comando, a idosa mulher se foi. Assistiu Jane sair correndo do quarto. Branwen pressionou a criança firmemente contra si, em seguida, fechou os olhos, rezando, mais uma vez para a Deusa, da forma antiga que ainda vivia no coração e na alma dos celtas de Gales. Rezou para a Deusa proteger sua filha, e que a desse a um homem que a amasse acima de tudo. Um homem que sacrificaria tudo por ela, um homem que iria protegê-la, assim como seu querido Hylcon a havia protegido. Jane trabalhava febrilmente, as mãos experientes amassando Branwen como fariam com uma massa. Branwen não sentiu dor. Como poderia com um presente tão perfeito em seus braços? Fechando seus olhos, ela apertou os braços em torno da pequena que chorava. Seu peito apertado com a emoção combinando o amor e a dor chocante do desespero de saber que havia perdido todos os que amavam e não havia nada além de uma intervenção divina para que ela pudesse ficar. Ela suspirou longamente, cansada, e com cada onda de sangue que fluía de seu corpo, Branwen sentiu sua força indo embora. — Branwen! — Hylcon chamou quando entrou na sala de parto, correndo para o lado dela. Virando a cabeça em direção ao seu marido, Branwen conseguiu fazer a simples sugestão de um sorriso. O medo torcia as suas características nobres. Será que ele sente seu fim? — Meu amor, eu lhe dei uma filha. Ele segurou as mãos em volta do bebê, seus olhos prateados não dando reconhecimento a seu filho. Ele, desde o dia em que a viu pela primeira vez, só tinha olhos para ela. Seu coração torceu de dor. Príncipe Hylcon, o sonho de qualquer mulher. Era tão bonito, um guerreiro poderoso e um bom marido. Um príncipe digno de seu povo. — Meu amor — ele sussurrou. Então, sempre muito gentil, com as pontas dos dedos, ele empurrou os fios de cabelos da testa úmida. — Não fale, você vai precisar de sua força para mais tarde. — Minhas desculpas, meu senhor, por não ter lhe dado um filho. 5
Impetuosamente ele sacudiu a cabeça e gentilmente apertou os lábios nos dela. Apenas um toque, apenas o suficiente para lembrá-la que ele a colocou acima de todas as mulheres. — Da próxima vez Bran, da próxima vez. Não podia dizer-lhe que não haveria próxima vez. Mas, viu o medo em seus olhos quando ele entrou na sala. Sim, ele iria lamentar sua morte, e por isso teve alguma satisfação. Não porque lhe desejou dor, mas porque ele era sua fonte. Pois seu amor era incomum. Esse amor cresceu de uma sementinha, quando se encontraram pela primeira vez no dia do casamento cerca de nove anos atrás, em um jardim florido. Mas ele faria o que fosse preciso, tomaria outra esposa. Segurou um soluço, com o peito apertado. Tinha falhado miseravelmente como esposa. Enquanto ele dera-lhe tudo, ela em troca só poderia, depois de seis bebês natimortos, dar-lhe uma filha viva e que iria tirar a sua própria vida. Sufocou outro soluço, desejando com toda a força, que pudesse conceder o desejo de seu coração. Mas não era para ser. — Meu amor — ela disse suavemente, — segure a nossa filha, ela se chamará Arianrhod como a Deusa da Lua, e dê a ela tudo o que você teria me dado. Balançando a cabeça, Hylcon caiu de joelhos ao seu lado, recusando-se a olhar para a criança. Ele apertou suas mãos grandes nas dela novamente, seus olhos prateados não fixavam em outro lugar, apenas nela, sua esposa, a quem ela sabia que amava mais do que sua própria vida. — Não me deixe Bran, eu proíbo! Com o pouco de forças que ainda possuía, Branwen segurou sua mão. Amava seu marido com todo o coração, mas não lhe daria a chance de rechaçar seu filho pela raiva de ter perdido sua esposa. — Jure Hylcon — ela respirava. — Jure que não vai tirá-la de seu lado. Seus olhos imploraram, e ela só sentiu depois dele ter concordado. Ela sorriu e fechou os olhos. — Espero você no portão, meu amor. Tome seu tempo, para a nossa filha, ela vai precisar de você. Entregue-a apenas para o homem de sua escolha. E só após fazê-lo prometer que manterá a sua vida mais preciosa do que sua própria. — Lentamente exalou, e sussurrou: — Em seguida, vêm a mim. — Não! — ele rugiu. — Não me deixe! Mas já era tarde demais
UM Agosto de 1067, Batalha de Hereford, Inglaterra.
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Ar espesso subiu como um manto fresco sobre o calor da manhã de verão. O céu azul com nuvens baixas e pesadas, prometendo chuva. Grandes urubus negros se sentaram pacientemente no alto das árvores de carvalho, como se convocados pelas banshees1 para vir e recolher os mortos. E haveria muitas almas para recolher nesse dia. De onde Stefan de Valrey estava montado em seu poderoso cavalo de guerra Fallon, tinha uma visão clara do vale abaixo, a floresta que o cobria, e as Montanhas Negras subiam por detrás como grandes gigantes adormecidos. Atrás, as pedras cinza do Castelo Hereford, ainda não estavam completas. Na frente, uma exibição respeitável de soldados trabalhava febrilmente, fortalecendo as defesas do castelo. Por trás das muralhas do castelo, estava uma força maior, guarnições diversas de soldados normandos prontos para a batalha, e em torno deles, do alto da muralha centenas de arqueiros. Ao longe, um mar de padrões se misturava em uma tapeçaria de cores, tanto como galês e saxão, unificada contra Normandia, marchando em uma cadência constante em linha reta em direção a eles. Embora fossem léguas de distância, sua intenção era clara. Como um enxame de gafanhotos, eles queimavam uma ampla faixa de destruição atrás de si. Seu destino: Castelo de Hereford. Mas seria duramente pressionado para romper a fortaleza sólida e os cavaleiros experientes que esperavam por trás das paredes de pedra. Stefan tinha certeza. Essa era a simples razão para que ele e os seus homens fossem convocados por William Fitz Osbern, o Conde Normando de Hereford. Tinha insistido para que seu primo, o rei William, o Conquistador, enviasse seus melhores soldados, os Les Morts2, para lutar ao seu lado contra o Saxão, Conde Edric, e os dois reis Galeses, Rhiwallon e Bleddyn, que vieram com a esperança de matar os normandos, saquear o campo e enviar uma mensagem para a Normandia que nunca seria esquecida. O lábio de Stefan deixou escapar um rosnado. Tolos! Todos eles! O Conquistador não poderia ser derrotado! Os galeses lamentariam a sua decisão de aliar-se com Edric. William trataria duramente qualquer homem que o frustrasse. Stefan controlou a sua raiva. Ele aprendeu há muitos anos a nunca ir para a batalha com qualquer desses sentimentos, mas ir completamente equilibrado. E isso o manteve vivo durante todos os seus vinte e oito anos, e iria mantê-lo vivo neste dia. Em uma saudação silenciosa, ele tocou com as pontas dos dedos o elmo e acenou ligeiramente com a cabeça, em direção à horda invasora. Um oponente digno, sem dúvida. Mas, em sua mente, não havia nenhuma dúvida sobre quem seria o vencedor no final do dia. E o dia, mais algumas horas prometiam uma luta digna. Mesmo agora, apesar da vastidão do exército que ali estava, e das atividades que os acompanhava, tudo estava estranhamente tranquilo. Era uma sensação que Stefan apreciava: a calma mortal antes de se perder no inferno. 1
As Banshee provêm da família das fadas, e é a forma mais obscura delas. Quando alguém avistava uma Banshee sabia logo que seu fim estava próximo: os dias restantes de sua vida podiam ser contados pelos gritos da Banshee: cada grito era um dia de vida e, se apenas um grito fosse ouvido, naquela mesma noite estaria morto. 2 Em francês: Os Mortos ou os matadores.
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— Os galeses e saxões crescem cada dia mais ousados! — Stefan disse olhando para seus irmãos das Espadas de Sangue. Seus olhos se estreitaram por trás do elmo quando ele girou para a esquerda. Rohan, Warner, e Thorin, o filho bastardo do rei escandinavo Harald Hardrada, eles movimentaram suas cabeças em uníssono, seu estreito olhar focado no mesmo ponto. Stefan calculou a sua direita, para Ioan, Wulfson, Rorick, e Rhys, seus rostos demonstrando o mesmo sentimento. Cada um deles montando um negro cavalo de guerra, cada um vestido de preto, cada um armado com arco, flecha, espada, e lança, e Thorin, como sempre, afagou a alça de seu grande machado da batalha, Beowulf. Stefan acariciou o punho de couro de sua espada. Sim, muitos iriam morrer neste dia. Em vez de apreensão, a emoção o encheu como sempre acontecia antes da batalha. Era isso o que fazia, era assim que levava a sua vida, seu desígnio. Não era um homem gentil, mas, então, nem a guerra era gentil, nem os homens ao seu lado, que ele chamava de irmãos. Todos os guerreiros eram sem coração, eles morreriam, pois viviam com a espada. Voltou sua atenção para a força do atacante. A maioria dos homens teria percebido que estavam em desvantagem e em menor número e fugiriam pela ponte levadiça, passando pela portcullis3 a ser descartado e preparado para um cerco, mas não Stefan, nem seus irmãos de armas. Seu olhar varreu mais à frente para a parede de soldados normandos, então por cima do ombro direito para as muralhas altas do Castelo de Hereford, para os arqueiros que estavam prontos e em suas posições. Fitz Osbern estava encarregado do comando, enquanto a Stefan tinha sido dado o comando dos cavaleiros. Quando o inimigo estava dentro do alcance dos arqueiros, uma tempestade de flechas caiu sobre eles. Depois de terem sido amortecidos, os arqueiros se ajustaram e continuaram a sua barragem na floresta, enquanto os soldados marcharam para frente ladeado por um muro de aço e cavalos. Então, e só quando o calor da batalha alcançou seu apogeu, a fúria do inferno seria desencadeada quando as espadas de sangue entrassem na batalha. Uma vez que qualquer alma viva cruzasse o seu caminho, teria que orar por uma morte rápida e indolor. Era uma rotina familiar, e que Stefan gostava muito, pois era quando as Espadas de Sangue enfrentariam o que restava da elite inimiga, e se não houvesse alguns mais temíveis do que eles. Stefan nunca se sentiu bem em matar um oponente que não estivesse à altura. Assim, se contentou em esperar sua vez. Fallon sacudiu a cabeça, em seu elmo. Stefan afagou o pescoço do grande cavalo. — Paciência rapaz, iremos lutar em breve. — Richard é um tolo como senhor. — Warner fervilhava: — Sua mão pesada trouxe esta batalha sobre nós. — Sim — Stefan concordou. — Sua ganância criou esta guerra. Se Fitz Osbern não tivesse dado mais atenção para seu vassalo ambicioso, não estaríamos em uma posição precária. — Apesar da arrogância de Richard, — Rohan roncou — Edric é um louco por frustrar William! Ele perderá tudo. 3
Porta fortificada que consiste numa grelha, grade
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— Mas esconde os vassalos para que William não possa tomar os leais, não é Stefan? — Wulfson perguntou. O coração de Stefan bateu com emoção contra o peito com a menção da terra. Ele balançou a cabeça. — Você e Rohan têm feito muito bem para si mesmos. Essa é uma terra que todos nós procuramos Wulf. Assim como o meu, iremos produzir os melhores cavalos da cristandade! — Hah! — Rorick gargalhou. — O que acha de uma mulher? Stefan fez uma careta. Ele preferia a companhia de seus cavalos em vez de mulheres. Os cavalos eram leais ao seu mestre. As mulheres não. Ele tinha aprendido bem a lição como jovem, de uma nobre que não só tinha dado seu corpo para ele, mas prometeu seu amor eterno e então a verdade era que o queria apenas para levá-lo de volta ao seu pai que se recusou em reconhecer-lhe. O dia em que ela se casou com um rico nobre saxão tinha sido o dia em que ele vendeu sua espada pelo maior lance e jurou que no dia em que tomasse uma mulher seria em seus termos. — Não, eu não sou como Wulf e Rohan, eu prefiro a minha solidão. E você sabe que eu não tenho confiança para o mais justo dos sexos. Rorick esticou o braço e lhe deu uma tapa nas costas. — Sim, eu sinto sua dor, irmão. Mas você deve admitir, não há nada mais doce do que passeio entre as coxas macias de uma serva. Stefan sorriu: um gesto raro. — Concordo. Ele se concentrou no exército que se reunia logo abaixo e fez uma careta. Seu coração continuava a bater forte contra o peito, mas não por causa dos pensamentos em montar uma bela donzela num pano macio. — Mais bandos. Olhem. — Thorin apontou em direção ao horizonte ocidental e as enormes nuvens de fumaça preta que se elevavam no ar espesso atrás do exército invasor. Uma brisa sensual levantou-se e acariciou rosto de Stefan, como uma mulher após uma forte sessão de sexo. Ele resmungou em pensamento. — Todos eles são acoitadores de Herefordshire, — Wulfson murmurou. Stefan balançou a cabeça, e ergueu a lança. — Sim, e eles vão pagar caro pelo privilégio. — Ele virou o cavalo e fez um gesto para que seus homens o seguissem. — Se quisermos vencer o Galês devemos fazer mais do que amaciá-los com as flechas e atacá-los em campo aberto. Se esperarmos que cheguem perto das muralhas do castelo, com seus numerosos soldados podem nos deter e ficaríamos em desvantagem bruta. Um cerco não é de nosso interesse. Temos de encontrar uma maneira de destruí-los en masse4 antes que atinjam os limites exteriores do castelo. — Os guerreiros das 4
Em francês: em massa
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Espadas de Sangue balançaram a cabeça e se uniram como um só, e como eles estavam acostumados a fazer, eles elaboraram um plano de ação traiçoeira. Várias horas mais tarde, Stefan estava com seus irmãos no alto dos muros do Castelo de Hereford. — Se o plano não funcionar, Valrey, seus homens irão morrer hoje. — William Fitz Osbern disse sem rodeios. Stefan virou-se para o primo do Normando Conquistador e limitou o desprezo em seus lábios. A ganância, não a honra, guiava este filho da puta. — O tempo dirá. — E quando as palavras saíram de sua boca os primeiros soldados percorriam pela floresta até a borda do longo campo em torno do castelo. Ele sorriu e bem baixinho disse: — Agora assista e aprenda. — Fitz Osbern mudou-se para a beira da muralha de pedra e ficou com Stefan e seus irmãos, observando como os galeses e saxões se aproximavam. Quando a faixa de mais de trinta homens, varreu a margem da floresta e marcharam em campo aberto, Stefan levantou a mão e um som alto explodiu. De repente varias outras lanças foram atiradas a partir do solo de várzea e soldados normandos estouraram no campo, esfaqueando e cortando o inimigo, os atacando completamente de surpresa. Confusão reinou entre as forças dos Galeses e Saxões. Stefan sorriu. Deitado na grama baixa mais atrás, um grupo mortal de arqueiros levantou-se e atiraram no inimigo, depois voltaram para seus esconderijos entre a grama alta. Stefan levantou a mão novamente, a corneta soou, e os soldados normandos caíram e rolaram, desaparecendo sob as cortinas de palha tão rapidamente como apareciam. À medida que o exército galês se espalhava em confusão, quase 200 arqueiros normandos em frente ao campo de batalha soltaram outra saraivada de flechas. Gritos e maldições rasgaram através do campo. Outra barragem de flechas foi lançada, a recompensa foram mais gritos e, agora, pânico selvagem. Stefan levantou a mão novamente e a corneta soou mais uma vez. As cortinas foram abertas , e os soldados surgiram, esfaqueando e cortando o inimigo. E, como antes, com a mesma rapidez como apareciam, desapareciam. A cena se repetiu varias vezes até que o inimigo foi capaz de estabilizar-se e recuar. Stefan franziu a testa. Antes que eles se reagrupassem, para cada soldado galês e saxão que caíam três o substituíam. — Abaixe a ponte e envie a primeira leva de soldados! — Fitz Osbern falou para o seu capitão, que esperava no pátio. O enorme portão lentamente levantou e a pesada ponte foi abaixada. Quase metades das guarnições foram ao encontro do inimigo. — Envie o grupo de cavalaria em primeiro lugar! — Stefan falou. Ele viu como os arqueiros continuaram a desembarcar as suas flechas à frente dos soldados normandos. Quando o exército galês e o saxão, reagrupados entrou em exibição, Stefan cautelosamente observou, e sua preocupação cresceu. Apesar das dezenas de cavaleiros que se dedicavam ao lado dos soldados de infantaria, e o ataque continuado de flechas na floresta, os normandos no campo começavam a vacilar. — Instrua os arqueiros para atirar para a floresta, para deter o fluxo! — Stefan disse a Fitz Osbern. Fitz Osbern fez uma careta, não gostando da interferência de Stefan. — Faça isso agora! — Stefan ordenou.
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A ordem foi dada, e o resultado foi imediato. Com o fluxo de soldados estagnado, os normandos, em menor número, ganharam tempo para fazer o que eles faziam de melhor. Lutar. Como a batalha se desenrolava, Stefan observava, segurando o punho de couro de sua espada. Ele sorriu quando percebeu cada um dos irmãos das Espadas de Sangue também acariciava os punhos de suas espadas. Eles não podiam ajudá-lo. Estava em seu sangue. Stefan voltou sua atenção para a cena da batalha que acontecia na sua frente. As flechas dos arqueiros haviam diminuído perigosamente, e assim as chuvas de flechas na margem da floresta não eram tão rápidas ou pesadas. Os galeses se aproveitaram disso. Eles quebraram a linha dos Normandos, e quando o fizeram, os homens de Fitz Osbern começaram a hesitar. — Eles vacilaram! — Stefan chorou. — Aos cavalos, homens! — Os irmãos das Espadas de Sangue seguiram pressionando a estreita escada de pedra para o pátio onde seus cavalos os aguardavam. Conde.
— É muito cedo! — Fitz Osbern gritou depois deles. Stefan virou-se e olhou para o
— Se não nos reunirmos aos homens e mostrar-lhes que podemos vencer o dia, tudo estará perdido! — Virou-se e correu para seu cavalo. Quando a ponte levadiça levantou lentamente, o som do ranger da roda substituindo o barulho da batalha, os oito cavaleiros montados, quatro lado a lado, a mais temível vista. Stefan, ladeado por Thorin em sua esquerda e Rorick e Warner à direita, foi seguido por Wulfson, Rohan, Ioan, e Rhys em suas costas. A ponte pesada abaixava, e antes de atingir terra, os oito cavaleiros negros, lançaram gritos, prontos para a batalha que crescia em todo o campo, correndo para encontrar o inimigo. Assim como o Mar Vermelho abriu para Moisés, os soldados ante eles se separaram. Em uma formação cerrada, eles montaram para fora, e com cada passo de precisão praticada, eles foram mais distante até que se espalharem num semicírculo apertado. Em formação, eles começaram a cortar uma faixa em todo a campo. Corpos caíram, um renovado fervor varreu o exército normando. Cada vez que eles se reagrupavam, os irmãos davam seu grito de batalha, e como a peste, eles destruíram todos os seres vivos em seu caminho. Mas como a batalha se desenrolava, as Espadas de Sangue se tornou o foco dos reis galeses Rhiwallon e Bleddyn, que assistiam a batalha da floresta. Ao longo do tempo, a formação foi se separando, e quando Stefan cortou fora o braço de um soldado que teria feito o mesmo com ele, lançou um olhar à sua direita, depois à esquerda. Seus irmãos foram tão fortemente incorporados no meio da batalha que ele não poderia distingui-los. Ele se virou na sela, e com um arco poderoso cortou a cabeça de um Inglês. O suor escorria em filetes pelo rosto, ardendo em seus olhos. Ele piscou, e impulsionando Fallon mais adentro na briga. Seu olhar de gavião varreu o campo de batalha, localizando então descansando as costas de sua espada de sangue no companheiro à frente, e ele viu que eles também estavam tão profundamente focados nas forças combinadas dos galeses e saxões como ele. Ele não permitiu que o fato de terem se separado para dissuadi-lo da tarefa: manter seguro o Castelo de Hereford por quaisquer meios necessários. Ele observou enquanto Wulfson, Ioan, Thorin, Warner, Rohan, e Rorick abriam caminho através de uma luva de soldados de infantaria. Como Stefan impeliu seu cavalo para frente, ele estreitou o olhar. Mais galeses saíram das florestas vizinhas para tragá-los.
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Preocupação roia seu intestino. Ele chamou Rhys à sua direita, e apontou com a espada sangrenta na direção das hordas correndo com a velocidade do vento até seus irmãos à frente. Rhys freou seu cavalo para flanquear a coluna da direita, enquanto Stefan circundava a esquerda. Tanto os homens como as suas espadas embainhadas e os arqueiros com seus arcos, um após o outro, dezenas de flechas voaram sobre os homens que os atacavam. Stefan não tinha tempo para admirar o seu trabalho, quando um homem caia de cada flecha que ele atirava. Não olhou para ver se Rhys era tão preciso quanto ele, pois sabia de anos de montaria e lutando juntos havia poucos que poderiam ser melhores cavaleiros do que o jovem. Quando sua aljava se esgotou, Stefan freou o cavalo negro e sacou a espada novamente, e com a outra mão ele segurava um pique 5 mortal e puxou-o da carcaça de um galês abatido. Girou sua mão grande até que se encaixasse confortavelmente na sua aderência. Então ele examinou o horizonte de seus irmãos entre as hordas. Quando não conseguiu localizá-los, pela primeira vez desde que os oito fugiram daquele inferno em uma prisão na Península Ibérica, Stefan sabia que a Senhora Morte espreitava no horizonte, não para um, mas para todos eles. Raiva se apossou dele. Não iriam cair para esses covardes! Stefan lançou um olhar rápido sobre a Rhys, que tinha se movido, e como Stefan, tinha pegado o pique de um homem morto. Na outra mão ele segurava a espada em riste. Cada uma das respectivas montagens foi tão altamente treinada na arte da guerra como foram os seus mestres. Com as duas mãos livres a empunhar armas, os cavaleiros controlando suas montarias com suas pernas e movimento do corpo. — Pelas Espadas de Sangue! — Stefan gritou acima do barulho da batalha. À medida que se aproximaram unidos, como uma força da natureza, soltando seu grito de guerra. Os urubus que esperaram pacientemente nas árvores se espalharam no céu quente de verão. E quando seus irmãos entraram em sua vista, Stefan assistiu com horror como eles foram cercados por vários soldados galeses. Rugiu sua fúria só em pensar que poderia perder um deles, e como cortaria quem atravessasse seu caminho em direção a eles, a lâmina afiada pesava em sua coxa. Ele se revirou em sua sela para olhar a outra extremidade da batalha e viu vários flashes de espadas diante de seus olhos. A dor queimava seu rosto, e então o mundo escureceu.
DOIS Dinefwr Castle
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Uma lança de aproximadamente 3 metros, com uma ponta de metal.
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—Senhora Arrrriiiiiiaaaaaaannnnn, — Jane chamou da porta da capela. —Se apresse criança, o séquito do Jarl6 está a caminho! O coração retumbou no peito de Arian, e de repente se sentiu nervosa. Do pequeno cemitério não muito longe da capela, concordou, assentindo ao comando de sua ama. Deixando escapar uma profunda respiração, Arian afagou o tardio ramalhete de jacintos descansando ao lado daqueles que seu pai trouxera naquela mesma manhã ao túmulo de sua mãe. Seu pai contou que aquelas eram as flores preferidas de sua mãe, e toda vez que o doce perfume era levado na brisa até seu nariz, lembrava-se da mulher que nunca conhecera. A cruz de pedra que marcava onde sua mãe descansava, cintilava branca, como as conchas do mar na praia sob o sol de agosto. Por um longo momento, Arian ficou observando, e lamentou a perda, não de sua mãe, mas de seu pai que, de tão entristecido pela perda de seu verdadeiro amor, vivia acometido pelo desespero, Arian temia por seu bem estar. Ultimamente, seus surtos sombrios eram mais frequentes. Ele vagava pelos sombrios corredores do castelo, e podia ser encontrado tarde da noite e no início do dia, sentando ali como ela estava com lágrimas brilhando em suas bochechas. Em todos os seus anos de vida, Arian tentou tirar o homem responsável por sua vida desse humor obscuro. Há muito se foi o dia em que ele andava resoluto pelo castelo, chamando por sua filha para correrem contra o vento sobre os garanhões de Dinefwr. Há muito se foram os dias em que o acompanhava até as terras distantes para fazerem trocas por seda, por especiarias ou por bugigangas exóticas. E enquanto muitos desses luxos eram cobiçados em suas terras, o verdadeiro tesouro que viam em suas viagens era a descoberta de outro puro-sangue para fortalecer a renomada linhagem de seu estábulo. Desde que retornaram na última primavera da corte do Rei Murchad, em Dublin, se se aproximasse demais, ele pararia e a olharia como se ela fosse uma alucinação. Amava o homem que a via como se fosse um fantasma. No entanto, não era fácil de convencê-lo disso. Por todo seu distanciamento, era com o passar dos aniversários de morte de sua mãe, aos olhos dele, a reencarnação de Branwen. E ela sabia que esta era a razão de seu profundo desespero. —Arian!— Morwena, sua madrasta, chamou cortante, vindo em sua direção pela muralha. —Venha para o castelo agora! Arian suspirou e deu um último olhar para a cruz e lentamente levantou-se. Morwena. Não havia mulher mais infeliz em toda Gales do que a mulher de seu pai. Arian suspirou novamente, e lentamente limpou a sujeira de sua saia amarelo-alaranjada e verde-esmeralda. Deu de ombros, e olhou por sobre eles para a mulher que estava em pé ereta como uma vara no meio do pátio, com as mãos em seus quadris estreitos e suas sobrancelhas negras em V sobre um nariz aristocrático. Não podia culpar Morwena. Embora a mulher tentasse, não conseguia, mesmo com o nascimento de um filho, fazer Hylcon de Carmarthenshire feliz. E fora o grande sofrimento de seu pai que a ensinara as lições de amor. Embora ansiasse pelo casamento com Magnus, o Alto da Noruega, ela nunca o amaria. A vida que seu pai levava, tendo 6
Chefe escandinavo.
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amado tão profundamente apenas para perdê-lo, não era que queria para si. E a miséria sofrida por Morwena diariamente por seu marido que não conseguia largar uma lembrança, também não lhe agradava. Não, Magnus era um bom homem, sobrinho do jovem Rei Olaf da Noruega. Mas não havia garantias de que não mantivesse uma ou duas amantes sob seus cuidados. Era o jeito dos homens, não? O frade Wythe a chamava de pragmática, e ela o tomava como um elogio. Seria uma boa esposa para Magnus, e lhe daria filhos, mas nunca entregaria seu coração apenas para ser quebrado. E não era tão inocente a ponto de achar que seu marido nunca a trocaria por outra. Entendia os costumes do casamento, e estava preparada para quando ele desse as costas para si como Hylcon fizera com Morwena, se contentaria em criar seus filhos e dirigir a grande quantidade de casas como era esperado de uma dama de sua posição. trapos!
— Agora, criança! — Morwena implorou. —Suba antes que ele a veja nesses
Arian apressou seu passo, só um pouco. Suas roupas dificilmente seriam descritas como trapos, mesmo suja como estava. Eram dignas de uma princesa. Hylcon era rico e era recompensado generosamente por seu constante comércio com os escandinavos. Ela tinha melhores jóias e vestuários do que muitas rainhas. Sorriu a caminho de sua madrasta. Sim, poderia ser pragmática com os assuntos do coração, mas também possuía um lado frívolo. Afinal, era mulher! Uma que apreciava boas roupas e jóias e cavalgar sobre os cavalos mais invejados em toda Gales. Não apenas o Rei Rhiwallon, primo de sua mãe, e seu irmão Rei Bleddyn cavalgavam os melhores garanhões nascidos da linhagem Dinefwr-Castile, mas reis e imperadores levavam suas éguas para ficarem em baixo do grande garanhão espanhol de Dinefwr. Sim, cavalgava com a leve brisa contra suas bochechas e apreciava o tempo em que cavalgava como o vento, seu cavaleiro de companhia ficava na poeira clamando para que fosse mais devagar. Arian ria alto pensando no pobre Oswain, escudeiro de seu pai, no dia anterior. Eles correram a oeste e ela o convencera que iria percorrer todo o caminho até a costa do Mar Irlandês para encontrar Magnus quando aportasse! Ele ficara tão branco quanto os cisnes que deslizavam ao longo do Tywi logo abaixo do declive íngreme onde o castelo fora construído. Uma vez de volta, o convencido informou a seu pai de que era uma desordeira e que quebraria o próprio pescoço e de quem mais a escoltasse. Hylcon franzira o cenho e a proibira de cavalgar novamente sem que ele estivesse junto. Quão útil ela seria a um Jarl escandinavo se tivesse o pescoço quebrado, ele reclamou quando argumentara. Sua ordem apenas reforçava a vontade dela em casar-se. Mal podia esperar para que Magnus a reclamasse como sua noiva. E mal podia esperar para se ver longe de Dinefwr e do fantasma de sua mãe morta. Enquanto Arian se aproximava de Morwena, percebeu as bochechas claras como nata se avermelharem. Morwena era magra, com longos cabelos negros e grandes e brilhantes olhos cor de urze. Ela era, para uma pessoa tão pequena, cheia de vigor. — Se você fosse minha filha eu lhe daria um tapa tão forte em suas orelhas que você ouviria o zumbido em sua cabeça por uma quinzena. Venha, vá para seu quarto. Você precisa banhar-se e vestir-se para seu prometido. Você não quer que a veja com sujeira no rosto e lama em seu vestido. Ele repensará sua oferta.
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Arian deixou Morwena tagarelar enquanto a arrastava pelo pátio traseiro das escuras paredes do castelo e pelo grande salão que fervia de atividades. Em dois dias, seria uma mulher casada, e uma grande celebração se seguiria. Estremeceu ante o pensamento da cama nupcial e esperava que Magnus fosse gentil. Seu humor se acalmou ao pensar em seu futuro marido. Haviam se conhecido em Dublin na primavera passada. Em sua primeira apresentação, Magnus a fez saber de seu interesse. Ele era grande, gentil, belo e com bom coração. Ele lhe pedira um beijo para selarem o contrato. Quando ela deixou Dublin, partiu com a promessa de que ele viria até o final do verão e se casaria com ela. Morwena deve ter sentido sua apreensão. — Jarl Magnus é um bom homem, Arian. Ele prometeu a Hylcon colocá-la acima de qualquer outra mulher. Ele deu seu juramento de que nunca levantaria a mão para você. — Papai o fez jurar isto?— Arian perguntou genuinamente surpresa. —Sim, era o desejo de morte de sua mãe, que apenas a entregasse para o homem que você escolhesse e que a colocasse acima de qualquer outra. Arian tropeçou nas palavras: não que Magnus tivesse garantido seu juramento, pois a queria como sua princesa e diria ao príncipe que dançaria sobre sua cabeça e que engoliria fogo se isso fosse preciso. Ela levaria um grande dote em ouro, terras, cavalos, e o mais azul de todos os sangues do País de Gales. Não, era isso que sua mãe imaginara, mesmo em seu leito de morte, como seria o futuro de sua filha. — Papai lhe disse isso? Morwena balançou a cabeça, e então gentilmente a empurrou em direção as amplas escadas de pedra que seguiam até os quartos superiores. — Não, Jane. Uma noite depois de muito hidromel. Arian sorriu. Jane, embora estivesse velha, era esperta e podia ainda acompanhar Arian. O fato de acompanhá-la a Noruega acalmava muitíssimo os nervos da garota. Jane era muito sábia e saberia como guiar Arian em todas as coisas de casada. Assim que entraram no quarto, Arian esperava ver Jane, mas não a viu. — Jane não veio da capela? —Sim, mas eu a mandei encarregar-se de um serviço. Eu quero que vista seu vestido de noiva uma última vez antes das rugas serem alisadas, — Morwena circundou Arian, e sem esperá-la se despir, começou a desfazer os laços de trás de sua saia. —Fico magoada ante sua ânsia em ver-se livre de mim, — Arian disse suavemente, não se mexendo enquanto sua madrasta passava o tecido por sua cabeça. Morwena pausou em sua tarefa, o tecido sufocando Arian. Então o tirou completamente disse: — Não fique, Arian, não é você que quero longe dessa casa, mas as memórias as quais você incita.
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Arian deixou escapar um longo suspiro e assentiu. Se ela fosse petulante poderia ferir Morwena, mas não era. Em seu próprio modo, Morwena havia sido uma boa mãe, e era um dos pais mais ativos para seu irmão Rhodri. Ele tinha apenas dezessete anos, mas era um homem e tanto. Até onde Arian sabia, ela era a imagem de sua mãe e Rhodri de seu pai. — Eu rezo Arian, para que uma vez que você esteja casada e tenha partido, Hylcon comece ver-me como sua esposa. —Eu também rezo por isto. Você dois merecem felicidade. Morwena fez um som suave no fundo de sua garganta, mas quando Arian girou para olhá-la, ela virou-se em direção da tina que estava soltando vapor. — Venha, a água esfria enquanto você brinca. No momento em que se afundou na aveludada água morna, Jane entrou no quarto, seguida de duas criadas. Precisava das três para carregar o longo vestido de noiva de veludo azul-céu e trançados dourados. Arian franziu o cenho. Embora lindo, não era o que ela tinha encomendado com a costureira. Seu coração iniciou uma batida levemente cadenciada em seu peito. — É lindo, Jane! Mas não é o que vestirei no dia do meu casamento. A velha aia olhou para cima e franziu sua sobrancelha. — Era da sua mãe. Morwena e Arian ofegaram em uníssono. — Mas... Jane balançou a cabeça e olhou de forma triste a Morwena antes de olhar de volta para Arian. — O Príncipe Hylcon insistiu que o usasse no dia de seu casamento. Quando expressei minhas preocupações ele me cortou com aqueles olhos pratas tão parecido com os seus e disse, Ela usará o vestido de sua mãe ou não haverá cerimônia! — Não está certo!— Morwena gritou. —Ele perderá toda a compostura quando a vir no vestido de Branwen! Eu o proíbo! Jane balançou a cabeça e olhou para sua senhora com algo similar a piedade. — Lamento muito, Minha Senhora, mas ele foi inflexível. Morwena sufocou um soluço e correu do quarto, batendo a grossa porta. Jane espantou as empregadas do quarto e começou a se encarregar de sua obrigação. —Em três dias você deixará este lugar como uma mulher casada, Arian. Deixe a tristeza aqui, não a arraste com você. Não é sua para carregá-la.
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Apesar de palavras de sua aia, o coração de Arian pesava em seu tórax. Se apenas sua mãe tivesse sobrevivido ao seu nascimento, o quão diferente teria sido sua vida. —Você não mudou de ideia? Você irá comigo?— Arian perguntou. Por mais valente que fosse, e independente do quanto ansiava por sua vida na Noruega, não conseguia aguentar o pensamento de Jane ficando para trás. —Sim, eu vou aonde você for, da mesma maneira que eu fiz com sua mãe. E então, com a mente em paz, Arian estava pronta para saudar seu noivo.
No mesmo instante em que Jane estava tecendo as últimas tiras douradas numa coroa trançada, Morwena entrou de repente no quarto. Sua rudeza surpreendeu ambas, Arian e Jane. — Jarl Magnus enviou uma procuração de noivado! As bochechas de Arian se endureceram. — Ele não veio em pessoa. — Não, ele está envolto em alguma discussão política em suas terras. Ele viajará para sua propriedade em Yorkshire em dois meses para lá casar-se com você. — Mas nós iríamos velejar para a Noruega. Ele quer que eu cruze a Inglaterra em viagem? — O pensamento a aterrorizou. Com os normandos sanguinários saqueando a zona rural, não estaria segura. —Ele enviou uma grande escolta de contingência e seu de sobrinho Sir Dag como seu noivo de procuração. Seus navios foram atacados por piratas irlandeses. Só três barcos sobreviveram. É muito perigoso viajar com tão pouco. Com o séquito dele e os homens que Hylcon providenciará você estará a salvo para cruzar a Inglaterra. — Mas meu pai apoiou Harald! E o tio-avô de Magnus atacou York menos de um ano atrás! William é um tolo. Ele não achará aliados nem em Gales nem na Noruega! — Lorde Dag acredita que a passagem segura pela Inglaterra esteja garantida com o ouro do Jarl. Um zumbido começou na barriga de Arian, como se uma única abelha buscasse uma saída. —O que meu pai disse sobre o assunto? — Ela perguntou. Morwena empalideceu alguns tons, torcendo suas mãos. —Ele não sabe. Ele levou seu cavalo pelo caminho do rio quando a escolta de Lorde Dag chegou. Arian bufou.
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— Eu verei meu noivo de procuração. Mas se eu não me der bem com ele, esperarei até chegar a Yorkshire para dizer meus votos! —Não, Arian, você dirá seus votos indiferentemente. Lorde Dag não tem nenhum direito marital sobre você, ele apenas está aqui em nome de Magnus já que ele não pôde vir. É uma prática comum. — Morwena a assegurou. O zumbido na barriga de Arian se intensificou. Um pressentimento sombrio tomava conta dela. — Não, — ela respirou. — Ele não velará pelo meu bem-estar como Magnus o teria feito. Sua cabeça começou a pulsar, sabia que se fizesse os votos, nunca chegaria a Yorkshire intacta. A garantia de sua virgindade fazia parte do contrato de matrimônio. Magnus havia sido inflexível quanto à ideia de que sua noiva não tivesse sido tocada por qualquer homem antes dele. Ela fechou os olhos e pressionou a ponta dos dedos na têmpora, então lentamente balançou a cabeça. Abriu os olhos e disse simplesmente: — Eu não direi as palavras. — Mas você precisa ir a Yorkshire! — Morwena chorou. — Eu vou para Yorkshire, mas não como uma noiva casada por procuração. Morwena pegou as mãos de Arian e apertou-as. — Você não está fazendo sentido, Arian. Não há razão para não casar desse modo! Mesmo que Lorde Dag seja um grosseiro, ele não pode te tocar! — Morwena implorou. Quando Arian não cedeu, Morwena exalou lentamente, e mais calmamente continuou, — Se você não for como uma mulher casada, Hylcon nunca permitirá que vá. — Lágrimas encheram os olhos de Morwena. — Por favor, Arian, case com Magnus por procuração e vá. As costas de Arian se enrijeceram. — Eu encontrarei um modo de convencer papai. Mas eu não direi as palavras ao Lorde Dag se ele não me agradar. Jane e Morwena olharam desconfiadamente de uma para a outra e as duas empalideceram. Arian movimentou a cabeça, sua decisão tomada. Ambas a conheciam muito bem. Tinha um jeito de conseguir o que queria, mesmo quando ia contra a natureza. Quando se deslizou para dentro do grande salão sem ser anunciada, e seu primeiro olhar recaiu sobre o Viking alto e careca, com um curto cavanhaque dourado e olhos frios como gelo, Arian estremeceu. O olhar penetrante de Lorde Dag fixou-se nela, mas apenas brevemente encontrou com seu olhar audaz. Ao contrário, seu olhar caiu e se manteve em seu peito, e então viajou lentamente da sua cintura aos seus quadris, onde ficaram ainda por mais tempo, antes de retornar ao seu peito. Arian se segurou para não soltar uma imprecaução. O insulto dele era ultrajante. Seu olhar se voltou para o seu pai, que se sentava numa mesa mais alta, Morwena ao seu lado, e quando era para estar muitíssimo feliz pela carranca que ele fizera para o viking careca, não estava. As faces de seu pai
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ficaram vermelhas enquanto uma tempestade se juntava nele. Abruptamente ele se levantou e apontou acusadoramente um dedo para Lorde Dag. —Como ousa olhar para minha filha com tal olhar luxuoso? Ela é uma princesa prometida a um parente de seu sangue! Não uma égua a ser comprada no mercado! Dag teve a decência de empalidecer e rapidamente se curvou. Ele manteve sua postura servil e disse, numa voz profunda muito carregada: —Mil perdões, meu senhor, eu fui tomado de surpresa por sua incrível beleza. Meu Senhor Magnus não fez jus a sua beleza em sua descrição. — Ele se curvou ainda mais baixo enquanto girava em direção a Arian. —Você é muitíssimo bela, minha senhora. Por favor, perdoe minha audácia. Eu estou ao seu dispor. Arian não acreditou em nenhuma das palavras do Viking. Havia sido luxúria, não admiração, que enchera seus olhos audaciosos. Hylcon se virou e disse raivoso em seu trono. — Você é rápido com palavras, Lorde Dag, mas eu não sou um homem cego. Retorne ao seu mestre e diga a ele que até que venha pessoalmente clamar por minha filha como sua noiva ela permanecerá aqui. Arian arfou, assim como todos no grande salão. Lorde Dag se ergueu, e embora seu rosto tivesse ficado vermelho e era óbvio que estivesse alarmado, manteve sua postura. Reverenciou mais uma vez e quando se ergueu, deu um passo para perto de Hylcon. —Meu senhor, por favor, permita que meu escriturário leia as palavras que meu senhor Magnus teria lido a sua filha num momento privado. Talvez isso suavize seu humor. Hylcon fez uma carranca, mas acenou com a mão. Dag se moveu até seu escriturário — um monge tonsurado7 — e entregou a ele um documento selado. Ele quebrou o selo, e quando desenrolou o pergaminho, clareou sua garganta. “Minha querida Arianrhod, Eu rezo que esta missiva a encontre saudável e feliz. É com sincero remorso que não posso me fazer presente, pois não tenho pensado em nada que não seja seu sorriso e sua doce voz desde que nos conhecemos nessa última primavera. Não se passa nenhuma noite em que não sonhe com você. Enquanto seu pai deixou claro sua preocupação pelo seu bem-estar, fiquei mais do que feliz em assegurá-lo de que não havia nada a temer. Pois como vê, meu amor, eu recusei muitas mulheres da nobreza em minha busca pela mulher perfeita, mas quando meus olhos pousaram em você naquele glorioso dia de primavera, eu soube naquele instante que seria minha senhora. Coloco a ti e os seus desejos sobre os meus. Por favor, aceite meu sobrinho como meu procurador. Ele, como eu, temos apenas as melhores intenções no coração, e se eu pudesse, não esperaria nem um bater do coração para ir a ti. Mas meu rei requisitou minha presença. Assim que meus assuntos com meu rei estiverem concluídos, correrei para estar ao seu lado. Então, até que nos encontremos novamente, por favor, dê sua mão ao Lorde Dag como se a estivesse dando a 7
Aquele que praticou a tonsura; cerimônia religiosa em que o prelado dava corte no cabelo do ordinando, corte circular, coroa.
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mim, jure sua promessa de fidelidade a mim, doce Arian, como eu, através dele jurarei a minha a você. Eu impacientemente espero por sua chegada em Moorwood, minha propriedade em Yorkshire, e prometo ir a você, minha esposa, na primeira oportunidade. Seu leal marido e servo, Magnus.”
Arian estava arraigada ao chão. Calor enchendo sua barriga. Ninguém jamais, pos seus desejos sobre os próprios. As palavras de Magnus soavam tão verdadeiras, e por causa disso, que ela concordara tão prontamente em casar-se com ele. Pois, como ele, ela tivera muitos pretendes para sua mão, mas seu pai deixara a escolha com ela. E fora Magnus da Noruega que escolhera. Ele era belo e gentil, e, no momento em que foram apresentados, se viram envoltos em uma cômoda camaradagem. Seu olhar se elevou aos olhos de gelo de Dag, e um forte estremecimento perpassou por todo seu corpo. —Eu não direi as palavras a você, Lorde Dag, mas eu irei a Yorkshire esperar por meu noivo. — Mas meu Senhor Magnus assim o deseja! — Sir Dag contrapôs claramente perturbado. Arian sorriu. — Sim, sim ele quer, mas ele põe meus desejos sobre os dele. Ele não disse isso na carta para mim? Lentamente Dag anuiu. O sorriso de Arian aumentou. — Então, esse é o meu desejo, Sir Dag, não direi meus votos ao senhor ou a qualquer outro homem, além de meu noivo em pessoa. — Não! — Hylcon urrou, ficando de pé. — Você não viajará pela Inglaterra como uma mulher não casada, e mesmo que você estivesse casada, não é seguro, nem mesmo com um exército como escolta! Arian firmou seu espaço. Não continuaria ali. Não podia! — Papai, eu irei a Yorkshire e casarei com Magnus! Enquanto Hylcon andava a passos largos furiosamente em sua direção, ela ia tão furiosamente quanto ele em sua direção. Não recuaria. Não podia! A dor no coração de seu pai era tão grande em relação a ela que ele não conseguia enxergar que ela não era Branwen. Enquanto permanecesse em Dinefwr, os períodos de escuridão de seu pai ficariam maiores e qualquer chance que tivesse com Morwena estaria morta. Partiria, e jamais olharia para trás. Para salvar a todos, Arian se recusava a desistir. Partiria imediatamente. Enquanto o rosto de Hylcon se avermelhava, sua respiração se tornava mais laboriosa; e seus olhos pratas pareciam que pulariam das órbitas. Arian vacilou na sua 20
aproximação. Ele segurou o colarinho e puxou o tecido para longe de seu pescoço. Abriu a boca, seus lábios se moveram, mas nenhum som saiu deles. O medo tomou Arian. — Papai! — Ela correu na direção dele no mesmo instante que ele caia a seus pés. — Hylcon! — Morwena gritou, saindo de seu assento na mesa alta. Arian baixou ao chão de pedra, e com a ajuda de Morwena, o viraram e ficaram aliviadas ao perceber que ele respirava. Rhodri, nunca era pontual a não ser que lhe fosse conveniente, apareceu no grande salão, sem dúvida, vindo de alguma vadiagem com uma ou duas criadas. — O que está acontecendo aqui? — ele exigiu, correndo ao lado delas. — Papai teve um ataque. Ajude-me a levá-lo ao seu quarto, — Arian disse. E assim foi como Hylcon caíra de um ataque de nervosismo a um sono profundo. Ele foi levado para o seu quarto e cuidado por sua esposa e recebeu apressadamente um médico. Arian permaneceu fora, nas sombras, observando o vai e vem, sentindo como se o peso de toda Gales estivesse sobre seus ombros. Era sua culpa. Hylcon exigira coisas ridículas dela, recusando deixar a última parte viva de sua falecida esposa. Não havia dúvidas do que precisava fazer. — Rhodri, — chamou seu irmão, assim que ele entrou no quarto, foi até ela, seus olhos inquiridores tão parecidos com os seus. Não pode evitar um sorriso terno. Ele era quase uma cabeça mais alto que ela, que não era baixa para uma mulher. Enquanto ela tinha as madeixas mel e clareadas pelo sol como sua mãe, Rhodri tinha os cabelos negros como seu progenitor. Ele era muito bonito, e podia enganar um falcão tirando um rato de suas garras. As pessoas de Carmarthenshire o adoravam, e estavam mais do que ansiosos para que o jovem príncipe tomasse uma noiva. Seu sorriso aumentou a despeito do humor negro que pairava no quarto. Havia vários bastardos correndo por aí com os mesmos olhos prateados que ela e o irmão possuíam. Arian sabia que da mesma forma que tinha suas próprias reservas sobre o verdadeiro amor, Rhodri também tinha as suas. Era um tópico no qual passavam muitas horas ponderando: enquanto ambos desejavam desposar, também não desejavam o amor. Ela tomou as largas mãos dele entre as suas e o puxou para um canto silencioso. — Eu preciso partir daqui antes que papai acorde. Como você é o Lorde aqui enquanto ele está doente, eu imploro por sua permissão para partir. — Os olhos prateados de Rhodri escureceram e ele abriu a boca para argumentar. Ela balançou a cabeça e afiançou sua causa. — Comigo aqui, sua mãe nunca terá uma chance de ser feliz, e para mim o mesmo se aplica. Se eu não for agora, Rhod, quando acordar, e irá, porque ele é saudável como nossos garanhões, nunca permitirá que eu parta. — Ela apertou sua mão. — Eu preciso ir, Rhodri. Eu preciso partir e viver minha própria vida. Os olhos dele procuraram os seus; sabia que ele estava com medo de que se a deixasse partir enquanto Hylcon dormia, haveria um inferno na terra quando acordasse. — Tudo que eu peço é por um contingente de soldados para me escoltar até Yorkshire junto com os homens de Lorde Dag. 21
Após muitos minutos, Rhodri anuiu e apertou as mãos frias de sua irmã. — Eu a acompanharei até a fronteira inglesa pessoalmente. Arian quase desmaiou de alívio, mas ao invés, drenou forças de sua escolha, e como a irmã mais velha, tinha voz em alguns assuntos. E não teria seu irmão, a quem amava acima de todas as outras pessoas, se colocando em risco por ela. — Você será Príncipe aqui, Rhodri, se ele não sobreviver. Não é sábio ir para tão perto da Inglaterra agora. Ele jogou um olhar irado ao homem que eles chamavam de pai. — Eu não tenho lealdade por ele, apenas para minha mãe e para você, irmã. Se ele acordar e perceber que não estou, não será a primeira vez, e, como em todas as outras vezes ele não se importará. Ela colocou a ponta de seus dedos na bochecha dele, onde a sombra de uma negra barba começa a despontar em linhas cinzentas em seu belo rosto. — Não cometa o mesmo erro que ele, Rhodri. Encontre uma esposa que o mereça, mas uma com a qual você possa viver bem. Ele deu um sorriso quebrado de trapaceiro. — Assim como você, irmã, eu aprendi bem a lição. — Ele olhou por sobre o ombro ao seu progenitor. — Prepare-se para partir a primeira luz da manhã. Eu lidarei com ele quando acordar.
Três
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O zumbido das moscas foi o primeiro pensamento consciente de Stefan, mas a intensa dor ao longo da face direita e da coxa direita, logo o ofuscou. Alguma coisa pesada pressionava o seu peito e o cheiro da morte entupiu a sua garganta e seu nariz. Tossiu e tentou mover as pernas, mas elas estavam presas por um peso maior. Abriu os olhos, só para encontrar escuridão. Sobressalto percorreu o seu corpo, quando ele não reconheceu a paisagem ao seu redor. Seu corpo se contorceu ardente. Será que tinha perdido a visão? Acalmou a onda de confusão. Fechando os olhos, respirou fundo e lentamente abriuos novamente. Inalando profundamente e expelindo lentamente, murmurou com voz rouca. — Graças aos santos. — De onde estava deitado de costas, podia ver um ligeiro piscar de estrelas acima. Cuidadosamente, Stefan absorveu o ambiente ao seu redor e olhando para escuro campo, reconheceu onde estava. No campo de batalha em Hereford. Vozes baixas ao longe atravessavam a noite abafada. Tentou mover sua perna direita, mas fogo queimou em brasa na sua coxa. Ergueu a mão para o rosto e fez uma careta. Sua luva estava perdida e, por tanto, seus dedos calejados tocaram na ferida aberta, afastando as moscas dali. — Pelo sangue de Deus! — Estava no inferno? E seus irmãos onde estavam? Será que tinham caído? Será que foram deixados para morrer como ele? Num surto de grande força, empurrou o corpo que estava no seu peito e tentou sentar-se. Mas as suas pernas também estavam presas. Franziu o cenho e seu coração parou por um breve momento ao contrair-se. No suave brilho da lua, Fallon, o seu garanhão que tinha sido criado desde potro, jazia morto em seus pés, com a grande cabeça a descansar sobre as canelas de Stefan. Um duro nó se formou em seu peito, tornando difícil respirar. O cavalo tinha dado tudo o que tinha ao seu dono e em troca apenas pedia amor e respeito. Stefan deitou-se na grama pisada e, enquanto organizava os seus pensamentos, as vozes distantes se aproximavam. Vozes saxãs. Risos e o som do tilintar de aço. Saqueadores. Cerrando a sua mandíbula, ignorando a dor, com grande esforço e precisão, Stefan retirou as suas pernas debaixo da cabeça do cavalo. Ele estava perto o suficiente da borda da floresta, poderia arrastar-se para lá e poderia observar e esperar. Pegando a pele cheia de vinho de sua sela, Stefan amarrou-a no cinto da espada, depois procurando na parte traseira de seu alforje o pequeno saco de carne de veado seca, que sempre transportava, assim como várias bolsas de ervas curativas, pomadas, roupa de cama e uma agulha com linhas fortes. Como mestre do cavalo, ele nunca ia sem um bálsamo ou erva para poder acalmar o seu cavalo ou os de seus irmãos antes, durante ou depois de uma batalha. Depois de fortalecido, sob o manto da escuridão e com a força que lhe restava, Stefan lentamente se arrastou entre os corpos normandos, saxões e gauleses para a cobertura de proteção da floresta, com apenas o seu braço e perna sãos para ajudá-lo. Nas suas entranhas, sabia que a Normandia tinha perdido a batalha, e quando pensou na perda de seus irmãos, seu coração não pode suportar a dor da perda. Havia falhado com eles. Tinham-lhe dado o comando e ele falhou! Stefan esgotou todas as suas forças ao rastejar-se para a borda da floresta. Enfraquecido, se inclinou contra um carvalho caído e respirou grandes golfadas de ar. Quando a respiração voltou ao normal, cuidadosamente cutucou a sua coxa lesada. Podia sentir a cota de malha quebrada e, por baixo, sangue pegajoso. Estremeceu quando os seus dedos penetraram profundamente em sua coxa. Desamarrou as botas, chutando-as, depois tirou a 23
calça de malha, tarefa que lhe custou mais força. Suor escorria como um riacho por seu rosto, mas foi mais forte do que a dor. Rasgou a parte inferior da sua calça de lã, na perna direita, e fez uma careta. Na penumbra pode ver um corte longo e profundo que percorria horizontalmente a frente de sua coxa direita. Pelo menos a ferida não era algo tão vital que pudesse impedi-lo de andar novamente. De maneira ágil e com aquilo que tinha em mãos, Stefan limpou a ferida com vinho, derramou algumas ervas, misturando-as com um bálsamo, depois enterrou a mistura na ferida. Quase imediatamente, sentiu que diminuía alguns dos calores. Enquanto tratava daquilo, a ferida em seu rosto começou escorrer e, com apenas os seus dedos para guiá-lo, limpou a ferida para depois esfregar o bálsamo nela. Cavou dentro de uma bolsa e grunhiu com satisfação. Sua agulha e linha resistente. Na escuridão da noite, com apenas os dedos para guiá-lo, Stefan costurou sua própria coxa fechando-a. Quase esgotado por causa da dor, fez o mesmo no rosto. Já que não poderia fazer mais nada para ajudar o seu corpo a curar, Stefan comeu com lentidão, porque lhe doía ao mastigar a carne de veado seca e bebeu vinho. Exausto e quase incapaz de mover um músculo, deitou-se sobre a cunha de um carvalho caído e a umidade do solo. Fechou os olhos e pensou em seus irmãos, querendo saber como eles se saíram, e esperando que ao do nascer do sol, os encontrasse. Vivos. Raios brilhantes do sol espetaram-lhe nos olhos. Stefan estreitou os olhos e enquanto a sua mente acordava o seu corpo também fazia o mesmo. Uma dor insuportável alfinetou na coxa e na face. Seu corpo estava quente e as suas articulações doíam. Seu braço parecia feito de chumbo, quando levantou-o para proteger os seus olhos do sol. Tentou mover a coxa, mas era difícil e latejava com o esforço. Tinha apertado durante a noite. Precisava de um cataplasma e de mais bálsamo. Quando cutucou na pele inchada, estremeceu. Não havia mais nada que pudesse fazer a não ser limpá-la. O que não daria por um córrego frio, para aliviar a alta temperatura do seu corpo e deixar a água limpar a sua febre! Mais uma vez, com um supremo esforço, se levantou do chão e pousou-se sobre o cepo de árvore. A visão que o cumprimentou sob a luz do dia teria chocado a maioria dos homens, mas ele tinha visto saqueadores antes. Enxames deles encontravam-se ao longo dos soldados mortos, pegando cada peça de vestuário utilizável e armamento dos seus corpos, bem como dos cavalos de guerra caídos. Centenas de corpos nus brilhavam brancos e inchados sob o sol da tarde, outras centenas jaziam totalmente vestidos e armados, demasiado saque para catadores covardes. Uma visão nada fora do comum para um guerreiro experiente. No entanto, eram os grandes corvos pretos, que se debruçavam sobre os corpos mortos, rasgando a carne inchada e as entranhas, grasnando para os saqueadores que se aproximavam demais, que revirava o intestino de Stefan. Não havia honra para os guerreiros mortos que jaziam presos pelos saqueadores humanos e animais. Olhou para o céu cinzento e rezou para um Deus com quem raramente falava, implorando que ele poupasse os seus irmãos daquela farsa. O impulso de Stefan era sair correndo para o campo, para encontrar seus irmãos e trazê-los de forma segura até à floresta. Mas, não poderia ajudá-los a menos que ajudasse a si mesmo primeiro. Prudência o advertiu. Com a sua armadura preta, seria conhecido, pois só ele e outros sete homens usava aquilo — um presente do Conquistador para os seus guardas mais confiáveis. Tão rápido quanto podia, Stefan despojou-se da sua armadura, puxou do seu cinto uma adaga e cortou um galho grosso do cepo onde esteve dormindo. Cautelosamente se 24
levantou e testou sua perna, usando o tronco de carvalho para apoiar-se. Desajeitadamente moveu-se ao longo do limiar da floresta procurando de perto, entre os saxões e gauleses mortos, o suficiente para roubar e não ser visto pelos saqueadores. De repente, parou e olhou por cima do vasto campo, avistando o latente castelo. Havia caído. Completamente destruído. Uma raiva fria o infundiu. Afastou o olhar da cena e olhou de volta para os mortos que se espalhavam pelo campo. Cautelosamente, fez seu caminho através da carnificina e com cada passo doloroso, sua fúria aumentava. Galeses e saxões pagariam caro pelo ataque. Quando William ouvisse falar da perda, viria para vê-los pagar com o seu sangue sobre a sua espada. E Stefan estaria montando ao lado dele. A vingança era doce quando era servida numa bandeja de prata. Quase podia prová-la. Estava tão concentrado nos seus pensamentos que tropeçou num corpo. Torceu-se no ar para manter o peso do impacto longe da sua coxa e face. Aterrando com um baque forte, se deitou perfeitamente imóvel, enquanto ondas de dor corriam nele, tão intensas que respirou forte. Não ousou mover-se para evitar que alguém por perto ouvisse o barulho. Mas as vozes estavam longe, aproveitando as presas fáceis. Quando a dor diminuiiu o bastante, Stefan equilibrou as suas respirações e sentou-se. Estava com sorte: o corpo em que tinha tropeçado era de um saxão gordo. Em pouco tempo, despiu o homem, vestindo o seu casaco de couro e a sua cota de malha. Aquilo lhe serviu muito bem, embora não fosse a sua cota de malha. Stefan manteve o cinto de sua espada e do punhal, mas agarrou na lança que estava pousada ao lado do homem morto, para usar como uma bengala. Elxaminou a área por uma espada, mas não encontrou nada além de um arco quebrado. Iria encontrar o que precisava no outro campo. O pensamento revirou o estômago. Nunca tinha ido para um campo depois de uma batalha e se transformado num urubu, pegando as armas dos mortos. Agora não tinha escolha. Para sobreviver teria que ir. E iria sobreviver. Fortificado com a roupa do saxão, não deu muita importância ao seu rosto bem barbeado. Seu cabelo caía até aos ombros, do mesmo modo que os dos saxões, e se alguém questionasse o seu rosto, poderia facilmente pôr as culpas num porco normando. Era prática comum entre eles, caso algum saxão os desafiasse. Stefan saiu mancando do campo de batalha cheio de lixo, com a intenção de chegar ao seu cavalo e localizar de sua própria espada. Manteve a cabeça baixa e os olhos abertos, procurando o rosto de cada soldado caído em seu caminho, orando para que nenhum deles fossem seus irmãos. Rhys estava ao seu lado quando caiu, os outros estavam à frente. Demorou um esforço considerável para atravessar sobre as pilhas de corpos, e cada um pelo qual passava a sua gratidão crescia. Nenhum era familiar. Encontrou um arco bom e pendurou-o no ombro, depois várias setas. De um normando, arrancou a espada de seus dedos duros. Aquilo não era tão digno como Thor, a sua própria espada, mas serviria até que ele recuperasse a sua arma. Lentamente moveu-se para o local onde tinha caído. Quando se aproximou, Stefan rosnou baixo. Um saxão gritou de alegria. Urubus dispersaram. Em sua mão, Thor. O soldado segurou alto no ar, mostrando o tesouro para a vizinhança. A raiva de Stefan cresceu, quando outro cão saxão puxou a sela do seu adorado corcel de batalha e vasculhou nos sacos. Em lentos passos dolorosos, Stefan moveu-se na direção deles, varrendo pelo caminho o terreno encharcado de sangue por Rhys.
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Um tumulto irrompeu. Uma luta entre os dois saxões pela espada. Stefan parou e assistiu, na esperança de que um matasse o outro. O que tinha saqueado o seu cavalo caiu de joelhos com Thor enterrado no fundo do seu intestino. — Eu avisei Edwin, eu teria a espada! — O vencedor do despojo chutou o corpo da lâmina e continuou a decapagem em Fallon tirando seus freios e arma. O ganancioso saxão parou quando outro homem, um galês, com roupas de qualidade nobre, parou para ver a sela que o saxão levava nos ombros. Ele abaixou-se e pegou no elmo preto de Stefan, que tinha se soltado sobre o perímetro acentuado de Fallon. Traçou o dedo sobre o desenho ali incrustado, ao qual Stefan sabia que era uma gravura de um crânio, com uma espada mergulhada nele. ― É a mesma marca, o mesmo tipo de elmo dos cavaleiros capturados em Rhiwallon. — Disse ele num grosso inglês para o saxão. O coração de Stefan deu uma guinada no peito com a notícia. Seus irmãos capturados? O galês olhou para o mar de homens mortos, como se procurasse pelo dono do elmo. Por um momento ofegante, os olhos dele se encontraram com os de Stefan, mas passaram adiante para os outros que limpavam as carcaças. — A lenda diz que são oito. Meu soberano capturou seis. Os outros dois devem estar aqui entre os caídos. — Olhou duro para o saxão. — Você já viu outro elmo como este? — Não, mas eu deveria, sem dúvida conseguiria um bom preço. Os cavaleiros de que você fala são os melhores do Conquistador. Ele vai pagar o resgate de um rei pelo seu retorno, hein? — Ele vai pagar com mais do que o ouro pela libertação deles. — O galês colocou o elmo de Stefan debaixo do braço. — Se você descobrir outro elmo, ou qualquer outro homem com armadura preta, traga-o para mim. Eu sou Morgan ap Cynfor, minha tenda está depois da crista. Será bem alimentado e bem pago pelo seu esforço. Stefan não sabia se ria ou se chorava. Seus irmãos viviam! Mas, por quanto tempo Rhiwallon os manteriam cativos? Examinou o campo, com a certeza de que Rhys, o que estava ao seu lado quando caiu, era o outro irmão da Espada de Sangue que conseguiu evitar a captura. Será que vivia? Ou estava enterrado sob os cadáveres em decomposição? Mantendo a si mesmo, Stefan vasculhou a área por Rhys, até que a sua perna esteve tão inchada e doíalhe tanto, que temia não ter força suficiente para voltar ao seu lugar na floresta. Mas de alguma forma ele conseguiu. Espalhou-se no solo argiloso, deitando-se de costas e fechou os olhos. Quando acordou, não foi com o brilho do sol, mas com uma quente respiração molhada sobre o seu rosto. Começou a se afastar, mas na pouca luz do nascer do sol, ele soltou um relincho. Era Apollo, o cavalo de Rhys! Estava completamente posicionado e paciente, como se esperasse um comando de Stefan. — Olá, meu bom amigo. ― Disse suavemente, esfregando o nariz aveludado de Apolo. Mal conseguindo se levantar, Stefan se ergueu para o lado da cela. Vasculhou os alforjes e encontrou uma bolsa de caça, um odre de vinho e outra pequena bolsa de ervas e bálsamos, mais linha e outra agulha. Caiu no chão, tirou as calças de malha e olhou suas feridas. Embora doessem muito, uma vez que estavam limpas e com bálsamo fresco aplicados nelas, o pulsar diminuiu o suficiente para sentar-se contra o cepo e respirar várias golfadas de ar. Depois comeu e bebeu. 26
A fadiga venceu. Fechou os olhos, imaginando se encontraria Rhys, se ele vivia, e como iria libertar seus irmãos das mãos gananciosas de Rhiwallon. Quando acordou o sol já estava atrás dele para o lado oeste. O ar tinha arrefecido e o campo de cadáveres apaziguado. Decidiu dar a si mesmo mais uma noite de descanso antes de iniciar a sua viagem. Apollo estava contente pastando na vegetação circundante; escondidos como estavam e os campos agora desprovidos de saqueadores, embora os urubus ainda farejassem, não se preocupou em ser descoberto. Com nada além de seus pensamentos para lhe fazer companhia, o humor de Stefan virou negro. O profundo vazio de seu coração aumentou. Sem os seus irmãos não tinha nenhum objetivo. Eles faziam parte dele, como as suas mãos, os seus braços e suas pernas. Aceitavam a sua sorte na vida sem julgar. Na verdade, todos eles tiveram a mesma sorte danada. Todos eles bastardos, cavaleiros mercenários que tinham encontrado no Conquistador um soberano digno de lealdade. E ele não iria falhar com William, nem com seus irmãos. Iria encontrar uma maneira de livrá-los de Rhiwallon, mesmo que tivesse de fazê-lo sozinho. dormiu.
Com essas convicções finais, fechou os olhos, se entregou as dores em seu corpo e
Na manhã seguinte, depois de olhar seus ferimentos e de tomar uma refeição pobre, Stefan se levantou com grande esforço. Aventurou-se pelo campo de batalha, uma última vez, na esperança de encontrar uma muda de roupa. Do homem morto, cuja espada ele tirou-lhe do estomago no dia anterior, e se sentindo um covarde, mas sem nenhuma outra escolha, Stefan com a adaga do morto, despojou-o da sua camisa de couro, da sua roupa interior e outras vestimentas. Aquelas poderiam não ser as suas roupas e as suas armas, mas teria que servir por enquanto. Mancou de volta até Apollo e atirou a sua própria armadura e algumas roupas ‘emprestadas’ dentro da preciosa sacola de pele de lobo de Rhys. O cavaleiro montou o animal com suas próprias mãos e usou a pelagem macia para dormir, enquanto estavam na estrada — o que era frequente. Então amarrou o casaco de couro num alforje. Com grande esforço, Stefan montava o corcel de batalha e cuidadosamente viajava pela floresta densa, mantendo a grossa adaga consigo para evitar saxões e galeses que percorressem a floresta à procura de homens como ele, normandos solitários. Quatro dias depois de uma lenta viagem encontrou um antigo mosteiro druida, onde havia passado uma noite não há muito tempo atrás. Tentou não sorrir, mas não pode evitar. Aquele tinha sido o lugar onde, uma noite, Wulfson aprisionou a sua senhora. Um alívio aflorou sobre ele naquele terreno familiar. Iria para a propriedade de Wulfson onde a sua senhora ‘esperava por noticias’. De lá, eles iriam definir estratégias e encontrar uma maneira de trazer para casa os irmãos das Espadas de Sangue. Não iria descansar até que vissem todos eles vivos, com os seus próprios olhos, e devolvidos ao solo Inglês. Ele tinha sido responsável pela captura, por tanto, seria ele que os libertaria, custasse o que custasse! Por trás da ruína havia uma antiga trilha druida, que ele sabia que levaria a um riacho que enchia uma piscina escondida mais a frente. Ele fedia a sangue, suor e sujeira, e não conseguia mais suportar o cheiro. O local se revelou um pequeno oásis, e Stefan soltou um longo suspiro. A água fria o faria se sentir melhor e os seus ferimentos, embora não estivessem curados, sofreriam uma profunda limpeza.
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Desmontado e permitiu que Apollo bebesse, então foi para a parte de trás, para a convidativa piscina e para o meio de uma pequena clareira com um bosque de samambaias e arbustos. Lá, amarrou o cavalo num ramo e despiu-se. Lavando apenas a sua adaga, Stefan entrou na água fria. Por um longo momento, fechou os olhos e reclinou-se contra a borda, permitindo que a água resfriar o seu corpo. Embora o ferimento na sua coxa não mostrasse sinais de estar pútrido, aquilo era sempre uma preocupação e apesar de quão horrível era a ferida no rosto, esta não provocava tanta dor como a de sua coxa. Sem sabão, ele pegou um punhado de musgo e limpou sua pele. Quebrou um pequeno galho que pairava sobre a água, estilhaçou-o e vigorosamente lavou os dentes. Lavou e cuspiu, e uma vez limpo, ele ‘saiu da água’ e deitou-se sobre uma grande rocha plana, para poder secar-se nu sob os raios quentes da tarde. Fechou os olhos e permitiu que o cansaço das suas feridas o embalasse num sono profundo. Sonhou com tempos atrás, no tempo em que lutou pela sua vida e pela dos irmãos na prisão moura, na sua infância conturbada, na Normandia e da única luz brilhante de sua vida escura, Lisette, a dama que roubou seu coração para depois jogá-lo num monte de esterco, quando uma oferta melhor lhe foi feita. —Stefan! — Riu Lisette arrastando-o pela mão em direção ao estábulo, ele tinha acabado de chegar. — Você prometeu-me mostrar o potro. — Suas bochechas estavam coradas com a emoção de uma jovem apaixonada e seus olhos não enganavam. Não era o potro que ela desejava ver. — Seu pai proibiu a nossa união. Há servos com línguas soltas no estábulo. — Advertiu. ― Mas não podia mais resistir a ela, era como não respirar. Esquivando-se atrás de uma árvore, ele a puxou para dentro do círculo de seus braços. ― Vem comigo até o riacho. — Ele sussurrou. — Eu irei à frente agora, encontre-me logo que puder. ―Libertou-a e correu tão rápido ao esconderijo, quanto as suas pernas de 16 anos permitiam. O lugar onde tinham passado horas ociosas professando o seu amor um para o outro. O lugar onde ele tinha aprendido os segredos do corpo dela. Quando ela chegou para encontrá-lo mais tarde, ele soube pelos seus olhos vermelhos e lágrimas rolando em seu rosto, que algo terrível tinha acontecido. — Lisette, o que a preocupa? Ela se jogou em seus braços. — Papai diz que eu preciso escolher entre o velho saxão Overly e o mais idoso ainda Robert de Sax-Barre. Eu escolho nenhum. É você quem eu amo. — Ela chorou como se os problemas da Normandia repousassem sobre os seus ombros delgados. — Quando será que o seu pai irá reconhecê-lo publicamente, Stefan? Ele a puxou para o encontro de seus braços. — Meu pai, o grande Conde d'Everaux, herdeiro de Lyon Holdings, braço direito do Duque, o homem mais rico do reino. Porque haveria de reconhecer-me, Lisette? Não sou seu filho aos seus olhos, quando tem o meu legítimo primo Ralph como o menino de seus olhos. — Porque você é mais digno do que Ralph pode imaginar ser! E eu mereço ser sua Condessa! Ele a beijou, mas quando os lábios se separam tinha que saber a verdade. — Será que importa o fato que eu não serei o herdeiro da fortuna de Lyon? 28
— Não! Eu te amo, independentemente! — Mas você se casará comigo? — Claro! — Ela virou-se e depois lentamente desprendeu o seu vestido, expondo cada curva cremosa do seu corpo. Não era a primeira moça com quem ele tinha estado, mas seria a primeira e ultima a quem ele amaria. — Stefan, não importa que o Conde não o reconheça agora. Ele irá reconhecê-lo, eventualmente, depois você terá tudo o que sempre sonhamos. Que ela tinha sonhado. Um bonito título de senhora, que o amava, não por aquilo que ele poderia dar-lhe, pois não tinha nada para dar além de amor, mas ela era a única mulher que viu o seu lugar no mundo e viu quem ele era, e não o julgou pelo que não tinha nas mãos. Stefan gemeu e seu coração apertou. Sim, não a teve uma vez só, mas três vezes naquela tarde quente e, no dia seguinte, quando o seu pai adotivo lhe apresentou mais uma vez ao homem responsável pelo seu nascimento, exigindo que ele reconhecesse publicamente o que toda a Normandia sabia ser verdade, o Conde recusou. Quando Stefan deu a notícia a Lisette, ela se tornou fria com ele e saiu de sua vida, para o leito conjugal do rico saxão, Lorde Overly de Scarborough. Ele acordou com o riso suave de uma mulher e imediatamente enrijeceu.
QUATRO Stefan pegou sua espada e se virou preparado para a batalha, mas não encontrou nada. E se tivesse sonhado com um riso baixo sensual? Ouviu de novo, mais perto agora. Seu sangue aqueceu quando imaginou um rosto e corpo para combinar com o som exótico. Apressou-se até Apollo tão rápido quanto permitia sua perna machucada. Empurrou o enorme cavalo de volta para dentro da densa folhagem. Ordenou silêncio, sabendo que o cavalo ficaria assim até que desse o comando para se mover. 29
Stefan voltou por seu caminho para a beira do bosque e escondeu-se atrás de espessas folhagens. Por longos momentos ficou em pé, perguntando-se pela segunda vez se havia sonhado com a voz. O claro som de passos ruidosos ao longo do caminho pedregoso para a lagoa isolada anunciou um visitante. Agachou-se, estremecendo pela dor da contração muscular na coxa machucada e refez sua posição. Quando se ajustou, parou todo o movimento. — Jane apresse-se, tenho que sair destes trapos sujos de lama! — Gritou uma voz melodiosa feminina em galês. Stefan agachou mais. Sem mover um único músculo, viu como uma ninfa do bosque dançava em seu campo de visão. Seus olhos se arregalaram. Era alta, esbelta, e como seu olhar reparou, tinha seios fartos. Sorriu. Ela foi se despindo da forma mais desinibida para correr para a piscina convidativa. E ele podia ver o porquê. O vestido de cor esmeralda estava coberto de lama de um lado, como seu longo cabelo da cor dos raios de sol. Quando ela tirou o vestido de seu corpo, ele prendeu a respiração. O linho macio da camisa interior moldava suas curvas cheias ao contato com a brisa suave. — Não posso acreditar que caí do meu cavalo! — Você se tornou muito arrogante, Minha Senhora, — uma velha disse, mancando até a clareira segurando uma trouxa de pano. ― Dessa vez alguém te deixou cair como um porco. Uma nobre? Uma nobre galesa? Sorriu largamente e silenciosamente agradeceu a Rhys e Wulfson por terem lhe ensinado o idioma. Ele iria reembolsá-los generosamente na próxima vez que se reunirem. A ansiosa senhorita não esperou pela criada para ajudá-la a terminar de despir-se. Ela sentou-se sobre a pedra que ele mesmo tinha posto sua perna para desamarrar suas botas de couro macio e desamarrou suas ligas, em seguida foi enrolando suas pequenas chauses8 brancas. O corpo dele se contraiu quando ela levantou-se e retirou a camisa do corpo. O calor o enchia lentamente, era incapaz de se afastar, na verdade, ele poderia. Paralisado, gravou cada centímetro do seu corpo sensual. Era alta para uma mulher e majestosamente dourada. Cabelos dourados, pele dourada. Seus seios eram cheios, rosados e empinados sob seu corpo. Suas mãos abriram e fecharam, querendo sentir a firmeza suave deles sob seus dedos. Ele imaginou seus grandes dedos calejados roçando delicadamente seu bico rosado e sentindo-o vivo sob seu toque. Seu pênis se encorpou quando seus olhos desceram para a barriga plana para os quadris arredondados e para o triângulo avermelhado entre suas coxas. Exalou uma baixa respiração. Ela estava deslumbrante e naquele momento. Stefan sabia o que significava querer tanto que daria seu braço direito para possuí-la. Seu pênis alongou com a visão espetacular, se ela estivesse sozinha, teria sido ousado a ponto de se revelar. Adão para sua Eva. Ele queria juntar-se a ela e acasalar. — Você é vergonhosa! — Jane repreendeu. — E se tiver bandidos na floresta?
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Chauses eram malhas projetadas para proteger a região da coxa, joelhos, e áreas mais baixas das pernas. Eram feitas de lã ou no caso dos guerreiros de pequenas argolas de metal.
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— Mantenha vigília, Jane, só vou levar alguns minutos. Nós temos cavalgado arduamente por dias. O pó da estrada gruda em mim e você sabe que eu não me banhei desde que partimos de Dinefwr. Dinefwr? Era onde o príncipe Hylcon residia. Ele sabia que, a linhagem Dinefwr-Casteli estava entre as melhores, não só em toda a cristandade, mas mesmo os sarracenos da Terra Santa viajavam para Dinefwr para produzir suas éguas com os garanhões do Hylcon. Intrigado, ele viu a senhorita cautelosamente enfiar um dedo do pé na água fria. Sua respiração ficou ofegante por causa do frio e quando ela suspirou seus seios rosados cresceram mais, como ele. Ele sorriu, apesar da dor que lhe causou, enquanto ela deslizou lentamente para a piscina. Sua pele dourada se contraiu e seus mamilos se enrugaram. — Vá, Jane, e me deixe. Desça o caminho e certifique-se de que aquele pervertido do Dag se mantenha a distância. A senhorita errante deslizou o resto de seu corpo para dentro da gelada e clara água, ofegando de frio. Stefan se contorcia onde estava, a tensão entre suas coxas substituindo a tensão de suas feridas. A criada deixou a trouxa sobre a rocha e a desamarrou, então espalhou algumas roupas e uma longa toalha de linho. — Aqui estão suas roupas, você terá que se secar, eu não posso vigiar o caminho e vesti-la ao mesmo tempo. Não se demore Minha Senhora, temos que voltar para a estrada. — A senhorita jogou água em sua empregada e zombou. ―Dag se perdeu no caminho, e por causa dele perdemos tempo. Temo que nunca cheguemos a Yorkshire. — Ele não é o mais inteligente dos homens, — Jane admitiu, então, com relutância, a velha se voltou para o caminho que haviam chegado. Stefan se ajoelhou no chão argiloso mole e assistiu, fascinado, como a ninfa nadou na pequena piscina, e como ele tinha feito, ela pegou um pedaço de musgo elástico debaixo de uma samambaia. Quando se levantou e a clara água escorreu de seus seios para a barriga, brilhando como pérolas sob a luz do sol, Stefan abafou um gemido. Ela estendeu a mão para o pacote e pegou uma barra de sabão, e quando se ensaboava ele prendeu sua respiração. Suas mãos finas besuntavam de sabão seus seios, o baixo ventre até as coxas. Ela inclinou a cabeça para trás, de costas arqueadas, os seios deliciosos apontados para o sol. Suas mãos deslizavam por seu corpo com a familiaridade de bronze. Ele queria tocá-la assim. Ela não tinha modéstia, e ele poderia dizer exatamente pelo jeito como tocava a si mesma que seria uma amante aventureira. Ela afundou mais para dentro da piscina, permitindo que a água levasse para longe a espuma. Quando completamente submergiu e logo se atirou para cima, com seu corpo brilhando ao sol, Stefan lentamente se levantou e deu um passo a frente. Ela colocou sabão no cabelo e o lavou vigorosamente. Mergulhou de novo e desta vez quando surgiu na água, como a própria Vênus, a imagem erótica foi demais para Stefan. Ele gemia. Ela suspirou e virou-se, cruzando os braços sobre o peito. — Quem está aí?
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Stefan sorriu, ignorando a dor que lhe custou. Ele queria muito mostrar a si mesmo e queria muito se perder em todos esses ouro e mel, não conseguia mensurar sua vontade, mas mesmo se tivesse tempo para um namoro, duvidava que possuísse a força. Era uma vergonha, pois fazia meses que tivera sua última mulher, e nada podia relembrá-lo tanto quanto essa graciosa que brincava na água ante dele. Elstava prestes a se mover para a densa mata quando ouviu outra voz. Uma voz de homem. — Gostaria de companhia, Princesa? Princesa? O interesse de Stefan de repente passou de seu pênis para sua cabeça. Uma princesa galesa? Por ventura a filha de Hylcon? — Dag! Como você ousa invadir! Vire-se e volte para os outros! — Ela ordenou. Stefan olhou para o intruso, quando ele saiu do caminho para a clareira. Quase tão alto quanto Thorin, careca, mas ostentando uma barba loira, seus olhos duros apertados e estava vestido como um completo homem do norte, com um machado de batalha. Um Viking. O que um Viking estava fazendo com uma princesa galesa no meio da fatigada batalha da Mércia? Ela mencionou Yorkshire. Um lugar, apesar da derrota Hardrada no ano passado, ainda densamente povoada com nórdicos. — Não posso fazer o que manda princesa Arianrhod. Como você tão minuciosamente tem feito para meu tio, você também assombra cada pensamento meu. — Ele continuou perseguindo-a, como uma raposa perseguiria uma galinha gorda. — Pare agora, Dag. Pare antes de você fazer algo que nós dois lamentaremos. — Ela o alertou, e embora tentasse manter uma voz forte e segura, Stefan ouviu o medo que continha. Dag riu como se todo dia arrancasse uma relutante solteirona da água, e continuou sua busca, lenta e deliberadamente. — Não terei arrependimentos. Eu quero você como eu nunca quis ninguém na minha vida. Vou ter você. A princesa voltou para a pedra onde se despiu e pegou a roupa de onde a empregada tinha posto. Ela começou a ficar em pé, para cobri-se, mas pensou melhor, expondo-se ao intruso indesejado. Então, a arrastou para a água, mergulhando-a e a envolvendo em torno de seu corpo. Stefan balançou a cabeça. Isso somente iria afundá-la e mostrar cada curva sua. Ela afastou-se da água no lado da lagoa mais próximo de onde ele se escondeu. Ele engoliu em seco pela vista. Como prudência, ela era uma visão, com certeza, no fino pano molhado. O pano agarrava-se em suas curvas completas, e apesar da posição que ela se encontrava, os mamilos reais da princesa estavam duramente tensos contra o pano. Lentamente, Stefan aproximou-se da borda da folhagem que o escondia. E como era de seu instinto, quando surgia um problema, ele pegou sua espada de onde estava caída no chão ao seu lado. O Viking agilmente pulou da margem para uma pedra, depois outra, então para a qual ele se encontrava. A princesa abriu a boca para gritar, mas o Viking foi rápido, e a agarrou colocando a mão sobre sua boca. A pequena diabinha o mordeu e o socou. A roupa úmida se apegou a ela, mas agora cobriam menos do que cobria um momento atrás. O impulso de Stefan era o de defender a honra da senhora, mas muito estava em jogo para ele aparecer.
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Para uma mulher, ela tinha coragem, e um soco considerável. Se ela tivesse uma arma, o Viking poderia encontrar-se olhando para graves ferimentos. Mas ela não tinha. O Viking era maior, mais forte e mais intencionado em abrir as pernas da senhora. Quando ela se virou compreendeu a situação em que se encontrava, Dag a agarrou enquanto se debatia e o lançou seu corpo sobre a superfície da rocha que Stefan tinha cochilado recentemente. Ele tapou sua boca com a mão outra vez e sacou uma curta faca, pressionando-a em sua garganta. — Grite e eu mandarei cortar o pescoço de sua empregada. Ah, ameaçar um ente querido para torná-la submissa. Stefan ficou observando para ver o quanto ela amava a empregada. Ela balançou a cabeça vigorosamente, e Dag sorriu. Ele lentamente retirou a mão de sua boca, mas manteve a lâmina em sua garganta. — Deixe-me ver o que meu sortudo tio vai ter quando se casar. — Ele puxou o resto da roupa úmida de seu corpo tremulo, revelando os seios cremosos. — Deus maldito, mas você é magnífica! Falando grosseiramente, ele a agarrou. A princesa gritou, mas mordeu o lábio para manter o som baixo. — Magnus vai castrar você quando eu lhe contar o que você fez — disse ela amargamente. Dag sorriu amplamente e deslizou sua mão até a cintura. Seu olhar se perdia em todo o seu longo e flexível corpo e Stefan poderia muito bem compreender a sua admiração. Mas, tão encantado com ela, Dag não viu a mão dela segurando uma pedra. —Ele não vai acreditar em você, nem mantê-la como esposa—, ele respirou e esmagou a boca contra seu seio direito. Seu corpo se enrijeceu e ela apertou os olhos, arqueando para ele como se sucumbindo ao seu ardor. O corpo de Stefan quase estalou de tão tenso que estava seus músculos. Quando o Viking invasor varreu os dedos lentamente em seus cachos, a princesa endureceu e bateu seu punho fechado com a pedra no lado de sua cabeça. Mas ele moveu a cabeça nesse exato momento de modo que o golpe, apesar de forte, só resvalou. Rudemente ele empurrou suas mãos para trás das costas, com a mão direita ele pressionou a lâmina em sua garganta enquanto com sua esquerda, ele caminhou até a túnica de couro aparado e desamarrou seu calção. — Não faça isso, Lorde Dag! — Eu quis você desde o momento em que Magnus a descreveu. Fui eu quem assegurou que o rei o chamasse, fui eu, seu sobrinho amoroso, que se ofereceu para levá-la até ele em Yorkshire. — Dag deslizou a adaga em um peito firme. — Quando eu vi você, sabia que você tinha que ser minha. —Ele riu. — Meu presente para o noivo, uma noiva violada. — Você faria uma coisa dessas com sua própria família? — Sim, minha doce Arian, — Dag respirava — e quando ele rejeitar você, eu vou tê-la como minha própria esposa. — Nunca! — Ela gritou, e afastou o punhal de sua mão. Ela rolou debaixo dele e quando ele chegou ao seu alcance se conteve para não cair na água. Ela fugiu a roupa se arrastando atrás dela quando corajosamente tentou correr e envolvê-la em torno de sua nudez, ao mesmo tempo. Mas o Viking era astuto e foi rápido. Ele jogou um longo braço atrás dela e agarrou o canto da roupa, puxando-a de volta para ele. Ela gritou e deixou a roupa cair. Nua, ela correu direto para Stefan. Ele se preparou para o impacto, e quando ela entrou na folhagem ele 33
agarrou seu braço, girando em torno dela, em seguida, empurrando-a para trás dele. Ela soltou um longo grito estridente que fez os pássaros voarem da copa das árvores. Não tentou argumentar com ela. Em vez disso, ele treinou todo o seu foco no lívido Viking empunhando um machado, estourando diretamente na direção dele. Stefan empurrou a princesa gritando tão longe quanto podia e quando ela bateu no chão com um baque forte, o Viking avançou pela folhagem espessa que o escondia, derrapando até parar na pequena clareira, quando viu o homem nu segurando uma espada muito nua. — Ela vale sua vida, Viking? — Stefan ameaçadoramente perguntou, em inglês. — Nenhuma mulher vale a minha vida — o Viking respondeu com um Inglês afetado. Stefan riu, o som era áspero e cáustico. —Teria que concordar com você, Viking, mas a verdade seja dita, abomino um estuprador. Venha, levante mais esse machado para que eu possa acabar com você e me vestir. O Viking estreitou os olhos, e embora ele tivesse uma espada no espaço semelhante a um braço de seu intestino, o palhaço covarde não pode deixar de lançar outro olhar para a mulher nua atrás dele. Stefan podia sentir a senhora às suas costas. Ela sibilou uma respiração profunda, mas não fez nenhum movimento. Era tão sábia quanto bonita. Ele não poderia correr com a perna na condição em que estava, e se ela fugisse às pressas e o Viking fosse atrás, então ela de fato perderia mais do que sua modéstia neste dia. Apesar de seu grande desconforto, ele sorriu. Essa era a situação mais incomum em que se encontrou. Um cavaleiro normando nu defendendo uma princesa galesa nua contra um Viking completamente vestido. Dag sorriu seus lábios molhados torcendo com alegria perversa. Ele acenou com a cabeça na direção da perna devastada de Stefan, então olhou para o rosto igualmente dividido. — Para alguém tão livre, saxão, parece gravemente ferido, duvido que vá encontrarse vestido tão cedo. O machado subiu apenas uma polegada. — Afaste-se e me entregue a senhora, e eu o pouparei. Se não o fizer, seu noivo irá revirar cada pedra nesta miserável ilha em busca do homem que a manteve longe dele. — Por ventura você mesmo devia ter pensado nisso antes de tentar impor-se sobre a senhora — Stefan disse claramente, cansado da conversa. Ele era homem de ação. Arian, atrás dele, pressionado seu corpo nu contra as costas de Stefan, colocando as mãos sobre seus ombros quando se levantou na ponta dos pés para espiar seu agressor. E, apesar da posição delicada em que estavam não podia deixar de responder aos salientes seios em suas costas e ao impulso suave dos quadris contra suas nádegas. Atrás dele, a princesa ameaçadoramente, disse, — Magnus vai cortar o coração negro de seu peito quando eu lhe disser o que fez hoje, Dag! Deixe-me agora! Volte para a comitiva e me espere! — Não, eu vou ter você, Arian, tão logo eu remover esse petulante. — Dag rugiu, e em um rápido e praticado movimento, moveu o machado com ambas as mãos, balançando-se. Stefan afastou Arian, virou-se e aparou o golpe com sua espada, com os braços no ar. O Viking derrubou seus braços musculosos com tal força que a espada de Stefan sacudiu em sua mão. Plantando-se firmemente no macio chão da floresta, meteu sua espada de volta e pegou o machado logo abaixo da cabeça de aço. A lâmina escavou no cabo de madeira. Stefan chutou o 34
Viking no intestino com a perna boa, mas o peso em sua perna ruim levou mais sua força do que o chute. O Viking cambaleou para trás e Stefan quase se derrubou. Arian ofegou, sem saber o que devia fazer. Quem era esse homem nu? Será que ele iria forçá-la como Dag tentou? Será que ele... —Você é fraco, saxão! — Dag berrou e levantou o braço. O saxão se virou para ela e empurrou-a para longe dele, onde ela pairou perto de suas costas. Ela bateu contra o tronco rígido de um carvalho, sua cabeça batendo com um alto som oco. Dor instantânea lanceou por trás de seus olhos, irradiando para frente. Indignação por ter sido tratada de forma brutal foi rapidamente dissolvida: a manipulação de Dag era muito pior. O saxão caiu de joelhos sob o machado mortal de Dag, mal capaz de resistir à atacar. Arian buscou selvagemente por alguma arma. Uma pedra, um pedaço de pau, qualquer coisa! Viu o negro corcel de batalha e o cinto da espada do saxão pendurado na maçaneta alta da sela. O punho de uma adaga se projetava. Chorou de alívio. Agarrou-a e correu de volta para ele. Em um grande movimento que foi de seus tornozelos aos ombros, Dag balançou o homem nu. A ferida na coxa campeã sangrava em um tom carmesim brilhante, o suor brilhava na pele bronzeada, e lutava com nobreza. Ele só podia desviar de cada golpe do machado, mas com cada balanço, o machado chegava mais perto e mais perto de dividir abertamente seu protegido intestino. Arian entrou em pânico, nunca tendo sido remotamente exposta a tais homens brutais e não soube como ajudar seu defensor. Dag levantou os braços longos sobre a sua cabeça, e com uma sonora força, trouxe o grande machado para baixo sobre o homem. Arian gritou e assistiu com horror como ele rolou apenas em cima da hora, olho-a, agarrou o punhal de sua mão e em uma curva tão rápida que lhe turvou os olhos, ele se agachou e em seguida pulou, emperrando o punhal profundamente na garganta de Dag. O saxão torceu o punhal, o som de ossos triturados e rasgando o tendão doentio. Puxou-o para fora, em seguida, pulou para trás, com o sangrento punhal na mão, agachado e esperando. O chiado que escapou ao ar combinou com o grito gutural que Dag deu, e deixou os cabelos da nuca dela em pé. Então ele ficou imóvel como os carvalhos ao redor, o choque claramente escrito em seu rosto. De repente, o sangue jorrou em um alto arco sobre eles, gotículas quentes pulverizaram sobre seus peitos e braços. Dag largou o machado e tocou loucamente seu pescoço. O viking caiu de joelhos e olhou para eles, os olhos arregalados e incrédulos. Com cada batida do seu coração, sangue fluiu em ondas grossas pelos seus dedos. Ele abriu a boca para falar, e sangue borbulhante saiu de seus lábios. Ele tossiu e parecia tentar dizer algo. Arian se aproximou, mas o saxão a impediu com as mãos. Dag cuspir sangue de sua boca. — O veado—, ele engasgou, cuspindo mais sangue pela boca. Dag fechou os olhos e respirou profundo, chiando o peito. Arian encolheu-se no forte silvo de ar que fez o buraco em seu pescoço. O saxão se abaixou e pegou o machado grande. — Que veado? — Perguntou ele. — Ele corre para o norte. — Dag tossiu mais sangue. 35
— De quem você está falando? — O saxão exigiu. Dag deu um macabro sorriso e olhou para Arian. Mesmo no crepúsculo de sua morte, ele foi lascivo. Ele tossiu mais sangue, mas conseguiu dizer: — Trair a Noruega. — Do que você está falando, Dag? Quem traiu a Noruega? —Arian exigiu. Dag zombou. —Eu não traí a Noruega. — Você traiu seu tio! Ele cuspiu mais sangue aos pés dela. — Não há mais razão para a sua estadia aqui na terra! — O saxão grunhiu e em um poderoso lance, separou a cabeça do Viking de seus ombros. Arian gritou quando a cabeça caiu no chão e em uma corrida sangrenta rolou em sua direção descansando sobre seus pés descalços. Os olhos cor de gelo de Dag e sua boca torcida para ela em acusação mortal. — Você o matou! — Ela suspirou, se virando para o mortal saxão. E enquanto os olhos entraram em confronto com outros brilhantes azuis, tremia muito, e percebeu que ambos estavam nada mais que um braço de comprimento de distancia um do outro e nem usavam nenhuma roupa. Mas, mais do que isso, com a remoção da cabeça de Dag, foi como se também tivesse removido todas as esperanças de chegar ao seu noivo, como uma noiva feliz. As recriminações pelo que acabara de acontecer iriam a longo alcance. Que tinha sido quase estuprada pelo morto não importava: ele era primo do rei Olaf da Noruega e sobrinho de confiança de seu noivo. Seu choque com o que acabara de ocorrer se transformou em horror quando olhou o rosto devastado do saxão. Do seu aumentado olho direito para baixo ao longo de seu couro cabeludo até a borda externa de seu rosto tinha um corte muito fresco, costurado da forma mais terrível. Mesmo com uma mão mais hábil, ele seria horrivelmente marcado a partir da ferida. Era uma maravilha que ele não tivesse perdido o olho, o corte chegou tão perto disso. Medonha era a horrível marca vermelha de uma espada, queimada no peito. Seus olhos se estreitaram perigosamente. Seus lábios cheios diluído em um sorriso e ela sentiu um medo profundo que nunca havia experimentado em toda a sua vida. Nem mesmo quando Dag tentou estuprá-la. Sua barriga se irritou quando visões feias do que este homem iria fazer com ela explodiu em seus pensamentos. Então, ficou apavorada, Arian reprimiu a bile que subiu por sua garganta, então dobrou e vomitou com um suspiro seguido de outro. Sua refeição do meio-dia derramada no chão, mas mesmo assim não conseguia parar a torção implacável em sua barriga. Finalmente, com nada mais para vomitar, caiu no chão. Humilhada e certa de que tinha terminado de vomitar, lentamente Arian tentou se levantar, mas quando seus olhares se encontraram, outra alçada enervou-se de sua barriga. Vomitou novamente e de novo, a dor dos espasmos substituindo seu medo. Finalmente, não restando nada, limpou a boca com as costas damão e lentamente se levantou. Através dos olhos turvos ela o viu. Ele não moveu uma mão para ajudá-la. Ele ficou preso ao chão como se fosse uma estátua, seu devastado rosto torcido pela fúria. Se viesse a morrer por suas mãos, não facilitaria. Não era tão tola para não temer este homem, mas a indignação sobre o que Dag tinha tentado fazer, e agora o que tinha certeza de 36
que esse homem faria, forçou-a a endireitar as costas. Seus longos cabelos pendurados em pesados cachos úmidos encobriam seus seios, dando-lhe um pouco de decência, mas não muita. Com esse pequeno conforto, com o queixo para cima, Arian olhou para ele. Os lábios dele encurvados entre os dentes. Estremeceu sua bravata levantando vôo. Fria, molhada, e aterrorizada, estava com mais medo desse homem do que de qualquer outra alma na terra. Ele era sombrio e violento. Ele não tinha compulsão em matar, e ela era tão vulnerável quanto um jovem potro em uma matilha de lobos. Seu corpo tremia violentamente e seu ventre agitou novamente. Ele jogou o machado no chão ao lado do cadáver de Dag e saiu mancando perceptivelmente através da clareira para a roupa que estava úmida no chão. Abaixou-se para pegá-la. Enquanto ele caminhava devagar, quase incapaz de suportar o seu peso, com os olhos nos seus, em vez da violência, ela viu a dor crua. Ele rapidamente a mascarou. Ele se escondeu atrás de um sorriso lento e tortuoso. Seus olhos azuis brilhavam chocantes. — Você está perdida, minha senhora? — Ele perguntou em Inglês. Não tentou esconder sua nudez, e ela estava muito consciente de que ele era todo do sexo masculino. Calor subiu em seu rosto, e sentiu um rubor respingar sobre o peito. — Eu, nós, eu... — Parou abruptamente e percebeu que estava olhando diretamente para ele e que ele estava se movendo! Baixou os olhos para o chão e viu a cabeça de Dag. Gritou e virou de volta, agora de frente para a floresta. Sua pele aquecida, sua modéstia duramente testada, pois sabia que ele olhou para ela com um franco querer. Estremeceu quando ele colocou a roupa úmida em cima de seus ombros, em seguida, envolvendo-a, virando-a para encará-lo. Ela abriu a boca para protestar contra o seu toque, mas parecia ridículo. Ele tinha visto cada centímetro e ele a salvou de um estupro certo. Tanto quanto fosse a carne, não havia segredos entre ela e esse estranho. Olhou para ele. Era tão alto como Dag e tão musculoso. Era violento, mas ela inclinou a cabeça para um lado e olhou diretamente em seu intenso olhar. Havia uma tempestade de escuras sombras em seus olhos. Um homem com segredos dolorosos? — Eu sou Arianrhod, filha do Príncipe de Hylcon de Dinefwr. Eu exijo que você me devolva a minha comitiva imediatamente. Ele se afastou, ignorando seu pedido e agarrando seus calções e chauses do arbusto e começou a se vestir. Ela não pôde evitar um olhar para as costas e nádegas musculosas. Era longo nas pernas e musculoso lá também. Rudes cicatrizes atravessavam as costas de cima de seus ombros até atrás de suas coxas. Arian se encolheu, e imaginou o seu sofrimento. Quando ele se virou, ela sentiu o calor subir em suas bochechas. — Você é saxão? — Ela exigiu. Ele deu um sorriso torto e conhecedor, mas o gesto congelou quando vozes chamavam pelo o caminho. Ela suspirou e correu atrás dele. Ele agarrou seu braço, puxando-a com força contra seu peito, os lábios centímetros do dela. — Nem uma palavra. De olhos arregalados, ela balançou a cabeça, lutando contra ele e abriu a boca para gritar. Como Dag fez, ele tapou sua boca com a mão. Ela mordeu e ele amaldiçoou, mas não recuou. Ele empurrou mais forte, forçando-a para o chão, se espalhando em cima dela, agarrando sua espada. Respirando pesadamente, suas respirações se misturando quente, ele sussurrou: — Uma palavra e corto sua língua fora. 37
Ela tentou mordê-lo novamente e ele forçou a cabeça dela para o chão macio. — Não seja insensata! Depois que eles me matarem pela morte do Viking, partiriam para cima de você por esporte. Com essas últimas palavras, Arian parou de lutar. Seus olhos se estreitaram, mas ele manteve sua atenção focada apenas em frente à piscina, onde os vikings e galeses vasculhavam a área, chamando por ela e Dag. Quando eles se mudaram para o lado leste do lago, de costas para onde ela estava deitada, ele a puxou do chão, ainda mantendo a mão firme em sua boca e a espada à sua garganta, arrastando as costas nuas para o enorme corcel. Como sua intenção ficou clara, Arian torceu e gritou contra a mão dele. Ela tentaria suas chances com os homens de Dag, sabendo que seus próprios homens seriam defensores dela. Se este rufião fugisse com ela, estaria perdida para sempre! Enquanto ele se movia para içá-la sobre o dorso do cavalo, teve de deixar sua boca e ela gritou. Ele amaldiçoou e se impulsionou atrás dela. Arian se debateu contra ele, batendo os cotovelos nas costelas, mas ele segurou firme. Quando ela cravou as unhas na ferida em sua coxa, ele gemeu de dor. Ele bateu na mão dela, e quando ela foi para ele novamente ele trouxe a espada firmemente contra o peito. A lâmina longa descansou sobre o topo do seu intumescido peito. — Toque-me novamente lá e eu vou abrir você. — Senhora Arian! — Chamou Cadoc, seu capitão. — Senhor Dag! — Ivar, o homem de Dag gritou. —Estou aqui! — Ela gritou, afastando-se de seu captor. Sua explosão custou-lhe. A picada quente da lâmina cortou sua pele macia. Ela engasgou, não acreditando que ele faria tal coisa. Cadoc e Ivar irromperam na clareira, tropeçando com o corpo Dag, olhando em choque para ela e seu captor. O saxão chamou em francês seu cavalo. Ele se levantou sobre as patas traseiras, em seguida fez piruetas ao redor, e em uma explosão de músculos e tendões, pulou para dentro da floresta espessa. Arian podia ouvir seus homens chamando por ela a distância, rapidamente recuando, mas o que mais chamava sua atenção era o fluxo quente e pegajoso de sangue que espalhava em seu caminho para a barriga. Ela ofegou quando olhou para baixo. Em seu inchado peito esquerdo, um puro corte fino. O ultraje se infiltrou em cada centímetro de seu corpo, mas ainda assim, temia que se o atacasse novamente, ele faria mais danos. À medida que atravessavam a floresta, ela nua como no dia que nasceu e ele vestido apenas com calções úmidos e chauses, um rubro terror e uma desesperança súbita a consumiu, o medo de que fosse estar para sempre a disposição do homem que a agarrava.
CINCO 38
Viajaram por horas. Através das colinas, descendo por grandes vales verdes ao longo de córregos e atravessando um rio. Instintivamente Arian sabia que seu sequestrador estava cobrindo seus rastros e embora não fosse uma especialista, suspeitava que ele soubesse muito bem como fazer isso. À medida que o último raio de sol mergulhava ao fim do horizonte ocidental, ele parou no caminho que tinham estado até então e entrou para a espessa floresta. Os galhos das árvores e a folhagem pegavam e agarravam em seus cabelos, os braços e as pernas, deixando-a com sangrentos arranhões e machucados ao longo do caminho. Ela foi além de sentir dor, sua mente e corpo estavam dormentes por causa dos acontecimentos daquele dia. A pequena clareira se abriu e ele freou o grande cavalo. Sem delicadeza, a arrastou da sela. Tropeçou e ele a agarrou pelo braço, para equilibrá-la. Ela se desvencilhou de suas mãos e grunhiu. — Você é um bruto! Seus olhos brilhantes a alcançavam até onde estava. — Sim. Não se esqueça disso. Ele virou as costas, e ela notou que favorecia a perna direita, porque mal conseguia colocar o peso de seu corpo sobre ela. Como uma mulher de ação e com medo de passar mais tempo com o diabo, correu para a floresta, sabendo que ele não possuía força para ir a sua caça. Correu cegamente, nua e assustada, profundamente na sombria floresta, tão longe dele quanto suas pernas poderiam levá-la. O instinto de Stefan era caçá-la. Mas, não foi. Mesmo que sua perna estivesse firme e segura, a teria deixado voar. Sabia o que a escura floresta mantinha guardado para uma princesa nua. Se tivesse força, teria zombado da fuga desesperada dela. Mas, não zombou. Em vez disso, puxou a muda de roupa da sacola e a vestiu, lentamente o preto começou a aparecer. Depois construiu uma pequena fogueira, ficou imóvel e ouviu o silêncio do bosque. Depois de vários longos momentos, ele assentiu com a cabeça. Lá, a oeste, o murmúrio suave de um córrego. Liderando o cavalo, seguiu o som de um pequeno riacho. Apollo bebeu, assim como Stefan. Depois de satisfeito, encheu um dos cantis antes de voltar para o fogo. Puxou um saco com carne de veado e uma bolsa de cura do alforje e abaixou-se para o chão. Com um longo suspiro, descansou contra o selim e fechou os olhos. Sua coxa latejava como o diabo e seu rosto queimava. Cerrou os dentes e amaldiçoou a diabinha que o tinha prejudicando um pouco mais. Mas isso valeria à pena. Iria pegá-la novamente, a princesa era a chave para sua entrada na área de seu irmão, em Powys. Sim, ela serviria muito bem para o que tinha reservado. Lançou seu olhar para onde havia desaparecido no bosque. E enquanto olhava, baque de passos se aproximava rapidamente em sua direção. Sorriu, apesar de sua grande dor. Riu quando a princesa errante estourou nua no campo, olhos arregalados, cabelos longos voando como uma mortalha de ouro. —Você não gostou da floresta? — Zombou. Com as mãos fechadas, ela caminhou até ele com sangue nos olhos e chutou em direção a sua coxa. Ele agarrou seu pé antes que pudesse fazer mais dano e a puxou em sua direção. Com um baque duro, seu traseiro nu pousou em sua barriga, os seios balançando diretamente embaixo do nariz dele. Respondeu imediatamente. Puxou-a com força pelos cabelos até que seu rosto ficasse a escassos centímetros do dele. Ela se contorceu contra seu peito e só conseguiu sentar em cima dele de uma forma mais provocante. Seu pênis inchou e ela ofegou, arregalando os olhos 39
prateados. Stefan gemeu, seu sangue acelerando num ritmo alarmante. Caso ela se movesse para trás só um pouquinho, ele não iria se responsabilizar pelo o que aconteceria a seguir. Até ele tinha seus limites. Sentindo seu estado de espírito ela acalmou. — Por favor, — ela ofegou. —Não me ataque. — Então devolva o favor. — ele grunhiu entre os dentes cerrados. Ela assentiu vigorosamente com a cabeça. Lentamente, ele sorriu de novo, espalhando um pouco de calor em seus lombos, não se importando com a dor que o gesto lhe causou. Os dedos dele se perderam em seu cabelo e embora quisesse dizer que não lhe faria mal, não conseguiu evitar que suas mãos deslizassem pelos braços dela. Apesar das pulseiras a terem protegido um pouco, pequenos cortes e arranhões marcavam sua pele lisa. Ela sentou-se perfeitamente calma, suas narinas chamejando, seu corpo tenso. Ele tirou uma pesada mecha de cabelo que bloqueava a visão de seu peito e ela ofegou, mordendo o lábio, mas sem fazer movimento. A ferida da espada fazia escorrer um pouco de sangue. Ele apertou a ponta do dedo calejado contra a ferida e ela se encolheu, mas não fez nenhum outro movimento. A palma de sua mão descansava sobre seu seio e por causa do frio ou do medo seu mamilo endureceu sob a mão dele. Ele apertou a mandíbula e seu pênis ficou mais longo e duro. Jesus! Ele não era feito de pedra! Stefan limpou a garganta e com uma voz rouca disse: — Você está sangrando. — Sem agradecimentos para você! — Ela o empurrou e ficou em pé, movendo-se para o lado oposto do fogo. —Não me toque de novo! Stefan engoliu em seco. Ela ficou furiosa e nua, olhando para ele com o olhar repleto de raiva. Seus seios empinados subiam e desciam sobre o torso, as coxas lisas estremeciam e ela não fez nenhum movimento para se proteger dele, o que a tornava tão diferente de um homem. O olhar dele se fixou nos macios pelos cobertos pela cor da luz de velas. Seus olhos subiram para os dela, e pela suave luz do fogo ela queimava de calor. — Se você tivesse alguma honra você tiraria a túnica de suas costas e daria para mim – disse ela. Stefan balançou lentamente a cabeça. — Eu não tenho honra quando se trata de mulheres. Ela ofegou, ‘andando de um lado para o outro’ várias vezes. — Você é o filho do diabo! — Eu sou. Por um longo momento, ela ficou olhando para ele como se para conferir por si mesma se ele realmente era. Ele não iria convencê-la de outra forma. — Deus o verá queimar no inferno! gosto.
Ele balançou a cabeça. — Eu já estive no inferno, minha senhora e não o achei de meu
Quando ela sentou-se no chão e se enrodilhou toda, lhe deu um último aviso: — Certifique-se, Saxão, de dormir de olhos abertos para não encontrar sua espada em seu outro
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olho! — Virou-se, envolvendo os braços firmemente ao redor de si mesma, dando-lhe as costas. Stefan reprimiu o riso que vibrou no fundo de seu peito. Nunca tinha se deparado com uma mulher de tal coragem. Seu humor azedou quando pensou na última mulher que admirou. Seu humor azedou mais quando a viu se arrepiar na sujeira. Suspirou e puxou a túnica de lã de seus ombros. Arian acordou por causa da água fria e da leve pressão em seu peito. Abriu e piscou os olhos para encontrar um borrado saxão ao lado dela, com um tecido úmido na mão. Ela bateu com força naquilo o jogando na sujeira. — Não me toque! — Gritou, o agredindo com os punhos. Ele franziu a testa, e ela notou que seu cabelo estava molhado, seus olhos penetrantes, sem sua túnica. Seus olhos correram pelo peito musculoso até seu traseiro coberto. Fechando seus olhos fervorosamente, agradeceu aos santos por aquele pequeno favor. — Seu ferimento precisa de cuidados. — disse ele com voz rouca. Arian olhou para seu peito e ofegou, lembrando o que ele tinha feito com ela. O corte, do comprimento de seu dedo indicador, feio e aberto escancaradamente logo acima do topo de seu seio esquerdo. — Você me marcou com uma cicatriz para vida toda! — Dificilmente. Apenas seu amante irá vê-la e se ele for digno isso não importará para ele. Sua cabeça recuou para trás e ela olhou-o friamente. — Eu não tenho um amante! Mas meu noivo não vai encontrá-la tão encantadora. — Então ele é um patife. Ela fechou a boca e olhou mais para esse homem, esse saqueador. —Quem é você? Por que me mantém com você? O que você quer? Ele apontou para seus seios trêmulos. — Sou o servente que deseja cuidar da ferida de uma senhora. Ela precisa ser costurada para cicatrizar de forma adequada e não ser uma praga tão grande num corpo tão... — Ele sorriu e seu olhar varreu os seios que tiveram a coragem enrijecer sob sua quente veneração, que descia à sua barriga, e depois ainda mais abaixo para... — Tire seus olhos de mim! — Disse ela, cruzando os braços sobre o peito e dobrando seus joelhos em frente dela. O sorriso dele se alargou e ela percebeu que tinha dado um olhar perfeito para suas partes mais baixas. Desdobrou as pernas para baixo. tímida.
— Minha senhora, eu vi mais de você do que sua criada. Você é bonita, não seja — Não sou tímida! — Ela tinha vergonha de seu âmago!
Ele estendeu a mão ao seu joelho e moveu-se sobre ela. Ela recuou até sentir a dureza áspera de um tronco de árvore que interrompeu seu afastamento. Ele avançou para perto dela. — Eu não tenho nenhuma intenção de arrebatar você, ao menos que deseje isso.
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Ela deu-lhe um tapa, afastando bruscamente sua mão. — Nunca! — Isso é lamentável. — Para você, senhor. Nunca para mim. Ele assentiu e apontou novamente para o seio dela. — Vai apodrecer. Permita-me costurar isso. — Vai doer! E como vou saber que você está apto para fazer isso? — Costurei minha própria coxa, e se você notou, apesar de seu ataque sobre ela, é uma linha perfeita com pequenos pontos apertados. Ela olhou para seu acetinado rosto. Ele franziu duramente as sobrancelhas. — Sua obra deixa muito espaço para melhorias. — Isso ofende você? — A ferida ou o homem a quem ela pertence? — A ferida. — Sim, isso é o mais feio. — Então não olhe para ela — ele soltou. Arian engoliu em seco. Por mais que não quisesse esse homem tocando-a sob qualquer pretexto, sabia que precisava ser tratada e que mesmo pela bravura que tinha, não conseguiria fazer sozinha. Balançou a cabeça, temendo a picada da agulha. Nunca tinha sido de suportar dor, da espécie que fosse. Ficava péssima a cada mês quando suas regras vinham ― a levando para cama até que Jane chegasse com as suas porções, e as poucas vezes que se cortou ou sofreu uma contusão levaram-na a pensar que suas pernas tinham sido decepadas. Ele se aproximou e embora ela não quisesse seu toque, sabia que se a ferida ficasse aberta, se não apodrecesse, cicatrizaria muito mal. A vaidade superou o seu orgulho. — Diga-me seu nome. — ela suavemente exigiu. —Stefan. —Você é normando? — Ela perguntou tensa, agora com mais medo do que antes. Será que iria levá-la para a Normandia? — Não, é apenas um nome normando. Ela olhou-o desconfiada. Seu Inglês era bom e seu galês aceitável. — Você fala francês? Ele balançou a cabeça e puxou-a para ele, mais perto do fogo. —Chega de perguntas. Venha para perto do fogo afim de que possa ver a ferida. Arian resistiu, mas com sua atração implacável, se deixou levar. Trazendo a sela para perto, ele a colocou contra ela. Uma vez que ela tinha montado, os olhos brilhantes dele capturaram os dela. — Isso irá machucar. 42
Arian suspirou: — Sobrevivi a Dag, ao seu ataque brutal e há um dia caminhando nua sobre uma sela com um demônio atrás de mim. A agulha é brincadeira de criança. Quando ele sorriu, ela prendeu a respiração. Apesar de seu rosto devastado, o gesto, sem um tom de escárnio, mas pela primeira vez de admiração, transformou suas características de demônio para... outra coisa. Quando ele apertou a mão esquerda sobre seu quadril e ligeiramente se curvou em cima dela para manejar a ferida, Arian mordeu os lábios. Sua mão estava quente e áspera contra a suavidade da sua pele. Enquanto ela o observava cuidadosamente lavar a área ao redor do corte, viu para seu horror os mamilos endurecendo. Fechou os olhos ao invés de ver seu olhar de insulto. Mordeu o lábio mais forte e inclinou a cabeça para trás; ao fazê-lo, com as costas arqueadas, empurrou o peito na direção dele. Ela ouviu um gemido leve e seus olhos se abriram, prendeu a respiração. O calor se espalhava por suas bochechas ao seu quente olhar. Seus olhos levantaram para os dela e naquele momento algo em seu interior aqueceu. — Não posso fazer isso — ela ofegava. — Sim, você pode e você vai. Veementemente balançou a cabeça. — Não é digno que você me toque desse jeito ou me olhe com tanto... tanto querer. Seus dedos acariciavam a chama de seu quadril. Um nervosismo que nunca tinha experimentado a encheu. — Não posso evitar desejar você. Sou um homem e você é uma mulher bonita. Isso é natural. Ela olhou para sua mão grande e seus dedos longos e grossos. Eles estavam nas mãos de um homem que os usavam para empunhar armas e matar. No entanto, eram capazes de gentileza. Ele se moveu na direção dela. — Eu te prometo, e minha promessa é minha palavra; não sou como Dag. Ele puxou agulha e linha de uma bolsa de couro ao lado do fogo. Seus olhos encontraram os dela. — Sente-se, princesa, e não se mova. Vou trabalhar o mais rápido possível. Stefan já tinha costurado muitas feridas na sua vida. Não só em seus homens, mas como mestre de cavalo em seus corcéis de batalha. E nem uma vez suas mãos tremiam como tremia agora. Olhou para aqueles olhos prateados aterrorizados que brilhavam de lágrimas, e descobriu que não queria infligir dor a ela por motivo algum. Engoliu uma maldição e pressionou a agulha na sua pele. — Feche os olhos. Confiando como uma criança, ela fez o que ele disse e quando ele perfurou sua pele, gritou. A agulha espetou mais profundo em sua carne e ela gritou de novo. –Fique quieta, minha senhora, fique imóvel ou irá doer mais. Ela sufocou um soluço. Ao prensar a mão esquerda no seio dela, para firmá-la e juntar os dois pedaços cortados de sua pele, sentiu seu coração pulsar contra a palma da mão. Seu mamilo ergueu e ele engoliu em seco. — Calma. — Disse suavemente enquanto transpassava a agulha por sua pele e, em seguida, puxava o fio. Ela mordeu o lábio, mas não se abalou. O ponto seguinte foi difícil de aguentar, o terceiro e o quarto, um baixo gemido de dor, o quinto e o sexto, uma lágrima. O tempo todo ela passou com os olhos apertados de tão fechados e com o corpo tenso. Ele pegou uma lágrima com a ponta do dedo e disse suavemente — Acabei e você continua viva. 43
Ela expeliu um longo suspiro e abriu os olhos, encontrando seu olhar. Naquele momento, ele queria perder os dedos naqueles cabelos grossos e trazer seus lábios carnudos aos seus; oferecer algum conforto, mas não o fez. O que tinha reservado para ela não atrairia afeição alguma e ele não era homem de brincar com as emoções de uma mulher. Voltou-se e entregou-lhe a sua túnica. — Aqui. Ficou olhando enquanto ela tentava várias vezes levantar ambos os braços sobre a cabeça para vestir a roupa. Mas a ferida estava dolorida e ela não conseguia levantar o braço esquerdo. Recujsou-se a ajudá-la. Não queria tocá-la, não queria que ela precisasse dele para nada grande ou pequeno. Queria que ela fosse feia e irascível, sem esse olhar perdido e desamparado. Ele soltou um longo suspiro, quando ela jogou a túnica naquele chão sujo, em frustração. Ele se curvou para recuperá-la, e quando fez isso seu rosto queimou de dor. Ele estava com a roupa na mão esquerda e estendeu a sua direita para a princesa nua. Seus grandes olhos prateados brilhavam com lágrimas não derramadas. Ele franziu o cenho quando ela colocou sua mão delicada na dele tão grande. Cuidadosamente, ergueu-a, então girou em torno dela. Gemeu enquanto seu olhar percorria o longo comprimento de suas costas cremosas. As covinhas um pouco acima de seu traseiro arredondado brincavam com ele, desafiando-o a tocá-la. Puxou a túnica sobre sua cabeça e agarrou seu braço esquerdo, trabalhando cuidadosamente para não machucá-la. Não foi tão gentil com seu braço direito. Indo para o outro lado do fogo, disse irritado: — Há carne no alforje e água no cantil. Instalou-se contra a tora de madeira que ela tinha desocupado e cruzou os braços sobre o peito com suas pernas estendidas diante dele, olhando-a pegar delicadamente na carne seca. Enquanto ela bebia no cantil, assistiu a suave coluna de seu pescoço se mover em ondas lentas enquanto engolia. Gemeu e se moveu na sujeira. Seu corpo inteiro estava em chamas e não era por causa dos seus ferimentos. Não, sua virilha queimava com uma intensidade que ele nem se lembrava de ter sentido. — Há outra ferida que te incomode? — calmamente perguntou, olhando para ele através do lento brilho das chamas. — Não. — Então por que parece que você está se desfazendo com tanta dor? — Não lhe interessa o que me causa dor. — Tem toda a razão. — Ela desviou-se dele, puxando os joelhos contra o peito, sentando-se contra a sela. Um pequeno guincho de dor escapou de seus lábios e ele ficou tenso ao ouvir. A dor dos outros nunca o tinha incomodado antes, porque queria aliviar o desconforto dessa mulher? Ah! Ele tinha apenas um propósito para ela, e daqui a alguns dias iria odiá-lo mais do que já odiava agora, quando soubesse do seu plano de trocar sua liberdade pela de seus irmãos. Deixe-a sentir dor. Seria uma boa prática para ela. Arian não conseguia se aquecer. Ela se aproximou do fogo, mas ainda assim o frio ar da noite se infiltrava em sua pele. Quando passou as mãos para cima e para baixo dos braços, a dor de sua ferida intensificou. Seus dentes batiam e sentiu um início de calor no peito. Achegou-se mais perto do fogo e ao olhar através dele encontrou dois olhos brilhantes observando-a. Ela prendeu a respiração, mas estendeu as mãos sobre as brasas. 44
— Senhor, mais madeira? Lentamente, ele negou com a cabeça. — As chamas vão causar mais fumaça, e se houver qualquer saqueador na floresta irá nos encontrar. Arriscaríamos muito com mais uma pequena pilha de lenha. Seus dentes tiritavam, mas balançou a cabeça em sinal de compreensão. Embora fosse refém de um demônio saxão, não era tão tola para pensar que os outros seriam menos brutal que ele. Como as brasas se apagaram, seu frio aumentou. Seu corpo tremia como se estivesse na neve. Recostou-se contra a sela e lutou para impedir os tremores de seus membros. Sonhava com cavaleiros demoníacos e cavalos demoníacos e Dag com presas perseguindo-a através dos salões de um castelo sombrio. Sonhava com Magnus derrotado pela espada dele, seus olhos pálidos arregalando frente a ela. Em seu sonho, quando ela se virava para ver o assassino, gritava. Era o saxão, Stefan, mas estava diferente. Sombrio, forte e mais poderoso. A dor em seus membros a acordou. Seu corpo sofreu um espasmo no frio e sentia a cabeça quente e pesada. Braços fortes enlaçaram seu trêmulo corpo contra um peito firme e quente. — Você treme com febre. — Uma voz profunda disse baixinho em seu ouvido. Ela assentiu com a cabeça e se voltou para um sono conturbado. Quando Arian acordou, sua pele estava quente, mas não da febre. Não, era do corpo que a circundava. Enrijeceu, e assim também fizeram os longos braços e o firme tórax ao seu redor. — Você estava tremendo tão violentamente que eu temi que as árvores fossem cair sobre nós. — A voz rouca de Stefan sussurrou contra seu ouvido. O corpo dela esquentou ainda mais. Os braços fortes a soltaram e ela imediatamente sentiu o torvelinho ar frio da manhã. Percebeu o recuo dele, imaginando o que tinha reservado para ela. — Venha, — ele chamou. — Há um riacho próximo para se lavar. Depois, prosseguimos. Ela correu para acompanhá-lo. Arian estava acostumada a usar a sela, mas seu corpo protestou quando ele a colocou nela novamente. No riacho ela notou que o rosto dele tinha inchado e que seu machucado repuxava os pontos que havia costurado. Quando perguntou sobre isso, ele fez um gesto de indiferença e não se esforçou em continuar a conversa. Eles estavam cavalgando não mais que um entalhe de vela ou dois, quando vozes irromperam a partir da estrada à frente deles. Arian enrijeceu na sela, seu coração batendo selvagemente contra o peito. Poderia ser Cadoc? Ou talvez o comboio de um nobre? Habilmente Stefan direcionou o cavalo para a floresta densa. Seu braço direito prendeu a cintura dela num gancho, bem apertado. —Nem uma palavra, — ele sussurrou em seu ouvido. Quando as vozes se aproximaram, as palavras em francês tornaram-se claras e ela sentiu o forte ruído do coração de Stefan bater em suas costas.
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SEIS
Normandos! Sua alegria foi rapidamente esmagada pela precaução. Stefan reprimiu o impulso de cumprimentá-los na estrada. Ele não podia. Ainda. Como as vozes se tornaram mais claras, forçou seus ouvidos até mesmo para reconhecer um deles. Escondido entre as arvores de modo a não ser visto da estrada, Stefan assistiu ansiosamente o primeiro vislumbre deles. A mulher em seus braços tremia, e ele leu seus pensamentos. Moveu o braço da cintura até a boca dela, percebendo o quão quente e firme a sua pele era, e a segurou firmemente. — Você acha que esses porcos normandos se importaria que fosse uma princesa? Uma princesa galesa, uma pessoa da realeza com o mesmo sangue daqueles que lutaram e caíram no Castelo Hereford? Ela agitou vigorosamente a cabeça. Mas, não confiou nela. Ela era muito impetuosa, e embora eles fossem seus compatriotas, não pensou um momento que não tentariam nada com ela. Cautelosamente esperou, e quando os primeiros surgiram, fez uma careta de zombaria quando ouviu vozes que não ouvia em quase uma década, voltou com tanta bílis como carne rançosa em seu intestino. Era Ralph du Forney, seu primo, seu primo que não podia aguentar a visão de sua família bastarda. Stefan franziu os lábios. E ao lado dele, Philip d 'Argent, o adorável e dedicado irmão de Lisette. O irmão dedicado que gritou para qualquer que se importasse em escutar que o Bastardo de Valrey era ainda um bastardo sem reconhecimento. Stefan suavemente puxou as rédeas, e Apollo andou ainda mais fundo na floresta. Caladamente assistiram como mais de quarenta soldados Normandos se aproximaram. Perplexo, Stefan perguntou-se o que a patrulha estava fazendo tão longe de Hereford. Por que eles não estavam com Fitz Osbern? Teriam sido enviados para reprimir novas rebeliões? A razão para estarem aqui não importava. Foi sua mera presença que transtornou Stefan, muito. Um cavaleiro solitário na estrada com uma princesa desgrenhada era um alvo fácil, e ele não era tão grosseiro ao ponto de acreditar que seus próprios compatriotas, sua própria família até, não veriam o valor disso. Fez uma careta. Agora sua viagem seria muito mais lenta, pois teria que se manter dentro da floresta e evitar as estradas, exceto quando absolutamente necessário. Após vários minutos, quando não existia mais um rastro de vozes, Stefan moveu sua mão da boca da princesa. Ela soltou um suspiro longo e quente. Ele franziu o cenho e apertou sua mão na testa dela. Queimou. Sem perguntar, ele deslizou sua mão entre a túnica e a pele de seu peito. Ela ofegou, mas não era com condenação. — Jesus, sua pele está muito quente. Ela se virou ligeiramente para olhá-lo, e ele prendeu o fôlego neste momento. Seus olhos prata pareciam vazios e afundados profundamente em seu crânio, queimava brilhante, 46
com febre, o rosto corado. Ele lutou contra a vontade de avançar para Draceadon, para a casa de Wulfson e sua senhora, que iria ajudá-lo em sua causa, ou encontrar refúgio enquanto a princesa estivesse doente. No final, sua saúde superava sua urgência para libertar seus irmãos, afinal, ela estava para morrer, se isso acontecesse, não teria nada para negociar as suas vidas. Stefan abaixou a cabeça para ela e disse baixinho: — Vire-se para que eu possa encontrar um lugar seguro para você esta noite. Ela fez lentamente, e perdendo todo o decoro, seu corpo ficou mole contra o seu peito. Ele a aconchegou para perto com seu braço direito e incitou Apollo para a estrada, e em vez de uma caminhada, ele o colocou em velocidade. Ele não queria apenas aumentar a distância entre eles e seu primo, também queria encontrar um lugar isolado com um córrego, rápido. Como o passar do dia, o corpo que ele apoiava com um braço se tornou cada vez mais quente e pesado contra ele.
Enquanto o sol fazia a sua caminhada no oeste, Stefan achou um lugar apropriado próximo a um riacho límpido, rápido. O corpo em seus braços estava tão quente quanto uma brasa. E ele só sabia de uma maneira como esfriar. Desmontando, cuidadosamente puxou a princesa da sela, deixando o cavalo negro para achar comida. Stefan ignorou a dor em sua perna devido ao peso adicionado e se moveu para a extremidade do córrego. Primorosamente ele desnudou-se e ficou apenas com as roupas de baixo, então puxou a áspera túnica de seu corpo. Ela choramingou em seus braços. — Não, Arian, fique quieta. Com ela nua em seus braços, entrou com dificuldades na água fria. Foi até onde a água batia em seus joelhos. Com ela ainda em seus braços, se sentou, e submergiu o quanto pode da pele dela, então lentamente colocou água em seu tórax e ombros. Ela ofegou e se agarrou ao seu pescoço para sair da água fria, mas ele a segurou perto do seu tórax, e teve que admitir que o frio fosse bom para sua perna. Ele também tinha se esquentado, e sabia que rosto deveria estar transparecendo isso. Porem, não existia nada que pudesse fazer sobre isso. Não esta noite. Talvez amanhã. O corpo de Arian ficou rígido com o choque quando a água fria assaltou sua pele quente. Ela lutou e se debateu, mas ele a segurou firme. — Deixe a água esfriar o fogo, Arian, não lute contra isto. Depois de vários longos momentos, ela se acalmou. Segurou-a com um braço e alisou o seu cabelo e rosto com sua mão livre. Sua respiração era rápida, sua pele muito morna. Em uma lenta e frouxa onda, ela ficou completamente mole em seus braços. E agitou suavemente — Arian? Suas pálpebras trêmulas se abriram e ele viu grande dor em suas profundidades prateadas. — Permita que eu morra — ela sussurrou. — Você me desaponta, princesa. Eu pensei que você lutaria mais 47
— Estou assustada e minha reputação destruída, nenhum homem me quererá para esposa. Deixe-me ir e eu irei embora para longe. — Não. Ela fechou seus olhos, e por muito tempo Stefan ficou sentado no chão do riacho seixoso, sozinho, desnudo, com uma princesa febril em seus braços. Várias vezes ele espirrou a água fresca em seu rosto. Sentiu dó por ela, só por um momento. Quando Stefan tirou Arian da água, a colocou na sua túnica e permitiu que o frio ar da noite a secasse. Uma vez certo de que ela dormia, passou a usar roupas secas, em seguida, colocou várias armadilhas ao longo da margem da floresta, com a esperança de carne para o café da manhã. Ele não ficou decepcionado. Quando ele verificou mais tarde, tinha pegado uma lebre gorda. Rapidamente ele esfolou e desviscerou o animal, o espetou em um galho, em seguida, o colocou para assar sobre o fogo de pequeno porte. Ficou surpreso ao perceber que os olhos de Arian o seguindo pelo acampamento minutos depois. Na pouca luz do fogo, não podia ver sua cor, mas quando se aproximou percebeu que o rubor em suas bochechas diminuiu. Podia também ver que os últimos dois dias tinham cobrado o seu preço. Em vez de saudável e robusta, ela parecia doente e exausta. E tão resistente como ele era, começava a sentir os efeitos em seus ferimentos pelas horas na sela. Por causa do passo lento, tiveram que se manterem próximos à floresta, Draceadon estava a dois dias de onde ele pensou que estava. Mas ele sabia que havia uma cabana de caça a um passeio de dia na direção de Draceadon de onde estavam agora. Lá, eles podiam descansar antes de seguir para Draceadon. Sem se importar com o seu olhar fixo, Stefan voltou sua atenção para a princesa. — Como você está? — Faminta. Ele movimentou a cabeça, e rasgou uma coxa da lebre e deu a ela. Arian comeu devagar, só escolhendo a carne. Sua barriga dizia que estava faminta, mas seu espírito não estava. Nunca tinha se sentido tão exausta ou tão inanimada. Tão destituída. Seu futuro era tão inseguro. Nunca considerou que a vida que deveria viver desapareceria como fumaça no vento. Tudo por causa da luxúria ingovernável de um homem. Quase se sufocou no pedaço de carne que tragava. Como Dag se atreveu! E como esse aqui ousava mantê-la prisioneira? Sob as pálpebras baixas, olhava através do fogo para seu capturador. Assustou-se ao olhar para o rosto do homem. Sua pele estava mais escura do lado esquerdo. Uma mão fria de apreensão tomou conta dela como um punho e a sacudiu. Para onde iria? O que seria dela? Como estaria sua querida Jane, seu homem Cadoc, e o resto de sua comitiva? Estariam procurando por ela ou teriam retornado para Dinefwr? Será que Ivar e o comissário de Magnus, Sir Sar, foram para o leste para entregar a notícia de seu rapto? Será que ainda a quereria se escapasse? O desespero a encheu com perguntas que não tinham nenhuma resposta. Seu pequeno apetite 48
desapareceu. Estendendo a mão, ofereceu o que restava de sua comida para seu capturador. Seus olhos a questionaram. —Eu tive suficiente, tome o resto. Lentamente ele pegou e mastigou pensativamente, seus olhos fixos nos dela o tempo inteiro. Arian desviou o olhar. Ao invés, o estudou. A cicatriz de espada em seu tórax era o mais horripilante, assim como era a bagunça em seu rosto e coxa. As outras cicatrizes em suas costas, mais apagadas, eram notáveis. Ele devia ter sido mais bonito uma vez, mas as cicatrizes o arruinaram. Nunca viu tal homem, e estava contente por Magnus ser mais bonito de rosto e espírito. Nada como este homem bravo e escuro que se recusou a libertá-la. — Como você conseguiu essa cicatriz em seu peito? — Perguntou suavemente. — Uma lembrança. — Do que? Ele a olhou causticamente e lançou um osso no fogo. — Da selvageria dos homens. Chocada por uma resposta tão selvagem, ela exigiu: — Quem faria tal coisa a você? —Um carcereiro sarraceno em uma prisão ibérica. Ela ofegou completamente horrorizada. Tinha ouvido falara da selvageria dos sarracenos. — E você sobreviveu? — Sim, e meus irmãos também. Este é o nosso laço, não pode ser quebrado. — Todos eles ainda estão vivos? — Eu não sei, mas farei qualquer coisa em meu poder para salvá-los, vivos. A condenação estava em seu olhar duro, mas também em sua voz, deixando-a muda. Ela movimentou a cabeça. — Eu faria o mesmo pelo meu irmão. Ele se moveu em direção ao fogo e remexeu com o espeto. Como ele conseguiu a cicatriz de espada, ela continuava a olhar para o lado destruído do saxão. Ela suspirou fortemente e rasgou uma tira de pano da parte inferior de sua túnica e lentamente se moveu para o riacho e o imergiu na água. Torceu ligeiramente e caminhou para o lado do saxão. Apertou o pano contra a sua bochecha. Ele vacilou, agarrando sua mão. — Stefan, se você deixar o ferimento inflamar, não terá nenhum rosto remanescente. Ele saiu de perto dela. 49
— Então suas preocupações estarão terminadas. — Sim, para meu contentamento. Você não tem nenhum direito de me manter cativa. Por que você o faz? — Porque me convém. — Há mais do que isso, — ela ridicularizou. — E só porque eu estou tão cansada quanto você que não insistirei. Mas esteja certo de que amanha você terá que falar sobre isso. — Avidamente segurou seu queixo com sua mão, voltou o rosto dele para ela e apertou o pano em seu rosto. —Venha comigo para perto do riacho, de forma que eu posso manter o pano molhado e fresco. Ele arrancou o pano de sua mão, levantou-se lentamente, e começou a fazê-lo sozinho. Homem teimoso! Enquanto cuidava de si mesmo, Arian deu uma boa olhada em seus arredores. A compensação foi pequena e o cavalo estava próximo. Se pudesse chegar ao garanhão enquanto o cavaleiro dormisse, poderia fugir antes que o homem pudesse coxear até a margem da floresta. Olhou para cima e o viu andando lentamente em sua direção. Fadiga marcava seu rosto, e ela podia ver em seu lento andar e olhar abatido que ele estava tão exausto quanto ela. Ele iria dormir bem esta noite com a barriga cheia. E, apesar de sua própria febre e fadiga persistente, fugiria. E do mesmo modo como estiveram nesses últimos dois dias, ela iria manter-se à margem da floresta e esperar. Ele fez sinal para que ela voltasse para o seu lado do fogo. Entregou a ela a tira de pano, e com relutância ela aceitou. — O inchaço diminuiu um pouco — comentou. — Aliviou a dor. Obrigado — disse rispidamente, em seguida, mudou-se para onde ele estava sentado. Um lobo solitário uivou para a lua. Arian estremeceu no lugar onde estava e se deitou encolhida próxima ao fogo, e se recusou a pensar sobre as bestas peludas tendo liberdade para fazer o que quisessem na floresta. Se não conseguisse escapar, era melhor estar morta. Olhando para o céu cheio de estrelas e para a lua prateada, agradeceu a Deusa. A lua estava cheia e alta no céu para iluminar o caminho. Roncos suaves do outro lado do fogo lhe deram coragem. Rolando para o lado, Arian agarrou uma pedra pequena e lançou em direção a seu captor. A pedra raspou os joelhos dele e ela apertou seus olhos fechados, rezando que não despertasse. Quando não ouviu nenhum som, abriu um olho, respirou profundamente, então abriu o outro. Ele dormiu. Mantendo-se abaixada, moveu-se para os alforjes e desembainhou um punhal pequeno. Não tendo nenhum lugar para embainhar, ela mordeu o revestimento do cabo deixando a lâmina afiada fora, e apressada foi para o grande cavalo preto cujas orelhas se ergueram. Ele bufou, agitando a cabeça. Arian parou quando percebeu que sua rédea não estava em nenhum lugar para ser achada. Só havia uma corda frouxa laçada ao redor do pescoço espesso e amarrada em uma árvore próxima. Ela girou perscrutado o cavaleiro adormecido. Lá, dobrada em baixo de sua perna, estava a rédea! 50
Ela pensou: Não vacile! Pegando o punhal, ela respirou fundo. Silenciosamente se moveu em direção a ele, rezando a cada passo que ele não abrisse os olhos. Mordendo o lábio inferior, se abaixou ao lado dele, tocou as rédeas, e lentamente afastou. Seu coração batia feito um tambor contra seu tórax, podia sentir seu sangue pulsar por seus membros, e a respiração presa. Como a última polegada das rédeas deslizadas para longe de seu peso, quase clamou de felicidade. Agarrou o pedaço de metal apertado em seu punho de forma que não fizesse ruídos, e tão quietamente quanto um rato deu um passo para trás, então outro, sem nunca tirar os olhos do cavaleiro adormecido. Voltou para perto do cavalo e ele beliscou suas costas. Ela gritou de dor e imediatamente foi enfocada por dois olhos bravos fixos nela. Culpada, escondeu a rédea nas costas, como uma criança que roubou um doce da cozinha, olhou para seus pés. Não correria cegamente pela floresta como tinha feito na noite passada, nem iria tentar montar o cavalo e fugir, porque apesar de seus ferimentos e da fadiga sabia em suas vísceras, ele iria pará-la e então a faria pagar por isso. E com aqueles pensamentos, a raiva anulou sua culpa. Sua cabeça se voltou para ele, e o encarou. Ele agarrou um braço dela e a encarou, seu olhar quente de raiva. — Você dolorosamente testa a minha paciência, princesa. — Você testa a minha também! Você não tem direito de me manter meio-vestida e cativa! Eu não sou sua propriedade. Deixe-me ir! — Não. Irritada, ela tirou as pulseiras de ouro e prata que estavam em seus braços, e o anel de ouro que Magnus tinha lhe dado em Dublin. Empurrando a pequena fortuna para ele, ela disse: — Aqui os aceite, eles são dignos de um resgate! Mas ele não estava tão propenso. — A rédea — ele disse suavemente, sua voz baixa e mortal, sua mão com a palma estendida para cima. Furiosa, ela lançou a rédea nele, as extremidades das rédeas pegando o lado direito do rosto dele. Ele vacilou em choque. Arian estremeceu. Esse não era seu intento. Seus olhos estreitaram ameaçadoramente. Sentou-se, então lentamente levantou-se, em toda sua intimidante altura. Sua tentativa para esconder a dor era fraca. Deu um passo em direção a ela com sua boa perna, a laçou com um braço longo, a agarrou pelos cabelos, e a trouxe em sua direção. Ela gritou, tropeçando contra seu peito. Sua mão livre serpenteou ao redor sua cintura e ele abaixou sua cabeça para ela. — Eu tenho demonstrado grande controle quando se trata de você Minha Senhora, e a minha paciência está chegando ao fim. — Ele pegou e agarrou a rédea. Em um movimento ágil e rápido, serpenteou as rédeas ao redor do pescoço dela, cortando sua respiração, então a puxou na direção dele.
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— Você vai ficar ao meu lado esta noite. Toda vez que você se mover, nós dois sentiremos a mordida do couro. Ele andou de volta e a puxou com ele. Agarrando o couro, Arian o puxou até que ele se soltasse o suficiente para ela respirar. Stefan se sentou, onde esteve deitado e puxou as rédeas em sua direção. Ela olhou, reagindo, recusando a se submeter. Ele a puxou para baixo com um pequeno e duro puxão, fazendo-a se curvar sobre seu tórax. Arian deu coices e cravou as unhas em seu rosto. Ele bateu em suas mãos, as empurrou para longe e rolou por cima dela, prendendo-a no chão. Ela bateu, tentando sair debaixo dele, mas ele era grande e muito forte. Ele a prendeu onde ela caiu. Como o couro mais apertado ao redor do pescoço, sua respiração começou a enfraquecer. Seus punhos pararam de bater em seus ombros. Quando diminuiu o ataque, ele aliviou o aperto do couro. Seu tórax subiu quando ofegou e tossiu para respirar. Ele abaixou o rosto para o dela novamente, suas respirações mornas se entrosando. — Isto é para compensar o tempo que tive que tolerar você— ele sussurrou. Arian se curvou, e abriu a boca para gritar quando seus lábios desciam sobre os dela, silenciando-a. Imediatamente ela silenciou apavorada sem saber até onde ele iria, mas falhou. Cruelmente seus lábios a assaltaram, tirando a luta dela. Não podia respirar. Não ousou se mexer. Quando ele pressionou os quadris contra os dela, ela apertou os olhos com mais força. Sua paixão empurrou com força contra sua barriga. Arian lutou contra ele, virando o rosto, ofegando por ar. Ele soltou as rédeas e enfiou os dedos em seus cabelos e forçou-a a encarálo, em seguida, beijou-a novamente, desta vez não tão cruelmente. Seu corpo tremia, o sangue dela acelerou, e não entendia o peso repentino de seus seios. Seus lábios quentes viajaram de seus lábios para o queixo em sua mandíbula até o pescoço, onde ele mordiscava sua pele. Arqueou as costas em reação e ele gemeu. Seus membros estavam pesados e queimando, e sua cabeça zumbia. Ela o podia sentir inalando seu odor, com sua respiração quente, marcando a ferro sua pele. —Por favor, — ela sussurrou, — não me viole. —Não, princesa, eu não irei, eu lhe dou meu juramento quanto a isso. Ele se afastou ligeiramente para longe, de forma que quando ela abriu os olhos, claramente podia ver seu penetrante olhar através do fogo baixo. — Mas saiba que toda vez que você me contrariar irá sofrer com outro beijo, ou — ele riu baixinho, o som arrepiando o cabelo ao longo da sua nuca e costas — porventura algo mais. Ela ofegou, e ele sorriu maldosamente, atraindo a atenção dela para o ferimento junto a sua bochecha, seu lábio torcido maldosamente. — Sim, eu pensei que assim conseguiria sua atenção. Não sou apenas aterrorizante para se olhar, como também sou um cavaleiro bastardo sem posses em meu nome, exceto o corcel e a sela. Você podia estar em pior situação se eu fosse um escravo de campo. — Ele se moveu então, mas a puxou em direção a ele e anunciou. — Até que eu possa confiar em você, você irá dormir ao meu lado como se fosse minha espada. 52
— Não! — Sim. Agora feche a boca de forma que nós dois poderemos dormir. Na manhã seguinte Stefan se apressou para levantar acampamento. O ardor em seu rosto tinha diminuído um pouco, mas notou que o corpo da senhora, que se achava pressionado contra seu peito, estava quente novamente. Rapidamente eles cuidaram de seus ferimentos e estavam sobre o cavalo antes do brilho do sol aparecer no leste. Muito mais tarde, quando o sol fez sua aparição final nas Montanhas Pretas, eles atravessaram um matagal que na realidade era uma passagem escondida para uma trilha bem marcada. O fardo em seus braços há muito tinha dado a ele a tarefa de se manter sobre a sela. Admitiu que, não se importava muito com isso. Mas sua preocupação cresceu no fim do dia. Seus dentes começaram a bater enquanto eles se moviam ao longo da trilha, mas seu corpo queimava mais uma vez com febre. Empurrou o colarinho da túnica até revelar o ferimento da espada. Franziu o cenho. Apesar de estar vermelho e inchado ao redor, não existia nenhum rastro de veneno. Deslizou a mão pela coluna esbelta de sua garganta, gostando do jeito que sentia contra suas mãos calejadas. Se o ferimento não estava apodrecendo, por que então a febre? Existia algo mais errado? Sua preocupação aumentou. Disse a si mesmo que era porque se ela morresse, ela seria inútil para ele, e ele tinha uma grande utilidade para ela. Mas... olhou para o rosto dela. Era bela, seus longos cílios pretos estavam marcados sobre a pele de ouro que tinha perdido o brilho. O peito subia e descia quase em cadência com passos de Apolo. Seu braço apertado em volta de sua cintura, e admitiu que queria que ela vivesse, pois se morresse a terra seria um pouco menos brilhante. Balançou a cabeça para trás quando se deu conta dessa noção tão ridícula. Bah! As mulheres eram úteis apenas para duas coisas: gerar filhos e divertimento na cama. Nada mais. Apollo lançou a cabeça para trás e relinchou quando atravessaram o bosque em seu ritmo acelerado. Stefan grunhiu quando o chalé pequeno surgiu. Freou um pouco para diminuir o ritmo e antes que saíssem do bosque e expusessem a si mesmos a alguém que estivesse morando ali. Pararam longos minutos, apenas escutando. Só os sons da floresta falaram. Nenhum sussurro, nenhuma fumaça no forno, nenhum som de conversação ou riso. As janelas estavam fechadas, e nenhum cão de caça para ladrar a intrusão. — Allez.9 — Ele suavemente comandou. Apollo se moveu adiante. Cuidadosamente, sempre guarda, Stefan foi até a pequena propriedade. E lembrou-se das varias vezes que ele e os irmãos das Espadas de Sangue passavam uma noite ali. Ele conhecia o dono e soube que le lutou contra eles em Hereford. Duvidava, que se le tivesse sobrevivido, retornaria logo para o chalé de caça. Realmente, era mais provável que estivesse atacando a parte do norte de Herefordshire com outros incontáveis saxões. Atrás da baixa estrutura, havia um estábulo pequeno, além de uma floresta espessa. Stefan deteve o cavalo no estábulo que ficava próximo a um poço e a porta da cozinha. Estava tentado a tomar água fresca para diminuir o ressecamento da sua garganta, mas primeiro queria colocar a princesa doente em uma cama. 9
Adiante em francês.
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Desmontou, trazendo ela consigo. Ela lutou durante um momento em seu delírio, mas foi só isso. Sem outra opção, a atirou acima de seu ombro e gemeu quando adicionou mais pressão em sua perna. Moveu-se para a porta amarrada com correia e empurrou com força, esperando resistência. A porta se abriu facilmente. Cautelosamente ele entrou e imediatamente parou. A sala estava vazia e coberta com uma camada de pó, entretanto ao olhar, parecia que os habitantes haviam partido apressadamente. Taças e comidas mofadas estavam sobre a mesa. As moscas fervilharam na área, o fedor era o mais odioso. Arian gemeu, mexendo-se em seus braços. Virou-se e foi para o único lugar privativo da casa. Empurrou e abriu a porta com um cotovelo, contente por se ver que ali estava livre de moscas. A cama estava desfeita, mas duvidou que ela se importasse. Cuidadosamente a deitou nos linhos amarrotados, então começou a abrir as venezianas para deixar o ar entrar no aposento. Moveu-se devagar no pequeno quarto e foi para a sala e começou a abrir as venezianas para dispersar o odor. Então começou a remover a comida rançosa da sala. Por ventura era de quando Edric enviou o apelo às armas contra a Normandia no início do mês, Lorde Alefric, cuja realização desta seria feita pelos seus homens, tinha se apressado em realizar a solicitação do mestre. Embora tivesse sido apenas há algumas semanas, havia uma fina camada de pó por todo lado, apenas pequenas marcas de pequenas pegadas de ratos na poeira. Havia um pequeno caldeirão pendurado em uma barra de oscilação na lareira grande, com alimentos secos e endurecidos em seu inferior. Lá fora, ele inspecionou a pequena cozinha para encontrá-la suficientemente abastecidoa com utensílios e louças, na pequena despensa estavam os temperos, um barril de nabos e alguns outros legumes podres, e uma caixa inexplorada que ele adivinhou ser o vinho. No estábulo, achou várias bolsas de aveia que as criaturas da floresta tinham devorado, e um grande número de ferramentas. Então provisionado, Stefan não teve nenhuma reserva para ficar ali. Por mais que não quisesse ficar parado em um único lugar para não ser tornar um alvo fácil, pois ansiava libertar seus irmãos, não podia negar que sua perna precisava de cuidados e a princesa precisava ficar mais forte. Morta, ela era inútil para ele. Virou-se e soltou o cavalo negro na pequena pastagem e encheu a manjedoura com aveia e feno. Colocou vários conjuntos de armadilhas ao longo da extremidade da floresta, querendo carne para comida, não nabos cozidos. Quando mancou de volta para o chalé, movimentou a cabeça para si mesmo, satisfeito pelo momento. Mas assim que pudesse, iria para o sul, para Draceadon, onde seria recebido e seria bem-vindo e não condenado pelo sequestro de uma princesa. Ele zombou. Realmente, seria aclamado um herói. Mas para ser um herói, teria que cuidar da saúde de sua refém. Parando, pegou um balde cheio dae água fresca. Antes de entrar no quarto, acendeu várias velas na sala e levou uma consigo para o quarto. Quando acendeu a ultima vela, a princesa suavemente gemeu e torceu os lençóis. Sentando em uma pequena mesa ao lado da cama e colocando o balde no chão, Stefan tocou a testa dela. Estava queimando. Procurou nas gavetas, em um canto achou vários linhos secantes. Rasgou dois deles pela metade e os submergiu na água fresca.
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Habilmente tirou a túnica suja de seu corpo e inspecionou o ferimento em seu peito. Estava inchado, mas sem exagero. Como ela fez por ele quando ele estava febril, Stefan apertou os panos frescos contra sua pele quente e repetia quando esquentaram. Ela lutou contra ele, murmurando palavras incoerentes em galês. Muito mais tarde, quando seus gemidos suaves diminuíram e seu corpo se acalmou, Stefan deixou o pano úmido fresco sobre o corpo nu. Ele verificou as armadilhas e sorriu quando avistou um galo preso em uma delas. Estalando seu pescoço, o puxou da armadilha e a reajustou. Chegando à cozinha com o pássaro, pegou um caldeirão e colocou água para ferver, então secou e encheu novamente. Bom. A sujeira e porcaria do dia que passou montado na sela faziam a sua pele coçar. Desde o tempo em que passou na prisão sarracena, preso e amordaçado, deitado por dias, às vezes semanas, em sua própria urina e fezes, ele tinha uma aversão à sujeira e porcaria em seu corpo. Sempre fazia questão de tomar um banho diário. Enquanto pensava naquele lugar profano e na terrível tortura que ele e seus irmãos suportaram, sua frustração aumentava. Eles sobreviveram às surras, as chicotadas, aos ossos quebrados, a fome, e ao ato final, a impressão seca de suas próprias espadas queimadas em seus peitos nus. O laço que eles forjaram naquela fossa era irrompível, e quando pensava sobre o que seus irmãos poderiam agora estar sofrendo nas mãos do rei galês, só serviu para renovar seu voto para libertá-los a qualquer preço, até se isso custasse sua própria vida! Passou a mão pelo rosto. Não conseguiria definir seu plano nem fazê-lo entrar em funcionamento, não até que a princesa fosse capaz de andar. Cogitou a possibilidade de pegála como estava e rezar para que suportasse o resto da viagem até Draceadon, ou tomar o caminho mais prudente e esperar que ela se curasse. Para cada minuto que passamos aqui, era mais um minuto angustiante de tortura para seus irmãos. Irritado, ele tomou banho, então cuidou de seus ferimentos. Caminhou desnudo de volta para o chalé. Durante um longo tempo, ficou olhando fixamente para a princesa febril. Seu corpo esbelto parecia pequeno na grande cama. Puxando os linhos mornos de seu corpo, ele não podia deixar de admirá-la. Até o ferimento em seu peito não fazia nada para diminuir sua beleza incomum. Sim, ela era mais exótica ave entre os pardais simples da Inglaterra. Como ele umedeceu linhos frescos no balde de água fresca e trouxe para dentro com ele, Stefan não podia conter um sorriso. Se ela soubesse como a estava olhando agora, aqueles olhos prateados ficariam cobertos de indignação. Gostava disso nela. Não era nenhuma tola que chorava no primeiro sinal de perigo. Apostou que se ela fosse corretamente treinada, seria uma força para ser contada no campo de batalha. Pressionou o linho em seu tórax, e sentiu seus mamilos enrugarem embaixo de seus dedos. Seu sangue acelerou. Ela não era tímida, mas era ousada corajosa — ele arriscaria supor que seria do mesmo jeito como amante. Sua mão arrastou para baixo, para sua cintura para o berço de seus quadris, maravilhou-se com a pele lisa, suave e aveludada. Quis apertar seus lábios na barriga dela, então mais para baixo, para o ponto suave e protegido. Ela seria doce como mel. Seus dedos coçaram para ir aonde sabia que não deviam. Ela suavemente gemeu, e quando o fez, seus quadris se mexeram, pressionando a palma de sua mão. Amaldiçoando, se afastou e encharcou outro linho e colocou sobre a parte inferior do seu corpo. O calor em seu corpo baixou um pouco quando vestiu um par resistente de chauses de lã que achou em um baú grande de madeira no quarto. Quando procurou mais 55
profundamente, le puxou várias túnicas ásperas que seriam bem utilizadas para caçar. Estavam limpas. Depois de vestido e seu cinto de espada seguro ao redor sua cintura, Stefan se sentiu mais como ele mesmo. Cuidou da segurança da pequena habitação. Mais tarde, puxou o pássaro do espeto e encheu um cálice com vinho e fez seu caminho de volta para o pequeno quarto. Acomodou-se na cadeira solitária, comeu a comida escassa, e bebeu cordialmente o vinho, sem tirar nenhuma única vez os olhos da mulher que libertaria os seus irmãos.
SETE O calor a rodeava, como se estivesse nas profundezas do inferno. Um riso maquiavélico enchia os seus ouvidos. Palavras estrangeiras eram murmuradas nas sombras quentes que subiam e desciam como se uma audiência a observasse por trás de uma pesada cortina. Estava deitada nua, de braços abertos e amarrado em cima da cabeça em um frio altar de pedra. Arian gritou quando percebeu que não havia escapatória. Um riso áspero encheu o quarto. Esticando o pescoço para ver quem zombava dela, Arian sentiu o coração parar. Através da fumaça e chamas lívidas, Dag surgiu nu, seu pênis erguido ameaçadoramente e manchado com sangue. Engoliu em seco. Chifres se projetaram em sua cabeça careca. Seus dentes eram longos e afiados, seus lábios cheios e vermelhos como se tivesse bebido sangue. Arian não conseguia respirar. Ousou olhar para baixo, seu corpo nu e gritou. O mesmo sangue estava espalhado no interior de suas coxas. Desesperadamente ela lutou contra as amarras. — Não! A partir da espessa fumaça acre, Magnus apareceu, com seu pai ao lado dele, os dois unidos contra ela. — Eu não vou aceitá-la como esposa! — Magnus berrou. rugiu.
— Você envergonha a casa de Dinefwr, Arianrhod. Você não é minha filha! —Seu pai
Uma mão suave apareceu com a fumaça cinza, tocando seu ombro seguido por uma frieza que se instalou nela. Dag riu, aproximando-se dela, e balançou a cabeça, reconhecendo a mão que a acalmava. — Ele não pode te ajudar agora, princesa, ele é fraco e eu sou forte! Minha semente foi plantada! — Arian lutou contra a mão gentil que tocava seu ombro. Suaves palavras francesas a acalmavam, desesperadamente queria confiar na voz que estava com a mão, mas temia Dag ainda mais.
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Retorceu-se para longe da mão, puxando a difícil corda que apertava seus punhos na laje de pedra. A mão em garra de Dag tocou seu pé, as unhas cravadas em sua carne tenra. Arian chutou, mas ele segurava suas pernas para baixo com as mãos. Quando ele cravou os dentes em sua coxa, Arian gritou novamente e se arqueou, lutando desesperadamente por liberdade. Mãos apertavam-lhe os ombros para trás, para a laje. Ela se torceu e se debateu. Quando abriu os olhos, gritou novamente. Brilhantes olhos azuis piscaram para ela com a intensidade de um raio de verão. Seu rosto era uma medonha mistura da perfeição e da deformidade. Mas os olhos, eles não iriam libertá-la de seu domínio feroz. Sua voz, porém, foi gentil. — Arian, acorda — ele chamou de longe. Ela puxou os pulsos das amarras para tentar ameaçá-lo, e para sua surpresa, as cordas desapareceram. Estava livre! Lançando-se para cima, lutou contra os braços fortes que a puxaram de volta. — Arian! Acorde! — A voz gritou. As mãos a sacudiam tão violentamente que ela pensou que sua cabeça iria cair do pescoço. — É um sonho, você está salva! Um sonho? Não, um pesadelo. Descontroladamente, olhou em volta, sem saber onde estava. Ofegante, começou a se acalmar quando as mãos que a agarravam a soltaram, dandolhe tempo para se recompor. — Stefan? — Ela sussurrou. — Sim, estou aqui. Virou-se e jogou os braços ao redor de seu pescoço, pressionando-se contra ele, e chorou. Chorou como se tivesse que suportar todos os males do mundo. Não estava acostumada a tais coisas como estupro e ser prisioneira. Mas seu captor era a única coisa que a mantinha viva no momento. E, ela inalou forte, ele não se forçou sobre ela. Sua coluna se enrijeceu. Mas ele não a liberou também! Afastando-se dele, Arian estreitou os olhos. — Será que, você... você me tocou? Seu rosto feroz enrubesceu. — Não. Ela soltou um longo suspiro com os pensamentos confusos que passavam pela sua cabeça. Seu corpo já não queimava, mas sentiu-se tão fraca como um cordeiro. — Eu pensei... — Seu olhar encontrou o dele. — Será que você jogaria fora a sua esposa se ela não fosse pura? —, ela deixou escapar. Ela podia ver que a pergunta o pegou totalmente desprevenido. Quando não respondeu, ela pressionou.
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— Se foi estuprada e não pode fazer nada para impedir, você continuaria sendo responsável por ela? — Não, eu não tenho nenhuma intenção de ter uma esposa. Ela agarrou suas mãos ásperas. — Mas se tivesse você iria recusá-la por um ato que ela não teve como impedir? Lentamente, ele balançou a cabeça. — Não, eu não iria jogá-la fora ou libertá-la de mim. Eu mataria o homem que a violou. Arian caiu contra ele e balançou a cabeça, passando as lágrimas de suas bochechas. — Se você fosse um príncipe e sua filha fosse violada, você continuaria ao lado dela na vergonha? Ele levantou-lhe o queixo com dois dedos e olhou diretamente para ela. Mais uma vez, sacudiu a cabeça. — Não, eu nunca iria condená-la por aquilo sobre o qual ela não teve nenhum controle. Gostaria de trazê-la para mais perto, para o conforto, depois que eu matasse o flagelo que a envergonhou. Um nó se instalou em sua garganta. Arian tentou engoli-lo, mas ele não se mexia. — Obrigada —, disse ela suavemente, em seguida, se deitou na cama e puxou os lençóis até o queixo. — Obrigada —,murmurou de novo, depois fechou os olhos e deixou a exaustão reclamá-la. Stefan ficou parado por um longo tempo em silêncio, atordoado. O banho das emoções que não eram bem-vindos brotou de dentro de seu peito. Mas, mais do que isso, o pensamento de uma criança, de uma filha, a sua filha ser abusada como Dag tinha a intenção de fazer, azedou o vinho e comida em sua barriga. Havia testemunhado muitos atos desumanos. A prisão tinha sido a prova mais cruel do que um homem poderia fazer para outro homem. O dia em que, ele e seus irmãos, escaparam tinha sido o dia em que foram condenados a morte, para ser mergulhado em uma cisterna de morcegos comedores de carne, para serem comidos vivo, onde apenas os seus ossos eram deixados como uma lápide. Sim, ele quase morreu nas mãos de um maníaco sarraceno na Península Ibérica, e, tinha vergonha de admitir, que em mais de uma ocasião, prometeu a uma criada muito mais do que pretendia dar, se ela se deitasse com ele. Nunca pensou, depois de um acoplamento, que uma criança poderia ter nascido de sua semente. Não tinha dúvida de que havia bastardos com seus incomuns olhos azuis espalhados pela Ibéria, França, País de Gales, e por ventura desta ilha ingrata, mas nunca sentiu a agitação de emoção com uma criança. Olhou para a princesa perturbada e algo mais se agitou em seu intestino.
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Em seu sono irregular, o lençol tinha caído até a cintura. Seus seios altos subiam e desciam a cada respiração. Os mamilos rosados se enrugaram como se soubessem que estavam sendo observados. Seu olhar varreu mais abaixo, para o recuo da barriga lisa, para os quadris. Engoliu em seco e pousou a mão na barriga dela, a ponta do dedo para baixo varrendo a suave pele que era seu segredo. Será que ela morreria dando à luz? Para uma mulher tão alta, como ela, era magra e, apesar de um pouco quente, os quadris não eram tão largos como ele achava que deveria ser, para manter, em seguida, passar, uma criança. Ela gemeu baixinho e apertou seus quadris contra a mão dele. Ele congelou. Ela gemeu de novo e colocou a mão para descansar em cima da dele. O olhar de Stefan varreu seu corpo tenso, e lutou contra a vontade de pressionar seus lábios em seu monte felpudo e beijá-la ali. Queria tocar seus seios, prová-los, para torná-los sensíveis. Queria ouvi-la gritar pedindo mais. Seu pênis estava crescendo e inchado. — Jesus — jurou, ficou em pé, em seguida, subiu o lençol até o queixo dela. Apressou-se para fora do quarto, com medo de que não fosse capaz de controlar seu desejo. Caminhou para a cozinha e encheu outra taça com vinho, em seguida, foi mancando até o estábulo onde disse a Apollo, com detalhes, a sua frustração. O garanhão bufou e jogou sua cabeça em compreensão. A taça estava vazia e Stefan exausto, e embora não quisesse voltar para o quarto, precisava descansar, e não ia dormir no chão novamente. A cama era suficientemente grande para os dois, e depois de tudo o que havia acontecido entre eles, se a princesa tivesse problema quanto à partilha do espaço, ela poderia dormir no chão. Quando voltou, ficou contente em ver que as bochechas estavam apenas levemente coradas, e que sua respiração havia se estabelecido em um ritmo profundo. Soltou um longo suspiro. A febre havia se abrandado, e ela estaria melhor quando acordasse. Seus olhos turvos focaram a janela alta. O céu estava apenas um pouco cinzento, o sol fazia o seu caminho por toda a floresta. Deslocou-se para o lado oposto da cama e se deitou completamente vestido e armado sobre os lençóis. Fechando os olhos, Stefan disse a si mesmo: — Será apenas até o sol romper totalmente no céu. Ele era jovem e, embora não estivesse em sua melhor forma, estava acostumado a passar dias sem dormir. Mas não conseguia dormir agora. Durante um longo tempo ficou olhando para o teto de lama rachada. O corpo ao lado do seu virava na cama, soltava gemidos suaves o que o fazia manter seu corpo em estado de alerta. Cada vez que ela chutava o lençol de seu corpo nu, ele se apressava em cobri-la. Finalmente, quando não pode mais suportar ela se debatendo, virou-se e a trouxe para seus braços. Ela lutou contra ele, mas a silenciou com palavras suaves enquanto acariciava seu cabelo longo e sedoso. Com seu corpo contra o dela, uma nova tensão explodiu dentro dele. Estava condenado de qualquer forma com ela por perto. 59
Deitado de costas, tão rígido como a sua espada, sua respiração suave contra sua bochecha, deixou Stefan quase no limite de seu controle. Suas mãos em punhos fechados. Estava cansado, com fome, irritado e tão cheio de luxúria pela mulher em seus braços que se sentia como se tivesse passado muito tempo sem ver uma mulher. Cuidadosamente, de modo que ela não iria tocar em nenhuma parte dele, para poder se afastar, Stefan rolou para longe. Mas os braços dela deslizaram até o seu pescoço. — Não, — ela respirou, — não me deixe. Seu sangue corria como mercúrio, seu corpo apertado se ajeitou para ficar contra ela. Seu corpo nu pressionado contra o dela, seus lábios macios se separaram, e sua respiração acelerou, fazendo com que seus seios fartos se movessem de uma forma mais erótica. Ele não pode se conter quando abaixou os lábios em um mamilo, tenso e tentador. Seu corpo arqueado em uma lenta ondulação abaixo dele. Ele abriu ainda mais os lábios para sugar mais de sua carne suculenta e macia, seus dedos cavaram fundo em seu cabelo espesso. O fogo o consumia. Seus lábios correndo em seus seios, na garganta, até os lábios que estavam abertos em espera, ele moldou sua língua com a dela, sua língua girava em sua boca, saboreando a doce rendição. Ele soube o momento em que ela percebeu que não estava sonhando. Seu corpo enrijeceu, as mãos sobre suas costas o apertaram. Ofegante, ela implorou: — Por favor, me deixe. Relutante, ele o fez, colocando um amplo espaço entre ele e seu corpo quente. Estava deitado ao seu lado e observou-a se recolher, o prazer de ver que não era tão fácil para ela. Ela deitou-se de costas, seus firmes seios rosados tremiam, com os mamilos úmidos de seus beijos. Ela colocou os cabelos para trás do rosto e engoliu em seco para respirar. Viu-a levando a mão pela trilha de sua barriga para seu monte. Quando pressionou a palma da mão lá, engasgou e arqueou-se. A tensão na virilha de Stefan aumentou com a visão devassa. Ela virou a cabeça e olhou para ele, seus lábios cheios e rosados de seu ataque, seus olhos cinzentos como uma densa fumaça. — O que você fez comigo? — Ela respirava. — Apenas dei o que seu corpo pediu. Ela se virou para olhar para o teto e fechou os olhos, lambeu os lábios. Ela não removeu a mão, nem tentou cobrir sua nudez. Fascinado por sua ousadia, ele se aproximou dela. —Será que ainda está doendo?— Perguntou ele suavemente. Ela lambeu os lábios de novo e, lentamente, balançou a cabeça. —De uma forma terrível. Ele beijou seu ombro nu. Seu corpo se mexeu.
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—Eu posso fazer a dor ir embora — ele persuadiu, querendo nada mais do que levá-la. Ela se virou e então o olhou, a intensidade de seus olhos abalou sua busca para mostrar a ela todas as formas possíveis para apaziguar a dor. Ela o olhou com franqueza, e com uma ingenuidade maravilhada que enlaçou o duro coração dele. — Eu não tenho dúvida. Mas estou prometida a outro. Stefan sorriu. — Ele não tem que saber. —Eu saberia, e se não houver sangue nos lençóis de casamento, em seguida, ele jurou anular o casamento, mas manterá o meu dote. — Ela puxou o lençol até se cobriu. — Eu temo que esteja em uma posição vulnerável, senhor, e você me tem em grande desvantagem. Por favor, não tome vantagem de mim novamente. — Ela puxou o lençol sobre os ombros e rolou para longe dele. Stefan olhou incrédulo para ela. A maioria das mulheres teria cuspido, gritado e brigado com ele, alegando justa indignação. Mas, não era assim com a princesa. Ela não correu como uma criada assustada que foi assediada pelo senhor grande e malvado, ou melhor, ela entregou-se as maravilhas do seu corpo e nas sensações do toque que um homem podia evocar. Apesar de sua inocência, abraçou a sensual parte de seu ser. Ele sabia que era inocente desde o dia que a tinha visto tomar banho na lagoa, o jeito que se familiarizou com ela, e a reação de seu corpo ao seu toque. Sorriu como um idiota, completamente intrigado. Enquanto seu sequestrador dormia, com um empurrão Arian com dificuldade puxou a espada do saxão da bainha. Antes que tivesse total controle da espada, ele apareceu na cama, agarrando a mão dela. Ela largou a lâmina e gritou. O peso da espada sobre a ferida foi como um tiro doloroso em seu peito. Ele pegou a lâmina e a empurrou de volta aos travesseiros, espalhando-se sobre ela como tinha feito há três dias, mas desta vez não pressionou a lâmina nela. Atirou a espada ao chão e agarrou-a a sacudiu. — Você está tentando se matar? — Eu ficaria mais feliz morta do que aqui com você — ela cuspiu. Ele a empurrou para longe, rolando da cama se levantou. Agarrou a espada e a embainhou. — Cuidado com o que deseja princesa. Aqui na floresta de Mercia qualquer coisa pode acontecer. — Você está me ameaçando? Ele balançou a cabeça. — Eu nunca ameaço o que pretendo usar de barganha. — Eu exijo ser escoltada para Yorkshire!
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Ele sorriu, e através de sua raiva e indignação, sobretudo no que tinha permitido que fizesse com ela em seu delírio, ela percebeu que o ferimento em seu rosto necessitava de cuidados. Estava pior. — Tudo em sua hora, princesa. Tudo ao seu tempo. — Seus olhos a percorreram com luxuria. Arian agarrou o lençol da cama e puxou-o para se cobrir. Sua mão varreu sua ferida no seio e engasgou com dor. Quando o olhou de cima a abaixo, engasgou novamente. Era uma visão medonha. Sua cabeça se voltou para ele e ela estreitou os olhos para seu atacante. Segurando o lençol contra o seu corpo com uma mão, Arian atacou o Saxão com a outra mão. fez?
— Você é o mais abominável dos homens! Como você se atreve a me tocar como você — Você não reclamou.
— Você se aproveitou do meu estado debilitado —, ela gritou, se lançando contra ele, não querendo ouvir a verdade em suas palavras. Ele a pegou por um braço e a empurrou. Ela voou para trás e pousou bruscamente deitada de costas no chão de terra. Seus olhos se arregalaram quando ele avistou tudo o que estava entre suas coxas. Ela chutou e ele riu, se afastando dela. Envolvendo o lençol firmemente em torno do corpo, o mais rápido que pode, Arian levantou-se. Enquanto trabalhava para cobrir sua nudez, um súbito pensamento terrível lhe ocorreu. Algo mais tinha acontecido com ela antes que acordasse com seus beijos? — Você fez algo comigo enquanto eu estava delirando?— Ele jogou a cabeça para trás e riu bastante. — Se eu tivesse feito você não suportaria. Ela pegou um travesseiro e atirou nele. — Devolva a minha túnica! — Eu a queimei. — Queimou! O que devo usar então? Ele sorriu novamente, e seu olhar quente varreu seu corpo. Desta vez, ela não puxou o lençol, que tinha caído e estava pendurado apenas pelas pontas de seus seios. Em vez disso, ficou em pé e régia, desafiando-o a quebrar seu juramento. — Eu, pelo menos não me importo de ver você andando por ai do jeito em que está. — Deixe este quarto de uma vez— ela ordenou: — E não entre novamente, sem a minha permissão! O sangue de Stefan voltou à vida. Ouviu suas palavras, mas seus pensamentos estavam em outro lugar, um pouco longe de seu comando. Visões de sua última noite, a sensação de 62
sua pele macia e o jeito como respondeu a ele, eram proeminentes em sua mente. Se tinha alguma ideia do que fez para imaginação de um homem, ela não seria tão ousada. Se fosse um homem mais fraco, a levaria de volta para a cama, a prenderia lá, e só a soltaria no próximo nascer do sol. Jogou outro travesseiro contra ele, e arrastando o lençol foi até um baú na parede oposta e começou a tirar fora um item após o outro, até que finalmente puxou um longo vestido branco. — Eu vou usar isso! — Ergueu-o e se encolheu. — É uma camisola de homem, sem dúvida, mas está limpo. Por favor, deixe o quarto para que eu possa me vestir. Visões dela nua e devassa encheram sua mente. Stefan balançou lentamente a cabeça e disse: — Eu acho que você está além do pudor. — Por ventura, talvez você esteja, mas eu nunca estaria. — Ficou olhando com raiva para ele. — Não pense que por causa de um momento de fraqueza, lhe dá o direito de agir como um homem gentil e bem-nascido. — Eu nunca disse que era um homem gentil e bem-nascido. — Eu sou uma princesa! Sou da realeza! Vou desposar um grande duque. Você não vai me tratar como uma prostituta de rua! — Vou tratá-la do mesmo jeito que você me trata. — Então me mostre um pouco de respeito. — Como você me mostrou? Frustrada, ela bufou: — Como você espera que eu lhe mostre respeito quando você me sequestrou? Ele encolheu os ombros. Ela tinha um ponto. — Será que você, pelo menos, poderia se virar, então? Ele balançou a cabeça, e assim fez. Ela gemeu um pouco de dor, então ele ouviu o farfalhar de leve tecido. — Você pode se virar— disse ela. E quando o fez, ele riu novamente. A peça formava uma poça a seus pés. Precisava definitivamente de um cinto, mas o que o divertiu mais, foi o jeito que estava segurando seu punhal, que havia posto sobre a mesa, na mão como se pudesse realmente machucá-lo. — Aproxime-se de mim e eu castro você. Caminhou em sua direção. Ela levantou o punhal. Caminhou para mais perto e em um movimento rápido, deu um tapa no punhal e ela caiu sobre o chão de terra. Ele agarrou as duas mãos dela e a puxou em sua direção. Ela gritou de dor, mas seu temperamento disparou.
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— Não teste a minha paciência. Você vai aprender da forma mais difícil que eu não sou um homem para ser negado. Se você continuar a me frustrar, você pode encontrar mais do que seu peito ferido. — Será que você vai me torturar, então? — Não, eu nunca faria isso, mas se você continuar a recusar as minhas ordens, o único recurso que eu tenho é ameaçar você com violência, ou — ele puxou-a mais perto contra ele — sofrer com outro dos meus beijos. Cabe a você, se eu levar a cabo a ameaça ou não. — Você é um fanfarrão! Um homem que agride as mulheres não é um homem! Stefan assentiu. — Há correntes na sala usada para coleira dos cães. Será que você prefere ser presa a essa cama? — Você não ousaria! — Eu o faria. E se você quiser me testar, faça isso agora para que eu possa cuidar de outras tarefas sem ter que olhar constantemente por cima do meu ombro. — Eu exijo que você me devolva ao meu povo! Eu sou a filha de um príncipe de Gales. Ele não vai ficar feliz em saber que eu estou sendo tratada desta forma! Stefan sorriu. — Sim, eu estou contando com isso. — Você está me segurando para a obtenção do resgate? Ele encolheu os ombros. — Essa é uma prática bastante comum. — Você é desprezível. — Sim, e não se esqueça disso. — Ele abriu a porta e se virou para encará-la. —Tome vantagem da cama, enquanto você pode. Estaremos de volta sobre um cavalo o mais rápido possível. Stefan saiu da casa e foi até a margem da floresta, onde repôs a armadilha na esperança de pegar uma lebre ou duas. Não lebre, mas duas gordas galinhas selvagens. Estava com fome e poderia devorar um javali inteiro. Mas as galinhas e os nabos teriam de ser suficiente. Quando voltou para a casa, para encontrar vários castiçais iluminando o chão, fez uma careta. Jogou as aves sobre a mesa. — Suponho que você pode usar essas roupas e não queimá-las? Ela se endireitou, e embora a camisa fosse grande, era fina, e de pé em frente à luz da vela, como ela estava, suas suaves curvas arredondadas estava claramente definidas. Ele fez uma careta quando seu desejo despertou novamente. 64
— Eu não cozinho! — O que exatamente uma princesa faz? — Ele perguntou com sarcasmo. — Uma princesa gerencia as propriedades do marido e dá-lhe filhos. — Mas para gerenciar suficientemente, você não deve saber fazer as coisas da qual gerencia? Arian franziu a testa. — Minha madrasta gerenciava o funcionamento do castelo. Eu estava mais envolvida com os cavalos e arco e flecha. — Você sabe ao menos bordar? — Ele zombou. Seus olhos se estreitaram. — Eu tenho habilidade com a agulha, e sou melhor do que qualquer homem no tabuleiro de xadrez, e eu posso consertar um freio arrebentado. Stefan caminhou em sua direção e agarrou os pássaros. — Vem, princesa, eu vou lhe ensinar como se vestir e como agir nesta temporada de aves. Da próxima vez, espero que você faça esta tarefa sem supervisão. Isso não é tarefa de um homem. — Eu não sou sua serva! — Você acha que eu sou? — Não, mas... — Então, venha aprender de modo que não iremos morrer de fome. Relutante, o seguiu até a pequena cozinha. Habilmente ele arrancou o pássaro, decepou a cabeça, cortou abaixo da barriga, e removeu as entranhas. Ele tirou água do poço e despejou-o em um pequeno balde que encharcou fortemente com sal, em seguida, submergiu o pássaro. Lavou as mãos, em seguida, entregou-lhe a faca de mesa, mas antes de entregar, ele disse: — Não tente usar isso em mim. Você pode ganhar essa primeira batalha, mas serei eu quem irá ganhar a guerra. Arian concordou, e ele teve que admitir que ela fez um bom trabalho com o segundo pássaro. Cortou a cabeça e teve dificuldade no corte da barriga. Ele guiou sua m]ão e ela o empurrou. Em alguns momentos, tinha o pássaro depenado, lavado, e no balde junto com o dele. — O que o sal faz?— Ela perguntou. — A salmoura. Retira qualquer veneno da carne e a amacia.
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Algum tempo depois, sentaram-se com a galinha assada e nabos cozidos. Sem cerimônia, comeram em tigelas. E para uma princesa bem-educada, Arian comia com prazer. Estava, literalmente, faminta e quando a galinha acabou olhou em volta procurando por mais. Stefan entregou-lhe uma perna da dele, e ela aceitou. — Obrigada — ela murmurou. Ela bebeu mais vinho do que deveria, mas não se importava. Ainda estava cansada e isso facilitou seu humor. Nem remotamente saciada da rápida refeição, lavou os dedos na tigela de água próxima a ela e, em seguida, secou as mãos em uma toalha de linho. — Quando você vai se casar com o Viking? — Stefan perguntou, quando também havia lavado, e secado suas mãos. Ela enrijeceu. — Isso não é de seu interesse. Ele fez uma tentativa de um sorriso, mas a força do gesto torceu o lado direito do rosto. Arian sentiu uma pontada de compaixão por ele. A ferida parecia dolorosa. Estava vermelha e inchada e deixaria uma cicatriz mais hedionda ainda. Seus olhos desceram para a cicatriz em forma de lua crescente em seu queixo, que ela havia percebido agora. Ela apontou para ele. — Como você conseguiu essa cicatriz? Ele encolheu os ombros. — Eu tenho várias cicatrizes, de muitas batalhas, eu não as controlo. Sua reticência a irritou. — Por que você ainda me detém para o resgate? Meu pai vai com prazer recompensálo por salvar minha vida. — Eu não salvei a sua vida, somente sua virgindade, ela ainda esta intacta. Arian elaborou um insulto num acesso de raiva. — Como você se atreve? — Princesa, eu sou um homem que já viu de tudo em minha curta vida aqui na terra. Não importa para mim se você é virgem ou não. — Por que você tem uma opinião tão baixa das mulheres? — Por que você supõe que eu tenha? — Um homem de coração nobre não teria espionado enquanto eu me banhava no rio. E jamais ameaçaria uma senhora com violência e, em seguida, realizar um ato tão terrível, como você fez ao me cortar. E do jeito que você me trata, como se eu fosse alguma prostituta na sarjeta, quando eu sou uma senhora da realeza, só aumenta a minha suspeita. 66
— Eu nunca disse que era um camponês. A ameaça de violência é um impedimento a uma violência maior. No que diz respeito a sua ferida? Foi por sua própria culpa por tentar fugir de mim. Se você se lembra do evento como ele de fato ocorreu, foi você que forçou a si mesmo contra a minha lâmina em sua pressa de subir na sela. Não me culpe por suas ações. Arian sentiu uma exasperação como ela nunca havia conhecido. — Isto parece uma ‘desculpa’ para culpar os outros pelos seus atos perversos. — Sim, e não se esqueça de que do meu jeito de pensar ou agir para com os outros só acontece a menos que haja alguma coisa para ser adquirida a partir deles. — Então, vou ter a sua atenção até o momento em que o meu resgate for entregue? Ele balançou a cabeça. — Mais ou menos. Arian sentou-se e empurrou o seu prato vazio dela. — Meu noivo irá caçá-lo e ira matá-lo. — Você acha princesa, que ele ainda vai querer você depois que matou um de seus homens e passou um tempo de intimidade a sós com um bandido saxão? Ela endureceu, quando a compreensão da magnitude dos atos e de sua situação se abateu sobre si. Cadoc e Ivar a tinham visto correndo nua com um homem seminu. Será que a culpa cairia sobre ela? —Só agora você pensou nas implicações da morte do Viking? Um calafrio deslizou ao longo de sua espinha. Será que Magnus acreditaria nela? Será que ele ainda a quereria com a sua reputação arruinada? Os rumores seriam muitos, e ele seria uma piada. — Eu tirarei esses pensamentos da minha mente. Eu não posso suportar a ideia do que seria de mim se Magnus me responsabilizar pela morte de Dag. — Eu aposto que será o orgulho dele que mais sofrerá. — O orgulho de um homem é tão cego? — Às vezes, minha senhora, o orgulho é tudo que um homem tem. Ela olhou para ele, e como tinham sido fisicamente próximos até este dia, la o viu, pela primeira vez. Um homem orgulhoso que não tinha nada, apenas seu cavalo e sua espada. Se não fosse pela cicatriz irregular que foi mal curada ao longo de sua face, seria mais bonito. Seu espesso cabelo loiro-avermelhado até os ombros, e o jeito que eram levemente ondulados ao longo de seu rosto deu-lhe um olhar predador. Notava-se a sombra de uma barba na linha da mandíbula. Seus olhos eram como um lápis brilhante, o nariz forte e definido, assim como o queixo teimoso e maçãs do rosto. Ela engoliu em seco. Não havia nada suave sobre este homem. — Você matou o sobrinho do homem com quem eu vou me casar. 67
— Ele me desafiou, era ele ou eu, não tenho nenhum remorso. — O remorso é meu. — Sim? Então da próxima vez em que eu ver você ser atacada por um patife covarde, irei continuar o meu caminho. Arian abriu a boca para se defender, mas como poderia? Dag não teria sido parado por ela. Havia apenas uma maneira de lidar com alguém como ele, e era com violência. — Senhor, os meus agradecimentos por preservar minha virtude, ela vale mais do que você imagina. Eu apenas sinto que o preço pago para mantê-la foi a vida de um homem. — Ele não era digno de você. Não pense mais sobre isso. Arian balançou a cabeça, incapaz de entender o seu desprezo. — Não vou descartar uma vida tão facilmente como você. — Você acha que Dag se importaria? Ela balançou a cabeça novamente, incapaz de defender a verdade. — O ferimento em seu rosto, como você o conseguiu? — Um lembrete macabro para prestar mais atenção ao meu inimigo — disse ele. — Sim, é muito ruim — concordou, segurando seu olhar. Ela engoliu, e perguntou o que a atormentava. — Você faria... — embaraço lavava seu rosto. —Quando o resgate for atendido, você planeja me fazer mal antes de me soltar? Seus olhos brilhantes encararam os dela, e por um longo tempo pensou que ele não iria responder. Ele rosnou baixo em seu peito, e disse: — Eu nunca coloquei a mão sobre uma mulher com raiva ou por vingança. — O seu juramento, — ela insistiu. O saxão assentiu. — Pela segunda vez, eu lhe darei. Arian soltou um longo suspiro aliviado, então, ofereceu um pequeno ramo de oliveira. — Gostaria de devolver o favor e me oferecer para costurar seu rosto. Ele precisa ser limpo, desinfetado e tratado, ou você terá uma cicatriz ainda mais feia. — As cicatrizes não me incomodam. Incomodam você? Seu impulso foi confessar que sim, as incomodavam, mas, por alguma razão ela não queria parece tão superficial para este homem. — Eu posso viver com elas, se você puder.
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— Então o faça. — Mas está avermelha e inflamada. Se não for tratada, a carne vai escurecer e você terá menos que um rosto, então só resta tratá-lo agora. Nenhuma mulher gostaria de você assim. Ele riu amargamente. — O que faz você pensar que elas me querem agora? Eu sou um bastardo. Um cavaleiro mercenário, Lady Arian. Eu compro as mulheres com a minha moeda de sangue. Elas estão contentes com isso e eu também. E isso é o suficiente para mim. E por sua admissão simples, Arian começou a entender este homem sombrio e raivoso. Ela sentiu um agitado sentimento de compaixão por ele. A emoção deve ter se mostrado em seu rosto, pois ele fez uma pesada careta. — Não tenha pena de mim! — Ele rosnou. De repente se levantou e caminhando com raiva e saiu da sala, batendo a porta da frente quando passou. Atordoada pela sua mudança de humor repentina, Arian ficou em silêncio por um longo momento, se esforçando para compreender os pensamentos dos homens. De seu pai para seu irmão, para Dag e agora esse homem, não tinha o menor conhecimento sobre eles. Caso Magnus ainda a quisesse, manchada como estava, será que também se provaria tão complexo? Balançou a cabeça, cansada demais para contemplar o sexo masculino mais do que aqueles que ela conhecia. Os homens eram guiados por aquilo pendurado entre suas pernas. Era o mesmo com os garanhões que criava. Eles eram zelosos em sua sensualidade com uma égua na temporada de acasalamento, por vezes, violentos. Muitas éguas tinham sido feridas debaixo de um garanhão agressivo, mas quando estavam saciadas completamente, elas abandonavam o seu companheiro. Silenciosamente, limpou a mesa, e de repente se sentiu exausta, virou-se para o quarto e subiu entre os lençóis. Embora estivesse escuro e silencioso, e estivesse mais cansada do que poderia se lembrar, o sono era esquivo. O grito de um falcão, seguido pelo grito de medo de sua presa, mandou-a rastejar para debaixo dos lençóis. Arian estremeceu e puxou o lençol mais justo até o queixo. Longos momentos depois, ouviu a porta exterior se abrir, depois ser fechada, seguido pelo zumbido do parafuso. Enrijeceu, imaginando o que o saxão tinha reservado para ela. Podia ouvi-lo se movimentando em torno da grande sala. Calmamente escorregou da cama e ficou ouvindo por trás da porta. Suas suaves maldições despertaram a sua curiosidade. Com cuidado, abriu a porta e desceu o corredor curto e olhou em torno do canto. Ofegante ao ver o que a saudou, Arian apertou sua mão nos lábios. O cavaleiro bravo se sentou à mesa com uma faca na mão, olhando para um bruto espelho. O sangue escorria do seu rosto.
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OITO
Arian assistiu, horrorizada, enquanto Stefan serrava cada ponto de seu rosto. Balançando a cabeça diante de tal carnificina, Arian entrou na sala. — Você vai causar mais danos. Deixe-me fazer isso. Sua cabeça girou e seus olhos se estreitaram ante o feixe da luz dos candeeiros que tinha aproximado. Ele afastou suas mãos com força, as empurrando para longe. — Deixe-me. Ela não se intimidou. — Seu orgulho vai te matar! Dê-me a faca. — Então você deveria estar agradecida. Arian estava com as palmas das mãos voltadas para cima. — Dê-me a faca. Ele sentou-se rígido, a lâmina firmemente agarrada na mão ensanguentada. O olhar dela se moveu seu rosto e ela se encolheu. — Sangra e parece estar febril. Dê-me a faca. Quando não se moveu, ela tomou a faca dele e a descansou no alto do cavalete. — Vou abrir as janelas mais próximas para ter melhor iluminação. — Assim que fez isso, se virou para o cavaleiro mal-humorado. Colocando as mãos contra seu peito, o empurrou de volta ao encosto da cadeira de espaldar alto, onde ele estava sentado. A rigidez de seus músculos planos agrupou sob a ponta de seus dedos. O baque duro de seu coração reverberava contra as palmas de suas mãos. Ele estava quente. Rapidamente, retirou as mãos e puxou o candeeiro para perto de forma que pudesse ver de todos os ângulos. Tomando o queixo em sua mão, ela inclinou a cabeça dele para trás, depois para os lados. — Você fez uma confusão com seu rosto. Por mais que eu seja uma bordadeira hábil, não sei se minha habilidade é suficiente para te fazer inteiro de novo. Ele não disse uma palavra, mas seu olhar quente a furou por dentro. Ela pegou o pano que ele tinha embebido em vinho, o escorreu e em seguida limpou o sangue e a lama do rosto dele. Depois que foi limpo, estendeu a mão para a faca e quando o fez ele segurou sua mão. Lentamente, envolvendo seus dedos em torno dela, a puxou para perto, sua respiração quente se misturando com o dela. — Prometa-me que só irá cuidar da ferida e não cortar minha garganta. Ela sorriu e se inclinou para ele, seu gesto recompensado pelo estreitamento dos olhos dele. — O temível cavaleiro saxão mercenário teme a princesa indefesa? Ele a puxou mais para perto, seus lábios se separavam apenas por uns centímetros. — Não há nada de indefeso em você.
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Seu corpo tremia de forma mais desconcertante. Seu corpo assim fazia quando ele a tocava. — Eu lhe prometo. Não cortarei sua garganta, senhor cavaleiro. Mas não toque em outras partes do meu corpo. Ele tentou sorrir, mas o gesto foi muito doloroso. Empurrou-a com cuidado para longe de si. — Faça o seu pior. Não vai doer mais do que já está. E ela fez. O pior foi cortar os pontos antigos. Porém, uma vez que a ferida foi aberta e limpa, pode ver que havia tecido saudável por baixo. Mais do que agradecida por sua faca ser mortalmente afiada, foi capaz de cortar toda a pele em decomposição. Finalmente aberta, livre daquela secreção amarelada, ela olhou para ele. — Onde está o bálsamo que você usou em mim? — Na bolsa. — Ele disse, apontando para a mesa. Arian limpou suas mãos em uma bacia fresca de vinho e água e logo abriu a bolsa, mergulhando os dedos no bálsamo. Delicadamente passou dentro da ferida aberta. Stefan soltou um longo suspiro e descansou a cabeça contra o encosto da cadeira. — Isso já alivia. — Você foi um idiota por cuidar disso sozinho. O veneno teria matado você. — Então por que você não deixou acontecer? Ela olhou-o com sinceridade. — Porque eu não poderia viver comigo mesma se eu lhe permitisse morrer quando poderia ter te salvado. — Mesmo que isso significasse escapar de mim? Ela assentiu com a cabeça. — Mesmo que isso significasse escapar de você. Ele entregou-lhe a agulha tinha preparado. Arian assentiu e quando seus dedos se tocaram no momento em que pegou a agulha, algo semelhante a um raio a atingiu. Ela ofegou, com a sensação de ser pega desprevenida. Ele sibilou uma respiração forte, seus dedos ásperos apertando em torno dela. Ela se atreveu a olhar para cima naquele quente olhar e seu coração bateu como um tambor contra o peito. Não viu o rosto ferido, ou seus lábios cheios repuxados num grunhido; não, só viu um homem que apesar de seu corpo devastado tinha plena consciência dela como mulher. Lentamente, Arian puxou sua mão, quebrando a espessa tensão. — Olhe para ferida. — Disse ele asperamente. O que ela achou uma tarefa mais difícil, pois a carne e os músculos não eram tão fáceis de trabalhar com o fio de seda e o linho. Engoliu a bile, que surgiu em sua garganta e disse a si mesma “isso é um simples ponto e nada mais”. E com isso em mente, começou a costurar perfeitamente o corte que corria a partir da borda do olho direito para baixo da borda externa da bochecha até um pouco acima de sua mandíbula. — Isso está ruim. — Ela disse baixinho, gentilmente limpando o sangue em seu rosto. Ele pegou o espelho de cima do cavalete e segurou-o. Por um longo momento, se olhou. Arian prendeu a respiração. Isso estava muito melhor do que o esforço dele, mas estava tão danificado que ela não tinha certeza se iria apodrecer novamente ou não. Ele colocou o espelho de volta onde estava e a olhou, seus olhos escuros e firmes. Lentamente se levantou, seu corpo alto e musculoso enchendo o pequeno espaço entre eles. Abaixou as mãos, 71
estendidas para ela, e a chamou para si. Suas pernas tremiam e o calor deslizava através de sua pele. Como ela tinha feito, tomou-lhe o queixo em sua mão e inclinou a cabeça para trás e quanto fazia isso, seus lábios se aproximavam dos dela. — Você é muito corajosa, princesa, um traço que eu admiro. Quando seus lábios tocaram os dela, ela estancou. Eles eram calorosos e surpreendentemente suaves. Não duro e cruel como foram antes. Mais suave que durante o seu delírio. E mais chocante foi que o faziam quando ela estava lúcida e muito no controle de si mesma. O calor infundia em cada centímetro de seu corpo. Sua pele formigava nos lugares mais íntimos. Sua barriga retraiu e a dor voltou. Ele colocou um braço forte em volta de sua cintura, pressionando-a para aproximar-se dele, segurando-a firme, aprofundando o seu beijo. Ele era tudo ao seu redor, alto, duro, e fazendo-a sentir coisas que nunca tinha sentido antes. E isso a assustou. Ela tremeu, nunca tinha sido segurada tão intimamente por um homem. Ela tinha permitido Magnus beijá-la, mas não se lembrava de se sentir tão quente ou tão fraca. Arian abriu mais os lábios para lhe dizer que parasse, quando a língua dele deslizou lentamente contra seus lábios. Endureceu, lutando contra a sensação irresponsável que isso provocou. Era como se todo seu corpo tivesse acendido e ela não conseguisse mais controlálo. — Por favor, — ela disse suavemente contra ele. — Por favor, o quê? — Ele suavemente indagou. Ela fechou os olhos e por um momento muito breve se perguntou como seria se deitar com um homem assim. Ele seria dominador e insaciável. Prendeu a respiração. E possessivo. E sabia que ele nunca iria deixá-la ir. — Por favor, me largue. — E ele largou, imediatamente. Mas não se afastou. Seus olhos tinham escurecido como a cor de uma noite sem luar, o fogo queimava quente em suas profundezas. — Eu acho que você não deve fazer isso de novo, senhor. — Nem mesmo se você desejar? — Mais especificamente se eu desejar. Ele sorriu um sorriso genuíno, e seu rosto inteiro se transformou de um demônio assombrado para um anjo alegre. Ela suspirou, e sentiu novamente um aperto em suas partes mais baixas. Afastou-se, querendo distância física e emocional. — Parece-me, senhor, que estou em uma situação um pouco difícil. — Que seria? — Lorde Dag está morto e eu não tenho culpa. Os soldados com quem viajava não irão descansar até que eu seja encontrada. — Com o tempo eles vão saber do seu paradeiro. — Em seu tempo?
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— Sim, o meu tempo. —Temo que Magnus esteja furioso além da conta. — O seu devotado futuro marido? Ela estreitou os olhos. — Sim, meu noivo. É por causa dele que viajo. — Para Yorkshire? — Para Moorwood, suas terras arrendadas ficam ao sul de York. — Ore para que ele a mantenha num pedestal tão alto que passe o olhar longe de sua indiscrição. — Minha indiscrição?! Não fiz nada de errado! Foi Dag que transgrediu. Magnus vai ver isso. Ele é um homem de honra e vai se casar comigo, tenho certeza disso. — Você acha que quando ele ouvir que você partiu nua com o homem que matou seu sobrinho, irá recebê-la de braços abertos? — Ele irá! — Os vikings que acompanharam você, são os homens do Jarl ou de Dag? Arian engoliu em seco, como seu pesadelo sobre o ataque de Dag e o que se seguiu. Dúvidas a encheram. Magnus poderia rejeitá-la? — De Dag, em sua maior parte. — Se você fosse tão preciosa para ele, seu noivo imbecil teria enviado seus próprios homens para manter a guarda. — Você está errado! Magnus é um homem bom. Ele me escolheu dentre todas as mulheres. Tenho certeza que tinha total confiança em seu sobrinho. O amor cega, senhor. Stefan bufou e balançou a cabeça. — Sim, assim como a promessa de ouro e glória. Arian viu suas feições se retorcerem numa carranca à erupção dessas palavras. — O amor de sua senhora flutua pela promessa de ouro e glória? Memórias há muito enterradas vieram à tona com uma força tão poderosa que soltaram do peito de Stefan. A princesa era inteligente demais para seu próprio bem. Sua pergunta golpeou profundamente seu coração e torceu-o como se ela tivesse tomado sua adaga e a enterrado. — Meu passado não é de sua preocupação. Mas parece que nosso presente está destinado a se entrelaçar. Um pode ser de uso para o outro. — Não desejo ajudá-lo. Quero apenas ser liberada. — Ela agarrou as mãos dele, movendo com respeito a ele. — Tenho ouro! Vou pagá-lo por uma escolta segura até meu noivo. Ele lhe dará mais depois de minha entrega! Stefan concordou em silêncio. Essa era a sua intenção, mas antes disso, a princesa seria seu grande trunfo com Rhiwallon. Ele tirou suas mãos da dela, não gostando da maneira 73
como o corpo queimava ao seu toque. — Não busco seu ouro nem o do seu noivo. Tenho um preço diferente em mente. Seus olhos se arregalaram e ele teve de sorrir. — Não princesa, não quero o que Dag teria a força de você, embora não iria recusar se fosse dado livremente. Ela suspirou e se afastou. — Você é muito atrevido! Mesmo se eu quisesse lhe dar esse mais precioso presente, não posso. Parte do meu contrato de casamento com Jarl é que eu seja entregue virgem em sua cama. — Isso foi antes. A questão agora é se ele a terá, por fim? Ela balançou a cabeça vigorosamente. — Por que você diz essas coisas? Você deseja semear dúvidas onde não existe nenhuma? — Eu falo como homem. O orgulho pode ofuscar o que está definido claramente diante de nós. — Magnus me terá! Eu direi a verdade para ele e os malditos lençóis vão provar que eu não minto. — Nem toda donzela sangra na primeira vez. Mais uma vez ela engasgou. — Eu, eu, então como ele iria ter certeza? Stefan deu de ombros e se perguntou por que incitou a moça. Não que o que ele disse não fosse verdade. Nobres seguram as senhoras que escolhem para ter filhos nobres num padrão muito mais elevado do que um homem comum. Ele olhou para seu rosto aflito e sentiu uma pontada de compaixão por ela. Era tão inteligente quanto bonita, se não ingênua. Mas não iria mentir para para poupar seus sentimentos. — Há um velho truque de usar sangue de cordeiro para manchar os lençóis, mas o Viking pode muito bem insistir em ter testemunhas para ter certeza que não haja passe de mágica debaixo dos lençóis. Viu-a de escurecendo de cor. — Você quer dizer que nossa união vai ser testemunhada? — Sim. Ela engoliu em seco, mordendo o lábio inferior. — Eu tinha ouvido falar sobre isso, mas esperava que não se aplicasse a mim. — Sob as circunstâncias, acho que seria mais aplicável a você, princesa. Ela estreitou os olhos e olhou para ele. — Sem agradecimentos para você! Stefan aproveitou o momento para fazer uma pausa e assistir o jogo furioso de emoções que promoviam guerra no rosto encantador dela. E era a mais formosa. Cabelos espessos e dourados, misturados com fios cor de profundo âmbar. Sua pele, dourada e cremosa como se passasse boa parte de seu dia sob o sol. Seu nariz era pequeno e real, seu queixo suavemente firme, mas eram aqueles lábios avermelhados e aqueles enormes olhos cor de prata que quando estava com raiva, como agora, tinha um tom de lavanda e eram enquadrados pelos cílios mais grossos e escuros que já tinha visto ― o que lhe deu mais razões para fazer uma pausa. Ela era uma combinação extraordinária de definidas feições que quando 74
colocadas juntas criavam a mais bonita rendição. Seu sangue esquentou e teve a esmagadora vontade de beijá-la novamente. Ela tinha sido suave e doce contra ele, então sabia que ela montaria doce e suavemente. Ele colocou as mãos para cima como fosse se defender, e então se moveu em torno da mesa e apagou todos os candeeiros, menos um. — Você se arrepende de minha intervenção? –perguntou. — Lamento por ter tirado a vida Dag. Estava ao lado dela de novo e olhando-a. As mulheres não entendem as maneiras de um homem. Não havia outro jeito de lidar com um homem como o Viking. — Quando você entender que não havia outra maneira, talvez possa aceitar. Os ombros dela caíram e de repente pareceu cansada. — Estou exausta e desejo me retirar para descansar. batida.
Ela correu para longe dele rumo ao pequeno quarto e fechou a porta com uma sonora
Stefan sorriu e serviu-se de um cálice de vinho do odre que tinha enchido. Sentou-se na cadeira grande e, lentamente, apreciou a bebida. Isso era bom. E pela primeira vez desde que acordou no campo de batalha em Hereford, seu rosto não pulsava com dor. A princesa tinha um toque suave e estava muito grato por seu cuidado. Tocou com as pontas dos dedos a ferida na coxa. A dor tinha diminuído também. Ele a tinha limpado e preparado antes. Veria a ferida novamente antes de ir para cama e então decidir se deviam viajar no dia seguinte ou esperar mais um dia. Queria continuar seu caminho o mais cedo possível, antes que se espalhasse a notícia por todas as vilas e aldeias que havia um invasor saxão em fuga com uma princesa galesa. Haveria um preço pela cabeça de ambos e estava determinado a não ser capturado. Se isso acontecesse, seus irmãos estariam perdidos para sempre. E isso não era uma opção.
Assustada por um momento, sem perceber onde estava Arian prendeu a respiração. Lentamente, soltou o ar enquanto as respirações profundas ao lado dela se infiltravam na escuridão, lembrando-a dos últimos dias de seu forçado cativeiro. E com quem estava. Sensações intermitentemente conflitantes lutavam junto aos seus membros, costas, barriga, ventre. Calor, calor, frio. Desejo, raiva, medo e impulso de fugir. Fugir do que sabia que seria sua ruína, se ficasse com o homem que pretendia vendê-la pelo maior lance. Com cuidado, se virou para o homem que virou sua vida do avesso. No fraco brilho da vela, podia ver claramente que ele estava deitado de costas, um braço dobrado com a mão sob a cabeça, o outro braço em linha reta, com os dedos enrolados em torno do cabo de sua espada. Até dormindo, era um guerreiro. Seu olhar pousou em seu rosto, percebendo que o ferimento que tinha costurado anteriormente começava a melhorar. O inchaço era visivelmente menor e a coloração não era tão forte. Seu olhar viajou até a larga coluna de sua garganta passando para seu amplo peito e pela cicatriz que lá tinha. Aproximou-se. Ele era o homem mais magnificamente criado, apesar das cicatrizes. Que uma vez tinha achado ofensivo, agora não se importava tanto. Elas eram tão parte dele quanto seus incríveis olhos azuis e sua mal-humorada disposição.
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Engolindo a seco, Arian se permitiu mergulhar o olhar mais abaixo, sua barriga lisa, e então para a protuberância em suas calças. Ele era generosamente bem dotado. Seus dedos brincavam com o lençol de linho, querendo tocá-lo, mas não ousando. Ele poderia acordar e saber que tinha estendido a mão até ele. No entanto, não tirou os olhos dele. Sua mente tomou o vôo e pensava em vívidas imagens dele tomando-a, aqui, agora, nesta cama. Da paixão que uma vez desencadeada, iria levá-la para um inferno selvagem e imprudente. Uma paixão que, uma vez desencadeada, seria a sua ruína. Arian gemeu e rolou da cama. Devia fugir... sair antes que sua imaginação se tornasse realidade. Levando a vela da mesa de cabeceira, Arian cuidadosamente caminhou até a porta que Stefan tinha deixado aberta. Olhou por cima do ombro para encontrá-lo ainda em sono alto, então ela voou. Apressou-se para sair de onde estava e correu sob a lua alta até o estábulo. Não tentou levantar a sela pesada, em vez disso, escorregou as rédeas sobre a cabeça negra e a mordeu. Ela acompanhou-o até um baixo cepo do lado de fora do estábulo e o montou, estremecendo com a dor de sua ferida. Seu coração batia no peito como um tambor de batalha e sem que pudesse evitar, olhava várias vezes para a choupana, orando por uma intervenção divina. Montado o cavalo, Arian suavemente o atiçou, esperando que ele decolasse. Ele não se moveu. — Vamos lá, garoto. —insistiu, chutando-o mais forte desta vez, suavemente cacarejando com ele. Ele sacudiu a cabeça, mas não se mexeu. Sua frustração aumentou. Por que ele não se movia? Um suave assobio da choupana agitou a besta. Suas orelhas se animaram e sem nenhum comando dela, trotou diretamente para onde ela tinha saído. Um saxão muito zangado e aparentemente abatido estava na porta, com uma longa corrente e algemas na mão. —Eu não te avisei? Estendeu a mão para sua perna e prendeu a algema de ferro em torno de seu tornozelo, em seguida, puxou-a para fora do cavalo. Ela gritou e tentou chutar a perna ruim, mas ele estava pronto para ela. Pegou-a e jogou-a sobre o ombro, em seguida mancando de volta para o quarto onde estavam, jogou-a na cama. Tomou a outra extremidade da corrente e assegurou que estivesse presa em torno do pé da cama. — Sua liberdade irá tão longe quanto permitir essa corrente. Ela gritou, jogando os travesseiros em suas costas enquanto ele mancava saindo do quarto. Alguns momentos depois, voltou e deitou-se na cama. — Se você me incomodar mais uma vez, vou acorrentar você no cavalete para que eu possa descansar o necessário. Arian rolou para longe dele, dando-lhe as costas, e pela primeira vez desde sua captura, lágrimas de frustração brotaram em seus olhos. E pela primeira vez em sua charmosa vida estava insegura sobre como lisonjear o que queria de um homem. Os raios de luz solar passavam através da única janela do quarto. Por um momento Arian não sabia onde estava... só que sol fazia piscar seus olhos e que sua cabeça latejava. Fechou os olhos, se livrando do sol. Sua cabeça estava em cima de algo duro e quente. Sua mão repousava mais embaixo, também em algo duro e quente. Abriu os olhos para outros dois azuis escuros e abriu a boca para gritar. Stefan pressionou seus lábios sobre os dela, sufocando-a. Imediatamente, ela parou sua luta, com medo que seus movimentos aguçassem o seu desejo ainda mais. As mãos dele percorriam seus braços, pressionando-os no colchão macio, seu corpo se movendo sobre o dela enquanto o beijo se aprofundava.
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Abriu mais os lábios para dizer-lhe que a largasse, mas se viu incapaz de falar. Intenso calor varreu-a com tal força que a aterrorizava. Era como se seu corpo tivesse uma mente própria, para tudo o que poderia controlar. Parte dela queria a luxúria das sensações primitivas que ele evocava, mas a outra parte, a parte pragmática, sabia que fazer isso seria a sua ruína. Soltou-se de seus lábios, tentando recuperar o fôlego. — Não! — gritou, mais com medo de si mesma do que dele. — Shhhh, princesa, você não tem nenhum motivo para ter medo de mim, — disse ele contra sua orelha. Mordiscou o local atrás da orelha em seu pescoço, seus olhos rolaram para trás e ela quase se entregou a ele. Seu corpo inteiro tremeu com a sensação. Ela queria ir mais longe, sentir mais, experimentar mais, porque nas profundezas mais obscuras do seu ser, sabia que nunca iria experimentar a paixão ardente com Magnus que sentia nas mãos deste cavaleiro mercenário. Também sabia que se permitisse que o cavaleiro a arrastasse, iria perder mais do que poderia recuperar. Enrijeceu e se afastou dele, com raiva de si mesma, zangada com ele, irritada com os acontecimentos que levaram à sua captura. — Você matou Dag! Você me cortou, me raptou! Você me amarrou com uma rédea e agora me acorrenta a essa cama! Você me seduz a cada turno, e me diz que não tenho nada a temer de você? Ele riu e traçou com o dedo seu lábio inferior. — Você não é a inocente da sedução, minha princesinha. Você é desavergonhada, exibindo seus seios rosados debaixo do meu nariz, me acordando no meio da noite, pressionando seu corpo quente ao meu. Eu sou um homem que acha muito difícil de te ignorar. Não me culpe por querer você ao ponto de tomar uma atitude. — Você mente! Nunca seduziu você! Ele encolheu os ombros. — Acredite no que quiser. — Ele sentou-se e esticou as longas pernas. — O dia está na metade e temos permanecido preguiçosos como rústicos deitados o tempo todo. Nós devemos nos aprontar e deixar este lugar. Ele rolou da cama e se levantou. Ela o viu estremecer quando testou a perna ruim. Caminhou para fora do quarto e Arian se sentou num acesso de raiva. — Desata-me. —ela gritou. Sua resposta foi o baque pesado da porta da frente. Longos momentos passaram e sua raiva cresceu. Precisava usar o penico e se lavar. Precisava fugir! Subiu a perna e examinou a algema, e sua raiva diminuiu um pouco. Não estava fechado! Tudo o que tinha que fazer desenroscar a corrente e assim que o fez, sua perna ficou livre da corrente. Enquanto saia do quarto em direção a grande sala, colidiu com o cavaleiro. Ele carregava um balde de água e um menor vazio. Entregou ambos para ela. — O penico e seu banho, Minha Senhora. Arian arrancou-os dele, estremecendo de dor por causa de sua ferida e atrás de uma porta fechada cuidou de suas necessidades. Depois que lavou o rosto e enxaguou a boca, saiu para cortar um ramo pequeno de uma nova árvore, o desfiou e usou para limpar os dentes. Ela lavou a boca com água novamente e se sentiu um pouco limpa. Observou Stefan verificar as armadilhas que havia colocado ao longo da linha da floresta e chegar sem nada. — Remontei as armadilhas. Enquanto aguardamos a nossa refeição, devo cuidar de Apollo; ele perdeu a ferradura e seu casco é muito frágil. 77
— Não vamos embora hoje? — Decepção a enchia. Qualquer que seja o lugar que a tomasse, seria melhor do que esse casebre. — Vou ver como ele responde ao emplasto e a ferradura nova. — Você pode forjar uma ferradura aqui? — Não, eu tenho um no alforje, pré-moldada. Sua preparação não a surpreendeu. Ela sabia que Stefan era um homem preparado para qualquer coisa. Exceto para aliviar sua fome. — Há frutas e castanhas na cozinha, — ele disse enquanto ela se afastava. Frutas e castanhas não seriam suficientes. Sua barriga roncou e ela decidiu que iria atrás de sua próxima refeição. Mas não podia caçar dentro daquela roupa grande. Vasculhou os baús da sala e achou uma variedade inumerável de roupas. Nada era feito para uma mulher, mas tinha duas túnicas não muito grandes que lhe iriam oferecer mais mobilidade do que a camisa enorme que usava. Havia chauses de lã e vários pares de botas de couro três vezes maiores que seus pés. Encontrou uma túnica muito curta que lhe caia até o meio da coxa, provavelmente de uma criança, imaginou. Rasgou o tecido logo abaixo das fendas do braço para que tivesse mais espaço. Vestindo a roupa e se sentindo um pouco atrevida nele, ficou em dúvida se saia assim ou não, mas decidiu que sua fome era mais importante do que sua modéstia. Sabendo que Stefan estava ocupado no estábulo, pegou seu arco e flecha e partiu para a floresta. Não pediu sua permissão, sabendo que não lhe daria. A floresta era escura e ameaçadora, a terra macia e argilosa sob seus pés descalços. Aves gorjeavam sobre sua cabeça e a luz do sol se infiltrava através do denso bosque. Enquanto mantinha a flecha pronta e abaixada, pensamentos giravam em sua cabeça. Não podia evitar se perguntar se devia fugir agora. Poderia ficar na floresta e seguir a cada dia o sol a oeste, até chegar à fronteira galesa. Olhou para suas roupas escassas. Um lobo uivou ao longe e seus pensamentos foram para o bando de cavaleiros normandos que vagavam pelo campo. Engoliu em seco. Não era tola. Estava mais segura, por hora, com o saxão. Não tinha ido muito a fundo na floresta quando um barulho à frente lhe chamou atenção. O suave grunhido de um porco, seguido por gritos diversos, a alertou. Embora se apresasse até a árvore mais próxima, suas feridas diminuíram seus movimentos. Usando o braço bom, conseguiu subir numa árvore e pousar em cima de um ramo resistente de onde olhava e esperava. Sua paciência valeu a pena, uma porca com uma ninhada de gordos leitões apareceram no caminho em direção a ela enquanto revolviam a terra mole, trazendo a tona raízes e larvas. Cuidadosamente Arian mirou no maior leitão e o esperou chegar mais perto. Soltou a flecha; o forte berro do porco enquanto a flecha o rasgava fez com que os pássaros voassem das árvores. Num ataque furioso, a porca deixou de chafurdar na terra, com suas unhas e presas a mostra. Ela correu em direção a Arian, mas o vento era a favor da garota, carregando seu perfume para longe do bando. A porca cheirou o leitão morto e em seguida guinchou chamando os restantes e correram para dentro da floresta, longe do desconhecido caçador. Para se certificar que não voltariam, Arian esperou antes de pular para o chão. Pegou o leitão pelas pernas traseiras e se apressou em arrastá-lo de volta à choupana. Stefan partia da choupana, seu rosto uma massa retorcida em fúria. Ele estacou quando a viu. — Achou que eu tinha lhe deixado, Meu Senhor? — provocou. 78
Ele permaneceu em silêncio, seu olhar não deixando o dela. Mas ela viu alívio ali. Seu coração bateu violentamente contra o peito. Foi porque sentia algo por ela e temeu que estivesse realmente desaparecida ou porque se preocupou com a moeda que esperava que ela carregasse estivesse fora de seu alcance? Com esforço, ergueu o porco. —Um de nós deve se encarregar do jantar, então eu mesma resolvi fazer isso. Foi só então que o olhar dele deixou seu rosto e viajou pelo seu corpo. Uma brisa suave soprava contra ela, moldando o tecido da túnica em seu corpo. Quando seus olhos se encontraram novamente, ela viu fogo nos dele. Um lento sorriso cruzou os lábios maravilhosos e como acontecia quando ele a olhava daquela forma, seu corpo esquentou. — Não me olhe assim! Não é decente. — Ela gritou, mas não queria dizer isso. A emoção da caçada, a emoção da reação que ele teve se juntaram com sua própria fome, enviando todos seus sentidos para fora. — Você é a mais indecente nesse minúsculo pedaço de tecido. — Ele se aproximou. Queimado suas narinas. — Eu me encontro completamente derrotado por uma mulher que caça vestida como uma deusa. — Ela devolveu seu arco e flecha e se virou para a cozinha. Ele a seguiu e a devassidão que ela sentia aumentou com a presença desse homem. Soltou o porco sobre o balcão de pedra e se voltou para ele para lhe dizer que não precisava de ajuda. Ele estava lá. Largando o arco e flecha, seus olhos presos aos dela, passou os braços em volta de sua cintura, puxando-a com força contra ele. — Arian, — ele respirou, — você me faz esquecer o porquê estou aqui. Não confiando em si mesma, o empurrou, vacilando ante a dor em seu peito. Tinha feito muito movimento e agora a ferida latejava de dor. — Stefan, estou com fome... Ele pegou o queixo dela em sua mão e inclinou sua cabeça para trás para o olhasse. As duras feições de seu rosto mediam a tensão que sentia em seu corpo. Emanava dele como uma fogueira. — Também tenho fome, — ele disse suavemente, então, relutantemente, se afastou dela. — Limpe-o. Vou fazer o fogo e preparar o espeto. Grata por ter alguma coisa que tirasse seus pensamentos de Stefan, Arian começou a limpar o porco. Não deu a mínima para o sangue empapando sua túnica ou para o sangue em suas mãos. Sua fome a levou a se apressar. Iria tomar um banho mais tarde, enquanto ele assava o porco no espeto na grande sala. Triunfante, agarrou-o pelas pernas traseiras e embora sua ferida picasse por causa das tarefas do dia e do peso do porco, correu da cozinha carregando-o para a grande sala. Estava contente em ver o crepitar do fogo e Stefan lubrificando o espeto. — Rápido, coloque-o para assar. Estou faminta. Ele riu, e quando se voltou para ela, seus olhos se arregalaram em horror. — O quê? Seu olhar viajou para seu vestido e os olhos dela se aprofundaram. O sangue do porco tinha a umedecido tão completamente que a curva dos seios e seus mamilos estavam claramente visíveis. — Isso é sangue de porco. Vou lavar isso. — Ela empurrou o animal para ele. — Transpasse-o agora no espeto, antes que eu o devore cru. — Quando ele fez isso, ela acenou com a cabeça e se apressou em sair da sala. O dia tinha sido quente e ensolarado, mas agora que o crepúsculo se estabelecia numa mortalha macia sobre a floresta, o ar arrefeceu. Com a luz que restava, Arian correu para encher vários baldes de água do poço e derramá-los em uma vazia tina na pequena cozinha. 79
Então os encheu várias vezes e os colocou de lado. Acendeu várias velas com uma que já queimava no pequeno balcão. Pegou alguns ramos de ervas aromático em um pote rachado de barro. Sem sabão, ela iria se limpar com essas coisas docemente cheirosas. Arian se voltou para fechar a porta, mas franziu as sobrancelhas quando se lembrou de que a área era aberta. Mordeu o lábio inferior, com medo que Stefan viesse atrás dela. Mas para seu horror, um calor se espalhou por seu peito ao pensar nos olhos quentes do furioso saxão em cima de seu corpo nu. Embora não fosse ingênua, ele a atiçava de um jeito que nunca tinha imaginado que um homem pudesse atiçar uma mulher. Nunca tinha sido tímida em relação ao seu corpo e seus desejos. Era muito consciente da beleza da natureza. Os sons, os cheiros, as texturas e os sabores. E era curiosa. Tinha espiado seu irmão mais de uma vez enquanto seduzia uma empregada nas altas camas de palha dos estábulos do vasto estábulo, seu esquentando enquanto eles se uniam luxuriosamente. Quando Magnus tinha sido tão ousado a ponto de beijá-la no dia seguinte ao que se conheceram, o tinha permitido, querendo experimentar a mesma emoção. Ela tinha ficado desapontada porque seu toque suave não tinha suscitado uma resposta mais apaixonada dela. Sabia pelas histórias que Jane contava que seus pais eram um casal que se desejavam muito, propensos a esgueirarem da sala em todas as horas do dia e da noite para se unirem. Não ficou constrangida quando estava ao lado dos piquetes e assistia aos garanhões de sangue quente montar as éguas. Admirava a forma como as éguas bancavam as recatadas, balançando suas caudas sob o nariz do garanhão, a provocá-lo em um frenesi sexual antes de finalmente permitir que eles a montassem. Sim, era a natureza. Seu corpo era jovem e ansiava por essa união tão natural. Embora não quisesse se apaixonar por seu marido, orou para que, uma vez casada, ele passasse a ser tão sensual como os garanhões de Dinefwr. Ou... sua mente divagou ... tão excitante quanto o vigoroso saxão. Arian tirou a roupa ensanguentada de seu corpo e entrou no barril. Não era grande o suficiente para se sentar, mesmo com os joelhos contra o peito, então, relutante, se levantou. Quando agarrou o balde pesado e tentou levantá-lo sobre a cabeça, gritou. A ferida em seu peito foi comprometida pela elevação do braço. Olhou ao redor em busca de uma tigela para pegar a água e não conseguiu localizar nenhum. Os poucos que tinham, estavam no cavalete. Por um longo momento, Arian não sabia se escolhia sair em disparada para o quarto e pegar uma tigela ou apenas fazer como estava fazendo. Escolheu continuar a fazer desse jeito. E isso significava esvaziar corrimões de água do balde derramando-os sobre sua cabeça, mas levantar o braço ainda aumentava sua dor. aberta.
— Gostaria de assistência, Minha Senhora? — Uma voz profunda perguntou da porta
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NOVE
Arian cruzou os braços sobre o peito, dando uma meia volta ante a chegada de Stefan. — Você é muito atrevido! — Como você. — Ele disse, entrando na pequena área. — Está coberta de sangue como também está ferida. No ritmo que você está tomando banho, vai ver o sol do próximo dia em toda ascensão antes de estar limpa. — Ele pegou um balde cheio e derramou suavemente sobre sua cabeça. Arian engasgou. A água do poço estava fria, mas a fazia se sentir bem quando de encontro a sua pele. Permaneceu rígida, não querendo se entregar ao prazer erótico do homem jogando água pelo corpo dela. Isso não era certo! Mas, sua reputação já não tinha sido destruída? Sim, tinha, e a água deslizando em seu corpo sensível era muito tentadora para dizer não. Além disso, ele havia dado sua promessa de que não a forçaria fazer nada que não quisesse. Baixou a cabeça e permitiu que a água se derramasse sob seu cabelo. Sem sabão na mão, tudo o que podia fazer era lavá-los com as ervas. Pegou um punhado e enrolou-os entre as mãos, em seguida, cavou seus dedos em seus cabelos e levantou os fios grossos para que a água pudesse se infiltrar entre eles. Tentou ignorar o homem atrás dela e jeito com que o triângulo entre suas coxas queimavam com calor, mas era uma batalha perdida antes de começar. Seus mamilos estavam duros e os seios tremiam. Era bom e excitante, e desejava que fosse seu noivo que estivesse tão perto. Então poderia se entregar aos seus desejos carnais. Balde vazio, ela não se atreveu a virar e encará-lo. Quando ele colocou suas mãos sobre seus ombros, tremeu violentamente. — Por favor— ela sussurrou. Ele se moveu para mais perto dela, tão perto que ela pôde sentir o calor do seu corpo. — Parece, princesa, que estamos destinados a nos reunir repetidamente em cada vez que você se banha. Ele esfregou algo duro em seus ombros úmidos. Suas mãos grandes deslizaram facilmente através da sua pele quente. Sabão? Ela se virou e as mãos dele, em movimento, deslizaram para a plenitude de seus seios. Arian engasgou e enrijeceu. Como Stefan. Quando ele não retirou as mãos de seus seios, mas sim os apertou suavemente, Arian sentiu a terra se mover sob seus pés. Ela era uma devassa por permitir que a tocasse assim, mas permaneceu sob seu toque. Seus lábios abaixaram até o ouvido dela e ele suavemente sussurrou: — Eu dei minha palavra que não a violaria, Minha Senhora, mas nunca prometi que não tocaria o resto de você. Arrepios quentes vindos da respiração dele se espalhavam por sua pele, pelo seu corpo, e ainda assim permaneceu parada. Ela olhou para seus escuros olhos azuis. Eles queimavam de calor. Olhou severamente para ele, tentando ler seus pensamentos. E Arian não conseguiu explicar o que ele estava sentindo, pois estava tão confusa quanto ele. Ele se abaixou e levantou sua túnica grosseira sobre os ombros, deixando-a cair no chão. 81
Silenciosamente, ela balançou a cabeça, querendo mais do que tinha direito. Apesar da cicatriz feia que o marcava, seus músculos eram bem definidos, sua barriga lisa, seus quadris estreitos, sua masculinidade, ela engoliu, grande e crescia sob seus calções. Antes que se metesse em profundos problemas, virou, dando-lhe as costas. Stefan esfregou o sabonete entre as mãos. Quando enfiou seus longos dedos profundamente no cabelo dela, Arian suspirou, a sensação era tão divinamente sensual que sentiu como se seu corpo estivesse derretendo. Ele aproximou-se dela de modo que seu peito pressionasse contra seus ombros. A espuma espessa se arrastou pelo pescoço e pelas costas, escorregando em sua pele. Uma respiração quente acariciou seus ombros, seguida por grandes e fortes mãos massageando a espuma aveludada do seu pescoço e ombros em lentos movimentos circulares. Arian descansou a cabeça no ombro direito dele e arqueou as costas querendo que suas mãos deslizassem descendo para seus pesados seios e a tocando ali. As mãos deslizaram para baixo em torno de sua cintura, esfregando a espuma em sua pele febril, ignorando seus seios sensíveis. Mordendo o lábio para não deixar um gemido escapar, Arian engasgou quando as pontas de seus polegares roçaram o topo a borda de seu púbis protegido. A fome pulsava forte de seu útero, irradiando através de seu corpo inteiro. A cada redemoinho das mãos dele, a cada respiração que ele soprava sobre seu pescoço, a cada impulso suave de seus quadris contra as costas dela, sua fome crescia. Seu corpo derretia, e se ele não tivesse deslizado seu braço direito em volta de sua cintura para firmá-la, Arian teria dissolvido no chão. Pressionando sua mão esquerda no lado esquerdo do rosto dela, ele moveu sua cabeça em direção ao ombro dele, expondo a carne macia de seu pescoço. Seus dedos deslizaram firmemente contra sua pele, tirando a espuma do caminho. Lábios quentes pressionaram sua veia vital lá. Um tiro de calor foi ao ápice entre as coxas e sua pele flamejou quente. Arian gemeu e se pendurou pesadamente em seus braços. Com seus olhos semicerrados, deixou-se levar na pura experiência carnal dele a banhando. Ele a ensaboou mais, e dessa vez suas mãos viajaram em movimentos lentos para cima e para baixo, finalmente colocando as mãos em concha sobre seus seios fartos. Ela arqueou em suas palmas, os lábios dele em seu pescoço. Um quente desejo se espalhou da barriga para baixo. Arqueou mais, querendo que o acúmulo dessa pressão diminuísse. Ele esfregou seus mamilos, apertando-a mais forte contra seus quadris. Vorazmente, beijou e mordiscou seu pescoço. Ofegante, ela pressionou a cabeça no ombro dele, os lábios entreabertos, forçando a circulação de ar em seu peito. Ela procurou ao redor e agarrou suas nádegas, cavando os dedos no tecido de seus calções. Stefan gemeu enquanto seu corpo endurecia mais e seus quadris empurravam contra suas costas. Seus corpos se retorciam de tensão por um momento indefinível, sabendo que não havia lugar nenhum para ir, mas ainda sim quererem desesperadamente chegar lá. Ele segurou o oscilar de seus quadris e ela podia senti-lo lutar contra a tensão do próprio corpo. Não se atreveu se mover a não ser que quisesse ser a responsável por fazê-lo quebrar sua promessa. Ele ensaboou suas coxas, suas grandes mãos calejadas se movendo tão cruelmente lentas ao longo de sua pele lisa que ela queria gritar. Com uma mão ele a puxou, deixando-a mais apertada contra seu peito nu e segurando-a assim, ele lentamente derramou água sobre seu corpo, sua mão deslizando sobre a pele ajudando a lavar a espuma. Repetiu várias vezes, e com cada lavagem ela o sentiu crescer e apertar contra suas costas. Arian 82
arqueou para trás, colocando seu braço direito ao redor do pescoço dele, puxando-o mais apertado contra ela. Ele respirou forte. toque.
— Você é uma devassa, princesa Arianrhod. Você poderia tentar os santos com o seu
Ela meio que se virou e olhou para ele, seus seios pressionados contra seu peito nu. A sensação enviava solavancos de quente desejo através dela. Os olhos dele se alargaram e o sentiu crescer rapidamente contra ela. Engolindo em seco, fechou os olhos por um longo momento, recompondo-se. Estava em chamas e travou uma batalha com seu corpo frágil. Finalmente, foi capaz de falar. — Mas você é um demônio. Ele virou-a toda para enfrentá-lo, os seios esfregando sua pele em agonizante querer. Ele enfiou os dedos em seus cabelos, inclinando o rosto até o dele, e, em seguida, baixou os lábios nos dela, e pouco antes de beijá-la disse — Eu sou. O contato foi fogo líquido, seu corpo se esforçando por algo que ela não poderia ter contra ele. Seus lábios, firmes, quentes e exigentes, fazendo seus sentidos cambalearem. Ele era todo varonil, seu cheiro de couro e madeira de sândalo, seus músculos rígidos, sua posse dominante causando destruição com tudo o que a fazia mulher. Suas mãos pressionavam seu peito, maravilhada com o jogo duro dos seus músculos sob a ponta dos dedos. Deslizou as mãos sobre seu peito, em seguida, em torno de seu pescoço, a dor de sua ferida há muito esquecida. O braço dele apertado em volta da cintura, seus longos dedos espalmados logo acima das nádegas dela, a outra mão puxando seus cabelos para que ela pudesse arquear mais duramente contra ele. Ele afastou seus lábios, pressionando sua testa contra a dela, seu hálito quente e duro contra seu rosto. — Ari, — ele respirou, — meu corpo não aguenta mais. Pendurou-se em seus braços, querendo desesperadamente permitir que ele continuasse, mas sabia que não podia. Lentamente, ela balançou a cabeça, e baixou os braços de seu pescoço, mas não os removeu do seu corpo. Não, ela não podia evitar, mas arrastou as palmas das mãos e dedos para baixo dos planos rígidos de seu peito seguindo a linha da espada até seus calções erguidos. Ele segurou as mãos dela. — Não me torture assim. — Ele se aproximou e derramou o último balde de água sobre ela, e enxaguou os últimos vestígios de espuma de seu corpo, então pegou a roupa que ela tinha posto em cima do áspero balcão e envolveu-a em torno dela. Quando ela não saiu da banheira, ele fez uma careta. — Vá se vestir, antes que eu não consiga honrar minha promessa. Ela abriu a boca para protestar, de repente, sentiu-se rejeitada, mas ele colocou dois dedos sobre os lábios dela. — Vá. — Sua voz era tensa e seu rosto sofrido. Ela olhou para seus calções. Ela sabia o que tinha ali por baixo e por mais que seu corpo queimasse pelo seu toque, sabia que se quisesse permanecer casta, não poderia repetir o que tinha acontecido. Arian correu para o quarto e se viu muito furiosa. Não com ele, mas com ela mesma. Entregou-se aos desejos carnais com um homem que sequer conhecia. Um homem que a sequestrou! Por que tinha permitido que ele a tocasse daquele jeito? Era uma princesa e ele se autoproclamava mercenário! Um degrau acima de um comum plebeu. Ela era a noiva de um poderoso Jarl, seus tios foram reis, suas tias rainhas! E tinha permitido que um plebeu a tocasse de um modo que só seu nobre marido deveria tocar. Estava sob algum feitiço? Tinha ouvido falar das mulheres saxãs capturadas que se apaixonavam profundamente pelos Vikings que as sequestravam. Isso era a mesma coisa? 83
Não. Não estava disposta a entregar seu coração para qualquer homem, muito menos para um mercenário. Magnus seria seu marido; disso tinha certeza. Mesmo que ele tivesse dúvidas e pensasse que estivesse impura, iria convencê-lo do contrário. Tinha crescido na nobre casa de Dinefwr, filha do grande Príncipe Hylcon! Não tinha Magnus procurado pelo melhor sangue na Noruega, Inglaterra, Dinamarca, e a escolhido acima de todas as outras? Sim, tinha e fez isso porque encontrou nela algo que não tinha nas outras e ele não seria tolo de deixá-la de lado por causa de rumores. Explicaria para ele que Dag não era quem ele tinha pensado ser e que o Saxão a tinha salvo de uma violação certa. Então iria prová-lo que era uma virgem em frente de toda Noruega se ele insistisse! Arian se encolheu com a ideia de se expor diante de uma platéia, mas conseguia entender muito bem a razão disso. Magnus irá querer uma prova irrefutável frente àqueles que o desafiaram. Então que assim fosse. Arian se vestiu com confiança, com a certeza de que seu noivo não a deixaria de lado. Mas enquanto se vestia a escova que encontrou na gaveta desencadeou úmidas lembranças, seu corpo se encheu de calor. Sentiu sua pele quente, fria, logo quente de novo. Arrepios tremeluziam pelos seus braços e pernas quando pensou no banho e no jeito sensual que Stefan a beijou. O jeito que os dedos dele roçaram suas partes mais sensíveis. Suas costas enrijeceram. Arian pressionou as mãos sobre os seios e ofegou quando seu polegar roçou num mamilo túrgido. Fechou os olhos e pressionou mais firme ali. Aqueceu e a parte entre suas pernas se contraiu. O que tinha de errado com ela? O que ele tinha feito com ela? O mais importante era, como poderia parar aquilo? Stefan assistiu o deslizar dela dentro da sala, um anjo dourado, uma princesa, uma mulher a quem ansiava sobre todas as outras, e uma mulher que estava fora de seu alcance, nunca a possuiria sob seu domínio. Era uma nobre, ele um bastardo. Estava noiva, e ele era um cavalheiro de William. Era uma senhora que em normais circunstâncias não daria a homens como ele um segundo olhar. Na verdade, o olharia por baixo daquele narizinho atrevido e pediria que o enforcassem por desejá-la. Seus olhos se estreitaram enquanto ela se aproximava. A túnica verde que vestia era muito grande e a manga caia por sobre um ombro, expondo sua pele cremosa e suave. Queria pressionar seus lábios ali e sentir o calor dela. O corpo dela era firme e flexível. Seu pênis contraiu em seus calções. Seus seios eram doces e o tesouro entre suas coxas queimava pelo toque de um homem. Ele queria ser esse homem. — Minha fome está voraz, senhor cavalheiro. — Ela disse. O sangue de Stefan acelerou. A dele estava tão voraz quanto à dela. — Não levará muito tempo. Ela assentiu, mas não fez nenhum movimento para se afastar dele. Ele passou por ela e girou o espeto ignorando a essência de sua pele fresca e o jeito que se espalhava no ar, acenando-lhe para se aproximar. Ela o fitou com um silencioso olhar e ele seria capaz de dar o braço direito para saber o que ela estava pensando. — Você me deseja? — perguntou. Stefan se chocou e olhou fortemente para ela. — Que tipo de pergunta é essa? — A que requer uma resposta honesta. Ele assentiu. — Sim, desejo você. — Por quê? Porque estou à mão? 84
Stefan soltou o espeto e esquadrinhou o rosto dela. — Desejaria você sobre quaisquer circunstâncias. — De novo, pergunto por quê? Ele sorriu e tocou seu cabelo. O sangue dele, já quente, borbulhou. A suavidade dos fios de seu cabelo era como se fosse seda afiada na ponta de seus calejados dedos. — Porque você é corajosa, passional e linda. — E se não fosse corajosa e passional? — Desvencilhou o cabelo do seu alcance. — E se meu rosto fosse igual a uma bruxa, mas tivesse esse corpo. Ainda iria me desejar? — Desejaria seu corpo. — Qual é a diferença? Ele sorriu lentamente. — Um homem pode achar alívio entre quaisquer coxas dispostas. — É o mesmo para mulher? — Posso te falar que as putas que pago gritam que sou o único amor delas e sei que mentem. Sei de algumas mulheres que amolecem pelo toque de um único homem e nenhum mais. Ela o espiou duramente e suavemente disse, — Estou confusa. O beijo de Magnus foi caloroso e carinhoso. Não me incomodaram. Mas você? — Ela pousou suas mãos no peito dele e sentiu seu coração bater em resposta. — Você faz alguma outra coisa comigo completamente diferente e não entendo o porquê. Irrita-me que seu toque evoque devassidão de mim quando o do meu noivo não. — Ela mordeu o lábio inferior. — Você acha que é porque ele sente só uma cordial amizade por mim? — Talvez. Não sei. Ela se moveu para perto dele, a essência floral dela se tornando letal. Stefan ficou duro como aço. Queria tocá-la mais do que tudo. — Você acha senhor, que no tempo certo eu consigo fazê-lo me querer do jeito que quero você? Não muito chocado com a pergunta da princesa, mas sim com sua inocente declaração. — Eu... eu não sei. — Pode ser ensinado? O sangue dele pegou fogo. — O que exatamente você está me perguntando? — Quero saber se é possível ensinar a esta coisa que acontece entre nós. Os grandes olhos prateados dela, quase pretos na baixa luz, o miravam inocentemente. Stefan lutou arduamente para abster-se da forte vontade de agarrá-la e mostrar-lhe sem demora o quanto um homem pode desejar uma mulher. Ao invés disso, riu, dissipando a tensão do corpo dele. — Ninguém pode ensinar o que a Mãe Natureza pode dar. 85
Sua arqueada sobrancelha franziu. — Você fala em enigmas. O que a divindade pode dar que ninguém pode aprender? Incapaz de resistir, Stefan passou o dedo ao longo da cheia flor de seu lábio inferior. — Atração natural. — Atração natural? Isso é o que existe entre nós? Ele assentiu, querendo mostrar quão naturalmente atraente ela era para ele. — Sim. E não pode ser negada. O franzir de sua sobrancelha aumentou. — Mas mesmo assim, é possível ficar atraído por outro alguém e conter essa atração. Se um deles for aplicado e disposto, há chance de o casal aprender a ser atraente para o outro. Tenho visto surgir amor em vários casamentos arranjados. Isso aconteceu com minha mãe e meu pai. Eles se conheceram no dia do casamento e vinte anos depois da morte dela meu pai ainda chorava por ela, como se a tivesse perdido ontem. — Por que você leva isso em consideração? — Stefan perguntou suavemente. Arian sentou no banco e soltou um longo suspiro. Olhou para ele e disse: — Se eu vou ser honesta com você, gostaria de pedir sua honestidade também. Por que estou prestes a discutir algo que me causa embaraço. — Vou ser o mais honesto possível. — Primeiro preciso saber, quando meu pai lhe der o que você pedir pela minha liberdade, você vai me liberar? — Prometo a você. Vou libertá-la. — E você tinha dado sua promessa de que qualquer coisa que aconteça entre nós ficará apenas entre nós. Stefan assentiu. Ela soltou outro longo suspiro, e por um longo tempo permaneceu olhando para as chamas. Somente o crepitar do porco assado interrompia seu silêncio pensativo. Sem olhar para ele, ela disse lentamente, — Eu me encontro num grande dilema, e não sei como sair dele sem perder algo precioso. — O que você tem a perder? Ela olhou para ele. — Já perdi minha reputação. Estou a perder o meu orgulho, mas pior, meu noivo. Quero me casar com ele. Não quero voltar para Dinefwr sob quaisquer circunstâncias, e se Magnus me rejeitar pela morte de Dag e pelo o que ele pensar que aconteceu enquanto fui sua cativa, não vou ter nenhum recurso, a não ser voltar para Dinefwr. — Continue. — Então, eu precisaria de uma maneira infalível para fazer com que Magnus não mude de ideia. — Você disse que a prova de sua virgindade seria requerida. Ele vai aceitar isso. 86
— Talvez. Mas se os homens de Dag chegarem até ele antes do casamento e disserem o que viram na lagoa? Eu, nua nos braços de um homem seminu que matou o sobrinho do meu marido, e que me sequestrou e exigiu resgate. Magnus é um Jarl poderoso e cheio de orgulho. Eu não poderia suportar se ele me colocar de lado. ― Ele escolheu você acima de todas as outras. Por que agora você pensaria diferente? — Não penso, mas... — Ela se afastou de um giro e bateu o punho na palma da mão, então virou de volta para enfrentá-lo. Os planos suaves de seu rosto ficaram tensos de ansiedade. — Ele não se livrará de mim como uma roupa suja! Sou filha de Hylcon e vou virgem até ele! Isso é o suficiente! — Seu pedigree é impressionante, minha senhora. Seu rosto se amenizou e se jogou sobre o banco. — Mas temo que o orgulho dele seja mais. — Virou para olhar para ele, e ele viu puro desespero em seus olhos. — O que —, ela sussurrou, — uma mulher deve fazer para que um homem esqueça tudo, menos ela? — Ela ergueu o queixo e prendeu seu olhar no dele. Em uma voz mais forte, perguntou, — O que uma mulher deve fazer para que o homem deixe seu orgulho de lado e não se importe com o vicioso redemoinho de rumores sobre o cortejo, e veja só ela? Stefan lentamente engoliu. Seus olhos varreram os dela. Orgulho era uma coisa frágil. Muitos homens eram governados por ele. Tinha visto nobres casas desmoronar por causa disso. Mas havia alguns homens que moveriam montanhas para possuir uma mulher específica. Isso era uma obsessão que os deixavam loucos. Tinha visto isso recentemente com seu irmão Wulfson, e antes dele, Rohan. E mesmo Rhys, numa certa medida. Era um lugar que ele tinha jurado, após o sofrimento com Lady Lisette, que nunca iria. — Ele deve ser consumido por ela, — ele disse lentamente. — Como? inteiro.
— Ela se torna uma e a única coisa que ele deve ter, porque se não a tiver, não seria — Como, Stefan? Como faço Magnus ver só a mim? —Não sei como recriar a Mãe Natureza.
tentar?
Ela se levantou e segurou as mãos dele. Ele se encolheu com o calor delas. — Quer — Tentar o quê? Suas bochechas avermelharam. — Diga-me o que um homem deseja de uma mulher!
Ele mal respirava. A raiva brilhou nos olhos dela, deixou cair às mãos e girou para longe, mas parou e virou-se para enfrentá-lo novamente. Manteve-se orgulhosa, altiva, com o queixo levantado, os ombros para trás. Vestida com a túnica de um homem que tinha mais furos de traça do que podia contar. Era a coisa mais linda que ele já tinha visto. O calor espetou sua virilha como a súbita visão dela nua e disposta por baixo dele que surgiu em sua mente.
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— Você vai me obrigar a dizer?—, Ela exigiu. — Você vai me forçar a engolir meu orgulho? — O que você quer de mim, Arian? — Perguntou ele com voz rouca. — Eu quero, eu quero que você me mostre às maneiras de manter o meu marido na cama para que ele se esqueça de tudo, menos de mim! — Não vou tocar em você do jeito que pede e não ter você. — Não, você não vai me tocar! Você vai me dizer — ela terminou sem convicção. O calor queimava em seu rosto. —Não vou tocar em você, porque você teria vergonha de suas atitudes ou vergonha do seu tutor? — Quando ela olhou para longe, deu a resposta para ele. E aquele demônio negro enrolado dentro dele elevou sua feia cabeça. Ele endureceu seu queixo e voltou para o porco assado. — Stefan, não posso mudar o sangue que corre em minhas veias é mais do que você pode. — Sim, sangue real em oposição ao meu sangue comum. — Ele rosnou por cima do ombro. — Por favor, não deixe isso ficar entre nós. Ele girou e a encarou. — Você colocou isso diretamente entre nós. Ele a agarrou, puxando-a para ele e rosnou. — A princesa nobre não tem outra escolha, a não ser a de permitir que um bastardo humilde a ensine os caminhos do amor para que ela possa viver feliz para sempre com seu Jarl real. — Empurrou-a pra fora de seu caminho. — O que eu recebo? Ela olhou para ele, aturdida. — Você, você terá o meu favor. Ele jogou a cabeça para trás e riu. —Terei seu favor? Você vai me dar um pedaço de terra, uma porca e um javali também? E depois vou ser eternamente grato a grande e bela princesa Arianrhod de Dinefwr? — Não! Não é assim. — É exatamente assim. Bateu a mão em seu rosto e se encolheu quando tocou sua bochecha. Foi marcado, era um bastardo, nem sequer tinha o seu próprio cavalo ou própria espada para chamar de seu! Agora sabia como as prostitutas a quem jogava uma moeda de prata se sentiam o quanto representavam para ele. Saiu como uma tempestade da grande sala, a visão dela o deixando doente.
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DEZ
Arian sentou-se ainda por um longo tempo no banco, olhando para o fogo. Raiva, desânimo, frustração, e um desejo que não poderia citar... tudo isso causando estragos em seu coração, e não sabia o que fazer. Mas, sabia que queria se casar com Magnus, e quando percebeu que ele poderia muito provavelmente se recusar, xingou por não ter escolhido se casar com ele por procuração. Ele tinha sido inflexível, teria que vir até ele como uma virgem. Olhando para o passado o que tinha acontecido? Poderia? Soltou um longo suspiro e ficou grata pelo fato de ele ser um saxão e não um normando, que a mantinha cativa. Embora os normandos lançassem um olhar cobiçoso na ilha, eles não entraram em guerra com os Ingleses. E, embora as raízes nórdicas estivessem enterradas profundamente no sangue normando, eles não eram aliados. Yorkshire fervilhava com vikings rebeldes, Magnus, meio saxão por causa de sua mãe, era um defensor ferrenho de permanecer mais independente, das regras dos normandos. O chiar da carne queimando agredia o olfato de Arian, trazendo-a de suas reflexões. Deu um salto, agarrou a manivela do espeto, e gritou de dor. Estava quente! Pegou um pano que estava por perto e agarrou-o, em seguida, virou o porco mais um pouco. Estava pronto, e embora a barriga fizesse barulhos de que não tinha fome, ela sabia que o saxão sentia. Para um homem tão grande quanto ele, devia estar com fome. Ela cortou fora um quarto traseiro do porco, colocou-o em uma tigela, e caminhou para fora até o estábulo, onde o encontrou removendo o emplastro do casco do cavalo. Ele a ignorou, então ela colocou a tigela em cima de um monte de palha e voltou para a choupana, onde se forçou a comer. Depois de terminar os restos de carne e colocá-lo em um pote de barro, o colocou em um canto fresco. Arian deixou um candeeiro aceso na grande sala, em seguida, fez seu caminho para o quarto. Colocou a vela em cima da mesa ao lado da cama, deitou-se completamente vestida, perguntando o que tinha irritado o homem no estábulo que a intrigava tanto. Seus últimos pensamentos antes de dormir não foram para o homem honrado com o qual iria se casar, e sim para um homem mais desonroso que estava no estábulo. Um pequeno ruído da cama a assustou fazendo Arian acordar. Seus olhos se arregalaram quando uma sombra do saxão se materializou diante dela. Como os olhos fixos na luz suave da vela, ela prendeu a respiração. Como um martelo sobre uma bigorna, seu coração bateu furiosamente contra o peito. Ele estava completamente vestido ao lado dela, seu olhar quente e penetrante no baixo brilho da luz de velas. — Você quer saber o que é querer tanto algo que você é capaz de fazer qualquer coisa para tê-lo? — Ele perguntou e sua voz era tão baixa e rouca que ela mal tinha entendido sua pergunta. Um tiro duro de medo esfaqueou a barriga dela. Sua boca estava seca de repente. E uma excitação selvagem rasgou todos os centímetros do seu corpo. — Sim. 89
— Então hoje você vai aprender a primeira lição. — Moveu-se por cima dela, forçandoa ir de encontro aos travesseiros para não tocá-lo. — Como eu sou proibido de tocar em você, princesa, assim também você está proibida de me tocar. — Ele sussurrou contra sua garganta, apenas a caricia quente de sua respiração tocava sua pele. A túnica tinha caído de seu ombro, expondo o monte alto de seu seio direito. Seus mamilos enrugaram sob o tecido fino, estavam ansiosos por atenção. Ele estendeu a mão como se estivesse indo tocá-la, mas não o fez. — Esta antecipação de contato, as sutilezas de uma carícia, um olhar ardente, Arian, que faz uma pessoa querer mais. — No brilho suave da vela, sua pele brilhava quente. Ele baixou a cabeça para os lábios como se fosse beijá-la. Fechou os olhos, antecipando o seu beijo. Seus lábios se separaram, os seios tremiam. Mas tudo o que ele fez foi acariciá-la com sua respiração. — Há ligações entre um homem e uma mulher, Arian, que não podem ser explicadas. — Ele mergulhou seu nariz em seu pescoço e suavemente inalou. O cheiro dela inflamado o seu sangue, e como o aço fundido, queimou-o. — Muito natural, como a essência de mel e rosa. — Ele mudou-se para os seios, onde podia ver um mamilo rosa que aparecia de um ponto gasto no tecido. Stefan enfiou os dedos no lençol, não confiava em si mesmo, em seguida, soprou sobre ele e viu como tremia debaixo de seus olhos. Ela gemia baixinho, mexendo os quadris em uma ondulação suave. Ainda descendo, ele se mudou para a barriga, em seguida, para o lugar entre as coxas. Ele fechou os olhos e inalou a essência feminina. Seu sangue corria quente em seu corpo, e ele sentiu o deslizamento de controle. Com a voz embargada, disse: — Aqui, aqui que está a verdadeira essência de uma mulher. — O corpo de Arian tremeu debaixo do dele e Stefan ainda não tinha colocado o dedo em cima dela. Baixando a cabeça, abriu a boca como se fosse prová-la, mas soprou apenas o hálito quente contra seu suave monte. Ela gritou de surpresa. Suas mãos apertavam os lençóis, seu controle lhe fugia cada vez mais. Nunca quis tocar tanto uma mulher como queria tocar a mulher que estava tão perto dele agora. Seu perfume fresco e limpo brincou com seus sentidos e sabia que se ele pressionasse seus lábios entre suas coxas, ela teria um sabor mais doce do que o céu. Stefan baixou os lábios para apenas pairar sobre seu corpo sensual, podia sentir seu calor, sentir o cheiro dela, seu desejo e seu controle diminuiu mais. Ele soprou sobre o monte novamente. Seus quadris arqueavam contra ele, escovando seus lábios. Ela sussurrou de desejo, seu corpo enrijecido com pedra. Naquele tenso momento, Stefan não podia ver, não conseguia respirar, não podia se mover. Naquele tenso momento, sabia o que significava ser tão consumido com o desejo que iria oferecer sua alma ao diabo para saciar-lo. Lentamente, todos os músculos do seu corpo se enfureceram com o desejo, Stefan se afastou dela e foi para o outro lado da cama, e a olhou fixamente. Ela virou-se para enfrentálo, e na luz de velas, ele podia ver uma névoa de umidade pairando em suas bochechas e a respiração superficial e a queda de seu peito. Se ela olhasse mais para baixo, iria ver que ele também estava sendo afetado pela transpiração. Na verdade, ainda havia uma batalha sendo travada dentro dele, era tudo o que podia fazer para evitar puxá-la para seus braços e agarrála. — Seu corpo está quente, Arian? — ele sussurrou. — Será que ele dói? — Sim — ela respirava. Aproximou-se dele, seus olhos escuros e prateados em chamas. — Como eu faço para fazer isso ir embora? 90
— Eu teria que tocar em você para que você saiba. Ela suspirou e fechou os olhos, lambendo os lábios carnudos. A visão erótica quase o mandou ainda mais para a margem do descontrole. — Eu daria qualquer coisa para você me tocar, Stefan. — Ela abriu os olhos e olhou para ele. — Mas eu não posso. — Esta é uma lâmina de dois gumes, Arian — ele falou mordaz. Ele rolou da cama e saiu do quarto, fechando profundamente a porta atrás de si, antes que quebrasse seu juramento. Durante a maior parte da noite, Arian virava na cama, seu corpo em chamas, sua mente cheia de pensamentos de desejo e confusão. Cada vez que se virava, e o ar agitava, ficava consciente do lugar frio ao seu lado na grande cama. Como facilmente perdeu sua presença. Como ele tinha conseguido facilmente entrar em seus pensamentos, mas em seus sonhos também. Não conseguia explicar o que tinha acontecido ou o por quê. Nem sequer queria tentar. Mesmo que entendesse, não importava. Não importava. Virou-se e olhou para a marca no colchão que seu corpo grande havia deixado. Soltando um longo suspiro, aceitou o que tinha acontecido: duas pessoas em uma circunstância terrível e qualquer que seja a razão pela qual Deus escolheu, os colocou juntos para algum conforto de pequeno porte. E isso nunca iria acontecer novamente. Não podia. Exausta, pegou no sono em algum lugar entre o mais escuro da noite e as horas cinzentas da madrugada. Acordou com um sobressalto, os dedos pálidos do novo dia escovavam em seu rosto através da alta janela. Sem olhar, sabia que Stefan não tinha retornado. A sala estava fria, como se a vida tivesse sido sugada. Rapidamente cuidou de suas necessidades e se vestiu, à espera de encontrar Stefan na grande sala, mas também estava vazia. O barulho de um estímulo e a cadência contínua de cascos de um cavalo de batalha atraiu sua atenção para o lado de fora, para ver Stefan levando o cavalo negro em sua direção. — Seu cavalo, é incomum que ele seja todo preto — ela observou, já que ele parou diante dela. Suas sobrancelhas escuras se apertaram. — Um presente de meu rei. — Isto é uma honra, ele deve ter muito valor para você. — A mandíbula de Stefan se cerrou. — Temos de ir — Stefan disse, olhando firme para ela. Exasperação e reticência vibraram nela. Ele era um homem complexo! Apesar de seu mau humor e tudo o que tinha acontecido desde que ela colocou os olhos sobre ele, Arian não podia impedir, mas se perguntou se as coisas não seriam diferentes se ele não fosse quem era e ela não fosse uma princesa. E pensou que isso só deveria tê-la feito perceber que estava pisando em terreno perigoso. Ele era seu inimigo, não seu amante. Estava louca por esquecer isso?
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Sim, era uma menina tola com noções tolas! Ele a entregaria por algum resgate e, em seguida, iria alegremente para longe, contando as suas moedas, enquanto ela tentava juntar de volta os pedaços de sua vida devastada. Enrijeceu, com raiva de si mesma e se sentindo tola. — Um momento então, preciso recolher os meus escassos pertences. Não havia muito para recolher: alguns trapos emprestados que empacotou junto com a escova, antes que corresse de volta para ele. Sem dizer uma palavra Stefan a içou para a sela, em seguida, pulou atrás dela. Ele agarrou as rédeas, e estavam no caminho. Quando já tinham passado várias léguas, sem palavras, a tensão foi demais para suportar. Esquecendo sua raiva por um momento, o seu orgulho lutava com uma pergunta que deveria saber a resposta. — Você acha menos de mim pelo meu comportamento irresponsável? — Ela deixou escapar. — Não. Soltou um longo suspiro, percebendo que sua opinião importava para ela. Ora, não sabia disso. — Também não penso mal de você pelo seu. Sentiu o estrondo no peito de tanto rir. — Princesa, você é uma mulher incomum. Temo que seu marido vá ter de passar um tempo terrível mantendo-a sob controle. À menção de Magnus, ela enrijeceu. Não queria falar dele. — Onde estamos indo? — Draceadon, no sudoeste de Mércia. — O que tem lá? — Um lugar seguro. Gostaria de estar em um lugar seguro. E sabia que, sem se sentir um pouco ingênua, que Stefan velaria por sua segurança até que se reencontrasse com seu pai. Por ventura, foi isso que a fez baixar a guarda, esquecendo-se de que era seu inimigo, porque, apesar de tudo ele não iria machucá-la. De repente, fatigada, Arian bocejou e recostou-se contra o peito de Stefan. Imediatamente ele se enrijeceu. Ela meio que se virou e olhou para ele, apertando os olhos contra o sol. — Por que você enrijeceu? Você me acha indesejável agora? Ele não olhou, mas manteve os olhos no caminho à frente. — Não, isso nunca vai mudar, mas certamente, não haverá mais aulas.
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Em seu coração, ela sabia que não haveria mais, mas fez a pergunta de qualquer forma. — Por não? — Porque nós estamos entrando em uma complicação, e é uma complicação que eu não posso permitir. — Mas tem mais, não é? Ele balançou a cabeça. — Não. Pegue o que você aprendeu ontem e a use com seu marido, e ele será um homem muito feliz. Ela virou-se num acesso de raiva. — Eu não entendo a sua relutância súbita. Mas, compreendeu perfeitamente. — Você vai, mais tarde, espere e veja.
ONZE
Stefan empurrou o cavalo. Ao meio-dia desmontou e o puxou, aliviando um pouco o peso, esperando que o tecido inchado em seu casco aguentasse até chegarem a Draceadon. Mas, com o ritmo lento duvidava que chegassem à estrada principal para Dunloc ao cair da noite. Temia passar outra noite sozinho deitado ao lado Arian. Agarrou as rédeas com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Travou o queixo e ignorou a dor que causou em sua bochecha. A urgência empurrou-o a andar mais rápido, apesar do peso de sua carga. O destino de seus irmãos, combinado com a sua frustração sexual, fragilizava seus nervos. Tinha quase quebrado seu juramento com ela e consigo mesmo, não uma, mas duas vezes. E quanto a sua honra no referente as mulheres, ele era conhecido por muitos quando questionado, não muito 93
melhor do que um patife, que colocava seu interesse acima do de uma senhora, apenas por um prazer momentâneo. Ela serviria o propósito de libertar seus irmãos, e o que ela fizesse depois seria de sua escolha, não queria destruir a chance dela de ser feliz, por mais egoísta que fosse. E sabia que, na noite passada, chegou muito próximo do seu limite. Apesar do ritmo lento, e o tempo bom, não estavam perto o suficiente para arriscarem fazer uma corrida na escuridão e se encontrarem com renegados ou patrulheiros normandos. Se estivesse sozinho, teria atravessado a noite, permitindo Apollo encontrar o seu caminho de volta ao longo do caminho, mas não podia perder Arian. Ela era o ponto chave do seu plano. Então, relutantemente, Stefan tomou a decisão de parar para passar a noite. No meio da manhã do dia seguinte, chegaria a Draceadon. Lançou um olhar cansado para o céu escuro. O céu tinha estado escuro e turbulento durante todo o dia, orou para que as chuvas não caíssem, pelo menos, até amanhã. Encontrou um local adequado, não muito longe do caminho. Ajudou Arian a desmontar, a observou com o rosto fechado e humor sombrio. Eles não tinham trocado nenhuma palavra durante o dia inteiro. Motivo pelo que estava muito agradecido. Já tinha começado a tirá-la de seus pensamentos, não querendo se debruçar sobre ela. Silenciosamente ela o ajudou descarregar o cavalo. Quando ele se virou para escovar o corcel, ela saiu correndo para a floresta. Ele soltou um longo suspiro. Precisavam comer. Construiu uma pequena fogueira para aquecer os restos do porco. — Vai ter que bastar. Depois de algum tempo olhou para a floresta escura, sua preocupação crescendo quando a princesa não retornou. Por ventura, ela precisava de algum tempo para si mesma. Só Deus sabia que ele precisava. Era um homem solitário, mesmo com seus irmãos, não se dava bem em forçadas situações sociais. Não sabia dizer palavras de amor e humor, assim como Warner e os outros. Era quieto e sério, sempre observando os acontecimentos ao seu redor ao invés de participar deles. Assim que decidiu procurá-la, ela saiu, segurando a barra da sua túnica contra a barriga, e, ao fazê-lo, expondo suas longas pernas bem torneadas. Calor queimou em sua virilha. — Frutas — , ela anunciou, espalhando com graça uma folha grande e flexível diante dele. — Muitas e muitas frutas! Stefan balançou a cabeça e deu as costas a ela. Tirou o cinto que prendia a cota e a espada, mas manteve o seu cinto que prendia suas chauses. Principalmente para manter o metal, tanto quanto possível entre o seu pau e a raposa sentada sobre uma rocha antes do incêndio. Enfiou a perna de porco em um espeto e colocou sobre o escasso fogo. Arian caminhou até o riacho e lavou as mãos, em seguida, perambulou de volta e ficou olhando para ele. Ele devolveu seu olhar, mas não falou. Ela ergueu o queixo e deu um olhar que ele estava começando a conhecer: significava problemas. — Quando chegarmos a este lugar seguro que você falou, eu exijo que envie imediatamente uma mensagem para meu pai e Moorwood, dizendo que estou viva. 94
Ele falou com cuidado. — Uma mensagem será enviada para aqueles que precisam saber que você está viva e sobre a minha proteção. O rosto dela ficou sem cor. — Você tem de dizer que eu sou sua refém? Suposições serão feitas! Draceadon tem uma senhora? Diga a ela quem me mantém. Minha reputação estará arruinada. Cadoc e Ivar vão mostrar suas garras, na verdade, meu pai provavelmente já está ciente da minha vergonha. Seus músculos tencionaram. Para ocupá-los, ele voltou a cuspir sobre o fogo baixo. — Você me insulta com suas palavras, princesa. Ela se ajoelhou ao lado dele. — Minhas desculpas, mas é a verdade. Ele fez uma careta. — Será que a sua reputação poderia estar menos arruinada se você tivesse sido encontrada nua nos braços de um homem de posses? Sua cabeça foi para trás e seus olhos se estreitaram. — Você está entendendo errado, senhor. Minha vergonha é a mesma independente do homem. Sua explicação deu algumas picadas no seu orgulho. Ele balançou a cabeça. — Isso é mais infeliz para uma mulher. Um homem na cama com um bando de beldades é aplaudido por suas proezas. Mas se uma mulher, mais especialmente uma da realeza como a senhorita, encontra-se em uma posição comprometedora com alguém que não é de sua própria criação, ela é desprezada. — Não, não é justo. E só por isso, devo chegar a Magnus antes de Ivar e seu comissário Sir Sar, cheguem primeiro. Eu não posso voltar para Dinefwr! Seu tom inflexível o levou a pensar em voz alta. — O que aconteceu lá?— Seu rosto corou e ela desviou o olhar. O desejo de alcançá-la e confortá-la eram fortes, mas resistiu. — Quem te machucou? Sem olhá-lo, ela disse: — Ninguém. — Ela se virou e o desespero fugiu de seus olhos. — Não é como você pensa. É apenas melhor para todos em minha família que eu não resida mais entre eles. — Conte-me sobre sua família.
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A pergunta o surpreendeu. Desde que assumiu a espada, nunca teve interessou o suficiente para perguntar a uma mulher sobre a sua vida. Ela cutucou as brasas com uma vara e encheu o recinto do com faíscas de fogo. — Minha mãe morreu no parto. Todos os anos no aniversário de sua morte, meu pai anda nas terras do castelo, chamando por ela. Estes últimos anos, suas crises de tristeza demoram mais tempo para ir embora. Muitas vezes, ele me chamou pensando que eu era ela. Esses ataques deixam a minha madrasta Morwena em acessos de loucura, e meu irmão Rhodri com acessos de raiva. — Eu conheci o seu pai. Ele me pareceu um homem morto que ainda anda. Sua cabeça se volta surpresa. — Quando você o conheceu? — Meu Lorde me enviou para lá há vários anos para reproduzir suas éguas com um diabo de um garanhão de castanho. Ele quase as matou! Arian jogou a cabeça para trás e riu. — Esse é Bell Mawr. Ele corresponde com a sua reputação. Ele é o maior garanhão de Dinefwr, e companheiro constante de meu pai. Seu filho Belenus, e da minha égua Fahadda, irá revelar-se ainda mais potente. Este era o meu presente para o meu marido — disse ela suavemente. — Onde estão os cavalos? — Vou pegá-los com Cadoc. Minha criada Jane, que é tão velha quanto estes carvalhos, foi junto ao comboio. Temo por sua saúde. — Levantando a vara, ela cutucou as brasas novamente. — Eu não suportaria perdê-la, ela é a minha única ligação com a minha mãe. Ela me trouxe a este mundo. Ninguém me entende como ela. — Ela esmagou uma brasa errante sob a vara. — Perdi muito nesta viagem. — Mas você ganhou algumas coisas, não é? — Ele riu quando suas bochechas ficaram rosadas. — Ontem à noite foi um erro. Ele balançou a cabeça, não querendo que ela pensasse desse jeito, mas não resistiu e foi até ela. Ele levantou o queixo com os dedos para que ela pudesse ver o que suas palavras queriam dizer. — Para mim não há arrependimentos. Seus olhos procuraram o seu rosto, para quê, ele não tinha certeza. — Você já amou uma mulher? Sua mão caiu. Ele riu asperamente. — Eu não entendo o significado da palavra.
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— Você alguma vez quis uma mulher de tal maneira que nada mais importava? A quis tanto a ponto de dar sua vida por ela? Enquanto ela fazia as perguntas, o seu coração de repente não se sentiu tão fechado, porque percebeu que, tanto quanto achava que tinha amado Lisette, ele nunca amara o suficiente para desistir de tudo por ela, pelo menos, de toda a sua vida. Havia sido o seu orgulho que sofreu o golpe de sua rejeição, não o seu coração. E, esta realização, deixou marcas. — Houve uma criada uma vez. Eu pensei que eu a amava. — O que aconteceu? Seu rosto se fechou. — Ela tinha uma oferta melhor. — Stefan, eu sinto muito. — Não sinta. Era o que tinha que ser, e eu estou feliz com minha vida. — Ele pegou um punhado de frutas, e colocou na boca, e cuidadosamente mastigou. — Você já amou um homem? — Não. Também não quero. Vejo o sofrimento que o meu pai vive a cada dia, e a miséria de Morwena sabendo que seu coração nunca a pertencerá. — Você não ama o Conde então? Ela deu de ombros e pegou algumas frutas. — Não, mas ele me agrada. Ele é um homem bom e estamos aptos para ser um do outro. — Não espera por amor? Vigorosamente, ela balançou a cabeça. — Não! Eu não quero o sofrimento da perda eventual, ou pior, rejeição. Eu vou ser uma esposa obediente, criando meus filhos e cuidando da propriedade de meu marido. E vou reproduzir meus cavalos. Stefan sorriu e pegou mais frutas. Eram doces e suculentas na boca. — Sim, um dia eu vou ter alguns cavalos e algumas terras para fazer o mesmo. Mas eu também vou treiná-los para a batalha. — Pelo menos temos isso em comum. Ele sorriu para ela. — Também há outra coisa que temos em comum. As bochechas dela coraram. 97
— Não me lembre disso, Stefan. Seu coração bateu com força contra o peito. Sim, a coisa entre eles estava sempre presente, como a tempestade no céu. Um dia em breve, se não tivessem cuidado, iria estourar e cair sobre eles, e não haveria nada que a Deusa pudesse fazer para deter. Stefan balançou a cabeça, e virou-se para a carne. — Está pronta. Deu-lhe a maior parte da carne e ele próprio bebeu a maior parte do odre. Sentou-se com as costas contra uma grande rocha, a perna ferida em linha reta, com a perna boa flexionada e o cotovelo apoiado no joelho, para vê-la abaixando as pálpebras. Observava o modo como seus quadris balançavam e a maneira como seus seios empurravam o tecido fino de seu vestido. Observava o modo como seus lábios, brilhantes, franziam enquanto alimentava o fogo, e a forma como os dedos delgados afastavam seu cabelo grosso, glorioso. Sim, observava tudo sobre ela, e seu pênis crescia. Quando ela retornou do riacho, onde foi lavar as mãos, parou quando percebeu seu olhar pensativo sobre ela. Ele assistiu a centelha da chama do desejo profundo em seus olhos prateados. Suas bochechas ficaram rosadas e ela desviou o olhar, e apressou-se para longe dele e pegando a pele de lobo de Rhys. Virou-se, ficando de costas para ele. Viu-a se contrair e voltar a se mexer, sem encontrar posição confortável. Ele a viu rolar, de frente para ele, fingindo dormir. Na pouca luz que cintilava das chamas, viu seu rosto ruborizar no fogo baixo. E o subir e descer lento de seus seios. Seus mamilos frisados sob o tecido e sabia que ela pensava nele. Recusou-se a ir deitar ao dela sobre a pele. Recusou-se a ir ao limite novamente. Recusou-se a quebrar seu juramento para com ela, e para si mesmo. Mas, mais do que isso, ele se recusou a destruir sua vida. Porque, se a violasse, tudo estaria perdido para ela, e ele iria ser o único responsável. Quando ela se moveu novamente, desta vez para permanecer deitada de costas, ele a chamou em sua mente, e observou hipnotizado como ela se virou para seu lado e o encarou, os olhos escuros e cheios de puro desejo. — Você entende agora por que não podemos continuar? — Ele suavemente constatou. Lentamente, ela balançou a cabeça. — Nós podemos controlar esse desejo que está entre nós agora. Mas, se continuarmos, o desejo irá nos controlar. Ao amanhecer, o céu estava escuro e ameaçador, enchendo o ar com umidade. Era um mau presságio. Ele prendeu Apollo, vestiu sua cota de metal e o cinto da espada, então despertou Arian. — Venha, o céu está pesado. Se nos apressarmos, podemos chegar a Draceadon antes que desabe. Rapidamente ela correu para a floresta. E voltou tão rápido quanto pode, e assim que a colocou sobre a sela as primeiras gotas de chuva caíram sobre eles. Ele saltou atrás dela, agarrou as rédeas, e incitou Apollo a ir para casa. 98
Segurou-a firmemente contra ele, com a chuva encharcando o couro tornando-o traiçoeiro. Era uma tortura segurá-la tão perto, mas não queria que ela caísse. A chuva misturada com o cheiro natural dela criava uma porção hipnótica. A cada passo mais perto da antiga fortaleza romana de Wulfson e que por um tempo tinha sido sua, Stefan sentiu sua montaria se excitar. Ao final do dia os seus mensageiros estariam na estrada entregando suas exigências, e logo ele se reuniria com seus irmãos. Arian estremeceu em seus braços, lembrando-o que não havia perdido a sua atenção, que não havia realmente perdido a concentração exclusivamente sobre ela. Com cada ganho, houve uma perda, e podia admitir para si mesmo que sentiria falta dela. A maioria das mulheres o temia. Não entendiam o que o motivava, e ele não se importava o suficiente para esclarecê-las. Mas com Arian foi diferente. Tinha falado mais nos seus últimos dias do que falou com seus irmãos em um ano! Não questionou o porquê, não era do tipo filosófico. Ele era mais básico. Se gostasse de um determinado vinho ou de um cavalo ou de uma espada, simplesmente aceitava, não aprofundava nas razões. Era assim com Arian. — Estamos quase lá, Arian, — disse suavemente contra sua orelha. Quando as palavras saíram de sua boca, fizeram uma curva acentuada na estrada. O coração de Stefan parou. Arian ofegou e ele sentiu seu peito subir, em seguida, descer, quando um grito saiu de sua boca. Era Ralph, seu primo nobre, e o chorão tolo Philip d'Argent. Eles estavam tão surpresos em vê-lo, e, instintivamente, Stefan sabia que deveria abordá-los ou perderia a princesa. Girando o cavalo para longe dos normandos, Stefan estimulou o cavalo, e orou para que o casco aguentasse até Draceadon, que já estava à vista. Agarrando Arian firmemente perto do peito, estouram no meio da floresta densa. Gritos e cascos trovejantes os seguiam de perto. Sangue de Cristo! Fugiu de seus conterrâneos! Mas, não teria mesmo a menor chance e correr o risco de perder a chave para a libertação dos seus irmãos. Arian abaixou a cabeça em seus braços, ramos e espinhos rasgavam seus braços e seu rosto. Puxou-a para mais perto, inclinando-se sobre ela para protegê-la. Stefan sabia que se eles mantivessem o ritmo e a direção em que estavam, iriam sair na estrada principal para Dunloc, se pudessem ir tão longe. Em seguida, Draceadon, mais duas léguas para o sul. Olhou por acaso sobre o ombro e fez uma careta para a chuva que se engrossava. Apenas alguns homens de Ralph os perseguiam. Isso significava que os outros tinham ido à frente. Na estrada, eles poderiam sair antes deles. Stefan pediu para o cavalo ir mais rápido, determinado a chegar à estrada na frente deles e ir até a colina íngreme para Draceadon em segurança. Arian rezava por sua vida, enquanto o medo corria a uma velocidade alucinante tanto quanto o poderoso corcel de batalha. Fervorosamente orou para que os normandos não os pegassem. Não só eles eram seus inimigos, mas inimigos de todos de Gales. Tinha ouvido os contos terríveis como estupravam e saqueavam o que encontrassem pelo caminho. Eles eram ferozes, arrogantes e não confiáveis.
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Imagens chocantes brilhavam nos olhos de sua mente, aterrorizando-a. Segurando as alças para não escorregar quando o cavalo adentrou através da folhagem densa. Manteve a cabeça baixa e tentou ficar o mais quieta quanto podia. Um movimento errado poderia tanto derrubá-los ao chão, acabando com a perseguição, e talvez com suas vidas. Invadiram uma pequena clareira, com um rio que fluía rápido. A chuva fria se fez mais difícil, encharcando sua túnica, furando seu rosto. Continuamente empurrava seu cabelo molhado do rosto. Arian olhou por acaso sobre o ombro e quase morreu no local. Através da chuva, ela viu, pelo menos, um dos cavaleiros enviados ardentemente a persegui-los. Stefan pediu ao cavalo que fosse mais rápido. Mergulharam na água fria. Com fortes passos, o cavalo negro chegou à margem oposta. À medida que deslizava até a margem lamacenta, Arian deu outra olhada para trás e agradeceu a Deusa e a Deus pelo adiamento de pequeno porte. — Os cavalos normandos se recusam a atravessar —gritou para Stefan. Não precisava, mas pediu ao cavalo que fosse novamente para a floresta, com o seu ritmo imprudente. A corrida continuou, e com cada torção e estalo de madeira, ela agarrou as alças ainda mais apertadas e orando para que fosse apenas mais uma etapa contra os normandos terríveis. Romperam a margem da floresta para uma estrada enlameada. Stefan freou o cavalo e o virou para o sul e o ritmo louco continuou. — Estamos quase lá, Ari, espere, — Stefan sussurrou em seu ouvido. Apertou-se contra ele. Respingos pequenos de sangue escorriam pelo seu rosto, olhou para cima e viu que a parte inferior de sua ferida estava rasgada. Mordendo o lábio, ficou em silêncio, sabendo que falar iria apenas distraí-lo. Ocorreu-lhe então naquele exato segundo, apesar de seu vôo arriscado, esse homem, esse saxão mercenário, a salvou de um desastre não uma, mas duas vezes, e aconteça o que acontecer lhe devia mais que a sua vida. Também sabia que esta coisa entre eles, o que quer que fosse, os obrigava sem se importar com o curso que suas vidas tomasse, nunca poderia ser mudada. Deu-lhe um grande conforto de saber que este homem seria, por razões desconhecidas a ambos, fixo em sua vida. A revelação a surpreendeu, mas também lhe deu muita confiança. Ele iria mantê-la segura dos normandos e ela iria ficar em segurança quando voltasse para seu pai ou Magnus. — Jesus! — Stefan disse baixinho, e incitou o cavalo a ir mais rápido. À frente, cavaleiro indo diretamente ao encontro deles em um ritmo furioso, mais de dois pelo menos, voando com um padrão que ela não reconheceu. Arian preparou-se para a colisão, enquanto observava um dos cavaleiros romperem com o grupo e galopar em direção a eles. Stefan a agarrou firme contra o peito, se isso fosse possível, e quando se aproximaram Arian viu a safira e ouro e o padrão de um dragão na ponta de lança do cavaleiro. Ela fez uma careta. Era um cavaleiro pequeno, mas andava com a fúria de um possesso. — Stefan!
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Um grito de mulher rasgou através do ar úmido. Arian enrijeceu. Tal como o nome chegou a eles, a guarnição de cavaleiros atrás do pequeno líder seguia em frente. Stefan não retardou o negro alazão, mas manteve um ritmo furioso. — Tarian! Normandos trás! Para Draceadon! — Vamos segurá-los! O cavaleiro virou. Um cavaleiro mulher? Muda, Arian assistiu o enorme cavalo cinza que a senhora cavaleiro montava com o traseiro para cima, com o mar de cavaleiros cavalgaram e se separaram para que eles passem. Ela olhou por cima do ombro, completamente perplexa com esta súbita mudança de eventos, e viu os cavaleiros da dama se reagruparem e pressionar os normandos. Confusa, mas ciente de que o perigo imediato de ser capturado pelos normandos tinha diminuído, Arian manteve silêncio enquanto eles continuaram no louco galope. A paisagem desfocada atrás deles antes que invadissem um largo campo. Espalhou-se como um oceano verde brilhante antes que mergulhassem, e no seu auge, as altas muralhas escuras de uma fortaleza se levantavam na colina como um dragão de outrora, asas levantadas, pronta para atacar seu inimigo. Arian engasgou. — É como as asas de um dragão! — Draceadon — Stefan sussurrou acima dos cascos trovejantes. Quando eles se aproximaram das portas amplas, Stefan gritou: — É Stefan, permita-me a entrada! Lentamente, os pesados portões balançavam para trás. Um pensamento súbito se abateu sobre Arian no meio de toda a confusão: Era a senhora cavaleiro o amor de Stefan? Era óbvio pela troca rápida de palavras, ela se ocupou dos inimigos para o seu querido. E o vigia? Stefan era conhecido por ele, se não fosse ele os portões seriam mantidos firmemente fechados. Um espinho, de alguma emoção que não tinha nenhuma experiência, espetou sua barriga. Ao passarem pela abertura estreita, Arian ousou dar outra olhada sobre o ombro, e viu que toda a guarnição saxã estava na parte inferior do morro íngreme, de frente para os normandos. Não ousou dar um suspiro de alívio. Embora sentisse que Stefan iria protegê-la, agora estavam à mercê do senhor do castelo. Será que ele iria ajudar? Ou será que ele também iria usá-la para pedir um resgate? Passaram através das portas de entrada da ameaçadora fortaleza proibida, adiante havia um pátio. Stefan a tirou da sela e entregou-a para uma menina de cabelos dourados que estava de olhos arregalados, fora da chuva, apenas no interior das portas largas que levavam ao hall. — Lady Brighid, cuidará de você até que eu volte com lady Tarian. — Ele freou o cavalo e para espanto de Arian, ele foi ao encontro dos normandos. Stefan desceu a colina para o impasse, empurrando o corcel de batalha até ao limite. Quando freou seu cavalo ao lado do cavalo cinza de Lady Tarian, ele acenou para ela, então o robusto capitão, Gareth, o recebeu com um sorriso sob o seu comando. Lentamente, ele 101
voltou para o seu primo, que, apesar da cara rasgada e ensanguentada de Stefan, imediatamente o reconheceu. Ele observou os olhos de Ralph, iguais aos seus. Sentindo-se em casa com Tarian e Gareth e seus homens leais às costas, Stefan sorriu. — Lady Tarian de Dunloc, meu primo Sir Ralph du Forney. — Tarian acenou com a cabeça, mas Ralph não devolver o respeito. Stefan sorriu ainda mais. — Noiva de Lorde Wulfson de Trevelyn. Os olhos de Ralph se estreitaram, e desta vez ele inclinou a partir da cintura. — Minha senhora — disse ele, sua voz quase civil. Não houve amor perdido entre qualquer um das Espadas de Sangue e aqueles que se ajudassem e o seu sangue nobre acima deles. Stefan manteve seu olhar focado em seu primo. — O que lhe traz tanto para o sul, Ralph? — Nós patrulhamos as terras por saxões armados. — zombou Ralph, então perguntou: — Por que você correu como um covarde de nós? Stefan estendeu a mão e acariciou o pescoço liso de Apolo, em seguida, olhou para o céu. — Você não tem acesso aos meus motivos, querido primo. Agora voltem para que eu possa ter uma palavra em particular com Lady Tarian. — Você ousa falar com tais ares!— Philip zombou, movendo seu cavalo para perto de Stefan. Vinte e tantas espadas por trás Stefan foram desembainhadas em uníssono, a senhora abaixou a lança curta, raspou a armadura do nobre. Ela espetou-lhe com força. — Um aviso, senhores — disse Tarian levemente. — Meu marido é Conde destas terras, e assim como eu sei que vocês sabem, conselheiro de William. Avancem contra Stefan e vocês irão ofender ao rei! — Você é tão covarde que colocar uma mulher para falar por você, Stefan?— Ralph zombou. A raiva de Stefan fervilhava, mas não permitiria que seu primo o usasse como isca. — Rosne como o jumento que você é, Ralph. Eu tenho notícias mais urgentes para William e para a minha senhora. Nenhuma das quais você deva se preocupar. Ralph curvou-se em sua sela. — Minha senhora, como meu primo bastardo lhe disse, eu sou Ralph du Forney, herdeiro da grande casa de Lyon. Meu tio, o grande Conde d'Everaux, também é um dos conselheiros de William, posso lhe garantir. — Ele sorriu como uma cobra antes de engolir a sua presa. — Meus homens e eu somos guerreiros, e necessitamos urgentemente de alimentos e descanso. 102
Stefan endureceu ainda mais em sua sela. Seu olhar estreito varreu os homens que se sentaram em silêncio atrás de seu líder. De alguns se lembrava de sua juventude e cresceram à sombra de um homem que se recusou a reconhecer o óbvio. Seu olhar brevemente sobre Filipe, que o encarava com aberta hostilidade. No entanto, apesar do desprezo que sentia por seu primo, muitos deles pareciam esgotados como Stefan se sentia. Seria de grosseria máxima para a dona do castelo não estender a hospitalidade do Draceadon para eles. — Temos locais de descanso em grande quantidade no estábulo, a sala é mais espaçosa, e as nossas dispensas estão cheias. Você e seus homens são bem-vindos para compartilhar a hospitalidade de Draceadon por uma noite. — Lady Tarian convidou-os. Ela olhou para Stefan. — Senhor cavaleiro, você me acompanha até a sala? — Seria uma honra — ele respondeu suavemente. Eles deram a volta em seus cavalos, e como eles se separaram do grupo, Apollo parou coxo. Stefan amaldiçoado, e imediatamente desmontou para inspecionar o casco. Uma pedra afiada tinha se incorporado entre a ferradura e o ponto nevrálgico, mancava. Ele puxou a adaga de seu cinto e desalojou da pedra. Um dos homens de Tarian desmontou e entregou a Stefan as rédeas de seu próprio cavalo. — O levarei ao estábulo. Stefan balançou a cabeça e montou, mas disse: — Seja gentil com ele, foi montado arduamente. Escove-o e não o alimente ou de água a ele até depois do almoço. — Montado no cavalo mais uma vez, quando Stefan e Tarian fizeram o seu caminho até a colina íngreme, Stefan disse suavemente, — Pise com cuidado, Minha Senhora. Ralph é tão esperto e tão silencioso como uma raposa, e o bobo Philip muda de aliança duas vezes por dia, caso se revele um benefício para ele. Ela balançou a cabeça e olhou para frente, seus olhos focados na grande fortaleza. — Eu rezo para que você tenha uma mensagem de meu marido — ela disse suavemente. Um nó súbito na garganta o impediu de responder, então concordou. Ela lançou-lhe um olhar grave, e ele podia ver o reluzir das lágrimas nos olhos. Ela sentou como uma espada em riste em sua sela e seu coração foi com ela. Ela engoliu em seco, e apenas pouco mais que um sussurro, ela perguntou, — Será que ele ainda vive? Mais uma vez por não confiar em sua voz, Stefan assentiu. Lady Tarian fez um soluço metade do ruído e meia risada, mas quando ele olhou-a, ela tinha se sentado regiamente sobre o cavalo cinza.
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DOZE
A partir do momento que se recusou a sair do salão com lady Brighid, que a olhou com aberta curiosidade, Arian assistiu o regresso de Stefan. Arian sabia que parecia terrível, em pé e descalça, a túnica enorme estava encharcada e colada ao corpo, o cabelo colado ao seu rosto manchado de sujeira e braços também estavam sujos. Mas, não se importava. Queria saber se Stefan saiu ileso, e só então sua ansiedade iria diminuir. Um tremor duro de medo correu por seus membros, enquanto observava Stefan passar pelo portão ao lado da senhora cavaleiro. Ela apertou os olhos. Ele estava montando um cavalo diferente. Seus olhos se arregalaram quando normandos misturados com os cavaleiros saxões apareceram por trás dele. O que foi isso? Stefan não se importar que eles estivessem atrás dele? Mas, parecia estar completamente consumido na conversa com o cavaleiro que montava o cavalo grande cinza ao lado dele. — Por que permitiram que os normandos atravessassem as paredes do castelo? — Arian, perguntou em galês, à jovem ao lado dela. — Eu não entendo sua língua, minha senhora — disse Brighid em Inglês, saindo apesar da garoa para ficar ao lado dela. Arian não conseguiu repetir as palavras, tão fascinada que estava com a visão que se desenrolava diante de si. Os normandos voltaram o pátio, seguidos pelos homens da senhora, só ela e Stefan viraram a direção de seus cavalos para Arian. Um escudeiro correu para ambos os cavalos e tomou as rédeas. Stefan desmontou e ela o viu ficar ao lado da senhora. — Prezado Senhor, o que aconteceu com ele?— Brighid suspirou ao lado Arian. Lançou a menina uma carranca, então voltou sua atenção para os cavaleiros. A mandíbula de Arian caiu quando a senhora cavaleiro puxou sua cabeça para frente. Longos cabelos grossos e pretos caíram sobre seus ombros. Ela jogou a rédea ao seu escudeiro e desmontou o cavalo alto, com a assistência cuidadosa de Stefan. Para espanto de Arian, a mulher de cabelos escuros se jogou nos braços de Stefan. Apesar de seu estado ferido, ele puxou-a em seus braços e abraçou apertado, sussurrando palavras doces em seu ouvido. Quando eles se separaram, Stefan ofereceu seu braço, e desta forma eles vieram em sua direção. Arian sentiu de repente que ia desmaiar. Ciúme a espetou como unhas afiadas em sua barriga. Balançou a cabeça por causa dessa emoção absurda. Stefan não era nada, apenas um cavaleiro humilde, um cavaleiro sem terra, sem título, um cavaleiro com apenas um cavalo e sua maldita espada. No entanto, a depreciação em sua mente não anulava os sentimentos feridos. Frustrada e se sentindo fora do lugar, Arian assistiu enquanto ele guiava à senhora a um passo largo para vários passos do seu. Quando ela olhou o seu rosto, Arian segurou um 104
pequeno suspiro. Sua expressão era de espanto, porque não acreditava que o homem fosse capaz de um olhar alegre, mas lá estava. Enquanto a fadiga marcava seu rosto, e de ter o rosto rasgado e ensangüentado havia uma calma sobre ele que transcendeu a sua dor. — Sir Stefan!— Lady Brighid suspirou. — O que aconteceu com seu rosto? Ele sorriu para a moça e puxou uma trança. — Isso não é nada. Ela riu nervosamente, em seguida, perguntou: — Sir Rhys? Será que ele veio com você? Instantaneamente Arian assistiu um flash de fúria na face de Stefan. — Não, ele não veio, mas tenho a certeza de que está vivo e virá a você, logo que for capaz. A menina agarrou as mãos. — Ele está ferido? Você o viu? Ele perguntou sobre mim? Delicadamente, ele se soltou dela. — Na verdade eu não sei o seu paradeiro, mas em meu intestino, eu sei que ele vive. Brighid se separou, e em uma torrente de lágrimas correu para o corredor. Arian soltou uma respiração curta que estava segurando. Ela observou a troca, breve íntima entre Stefan e da dama e sua raiva aumentou. — Eu sou Arianrhod, filha do príncipe Hylcon de Dinefwr e Branwen, Senhora de Powys, — ela disse para a senhora. — E este homem me retém contra a minha vontade. Eu exijo ser libertada de uma vez por todas! A senhora sorriu, e quando o fez foi como se a lua levantasse. Arian poderia muito bem entender coração ferido de qualquer homem. Era incrivelmente real. Para alguém tão pequena, ela caminhou como se fosse a própria rainha do reino. Quando se aproximou de Arian, olhando para a descabelada aparência com cautela, disse, em uma voz de comando. — A princesa? Sério? Arian assentiu, com seu queixo elevado, sua coluna reta, ignorando aqueles que permaneceram no pátio tentando escutar uma palavra. Podia parecer uma criança abandonada, mas sabia pelo tom da senhora e a aprovação em seus os olhos que estava consciente, ela falou a verdade. Lady Tarian assentiu. — Eu sou a filha de Sweyn Godwinson e de Edith a Abadessa. Arian pegou um fôlego. — Uma abadessa? Lady Tarian balançou a cabeça, seus olhos escuros brilhando.
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— Sim, uma abadessa. — Ela caminhou e passou por Arian e disse sobre seu ombro — Suas comitivas estiveram aqui há dois dias, vieram em sua busca. Devo enviar um soldado atrás deles? A notícia surpreendeu e lhe deu esperança. — Eu exijo que você me permita ir até eles de uma vez! — Arian ordenou. — Tudo em seu tempo, princesa— disse Stefan, tomando o braço de Arian e escoltando-a até a grande sala. — Tudo em seu tempo. Ela hesitou, puxando o braço de seu alcance, travando o passo. — Não! Agora! Passei estes últimos dias acorrentada a uma cama, presa a você seminua, meu corpo machucado e cheio de cicatrizes, e quase passei fome, e você vem me contar que tudo a seu tempo? Não. Meu tempo é agora! Lady Tarian se voltou da porta, varrendo o olhar pela pessoa descabelada, que era Arian, com um olhar indiferente. — Suas roupas são adequadas para um passeio no campo, mais impróprias para uma princesa. — Na verdade, Lady Tarian, seu homem não permitiu que eu me vestisse! A senhora olhou para Stefan, com os olhos brilhando em algum segredo escondido. — Gracioso Cavaleiro, você não esqueceu as suas maneiras um pouco cedo? Stefan sorriu e curvou-se. — Foi as circunstâncias atenuantes, minha senhora. A senhora olhou para Arian, e disse: — Eu não posso esperar para ouvir. Mas primeiro suas feridas devem ser cuidadas e a senhorita banhada e vestida. Quando entraram na grande sala, Arian engasgou de surpresa. Comparado com a aparência externa, era lindo. Grandes e complexos de ferro forjado forrando ambos os lados da longa parede de pedra, e entre eles grandes tapeçarias coloridas adornavam as paredes. Suspenso de grossas vigas de carvalho do teto ao meio do salão, um enorme candelabro de ferro em forma de círculo preto com arabescos intrincados pendurado, adornado com dezenas de velas em chamas. Lá também havia uma grande lareira incorporada na extremidade dianteira da sala, estava fria e na extremidade mais distante outra lareira, facilmente o dobro do tamanho, uma de frente a outra. Acima dela estava pendurado um ornamentado, um dragão de ouro em um campo de safiras, e ao lado pendia outro padrão, um crânio branco horrível com uma espada mergulhada nele, em um campo preto, gotas vermelhas de sangue, mas entre ambos era o padrão de dois leões de ouro em um campo escarlate. Arian endureceu e parou. Ela olhou para Lady Tarian e Stefan. 106
— Este é o leão da Normandia. Por que está aqui? — Meu marido, Sir Wulfson, é o vassalo de confiança de William. Por que não estaria? A mandíbula de Arian caiu. Então, não era mulher de Stefan? Então seus olhos se estreitaram com a surpreendente revelação. Olhou firme para Stefan, que estava alto e muito arrogante ante ela. Por que não percebeu isso? Todos normandos eram assassinos com mais arrogância do que qualquer outro homem na terra! — Você não é saxão — ela acusou. — Eu nunca disse que era. — Mas você, você me levou a acreditar que era assim! Ele balançou a cabeça. — Era nisso que você queria acreditar, por isso permiti-lhe. Ela olhou para a senhora. — Como você pôde se casar com um normando? Lady Tarian sorriu tolerante. — Minha mãe é galesa e meu pai saxão. Eu casei com o meu marido Normando porque eu não poderia sobreviver mais um dia sem ele. — Por que você foge de cavaleiros normandos?— Arian perguntou a Stefan. Ele se encostou contra a lareira. Linhas profundas de dor agravaram seu rosto. — Ralph du Forney teria arrebatado você para seu próprio prazer, e você, querida princesa, não valeria o alto resgate que eu exijo, se você não fosse mais virgem. Arian caminhou até onde ele estava e golpeou-o com a palma da mão aberta, em cima de sua face boa. Lady Tarian engasgou como fizeram os servos que se movimentavam por perto. Stefan agarrou-a pelos pulsos e a puxou com força contra o peito. — Será que a verdade te incomoda?— Ele perguntou. — Você é cruel, Sir Stefan, e eu não esperaria nada menos de um normando. — Cuspiu no chão. — Se eu fosse insensível, você teria sido estuprada nas mãos de sua guarda. Não fale como se isso não fosse capaz de ter acontecido. E você não está em posição de pedir nada. Arian tirou as mãos de seu alcance. — Não toque em mim novamente. Seus olhos tinham escurecido para a cor de um céu sem lua. Suas narinas se alargaram e ela podia ver os músculos de sua mandíbula enrijecendo. 107
— Então, como normando eu estou completamente abaixo de você? — Como um bastardo você está abaixo de mim. Como normando você não está apto a respirar o mesmo ar que eu respiro! — Arian girou e encarou a dona da mansão. — O que ele é de seu marido? Será que ele joga os mesmos jogos desprezíveis como seus irmãos? Lady Tarian sorriu tolerante. — Não faça perguntas que não lhe dizem respeito, princesa — Stefan respondeu. Ele se virou para Lady Tarian e disse: — Minha Senhora, depois de já ter tomado banho e Edith ter visto a minha face, nós falaremos mais tarde. — Eu nunca deveria ter permitido que Wulfson se fosse, deveria ter insistido para que ficasse aqui para defender Draceadon! Eu deveria estar ao seu lado! — Lady Tarian explodiu. Seus dedos tocaram o punho do facão que pendia de seu cinto de couro. Stefan colocou a mão sobre seu ombro. — Foi um massacre Tarian, você seria dizimada. Foi a escolha certa a fazer. Aqueles galeses covardes e aquele enlouquecido do Edric teriam açoitado todos de Herefordshire. Você está mais segura aqui, e isso é o que Wulf gostaria acima de tudo. Lady Tarian sufocou um soluço, e voltou-se para o que parecia ser cadeira do senhor no grande salão, deixando Stefan e Arian sozinhos. Ele lançou um olhar para ela e fez uma careta. Arian fez uma careta de volta. dizer?
— Eu não gosto de ser enganada, Sir Stefan. Existe alguma coisa que você queira me
— Não — ele disse, e caminhou em direção a Tarian, onde compartilharam algumas palavras antes que ele passasse por ela e atravessasse o arco, e depois desapareceu. Lady Tarian ergueu-se lentamente da cadeira, com os olhos enevoados e distantes. Arian sabia o que era aquele olhar; tinha visto uma centena de vezes no rosto de seu pai. Era o olhar assombrado de quem tinha perdido seu amado. Em transe ela se virou para Arian, e gentilmente disse: — Perdoe-me as minhas maneiras. Eu me preocupo com meu marido e seus irmãos. — Ela apontou para a larga escada de pedra. — Venha, deixe-me mostrar-lhe o solar das senhoras, onde você pode tomar banho e descansar. Eu enviarei roupas frescas e uma bandeja de comida para você. Teimosamente, Arian hesitou não querendo aceitar a hospitalidade desta mulher. Era uma refém. Esperava que fosse atrás dela como um cordeiro amarrado? Feliz por um pouco de atenção? Arian lançou um olhar furtivo sobre o ombro para a porta distante do corredor. Ela se abriu e normandos e cavaleiros saxões encheram o grande salão como gafanhotos sobre os campos de trigo. Arian girou. Um banho quente, comida fresca e roupas limpas não pareciam uma coisa tão má depois de tudo. O quarto estava aberta e arejado, e a cama era grande.
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— Está é Annis, ela atenderá você até a sua própria empregada chegar — disse Lady Tarian apontando para uma menina de não mais de 14 anos que entrava na quarto. Quando a senhora se virou para sair, Arian gritou para ela: — Uma palavra, por favor. — Lentamente, ela virou-se. — Gostaria de saber o verdadeiro caráter de Sir Stefan. Belas sobrancelhas escuras se arquearam em confusão. — Ele é irrepreensível. — Eu não saberia por suas ações. — Nem você já lutou ao lado dele. Ele viu horrores que nunca poderíamos imaginar. — Ele é um mentiroso e um velhaco! Lady Tarian balançou a cabeça. — Você vai entender Stefan no momento em que ele permitir que você o faça. Há poucos homens como ele. Você teve sorte por ele estar por perto. Arian concordou, e por um momento, seus medos foram dissipados. Seria cautelosa diante desta linda senhora, meio-galesa casada com um vicioso senhor Normando, e a todos a quem ela chamasse de amigo. — Será que Cadoc disse em que direção eles viajaram?— Arian perguntou, aproximando-se da senhora. — Eu lhe imploro, mande que ele avise em meu nome. Vou recompensá-lo com ouro! Meu pai e meu noivo também vão recompensá-lo. Lady Tarian balançou a cabeça e andou até a porta. — Seu destino não está em minhas mãos. E profundamente fechou a porta atrás dela.
Treze
— Stefan, o que você fez? ― Exigiu Tarian, levando-o para dentro do pequeno quarto, embaixo do seu próprio salão. Ele estremeceu, quando Edith suturou o último ponto. Não sabia que bálsamos ela tinha inventado, mas a sua face esquerda estava completamente adormecida antes de começar o seu curativo. Uma pausa muito bem-vinda, depois da última semana de dor. Ele olhou cansado, para Lady Wulfson. — O que eu fiz? 109
—Sim, o que você realmente fez? Ela é uma princesa, pelo amor de Deus! Da realeza Dinefwr! Ele fez uma careta. —Ah! Não olhe para mim assim, eu não quis dizer que ela não o merece, mas está noiva! Stefan riu e arrastou seus dedos pelo cabelo. —Eu pergunto a Wulfson a mesma coisa sobre você. Sua expressão se desfez face ao nome dele. Agarrou nas mãos dele e sentou-se no pequeno banco ao seu lado. —Conte-me sobre o meu marido. Conte-me tudo. Edith saiu dando-lhes privacidade. Stefan inspirou profundamente e depois expeliu o ar. —Nós estávamos em menor numero. A batalha estava perdida antes de começar. —Por que então você se envolveu? A cabeça de Stefan recuou e olhou diretamente para ela. —Normandos não fogem! —Sim, Deus proíba seu orgulho, deveria sofrer! —Também não é assim, Tarian. Nós tínhamos a cavalaria, tínhamos o castelo, tínhamos os arqueiros. Uma vez envolvidos, nós tivemos que enviar mais homens para o campo, ou teria sido um massacre total. —Onde estão os Espadas de Sangue? — Todos, exceto eu e Rhys, que ainda não o encontrei, residem nas masmorras do seu querido ex-tio Rhiwallon. —Ele matará Wulfson! —Ele pode desejar, mas ele tem planos mais importantes. —Conta-me! —Eu escutei um galês falar da alegria do seu tio pela captura de seis homens da Espadas de Sangue. Quer insultar William com as suas vidas. —Ele só vai trazer a ira da Normandia sobre sua cabeça! —Sim, mas ele não parece se importar. Parece-me que ele os usará como forma de nos afastar das suas fronteiras e, suspeito, fazer um acordo em nome de Edric. —Pelo que? —Herefordshire. —William não desistirá dela! Stefan sorriu devagar. —Rhiwallon é manhoso, com certeza, mas eu tenho uma armadilha de ouro. 110
Tarian permaneceu sentada e muda durante um longo momento, enquanto as palavras faziam sentido em sua mente. —Como você trouxe a princesa? Stefan sorriu e contou-lhe a historia, omitindo os detalhes mais íntimos de seu encontro. Tarian sorriu conscientemente. Ela conhecia-o muito bem. —O que você planeja fazer com ela, Stefan? Ele sorriu ainda mais. —O destino a entregou nos meus braços. Nós devemos usá-la sabiamente. —Eu entendo sua fascinação pela senhorita, mas a minha preocupação é como recuperar meu marido e teus irmãos. —A resposta reside no fundo do corredor. A princesa pelos Espadas de Sangue. Tarian ofegou. — Genial!— Mas rapidamente as suas sobrancelhas se uniram pensativamente. —Como você sabe que eles negociarão pela princesa? —Ela está para se encontrar e se casar com Magnus, um grande Jarl, primo do norueguês Olaf de Yorkshire. Olaf, Minha Senhora, é meio-irmão do Thorin. Os nórdicos desejam aliados para oeste. Colocar William no meio. Olaf dará a Magnus, sua noiva e a William os Espadas de Sangue. —E quanto aos meus tios amorosos? Stefan riu baixo. — Um resgate de rei, uma graciosa aliança com os nórdicos que tão desesperadamente desejam e a gratidão de William. —E você pensa que a princesa é a resposta? Ele acenou a cabeça. —Estou certo disso. Como você ouviu, ela é a filha de Príncipe Hylcon de Carmarthenshire, e sua mãe Branwen é tia de sangue de Rhiwallon. Arian é sua prima. Pelo seu sangue, ele fará o trato, porque se não, não encontrará inimigo só em Hylcon e em Magnus, mas nós dois sabemos o quão William pode ser vingativo. É uma luta conjunta que Rhiwallon não quer, e uma que ele não pode ganhar. — Como é que vai organizar isso? — Envie agora o seu mensageiro o mais rápido. Instrua-o para que ele encontre o capitão Cadoc e lhe dê a noticia que sua senhora esta aqui, mais nenhuma outra informação. Ele virá correndo. Quando eles chegarem, oferecerei a hospitalidade de Draceadon. Uma vez dentro dos portões vão ser desarmados, e terão guardas para vigiá-los para que não criem problemas. Nós permitiremos que a princesa veja seu homem, mas não para falar em particular. Quando ele estiver convencido de que ela está segura e não está ferida, ele junto com Gareth irão para Rhiwallon e oferecerão as nossas condições. —E você vai desistir dela? A cabeça do Stefan recuou de volta e estreitou seus olhos. —Claro. Por que não iria?
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Tarian sorriu um sorriso conhecedor. Ele agitou a cabeça. —Não, não é isso. Além disso, ainda que eu desejasse a donzela, você viu sua antipatia para com a minha terra. Gostaria de vê-la ir embora e casada com seu viking, logo que possível. —Existe mais, Stefan, — ela disse quietamente. —Nunca poderia ser mais nada, não com vidas dos meus irmãos em jogo! Tarian incitou. —Você a veria com seu noivo? O coração de Stefan bateu contra o peito. —Não. —Uma escolta normanda não seria uma coisa ruim. —Não, quando o acordo for feito eu voltarei para a Normandia. Stefan levantou-se e passou por traz de Tarian. Um tumulto girava em sua barriga. O pensamento de nunca mais ver a princesa remoeu com as suas emoções. Ele não gostava da sensação. — Devemos enviar imediatamente a noticia a Hylcon. — Ele disse, mudando o tema da princesa. —Ele trará um exército aqui! —Não, ele enviará a noticia ao primo da sua esposa morta, que detém a chave da segurança de sua filha. Ela agarrou suas mãos. — Pense no que eu acabei de propor, Stefan. Prometa ao galês uma guarnição normanda completa, leve Ralph e seus homens com você, bem como os Espadas de Sangue, para levar a princesa com segurança ao seu noivo. Permita que os homens dela e os de meu tio o acompanhem. Você acha que por um momento eles vão tentar outra passagem nesta terra devastada pela guerra? Com tal demonstração de poder, a promessa de sua segurança faz parte do acordo. —Você pensa que os galeses são tolos para pensar que ela estará segura nas mãos dos normandos? O que os preveniria de pensar que nós exigiríamos outro resgate? — Uma garantia. Um refém. Uma pessoa da Espada de Sangue tem muito valor e por causa disso a troca é feita. Stefan fez uma careta. —Quem? —Eu iria como refém para Rhiwallon. —Não!Isso é muito arriscado. Ele manteria você! Wulfson nunca permitiria isso! — Tem lógica. Feche o acordo, e quando os Espadas de Sangue atravessarem a fronteira para a Inglaterra eu passarei direto para o País de Gales. Meu tio não vai me prejudicar, isso eu tenho certeza. Se os homens são capazes de ir com você até Yorkshire, que assim seja. Após seu regresso e o capitão da senhora, traga o selo Magnus para que seja entregue sua noiva e se casar, eu vou ser libertada. —Eu não gosto disso.
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—Nem eu, mas não existe nenhum outro modo. — Ela virou-se para olhar nele. — Stefan, e se eles agirem como se estivessem de acordo, mas escolherem nos atacar aqui e resgatar a senhora á força? O rosto de Stefan se contraiu, as memórias do campo de batalha sangrento emergiram na sua mente. — Muitos galeses e saxões foram perdidos em Hereford, minha senhora: o resto do norte está flagelado. Com os homens de Ralph e sua guarnição, tivemos um exército suficiente para repeli-los. Vou enviar a William uma mensagem imediatamente e se a maré estiver ao nosso favor ele saberá em breve. Ele enviará mais homens para fortalecer Herefordshire. E se formos atacados? Com as fortificações que você e Wulf fizeram, e com os armazéns cheios, seremos capazes de esperar que eles fujam. Tarian acenou, o acordo estava fechado.
Arian acordou com um sobressalto, sentada no quarto escuro. Onde estava? Imediatamente a realidade bateu sobre ela. Draceadon. Uma refém. Olhou em toda a vasta extensão da cama. Roncos suaves viam do outro lado do quarto. Apertando os olhos na pouca luz, mal conseguia distinguir a silhueta suave de Lady Brighid enrolada numa bola, dormindo profundamente ao lado de sua empregada. Mais roncos vinham do pé da cama, sem dúvida a menina Annis no palete do chão. E com este reconhecimento mais uma realidade caiu sobre si. Stefan! Por um longo momento Arian ficou ali sentada na cama, a luz da vela brilhava suavemente sobre a mesa ao lado dela. Seu estômago rugiu fazendo um som baixo. Engoliu em seco e estremeceu. Sua garganta estava seca e apesar da pequena refeição que tinha comido, já estava com fome. A fome a levou a mover-se na cama, mas, mais do que isso, seu desejo era de extrair o seu destino do seu cavaleiro normando. Ele, assim como a dona da mansão, havia sido lacônico. Medo roeu-lhe por dentro. Teria Stefan mentido para ela? Seus planos teriam mudado? Alguma vez iria ver o seu noivo? Arian saiu da cama e rapidamente puxou uma túnica emprestada sobre a camisa macia. Cuidadosamente abriu a pesada porta, parando a todo movimento. Um guarda grande roncava no limiar. Espreitando para cima e para baixo do salão bem iluminado, levantou uma perna depois a outra por cima dele, e correu até o corredor. Enquanto movia-se silenciosamente pela larga escada, Arian podia ver o dormitório. Ao longe, sombras cinzentas descreviam dezenas de homens, deitados em paletes. Na base da escada de pedra, ela ficou em silêncio por um longo momento, debatendo-se entre voltar ao seu quarto ou chegar à cozinha para se alimentar. Sua fome prevaleceu. O calor da pequena lareira puxou-a como uma mariposa para uma chama. Silenciosamente, caminhou até ela. Havia um recanto pouco além que levava a um salão que provavelmente levava às cozinhas exteriores e, se deu conta, para escapar! — Não é sábio estar no corredor numa hora tão tardia, Minha Senhora. — Uma voz profunda disse atrás dela. Lentamente Arian voltou-se, e, embora o normando fosse um pouco mais alto que ela, seus olhos azuis reluzia com um brilho predatório. Medo enrolou-se firmemente em sua barriga. Ele curvou-se, levando o braço ao peito e levantou-se. Quando sorriu, o cabelo na parte de trás de sua nuca espetou-se. —Eu sou Ralph du Forney, herdeiro do grande senhor de Lyon. Estou ao seu serviço. 113
sir.
Regiamente, Arian acenou com a cabeça, reconhecendo-o. — Você fala bem o Inglês,
Ele sorriu novamente e se aproximou. — Eu sou muito viajado e passei muito tempo na corte de Edward. Arian dava um passo atrás a cada passo que ele dava na sua direção. — Você não precisa me temer, Minha Senhora. Posso lhe assegurar que eu não sou selvagem como meu primo. — O seu primo? — Sim, o servente de Valrey. Ele tem os modos de um javali. — Stefan é seu primo? — Gaguejou em descrença. Ele era um bastardo de um mercenário. — Infelizmente ele é. — Mas… eu achava que ele era um bastardo? — No coração, alma e nome, ele é. E embora meu tio Robert se recuse a reconhecer, ele é o espelho desse grande senhor. — Quem lhe deu á luz? — Ela perguntou ainda não acreditando no normando. Ralph riu baixinho e se aproximou mais. Ela tinha apenas a parede para oferecer o seu refúgio. — Ah, esse é o grande mistério. Alguns dizem da cunhada do próprio duque, Alyce. Mas se isso fosse verdade, sendo ela uma mulher casada, o marido teria motivos para o divórcio, não teria? Arian olhou com mais atenção para o homem e pela primeira vez percebeu que enquanto seus olhos azuis não eram tão brilhante como os de Stefan, eles eram iguais. As informações lentamente se afundaram, e com isso, veio a vergonha por tê-lo tratado daquela forma. A notícia surpreendeu-a. Ele era um nobre! Mas ela devia ter percebido, quando ele falou do seu humilde patrimônio, falou como um nobre, ele se portava com a confiança de um, e embora tivesse a dureza de um mercenário, sabia bem como lidar consigo mesmo como quem que pressagiasse a vida da corte. Ralph tocou seu ombro, seus dedos deslizaram sobre a mecha de cabelo que descansava contra o peito. Ela deu um tapa na mão. — Não me toque, sir! — Mas lhe admiro, Minha Senhora. — Ele se moveu para mais perto e inalou o cheiro dela. — Você tem um cheiro doce. Ele pressionou a palma de sua mão contra um seio. Arian torceu-se para longe dele. — Você é muito corajoso, sir! Eu estou comprometida, e mesmo que não estivesse eu não lhe dou permissão para me tocar assim! — Mas você permitiu que um bastardo de cuecas desse em cima de você?
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Arian engasgou. — Você fala inverdades. — E apesar disso, a sua raiva não fervia com o insulto a ela mesmo, mas a Stefan. Ela deu um passo em direção ao normando arrogante. — E mesmo se eu tivesse nobre senhor, seu primo bastardo apesar de todos os seus defeitos é cinco vezes mais homem que você jamais poderia esperar ser! Não volte difamá-lo na minha presença. Agora, vá se embora antes que eu grite tão alto que todo o condado virá correndo em minha defesa! Ralph jogou a cabeça para trás e riu. Arian queria agredi-lo. Calmo olhou atentamente para ela. — Ele ficou com você também? Esse é o seu caminho, minha senhora, ele é o mestre da sedução. Ele deixa um rastro de corações partidos e bastardos espalhados de uma ponta do continente para o outro. Ele fará o mesmo com você. As palavras de Ralph atingiram nas profundezas. Um sentimento doentio, como um veneno, derramou em seu coração. Ralph aproximou-se. — Eu não digo isso como uma calúnia, mas para alertar. Seu coração é preto com ódio das mulheres. A fúria de Arian aumentou. — Você é tão vil, Sir Ralph, que você teria que levantar minhas saias aqui e agora para a sua diversão? — Não, boa senhora, eu iria cortejá-la como é devido a uma senhora de seu status. — Ele estendeu a mão novamente para tocá-la, e quando ele o fez o som inconfundível de uma espada sendo desembainhada cortou o silêncio. — Toque-a, Ralph, e você vai encontrar as suas entranhas no chão. — Disse Stefan, emergindo das sombras. — Não me desafie, primo. Você perderá. – Rosnou Ralph. Stefan olhou para Arian, certificando-se de que ela não estava ferida, em seguida, deu toda a sua atenção ao seu primo. Apertou a ponta da espada no peito do homem. — Ferido como estou, você não é páreo para mim. Se você quiser provar o contrário… — Stefan deu um passo atrás e apontou a espada á cinta de Ralph. – Puxe do seu aço e vamos comprovar isso aqui e agora. Os dedos de Ralph brincaram com o punho da espada, seus olhos estreitaram-se em fendas e um sorriso torto brincou em seus lábios. — Quando matá-lo, haverá mais testemunhas que a senhora. — Ele fez uma reverência para ela, então deu meia-volta e seguiu em frente na direção do hall. Stefan embainhou a espada, em seguida, estendeu a mão para ela, com a palma para cima, num convite para ela tomá-la. Instintivamente, sua mão contraiu-se, querendo tocá-lo, colocar a sua mão na dele e confiar nele. Mas, resistiu. Temia que se o tocasse novamente, sucumbisse ainda mais quando ele lhe aperta-se as mãos. — Eu não vou morder você, Arian. ― disse Stefan suavemente. Ela olhou para os seus olhos sombrios por um longo momento antes de colocar a sua mão na dele. Seus dedos longos e quentes fecharam-se suavemente ao redor dos dela, e ele puxou-a para longe do salão em direção a uma pequena sala um pouco mais além. Quando pararam, ela retirou a mão e encarou-o diretamente, um tumulto de emoções disputaram em seu peito.
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Apesar de tudo o que ela tinha aprendido sobre o homem diante de si, Arian primeiro tinha-se desmanchado profundamente ao seu familiar timbre de voz e depois ao seu toque suave. A sensação irritou-a. — Você mataria o seu próprio primo? A violência é a sua resposta para cada delito? – Girou e afastou-se para o recanto mais fundo da sala. Ele fazia coisas ao seu coração e ao seu corpo, que ela não entendia e, além disso, não gostava. Ele aproximou-se por atrás dela, tão perto que podia sentir o calor que irradiava do seu corpo, e podia sentir o seu cheiro limpo e viril. Cheirava a especiarias e a madeira. Ela fechou os olhos e prendeu a mandíbula, afastando o calor que provocou nela. — Esta é a segunda vez que você me castiga por preservar sua virtude. — O suave sopro da sua respiração, acariciou o seu ouvido quando ele falou. Ela endireitou-se de volta. — Vocês são maus. — Ela murmurou. — Sim, eu sou mais perverso do que você pensa saber, princesa. Ela se virou e prendeu a respiração. Seus olhos azuis cobalto, queimavam quentes e brilhavam sob a luz fraca dos candeeiros da parede, e ela notou que as feridas do seu rosto tinham sido curadas. E bem curadas. O inchaço e o vermelhidão tinham desaparecido. Os pontos eram limpos e arrumados. Sem perceber o que estava a fazer, Arian levou a sua mão á face dele. Ele agarrou-a e apertou. dela.
— Eu não lhe desejo nenhum mal! ― Clamou ela. Imediatamente ele largou a mão — Nem eu a você, então nesse sentido não me toque. Confusa, Arian interrogou. — Sou repulsiva para você agora?
— Não. — Disse suavemente. — Você esquece que eu vi tudo o que Deus lhe deu no dia em que nasceu. — Ele deu um passo mais perto. — Eu toquei você de uma forma que apenas um verdadeiro amante deveria. As memórias acendem um fogo nas minhas entranhas. Calor subiu as suas faces com aquela admissão e sentiu-se afundar quando se lembrou da primeira vez que o viu. Alto, musculoso… forte. ― Tal como eu vi você, senhor. — Ela sussurrou, não confiava na sua voz. Seus joelhos tremiam e seus dedos se contraíram. Um calor familiar desceu da sua barriga para outras partes do corpo. Ela percebeu que era aquela sensação única da sua proximidade com o homem à sua frente. Ele sorriu e Arian quase o imitou. O gesto iluminou o rosto austero, humanizando as suas características de demônio para belo. — Sim você viu, foi uma introdução muito incomum a nossa. As palavras de Ralph sobre os casos amorosos de Stefan formigaram nela. — Você já viu muitas mulheres do mesmo jeito que me viu? — Arian mordeu o lábio inferior, envergonhada com o que ela tinha falado. O sorriso Stefan aumentou. Estendeu a mão para tocar numa mecha do cabelo dela.
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— Se eu for honesto, eu diria demasiadas vezes para contar. Indignada, ela arquejou, mas ele se moveu um pouco mais perto e tirou um fio de cabelo do seu rosto. — Mas se eu for realmente honesto, tenho que admitir que nunca vi tamanha perfeição, como eu nesta manhã. Mais calor se espalhou nas veias dela com a ousada confissão do cavaleiro. E embora nunca tivesse sido uma mulher de apreciar elogios, gostou dos elogios dele. E sabendo que a fazia se sentir tão quente como se estivesse envolta em peles na frente de uma lareira, Arian sabia que jogava um jogo proibido. Estava noiva de um bom homem, e não só sua honra, não se permitiria flertar novamente com o demônio normando, seu coração não podia suportar o fardo de amá-lo. Engolindo em seco, Arian se mudou para uma distância segura. Stefan deu de ombros, passou por ela em direção a uma pequena mesa e encheu dois copos com vinho. Entregou-lhe um copo e tomou um longo gole do seu próprio copo. Ele esvaziou-o e pousou-o sobre a mesa pequena. — Beba Minha Senhora, e eu irei levá-la de volta para o seu quarto. Como você acabou de testemunhar, não é seguro para você andar por ai há esta hora tardia com tantos homens aqui. Stefan ofereceu o seu braço e quando ela colocou a sua minúscula mão em cima da sua pele, calor chamejou. Sua virilha apertou, e lutou contra a batalha que se alastrou dentro de si. Enquanto subiam a escada, o doce perfume de Arian brincou com os seus sentidos. Malditamente ela tinha ficado bonita; e vestida com roupas ricas que se encaixam, ela brilhava com uma beleza etérea. Ele acariciou o punho da sua espada, querendo relaxar. Arian olhou para Stefan e perguntou. — Como você sabia que eu estava no corredor? — Você está sob vigilância, Minha Senhora; o meu homem veio ao meu quarto alertarme do seu movimento. — Mas ele estava roncando! — Um ardil. Quando se aproximaram de sua porta, ele manobrou-a contra a parede perto de um candeeiro. A chama que ardia não era de longe tão brilhante como os seus olhos. — Cuidado, Arian. Não há lugar para você se esconder e se você conseguir passar pelo guarda, você encontrará mais o que temer fora das muralhas do castelo do que aqui dentro. — Quais são seus planos para mim? Ele colocou uma mão em cada lado da cabeça, contra a pedra. — No momento, o meu plano é roubar-te um beijo. — Quantas mulheres você já seduziu, depois as deixou com uma criança? Stefan começou, mas a sua explosão lhe travou. — Que tipo de pergunta é essa? — Uma para o qual eu gostaria de uma resposta!
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Ele sorriu e abaixou a cabeça para ela. Seus olhos dirigiram-se para o peito arfando, os mamilos estavam tensos sob o tecido fino. Ele lutou contra o impulso de pressionar os lábios logo ali. Em vez disso, baixou os lábios pairando logo acima dos dela. — Eu não faço a contagem. — Você é um grosseiro. — Ela murmurou. — Sim, um grosseiro que não pode ajudar a si mesmo. — Seus lábios roçaram nos lábios dela, o hálito quente contra seu rosto. Quando seu corpo não resistiu. Ele a beijou novamente, aprofundando-o. Seus lábios macios se separaram sob seu. Stefan aproximou-se, encostou o seu peito contra os seios fartos dela, sorrindo contra os seus lábios quando os olhos prateados dela se arregalaram. Gentilmente, pressionou suas costas contra a parede. Manteve as mãos longe dela, sabendo que se a tocasse, iria querer mais do que poderia ter. Mas quando ela apertou as mãos contra seu peito, deslizando para cima e envolvendo os braços em volta do pescoço, agarrou-se contra ele. Ela gemia baixinho, rendendo-se e ele aproveitou-se disso. Faminto por ela, a beijou com mais força e mais a fundo. Pensamentos dela nua e debaixo dele giravam em sua mente, de ouvir seus gritos de prazer enquanto a penetrava faziam seu sangue correr. Frustração misturada com luxúria não era uma boa combinação. Como se estivesse lendo os seus pensamentos Arian empurrou-o para longe. Olhou duro para ela, querendo-a mais. Ela era uma visão de todas as coisas inocentes e carnais. Seus cabelos em cascata eram uma desordem selvagem sobre seu rosto e ombros, seus lábios rosados estavam cheios e inchados do seu beijo, seus olhos prateados estavam escuros com o desejo, os seus seios, Jesus! Como suas mãos doíam por acariciá-los, subindo e descendo em rápidos suspiros rasos. — Arian... Ela balançou a cabeça, passando por baixo de seus braços e empurrou a porta pesada antes de batê-la com firmeza no seu rosto. Olhou para a porta uns longos momentos, enquanto as emoções conflitantes caiam em sua cabeça. ‘Jesus!’ O que estava de errado com ele? Jurou para ela e para ele mesmo que estava acabado, mas só o pensamento de tê-la o tinha feito rastejar de volta como um cão obedecendo ao seu dono. — Bah! — Disse ele, levantando as mãos. Ela era apenas uma mulher, uma entre milhares. Ele poderia encontrar satisfação em coxas mais que dispostas. Caminhou com raiva para seu quarto no fim do corredor e disse para o guarda que lá estava. – Vigia a porta da senhora! — Ele mordeu-se, escancarou a porta em seguida e bateu fechando-a. Ele a trancou e se despiu. As velas tinham mais entalhes do que a sua posição deitado, com as mãos por trás da cabeça, olhava para o teto e dolorosamente excitado. Sua frustração e preocupação com seus irmãos, o nojo de si mesmo por permitir que fossem capturados, discutiam numa batalha selvagem com o seu desejo por uma mulher, que estava além das paredes do seu quarto. Rolou, mas a pressão em sua coxa era demais. Quando atirou-se de costas na cama, seu pau batia contra os lençóis lisos. Gemeu alto, cerrando os dentes, resistindo à vontade de aliviar a dor na virilha. Queria que ela se fosse, casada com o 118
viking e longe da sua vista. Longe de seus sentidos. Longe de seus pensamentos. Então, poderia esquecê-la. Mas a visão das suas coxas douradas e dos seios roliços brincava com ele. Quase podia sentir a sua pele perfumada e macia sob os seus dedos ásperos. Queria pressionar seus lábios entre as coxas dela e saborear o seu doce mel. Ele queria… Pelo sangue de Deus! Se fosse sua escolha, se aliviaria entre aquelas coxas douradas e acabaria com o desejo do seu corpo por ela. Apertava a mandíbula tão forte que temeu que seus dentes cedessem. No seu limite, ele fechou os olhos com forças e agarrou o demônio entre suas coxas.
QUATORZE
Arian passou os dois dias seguintes sob forte vigilância. Em cada esquina, encontrava um amplo peito masculino e um saxão carrancudo. Apenas lhe era permitido liberdade no seu quarto, no corredor e, sob muita vigilância, no pátio para um passeio. Parecia receber bastante hostilidade entre os camponeses. Cada vez que pisava fora da sala, eles se reuniam em pequenos grupos e a olhavam. Tentou várias vezes subornar os funcionários para auxiliá-la na sua fuga e foram descobertos. Seu castigo? Foi proibida de falar com todos os funcionários exceto Annis. Arian não conseguia colocar a sua raiva e frustração em palavras, de tão irada que estava. Sentia-se como o tigre enjaulado que tinha visto uma vez quando, um circo itinerante passou por Dinefwr muitos anos atrás. O animal andava pela pequena jaula gradeada, rosnando para qualquer pessoa que arriscava se aproximar demais. Mesmo seu dono não se via livre dos dentes e das garras afiadas. E por mais que tentasse envolver-se com a senhora da mansão e com a irmã dela, Lady Brighid, numa conversa, elas tentavam com dificuldade evitá-la. Só nas horas das refeições é que eram forçadas a conversar e mais que dispostas a oferecer uma palavra. Mas, ainda mais 119
do que a reticência delas, Arian achava a distância de Stefan mais irritante. Mais do que irritante. Insuportável. Ele era o único conhecido naquela terra hostil. Por natureza, era uma criatura sociável, ansiosa por interação. Observou-o a mover-se, vestido com trajes nobre, seu coxear quase tinha ido embora e seu rosto curado. Ele apresentava uma figura mais bonita. Mas havia uma reserva arrogante sobre ele que a intrigava mais do que seu belo rosto e o seu corpo poderoso. Não se misturava com os seus compatriotas, não conversa nem participava de jogos de xadrez ou dados. Reservava-se principalmente a si mesmo, com os brilhantes olhos afiados e atentos. Várias vezes encontrou seu olhar melancólico sobre ela e quando sorria, ele fazia uma careta e afastava-se como se ela tivesse cometido um grave delito contra a sua pessoa. Somente quando a bonita lady Tarian ou o guarda dela, Gareth, se aproximavam era quando parecia relaxar. Sua camaradagem com a senhora perturbava-a num nível mais básico e, embora soubesse que o coração da senhora pertencia apenas ao seu marido, Arian sentiu o profundo respeito que ela tinha para com Sir Stefan. Quanto mais Stefan se ausentava, mais Arian queria a sua atenção. Uma palavra, um gesto suave. Um reconhecimento de que ela era mais do que um peão no seu jogo mortal. Contrariamente, seu primo normando Ralph, não era tão reticente. Nem o seu cão de colo Sir Philip. Em cada esquina, encontrava-se um ou ambos à espreita nas proximidades. À mesa do Lorde, um deles sempre encontrava um caminho até ela e ela detestava compartilhar a travessa com qualquer um. Sempre que lançava um olhar a Stefan, ele estava envolvido numa conversa. No entanto, sempre que Sir Ralph se tornava muito familiar, o guarda Gareth ou, mais dificilmente, Stefan mantinham o arrojado normando afastado. Portanto Arian gastava horas intermináveis sentada na sala movimentada, com a cabeça obedientemente curvada sobre o bordado, com os olhos e ouvidos abertos e sempre atentos, esperando por uma oportunidade de escapar rapidamente da sala e fugir. Isso aconteceu na terceira manhã, quando Arian se viu sozinha no salão após a refeição do meio-dia. Sob seus cílios viu que as portas principais do salão estavam lotadas com camponeses e cavaleiros. Lançou o olhar em direção à pequena sala fora do corredor e franziu a testa. Mais homens. Não estava tão sozinha como pensava. Sua frustração lhe deixou com os nervos aflorados. Stefan evitava-a e a sua relutância em discutir os termos da sua libertação, frustrava-a para além da razão. Tinha o direito de saber o seu destino! Tinha o direito de esperar por algo, qualquer coisa, vindo dele na forma de notícia. Ele não dizia nada a ela, mesmo se um mensageiro foi enviado até Cadoc. Ficou sentada na cadeira onde estava e jogou o seu bordado no fogo. À medida que as chamas o devoravam, virou-se para a escada e olhou para cima. Iria para o quarto de Stefan, aguardar o seu retorno e, em seguida, exigir que revela-se os seus planos para ela. Mas quando empurrou a pesada porta, apercebeu-se de que não tinha qualquer influencia. Com o que poderia ameaçá-lo? A vida dele? A dela? Tomar Lady Brighid como refém e ameaçar a sua integridade física caso não a liberta-se? Arian riu do absurdo. Não era capaz de infligir dor sobre uma menina, quanto mais assumir a vida de alguém e Stefan sabia disso. No momento em que entrou no quarto, seu cheiro másculo a envolveu. A força daquilo impediu-a de avançar.
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Mesmo fora do quarto, Stefan o dominava. Calmamente fechou a porta e encostou-se contra ela. Fechando os olhos, parou, permitindo que a sua essência a preenchesse. Madeira misturada com couro e, ali estava, o seu aroma sem igual que ela, enquanto fosse viva, nunca poderia esquecer. Aquilo perseguia em seus sonhos e agora a chamava. Seus membros se aqueciam e os mamilos se enrijeciam com apenas a mera imagem dele na sua mente. A barriga de Arian deu voltas. Sua vida estava nas mãos de um único normando. O que será que ele procurava com o seu resgate? Terra? Ouro? Um título? Será que tinha enviado um mensageiro para localizar Cadoc? Um mensageiro a seu pai? E Magnus? Será que também iria exigir riquezas dele? Era realmente apenas um meio para acumular uma fortuna? Stefan era um homem sem posses, um homem sem nome; é claro que iria usá-la para ganhar o que tão desesperadamente queria. Ele queria elevar o seu status de bastardo. Todo o seu cuidado carinhoso para com ela, quando estava a arder de febre, não era porque se preocupava, mas para garantir o seu futuro! Pensamentos bateram violentamente em sua cabeça e Arian apercebeu-se naquele exato momento que tinha criado uma imagem rósea do homem que não pensava nela, mas em si mesmo. Era uma tola por amolecer perante ele como tinha feito! Irritada, moveu-se para o meio do quarto, imaginando o que lhe diria uma vez confrontados. Ele não ligava, ela não tinha influência. Por que se preocupava? Porque, uma voz pequena, mas desafiadora, disse das profundezas de sua alma, ele é um homem como nenhum outro e você não pode ficar longe. Arian respirou profundamente e exalou lentamente. Um barulho, depois uma voz profunda, vinha do hall surpreendendo-a. Stefan! Virou-se para encará-lo, mas outra voz lhe chamou a atenção. Lady Tarian! O que pensaria dela… uma princesa à espera de um normando bastardo no seu quarto? Pânico passou por ela. Mas rapidamente desapareceu. Aquela era a oportunidade perfeita! Iria se esconder, ouvir e informar-se. Após uma verificação rápida do quarto, viu que não havia lugar para se esconder! A cama era muito baixa, quase no chão. Não havia móveis para se esconder atrás. Correu para a tapeçaria pendurada na parede e deslizou por trás dela, rezando para que ninguém olhasse para baixo e lhe visse os pés. A porta se abriu. — Tarian, isso não é necessário. Eu posso ver os meus pontos! — Silêncio e dispa as suas chauses. — Isso não é decente! — Então deveria ter deixado Edie fazer a tarefa. — Aquela velha tagarela! Eu não tenho paciência para isso. — Sente-se então e me deixe fazê-lo. Arian ouviu um grunhido de resignação, seguido pelo som de Stefan se movendo sobre o quarto. Lady Tarian riu e disse. — Gostaria de chamar a sua princesa? Iria conseguir despi-lo mais rápido?
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— Ela não é minha princesa! — Então você continua dizendo isso. — Posso ser muitas coisas, Minha Senhora, mas eu não sou homem de desonrar uma senhora que está noiva. — Mas e se ela não fosse? Arian prendeu a respiração e esperou um longo momento pela resposta de Stefan. — Namorico nada mais. Você sabe que eu não desejo mais que isso. Suas palavras a magoaram. Será que ele achava tão pouco dela? — Wulfson pensava a mesma coisa e olhe para ele agora? Preso com os grilhões do matrimônio, e os arrastando consigo a cada passo. — Minha Senhora, por favor, cessaria essa conversa? Não anseio por uma esposa. — Nem mesmo uma que esconde verdes pastos para os cavalos? Ele riu baixo. — Bom, se isso fizer parte do pacote, posso ser convencido a assumir o esta união. — Ah, então o verdadeiro desejo do seu coração é descansar com os corcéis da batalha? — Sim. E com isso a princesa vai ver o meu sonho realizado. Com o dinheiro que vou exigir do seu marido e do seu pai, eu vou comprar a minha terra. O som dele a desembainhar o cinto da espada, seguido por outro grunhido, sem dúvida a desfazer-se da sua calça, e em seguida, sentando-se no banco não muito longe dela, fez com que o coração de Arian batesse tão forte no peito e a refeição do meio-dia agitasse em sua barriga. — Isto está bem costurado. Como se sente? — Ainda dolorido, mas bem mais forte. O arrastar do banquinho estava tão perto, que Arian tinha medo de respirar para que não a ouvissem. — Você vai apenas sentir uma picada ou duas. — Acabe com isso de vez. Eu pretendo montar até Dunloc hoje e oferecer mais ouro por noticias de Rhys. — Sim, Brighid está fora de si de preocupação. — Isso é para nada. Ele não vai se casar com ela. — Por que você diz uma coisa dessas, Stefan? — Ele não tem nada a oferecer. É jovem ainda. No momento em que tiver a sua fortuna, ela já estará casada com um nobre e com meia dúzia de crianças. 122
— Meu pai adotivo nunca permitiria isso, mesmo que Rhys viesse com um título. — Sim, o lote de um filho bastardo não é? — E você, Stefan? Quais planos você tem? — Uma vez que os Espadas de Sangue forem entregues, aguardo comando do meu rei. Um suspiro pesado permaneceu no quarto. — Você não se cansa da guerra? — Não, é a minha vocação. — Também a do Wulfson. — A de nós todos, Tarian. Faz parte de nós como as cicatrizes que carregamos. Outro suspiro pensativo flutuou através da quietude do quarto. Arian prendia a respiração com medo de respirar. —Pronto, está feito. As do seu rosto podem sair em poucos dias. O som do banco a ser aliviado do peso de Stefan, deu-lhe um palpite da posição dele. — Meu agradecimento Minha Senhora. — Por nada, senhor cavaleiro. Vou me despedir e se você não tivesse objeções iria a Dunloc com você. — Eu levo comigo aquele meu primo valete e, a sua constante sombra, Philip. Faria-me um favor, se você ficasse aqui e vigiasse. Minha refém irá fugir á primeira oportunidade e ela é a chave para os nossos futuros. — Sim, eu vou ver se ela não voa. O sangue de Arian borbulhava com a raiva que sentia. Como ousava falar dela tão casualmente depois de tudo o que tinham partilhado? O som da porta a abrir-se a sobressaltou de seus pensamentos. Quando a porta bateu ao fechar-se o seu coração endureceu. Iria encontrar uma maneira de escapar daquele lugar e ao fazê-lo iria levar consigo a esperança e os sonhos daquele cavaleiro arrogante. Ela não era a sua amante aprisionada. Não, era a Princesa Arianrhod, filha de Hylcon, e não aguentava mais ser tratada com nada menos do que lhe é devido! Tirou a tapeçaria de cima dela e voltou ao quarto, para abruptamente parar. Stefan a olhava do limiar da porta. —Você achou o que procurava, princesa? — Ele perguntou casualmente. Mas seus olhos se estreitavam afiados, desmentindo o tom. Ela caminhou na sua direção e lhe deu um tapa no seu rosto ferido com toda a sua força. Ele nem recuou. Ela levantou a mão para esbofeteá-lo novamente, mas desta vez a segurou antes que ela pudesse fazer mais danos. Ele a puxou com força contra seu peito. — Você não gostou do que ouviu? — Você não é digno de alimentar os porcos, muito menos tocar na minha pessoa! Liberte-me agora, seu bastardo invencível! 123
Ele não o fez. Empurrou-a com força contra a parede, os dedos cavando fundo em seu cabelo, interrompendo o seu intricado discurso intelectual. — Eu era bom o suficiente para salvar sua virtude não uma, mas duas vezes. Eu era bom o suficiente para salvar sua vida, mas porque você não pode suportar a verdade, agora eu não sou bom o suficiente para tocar em você? — Eu te odeio! Ele riu e abaixou a cabeça. ― Odeia mesmo? — Ele zombou. — Com o meu coração e alma. — Prove-o. — Então seus lábios esmagaram-se contra os dela e Arian percebeu que sabeia que mentia.
Quinze
Embora lutasse contra ele, Stefan sentiu o corpo dela amolecer. O sopro suave de sua respiração contra sua bochecha, quando ele deslizou os lábios pela pele suave do seu pescoço até ao ombro. A maneira como os seus seios se inchavam sob as mãos dele. O fôlego e o gemido feminino, cujo corpo queria mais do que um simples toque. Seu corpo intensificou-se, em resposta, seu pau engrossou, sua respiração era firme e forçada quanto a dela. Deslizando a mão da cintura para os quadris, ele apertou-se contra ela e esta não resistiu. Calor queimou em suas entranhas, desejo lançou-se sobre ele como uma espada. Ficaria louco se não a fizesse sua. Numa rajada, puxou a saia de seu vestido e camisa. Quando a mão áspera pressionou a suavidade sedosa da sua coxa, ambos gemeram. Seus lábios se abriram com os dela, suas respirações quentes e ofegantes. Ele abriu os olhos e o seu coração pulou na garganta. Os olhos dela brilhavam como prata derretida. Ele deslizou a mão mais para cima, sem nunca tirar os olhos dela. Podia sentir a umidade sensual dela, esperando-o, querendo-o. 124
Ele tinha ido longe demais, seduzido pelas águas movediças dela, mas não conseguia parar. Arian pressionou os seus quadris contra ele e Stefan gemeu. Incapaz de controlar-se, ele roçou os seus dedos nos lábios úmidos. A visão da submissão de Arian, quando os lábios dela se abriram num ofego, de olhos fechados estimulou-o ainda mais. Stefan fechou os olhos e, saboreando o momento, afundou um dedo suavemente dentro dela. Sentiu como o ar deixava o corpo dela enquanto se derretia nele. Puxou-a mais contra ele e seus lábios encontraram os dela. Num movimento lento, ele penetrou o seu dedo dentro e fora da sua umidade quente. Os quadris dela seguiam-no em hábeis ondulações. Ela agarrou-lhe nos ombros e apertou-se mais a ele, mas ele resistiu pressionando todo o caminho dentro dela. Separou os seus lábios dos dela e lutou a maior batalha da sua vida, ao resistir ao ímpeto de tirar as suas chauses e afundar o seu pau dentro dela. Ele apertou os seus olhos. — Stefan. ― Ofegou ela numa respiração. — Meu corpo dói como se uma febre me consumisse. Ele puxou-a e retirou o dedo dentro dela. — Não. ― Choramingou ela. Sorriu para ela, mas não se separou completamente. Não, ele não podia. Escovou o seu endurecido monte com os dedos. Arian ofegou novamente, de olhos arregalados, maravilhada. Ele engoliu em seco. — Há mais de uma maneira de fazer o corpo se libertar, Arian. ― Sussurrou ele no seu ouvido. Pressionou-se firmemente contra ela e moveu o dedo de forma rápida e precisa. Apertou a mandíbula quando a umidade dela aumentou e o seu corpo comprimiu-se. Beijou-lhe os lábios entreabertos, sua língua girava contra a dela, enquanto uma forte onda de paixão abateu sobre os dois. Ela gritou, mas os beijos dele silenciaram-na para que só ele ouvisse. Seu corpo estremeceu em convulsão e ele sentiu o seu líquido na mão. Devagar e suavemente ele ajudou a libertar-se com os dedos e, quando ela o fez, ele sentiu os joelhos dela enfraquecerem. Pegou-a no colo, seu corpo jazia inerte, com o peito subindo e descendo de forma rápida e com os olhos fechados. A visão dela agitou algo profundo e primitivo, mais do que isso, uma selvagem possessividade tomou o seu coração. Quando ela abriu os olhos e ele viu o que o seu desejo ainda persistia, moveu-a até um banco, pousando-a suavemente e afastou-se dela. Virou-se e caminhou até á porta, mas uma corda invisível o puxou para olhar pra trás. Ela estava meio inclinada no banco, com o rosto corado, lábios cheios e semiabertos e com as roupas num desalinho. Apertou a mandíbula, lutando contra o diabo dentro dele que queria terminar o que tinha começado. — Não chegue perto de mim novamente, Arian, porque eu não posso prometer que, da próxima vez, consiga resistir ao meu desejo por você. — Virou-se e saiu do quarto o mais rápido que as suas pernas permitiam. Uma vez no fim do corredor estreito, Stefan parou para buscar a ele mesmo. Seu corpo queimava, seu coração batia como um martelo de ferreiro em seu peito e sua mente corria 125
como louca, com pensamentos selvagens e imprudentes, de levá-la para um lugar secreto e fazer amor com ela até que o mundo se esquecesse dos dois. Jogou a cabeça para trás, apertando as mãos com tanta força, que pode sentir as unhas machucarem a pele, lutando contra a vontade de gritar pro mundo a sua frustração. — Stefan? — Tarian perguntou, aproximando-se lentamente dele, vinda da escada. — O que está errado? Soltou um longo suspiro, soltou as mãos lentamente e olhou para ela. — Nada. Ela não se incomodou, sabendo que não diria nada. – Cavaleiros aproximam-se, Stefan. Eles voam com as cores de Dinefwr. — A senhorita está em meu quarto. Envie Brighid para vê-la. — Ele passou pelo rosto boquiaberto dela e desceu a escada a correndo, feliz com a interrupção. — Chamem os guardas às armas! — Stefan gritou enquanto corria pelo corredor. dele.
— Gareth e Ralph estão posicionados no pátio. — Tarian respondeu, aproximando-se
Brighid levantou-se da cadeira em frente à lareira. Tarian a puxou para o lado e teve uma conversa privada com ela. Os olhos da moça se arregalaram quando olhou para Stefan. Ele mostrou-lhe uma expressão pesada. Engolindo em seco, ela apressou-se a passar por ele. Os vestígios da sua frustração não tinham diminuído. Levou um momento para se recompor, grato pelo silêncio de lady Tarian. Virou-se para ela e ofereceu o braço. Juntos, eles caminharam até ao pátio. Gareth e seus homens, apoiados por Ralph e uma exibição de seus homens, estavam sentados sobre os seus cavalos de guerra, vestidos com suas armaduras e com as lanças preparadas. Stefan balançou a cabeça em aprovação. Eles tinham planejado uma recepção aos galeses e aos nórdicos até ao último cavalo. À medida que surgia o javali vermelho e dourado da bandeira de Dinefwr, seguido pelo veado azul, num campo branco da bandeira de Magnus, o Alto, Stefan franzia as sobrancelhas. As emoções que ele não queria reconhecer guerreavam uma batalha feroz com o seu dever para com seus irmãos. Empurrou todos os pensamentos de Arianrhod de Dinefwr pro lado. Ele disse a si mesmo, que o seu anseio era apenas ver o retorno dos seus irmãos em segurança. Ele presumiu que o capitão da guarda de Arian, Sir Cadoc, galopava a frente dos seus homens aproximando-se de forma abrupta diante de Gareth e Ralph no pátio. Stefan caminhou em direção a ele. — Desarme-se! – Proclamou em galês. Cadoc olhou através da guarda de Stefan. Ele viu olhos escuros e estreitos por trás do elmo. — Eu exijo ver a minha senhora! Stefan continuou em direção ao cavaleiro, com o resto da sua guarda seguindo-o de perto e apesar da total confiança de Stefan em Tarian e no capitão dela, Gareth, não era a mesma coisa que ter os seus irmãos com ele. Stefan moveu-se facilmente entre Gareth e Ralph, e embora sabendo que estavam em desvantagem, não mostrou medo. Na verdade, ele ficaria feliz por pegar em qualquer homem naquele momento. Por ventura, isso aliviaria o fogo em seu sangue. 126
— Você verá a sua senhora no momento certo e, isso dependerá da rapidez com que você e seus homens largarem as suas armas. Stefan tinha a certeza de que, quando Cadoc olhou para trás dele, este esperava ter um vislumbre de sua senhora. — Eu asseguro sir, que ela está viva e bem. Desarmem-se para que nós possamos conversar e prosseguir com assuntos mais urgentes que temos em mãos. Sem dizer nada Cadoc deixou a espada cair, jogou seu arco e flechas e a sua adaga ao chão. Seus homens, junto com os do Jarl, seguiram o exemplo. Quando eles estavam desarmados, Stefan disse. — Agora desmontem e dê as rédeas aos meus homens. Lentamente, eles fizeram-no. Uma vez despojados de tudo, mas com as roupas vestidas, Cadoc exclamou. — Quero ver a minha senhora neste instante! — Quem representa aqui Magnus da Noruega? — Stefan exigiu, ignorando o galês. O porta-estandarte aproximou-se. Em galês muito quebrado disse. — Eu sou Sar, meu Lorde, comissário de Magnus. — Ele olhou por cima do ombro, para um desajeitado gigante loiro que escarnecia de Stefan. — Sir Ivar, o capitão de Lorde Dag e seus homens. Stefan balançou a cabeça e desviou o olhar para os outros escandinavos, que apresentavam expressões desafiantes nos seus rostos. ― São estes os homens de Lorde Dag? Lorde.
Sar balançou a cabeça e disse. — A maioria, sir, mas outros mais estão na casa do meu
Para Cadoc, Stefan disse. — Venha para o salão, sir capitão. — Ele se virou para Sar. — E você também. Temos negócios importantes para atender. Quando entraram no salão, Arian desceu as escadas voando, com o rosto iluminado de felicidade. — Cadoc. — Ela gritou. Quando ela chegou mais perto, Stefan a agarrou pelo braço e segurou-a antes que conseguisse ir ao encontro de seu homem. — Não, princesa, há tempo para as saudações, depois dos seus homens ouvirem e concordarem com os meus termos. Ela puxou o braço da mão dele e olhou-o furiosamente. Suas bochechas coraram quando ele a olhou de cima abaixo. Não pode evitar. Ao primeiro som de sua voz, seu corpo respondeu, e ele sabia que ela também revivia o que tinha acontecido á pouco tempo atrás, em seu quarto. Cadoc fez um movimento em direção a eles. A espada de Stefan, bem como a de Lady Tarian, o impediram. — Afastem-se, sir, ou encontrará as suas entranhas no chão. — Avisou Stefan. Os olhos de Cadoc saltavam entre Arian e Stefan, porém recuou. — Eu procuro apenas saber o bem-estar da minha senhora. — Como você pode ver, ela vive e respira. — Stefan virou-se para trás, olhando ao redor para os servos e para as de pessoas da cidade. ― Saiam do salão! — Ele virou-se para Sar e Cadoc, apontando para a mesa do Lorde. — Sentem-se, de modo que nós possamos conversar.
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Quando Arian moveu-se para se sentar ao lado do seu capitão, Stefan a puxou para o seu lado e, suavemente, mas firme, a empurrou sobre um banco, em seguida, tomou o assento à sua direita. Lady Tarian á direita dele, Cadoc e Sar ao lado da mesa, Gareth e Ralph por trás deles. Quando a sala ficou vazia, ele falou. — Sir Cadoc, o rei Rhiwallon e o seu irmão Bleddyn têm algumas coisas que eu quero. Seis dos meus companheiros cavaleiros normandos. Seu mestre, o príncipe Hylcon, e… — Ele olhou para Sar. — seu mestre, Lorde Magnus, quer algo que eu tenho. — Ele inclinou a cabeça para a princesa. — Meu Lorde, o rei William, ficará muito irritado quando descobrir que os seus cavaleiros foram capturados. Tenho a certeza de que os seus respectivos mestres, ficaram muito chateados quando souberam da captura da senhora. Proponho, portanto, um negócio. A senhora pelos cavaleiros. Arian enrijeceu ao lado dele. — Mas, sir. — Cadoc irrompeu. — Porque Rhiwallon desistirá dos cavaleiros pela minha senhora? Stefan se inclinou para frente. — Porque se não o fizer, seu mestre irá atrás dele, Magnus da Noruega irá atrás dele, e meu lorde William irá atrás dele, mas não antes de eu pegue um pedaço dele em primeiro lugar. Cadoc permaneceu sentado por um momento, absorvendo tudo aquilo. Arian pigarreou. — Eu posso falar? Stefan assentiu. — Quando acompanhei meu pai a Dublin, no início deste ano para a grande cúpula, emissários da Dinamarca, Suécia, País de Gales e Escócia, participaram a sua única preocupação para com a Normandia. — Ela olhou firme para Stefan. – Meu noivo falou com o jovem rei Olaf, justo quando regressou de Orkney. Ele falou entusiasticamente de querer paz com a Normandia, bem como com toda a Inglaterra. Magnus também tem interesses aqui na Inglaterra e quer apenas a paz. Esta foi uma das razões que ele escolheu-me como noiva. Ele não deseja ter nenhum inimigo no País de Gales. — Ela engoliu. — Mas eu desconfio que o desejo principal dele seja não ter como inimigo William. — O que mais foi discutido? — Stefan perguntou com aguçada curiosidade. Aquilo era incomum, ver tais magnatas reunidos, num solo estrangeiro para discutir a paz. — O rei Murchad, dos piratas de Dublin, é mais selvagem do que os vikings foram outrora. Eles causam muito dano às rotas de comércio, meu pai sofreu grandes perdas pelas mãos deles. Murchad precisa de aliados no leste para acabar com a revolta na sua própria terra, portanto um bom negócio acertado. — Hah! Foram esses piratas irlandeses que destruíram a frota do meu Lorde! — Sar disse. — Não era seguro voltar com o barco, portanto, não tivemos escolha a não ser cruzar pela Inglaterra. — Não importa agora. — disse Arian. — Com estas preocupações com a paz, meu pai e meu noivo vão concordar com todos os termos aqui, num esforço de evitar a ira do Conquistador. 128
— Mas Rhiwallon é teimoso! Seu ódio por William é profundo. — Exclamou Lady Tarian. — Ele é a chave! E se ele não ceder? Stefan acalmou-a. — Ele vai, com a pressão do marido de sua prima, a oeste, William do sul e do leste e Magnus do norte. Ele vai ser espremido até libertá-los. Seria um tolo se não o fizer. Ele não conseguirá evitar a todos nós. Cadoc olhou para Arian. — Minha senhora? Como você esta passando? Sua pergunta não passou despercebida por ela. — Ela ainda é virgem, se é isso que você quer saber. — Stefan disse duramente. Vendo Cadoc e Sar darem um suspiro de alívio com aquelas palavras. — Tudo bem, ela é. — Disse Sar. — Meu lorde Magnus não levaria uma noiva manchada. Arian tossiu ao seu lado e quando Stefan olhou para ela, viu que o seu rosto estava bastante corado. — Eu assumo os meus votos muito a sério, Sir Sar. Ainda sou virgem. — Esteja preparada para mostrar provas. Como esta união é de grande importância e sob… tais questionáveis circunstâncias, meu Lorde vai exigir uma audiência de testemunhas. Arian concordou. — Vou fazer o que meu Lorde me pede. A mão de Stefan agarrou o punho do cabo de sua espada. — Minha senhora? — Sar se aventurou. Stefan sentiu um aperto na barriga, sabendo qual era a pergunta que se seguiria, e decidiu que iria permitir a princesa dar a resposta que queria. Arian balançou a cabeça e Stefan notou que o rubor em suas faces tinha desaparecido. — Agora que estou plenamente informado, por favor, diga-me sobre a morte de Lorde Dag e a sua… — ele percorreu os olhos pela mesa, antes de dirigir o olhar a Stefan e em seguida a Arian — razão para estar aqui. Stefan sentiu o interesse de Ralph aumentar. Arian respirou fundo e começou lentamente. — Como você sabe, eu caí do meu cavalo naquele dia. E uma vez que tínhamos estado na estrada por mais de uma semana eu desejava um banho. Enquanto Jane… — A cabeça de Arian recuou. — O que aconteceu a Jane? Ela está bem, ele não a machucou antes que… — Ela está bem, e no seu lugar aqui com os outros servos, os carros e os animais, Minha Senhora. – Sossegou-a Cadoc. Arian expulsou um longo suspiro de alívio. – Enquanto me banhava lorde Dag se aproximou de mim. Eu ordenei-lhe que saísse. Ele se recusou. Ele foi tão ousado a ponto de tocar em mim. Eu me afastei e corri para dentro do bosque. — Arian olhou para Stefan. — Foi que, eu… Quando Lorde Dag ainda tentou me forçar, Sir Stefan defendeu a minha honra. Eles lutaram e Lorde Dag perdeu.
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— Por que você fugiu?— Cadoc exigiu. — Você, sir, me daria alojamento? — Stefan exigiu. — Eu… eu teria. — Cadoc gaguejou. — Algum homem de Dag teria me assassinado ali onde estava. Além disso, eu sabia o que tinha em mãos e sabia como ela poderia ser útil para mim. Segurança á parte, esse foi o principal propósito pelo qual fugi com a sua senhora. Estou disposto a devolvê-la, intacta, pelas vidas de meus irmãos. As mãos de Arian se fecharam em punhos e ele sentiu o tremor rígido do seu corpo ao seu lado. Sabia que se olhasse para o rosto dela, veria uma tempestade. Mas era melhor assim. Pelo destino, a veria casada com o seu Viking e ele se reuniria com seus irmãos. Sir Sar balançou a cabeça e olhou solenemente para Arian. — Eu temo minha senhora, que quando Meu Senhor Magnus ficar sabendo da morte de seu sobrinho, ele ficará muito perturbado. Stefan bateu com os punhos na mesa. — Sua raiva vai virar-se para o patife, quando souber o que ele pretendia fazer. Dou meu testemunho: Dag era um dos mais baixos em caráter e estava determinado a violar a noiva do seu tio para seu próprio benefício. Se Magnus é um homem de honra, ele verá que a moça não tinha pulso para evitar os eventos que se seguiram. Stefan parou e olhou para Cadoc. — Mate sua fome, uma vez que a tem, e vai cavalgar até ao seu mestre com as noticias de sua filha e o nosso pedido, enquanto Gareth cavalga até Rhiwallon. — Ele se virou para Gareth. – Exija ver os meus irmãos vivos antes de dar a Rhiwallon o meu pedido. — Stefan olhou para Sar. — Você vai rumo a leste, para Yorkshire com as noticias para Magnus. Sir Sar balançou a cabeça, mas parecia que ele queria falar. — Há mais alguma coisa, sir? — Stefan perguntou. Sar balançou a cabeça novamente. — Meu Lorde Magnus não estará em Yorkshire, pelo menos, por mais um mês. A seu primo, Lorde Overly de Scarborough, foi pedido para que recebesse a senhora e cuidar-se de seu bem-estar, até a sua chegada. Vou viajar por todo o mar até ao meu Lorde, com toda a pressa. Ralph suspirou forte. Stefan não olhou para ele, mas perguntou: — Lorde Overly de Scarborough? — Sim, seu parente saxão, por parte da mãe saxã de meu Lorde, Lady Rowena de Covington. Raiva se enrolou no intestino de Stefan, como um nó de uma forca. — Lorde Overly tem esposa? — Sar sorriu e balançou a sua cabeça brilhante. – Sim, a mais encantadora normanda, Lady Lisette. Você a conhece? Ralph riu. — Mais do que conhecer, hein, Stefan?
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Stefan lançou-lhe um olhar. — Sim, nós nos conhecemos. — Ele sentiu o olhar afiado de Arian sobre si, mas recusou-se a olhar para ela. Em vez disso, se virou para Tarian e disse: — Envie padre Dudley, para que ele possa escrever a missiva. — Sir Sar. — Disse Arian, retirando um anel de ouro, que Magnus lhe tinha dado em Dublin, da sua mão esquerda e entregando a ele. ― Entregue isso a meu Lorde Magnus e assegure-lhe de que estou bem. — Ela desatou uma pulseira de prata, do seu braço direito, com a insígnia do javali de Dinefwr gravado nela. Indo até ao seu capitão, ela disse: — Dê isso ao meu pai com os meus desejos de sua boa saúde e assegure-lhe de que aguardo o seu apoio. — Ela respirou lentamente, para depois expulsar o ar dizendo. —Se ainda estiver doente, assegure ao meu irmão que aguardo o seu apoio. E assim, dois entalhes de vela mais tarde, dois grupos de homens cavalgavam rumo a oeste com notícias urgentes, enquanto outro cavalgava rumo leste. Quando o salão ficou vazio, Arian se viu sozinha ali. Um pensamento, que não podia ignorar, circulava em torno de sua mente: Stefan não a tinha utilizado para ganho próprio. Ele a usou para salvar as vidas de seus homens. Algumas das feridas de sua captura a deixaram. Mas quando se encontrou amolecida perante ele, lembrou-se da conversa que ouviu no seu quarto e seu coração apertou-se. As emoções deixavam-na perturbada. Ela poderia muito bem entender porque algumas mulheres corriam pela vila agarrando os seus cabelos e gritando para os demônios deixassem os seus corpos. Sentiu a mesma coisa. Estava no limite emocional. A única coisa que queria era o retorno da sua vida normal. E para que isso acontecesse, precisava de Jane. Da sua lealdade. Nunca tinha ficado tão aliviada, como quando ouviu que a aia se encontrava bem. Um vigia gritou da torre do salão. Uma comitiva se aproximava.
Dezesseis
A barragem de emoções que Arian estava controlando, se desvaneceu no minuto em que a sua amada aia a envolveu com os seus braços. Mas o reencontro foi de curta duração. — Lady Arian. ― Disse Stefan secamente, de pé no degrau em frente ao salão. — Eu gostaria de ter uma conversa em particular com você. — Estou ocupada. Ele desceu em sua direção. Jane tremeu em seus braços. Arian endureceu-se com a indiferença dele. — Você assustou Jane. — Ela vai ter mais o que temer, se você não me der um momento em particular.
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—O que é tão urgente que não possa esperar até que eu a leve ao quarto? — Minha Senhora. — Disse Jane baixinho. — Eu posso esperar. Arian balançou a cabeça e moveu-se passando por trás do cavaleiro mal-humorado. — Eu irei, mas daqui a pouco. — E apressou-se tão rápido quanto Jane poderia, passando pelo cavaleiro até o corredor. Quando Jane estava tranquila e o seu corpo repousava, Arian respirou fundo, endireitou os ombros nervosamente e caminhou até a porta do quarto. Abrindo-a, esperando ter um momento para se recompor, mas em vez disso, encontrou o peito largo de Stefan e os seus brilhantes olhos azuis. Ela gritou e voltou para o quarto, mas ele agarrou suas mãos e puxo-a pelo corredor abaixo até ao seu quarto. — Não! — Ela hesitou. — Eu não vou voltar lá com você! Ele não hesitou os passos, mas arrastou-a até a soleira e depois para dentro do quarto, trancando a porta atrás deles. Virou-se para encará-la e ela prendeu a respiração. Uma nuvem de emoções devastava as suas belas feições e ela percebeu que ele estava demonstrando um grande controle; do quê ela não tinha certeza. Ele abriu a boca para falar, mas não saíram palavras. Passando a mão pela boca e pelo queixo, virou para a tapeçaria e então girou de volta para encará-la. — Eu quero seu juramento, de que você não vai fazer nada para interferir nisto. Há muito em jogo! Com os olhos arregalados, ela pasmou. Como ele ousava exigir qualquer coisa dela depois… depois do seu sequestro e do tratamento que recebeu aqui? — Você pergunta muito e dá pouco, sir. Porque eu deveria fazer algo por você, depois do que você fez comigo? — Eu salvei a sua virtude! Por ventura a sua vida! Se eu não tivesse interferido, você não seria ainda uma virgem! E o seu precioso Magnus teria te jogado com o seu mijo da manhã! — Ele deu um passo mais perto. — Você gostaria que eu, princesa Arianrhod, tirasse o que você quase perdeu com Dag? Você então pararia de jogar a minha ajuda em minha cara? — Ele agarrou seus braços e sacudiu-a. Atordoada pela sua explosão, não conseguia se mover. — Você faria isso? Ela afastou-se para longe do seu alcance e caminhou uma distância segura. Sua pergunta mudou algo dentro dela, algo que não podia mais negar. Lentamente, ergueu o queixo. Sua raiva desvanecia-se para depois desaparecer. Como poderia estar brava com ele por salvá-la? Mas, mais do que isso, como poderia estar brava com ele por se sentir tão frustrado quanto ela? — Se pudesse, eu faria. — Arian sussurrou. Os olhos dele se estreitaram. — Você evoca pensamentos devassos das profundezas do meu ser, Stefan. Eu anseio por algo com você, que eu nunca terei com o meu marido. Mas não irei envergonhar meu pai, nem a mim, nem a Magnus. Eu não posso dar-lhe o que ambos desesperadamente queremos. Ele se aproximou, lentamente, em longas e firmes passadas. — Eu lhe pedi aqui, em particular, que não se insinuasse a mim novamente. Não chegue perto de mim, Arian, até á hora de viajar para Yorkshire, porque, eu não posso prometer que não tirarei de você o que ambos desesperadamente queremos e que você me dê livremente. Ele estava perto o suficiente para lhe tocar e, apesar de Arian saber que não devia, não pode evitar. Suavemente colocou a mão aberta contra o peito de Stefan. O baque duro do seu forte batimento cardíaco batia sob a palma de sua mão. Seu belo rosto torcido em agonia, seus 132
olhos azuis, tão cheios de fogo, implorando por aquilo que não podiam ter. — Você pode ser um homem de espada, que jurou matar os inimigos do seu rei, Stefan. Mas… — Ela aproximouse e olhou para o seu olhar faminto. ― Você é um homem nobre, de verdade e eu confio que você nunca iria me forçar. — Soltando a mão, ela recuou. Tomou um fôlego profundo, acenou com a cabeça e lentamente expeliu o ar. — Vou fazer o que você pedir, mas peço uma promessa em troca. Ele acenou a cabeça. — Prometa-me, senhor cavaleiro, que você me verá com segurança em Moorwood em Yorkshire, e lá nós nos despediremos. — Ela engoliu em seco e olhou para ele com os olhos enevoados. —Prometa-me que você não vai olhar por cima de seu ombro e eu prometo que não vou olhar sobre o meu. É o melhor para ambos. — Arian. — Stefan disse com a voz rouca e ela quase sucumbiu à dor em sua voz. Cerrando o queixo, manteve-se rígida, inabalável. Stefan agarrou as suas mãos e deixou-se cair sob um joelho. Ela prendeu a respiração e pela primeira vez em sua vida, Arian sentiu um profundo desejo desenfreado de colocar as suas próprias necessidades e desejos de lado. Levando as mãos dela aos lábios, ele beijou-as. Ela se aproximou, querendo extrair o seu poder e força. Seus braços deslizaram em volta da sua cintura e puxou-a ao seu encontro. Os dedos dela afundaram-se nos seus cabelos e encostou a cabeça dele contra o seu peito. — Stefan. — Sussurrou Arian, sua voz espelhava a mesma dor que ouviu na dele. — Eu não entendo esta coisa entre nós. Isto me aterroriza. Temo que um dia, não tenha mais forças para lutar contra isto. Ele olhou-a, seus olhos brilhavam de desejo, mas por trás do fogo ela viu a crua dor. Puxou-a para baixo até ficar sob os joelhos. Deslizando as mãos no seu cabelo, levou os lábios dela até aos seus. — Isto também me apavora. — Ele disse suavemente, baixou os lábios nos dela num profundo e apaixonado beijo que a deixou sem fôlego. Seu mundo girava fora de controle. Ela nunca quis tanto alguma coisa, como queria este homem diante dela e nunca tinha se sentido tão miserável, sabendo que ele nunca a pertenceria. Stefan separou seus lábios dos dela e de repente levantou-se, trazendo-a com ele. Ele estendeu os braços e sorriu suavemente. — Vem, minha senhora, deixemo-nos seguir nossos caminhos separados. Uma umidade quente brotou em seus olhos. Apressadamente, ela acenou com a cabeça e permitiu-lhe acompanhá-la até a sala, onde a deixou na mesa do Lorde e se afastou sem nunca olhar para trás. Nos dias seguintes, Arian apenas viu um vislumbre de Stefan enquanto visitava os estábulos, para atender a sua égua e Belenus, o garanhão que ela tinha visto nascer e criado. Para sua surpresa, encontrou amizade em lady Tarian. Foi atraída pela sagacidade daquela mulher e pela sábia administração daquela propriedade. Numa simples observação, Arian aprendeu o que nunca teve que se preocupar em aprender em Dinefwr. Lady Tarian permitiu que a acompanha-se nos tratos com os camponeses e com os muitos servos atribuídos nas funções do salão. Aquilo era o suficiente para mantê-la ocupada e para manter corpo e mente longe de Stefan.
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Oito dias depois de Gareth ter partido para Powys, ele regressou, não só com Cadoc, mas para seu prazer, com o seu irmão Rhodri e com noticias do rei galês. Rhodri entrou no salão de Draceadon como se fosse dono e senhor. Arian correu para os seus braços abertos. — Rhod! — Gritou ela. Para alguém tão jovem, seu rosto aparentava severidade para aqueles que estivessem a olhar, mas ele não conseguiu deixar de sorrir quando abraçou a irmã, levantando-a do chão. — Arian, você tirou uma dúzia de anos da minha vida! Papai está pronto para vincular. Temo que Rhiwallon tenha uma guerra de grande escala nas mãos, se o palhaço trair o grande príncipe de Dinefwr! — Então, ele concordou com os termos? — Perguntou perdendo a sua grande felicidade, quando Stefan entrou na sala seguida por Ralph e pelo seu roedor lacaio, Philip. Todos se voltaram para a sua entrada e o coração de Arian pulsava na sua garganta. — Gareth? – Chamou Stefan. — Será que Rhiwallon concorda com os nossos termos? — Orai pra que sim! – Disse Lady Tarian sem fôlego, aproximando-se para se juntar ao grupo. Num curto espaço de tempo, o salão estava aberto a todos aqueles que participavam no trato. — Rhiwallon está furioso. – Admitiu Gareth. — Mas ele cedeu, quando o jovem Rhodri chegou com um ultimato do príncipe Hylcon e de seu primo, Cynfyn, do reino do norte. Não havia inferno que pagasse. Ainda assim, o teimoso rei recusou, até que ele se sentisse seguro de que o viking enviasse uma frota de grandes navios para recuperar a sua noiva. — Arian observou o rosto de Stefan cerrar-se. Gareth sorriu. ― Claro que o informei de que William estava preparado para atravessar o Canal com dois mil homens, mais do que dispostos a violar as Marchas, se os seus homens não fossem devolvidos. — E Wulfson, Gareth, você o viu? – Exigiu Lady Tarian. O Sorriso Gareth diminuiu. — Ele está vivo; embora não da melhor forma, todos eles vão sobreviver. Lady Tarian e Stefan soltaram um suspiro de alívio. — Isso tudo parece muito fácil, Gareth. Que pressão pôs o rei galês no trato? Gareth fez uma careta. — Ele não quer apenas Lady Tarian, mas também Lady Brighid. — Não! — Exclamou Tarian. Stefan aproximou-se e apertou-a, suavemente, mas com firmeza disse: — Ele não irá prejudicar a menina. Ela sem dúvida se reunirá com o seu pai. — Ele olhou para Gareth. — Eu concordo com os seus termos. Sairemos no primeiro raiar. — Há mais uma coisa, sir. — Disse Gareth. Stefan assentiu. 134
— Ele exige ver a princesa com os seus próprios olhos antes de fazer a troca. — Ele é livre para vir a Draceadon. — Ele insiste que ela esteja presente no local da reunião. Stefan gargalhou frio e calculista. — Será que Rhiwallon pensa que eu sou imparcial? A senhora fica aqui. Está tudo em aberto, muito pode dar errado. Ele olhou para Rhodri. — Você é seu irmão? Ele acenou a cabeça, de pé e firme diante do Normando. Orgulho encheu o peito de Arian. — Sim, e vou matar qualquer homem que toque um só dedo nela. Os lábios de Stefan torceram-se num sorriso sórdido. ― Cavalgue a nossa frente e diga a sua família que viu a sua irmã com seus próprios olhos, que ela está viva e bem. Ela não vai deixar este lugar, até meus irmãos estarem livres e em segurança. Sairemos amanhã e nos encontraremos. Eu espero que você convença Rhiwallon de que ele não tem outra escolha. — Stefan aproximou-se do jovem príncipe. —Porque, se ele não concordar com os meus termos, você nunca mais irá ver a sua irmã viva de novo. Rhodri desembainhou a espada. Arian gritou, mas foi em vão. Stefan chutou o rapaz, agarrou a sua espada e apertou-a contra a garganta do irmão dela. — Não comesse uma batalha que você nunca poderá ganhar. — Stefan recuou e acenou com a espada em direção à porta. — Vai. Rhodri olhou para Arian e ela acenou a cabeça lentamente. Ele deu de cara com o seu grupo, chamando pelo seu escudeiro e seus homens, depois desapareceu através da porta de entrada. Stefan virou-se, devolveu a espada ao seu lugar e inclinou-se para Arian. – Perdoe-me, minha senhora. O que temos a discutir agora não é de nenhum interesse seu. A raiva da sua rude despedida fervia exatamente sob a pele. Altivamente ergueu o queixo, girou e virou-se para a escada larga até ao seu quarto.
Dezessete
Dois dias depois Stefan, Lady Tarian, Lady Brighid, Sir Cadoc e seus respectivos companheiros, encontravam-se no alto de um cume, com vista para uma pequena clareira na mata ao longo da espessa fronteira Galesa e Inglesa. Eles olhavam como o dragão da bandeira do rei galês, Rhiwallon, rompia a densa floresta, vindos de Gales e por trás deles um batalhão de soldados com suas montarias. Rhodri de Dinefwr também cavalgava com eles. O coração de Stefan pulsou forte de felicidade, ao ver os seus irmãos surgirem sob a pesada guarda, as mãos deles estavam amarradas atrás das costas, os cavalos amarrados em um comboio — cada um em seus próprios cavalos — aparentando o que uma boa noite de sono e uma refeição quente não pudessem curar.
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— Meu amor. ― Disse Tarian suavemente, quando se inclinou para frente em sua sela para ver o marido, Lorde Wulfson, liderando o grupo. — Ele vive. — Disse entre lágrimas. Stefan assentiu. — Sim, Rhiwallon não é tolo. Se ele os tivesse prejudicado, teria que enfrentar William aqui ou no inferno. Stefan deu o sinal para seus homens o seguirem e, com muito cuidado, eles desceram pelo caminho da encosta íngreme. Stefan sentiu a emoção de Tarian ao seu lado quando eles se aproximaram. — Firme, minha senhora. Firme. — Advertiu ele. Com apenas trinta passos separados do outro lado, Stefan falou para Morgan, capitão de Rhiwallon. ― Então nos encontramos novamente, Morgan. O galês assentiu. — Temo Sir Stefan, que não será a última vez. — Reze para que sim. — Disse Stefan, enquanto instigava a sua montaria para mais perto. Fez contato visual com Wulfson primeiro e viu fúria selvagem em seus olhos. Ele saberia que Tarian seria trocada por ele e pelos seus irmãos? Próximo a ele estava Rorick, cujos lábios torciam-se num sorriso. A seguir Ioan, o grande irlandês, estóico como sempre, Warner que acenou a cabeça e Rohan, cuja mandíbula se contorcia em raiva. Finalmente, ele olhou para Thorin, que se sentava altivamente sobre a maioria deles, olhava atentamente e com calma através dos seus olhos claros. Apenas Rhys estava ausente, o que abalou as entranhas de Stefan. Será que ele se tinha ido? Eles eram como uma mão sem um dedo. Stefan olhou para Gareth, que acompanhava Lady Brighid do outro lado. Quando Gareth ia escoltar Tarian, Wulfson gritou: — Não! Ela não é parte do negócio. Imediatamente Tarian foi cercada por galeses armados e se moveram para longe. — Wulfson!— chorou Tarian valentemente tentando manter a compostura. – Isto é só até você entregar a princesa ao seu noivo. — Não! — Ele rugiu e instigou o seu cavalo para frente. Morgan desembainhou a sua espada, apoiado por vários outros. Stefan esporeou o seu corcel e se colocou no meio do furioso normando e do capitão do rei. Ele agarrou as rédeas do cavalo de Wulf e o puxou firme, trazendo para o pé dele. ― Pense homem. — Stefan sussurrou no ouvido de seu amigo. — Rhiwallon não vai magoá-la com medo de retaliação! Deixe comigo agora, para que todos possam viver amanhã! Morgan sorriu um sorriso desagradável. — Vocês todos podem ir, mas levaremos o Viking conosco. — Não, isso não faz parte do acordo. ― Disse Stefan ameaçadoramente. — Rhiwallon insiste. Caso Wulfson cair, não haverá urgência de realizar a troca e voltar pela sua senhora. Thorin é parente, não só de Olaf, mas irmão de sangue de todos vocês. Para ele, qualquer um de vocês que viver verá a troca ser feita para salvar sua pele. — Eu vou ficar Stefan, e olhar pelas damas. — A voz profunda de Thorin, ressoava sobre todos eles. Irritado, Stefan olhou para Morgan e assentiu. Um homem cortou a corda do cavalo de Thorin ao de Rohan e puxou-o para dentro da espessa proteção de soldados.
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Morgan apontou para outro homem, que cutucou o cavalo para frente e deixou cair uma grande mochila no chão, ela tiniu quando bateu. — Suas espadas. — Disse Morgan. Ele olhou para Rhodri. — Você é livre de voltar com a gente. Rhodri cuspiu e esporeou o cavalo em direção a Stefan, passando ao lado dele; seu grupo de homens seguiu o seu exemplo. Morgan zombou com desprezo de todos eles, freou seu cavalo e trovejou pelo bosque com os seus homens a seguirem-no, envolvendo Tarian, Brighid, e Thorin. — Eu vou matá-lo! — Wulfson gritou para o vento. — Eu vou matá-lo! O coração de Stefan apertou-se por seu amigo. Estava começando a entender o que ele devia sentir. Sentiria o mesmo em breve, quando Arian se casasse com Magnus. Habilmente, Stefan desmontou e cortou todas as cordas que os prendiam. Ele entregou a cada irmão as suas espadas, para depois montar novamente. —Venham, vamos para Draceadon. Vou explicar tudo no caminho. — Explique agora porque minha esposa está nas mãos do vira lata de Rhiwallon! Stefan acenou a seus irmãos e enquanto eles circulavam em torno dele, não pode conter um sorriso. — Eu não posso explicar a minha alegria. Eu me preocupei com vocês, como uma leiteira, nestas últimas semanas. — Sim, nós pensávamos que você estava morto no campo, Stefan. – Disse Rorick severamente. — Onde está o jovem Rhys? — Rohan exigiu. — E por que você monta o seu cavalo? — Temo que ele esteja morto em Hereford. Seu cavalo encontrou-me, enquanto eu jazia ferido e eu o procurei pelo campo. Foi ai que ouvi um galês falar da captura de vocês. Uma vez que me senti capaz de cavalgar deparei-me com a filha do príncipe Hylcon de Dinefwr, que ia ao encontro de um nobre nórdico para casar. — Stefan sorriu. — Eu vi uma oportunidade e tomei-a. Ela por vocês seis, mas antes de Rhiwallon libertar Tarian, devemos entregar a princesa a Moorwood, sul de York, para o seu noivo. — Tarian, a menina e agora Thorin, são a garantia de que a princesa é levada com segurança e sem a exigência de outro resgate? — Wulfson perguntou. — Sim, Wulf, essa é a ideia da sua senhora. Embora eu discutisse com ela, fazia sentido. Rhiwallon levar Lady Brighid também foi uma surpresa, mas compreensível. Alewith sem duvida quer brincar com os gauleses e com aquele patife Edric. Wulfson pareceu perder um pouco da sua ira, mas aparentava como se não tivesse tido uma noite de sono decente nas últimas semanas. – Então nos deixe levar essa sua princesa para York! Eu tenho saudades da minha esposa! Os Espadas de Sangue unidos, exceto por dois, penetraram na densa floresta para Draceadon. Wulfson recusou-se há esperar um dia para partir até Yorkshire. Stefan compreendeu sua urgência, embora não sentisse aquilo. Quanto mais cedo eles chegassem á zona oeste da 137
ilha, mais cedo se afastaria de Arian e sem olhar para trás. A realidade de nunca mais vê-la começou a roer as suas entranhas. Mas Wulf foi inflexível e Stefan não podia discutir. Os homens, embora cansados e com fome, estavam prontos para a viagem. Quando entraram no salão, Stefan correu direto para o calabouço. O cheiro úmido de urina e fezes que sempre penetravam o inferno agrediu as suas narinas, como quando há meses atrás, Wulfson tinha resgatado lady Tarian do mesmo lugar. Mas desta vez, embora uma princesa fosse mantida dentro das paredes da fortaleza, aquilo não era para mantê-la prisioneira, mas para mantê-la a salvo. Segura da própria espécie dele. Ele pegou uma tocha da arandela e enfiou a chave na fechadura, depois, desceu os degraus lisos com rapidez. Quando se aproximou da cela onde Arian estava, se deparou com um brilho feroz. Enfrentou aquele olhar e rapidamente abriu a porta. — Minha senhora? Ela perseguia-o sem dizer uma única palavra, regiamente atravessou o centro da cisterna e caminhou lentamente até as escadas. Ele amaldiçoou-a e seguiu-a, dando-lhe luz para que ela não caísse e quebrasse o seu pescoço. A aia Jane encontrou-se com eles no topo das escadas, com as mãos num nervoso miudinho. — Minha senhora? Como esta? — Eu estou bem, Jane, prepare-me um banho. — Disse Arian firmemente, enquanto passava por ela e entrava no corredor. Stefan olhou para a aia. Ele não esperava a suavidade neles. Ela acenou a cabeça e disse. — Foi bom tê-la mantido a sete chaves como fez sir, Sir Philip tentou tudo, mas cavou o castelo para chegar até ela. Stefan assentiu. — Eu confiei a outra chave ao Padre Dudley para libertá-la, caso eu não voltasse hoje. Novamente, a criada acenou a cabeça. — Meus agradecimentos, sir. — Ela apressou-se a partir depois. Lentamente, Stefan seguiu caminho até a sala, para encontrar seus irmãos sentados à mesa do Lorde, comendo e fazendo planos. —Stefan!— Ioan explodiu, levantando um odre de vinho. — Os nossos agradecimentos! Os outros se juntaram, mesmo Wulfson, levantando seus copos, gritando os seus agradecimentos. Stefan fez uma careta, mas se aproximou. Quando suas vozes cessaram Warner perguntou. — O que o remoí, além do óbvio, irmão? Stefan serviu-se de uma taça cheia de vinho. – Foram os meus erros que causaram a captura de vocês e morte de Rhys. O que há para agradecer? — Como um homem pode ser responsável por essa chacina? – Exigiu Rorick solenemente. — Nós estávamos em desvantagem, oito para um e, embora os Espadas de Sangue sejam os guerreiros mais poderosos do reino, nós ainda temos as nossas limitações. Sobreviver é o nosso verdadeiro testamento para a nossa habilidade! 138
Warner tomou um longo gole de seu vinho e disse: — Se você não criasse um plano tão ardiloso com os arqueiros no campo, todos nós estaríamos queimando no inferno neste exato momento! Rohan bateu nas costas de Stefan. — Vamos encontrar Rhys. Meu instinto me diz que o rapaz está deitado na cama de alguma criada, enquanto ela esbanja sua atenção com ele. Ele vai ordenhá-la enquanto poder, em seguida, retornar para nós. Não tenho nenhuma dúvida! Apesar de seu humor negro, Stefan sorriu para a imagem do jovem cavaleiro deitado na cama com uma bonita criada sobre ele, cacarejando como uma mãe galinha sobre seus filhotes. Sim, ele aceitaria suas atenções, até se sentir bem o suficiente para viajar. Ele olhou para Wulfson, que olhava para os seus pés. Uma emoção que não pode colocar nome obstruiu sua garganta. Ele limpou-a e suavemente disse. — Wulf, nem que seja a última coisa que eu faça, irei devolver sua mulher a você. Os profundos olhos verdes do seu irmão se levantaram para os seus. Lentamente, ele acenou a cabeça. — Eu não tenho dúvida, mas a segurança dela é da minha responsabilidade. Eu não vou deixar que a me tirem. — Vamos cavalgar duro a cada dia, Wulf. ― Disse Stefan. — Com o grande contingente de homens e em um espetáculo de armas, ninguém ousará aborda-nos ao longo do caminho. Após a chegada do nobre os votos serão ditos. Acompanhado pelo jovem príncipe Rhodri, para testemunhar o casamento, você vai cavalgar para Rhiwallon. Enviarei as notícias a William, ele enviará mais homens para nos acompanhar. — Eu não confio em Rhiwallon. — Wulfson rangeu. — Ele sorri como uma raposa depois de engolir a galinha. — Ele não é tolo. — Disse Ioan. — Ele não vai perder tudo só para ferir William. Warner se levantou e ergueu a taça. — Para encontrar Rhys vivo e bem nos braços de uma criada! Para Lady Tarian voltar e acalmar o lobo selvagem e o regresso do nosso irmão, Thorin, que se não fosse pela sua sábia orientação estaríamos todos enterrados! Sombriamente os Espadas de Sangue levantaram os seus copos e beberam. Arian foi despertada antes do amanhecer para preparar-se e para fazer o seu comboio. Eles partiriam para Yorkshire depois do desjejum. Pouco tempo depois, quando ela desceu para o salão, vestida para a viagem, encontrou a sala num borrão selvagem de atividades. Tirando vantagem do caos, deslizou do salão para o estábulo, onde encontrou o escudeiro de Cadoc preparando a sua égua Fahadda. — Eu a prepararei, escudeiro. Encontre outra ocupação. — Ordenou Arian. O menino curvou-se e apressou-se para fora do estábulo. Ela olhou para a baia ao lado e reconheceu a besta negra de Stefan. Ele balançou a grande cabeça negra e cheirou-a, como se estivesse a rir. — Você não acharia tão engraçado que eu estivesse capando você! — Ela sussurrou. — Rezo pra que não o faça, Minha Senhora. ― disse Stefan atrás dela. ― Ele perderia o seu fogo para a batalha. Embora se debatesse, seu corpo instantaneamente aqueceu e suas mãos tremiam.
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Lentamente, virou-se e encarou-o. Estava perto. Tão perto que ela podia ver os raios de prata em seus brilhantes olhos azuis. Tão perto que podia sentir o seu cheiro. Tão perto que podia sentir a sua respiração quente na sua face. — É sede de batalha tudo que o impulsiona? Será que ele não olha em frente, para os pastos verdes, com uma égua e potros e viver os seus dias em harmonia? Stefan bufou. — Ele é um cavalo! Arian virou de Stefan para Fahadda. Alisando por baixo do pescoço elegante da sua égua. — É um cavalo, é verdade, mas quando estiver velho e quebrado por causa das muitas batalhas, o que será dele? Será que vai ser morto e usado como carne de cachorro? Stefan pressionou perto de suas costas. — Ele é um garanhão muito bom, com uma longa linhagem nobre, ele vai procriar muitos como ele. —Aproximou-se, Stefan colocou a sua mão sobre a dela, que continuava no pescoço da égua. O contato era quente e rachou como um relâmpago entre eles. — Ele irá acasalar com éguas como a sua Fahadda, pode ter certeza. Ela é nobre, poderosa e forte. Eles produziriam uma grande linhagem de gerações vindouras. Arian ficou perfeitamente imóvel, enquanto as emoções corriam desenfreadas com o pensamento de uma criança de Stefan. Ele também seria nobre, poderoso e forte. Lentamente, virou-se para enfrentá-lo, prendendo a respiração com medo que ele pudesse pressioná-la, mas seu medo maior era o dela de consentir. — Quando os seus dias de batalha ficar para trás, Stefan, será que você veria um pasto verde e começaria o seu legado? Ele deslizou os dedos ao longo da sua face. — Não. Estarei muito velho e quebrado para oferecer conforto a qualquer mulher. Minha vida é na sela. — Mas, existe terra para se ter! — Sim, existe, mas não tenho nome e não tenho família. — Mas Stefan! Você poderia construir a sua linhagem. Uma linhagem orgulhosa e poderosa. Porque você não escolhe isso? Ele fez uma careta, largou sua mão e afastou-se dela. — Eu não seria o conforto de uma mulher ou criança. Eu sou um homem solitário. Mesmo entre os Espadas de Sangue, eu me encontro do lado de fora olhando para dentro. Isto não é vida para compartilhar com qualquer mulher. Uma profunda tristeza por aquele homem, um bom homem que arriscou tudo para salvar seus irmãos, tomou o coração de Arian. — Você faz a si mesmo uma desonra grave, sir. É mais digno do que pensa. Seus olhos se estreitaram e sua cabeça voltou-se. — Você entendeu mal, princesa. Eu sou digno de muitas coisas, mas não sou tão arrogante para pensar que, o que tenho para oferecer a uma mulher seria o suficiente para mantê-la satisfeita. As mulheres querem um marido nobre, riqueza, terras e status. Não um mero soldado, que daria a vida pelo seu verdadeiro amor. Mesmo você, querida princesa, deixou claro que, como realeza, você se casaria com apenas um do seu próprio status e desprezaria todos os outros. — Não! Isso não é verdade! 140
— É, e eu não colocarei isso contra você. Você é quem é, como, eu sou quem sou. Há muito tempo que aceitei a minha sorte na vida. Você deve fazer o mesmo. Ele afastou-se dela e entrou na baia ao lado, levando o seu cavalo e deixando Arian sozinha num silêncio atordoante. Com cada momento passado, ela percebeu que ele falava a verdade. E isso era horrível. Se ela fosse livre para casar com qualquer homem, nunca olharia para alguém inferior ao seu status. E isso a deixou muito triste, porque achava que era mais digna do que isso. Nunca pensou em si mesma como sendo outra senhora nobre da corte, que andavam pelos corredores com os seus narizes tão erguidos no ar, que não poderiam ver os seus rostos. Mas nas últimas semanas, percebeu que havia mais caráter em um homem diferente de sua linhagem. E apesar de Stefan de Valrey, ter nascido bastardo e crescido como um, era um homem que estava acima de todos os outros aos seus olhos. Ela desejava lhe contar os seus sentimentos, mas não podia. Virou-se para a égua e preparou-a para a viagem.
Dezoito
Enquanto cavalgavam pela estrada, Arian sentia um nervosismo que não podia explicar. Não era o medo de estar acompanhada por cavaleiros impressionantes, nem o medo do que estava por vir. Não tinha motivos para temer seu noivo. Magnus era um homem bom, que tinha o respeito de seu rei e de seus vassalos. Era um homem que ela poderia se sentir orgulhosa por ter ao seu lado. Mas era o outro, Stefan de Valrey, que lhe causava tal tormento. Sua presença fazia o seu ventre tremer descontroladamente, seu coração apertar e seu sangue aquecer. Olhou para o homem que ia à sua frente e que tinha mudado muito o seu ser. A menina boba que achava que a vida era trivial e cheia de festas, se tinha ido. A menina que não tinha consideração pela responsabilidade da qual tinha nascido, também se tinha ido. E a 141
menina que prometeu nunca abrir seu coração para tê-lo quebrado, também se tinha ido. Se fosse honesta consigo mesma, sentiria mais do que admiração pelo orgulhoso cavaleiro. Arian tinha plena consciência do vínculo especial que Stefan compartilhava com seus homens e, embora se sentisse um estranho entre eles, não era. A ligação entre eles era completa. Inabalável como a terra sólida. Estava relaxado e agradável na presença deles. Só quando Ralph ou Philip interferiam numa conversa é que a sua reticência voltava. Entendeu seu amor por seus irmãos e, além disso, a sua determinação para libertá-los. Na primeira noite na estrada, debaixo da tenda luxuosa de Dinefwr, Arian olhava para Stefan relaxar-se contra a sela e levar uma taça aos lábios. Sir Wulfson disse alguma coisa e Stefan jogou a cabeça para trás e riu. Seu desejo cresceu mais fundo. Embora ele tivesse feito todo o esforço para ver se o comboio estava protegido e que ela estava confortável, não fez mais nada. Manteve a distância. E quando ela entendeu, não gostou nada disso. Quando levantaram o acampamento no dia seguinte, Arian fez várias tentativas de aproximar a sua égua até Stefan, mas ele estava sempre fora do seu alcance. Quando o dia se aproximava do fim, os cavaleiros à frente fizeram uma paragem brusca. Estimulou sua montaria para frente, apesar de Cadoc e Rhodri a chamarem de volta. Seu sangue coalhou com a visão à sua frente. O cavaleiro, que tinha ido naquela manhã explorar a mansão onde iriam passar a noite, jazia morto de costas na estrada, uma espada com o dragão vermelho e dourado da bandeira da casa de Godwinson, chicotavam com o vento forte, insultando todos os que vissem. Stefan desmontou ao lado do normando morto e pegou na espada. Arrancou a bandeira e atirou-a ao chão. Virando-se para seus homens, ele disse baixinho: — Eu tive a minha dose de saxões indisciplinado. A partir deste momento, qualquer homem, mulher ou criança que estiver no nosso caminho deve ser cortado na altura dos joelhos. Olhou duro para Arian antes de passar por ela e se dirigir para seu irmão e para Cadoc. Ele disse ao seu escudeiro: — Enterre-o. — O jovem correu para realizar a tarefa. — Aperte os flancos. – Aclamou, indo para junto de Ralph e Philip, e em seguida disse aos seus homens: — Vamos parar na primeira mansão que aparecer e que Deus os ajude caso se recusem a oferecer estadia. Assim que o sol se pôs, uma impressionante mansão de madeira e de pedra rosa apareceu à frente deles. Arian suspirou de alívio, momentos mais tarde, depois de Stefan e alguns dos seus homens terem invadido o local e os moradores terem fugido. Stefan caminhou até Arian e entregou-lhe um arco curto. ― Estamos em Worthington. Seu alojamento para esta noite, princesa. — Virou-se e foi embora. Seu mau humor irritou seus nervos ‘a flor da pele’. Mas, permitiu que seu irmão a ajuda-se a desmontar e a acompanhá-la pela mansão. Numa forte onda de admiração, ela parou na soleira. Em todos os cômodos, era uma réplica exata do alojamento onde esteve cativa, e onde passou um tempo com intimidade. Sua pele se aqueceu só com a lembrança. Calor espalhou-se por todo o rosto até ao peito. Poderia muito bem entender o humor de Stefan. Depois de instalada em seu pequeno, mas confortável quarto, Arian voltou para a sala principal e ficou surpresa ao ver a grande mesa rodeada por cavaleiros. Quando entrou na sala, Stefan levantou-se e os outros fizeram o mesmo. Cutucou Wulfson de lado para que assim 142
pudesse ter um lugar para ela. Sorriu e sentou-se, mas não antes de dizer: — É costume dos nobres sentarem-se primeiro. Ele fez uma careta. — Aqui somos iguais. Arian não discutiu e procurou seu irmão. — Está com… uma prostituta. — Murmurou Stefan. — Eu detectei uma nota de inveja em seu tom, Sir Stefan. Olhos azuis perfuraram dentro dela. — Sim, seria onde encontraria a liberdade que tanto desejo. Meu humor seria aliviado. Arian respirou fundo e lentamente expeliu. – Porque você se senta aqui, então, quando existem coxas inglesas á espera? salão.
Stefan assentiu e se levantou. — Sim, por que não. — Então apressou-se a sair do
Quando a porta bateu atrás dele, Arian virou-se para encontrar os olhos dos irmãos a olharem solenemente para ela. — Eu peço em nome de todos nós, lady Arian, que você liberte Stefan. — Disse Rorick cuidadosamente. — Libertá-lo? — Arian perguntou confusa. — Mas não há laços nos unindo! Seus profundos olhos da cor do mar se estreitaram, enquanto lutava para controlar as suas próximas palavras. ― Por invisíveis que sejam os laços são fortes. Separe-se, case com o seu nobre e deixe o meu irmão recuperar seu coração. Ele sofreu mais do que você jamais saberá. Não quero vê-lo sofrer mais. Ela olhou para cada um deles e viu o mesmo olhar fechado. Entendeu claramente: ela era o inimigo. ―Eu… eu não sei o que dizer a vocês, senhores. Estou no meu caminho para casar. O coração de Stefan é livre. Eu não tenho controle sobre ele. — Você tem! – Revelou Rorick. E inclinou-se mais perto. — Ele não será bom para ninguém, enquanto você o levar pela coleira da esperança. Separe-se dele e em definitivo. — Seus olhos se estreitaram em fendas. — Ou eu o faço. — Você está me ameaçando? — Não, não estou. Não vou brigar com você. Afirmo apenas que, se você não cortar os laços, eu mesmo farei isso. Sentindo-se como um veado preso entre dois arcos, Arian defendeu-se. — Stefan é dono do seu próprio coração e mente. Ele entende que estou prometida a outro, tal como eu entendo que ele é casado com o rei. — Então deixe isso claro. — Disse Rorick. Tremendo de raiva, Arian levantou-se mal tendo tocado na sua refeição. Como ousava ameaçá-la? Será que esperavam que mentisse para Stefan e lhe dissesse que não se importava mais com ele? Não poderia fazer isso, muito 143
menos ele poderia dizer isso a ela. Tais palavras cruéis partiria seu coração. Mas então… então poderia virar toda a atenção para o seu noivo... e não ansiar por algo que nunca poderia ter. Forçou-se a olhar para frente e não para trás. Seus ombros caíram. Aquilo iria despedaçá-la e magoar Stefan. Mas também libertá-lo. — Desculpe-me. — Lentamente seguiu pelo corredor. Quando entrou no quarto, Jane ergueu os seus profundos olhos castanhos da costura e Arian soube que iria ver seu desgosto. Caiu de joelhos aos pés de Jane. — Depois de todos estes anos, Jane, eu começo a compreender a mágoa de meu pai. Um baque surdo, seguido de raspagem de metal, despertou o sono de Arian. Levantou-se da cama, Jane protegendo-a da invasão. Vozes profundas em francês e em inglês entravam em confronto no salão. A voz de Stefan estava perto, apenas do outro lado da porta. Arian passou por trás de Jane e pegou sua curta adaga sobre a mesa lateral. Segurando-a contra o peito, andou até a porta. — Não, Minha Senhora! É muito perigoso! — Jane chorou. O choque de aço contra aço contava a história do que se passava do outro lado. Mais vozes saxãs entraram na batalha. Pavor encheu o coração de Arian. Eles estavam sob ataque! Será que Stefan lutava sozinho? Onde estavam os Espadas de Sangue? Destrancou e abriu a porta. Stefan tropeçou para trás, lutando contra dois espadachins saxões. Arian saltou para trás e viu horrorizada como Stefan perdia terreno a cada centímetro do ataque bruto. Não ousou gritar para não distraí-lo. Mais sons de luta vinham do salão e Arian percebeu que estavam sendo atacados por todos os lados. Os dois homens tinham encurralado Stefan em um canto, quando um terceiro homem entrou no quarto. Congelada com medo e sem saber o que fazer, Arian ficou rígida no lugar onde estava. Mal conseguia distinguir a figura larga de Stefan por trás dos três homens. Ele perdeu mais terreno. Quando caiu sobre um joelho, rechaçando as investidas violentas das três espadas, Arian vociferou. — Não! – Gritou, saltando na direção do homem mais próximo, que se virou surpreso. Mergulhou fundo o seu punhal no peito dele. Os outros dois distraíram-se tempo suficiente para Stefan atacar um com a espada e chutar a outro para frente. Arian puxou a adaga do homem morto e apontou-a para o outro homem, a fim de o ver no inferno. Mas Stefan fez a honra. Ele golpeou-o nas costas com a espada, detendo os passos do homem. Seus olhos moribundos arregalaram-se e numa queda lenta caiu no chão morto. Stefan passou por cima da carnificina e empurrou-a para a cama. — Fique aqui. Não saia desta sala! — Então foi embora batendo a porta atrás dele. Jane trancou a porta. Arian permaneceu em silêncio atordoada, a adaga sangrenta em sua mão e olhou horrorizada para os três homens mortos no chão. — Eu matei um homem, Jane. — Ela sussurrou. — Eu tomei uma vida. Com a aquela realidade horrível, que lhe roubava o ar do peito, Arian soube que ela faria aquilo umas cem vezes mais para salvar a vida do homem que amava. Enquanto Stefan corria pelo pequeno salão, encontrou os olhares frios de seus homens e um piso coberto de corpos. Fúria fervilhava nas suas entranhas. — Como eles conseguiram entrar? — Perguntou para Ralph, que montava guarda na porta principal da mansão. 144
Ralph apontou com a espada sangrenta um buraco no chão, perto do pequeno corredor que levava para o quarto onde Arian dormia. — Uma passagem secreta? Por que não foi descoberto quando nós verificamos o salão? Rorick limpou o sangue da sua espada numa túnica de um dos saxões mortos, em seguida, olhou para Ralph. — Da próxima vez não vamos deixar a tarefa para os incompetentes. Wulfson atravessou a porta, seguido por Warner e Ioan. — Havia pelo menos trinta deles. Os estábulos seguem molhados com sangue. Rhodri irrompeu por detrás deles. — O que se passa aqui? Stefan rosnou: — Se você não estivesse tão empenhado em repovoar a ilha, você saberia que nós fomos atacados! — Arian? — Ele exclamou, passando por Stefan, que o agarrou pelo braço impedindoo. O jovem puxou o seu braço do aperto do normando. — Ela está segura em seu quarto. Mais ou menos. Rhodri olhou para Stefan com raiva no rosto. — Ela não estaria em tal perigo, se você não a tivesse sequestrado para seu próprio ganho! Stefan virou-se para o jovem. — Gostaria que ela tivesse sido estuprada, então? Gostaria de tê-la de volta em sua casa com a vergonha, porque ela não era mais virgem e as suas hipóteses de um casamento real se fossem? — Ele aproximou-se do arrivista. — Será que você, príncipe Rhodri, teria-a perdoado por aquilo que ela não teve controle? O jovem ficou de pé, num silêncio furioso. — Ela é minha irmã! Eu teria ficado ao seu lado, acontecesse o que tivesse que acontecido. — Você tem uma maneira estranha de mostrar a sua lealdade, rapaz. Se você não estivesse tão encantado com a criada, você estaria dormindo na palheta em frente á sua porta, não eu. — Ele acariciou o punho da espada. – Por ventura, foi melhor você não estar lá. Duvido que estivesse vivo. Rhodri desembainhou a sua espada, mas antes que estivesse totalmente fora de sua bainha, os Espadas de Sangue, com a exceção de Stefan, moveram-se sobre ele. Stefan sorriu e caminhou até a ponta afiada da lâmina de Rhodri. — Você me desafia? — Sim! Eu desafio. Stefan jogou a cabeça para trás e riu. Num movimento rápido, que ninguém esperava, atirou o braço forte contra a lâmina e deu-lhe meia volta, chutando o jovem príncipe que caiu no chão nu. Apanhou a espada, antes de cair, e pisou no peito do rapaz levando a lâmina á sua garganta, pressionando na veia principal. – Eu recuso-me a lutar contra um adversário desarmado. — Stefan deixou a espada cair ao lado da cabeça de Rhodri. Voltando-se para os seus homens, disse: — Vamos limpar esta bagunça e prepararmo-nos para sair á primeira luz do dia. Virou-se e caminhou pelo corredor até Arian. Bateu na porta. – É Stefan.
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A porta abriu-se e em um pulo, ela se jogou em seus braços. Por um momento tenso, ficou quieto, mas não pôde resistir á suavidade quente de seu corpo. Seus braços deslizaram em volta da cintura dela e suavemente prendeu-a contra o seu peito. Algo quente e maravilhoso preencheu seu estômago. Ela agarrou-se a ele e seus braços a prenderam. Apertou os lábios nos cabelos dela, inalando o cheiro do seu perfume floral. — Já passou o perigo, Arian. Você está segura. Seu corpo estremeceu em seus braços. – Stefan. — Disse ela com lágrimas obstruindo a garganta. – Eu… eu matei um homem. Afastou o cabelo do rosto e empurrou a cabeça dela ligeiramente para trás, para que pudesse olhar em seus olhos. — Os meus agradecimentos. Se não fosse você, seria ele que estaria aqui parado com você em seus braços, não eu. — Olhou para o chão, onde os mortos estavam esparramados sobre a poça sangrenta, então olhou de volta para os profundos olhos prateados. Baixando seus lábios para o rosto dela, beijou suas lágrimas, para depois, beijá-la nos lábios úmidos, puxando-a mais contra ele. Emoção cresceu em seu peito, obstruindo a garganta, o que se tornou difícil de respirar. ― Venha. — Disse com os seus lábios pairando acima dos dela. — Vamos deixar os meus homens limparem os corpos. Quando voltou com ela nos braços, Wulfson e Rorick ficaram olhando em silêncio. Nenhum parecia satisfeito com sua aproximação da princesa. Franziu o cenho, estreitando os olhos, desafiando qualquer um deles a dizer uma palavra. Guiou-a, passando por todos eles, até aos degraus da frente da mansão, onde a sentou num banco. Calmamente ela respirou o ar fresco. Suas mãos tremiam, assim como seus ombros. Depois de vários longos momentos, olhou para ele, seus olhos brilhando como o aço. A menina apavorada tinha ido embora, no seu lugar ficou uma mulher furiosa. — Quem eram e como conseguiram acesso à mansão? Não ligando ao seu tom de voz ríspido, ele fez uma careta. ― Ao lado do bosque, existe um alçapão com um túnel, que conduz ao corredor do lado de fora de sua porta. — Porque não havia um guarda postado na minha porta? — Eu dormia na soleira da porta, princesa. Eles eram silenciosos e mortais. Dois caíram em cima de mim, antes de ouvir algum som. — Porque você dormia se suspeitava de problemas? — Sou humano. — Você deu a sua palavra de que me levaria para Yorkshire! Eu quase morri esta noite! Por causa da sua negligência fui obrigada a tirar a vida de um homem! — Levantou-se e começou a andar na frente dele. Confuso pela mudança repentina de seu humor e de seu ataque sobre ele, por ter-lhe salvado a vida mais uma vez, Stefan atacou. — Mais uma vez, você me castiga por salvar a sua pele. Se sua vida é tão sem importância para você, então para mim também o é. — Ele curvouse bruscamente. — Encontre outro campeão, princesa Arian, um que não se importe com as suas constantes acusações e provocações. Estou farto de você. — Não! Eu estou farta de você! Você me seduziu com as suas palavras galantes e corteses, de todos os modos, na esperança de arruinar-me! Eu tenho sido cega às suas 146
maneiras, pensando realmente que me tinha em alta estima. Fique longe de mim, Stefan de Valrey, você está abaixo da minha posição e não é digno do meu tempo! Atônito com as suas duras palavras, Stefan viu-a se virar para longe dele e caminhar a passos largos de volta para a mansão, passando por seus homens. Arian correu de volta para o seu quarto. Lágrimas cegavam seus olhos. Seu coração estava partido em mil pedaços. De repente esbarrou-se contra um muro. Mãos ásperas agarraram os seus braços, impedindo-a de cair. Olhou para os olhos penetrantes de Sir Rorick. — Eu fiz o que você pediu! — Arrancou-se das mãos dele e continuou a correr. Arian explodiu para dentro do quarto, batendo a porta e pressionou as costas contra ela. Seu olhar encontrou os de Jane, enquanto esta jogava um pano ensanguentado em um balde ― as evidências dos acontecimentos recentes. — Jane! – Chorou Arian. — Jane, eu sou fraca como o meu pai. Eu fiz o que eu jurei nunca fazer! E agora meu coração está partido e não há nada que eu possa fazer para impedilo! Jane lavou as mãos num balde de água limpa e depois limpou-as. A velha senhora, corcunda pela idade, dirigiu-se para a cabeceira e alisou o cabelo de Arian, afastando os fios da face molhada. — Quando você nasceu sua mãe estava delirando de alegria. Ela tinha perdido seis filhas antes de você chegar. Eu sabia que, antes de você saudar o mundo, Branwen nos deixaria nesse dia. Ela também sabia querida, e ela foi corajosa. Ela amava você com todo o o coração e ela sabia que nunca iria vê-la crescer e se tornar na beldade que você é hoje. Arian olhou para a mulher idosa com os seus olhos cheios de lágrimas. Jane sorriu tristemente. — Hylcon ficou devastado. Ele se recusou a permitir que qualquer pessoa chegasse perto de seu corpo por quase uma semana depois que ela morreu. Ele até recusou-se a vê-la enterrada. Em vez disso, ele fugiu. Ele esteve fora por quase um ano. O coração de Arian se apertou de tal forma que mal conseguia respirar. Agora sabia como seu pai se sentia. Quando pensou que Stefan iria morrer diante de seus olhos, Arian percebeu que o sentimento que sentia por ele, era muito mais forte do que suspeitava. Era amor. Puro, simples e inabalável. — O príncipe Hylcon fez uma grave injustiça ao seu povo ao partir e, embora tivesse voltado em corpo, seu espírito nunca retornou. Ele foi forçado a casar-se com Morwena e gerar um herdeiro. Na manhã em que ela anunciou que estava grávida, ele nunca mais pôs os pés em seu quarto. Nós todos sofremos com o seu coração partido. Jane puxou Arian para os seus braços finos. — Não sigas o seu legado. Case-se com o nobre, tenha crianças, torne-se numa grande dama. Dê-lhe tudo o que você pode dar e saiba que um pequeno pedaço de seu coração pertencerá a outro. Mas não uive para a lua, não negligencie ao dever pelo qual você nasceu. Você é uma princesa, Arian, e você têm muito para dar ao seu povo. As palavras de Jane, embora destinadas a dar-lhe ânimo, fizeram o oposto. Era com Stefan com quem desejava se casar. Era Stefan quem mais queria, acima de todos os outros homens.
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— Você é jovem. Você tem uma vida inteira para se apaixonar por seu marido. Mas deve estar disponível, Arian. Feche o seu coração a ele e nenhum de vocês vai encontrar alegria na união. Arian caiu contra a mulher, não querendo admitir a verdade. — Jane, deixe-me dormir. — Arian fechou os olhos. — Deixe-me dormir. — Gentilmente, a aia deitou-a e depois a cobriu até o queixo. luz.
— Durma querida. Amanhã o sol irá brilhar e você vai ver o mundo com uma brilhante
Arian acenou com a cabeça sabendo que, enquanto pudesse respirar, seu mundo seria escuro sem Stefan ao seu lado.
Dois dias depois, se encontravam à margem de Yorkshire e a dois dias de Moorwood para sudeste. Ao longo da estrada de carroças, repetidamente se encontravam com saxões carrancudos e, em três ocasiões diferentes, encontraram-se destinados a receber frutas e legumes podres lançados das densas florestas. Os normandos não fizeram nada para evitar disputas, na verdade pareciam que viviam para eles. Voavam arrogantemente com a sua bandeira preta, com um crânio e uma espada sangrenta, por baixo dos dois leões da bandeira do Conquistador. A notícia do massacre em Worthington os precedia e, pela primeira vez, Arian se sentiu feliz por estar sob a proteção dos normandos. Mas a cada passo a leste, o coração se despedaçava mais. O pensamento de nunca mais ver Stefan, comia por dentro a cada passo de seu cavalo. Desde que o tinha insultado daquela forma, Stefan nem sequer olhava para ela. A tensão entre os homens era palpável, e ninguém, nem mesmo os seus irmãos, podiam com o seu humor negro. Ele cavalgava firme desde o nascer do sol até ao poente deste, desafiando qualquer um a intrometer-se. No que era o seu último dia, um batedor com uma escolta armada foi despachado para Moorwood. Enquanto Arian via os elmos dos cavaleiros desaparecendo atrás de uma colina, trepidação corria acentuadamente á sua volta. O que antes deveria ter sido um dia recebido com excitante antecipação, foi um lamento com um péssimo pressentimento. Será que Magnus saberia da mudança em seu coração? Poderia esconder seu amor por outro homem? Olhou em frente, para as costas erguidas de Stefan e para a posição orgulhosa dos seus ombros. As palavras de Rorick assombraram-na de novo, em seu coração, sabia que tinha feito a coisa certa, afastando Stefan com mentiras. O que eles poderiam ter? Alguns momentos roubados? Não, não iria rebaixar o seu amor por ele desse jeito, nem iria envergonhar ao seu marido. Resignada com a sua sorte nesta vida, Arian endireitou os ombros e olhou para frente, para além de Stefan, para Magnus, onde a sua vida pertenceria.
Quando o sol começou a afundar-se por trás deles, Stefan chamou os cavaleiros que se aproximassem. Arian libertou um longo suspiro de alívio, quando o veado azul e branco da bandeira de Magnus aparecia por cima da colina. Assim que a exaltação de nenhum ataque surgia, diminuiu o passo. Magnus já estaria na residência? Ele não era esperado pelo menos até á próxima semana. 148
Stefan, rodeado por seus irmãos normandos, cavalgavam em frente até ao contingente de Magnus. Com Rhodri ao seu lado, impeliram os cavalos para frente, até ao som de iradas palavras em francês. — Eu não vou libertar a senhora de meu cuidado, até ela estar casada com lorde Magnus. — Reprimiu Stefan. O homem com quem Stefan falava, olhou por trás dele e encontrou o olhar de Arian. Não foi aquele nobre que ela, friamente, considerou colocar o seu interesse, nem Stefan pela primeira vez. Não, o olhar de Arian viajou para a bonita mulher a cavalo, ao lado do indignado senhor saxão. O seu cabelo de ouro, perfeitamente trançado, brilhava e as suas roupas decoradas com jóias, eram ricas em cor e tecido. E só tinha olhos para Stefan. Arian endureceu na sela. — Sir Stefan. — Ronronou a mulher. — Certamente você confia em nós o bem-estar da princesa? Meu Senhor Overly, é primo de lorde Magnus e foi dada a honra de entretê-la até á sua chegada, daqui a três dias. Stefan tirou o elmo e os seus cabelos longos e espessos caíram em torno de seus ombros. A senhora engasgou. — Stefan! Meu Deus, o que aconteceu com você? Ciúme rasgou Arian pela familiaridade da dama. A mandíbula de Stefan se contraiu e viu um pequeno tique do músculo ao longo da sua face. — Desde quando, lady Lisette, minha saúde tem importância para você? Com excessiva surpresa o homem olhou de sua esposa para o normando, suas sobrancelhas juntando—se. — Minha senhora, você é familiarizada com este homem? — Ela já foi sua prometida. — Disse Ralph. Arian engasgou-se e todos os olhos se voltaram para ela. Rapidamente se recuperou do choque. Portanto, esta era a mulher que tinha partido o coração dele? Raiva passou por ela, seguido por um impulso inegável de proteger Stefan. Arian estimulou o seu cavalo para mais perto e inclinou a cabeça. — Princesa Arianrhod, filha do príncipe Hylcon de Dinefwr. — Apresentou Stefan. Arian sentou-se em linha reta na sua sela, enquanto os nobres de baixo status inclinaram as suas cabeças. Acenou com a cabeça para o seu irmão, que vinha lentamente atrás dela. — Meu irmão, príncipe Rhodri. — Princesa Arianrhod, lorde Overly e lady Lisette de Scarborough. – Disse Stefan numa voz cortante. Lady Lisette sorriu, mas seus olhos brilhavam malignos e, com uma esmagante realidade, Arian soube que a mulher sabia do seu segredo e que ela nunca seria uma aliada. — Eu posso ver Sir Stefan, porque você está relutante em deixá-la. — Disse lady Lisette, olhando Arian de cima abaixo, como se fosse uma égua para ser comprada no mercado. — Eu dei o meu juramento ao seu pai e ao rei Rhiwallon, que iria vê-la casar-se antes de voltar para Gales. Vidas estão em jogo. — Ele virou-se para lorde Overly. — Não questione minhas intenções de novo, sir, ou encontrará a si mesmo e á sua senhora, fora de Moorwood. 149
Overly, um homem de cinquenta e poucos anos, balançou a cabeça, mas Arian detectou raiva. Sua senhora, no entanto, sorriu e acenou para Stefan. — Vou fazer o meu melhor por garantir a estadia da sua… er… da senhora de lorde Magnus. — Ela pestanejou os seus longos cílios pretos. Arian sorriu docemente. — Meus agradecimentos pela oferta, lady Lisette, mas tenho os meus criados. Mas gostaria de pedir que você me apresentasse o quarto que o lorde preparou para a minha chegada. Eu temo que esteja cansada da viagem e gostaria de tomar um banho e descansar antes da refeição da noite. Os olhos da bonita normanda gelaram e a sua linda mandíbula se fechou numa linha dura. — Claro. Enquanto o comboio avançava em direção à mansão, numerosos saxões e normandos revestiam a gasta estrada. O desprezo deles estava claramente estampado em seus rostos. Arian tirou conforto em duas coisas: uma, não era uma normanda e, portanto, era inocente dos acontecimentos ocorridos do passado, e dois, iria casar-se com um grande nobre, cujos parentes não estavam instalados apenas ali na Inglaterra, mas também na Noruega. Um ansioso nervosismo agitou sua barriga à medida que se aproximavam da aldeia e das pessoas alinhadas na estrada. Ao mesmo tempo em que a grande mansão de Moorwood, feita de madeira e pedra, aparecia por cima de um grande prado, os moradores iam se aproximando. Os Espadas de Sangue iam á sua volta e Cadoc ia á frente de uma precisa formação de soldados, seus escudos levantados e suas lanças baixas. Com as suas armaduras e elmos pretos, montados em cavalos pretos e ferozes e bem blindados como os seus donos, eram a visão mais temível. Ela teve sérias dúvidas em permitir que os normandos fornecessem a sua escolta até Moorwood, mas agora estava feliz pela proteção deles. Olhando adiante, viu Lisette a lançar vários olhares furtivos por cima do ombro, mas não para Arian, mas para o cavaleiro que montava atrás dela. Hostilidade misturada ao ciúme se agarrava ao seu peito. Arian respirou lentamente. Não tinha nenhuma pretensão pelo cavaleiro. Cada vez que a saudade que sentia pelo normando se tornava insuportável, se lembrava das palavras sábias de Jane e dizia a si mesma que o dever e a honra vinham acima do amor, mesmo se custasse um coração partido. Dezenove
Os dois dias seguintes decorreram com relativa calma, mas Arian encontrava um guarda normando em seu cotovelo a cada canto. A única vez que viu Stefan foi durante a ceia. Ele e seus homens assumiam a mesa do lorde, tornando-se claro que estavam no comando, não o lorde saxão e sua senhora. Na realidade, Moorwood era a casa de Magnus pelo lado da sua falecida mãe, e Overly e Lisette eram apenas seus anfitriões a fim de atender às necessidades da sua noiva assim que ele chegasse. Arian perdia o apetite cada vez que se sentava á mesa e, embora soubesse que era seu dever, não tinha interesse na administração da mansão ou da vista da paisagem á volta desta. Não havia conforto na fria pedra, nem na madeira da mansão, nem entre os aldeões. O manto pesado da desgraça pairava acima de todos eles.
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Reparou que os saxões se comportavam de maneira civilizada para com os normandos, mas eram igualmente reticentes com ela. Seguiam-na com olhos desdenhosos, acreditando nos rumores que rodopiava á sua volta e do líder normando, Stefan de Valrey. Arian poderia agradecer a Sir Philip e Lady Lisette por atiçar o fogo. Os dois nobres esperavam como um gato paciente á espera que o rato coloque o nariz fora da toca. A sensação desconfortável, da armação da traição entre aqueles que permaneciam na sala a corroeu. Portanto se manteve na dela, recusando-se a fazer alguma tentativa de amizade para com essas pessoas frigidas e mal-humoradas. Era melhor assim. Até que tivesse o comando ali, iria ficar em silêncio. Philip e sua irmã Lisette, que tinham um relacionamento antinatural, era o peso de muitos olhares cáusticos, não só dos funcionários mas dos nobres saxões ali reunidos. A maneira como eles se idolatravam, qualquer um poderia pensar que eles eram amantes. Overly parecia não se importar, mas em várias ocasiões, quando Stefan estava na sala, Arian reparava na carranca que fazia ao olhar para os dois conversando. Na terceira manhã, Arian saiu de seu quarto antes do normal e parou ao som de um suave riso de mulher. Lisette. Arian colocou-se contra o recanto da parede do lado de fora do seu quarto e escutou. — Philip, certamente você brinca? — Você me acha tão indigno? ― Perguntou ele com a sua voz baixa e petulante. — Ah, meu doce, você é o homem digno de qualquer mulher, mesmo de uma princesa, mas não acho que por um momento você tenha chance com essa frigida cadela galesa. — Juro sobre o túmulo da nossa mãe, que seu amante violou-a. Magnus irá anular o casamento e eu passo em frente! Pense no dote e no poder que ela nos trará! — Querido, você não sabe do que fala. Stefan de Valrey é muitas coisas, mas tem uma indomável honra que até chateia. Se diz que não a violou, então fala a verdade. O homem não mente nem mesmo para salvar sua própria pele. Arian prendeu a respiração o máximo tempo possível. — Então tudo está perdido. — Suspirou Philip. — Não, irmão, ainda há tempo. O mensageiro de Magnus chegou pouco tempo atrás, o nobre não chegará muito tarde ainda hoje. O casamento terá início dois dias após a sua chegada. — Valrey não tem mais interesse nela. Recusa-se a permitir que o nome dela seja pronunciado em sua presença. Será a noiva virgem do Jarl. — Choramingou Philip. Mais risos infiltraram-se no corredor, eriçando os cabelos do pescoço de Arian. — Venha ao meu quarto, Philip, eu tenho um plano que vai garantir que os lençóis de casamento estejam limpos de sangue. Arian lançou um longo suspiro. Quando as vozes sumiram pelo longo corredor, ela dirigiu-se no sentido oposto, para o salão e para o seu irmão.
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Encontrou-o conversando entusiasticamente com Gareth e Cadoc. Olhou por trás deles, para Stefan, que entrava na sala com seus homens a seu encalce. Seu coração pulsou forte na garganta e bateu com tal intensidade, que se sentiu sufocar. Parando de caminhar, Arian lutou contra o impulso de correr para ele e expressar seus medos. Rhodri era forte, mas era jovem e inexperiente. Seu peito subia e descia pesado, enquanto Stefan se recusava liberar seu olhar. O rosto dele contraiu-se e suas mãos tremiam ao seu lado, mas não fez nenhum movimento para desviar o olhar. Ela deu um passo em sua direção. Suas sobrancelhas escuras desceram sobre os olhos brilhantes. Quebrando o olhar, afastou-se até que a porta se fechou atrás dele. Um embaraço de emoções encheu seu peito. O que esperava? Que ele rastejasse de mãos e joelhos só para que lhe lançasse um osso? Tinha feito o seu trabalho muito bem. Stefan de Valrey carregava com ele nada mais do que ódio por ela. Lentamente, virou-se e caminhou de volta para a mesa do lorde, chamando a atenção de Sir Rorick. Engoliu em seco. Ele acenou com a cabeça, indicando que se sentasse ao seu lado na mesa. Não querendo, mas ao mesmo tempo querendo estar perto de Stefan através dos seus cavaleiros, dirigiu-se para perto dele. Poderia falar com o seu irmão após a refeição. Quando Arian se sentou, os restos dos homens ali presentes também se sentaram. O padre fez uma oração apressada, e numa erupção súbita, vozes giravam em torno dela, enquanto os homens comiam e falavam da vinda do Jarl. Arian mordiscou um pedaço de pão. — Tenho notado Minha Senhora, que não tem comido mais do que um pardal nestes últimos dias. – Disse Sir Rorick baixinho ao seu lado. Ela levantou os olhos para os profundos olhos azuis dele, tão diferentes dos de Stefan, mas muito constrangedores. — Eu não tenho apetite, sir. — O que você fez em Worthington foi para um bem maior. Com o tempo, Stefan irá esquecer. —Suas palavras a magoaram, mas Arian acenou com a cabeça. — Na verdade, se ele se esquecer, então eu acho que serei a única que perderá tudo. Rorick fez uma careta de confusão. Arian sorriu tristemente. — Eu nunca vou esquecêlo, Sir Rorick. Meu sentimento por ele corre demasiado profundo, mas se ele fizer como você disse: se esquecer, então seus sentimentos não eram verdadeiros. — Por ventura então é melhor assim. — Por ventura. — Disse ela suavemente. A refeição acabou sem um maior intercâmbio. Perto do final, a radiante lady Lisette, pendurada no braço de seu irmão, descia para o salão. De má vontade os homens se levantaram. Enquanto se sentava em frente dela, Arian acenou a cabeça, levantou-se e disse ao irmão que estava sentado ao seu lado direito. — Rhodri, uma palavra, por favor. À medida que serpenteavam até a outra extremidade do corredor, ele olhou para ela, a preocupação causou-lhe uma ruga perto dos seus olhos. — Você não parece bem, Arian. O Jarl não ficará contente ao encontrar a sua noiva tão desamparada. Ela soltou um longo suspiro. — É tão óbvio, Rhod? 152
— Sim. Você veste o seu amor pelo normando para o mundo todo ver. Rumores sobre você e ele, percorrem de forma desenfreada pela aldeia e nesta casa. Reze para que eles não cheguem aos ouvidos de Magnus. Eu sei que você consome-se pelo cavaleiro, mas lhe peço que pare. Nada de bom poderá vir dele. Você é uma princesa, Arian, da realeza, ele é um mercenário bastardo. — Mas eu não fiz nada… — Não importa. As circunstâncias da sua ligação foram pintadas e repintadas até não haver nenhuma semelhança com a imagem original. Para você ver, eu tive que defender a sua honra por duas vezes entre os pequenos lordes que vieram para testemunhar o casamento. Estarei contente quando as marcas de sangue forem penduradas para que todo Yorkshire testemunhe! Arian apertou a mandíbula, com raiva ao saber que a sua virtude era questionada e com isso a honra de Stefan. Apenas uma testemunha e os lençóis ensanguentados iriam provar a sua castidade e que o normando, apesar de ser um assassino sanguinário, não era um estuprador. — Rhod, ouvi lady Lisette e seu irmão Philip conversando no corredor. Eles estão a criar algum tipo de plano antes das minhas núpcias, para desacreditar-me diante de Magnus. Por aquilo que pode perceber, sir Philip está de olho no meu dote. Rhodri jogou a cabeça para trás e riu ruidosamente. Arian agarrou na sua manga. — Não acho humor em sua trama! Rhodri enxugou os olhos. — Não é, mas é o que o pequeno normando pensa ao se achar digno de mesmo considerar um casamento com uma princesa de Gales! — Nada me surpreende mais, Rhod. Este último mês tem sido o mais raro e imprevisível. Ele a abraçou e beijou o topo de sua cabeça. — Mantenha o punhal em sua cintura, e eu vou continuar perto de você, até você subir a escada para o seu leito conjugal. Nada tema, você ira ao encontro de Magnus virgem. Eu apostaria a minha vida nisso! Um pressentimento girou em sua barriga ante as palavras dele, mas Arian manteve os olhos bem abertos e não permitiu que nenhum se chegasse muito perto, pela primeira vez não ficou irritada com os guardas normandos que sombreavam cada movimento seu. Quando o sol se pôs por trás do horizonte ocidental e o comboio do nobre ainda não tinha chegado, Arian sentiu uma ligeira apreensão. E se ele tinha ouvido os rumores e escolheu ir embora, recusando-se a lhe perguntar se era verdade? Nervosa, andava pela mesa do lorde. Os nobres que chegavam e se acumulavam para testemunhar o casamento, pareciam inquietos como ela. Finalmente, não tendo outro recurso, Arian pediu para servir a refeição. Assim que se sentou à mesa, o vigia gritou que o padrão do nobre tinha sido avistado. Arian sentiu o estômago nos pés. Olhou direto nos olhos de Stefan. Engolindo o nó na garganta, Arian desviou o olhar e permitiu que seu irmão a acompanhasse até á entrada de pedra da casa senhorial. Nervosismo remoia as suas entranhas, enquanto a espera por Magnus parecia interminável. 153
Quando o porta-estandarte entrou pelos portões abertos de Moorwood, os joelhos de Arian vacilaram. Magnus apareceu montado num grande corcel de batalha branco, com o longo cabelo loiro a fluir nas costas como uma capa, seu corpo alto e musculoso, se erguia de forma orgulhosa e Arian teve de se inclinar sobre o braço de Rhodri para apoiar-se. Ele afagoulhe a mão equilibrando-a. As trombetas soaram assim que o comboio veio por trás dele, decorado com as cores azuis e brancas da casa de Tryggvason. Arian queria sentir orgulho, mas pavor tomou conta dela. Magnus puxou seu grande cavalo num turbilhão de fanfarras. Sorriu sob o elmo, o retirou da cabeça, espalhando o seu cabelo sobre os grandes ombros, e seus olhos azuis claros, como os de Dag, brilhavam de excitação. Jogou o elmo para o seu escudeiro, desmontou e caminhou em sua direção. Caiu num joelho, pegou em suas mãos e beijou-as. — Minha senhora. — Disse ele num acentuado galês. — Como se sente? Ela fez uma reverência e disse: — Meu lorde, estou bem. Um lampejo de dor espalhou as belas feições de Magnus e Arian soube que pensava em Dag. Sorriu para ela e então se levantou. Nervosa, Arian puxou a mão e virou-se para Rhodri. — Meu lorde, por favor, posso lhe apresentar o meu irmão Rhodri. Magnus ergueu-se imponentemente; é mais alto do que Stefan, Arian pensou, e embora seja bem musculoso, não chega aos calcanhares de Stefan. Pegou-se fazendo comparações entre eles. — Meu Lorde, minha irmã aguardava ansiosamente a sua chegada. Fico feliz em vê-lo aqui em segurança. Os homens fizeram ligeiras mesuras. Lorde Overly e lady Lisette acolheram-no, assim como vários nobres de baixo status. Magnus acenou para todos eles e em seguida voltou-se sorrindo para Arian. — Minha senhora, eu não consigo expressar a minha angústia quando soube o que lhe aconteceu em Mércia. Agradeço a Deus por você estar aqui e agora segura comigo. Seu coração animou-se. Não questionava a sua virtude? Arian sorriu. — Meu Senhor, lhe peço um momento para uma palavra em privado, antes de jantarmos. Ele pegou em suas mãos. — Há tempo para isso mais tarde. Quero saborear você, Arian, pois eu teria nadado o mar do Norte em minha armadura, de tão grande que era o meu desejo de estar aqui ao seu lado. — Puxou-a para ele. — Venha, vamos familiarizar-nos uns com os outros. Com seu sincero coração, ele estava a fazer com que Arian se sentisse mal com o que tinha para lhe dizer. Culpa trespassava-a. A sala brilhava com mil velas assim que entraram e o aroma das ervas frescas e flores de esteiras novas pairavam convidativamente no ar. A mesa tinha sido limpa e preenchida com taças e candelabros de fina prata. O perfume de boas carnes assadas encheu o ar, todos se reuniram com as suas melhores roupas para receber o senhor da mansão ― o nobre Magnus, o Alto. Assim que entraram para a alegria de muitos, Arian sentiu a sua oportunidade escapulir. Devia falar com Magnus antes que os rumores fizessem o seu percurso até ele, levando-o a duvidar dela. — Meu Lorde, por favor, uma palavra particular em primeiro lugar.
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Sorriu para ela e não conseguiu resistir a sorrir em troca. Seu rosto brilhava com amor por ela, o que foi como se Belenus 10 a tivesse chutado na barriga. — Claro, meu amor. Seu desejo é meu comando. Arian olhou por cima do ombro para encontrar Stefan olhando-a fixamente, enquanto seguia o caminho até as escadas. Com os olhos, ela implorou para ficasse onde estava e não interferisse. Mas isso não aconteceu. Quando ela e Magnus entraram em seu quarto, com Jane e um homem dele atrás, Stefan, seguido por Sir Wulfson, Sir Rorick e Rhodri, entraram no pequeno quarto. — Qual é o significado disto? — Exigiu Magnus, transformando instantaneamente um homem loucamente apaixonado num irritado magnata. Stefan fez uma curta reverencia ao Viking. — Eu sou Stefan de Valrey, cavaleiro de William. Estes são os meus homens lorde Wulfson e Sir Rorick. Os olhos de Magnus se estreitaram. ― Que negócios a Normandia tem haver comigo? Stefan olhou para Arian. — Estou aqui para olhar pelos interesses de William no leste. Arian prendeu a respiração quando Magnus virou seus olhos afiados para cima dela. — Que interesses podem ser esses? — Meu Lorde. — Começou Arian. – Sir Sar não lhe explicou a exata natureza da minha chegada aqui? O rosto de Magnus inflamou-se de raiva. —Sim, e ainda assim eu não acredito que Dag fosse capaz de tal coisa. — O que há para não acreditar? — Exigiu Stefan aproximando-se do Viking. — Dag estava empenhado em violar a senhora para seu próprio benefício, sabendo que você iria recusar o casamento com ela. Os olhos pálidos de Magnus brilharam. ― Que propósito teria para si mesmo? — Ele desejou-me o suficiente para envergonhar a mim e a você, então reivindicar a minha mão para si mesmo quando você me recusasse. — Disse Arian suavemente. Magnus passou a mão pelo rosto, encontrando os fatos brutais da morte de seu sobrinho difíceis de aceitar. — Isso não faz parte do caráter de Dag. Ele tem uma esposa! — Nós nunca saberemos o que ocorreu na cabeça do cavaleiro. Eu testemunhei o acontecimento e posso garantir que defendi a senhora da transgressão de Dag. – Disse Stefan sem rodeios. Por um longo momento, Magnus ficou em silêncio; Arian podia pressentir sua mente trabalhando, fazendo perguntas e tentando encaixar as peças do quebra-cabeça. Ele se virou e olhou diretamente para Arian. — Como Dag encontrou-a? 10
Na mitologia celta, era o Deus do Sol. Também conhecido como Belatu-Cadros e na mitologia romana como Apolo.
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— Ele seguiu o caminho para a lagoa. — O que ele viu? — O que você acha que ele viu? — Cortou Stefan. Magnus virou o seu olhar para Stefan. ― Parece que você sabe, normando. O que você viu? — Uma mulher inocente e ofendida. Magnus sorriu, os lábios torcendo numa linha branca. — Perdoe-me, sir, por ter dificuldade em digerir a imagem da minha noiva sendo cobiçada, não só pelo meu sobrinho, mas por um completo estranho. Arian sentiu a sua face ruborizar. Seus olhos corriam de Stefan para Magnus. — Eu fui tomar banho, Meu Senhor. Quando eu saí da água, envolvi-me com o linho que Jane tinha preparado para por ao meu redor. — Você estava vestida quando correu pelo bosque? Ela sentiu mais calor a subir em seu rosto. — Não, eu não estava. Dag tinha rasgado a roupa de meu corpo e eu corri por minha vida. Quando Magnus voltou-se para Stefan, seus olhos brilhavam de raiva. ― Por tanto, minha noiva é atacada pelo meu sobrinho, corre nua pelo bosque, cai diretamente nos seus braços preparada para recebê-la, você assassina o meu sobrinho e depois? Que mais? — Nós fomos para um lugar mais seguro. — Porque você não a devolveu ao seu comboio? Stefan sorriu. — Eu precisava dela para um uso pessoal. — Um verdadeiro normando. A ganância em primeiro lugar, a honra em segundo. — Disse Magnus cuidadosamente. — Magnus! — Chorou Arian. — Basta! Se as circunstâncias da minha estadia com Sir Stefan são demasiadas para o seu orgulho suportar, diga agora e eu volto para Dinefwr. Eu não vou ficar aqui a ser humilhada por algo que eu não tive controle. Se Sir Stefan não tivesse aparecido, não haveria casamento entre nós. Ele permaneceu com raiva e altivo. Ela entendeu o seu orgulho ferido. Com mais calma continuou. — Há mais para contar do que a morte de Dag e a minha captura. Os normandos permanecem aqui porque, como Sir Stefan disse, meu primo Rhiwallon tem um homem seu como refém. Ele ainda mantém prisioneiros a senhora de Lorde Wulfson, assim como sua irmã e Sir Thorin, que pelo que entendi, é meio-irmão do seu rei. Eles não serão libertados até que me case. Eu sugiro Meu Senhor, que você coloque o seu orgulho de lado e nos casemos agora. — Você dormiu com o normando? — Perguntou ele quase inaudível. A mandíbula de Arian caiu.
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— A virtude da senhora não foi comprometida por mim. ― Respondeu categoricamente Stefan por ela. Magnus olhou fixamente para ela. ― Perguntei-lhe, Minha Senhora, você dormiu com o normando? — Não! Saiu de perto deles, com as mãos atrás das costas e começou a andar pela sala. Arian olhou para o rosto tempestuoso de Stefan, querendo algum tipo de apoio, mas não sabendo o quê. Virou-se para encontrar o olhar pensativo de Magnus sobre ambos. — Então explique essa coisa entre vocês. Stefan deu um passo adiante, mas Arian colocou uma mão em seu braço, impedindo-o. Caminhou até ao orgulhoso Viking e colocou a mão em seu peito. Suavemente, disse. — Não é permitido eu ficar em dívida para com o homem que, não só defendeu a minha virtude, mas a minha vida? E não apenas numa ocasião, mas em várias? É uma coisa tão pequena para ser grata? Magnus olhou por cima da cabeça de Arian para Stefan. — Há mais do que isso. Eu posso vê-lo na maneira como você olha para ele e ele para você. Arian enrijeceu. Os seus sentimentos pelo normando eram tão claros a todos que a envergonhavam. Lentamente, balançou a cabeça e mentiu. — Não, Magnus, você está errado. Eu estou apenas grata pela sua interferência, nada mais. Magnus deslizou um braço ao redor de sua cintura e puxou-a para ele. Seus olhos ainda brilhavam, mas não com raiva agora. — Eu não poderia suportar se você amasse outro. ― Disse ele suavemente, baixando os seus lábios para os dela. Arian enrijeceu, e então se deixou levar pelo seu ataque. Quando seus lábios roçaram através dos dela, o seu corpo não aqueceu, nem acendeu qualquer coisa, sentiu apenas um incômodo leve. Ele apertou-a contra si. Sabia que se mantivesse fria, ele suspeitaria de mais coisas. Levantou os braços, fechandoos em torno do pescoço dele e abriu seus lábios, aceitando-o, pois dali a duas noites, teria que se entregar a ele. No que pareceu um beijo sem fim, ele finalmente afastou-se dela. — Para onde o fogo foi, Minha Senhora? — Eu… você me pegou desprevenida e existe… — Virou-se para olhar para os homens e para Jane, erguendo os olhos ao brilho de pedra de Stefan. Sentiu o olhar de Magnus seguirem-na. — Parece que eu lhe peguei um tanto desprevenida. — Colocou-a ao seu lado e disse a todos os outros. — Há mais alguém que sabe das circunstâncias da morte de Dag? Stefan assentiu. – Circulam rumores. — Eu não tenho nenhuma dúvida. — Separou-se de Arian e ordenou. — Aqui neste quarto, na noite do nosso casamento, eu exijo o sacerdote, o príncipe Rhodri, Lorde Overly e… — Magnus sorriu. – Você, Sir Stefan, em nome da Normandia, para testemunhar que quando tomar lady Arian, ela sangrará sangue virgem. Pendurarei os lençóis no topo mais alto, para
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que ninguém mais diga que não estava pura quando veio para mim. Se alguém questionar a sua honra, vão passear com o meu machado para o inferno! Stefan balançou a cabeça. — Eu não vou testemunhar tal coisa. — Olhou para Wulfson. — Meu homem vai em meu lugar. — Mas eu insisto! — Atacou Magnus. Arian mantinha-se em silêncio, entendendo porque Magnus flexionava o seu poder. — Insista tudo o que você desejar. Eu não farei. — Disse Stefan. Virou-se fez uma curta reverencia. — Eu tenho assuntos que precisam de minha atenção, mas antes de me retirar permitam-me esclarecer vários pontos. Até que você se case, a segurança e a virtude de lady Arian estão em minhas mãos. Meus homens continuarão de guarda, junto à porta do seu quarto, bem como acompanhá-la pela mansão e terras vizinhas. Os próprios homens dela estão incluídos nos detalhes também. Eu não tenho nenhuma objeção a que também nomeia aos seus homens para a sua segurança, mas este ponto não é negociável. Depois que estiverem casados e que se prove que ela veio pura, eu e os meus homens nos despediremos deste lugar. Estes são meus termos. — Que direito tem você, um normando, para me dizer, senhor e mestre da minha própria casa, quais são os seus termos? Você não tem autoridade aqui! — Yorkshire é parte da Inglaterra e William é o rei. Por seu direito de conquista, eu tenho o direito de falar em seu nome. — Vou ver todos os normandos atirados da minha casa! — Tente e você terá toda a Normandia para lutar. — Magnus. — Chorou Arian. — Que assim seja. Não há nenhum mal em ter a presença dos normandos, pois eles irão embora em dois dias. — Não, eles vão desaparecer amanhã ao pôr do sol! — Mas nos casaremos daqui a dois dias. — Nos casaremos amanhã. O sangue de Arian congelou. Em pânico, olhou para Stefan. Magnus riu. ― Reze para que seja virgem até lá, Arian, pois se você não o for, o normando vai pagar com a sua vida! Arian apertou a mão no antebraço de Magnus. — Por favor, limpe o quarto, eu gostaria de falar com você em particular. Quando ficaram sozinhos, Arian olhou para o rosto do homem com quem estava para se casar. Tomou suas grandes mãos nas dela. — Diga-me verdadeiramente, Magnus, você acredita em mim? — Que você é virgem ainda ou que você não mantém nenhum sentimento pelo normando?
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— Ambos. — Cuidadosamente, observava as emoções desenharem-se nos seus belos traços. Compreendia sua raiva, sua frustração e o seu medo. Ali em pé, teria seu coração partido. Ele segurou suas mãos. — Arian, eu sou um homem orgulhoso e, apesar de não me importar com as fofocas traiçoeiras que vomitam sobre mim, eu me importaria se caissem sobre você. Aquele normando, ao estar ligado ao seu bom nome, mesmo que te tivesse salvado de grande perigo, enjoa-me. Eles são o flagelo desta terra. Culpa a atormentava. Se Magnus soubesse o que tinha acontecido, a colocaria para fora como se fosse um pano sujo. ― Fique feliz por ele, Magnus. Ele salvou-me a vida. Puxou-a em seus braços e beijou o topo de sua cabeça. — Na verdade eu estou em divida para com ele. Perdoe os meus modos grosseiros. Ela se afastou um pouco e sorriu para ele. — Não há nada a perdoar. Dadas as circunstâncias, você lidou isso como um verdadeiro Jarl que é. Levou as mãos dela aos lábios e beijou-as. — Vem, minha senhora, minha fome é feroz. Vamos cear. Quando desceram para o salão, cada pessoa permanecia e cada um deles parecia ter segurado a respiração. Quando Magnus sorriu um largo sorriso, um suspiro coletivo foi sentido em todo o lugar. Enquanto se sentava á sua direita, ela sorriu para ele. — Meu Lorde. – Mas antes de tomar seu lugar, ele chamou para o corredor. — Meus amigos normandos, venham cear na mesa do Lorde e contem-me as novidades de seu rei e dos seus planos para esta ilha. Arian prendeu a respiração, rezando para que Stefan aceitasse, mas sabia que não faria. Isso seria um insulto para o lorde e sua senhora. Por educação, ele aceitaria. Assim que caminhou sua direção, a arrogância em seus passos não conseguia confundir ninguém sobre o que ele era. Seus homens iam atrás dele, como se cada um fosse o gêmeo do outro. Arian engoliu em seco, mas encontrou seu olhar. Não daria mais motivos para os fofoqueiros sussurrem. Stefan fez uma curta reverencia. — Minha senhora. — Então se sentou à sua direita. Os outros se sentaram do outro lado de Magnus, expulsando lorde Overly e lady Lisette. Assim que lady Lisette se viu quase no chão e no fim da mesa, Arian viu um brilho em seu olhar e não conteve um sorriso presunçoso. Aquilo lhe servia bem. A senhora tinha sido muito presunçosa. A bênção foi dita pelo Padre John e a refeição foi servida. — Diga-me, sir Stefan, que planos tem William para Yorkshire? — Eu não sei. — Será que ele vai para norte de Humber? — Eu não sei. — Eu suspeito que ele esteja de olho na Escócia também.
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— Os escoceses são muito amargos. ― Resmungou Rorick. — E mesmo que não tenha dúvidas de que poderíamos tomar facilmente aquela parte ou a ilha, me parece que eles estão seguros. Por um ou dois anos. — Ele riu e esvaziou o cálice. — E sobre o jovem Olaf? — Stefan perguntou. — Será que ele pretende continuar onde seu pai parou? Magnus separou alguns pedaços de carne que tinha cortado para Arian, depois esperou que um servo enchesse a sua taça com um rico vinho de Borgonha antes de falar. Ele levou a taça aos lábios dela e disse suavemente. — Beba minha querida, vai afugentar o seu nervosismo de noiva. Arian fez intenção de tirar a taça de suas mãos, mas ele não deixou. — Permita-me, Arian, isto é um princípio para a minha natureza mais atenta. Arian sorriu, decidindo que não havia tempo agora para tentar familiarizar-se com este homem que apenas há um mês pediu-a em casamento. Colocou seus dedos em torno da grande mão dele e sem quebrar o olhar, trouxe a taça aos lábios. Ele inclinou um pouco a taça e ela bebeu um gole do vinho. Quando empurrou a taça para longe, com um movimento lento, limpou o resto de vinho de seu lábio inferior com a ponta do dedo. — Você perdeu algumas gotas. — Ele sussurrou. Arian olhou corajosamente em seus olhos, sabendo que o salão inteiro assistia a troca de afetos. Se for convencê-los de tudo, principalmente Magnus, teria que ter olhos só para ele, e assim haveria menos tensão entre eles. Sabia que seu orgulho travava uma terrível guerra com o coração. Recatadamente, ela piscou os seus cílios. — Meus agradecimentos. — Disse suavemente. Magnus sorriu e levou a taça para a mesa, virou-se para Stefan, que estava sentado à direita dela, como se tivesse lembrado sua presença. — Meu perdão, Sir Stefan, você disse alguma coisa? Arian virou-se ligeiramente na cadeira, de frente para ele e suspirou forte. Estava entendendo o jogo de Magnus, no minuto em que ela olhou para os olhos glaciais de Stefan. O pequeno tic de sua mandíbula direita traiu a sua fúria. ― Sim, eu perguntei se o seu rei tinha planos de levantar as espadas e reivindicar Inglaterra. Incapaz de se sentar tão perto e enfrentá-lo com apenas uma mão de distância, Arian voltou-se para enfrentar seu noivo. Magnus fez um sinal para o servo encher a sua taça. — Olaf é jovem e um fervoroso Cristão. Ele quer paz a todo custo. Informe ao seu rei que, a menos que nos provoque, ele pode esperar da Noruega a importância de tratar dos seus próprios assuntos. — Sim, mas e seu parente, Sven da Dinamarca? Ele lança um olhar cobiçoso para o sul. — Sven é um tolo. Se ele pegar nas suas armas contra o Conquistador, ficará sem a ajuda da Noruega, pelo que posso assegurá-lo. — Eu cavalguei estes últimos oito anos, com Thorin Haraldson, é aquele que Rhiwallon mantém como refém, até a palavra do seu casamento chegar até ele. 160
— Olaf tem muitos irmãos bastardos. Ele não tem nenhum interesse neles. — Isso é um infortúnio. O bastardo viking tem aconselhado o rei mais poderoso do continente. Magnus assentiu. — Isso pode ser, mas Olaf é forte em seu próprio direito. Não precisa da ajuda de normandos, nem o deseja. — Não se pode ter muitos aliados, nestes tempos imprevisíveis. — Alertou Stefan. — Se você não tem notado, Sir Stefan, qualquer pessoa de descendência normanda é indesejável no leste. Eu temo que, se William não pisar com cuidado, ele pode muito bem encontrar a área em chamas com a revolta. Stefan inclinou-se contra Arian, seu peito roçava as suas costas, em direção a Magnus. — Se um dedo é levantado contra mim ou os meus homens, haverá o inferno para pagar. Magnus riu facilmente. — Você não compreendeu. Eu não ofereci nenhuma ameaça. Mas acho que não levantaria só um dedo para proteger o que é meu. — Tudo o que é a Inglaterra pertence a William. Os olhos de Magnus se estreitaram e, muito suavemente, ele disse. — Não, tudo o que você vê a cinquenta léguas em qualquer direção é meu. Ninguém vai tirar isso de mim. — Por direito de conquista, ele pode fazê-lo com uma simples carta. — Matarei o homem que ele enviar para tirá-la de mim. Arian empurrou os homens longe dela e disse com firmeza. — Meus senhores, basta de política. Vamos cear em paz! Magnus sorriu e recuou. — Perdão. Arian ficou mais calma com seu pedido de desculpas. Não podia culpá-lo, uma vez que ela reagiria da mesma forma. Não poderia condenar-se o suficiente por não fazer um bom trabalho em esconder os seus sentimentos por Stefan. Foi por causa de sua fraqueza que Magnus reagiu daquela forma. Faria melhor, pela paz de Moorwood, bem como a paz em seu casamento. Iria esconder o que queimava com tanto fervor em seu coração. Mas apesar da refeição continuar com uma atmosfera mais leve, Arian não conseguiu relaxar. Sentava-se entre o homem que amava e o homem que seria seu marido. Uma vez que a mesa estava limpa e os músicos começaram a tocar e as moças da aldeia a dançar, o humor dela ainda não tinha amolecido. Stefan permanecia ao seu lado, seu calor a envolvia como um manto. Não se atreveu a lançar um olhar sequer para ele. Sentava-se tão rígido como uma lança a seu lado. Quando uma das moças girou e revirou diante de Sir Wulfson, que fez uma careta e virou a sua taça, foi para Rorick, que sorriu e agarrou os seus quadris balançando-os para ele, a moça fingiu ter medo. Pressionou o rosto contra o peito e a beijou lá. A moça separou-se do aperto dele e girou para Sir Ioan, que se virou para ela com as pernas abertas diante dele. Agilmente ela se colocou entre elas num rápido passo. Ele fechou as pernas, pegando-a entre suas coxas musculosas. 161
— Você não é rápida o suficiente para escapar de mim. — Ele riu e trouxe-a para baixo em seu colo. Ela jogou os braços ao redor de seu pescoço e o beijou profundamente nos lábios, em seguida libertou-se. Arian viu o brilho malicioso dos olhos escuros da moça, quando se balançou e rodopiou em direção a Stefan. A música soou num ritmo e volume, que os quadris dela se moveram para trás e para frente num ritmo frenético, seu vestido se soltou e escorregou num dos ombros, os seios eram o único suporte do frágil tecido. Enquanto se movia em direção a Stefan, Warner estendeu a mão e pegou as fitas da frente de sua roupa. Ela torceu, e quando o fez os seus seios fartos ficaram livres. Rugidos de regojizo do sexo masculino atingiram as vigas do teto. Num impulso selvagem de quadris e seios, ela arremessou-se no colo de Stefan, de costas para as suas coxas, assim que a música terminou com uma nota alta. Arian não conseguia desviar o olhar. Os seios da mulher brilhavam de suor, enquanto subiam e desciam conforme a sua respiração pesada. Ela sorriu para Stefan e agarrou na mão dele, pressionando-a nos seus montes voluptuosos. — Eu te agrad0, Meu Senhor? ― Ofegou ela. — Sim. — Rosnou Stefan. Ele se levantou e ergueu-a sobre o ombro, e em meio de altos aplausos, saiu da sala com a mulher seminua pendurada nos ombros. Arian sentiu como se tivesse sido chutada no estômago. Mas não ousou mostrar. Virou-se para sorrir a Magnus e o encontrou a olhar para ela. — Diga-me, Meu Senhor, como é a Noruega. Seu rosto abriu um sorriso largo. — É bonita, especialmente na primavera, quando os lírios florescem em toda a terra. Ela se parece muito com País de Gales, quando toda a região fica roxa com os jacintos. A Noruega é uma terra acolhedora. Estou ansioso pela nossa vida lá. E ela tentou imaginar isso também. Pouco tempo depois, Arian alegou exaustão. As paredes e os olhos do salão esfumaçado pressionavam-na e por mais que tentasse, as visões de Stefan nos braços da moça sensual não iam embora. — Meu Senhor, o dia foi longo e eu estou cansada. Por favor, deixe-me ir para meu quarto. Ele assentiu e levantou-se, estendendo a mão para ela. Lentamente, ela levantou-se assim como todos no salão. Com o queixo erguido e ombros orgulhosos, Magnus acompanhou-a pela sala até as escadas, seguida de perto por dois normandos, dois galeses e dois guardas noruegueses. Antes da porta se fechar atrás dela, Magnus parou-a. — Arian, uma palavra antes de se retirar. Lentamente, se virou para ele, vendo a dor em seus olhos. Sua farsa não foi despercebida por ele. Culpa a atormentou mais uma vez e realmente não sabia o que fazer. Ele limpou a garganta e lentamente disse. — Aconteça o que acontecer nos próximos dias, saiba que eu sempre tenho o melhor interesse do seu coração. Confusa com suas palavras, ela perguntou. — O que você está dizendo, Magnus? 162
deixou.
— Só o meu coração é verdadeiro. — Ele pressionou um beijo em sua testa e depois a
Quando Arian entrou em seu quarto, ainda mais confusa com as palavras dele, ela se surpreendeu ao ver uma criada alisar os lençóis da cama. — O que você está fazendo? A criada sacudiu a cabeça e inclinou-se. — Refrescando a sua cama, Minha Senhora. Arian olhou à volta do espaço procurando por Jane. Tirando ela e a criada, o quarto estava vazio. — Deixe a cama e procure a minha aia Jane. — Ordenou Arian, caminhando até á pequena mesa perto da lareira que ardia baixo. As noites tinham arrefecido consideravelmente desde a sua chegada, em breve as folhas estariam em plena mudança e no inverno iria encontrar-se no frio dos fiordes da Noruega. Arian não reparou na partida da criada quando a porta se fechou atrás dela. Seus olhos perderam-se no outro lado da sala, para onde o seu vestido de noiva estava pendurado num ponto alto. Era bonito, feito de fina seda azul e branca, com bordados de prata em torno do baixo corpete intrincado, nas mangas em sino e nas bainhas. A roupa interior prateada era bordada com finos fios de seda azul e branco, que ela mesma tinha costurado. Era uma roupa digna de uma rainha. Caiu no chão, lutando contra o desespero que ameaçava engoli-la. Porque não poderia trocar de lugar com a moça humilde e ser amada na cama esta noite? Mas sabia qual era a resposta. Era uma princesa, devia se casar com um príncipe ou um nobre poderoso, e Magnus era isso. Mas Stefan era um nobre em seu próprio direito. Sangue nobre fluía em suas veias também. Nem seu pai, nem sua mãe eram de origem rústica, mas sim um grande conde e irmã da mulher que seria rainha da Inglaterra. Mas não importava. Mesmo que Magnus a recusasse, Stefan não tinha declarado o seu amor por ela. E se não a amava, então o que seria dela? Um casamento como o do seu pai com Morwena? Manter sempre uma esperança para o outro perseguir sempre um fantasma? Suspirou. Será que Magnus iria suportar? Será que ela nunca iria acordar sem pensar em Stefan antes de abrir os olhos? Seu destino estava selado. No dia seguinte seria lady Arian de Trygg. Era o seu dote nesta vida e ficaria muito grata por isso. Levantou-se, limpou as rugas do vestido e ocorreu-lhe que não tinha visto Jane desde antes da refeição tardia. Arian abriu a pesada porta do seu quarto para encontrar seis pares de olhos em cima dela. Olhou para Sir Rorick, o mais próximo a ela. — Sir, parece que perdi a minha aia, Jane. Veja o seu paradeiro e peça-lhe para vir ao meu encontro rapidamente. Sir Rorick pareceu atordoado por ela ter pedido tal coisa a ele. — Minha senhora, eu sou um cavaleiro de William e não um escudeiro. Pergunte ao seu homem. — Ele recuou e olhou para Pal, um jovem de Dinefwr. Pal acenou a cabeça. — Eu vou localizá-la. — Se virou e correu pelo corredor. Arian sorriu sarcasticamente e deu a Sir Rorick e a Sir Ioan uma curta reverencia. — Meu perdão por fazer tal pedido hediondo a um cavaleiro normando!
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Vinte Stefan colocou os lábios num duro mamilo escuro. Que ganhou vida debaixo de seus lábios. Grossos braços envolveram-se em torno de sua cabeça, pressionando-o com força numa inclinação sensual. A moça tinha gosto de vinho e suor, mas estava disposta e o faria esquecer-se de tudo, pelo menos por um tempo. Subiu seu vestido, apanhando o cheiro de seu perfume almiscarado. Stefan empurrou-a para uma cama feita de feno, no estábulo ao lado da égua de Arian. O cavalo relinchou como se desgostasse de sua escolha para a noite. Imagens da mulher que cavalgou naquela égua surgiram em sua mente. Seu corpo apertou-se e o seu sangue se iluminou. Mas não para o corpo que se contorcia disposto embaixo dele. — Jesus! – Ele amaldiçoou. — Quem chega? — A camponesa gritou, tentando se sentar. Suas mãos apertaram os seios roliços, empurrando-a de volta para o feno. — Ninguém se ficar em silêncio. ― Ordenou ele. Sua pele não era tão macia ou perfumada como a da mulher que assombrava os seus sonhos à noite e durante todo o dia. Stefan amaldiçoou-se novamente e separou as coxas da camponesa. Ela arqueou-se para ele, tateando entre suas coxas, quase arrancando suas calças. Ela libertou seu membro e ele sibilou uma respiração forte. Suas mãos calejadas acariciaramlhe a sua dureza. — Meu Lorde. ― Gemeu ela. — Eu nunca tive um homem tão grande quanto você. Fechando os olhos, Stefan imaginava que as ásperas mãos que o acariciavam eram as finas e suaves de uma princesa. Lábios molhados pressionaram-se nele. Stefan afastou-se para longe dela, seus olhos voando abertos. Num movimento rápido, virou-a e a puxou pelos quadris, jogando sua saia sobre as costas dela. Não queria ver o seu rosto quando a penetrasse. Queria imaginar outra. — Meu Lorde! — Silêncio! ― Sussurrou ele, agarrando seu traseiro e abrindo as cheias nádegas. Puxou-a em direção de seu pau duro. Olhou para baixo naquele momento e parou todo o movimento. A visão de seu corpo o enojava. Ela apertou-se contra ele, a ponta de seu pênis deslizando entre as nádegas dela. Num ataque de raiva, Stefan empurrou-a para longe e arrumou as calças, prendendo-a com pequenos movimentos bruscos. Ela se virou em pânico. — Meu Lorde, eu não lhe agrado? Fúria trespassava-o. Arian tinha-o arruinado! Ela tornou impossível o toque de outra pessoa sem que fizesse comparações! Ela tornou impossível que se perdesse em outro corpo, mesmo que estes estivessem dispostos ou decentes! — Não é você. — Rosnou e caminhou para fora do estábulo até ao salão. Aproximou-se de seus homens e da guarda galesa e nórdica, fora da porta do quarto da mulher que o arruinou. Enquanto seus homens se moveram da porta, o galês e o nórdico não o fizeram. — Eu o cortarei de onde está se não me deixar passar pela porta. – Ameaçou ele. 164
— Sir, ninguém… — começou a dizer o mais alto dos nórdicos. Ioan e Rorick sacaram as suas espadas. Os guardas se afastaram e o galês solitário ficou de lado também. Stefan bateu na porta. — Quem está aí? — Chamou Arian do outro lado. — Stefan. ― Ele rosnou. Depois de um longo momento a porta se abriu bem devagar. Ele a empurrou quando entrou e fechou atrás dele. Não sabia o porquê estava ali, ou o que ia dizer, apenas sabia que não conseguia controlar a raiva fervente que o consumia e tudo por causa de uma pessoa. A bela e orgulhosa Arianrhod de Dinefwr. — Por que você está aqui? ― Exigiu ela. Foi-se a criada inocente que havia resgatado, foi-se a refém. Em seu lugar havia uma mulher que conhecia o seu dever, o seu destino e que se recusava a permitir que fizesse parte dele. Passou por ela e começou a andar pela sala. — Você tem o cheiro de sua puta. – Cuspiu Arian quando ele passou perto dela. Ele girou e encarou-a. — Você fede a viking! Arian passou por ele em direção à porta. Ele agarrou seu braço e puxou-a de volta para enfrentá-lo. — Não, Arian, você não vai me expulsar como um pano sujo. — Num ataque selvagem de paixão, que não podia controlar, Stefan destruiu a frente do seu vestido, expondo os cremosos seios brancos. Com fome pegou um com sua boca. Seus braços deslizaram em volta da cintura dela, puxando-a com força contra ele. Seu perfume, sua pele suave como a seda, a voz dela, instigou-o para além do controle dos mortais. — Não, Stefan. — Ela se desvencilhou de seu alcance para o outro lado do quarto. — Porque você está aqui? – Exigiu ela. — Jesus, Ari. — Ele gemeu com voz rouca. Como poderia dizer que a desejava? Que cada parte do seu corpo gritava por ela e só por ela? — Porque você está aqui? Arian prendeu a respiração. Seus olhos brilhavam furiosamente, suas mãos abriam e fechavam em punhos ao seu lado. Ele abriu a boca para falar, mas as palavras lhe falharam. — Diga-me. — Sussurrou ela, esperando temerária que ele viesse para reclamá-la. — Eu… — Curvou-se e quando seus olhos se levantaram, ela soube que a centelha de esperança de que eles ficassem juntos tinha ido embora. — Me perdoe. ― Virou-se e saiu do quarto tão abruptamente como tinha entrado. À medida que a porta se fechava, o corpo dela estremeceu e o seu coração se partiu. Se Stefan tivesse jurado o seu amor por ela, teria deixado Magnus de lado, desistido do seu dote e de tudo o que era dela pelo normando sem nome. Assim que a porta se fechou atrás dele, ela abriu novamente. O coração de Arian pulou no peito e depois despencou; era apenas a criada que havia encontrado anteriormente.
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Balançou e parou, seus olhos se arregalaram e Arian percebeu que sua aparência desgrenhada era chocante. Segurando seu vestido sobre o peito nu, exigiu: — Onde está a minha aia? — Ela… ela está com as parteiras na aldeia. — Não há outras para ver um nascimento? — Há complicações, ela saiu com o marido da mulher há pouco tempo. Ela pediu-me para oferecer os seus arrependimentos, mas prometeu voltar de manhã para prepará-la para o casamento. Arian soltou um longo suspiro. De todas as pessoas, queria Jane com ela esta noite, mas sabia que havia poucos tão habilidosos quanto Jane, para trazer um bebê ao mundo. nome?
— Muito bem. — Arian soltou um suspiro longo e cansado e perguntou: — Qual é seu — Miriam, minha senhora.
— Miriam, eu estou cansada e quero ir pra cama. Traga uma camisa do guarda-roupa e depois pode ir para o palete. Miriam acenou com a cabeça e tratou de realizar a tarefa. Durante o tempo que as velas ardiam, Arian virou e revirou-se sobre a cama grande. Dormir a iludia. O cheiro de Stefan grudado nela. Era só nele em quem pensava. Ele era tudo o que queria. Cada vez que inalava seu cheiro, sentia sua presença, era como se ele estivesse ali, deitado ao seu lado. Uma dor profunda agarrou seu coração, tão intensa que doía ao respirar. Se ele tivesse dito apenas que a amava, se tivesse pedido apenas para ser sua, ela teria dado tudo por ele. Irritada, jogou uma almofada no outro lado do quarto e sentou-se. Mas ele não tinha. Porque não retribuía o seu amor. E depois do que ela tinha dito a ele em Worthington, não podia culpá-lo. Caiu para trás nos lençóis e fechou os olhos rezando pelo sono. Mas quando o sono chegou os pesadelos a atormentaram. Visões de sangue, de guerra e fogo — morte. Arian acordou num sobressalto, enquanto finas linhas de cinza da madrugada avançavam através das janelas abertas. Fadiga abatia sobre ela, quando reprimiu um bocejo atrás do outro. A realidade do que traria aquele dia incitou-a a se manter acordada. Era o dia de seu casamento. Calmamente aceitou seu destino. Stefan teve sua chance e não a tomou. E apesar da sua profunda tristeza, um sentido inexplicável de perda tomou conta dela, mas não iria chorar. Não desejaria, Nunca imploraria. O que estava feito estava feito. Lentamente, levantou-se da cama. A manhã estava num turbilhão de atividade, quando Arian se afundou num banho quente e calmante, Jane precipitou-se para o quarto. — Mil perdões, minha senhora, mas… — Não se desculpe Jane, tudo está bem agora que você está aqui.
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Miriam tirou as roupas da cama, substituindo-as por lençóis frescos e colocou algumas pequenas ervas aromática e flores entre elas. Em vez de acalmar os seus nervos, o esmagador perfume entupiu as narinas de Arian. Seu estômago revirou quando pensou que Magnus iria deitá-la ali, naquela noite, tocá-la como Stefan tinha e muito mais. — Deixem-nos, Miriam. — Ordenou Jane. A empregada sacudiu a cabeça, pegou o cesto de roupas sujas e apressou-se a partir do quarto. — Essa menina me irrita com o seu balançar nervoso da cabeça. Parece ter medo da própria sombra! — Jane reclamou. — Eu duvido que ela tenha servido uma senhora antes. — Disse Arian. — Então não devia estar praticando com você! Jane começou a banhar Arian, lavando o espesso cabelo vermelho-dourado e a enxaguá-lo com água aromática. Depois que estava seca e sentada diante do escuro espelho, o quarto se encheu de repente de mulheres. Uma criada para montar uma coroa trançada e trabalhada, outra para alisar as linhas finas do vestido de noiva, uma para a manicura de unhas e pés e ainda outra para esfregar os seus membros com óleos perfumados. Mesmo lady Lisette veio ajudar e, pela primeira vez, não lançou nenhum olhar malicioso ou palavras ácidas. Na verdade, parecia mais focada. Quando Arian estava, finalmente, vestida e coberta de jóias, houve uma batida na porta. Era um servo de Magnus. Carregava uma caixa de salgueiro com ouro incrustado. Fazendo uma reverencia rápida a Arian e lady Lisette, colocou a caixa sobre a mesa ao lado de Arian. — Minha senhora, meu senhor Magnus pediu para honrá-lo este dia com a coroa de Trygg. Quando retirou a coroa, Arian viu que era magnífica, entrelaçada com ouro, prata e cobre, e incrustada com brilhantes jóias preciosas. Um veado saltando em ouro polido estava no centro da coroa. Inclinou a cabeça e ele colocou-a sobre a cabeça. Era pesada e desconfortável, mas iria usá-la com orgulho. Respirando fundo, pegou o olhar de Jane e sorriu. — Estou pronta. — Disse Arian. Levantou-se e todas as senhoras no quarto ofegaram em louvor. — Você é uma visão, minha senhora. — Jorrou o servo. — Meu senhor ficará satisfeito. Outra batida na porta, e ela viu Rhodri entrando seguido por Cadoc. Seu irmão parou a meio caminho, com um sorriso no rosto. — Meu Deus, Arian, você está linda! Ela só conseguia sorrir, com medo que a emoção que apertava o seu peito fosse mal interpretada. Ansiava pelo dia do seu casamento, para se casar com o seu único amor verdadeiro, que a colocaria em um pedestal e apreciá-la sobre todos os homens e mulheres. Mas quem ela amava não a reclamou e quem não amava ia ser muito feliz. Com uma vontade de aço temperado, Arian afastou todos os pensamentos de Stefan e de seu coração. Neste dia, no dia do seu casamento, iria mostrar a Magnus o respeito que ele merecia e não desejaria outro enquanto prometia ser uma esposa obediente.
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Rhodri estendeu o braço. Arian olhou em seus olhos, mal conseguia vê-lo através das lágrimas que não conseguia controlar. Ele puxou-a para um abraço e beijou seu rosto. ― Você é uma visão, que faria qualquer homem lutar até a morte para tê-la, querida irmã. Incluindo Magnus. Ele foi à frente e agora a aguarda ansiosamente na capela. — Ele colocou a mão em seu antebraço. — Vem. Recusando-se a testemunhar o casamento, Stefan sentou-se no estábulo vazio ao lado da égua de Arian, junto com os seus irmãos e esvaziando um segundo odre. Aquilo não fazia nada para aliviar a dor em seu coração. Saudades torciam-se com uma necessidade desesperada pela mulher que não poderia ter. Vazio enchia sua alma e ele sentiu-se como se não houvesse nenhuma razão para voltar a respirar. Arian era sua vida e sem ela, era como se não houvesse sustento. E mesmo que fosse embora, batalhar e olhar pelas necessidades do seu rei, as partes mais vitais não estariam presentes. Seu coração e sua alma. Os gritos de aplausos puxaram-no dos seus amargos devaneios e percebeu que os votos tinham sido selados. Se um corcel de batalha o tivesse chutado no intestino, teria doido menos do que o som das pessoas aplaudindo em Moorwood. Um desespero que nunca tinha experimentado, mesmo em Jubb, agora o consumia. No dia seguinte, iria partir com os seus irmãos e viajar a Gales com a noticia das núpcias, e Wulf teria sua mulher em seus braços novamente. Inveja picava nas suas entranhas, assim como os aplausos aumentavam cada vez mais. Jogou a cabeça para trás e tomou um longo gole de vinho. — Eu prometi a ela que não iria olhar para trás quando nós montássemos para oeste. — Disse Stefan para ninguém em particular. — É o melhor. — Disse Wulfson. Cabeça de Stefan rebateu e ele olhou para seu irmão. — É? — Ele balançou a cabeça. — Eu não sei se sou capaz de fazê-lo! ― A miséria o inundou. Era fácil para Wulfson. Ele tinha encontrado uma mulher em toda a cristandade que o amasse, mas Stefan tinha encontrado a sua única mulher e agora ficou de lado, enquanto ela se casava com outro. Bebeu mais vinho, querendo que anestesiasse a dor no coração, mas só piorou. A raiva que achava poder controlar surgiu logo abaixo da superfície. Não podia controlá-la depois de tudo. Apertou a mandíbula e ali permaneceu com fúria, saudade e amor a preenchê-lo. Esmurrou uma viga de madeira. — Eu não posso suportar a tortura de saber que se deita com outro! — Jogou a cabeça para trás e gritou seu grito de guerra, então caiu de joelhos. — Eu não posso suportar. Durante muito tempo os homens ficaram em silêncio. Stefan esfregou as palmas das mãos nos olhos, abanando a cabeça lentamente. — Eu não posso fazer isto. — Gemeu. — Eu não posso ficar sentado aqui, enquanto o viking saliva em cima dela. — Então a tome. – Rosnou Rohan. – Tome-a e acabe com isso! — Tome-a? – Perguntou Stefan incrédulo. — Ela é casada!
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Wulfson se levantou e deu um passo em direção a ele, colocando uma mão carnuda em seu ombro. — É desejo e inveja em seu coração, Stefan, que o instiga? De ter algo que você não pode ter? Miseravelmente, ele sacudiu a cabeça. ― É mais. Dói em meu coração. — Você a ama? — Perguntou Ioan dando um passo a frente. Clareza súbita chocou através de Stefan. — Sim, acima da minha própria vida. — Então vá ao encontro dela, homem, e declare-se! ― Insistiu Rorick. — Ela é casada! Rohan riu com um som demoníaco. — Sim, mas ainda existe uma maneira. Uma lei normanda antiga, que remota desde o tempo de Rollo 11. — Diga-me! — Exigiu Stefan. — Jus primae noctis 12. — Mas eu não sou senhor aqui. — Disse Stefan. — Você é o capitão da guarda de William e em seu lugar você é senhor aqui! — Atirou Rohan. — Sua palavra é lei! Aquilo seria um assunto de grande debate mais tarde, mas Stefan não se importou. Queria apenas uma coisa e usaria uma lei arcaica para tê-la. E mesmo sem a lei do seu lado, ele não seria negado. Empurrou seus irmãos de lado e correu para o salão.
Arian deitou-se sobre os lençóis frescos, os dentes batendo, com os joelhos tremendo, modéstia apoderava-se dela. Não podia suportar os olhares do Padre John, de seu irmão que não podia se opor, o normando Sir Ralph e o primo de Magnus, Helm. Todos os presentes, para testemunharem que sangrava quando o marido realizasse o seu dever. Tudo isto para testemunhar que sangue de ovelha não iria manchar os lençóis, tudo isto para testemunhar que era virgem até que seu marido a tomasse. Mesmo Magnus parecia nervoso. Lentamente, seu homem tirou-lhe a roupa, assim como Jane tirou a de Arian. Quando sua senhora apenas vestia uma camisa de seda, Jane puxou a cortina, de modo que pelo menos Arian tivesse um pouco de privacidade enquanto deslizava para a grande cama. Arian puxou o lençol até o queixo e forçou-se a assistir ao despir de Magnus. Quando ele ficou nu diante dela, engoliu em seco. Sua masculinidade ficou rígida diante dela. Ele puxou a cortina para trás e sentou-se sobre a cama, enquanto o Padre John deu a volta á cama até ao lado dela e afastou o lençol para que ele pudesse vê-la. 11
Rollo (cerca de 860 - cerca de 932), líder viking, fundador e primeiro governante da Normandia no período de 911 a 927. Existem controvérsias entre os historiadores, quanto à posição de Rollo no feudo da Normandia - se era a de um duque ou equivalente à de um conde carolíngio. 12
Direito da Primeira Noite, foi uma alegada instituição que teria vigorado na Idade Média, permitindo ao Senhor Feudal, no âmbito de seus domínios, desvirginar uma noiva na sua noite de núpcias.
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— O seu perdão, lady Arian, mas isto é necessário. Ela assentiu com a cabeça. Fechando os olhos, prendeu a respiração quando o corpo grande de Magnus a cobriu. Sentiu-o duro e quente contra a sua coxa e quase chorou de medo. Não queria aquilo. Ele alisou seu cabelo para trás e gentilmente disse: — Isto acaba logo, depois eles vão embora. Ela apertou os olhos com mais força e acenou com a cabeça, desejando que ele acabasse com aquilo. Lentamente abriu as coxas. Um grito áspero, seguido de um baque duro no corredor, assustou-a. Os olhos de Arian se abriram quando a porta se abriu. Stefan atravessava o limiar, com a espada desembainhada, seus homens atrás dele preparados para a batalha. — Qual é o significado disto? – Exigiu Magnus, afastando-se de Arian. Seu coração batia com tanta força no peito, que Arian pensou que poderia morrer de ataque cardíaco. Puxou o lençol até o queixo e sentou-se na cama. Stefan não olhou para ela, mas manteve o olhar duro em seu marido. — Em nome da Normandia, eu ordeno jus primae noctis. ― Disse Stefan em sua voz baixa e furiosa. Magnus jogou a cabeça para trás e riu. — Você não é senhor aqui! Você não tem direito. E mesmo que tivesse essa lei não é a nossa lei. — Você não vai envergonhar a minha irmã! — Rhodri entrou em erupção, com a mão no punho da sua espada. — Não, Rhod, ele vai te matar! — Arian gritou de joelhos na cama. — Sir Stefan. – Disse o padre John calmamente. — É uma lei arcaica da Normandia, que nunca seria acolhida. Pense no que você procura e as consequências da ação. Stefan assentiu. — A consequência seria um filho normando com sangue galês. Esse é o desejo do meu rei, que o sangue de ambas as terras de misturem. — Mas Gales não faz parte da conquista! — Magnus argumentou. — E você não é senhor aqui! — Eu sou o braço de William. — Isso é absurdo! Será que seu rei quer forçar o sangue normando sobre o povo desta ilha com estupro? — É uma lei ultrapassada, com certeza, mas ainda assim uma lei. — Admitiu Stefan, mas continuava a encará-lo. — Retire-se da cama, Magnus, ou eu irei prendê-lo e enforcá-lo por traição! Magnus permaneceu furioso e nu no quarto, rodeado por cavaleiros normandos. Ele não teria ajuda suficiente com seus dois homens e nem com Padre John.
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— Eu não tenho uma palavra sobre o assunto a dizer? — Exigiu Arian, de repente, furiosa. Como se atrevia Stefan? Os olhos de Magnus se estreitaram suspeitosamente, enquanto olhava de Arian para Stefan e ela percebeu os seus pensamentos. — Não, Magnus, você está errado! Ele balançou a cabeça e virou-se para Stefan. ― Isto é um artifício para esconder o fato de que ela não é virgem. Stefan riu desdenhosamente. — Você tem tão pouca fé em sua senhora, Magnus? Você acha que ela é tão desleal? — Stefan então olhou para Arian e lhe fez uma curta reverencia. ― A senhora mais honrada que conheci. Você faz a si mesmo e a ela a maior desonra ao questionar a sua virtude. — Stefan mudou-se para o lado de Arian na cama, mas olhou para o viking furioso. — Se vista e saia deste quarto. Pela manhã, você decide se ainda a quer. — Não! Ela é minha agora! Eu não vou entregá-la, nem por uma noite, nem por um minuto! lo.
— Você não tem escolha no assunto. Vá agora, antes que você não seja capaz de fazê— Não, Stefan! — Arian chorou. — Eu não terei isto! Ele olhou para ela. — Nem você tem escolha na matéria, minha senhora. — Será que você me vai estuprar, então? — Eu vou ter você esta noite. Como, isso é com você.
— Eu dou-lhe esta mansão e os milhares de peles que a acompanham, mas se você deixar-nos agora. — Confessou Magnus. Stefan balançou a cabeça. — Você me oferece o que já é meu. — Ele olhou para Rhodri. ― Pegue o seu cunhado e deixe este quarto antes que eu faça a sua irmã viúva. — O Padre fica! Eu exijo uma testemunha de seu sangue virgem! — Magnus gritou. — Não, eu não a envergonharia como você gostaria, com outra testemunha além de mim. ― Disse Stefan com comedida lentidão, para que todos os presentes entendessem a sua convicção. ― Minha palavra é o meu juramento: o sangue nos lençóis que eu produzirei de manhã será sangue virgem! — Ele ergueu a espada. — Então, meu senhor, você pode pendurar isso na torre mais alta, para que toda a ilha testemunhe. Magnus agarrou as suas ceroulas e a sua calça, arrancando-as. Seus olhos pediram resistência para Arian, mas ela não o faria. Deveria, mais sangue seria derramado e ela não queria aquilo em suas mãos. Momentos depois, o quarto estava vazio, exceto por ela e Stefan. A luz macia das velas lançava um brilho quente em suas feições duras. Ele curvou-se e embainhou a espada, em seguida virou-se para trancar a porta, barrando a entrada de intrusos. Quando virou-se, ela não conseguiu ler o seu rosto, mas os seus olhos azuis brilhavam como fogo à luz das velas.
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Arrastando o lençol com ela, Arian saiu do leito. Bateu-lhe com força no rosto. ― Como se atreve? — Eu não planejei isto, Arian. A fúria a invadiu de forma tão cega que só pôde ver em branco. — O que você fez? Por quê? — Simples Arian. Eu te amo. — Você me ama? Você me diz isso agora? Depois de eu estar casada? — Eu não tinha percebido isso, até agora. Ela riu asperamente. — O que você está fazendo é egoísta. Tudo o que você já fez foi para suas próprias razões egoístas! Você nunca colocou os sentimentos de outra pessoa antes dos seus? — Girou para longe dele, então se virou, olhando para ele. — Eu não sou uma conquista! Eu sou uma mulher com sentimentos. Como você espera que eu enfrente o meu marido? — Eu o tiro deste mundo. — Não, você não vai! Sou casada aos olhos de Deus! Você me envergonha na minha corte, Stefan. Uma tempestade surgiu no seu rosto. — O que está feito está feito! Esta noite você vai dar-se para mim! — Eu não vou! — Você vai. Se não houver sangue sobre os lençóis, a sua honra estará suja para sempre. — Você fala de honra para mim? Qual é a sua, Stefan? Que honra há em estuprar a esposa de um homem em sua noite de núpcias? — A lei permite... — A lei é bárbara e você sabe disso! — É a lei! Irritada, rasgou seu vestido e ficou nua diante dele. — Então me leve agora e faça o que tem a fazer. — Eu não queria que fosse dessa maneira. — Você não considera os desejos de ninguém, mas o seu próprio. Leve-me, Stefan, então me deixe. Stefan deu um passo em sua direção, seus olhares presos numa batalha furiosa. — Arian, por que você impede o que ambos desejamos tão desesperadamente? 172
— Eu não quero você desta forma, Stefan. É muito tarde para nós. — Não, não é. Venha a mim, meu amor. — Ele se aproximou. — Dá-nos esta noite, Arian. Ela balançou a cabeça, lágrimas quentes enchiam seus olhos e seu coração quebrou-se por completo. A única coisa que tão desesperadamente queria dele, seu coração, agora ele lhe dava livremente, mas não poderia aceitar. ― Se eu ficar com você, Magnus pela manhã irá anular o casamento e eu vou pendurar a minha cabeça com a vergonha. Com os dedos, ele levantou seu queixo para que pudesse olhar diretamente em seus olhos. Seu toque suave e sua respiração quente a acalmaram de uma maneira que não estava preparada. — Você é muito orgulhosa para pendurar a sua cabeça de vergonha. — Stefan, se nos tornarmos amantes esta noite, estamos condenados. Ele trouxe seus lábios para os dele. — Não, eu não acredito nisso. Seu beijo foi apenas uma passagem macia de lábios contra os dela, mas agitou o seu sangue. ― Stefan. ― Ela gemeu. ― Isto é errado. Ele deslizou um braço forte em volta da cintura, trazendo-a contra o seu peito. — Não, nada tem sido tão certo na minha vida, como você estar aqui em meus braços. Arian não conseguia lutar mais contra o que ambos sabiam que era para ser. O destino não tinha conspirado apenas uma vez, mas muitas vezes para jogá-los juntos, apenas para separá-los depois. Mas não esta noite. Esta noite finalmente seria consumado o que o destino conspirou. No entanto, apesar de seu coração, corpo e alma o querer, ela sabia no seu íntimo que para onde Stefan a levasse, não seria apenas o orgulho de Magnus que sofreria. Stefan beijou-a na testa, no nariz e na face. Seus beijos se perderam em sua orelha, sua respiração quente causava arrepios a faziam o corpo todo dela entrar em erupção. Seus seios incharam-se e os mamilos enrijeceram. — Você tem cheiro de lugares exóticos. — Ele sussurrou. Arian estava perdendo o controle. Ele não a pressionava, estava dando a ela uma escolha, e não podia negar-lhe. — Stefan... ― Ela respirou e entregou-se a ele. — Arian... — Ele suspirou. — Meu amor. Ele escovou os longos cabelos de seus ombros, puxando para trás apenas o suficiente para contemplá-la. — Você é bonita. — Ele baixou os lábios para a cicatriz rosa em seu peito e beijou-a. — Perdoe-me a minha brutalidade naquele dia, Arian. — Perdoei-lhe da primeira vez que você me beijou. Seus lábios roçaram um mamilo tenso, trazendo-a contra ele. Arian fechou os olhos e se derreteu em seus braços, as sensações que ele causava com a boca e língua, eram tão maravilhosamente sublimes que pensou estar sonhando. Que ele estava ali com ela, na sua cama e momentos depois estaria dentro dela como Deus queria que o homem e a mulher estivessem, apesar de aterrorizada, aquilo a emocionou. Colocou as mãos nos ombros dele, 173
depois entrelaçou os dedos em seus cabelos, pressionando-o com mais força contra o seu peito. Ele levou-a até á cama. Nua, ela se deitou sem vergonha da forma como os olhos dele percorriam cada centímetro de seu corpo. Ele estendeu seu longo cabelo ao redor dela, como uma mortalha de ouro, seus olhos devoravam-na. — Eu não consigo explicar como me sinto neste momento, Arian. É aterrador e emocionante, e meu coração… — Ele tocou um dedo nos lábios dela. — Meu coração se sente como se estivesse muito cheio. Temo que vá estourar. Ela arrastou sua mão até a dele e chupou seu dedo, girando a língua em torno dele. Stefan engasgou-se e ela sentiu um movimento contra sua coxa. — Tire a roupa, Stefan, meu corpo cresce impaciente por você. Sorrindo, ele levantou-se e rapidamente removeu cada peça de seu corpo. Quando ficou nu e cheio a luz das fracas velas, Arian prendeu a respiração. Ele lembrava os antigos deuses celtas, guerreiros de grande força e poder. Suas cicatrizes não prejudicavam em nada a sua masculinidade. Não, só a glorificavam. — Você é magnífico, Stefan. Ele deitou-se na cama ao seu lado, movendo a mão da barriga aos quadris dela, pressionando a palma da mão suavemente contra o seu monte macio e felpudo. Sensações entraram em erupção, uma devassa necessidade selvagem flamejou, aquecendo-a até ao extremo. De repente, Arian perguntou-se como foi capaz de negar o seu corpo a este homem. Com tudo o que queria, e agora que o desejo se transformava numa necessidade angustiante, temeu que se não fosse saciada, aquilo a levaria á loucura. — Stefan. — Ela respirou, pressionando os seus quadris contra a mão dele. ― Meu desejo por você me consome. Ele sorriu com os olhos e ela quase morreu — a emoção que viu ali era tão profunda que quase a desfez. Um terrível e repentino medo a pegou pelo intestino. Isto era amor na sua forma mais pura. A união de corações, de corpo e alma, e seria dele para sempre depois desta noite. Seus olhos se queimaram com lágrimas não derramadas por aquilo que nunca poderia voltar a ter. — Não chore meu amor. — Stefan murmurou quando baixou os lábios nos dela. — Eu nunca vou estar longe de você. Quando a beijou, naquele momento ele afastou o medo para longe. Ela derreteu-se nele e deixou-se levar para o lugar em que queria ir a tanto tempo, que parecia uma vida inteira. — Tome-me agora, Stefan. ― Ela engasgou, dilacerando os seus lábios nos dele. Ele sorriu novamente e abanou a cabeça lentamente. — Não, eu quero saborear cada parte de você. – Ele beijou sua bochecha, seu queixo. ― Devagar. ― Sussurrou, beijando seu pescoço, enquanto suas mãos fecharam-se em concha em seus seios, até que os lábios encontraram o profundo vale que ele tinha criado. Ofegante, ela curvou-se suspensa na expectativa, querendo tudo, mas delirantemente querendo render-se a sua lenta sedução. Ele beijou a cicatriz em seu peito, sua língua deslizando sobre ela, depois mais abaixo até ao seu mamilo sensível. Chupou-o suavemente. Arian fechou os olhos e levantou-se. Seu 174
braço deslizou em volta de sua cintura, trazendo-a mais contra ele quando a sua voracidade intensificou-se. Assim que a paixão diminuiu, ele a soltou e apertou-a suavemente contra a cama. Lentamente, saboreando cada centímetro dela, seus lábios viajavam suavemente. Ele beijou sua barriga. ― Você é indescritível. — Disse suavemente contra a pele sensual. Ela soltou uma respiração longa e lenta. Seus lábios viajaram para o berço em seus quadris. — Você cheira... — Seus lábios viajaram um pouco mais abaixo, para a macieza que protegia o núcleo dela. Ele roçou o nariz suavemente lá e inalou o cheiro dela. — Como o céu. Seu hálito quente em contacto com a suavidade dali, provocou arrepios agradáveis de excitação ao longo de seu corpo, e sua fome por ele crescia. Ele beijou o interior de sua coxa e os seus dedos suavemente acariciavam onde ele tinha acabado de beijar. ― Arian. — Respirou ele. — Eu queimo por você, com a intensidade de mil sóis. — Olhou por cima de sua coxa e sorriu suavemente. — Eu não quero que esta noite tenha fim. Arian prendeu a respiração diante de suas palavras. Para um cavaleiro tão terrível, era tão gentil e paciente que desejava chorar. Com sua paciência gentil, ele provocou um incêndio dentro dela. — Nem eu, mas para isto acabar… — Lentamente ela abriu-se a ele. ― Primeiro deve começar. Os olhos dele brilharam. Ele balançou a cabeça e o que fez em seguida, atirou para as estrelas. Seus lábios pressionaram-se nos lábios inferiores e gentilmente a sugou. Arian agarrou os lençóis, torcendo-os em punhos. Uma corrida de sensações eróticas atravessou o seu corpo por inteiro, fazendo-a com que lhe faltasse o ar. Sua língua deslizou contra a sua emenda, para depois os seus lábios chuparem gentilmente. Ele passou um dedo pela sua protuberância endurecida e Arian pensou que iria desmoronar. Quando sua língua deslizou naquele lugar sensível, ela gemeu, pressionando os seus quadris nele, querendo mais. Ele não a decepcionou. Deslizou um dedo grosso contra as dobras inchadas. Arian prendeu a respiração. Num delirante movimento lento, empurrou o dedo dentro dela. Arian suspendeu-se com a incrível e deliciosa sensação, e não conseguiu conter um grito de prazer. Com uma lentidão excruciante, ele moveu o dedo dentro e fora dela, enquanto os seus lábios e língua sugavam e lambiam o pequeno monte endurecido de tanta excitação. O fogo em seus membros queimava mais flamejante e quente, espalhando-se dentro dela que parecia estar á beira da destruição total. ― Stefan. ― Ela suspirou. — O fogo se enfurece. Ele gemeu, beijando seu suave montículo, antes de levantar a cabeça para olhá-la. A umidade brilhava em seus lábios, mas ela não sentiu nenhuma vergonha. Não, ele deu-lhe tanto prazer que a encheu de poder feminino. Lentamente tirou o dedo de dentro dela. Seus quadris se levantaram, tentando capturá-lo novamente, se elevou para cima dela, cobrindo o seu corpo com o dele. Os lábios dele pressionaram os dela, num profundo beijo, sua língua girava contra a dela e sua dureza pressionava-se na sua coxa. Arqueando embaixo dele, Arian colocou os braços em volta de seus pescoço, puxando-o para ela. Delicadamente, ele pressionou-se contra sua entrada molhada. Arian prendeu a respiração quando ele entrou. Ele abraçou-a para mais perto de seus braços. ― Isto vai doer, meu amor, mas só por um momento. — Disse ele suavemente. — Não, Stefan, você nunca poderia me machucar. 175
Ele empurrou mais fundo e ela recebeu-o. Quebrou seu escudo virgem e, embora ela sentisse uma pontada de dor, seu corpo estava pronto para ele. Suavemente, quase hesitante, ele se moveu mais fundo dentro dela, dando-lhe tempo para que seu corpo o aceitasse. Arian prendeu a respiração quando ele ficou totalmente embainhado. Stefan beijou as pálpebras, as bochechas e os lábios. — Quando você estiver pronta, Arian. ― Ele disse. Olhou em seus olhos brilhantes e seu amor por ela brilhou como a mais brilhante estrela num céu negro. Emoção correu através dela. Nunca se sentiu tão amada, nem tão segura como agora, naquele momento, em seus braços. E com isso, uma profunda tristeza encheu-a, esta seria a única noite que carregaria pelo resto de sua vida. Os lábios dele capturaram os dela num áspero beijo apaixonado. Seu corpo inchou-se e ela sentiu os músculos dele apertarem-se. Moveu-se por baixo dele, querendo a marca dele nela. Ele empurrou contra ela e Arian prendeu a respiração. Stefan levantou seus quadris, puxando-a, então empurrou novamente, e novamente, e novamente, até numa ondulação perfeitamente sincronizada pelos seus corpos juntos, como um fluxo primário de dois amantes em acasalamento. Seus dedos enredaram-se nos cabelos de Arian, os seus lábios capturaram os dela, suas línguas giravam juntas. Levou-a até as nuvens, até ao sol e mais além. Sensações envolveram-na em todas as partes de seu corpo. Sua pele estava quente e úmida e seu sangue corria rápido em suas veias. A onda de desejo crescia com cada impulso de seus quadris, levando-a mais e mais até que aquilo entrou dentro dela como uma alma penosa a tremer no inferno. Arian gritou enquanto fragmentos quentes de fogo queimavam o seu interior, causando uma liberação catastrófica que sacudia a própria alma. Ofegante, se agarrou a ele, cavalgando numa sensação que sabia que nunca mais teria. Stefan se uniu para mais perto em seus braços. Ela sentiu a mudança em seu corpo e soube que ele também iria ter ao seu modo o que ela teve. Recuperando-se, Arian enredou as suas pernas em volta da cintura dele, trancando-o com as suas coxas. ― Arian. — Ele gritou assim que seu corpo se chocou contra o dela. Num grande esforço, seu corpo colapsou-se e sua semente encheu seu interior. Quando seu corpo aclamou, sua respiração era tão forte e irregular quanto à dela. Ela segurou-o com força, seus corpos eram uma mancha de suor. Ele caiu ao seu lado, puxando-a para perto em seus braços. Ela deitou a cabeça sobre seu ombro e lá ficou até as respirações voltarem a um ritmo mais regular. Terríveis pensamentos selvagens corriam na mente de Stefan. Tentou afastá-los de sua cabeça, mas não conseguiu. Como um animal raivoso, não conseguia acalmar o que seu instinto primário queria fazer: arrancar o homem que estava entre ele e a mulher que amava. Apertou Arian firmemente em seus braços. Ela gemeu em protesto. Afrouxou o aperto. — Arian para onde vamos agora? — A lado nenhum. Temos até manhã, Stefan. ― Arian disse suavemente. Ele levantou-se sobre um cotovelo e olhou diretamente para ela. — Eu quero a eternidade. Medo nublou suas feições suaves. — O que você está dizendo?
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— Eu estou dizendo que eu quero você por toda a eternidade. Eu farei o que for necessário. Ela pressionou os dedos sobre os lábios dele. — Não, Stefan, não diga essas coisas. Não só é contra a lei do homem, mas de Deus. Sou casada e Magnus está muito vivo. Eu nunca poderia viver comigo mesma, ou olhar para você de novo, sabendo que fomos responsáveis por sua morte. — Acidentes acontecem… — Não! Stefan, você diz o impossível! Não diga essas coisas! Fúria cresceu em seu interior ao pensar em assassinato! Virou-se e agarrou uma vela da mesa mais próxima ao leito. Trouxe-a até aos lençóis e sorriu tristemente. — Manchas da sua virgindade, que ele tanto insistiu. Se ele realmente a amasse, o sangue não teria importância. — Nosso casamento é como a maioria deles, uma aliança de duas grandes casas. Amor nunca faz parte do arranjo, mas para alguns é um dom inesperado. Levou a vela de volta á mesa. Por um longo momento, permaneceu relutante em aceitar que aquela mulher, a quem amava acima de todos os outros, iria deixá-lo na mão e ir para outro homem, para nunca mais vê-lo novamente. Fúria, frustração e saudades apenas com o pensamento de perdê-la, discutiam em seu coração e embora soubesse que se fizesse aquilo que estava disposto a fazer, isso acabaria por separá-la dele, mas a visão de um Magnus morto, com a sua espada enterrada nas suas entranhas, não saia da sua cabeça. Seu olhar encontrou o dela. — Eu não posso suportar a ideia dele tocá-la como eu fiz. ― Retornou para a cama, aproximando-se para acariciar seus seios. Seu polegar esfregou no mamilo. Ele sorriu quando este enrijeceu. — Sua pele é mais suave que a seda. — Disse enquanto seus lábios substituíam seu dedo. Ela arqueou-se para ele. Ela tinha gosto de leite e mel. Seus seios eram cheios e roliços, feito para um homem, mas a imagem dela amamentando seu filho rasgou seu coração. Seus lábios apertaram-se. Arian engasgou. Raiva explodiu no coração dele. Raiva do destino, que a colocou no seu caminho para depois tirá-la. Segurando o rosto dela entre as mãos, ele pressionou sua testa contra a dela. — Você é minha, Arian! Minha! — Ele a posou nos travesseiros e num rápido golpe, entrou dentro dela. Uma posse primitiva se apoderou dele com tanta força, que queria erguer a cabeça e uivar para a lua, para que todos ouvissem e soubessem que tinha reclamado sua companheira e que lutaria contra qualquer homem ou animal que tentasse tirála dele. Entrelaçando seus dedos nos dela, Stefan levou os braços dela por cima da cabeça, enquanto os seus quadris moviam-se, marcando-a com cada impulso, como se significasse um sinal, para qualquer homem, de que ela pertencia-lhe. E ele não iria renunciá-la. Fúria queimava em suas costas a cada arremetida que empurrava dentro dela. Seus corpos tensos um contra o outro, e com os golpes se libertou enrolado em um grande surto de arremetidas. ― Arian. ― Ele gritou, enquanto loucamente ondulava contra ela enchendo-a com sua semente uma segunda vez naquela noite. E tal como ele, numa onda furiosa de paixão, o corpo dela entrou numa erupção e libertou-se numa forte onda de ‘prazer’, segurando as mãos dele enquanto seu corpo arqueava-se, permaneceu ali, imóvel por um momento sublime antes de cair de volta a Terra. 177
Arian caiu num sono exausto meros momentos mais tarde. Stefan puxou-a para mais perto dele, onde estava deitado de costas olhando para o teto de vigas, sua mente numa cacofonia estridente de conspirações. Poderia passar pelo corredor e cortar a garganta do viking e ninguém saberia. Poderia desafiá-lo num duelo e diante de toda a população de Yorkshire, poderia matá-lo em menos de um segundo. Poderia pagar um bando de ladrões para assassiná-lo no caminho para a Noruega, ou contratar um assassino para estrangulá-lo furtivamente. Mas, com cada conspiração que Stefan inventava, sabia que Arian nunca iria perdoá-lo por assassinato. Ela valorizava toda a vida, mesmo daqueles que pudessem magoá-la. Se matase seu marido, ele não poderia suportar a recriminação em seus olhos, cada vez que o olhasse. Nem poderia aguentar o pensamento de outro homem, mesmo de seu marido, pondo as mãos sobre ela! — Stefan. — Arian murmurou, pressionando os lábios contra o seu peito. Sua ira dissolveu-se. Substituída por um desgosto tão debilitante que mal conseguia respirar. Arian sentou-se completamente vestida no quarto escuro. Apenas as profundas respirações de Stefan interrompiam o silêncio, e só o crepitar da vela iluminava o corpo poderoso deitado sobre os lençóis amarrotados. Seu tempo junto estava perto do final. Emoção fechou sua garganta. Daria sua alma a qualquer divindade para poder mudar seu destino. Mas isso não iria acontecer. Se ele ainda a quisesse ― o seu marido que aguardava ansiosamente para reivindicar sua esposa ― então estaria ali para ele. Recusou-se a pensar numa vida sem Stefan. Recusou-se a permitir que lágrimas de tristeza rolassem por seu rosto. Recusou-se a permitir que seu coração a guiasse de volta para a cama com ele e saboreasse mais um beijo. Seria uma tortura e não suportava mais. Estava por um fio e temia que, se fosse em frente, iria se desfazer. Visão de seu pai vagando sem rumo nos escuros corredores do castelo, chamando por sua mãe, apertou seu coração. Via-se fazendo o mesmo, vestida em trapos, com os cabelos bagunçados, faixas de permanentes lágrimas manchando seu rosto. E lá nas sombras seu marido e seu filho, olhariam para ela com grande tristeza. Não! Não faria isso! Com os primeiros raios cinzentos da aurora a surgir pela janela, Stefan mexeu-se. Arian sentia seu coração na garganta. Como uma grande besta selvagem ele esticou os músculos poderosos. Um sorriso suavizou seu rosto. Seus olhos sonolentos abriram-se calmamente, procurando-a pelo quarto, sorriu, um lento e satisfeito sorriso. O corpo dela tremia. Apegou-se a todas as forças que possuía para não ir ao encontro dele. Quando ele percebeu que estava vestida e não vinha até ele, seu sorriso desapareceu. Olhou além dela, para a janela. Erguendo um braço da cama, ele disse baixinho: — Não me deixe Arian. Ela levantou-se. ― É muito tarde para nós. Ele saiu da cama e pegou suas roupas no chão e vestiu-se. Enquanto amarrava o cinto de sua espada, olhou para ela como se quisesse dizer mais alguma coisa. 178
— Por favor, Stefan, não torne isto mais difícil do que já é. Vá. Agora. Ele abanou a cabeça, mas antes de ir embora, puxou o lençol ensanguentado da cama. ― Para o seu marido. Arian mordeu o lábio inferior. Assim que Stefan abriu a porta, o grande corpo de Magnus encheu o espaço. Stefan empurrou o lençol para ele. — Sua prova. ― Então passou ao seu lado. Arian levantou os olhos para ele, sem saber como estava sua situação. — Meu Senhor? Virou-se para o Padre John, que estava atrás dele, e entregou-lhe o lençol. —Pendureo na mais alta torre, para que o condado inteiro testemunhe. Arian fechou os olhos enquanto seu estômago borbulhava numa onda contínua. Quando abriu os olhos, Magnus estava diante dela. Tantas emoções nublavam seu rosto. Alívio, raiva, dor. Ele ficou em silêncio, seu orgulho, seu coração e suas emoções penduradas claramente em sua luva. Arian sentiu compaixão por ele. Nada disto era sua culpa. No entanto, ele pagou o pesado preço de todos. Ela fez uma rasa reverência. — Magnus, a partir deste momento, eu vou-lhe dar tudo o que for capaz de lhe dar. — Ela tocou-lhe o peito com a ponta dos dedos. — Minhas mais profundas desculpas. Isto nunca foi a minha intenção, nada do que aconteceu. — Ele machucou você, Arian? — Ele perguntou baixinho. Ela abanou a cabeça, não confiando na sua voz. — Se você carregar um bastardo deste bastardo, eu o expulsarei de minha casa. O coração de Arian apertou-se com a visão de um filho, de olhos brilhantes como os de Stefan e cabelos escuros, em sua mente. Com o silêncio dela, ele continuou. — Eu me deitarei com você só após seu curso venha duas vezes, para que eu possa ter certeza de que você não carrega um bastardo. Uma súbita onda de raiva surgiu dentro dela. Bastardo ou não, nenhuma criança dela seria jogada fora. E apesar de entender Magnus, ele viria a entender que ela não era uma mulher que se usava como uma esteira. Mas isso era uma batalha que teria que enfrentar, por agora manteria o silêncio. — Vamos tomar o desjejum, marido, e apresentar um casal unido aos nobres bisbilhoteiros e as pessoas deste condado. Magnus assentiu e estendeu o braço.
Stefan caminhou pelo corredor, chamando seus homens, que se misturaram com os nobres curiosos na madrugada, para testemunhar o que eles estavam á espera de ser um duelo de morte entre Stefan e o Jarl. Stefan só podia desejar que isso fosse fácil, mas não teriam nada disso nessa manhã. Arian fez sua escolha e não foi por ele. Raiva torcia suas entranhas, enquanto o ciúme envenenava sua mente e o desespero atingia seu coração.
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Como olharia para ela no braço de seu marido? Como poderia fechar os olhos a cada noite e ter visões dela sob o viking, entregando-se como tinha acabado de entregar-se a ele nessa noite? Partiria ao meio-dia, como tinha prometido ― o que parecia ter sido há muito tempo — não iria olhar para trás. Iria cavalgar para oeste e esquecer que tinha conhecido a princesa Arianrhod. Mesmo quando Stefan tentou convencer-se de que podia esquecê-la, soube que mentia. Ela estaria sempre com ele, como se fosse sua mão ou seu braço. Em seu coração e alma, onde estaria até seu último suspiro. Com a mente resolvida, forçou-se a não dar a volta e reclamá-la como sendo dele para sempre. Parou de andar, seus homens aproximaram-se. Lentamente virou-se e olhou de volta para a casa senhorial de madeira e pedra, acima do qual uma bandeira azul e branca do Jarl, voava arrogantemente na brisa da manhã. A casa era feia e escura, e embora tivesse passado a melhor noite de sua vida dentro de suas paredes sombrias, odiava olhar para ela. — Cavaleiros se aproximam. — Disse Rohan, caminhando depois de Stefan. Stefan virou-se e olhou para o amplo vale que separava a vila da terra senhorial. — É um mensageiro real. ― Disse Stefan apertando os olhos. Reconheceria a bandeira dourada e vermelha de William em qualquer lugar. — Com uma guarnição completa acompanhando. — Ponderou Wulfson. Um único cavaleiro atravessou as portas largas do pátio, os camponeses dispersaram. Stefan sorriu tristemente, reconhecendo o mensageiro mais confiável de William, Robert Fitz Hugh. Que negócios teria o rei em Yorkshire? — Stefan! — Robert chamou, parando sua montaria. Apesar de seu sofrimento, Stefan não conseguiu conter um sorriso para o jovem. Era bom voltar a vê-lo. — Robert! O que te traz aqui? Ele freou seu cavalo e parou diante deles, rapidamente desmontou. Quando puxou o elmo da cabeça, seu rosto aparentava preocupação e mal humor. — Noticias de William. — Deve ser urgente, para você montar a partir de Rouen. Diga-me. Robert tirou um pergaminho da bolsa de couro pendurada no peito e entregou-a a Stefan. Quando ele quebrou o selo, Stefan desviou o olhar para a guarnição. — Por que você viaja com tão pesada guarda? — Não é uma guarda, Stefan, mas uma guarnição completa, à sua disposição. Outros cinquenta viajam, mas está há um dia e meio atrás de mim. — Mas, hoje estamos preparados para tomar a estrada rumo ao oeste. — Não você não vai. Leia a missiva. Rapidamente ele desenrolou o pergaminho. Os Espadas de Sangue se juntaram em torno dele. A letra negra de William surgiu no papel.
Sir Stefan 180
Eu rezo para que esta missiva encontre-o e seus irmãos em boa saúde. Fui plenamente informado da traição de Edric, e da sua aliança com Rhiwallon e Bleddyn. Como você não tem dúvida desse testemunho, as pessoas da região de Yorkshire continuam a resistir à minha vontade e a minha reivindicação ao trono Inglês. Meus espiões disseram-me que até existe normandos entre os que tramam contra a Normandia. Não é meu desejo de castigá-los, mas controlá-los. Como meu homem de confiança, dou-lhe a soberania de York e de toda a área circundante, incluindo Moorwood ao sul e Scarborough ao norte, não só para ver os interesses da Normandia, mas da Inglaterra também. Em breve, aquele Inglês teimoso vai entender que foram surrados, e que sou rei legítimo. Mantenha os Espadas de Sangue com você e a guarnição que enviarei com Robert. Oferta firme e justa, os termos para os senhores que agora você deve supervisionar, são de que se recusarem-se a ajoelharem-se perante você, então não estão se ajoelhando perante mim, o seu rei. Embora eu esteja cansado destas batalhas, não hesite em chamar sua espada em nome de seu rei. Chegaram-me aos ouvidos, embora não tenha nenhuma prova até ao momento, de que Magnus Tryggvason conspira com a corte de Murchad de Dublin, que este está acompanhado pelos dois filhos mais velhos de Harold. Ainda mais que uma ameaça, ele dorme com o lobo Sven da Dinamarca, que reivindica o trono por direito de sangue através de seu tio-avô Canuto. Mantenha-o perto, meu amigo, e veja cada movimento seu. Enquanto escrevo isto, meus espiões informaram-me de que os homens dele montam na costa norte da Escócia, auxiliado por reis escoceses que, como você sabe, abriga aquele rapaz marica, Edgar. Vigie o condado, Stefan. Não poupe vidas se ameaçarem o trono em que me sento. Traição abunda. Não confie em ninguém, apenas em Robert e em seus irmãos. Ao meu comando, William. Chocado com a súbita mudança dos eventos, Stefan olhou para Rohan, Wulfson, Rorick, Warner e Ioan, que parecia igualmente chocados, então Robert puxou outro pergaminho de sua bolsa e entregou-o a Stefan. ― Esta é a missiva que lhe dá o poder sobre o condado.
VINTE E UM
À medida que a refeição matinal começava, Magnus ergueu a mão e levantou-se. Quando abriu a boca para falar, o coração de Arian caiu ao chão. Stefan entrou na sala, ladeado pelos seus irmãos e atrás dele um enxame de cavaleiros armados. Sentiu Magnus endurecer ao seu lado. A própria guarda dele apareceu vindo não se sabe de onde e aqueles que estavam no corredor vieram ver o que se passava. Tensão tomou conta de cada um ali presente.
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Naquele momento, o padre John apressou-se para o corredor, segurando os lençóis sujos em suas mãos. Ele parou e olhou em volta. Stefan caminhou arrogantemente para a mesa do lorde, seus olhos fixos em Magnus. — O teu negócio aqui está concluído, normando. ― Estalou Magnus. — Você já causou danos suficientes. Eu ordeno que você parta de uma vez. Um lento sorriso torceu os lábios de Stefan. Arian prendeu a respiração, sabendo que aquilo não iria cair bem em Magnus. Lembrou-se do juramento que Stefan fez para ela, e seu medo pela segurança de seu marido foi dissipada. — Eu peço seu perdão, Meu Senhor, mas meus homens e eu viemos apenas comer antes de voltarmos com os nossos cavalos para a estrada. Não deixe que a nossa presença impeça o seu discurso. Os olhos de Arian se estreitaram. Que jogo ele estava jogando? E de onde vinham aqueles soldados todos? — Meus senhores! ― Disse o Padre John, metendo-se entre os dois homens. Ele fez uma curta reverencia para Arian e Magnus, em seguida, levantou os lençóis sujos para que todos pudessem ver. ― Você jura lady Arian, que este é o seu sangue virgem? juro.
Ela concordou com a cabeça. ― Pela vida dos meus filhos que ainda não nasceram, eu
— Meu senhor Magnus, isto é prova suficiente para apaziguar o contrato de casamento? Ou você contesta a validade sem testemunhas? Por um longo momento, Magnus não respondeu. Arian parada e tensa ao lado dele, não respirava. — Sim, eu aceito. ―Ele disse finalmente. — Então eu pronuncio… — Repudio o juramento dela! — Gritou Philip sobre a voz do sacerdote. Chocada com a acusação, Arian engasgou, assim como todos ao seu redor. Virou-se para o homem. Lisette estava ao seu lado e juntos pareciam raposas gêmeas com perdizes gordas em suas bocas. — Qual é o significado disto? — Magnus entrou em erupção, ignorando a ação do Padre John. Arian sentiu a raiva de Stefan diante dela. — Você mente! — Ele desafiou. Lisette passou a mão de seu marido em seu braço em sinal de advertência. — Temos provas de que foram amantes antes do casamento! ― Cuspiu para Stefan. — Mostre. — Disse Stefan ameaçadoramente. Lisette acenou para uma mulher em pé no canto, e quando todos os olhos se voltaram para ela, Arian prendeu a respiração, sabendo que teria que se defender de suas mentiras. Era Miriam, a empregada que dormiu no seu quarto na noite anterior ao casamento, Jane nessa noite tinha ido embora. Em seus braços
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estava um lençol dobrado. Confusa, Arian olhou para Stefan, então para Lisette, Philip e finalmente para seu marido, cujo rosto estava lavado em raiva escarlate. Enérgica, Miriam aproximou-se e entregou o lençol a Philip. Ele empurrou aquilo debaixo do nariz de Arian. — Não são estas as roupas encontradas em cima da cama do senhor? Arian olhou para elas, observando o bordado de ouro de uma sucessão de veados aos saltos ao longo da borda. Assentiu com a cabeça tal como Magnus. Com a grande revelação, Philip estendeu o lençol e lá no meio estavam várias gotas de sangue seco. — Onde você conseguiu isso? — Exigiu Magnus. — Da cama da sua senhora, ontem de manhã, nessa noite ela se deitou com o normando! ― Cuspiu Philip. — Não, não fizemos isso! – Gritou Arian, virando-se para Magnus. — Há testemunhas, incluindo homens do próprio normando, que o viram ir para o quarto e só sair mais tarde. ― Assobiou Lisette. Arian olhou com arrogância para a mulher. Seu veneno marcava tão claramente suas feições graciosas, que a desvirtuou em algo muito feio. Era os ciúmes que a levava a mentir. Então, era assim que irmão e a irmã tentariam derrubála? Arian enrijeceu com determinação. Tinha a verdade de seu lado. — Será que o normando foi ao seu quarto com você desacompanhada? ― Exigiu Magnus com o rosto torcido em desprezo. — Sim, ele veio ao meu quarto, mas para falar. Nada mais. Eu juro! Stefan pegou no lençol de Philip. — Sua traição só é superada pela sua loucura. — Ele jogou o lençol no chão e pisou. Lisette riu, gostando da farsa dramática, jogando a farsa para que cada magnata em Yorkshire testemunhasse. — Pergunte a camareira como encontrou sua esposa, quando ela foi para o quarto? Magnus virou-se para a encolhida empregada. — Fale! Miriam olhou de Lisette para Arian, em seguida para Magnus. – Eu… eu entrei no quarto, logo após a saída do normando. Quando eu despojei a roupa de cama para a manhã seguinte, encontrei a roupa da senhora arrancadas do seu corpo. — Você está mentindo! — Gritou Arian. Antes que alguém pudesse se mover, Magnus desembainhou a espada e apontou para Stefan. ― Desembainhe sua espada, seu vira-lata mentiroso, vou te matar aqui e agora. Você nunca mais vai se intrometer entre mim e minha esposa! — Não, Stefan, não! — Gritou Arian, sabendo que Magnus era grande e forte, ele não era páreo para o experiente normando.
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Para seu grande choque e alívio, Stefan não pegou a espada. Não, ele não precisava: seus homens tinham apertado num semicírculo ao redor dele, as suas próprias armas desembainhadas. — Se você fosse qualquer outro homem, sob quaisquer outras circunstâncias, Magnus, as suas entranhas estariam no chão. — Stefan fez uma curta reverencia e recuou um passo. — Mas, como um homem que viu a sua promessa em outro e a dor que isso implica, não vou pegar uma espada contra você. Magnus riu num som baixo e ameaçador. Pressionou mais perto de Stefan, a ponto de sua espada estar apenas a uma mão de distância do coração de Stefan. Rorick rosnou um aviso, sua espada apontada no coração de Magnus. Stefan estendeu o braço, e com a palma da mão, empurrou a espada de Magnus para longe. — Se você me matar, irá perder a pouca chance de felicidade que você tem com sua esposa. — Minha esposa? — Rugiu Magnus. Virou os olhos pálidos sobre Arian. — Escolha entre nós agora, Arianrhod de Dinefwr, e resolva a questão. Não vou viver com você quando seu coração chora por outro! — Estamos casados aos olhos de Deus. A escolha já foi feita. ― Ela disse com firmeza. — Se você não fizer a escolha, eu farei por você. — Magnus ergueu a espada. – Erga a sua espada, normando. — Não faça isso! – Gritou Arian. Lentamente Stefan tirou a sua arma. Ela saltou em direção de Magnus e agarrou seu braço. — Não! Não faça isso! — Gritou ela. ― Anule o casamento, Magnus. Eu te darei o meu dote inteiro, mas não faça isso! Ele vai matá-lo. Empurrou-a para longe dele, a força do impulso a fez cair no chão. Rhodri ergueu-a do chão e tirou-a da disputa. Por Arian, Stefan tinha se exigido um autocontrole imenso, quando o Viking o desafiou pela primeira vez, mas agora, por razões próprias, iria matá-lo. O viking era alto e forte, mas Stefan era experiente em batalha. Mais do que isso, não era sobre justiça ou honra, ou outra coisa qualquer, mas com a morte deste homem, Stefan teria finalmente a única mulher que importava. O capitão de Magnus atirou-lhe um machado mortal. Rorick resmungou e jogou a Stefan a sua própria espada. Os dois homens, uma vez armados enfrentaram-se. Stefan era perito em combate corpo a corpo, embora corresse muitos riscos, também lhe permitia ter uma maior hipótese de um ataque fatal. Magnus atacou primeiro com os longos braços. Ele apontou sua espada e com o machado na mão direita, golpeou o ar em fatias para trazê-lo para baixo num golpe vingativo. Stefan cruzou as espadas um pouco acima dos ombros, amortecendo o peso dos golpes. Empurrando as armas para cima, abrindo os braços, forçou as armas de aço se distanciar, jogando Magnus para trás. Mantendo a defesa, Stefan apontou as espadas, pegando o viking pela coxa. Magnus rugiu em fúria e antes que Stefan atacasse de novo, a raiva de Magnus impeliu-o a diferir um imprudente ataque selvagem. 184
Stefan caiu num joelho, apoiado com uma espada, levantou a outra sobre sua cabeça, afastando o golpe do machado. Stefan continuou seu ataque irregular e defesas, desgastando lentamente seu oponente. A certo ponto, Stefan pegou o olhar horrorizado de Arian. Contevese e essa momentânea hesitação lhe custou caro. Num impulso, Magnus pegou-o desprevenido, golpeando seu antebraço e recuando em seguida, preparando-se para outro golpe. Um silêncio caiu sobre a sala. Stefan olhou por cima da ferida e sorriu. — Touché, Magnus. — Ele fez uma reverencia curta e ergueu as espadas. — Agora que eu joguei com você, antes de matá-lo, confesse quem mais entre vocês, conspiram com Sven da Dinamarca. — Eu não sei do que você está falando. — Magnus não foi tão zeloso na sua tentativa de defender-se. — Navios de Sven navegam nas costas da Escócia. Não foi na Escócia que você passou este ultimo mês e não na Noruega, como você disse a sua esposa? — Você está mentindo! — Estou? — Stefan rodou as pontas das espadas no ar, lançou-se em seguida num golpe que cortou o antebraço de Magnus, tal como ele tinha feito a Stefan. O sangue escorreu para o chão. ― A sua visita a Murchad em Dublin nesta ultima primavera, não foi um pretexto para se encontrar com os capitães de Sven e planejar sua invasão a Inglaterra? Magnus lentamente circulou Stefan, que apenas se virou e seguiu os movimentos dele. — Não, isso foi para um acordo de paz, nada mais. — Porque você trouxe uma centena de homens com você para cá? — Para livrar a minha terra de normandos! — Diga-me tudo, agora, e salve vidas. Por ventura, Deus então não julgará você tão duramente. — William não tem direito de sangue ao trono de Inglaterra! Ele vai cair! — Magnus rugiu e empurrou. Stefan sorriu tristemente, aparando o golpe. — Por ventura não por direito de sangue, mas ele tem a promessa de um rei morto. — Ele circulou o viking. — Será que o jovem Olaf trama com a sua família para norte? — Ele é fraco! Esse menino não vai sobreviver ao inverno! — Ah, então ele recusou dar ajuda. É bom para ele. William estará mais agradecido. Enquanto Magnus não dizia quem eram os seus conspiradores, Stefan tinha uma boa ideia de quem eram esses que conspiravam contra seu soberano. E agora ele tinha a certeza de que o viking estava dormindo com o rei dinamarquês. Isso faria com que o que ele estava prestes a fazer fosse mais fácil. Era hora de acabar com esta farsa. Num prático complexo de golpes e passos e meiasvoltas, Stefan se moveu no espaço apertado entre eles, tão perto que o viking não tinha chances de se defender. Stefan deixou cair uma espada e agarrou o punho da adaga do viking, 185
tirou-a do cinto e golpeou a garganta de Magnus, assim como tinha feito ao traidor do seu sobrinho. Arian gritou atrás dele, assim como qualquer outra mulher na sala. Magnus deixou a espada cair, depois o machado e agarrou a garganta. O sangue escorria entre os dedos. Caiu de joelhos, seus olhos azul-claros encarando-o em choque. Virou-se para Arian e estendeu a mão. Quando tirou a mão da garganta, sangue esguichou forte. Arian veio até ele, ajoelhando-se ao lado, pressionando os dedos na ferida. Ele abriu a sua boca para falar, mas apenas saiu um som borbulhante. Caiu para frente em seu colo, seu sangue manchando seu vestido azul e amarelo. Stefan ficou olhando para a horrível visão e se admirou de Arian não gritar ou chorar histericamente com o viking morrendo em seu colo. Quando ela olhou-o, foi um olhar frio, ele sentiu como se aquilo tivesse cortado seu coração. Ele ajoelhou-se ao seu lado. ― Não me condene por a sua morte, Arian. — De quem mais é a culpa? — Ela exigiu com a voz tão fria quanto seus olhos. — Ele teria anulado o casamento, não tinha que morrer. Stefan ficou em pé e fez sinal para Robert. — A Carta. — Com o documento na mão, Stefan subiu em cima de um banco mais próximo e segurou-a sobre a cabeça. — Esta carta é redigida a mim e me dá o poder sobre Scarborough ao norte e Moorwood ao sul. Como senhor destas terras, eu reivindico a senhora da mansão como minha. Qualquer homem ou mulher que interferir será enforcado por traição! Padre John correu até onde ele estava contorcendo as mãos. ― Isto não é bom, Sir Stefan. Não, é ruim, muito ruim. — Vá para a capela e se prepare para um casamento. — Ordenou Stefan. — Isso é imoral! – Desafiou Rhodri. — Não! Isso não é decente! Eu não vou realizá-la. ― Protestou Padre John. — Sim, fará! ― Rugiu Stefan. Ele olhou para Arian, que ainda estava com Magnus no colo. Stefan fez uma careta. ― Não haverá mais viúva. Vou tê-la como esposa ainda nesse dia. — Stefan pegou o bom padre pela túnica e puxou para perto dele. — Você irá realizar a cerimônia, ou vai se encontrar deitado ao lado de Magnus! — Sir, certamente o seu rei… — Meu rei me entregou o título aqui. Eu sou o lorde e vou tê-la como minha senhora. — Mas… mas você irá colocar o condado em chamas com o ultraje. — Assim seja.
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Vinte e dois
Quando Stefan voltou para o lado de Arian, ela olhou-o e em seus olhos nenhuma emoção se evidenciava. Estendeu a mão para ela, assim que vários homens de Magnus, estranhamente quietos, levavam o corpo para fora. Para onde, Stefan não se importava. — Venha comigo, Arian. — Disse Stefan baixinho de cócoras ao lado dela. Ela abanou a cabeça. — Não, eu não posso Stefan. — Deixe-a. ― Disse Rhodri indo para o lado de sua irmã. — Você trouxe-lhe nada mais do que dor e vergonha. — Ele abaixou-se e pegou Arian nos braços. — Eu estou levando-a para sua casa em Dinefwr. Stefan levantou-se, seu coração se dividia entre deixá-la ir e forçá-la a ficar ali com ele. Sangue cobria seu vestido e o chão. Seu braço ainda sangrava. Quando Rhodri virou-se com ela e deu um passo que seria o primeiro de muitos para separá-los para sempre, algo dentro de Stefan estalou. — Pare! — Ele ordenou. Rhodri continuou em direção à escada. Stefan desembainhou sua espada. Em passos largos, aproximou-se do príncipe e apertou a espada em suas costas. — Eu espeto-lhe aqui onde você está. Solte-a e a entregue-a mim. Lentamente, Rhodri se virou para ele. Stefan não olhou para Arian, com medo do que pudesse ver. — Quer matar o seu irmão também, para tê-la? — Não é esse o meu desejo. — Mas faria? Stefan não respondeu, mas baixou o olhar para sua amada. Seu sangue gelava em seus ossos. Ódio envolvia os olhos dela. ― Largue-me Rhod. —Ela disse. — Não, Arian. Ela soltou-se de seu aperto e se colocou entre seu irmão e o homem que lhe tinha causado nada mais do que dor de cabeça. Stefan embainhou a espada e estendeu a mão sangrenta. — Venha comigo, Arian. Eu não irei magoá-la. dele.
— Não tenho mais nada para você destruir. — Ela colocou a mão ensanguentada na Stefan olhou por trás dela para Rhodri. — Vem conosco até a capela. — Não irei casar com você! — Gritou ela. 187
— Você vai. Ela puxou a mão, mas seus dedos estavam apertados no meio dos dele, com o sangue pegajoso a ligá-los. — Seu tempo como viúva será de curta duração. — Isto é um sacrilégio! ― Acusou Rhodri. — É minha vontade. Assim será feito! ― Retorquiu Stefan. Puxou Arian com ele. Ela tropeçou e quando não conseguiu acompanhá-lo, ele a pegou no colo, com o irado irmão em seus calcanhares. Ele chamou por Ioan e Warner, para estarem por perto e segui-lo. Atordoada, coberta com o sangue de seu marido, Arian ajoelhou-se diante do Padre John. Stefan ajoelhou-se ao lado dela, seu irmão e dois cavaleiros de Stefan ficaram em pé, como testemunhas da cerimônia macabra. Ela não lutou, não tinha forças, nem sabia se poderia ganhar. Tal como o seu rei, Stefan de Valrey tomou o que queria à força. Forçou-a ante a sombra da morte de Magnus e nunca iria perdoá-lo. Ele lhe deu seu juramento de que não mataria seu marido e, diante de seus olhos, e dos que estavam em Yorkshire e de Deus, ele quebrou o juramento. A voz do Padre John zumbiu e a cada palavra seu coração se fechava mais um centímetro. Quando finalmente declarou-os marido e mulher, Arian olhou com frieza para Stefan. — Eu sou apenas sua mulher no nome. —Levantou-se e lhe deu um tapa. Ele ficou em silêncio, imóvel, aceitando o seu desdém. Pelo menos agora ela lhe pertencia. Ela virou-se e saiu da capela para o pátio, para que todos vissem as suas roupas ensanguentadas. Os nobres que tinham assistido ao seu primeiro casamento se afastaram, quando atravessou o corredor passando por eles. Bílis subiu por sua barriga, quando viu as criadas limpando o sangue do chão. Passou a correr por elas, da escada para seu quarto, encontrando Jane à sua espera com um banho quente. Arian gritou, rasgando as roupas ensanguentadas de seu corpo, quando finalmente a histeria passou, acalmou-se. Jane tomou em seus braços o corpo tremulo, acalmando-a antes de colocá-la gentilmente na banheira. Com a tensão dos acontecimentos pressionando-a, Arian sentou-se nas mornas águas perfumadas e fechou os olhos, querendo apagar sua vida. Endureceu quando ouviu a voz profunda de Stefan comandando lá em baixo. Soltou um longo suspiro e colocou a cabeça para trás contra a banheira. Ele teria comandado os nobres a se reunir? Como eles reagiriam? Magnus tinha sido bem-amado neste condado, seus súditos eram leais, pois tinha sido um senhor justo. Soluçou e incapaz de acreditar que ele tinha morrido. Não porque sentia amor por ele, mas porque o respeitava. E apesar de tudo o que tinha acontecido, ele no fim, estava disposto a colocar seu orgulho de lado e aceitá-la como sua esposa. Seu punho atingiu a água. Stefan não era assim! Seu orgulho tinha causado danos irreparáveis! Como poderia morar ali, entre aquelas pessoas quando se sabia que seu primeiro marido foi morto pelo seu segundo marido? Como poderia esperar que a respeitassem, quando o sangue de Magnus ainda estava fresco quando casou-se com o assassino? — Minha senhora. — Jane acalmou. — Não seja tão dura consigo mesma. Arian olhou para sua aia. — Como não posso ser? Eu casei com o homem que matou meu marido enquanto o sangue dele ainda estava em minhas mãos! Por causa do meu desejo pelo normando, Magnus está morto! 188
Jane sacudiu a cabeça e sentou-se num banquinho ao lado da banheira, começou a lavar o cabelo de Arian. — Você partilha mais do que luxúria com o normando. Não o negue. — Não, Jane, mas posso impedir de mostrá-lo. O orgulho de Magnus não podia suportar mais. Eu sou tão responsável por sua morte como Stefan. — Então, não jogue todo o peso da culpa em cima dele. Arian abanou a cabeça. — Jane, ele me fez o juramento de que não iria machucar Magnus. Em frente a todos nós, ele o matou da mesma forma que matou Dag, da mesma forma que faz com qualquer homem que se meta em seu caminho e intervira no que ele quer! — Arian apertou os olhos. — Teria matado Rhod se eu não tivesse concordado com o casamento. Jane esfregou com os dedos a espuma grossa no couro cabeludo de Arian. — Ele não teria matado o príncipe. Arian abriu os olhos, piscou novamente com a picada do sabão. — Você está muito cega para ver o bárbaro que ele é. — Um bárbaro eu até posso ser, mas também sou seu marido. — Disse Stefan, do outro lado do quarto. — Apresse seu banho, quero você ao meu lado quando me dirigir aos lordes e as suas senhoras. Pouco tempo depois, Stefan juntou-se a ela. Estava limpo, bem vestido e sem vestígios de sangue. Mas Arian não precisava ver, para saber que as mãos dele estavam cobertas com sangue de Magnus. — Gostaria de falar com Rhod. — Ele cavalga com Wulfson para Gales. — Ele não disse adeus! — E de repente sentiu-se sozinha. — Wulf está ansioso para ter de volta sua senhora e Rhod ansioso de anunciar seu casamento com o viking. — Mas nenhuma palavra sobre meu casamento forçado com o homem que o matou? — Não até que me beneficie. — Sou apenas um peão nos seus jogos de guerra? Stefan abanou a cabeça enquanto lutava para encontrar palavras de consolo, mas não encontrou nenhuma. — Arian, meu coração é seu. Isso não mudou. — Se o que você diz é verdade, então você teria mais consideração pelos meus sentimentos. Você não teria ameaçado matar meu irmão e não teria me obrigado a casar com você com a vida do meu irmão ameaçada. — Ele abriu a boca para se defender. — Como posso confiar em você com meu coração, quando a cada momento você usa a força para ter o que quer? — Eu não a forcei na noite passada.
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— Você invadiu meu quarto e a minha noite de núpcias, exigindo direitos de primeira noite! E depois você ameaçou todo mundo na sala, suas palavras para mim foram escolhidas, e você foi paciente, mas se eu não tivesse sucumbido às suas palavras melosas, você teria roubado de mim o que você roubou de Magnus. — Você está mentindo para si mesma, minha senhora. Não diga que você não me queria tanto como eu queria você. — Eu admito que suas palavras me convenceram. — Você se arrepende? — Lamento que não tenha sido mais forte aos olhos de meu noivo. Se eu tivesse sido, ele ainda viveria. — Ele era um traidor! — Para o seu rei, não para mim! A face de Stefan se contraiu. — Você o ama? — Não! Você sabe que não. Mas eu tão pouco o odiava. — Lágrimas de raiva picavam em seus olhos. ― Seu sangue está em minhas mãos. Eu nunca vou ser capaz de olhar para você, Stefan, sem lembrar que também está nas suas. — Nós vamos discutir isso melhor, mas primeiro tenho uma reunião com os lordes a conduzir. Eu convido você para estar ao meu lado e, pelo menos, fingir que estamos unidos. Se estivermos desunidos, nós cairemos. A tensão era grande, quando desceram a larga escada para o corredor que Arian temeu a sua segurança. Fúria, indignação e desprezo reinavam ali. Enquanto Stefan não parecia afetado com aquilo, culpa trespassava por ela. Tudo por causa da morte de Magnus. Cavaleiros normandos estavam num lado do salão, guardas de Magnus no outro lado e saxões no meio. Os nobres estavam quietos, mas em seus rostos, o ódio estava claramente pintado. Stefan guiou Arian sobre o estrado, sentando-a junto à cadeira do grande senhor. Stefan ficou em pé. Sentada rigidamente na cadeira, de queixo erguido, Arian olhava para o salão lotado. Fumaça girava no alto das vigas, o cheiro velho de cerveja e vinho misturado com odor de sangue, agrediu seus sentidos. O ar era pesado e quente. Seu olhar arrastou-se até ao lugar onde Magnus tinha caído. Os servos tinham feito um trabalho admirável com a limpeza — juncos frescos cobriam as manchas, mas ainda assim o sangue dele gritava. — Eu sou Stefan de Valrey, cavaleiro de William e soberano deste condado. Magnus Tryggvason era um traidor da Coroa. — Gritos de negação irromperam, mas Stefan continuou impávido. — Um traidor que desafiou William, desafiando a mim. — Que provas você tem? — Uma voz se fez ouvir. Stefan olhou para a multidão para o corredor de entrada, onde um grupo de cavaleiros normandos estava de prontidão. As portas se abriram e Ioan e Warner arrastaram um
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desafiador e esfarrapado Sir Sar. Arian moveu-se para a beira da cadeira e olhou interrogativamente para Stefan, mas ele se manteve focado no homem lutando. Ioan empurrou-o para a base do estrado. — O mensageiro do lorde traidor. Stefan apontou para o pequeno homem estranho, que despojado de suas vestes nobres, mais parecia um bobo da corte. — Para aqueles de vocês que não conhecem este homem, ele é conhecido como Sar, que tem uma posição confiável como comissário de Magnus. E como comissário estava a par de todos os interesses do Jarl, incluindo seu interesse de ver o rei dinamarquês reclamar o trono Inglês! Arian engasgou-se chocada com tais provas. Não acreditava que Magnus fosse um traidor, pensava... Sar olhou para Stefan, que continuava virado para a multidão reunida. — Eu compartilho esta informação por várias razões. Em primeiro lugar, como advertência para qualquer um de vocês que pensem da mesma forma: fiquem avisados, William não tolera traição. A punição é morte. — A multidão murmurou com a tensão. ― Entendam que, se Magnus não tivesse me desafiado e pago o desafio com sua vida, ele teria sido enforcado. Arian permaneceu atordoada, incapaz de acreditar que a mão de Magnus estava incluída em qualquer tipo de traição. — Prova! — Outra voz gritou. Stefan assentiu. — Sir Sar foi capturado apenas esta manhã esgueirando-se da tumba de seu falecido senhor. — Stefan tirou da sua túnica um rolo de papel com um selo quebrado. ― Este é o de Trygg, uma carta que Magnus escreveu na noite passada e deu a Sar, uma mensagem para os escoceses. — Stefan desenrolou-o e estendeu-o para que todos pudessem ver. ― É uma nota ao rei escocês e a Sven da Dinamarca, de lorde Magnus, sobre o seu casamento com a princesa de Gales, disponibilizando uma frota de cem navios para Whitby na costa de Yorkshire, com quinhentos homens para lutar, assim como cem mais que traria com ele para o condado. Suspiros incrédulos ecoaram pelo corredor. Arian ficou perfeitamente imóvel. — Como eu falei, o que resta de Magnus, o Alto, está a caminho de Whitby. Sua cabeça espetada numa lança será as boas vindas deles na Inglaterra! — Isso é bárbaro! — Arian assobiou. Stefan olhou para ela com olhos frios, mas não disse nada. Olhou de volta para a multidão. ― A justiça de William é rápida e forte. Prometam a vossa fidelidade a mim hoje e vocês estarão prometendo a ele também. Com o tempo, vocês verão que William é um homem justo para aqueles que lhe são leais. — Olhou para Arian. — Como eu sou justo para aqueles que são leais a mim. — Voltou-se para o salão. — Mas também sei que eu sou um homem que coloca o rei em primeiro lugar e o país em segundo. Um murmúrio nervoso irrompeu na sala. Stefan sorriu amargamente. — Se vocês optarem por não prometerem a vossa lealdade hoje, não sairão daqui. Uma revolta irrompeu na multidão, mas logo cessou. Podiam não aceitar William, mas não eram tolos de todo. Valorizaram suas vidas e os seus terrenos.
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Ele olhou para o mar de rostos. Arian seguiu seu olhar. Apesar de terem se acalmado, ela sabia que eles apenas esperavam. Prometeriam fidelidade hoje, porque caso não o fizessem morreriam como traidores, mas no dia seguinte, longe de ouvidos alheios, conspirariam, e um dia iriam levantar suas armas contra Stefan. Cem normandos não eram suficientes para o condado inteiro. Ela acenava a cabeça a cada pessoa, até aos funcionários, pedindo a fidelidade deles, primeiro a William, depois a Stefan e, finalmente, a ela. Quando cada homem, mulher e criança no corredor e na área circundante prometeram serem leais ao rei, Stefan aclamou uma festa para celebrar. Apesar da fadiga, Arian sentou-se calmamente espantada. Altas vozes festivas balançaram as vigas, enquanto música e dança enchia o corredor. Como eles podiam, após os últimos acontecimentos, comemorarem? Mas quando olhou mais atentamente, percebeu que eram os normandos que comemoravam e não os saxões, que fingiam muito bem estarem felizes. Não, ali havia novos sussurros e olhares e novas alianças — apostava que nenhum tinha vantagem sobre o normando. Inclinou-se para Stefan e disse: — Você realmente acredita que eles vão permanecer fiéis a você? Ele sorriu para ela, e ela pode ver que era um sorriso forçado para as aparências. — Nem por segundo. Arian sentou-se, pensativa e cansada. Nunca sentiu tamanha hostilidade e desprezo. Estava contente por Rhod não estar ali. Problemas estavam a ser planejados e não queria que seu irmão fosse apanhado numa guerra que não era dele. Olhou de soslaio para o marido. Apesar de seu sofrimento, Arian não sabia o que fazer. Muita coisa havia mudado nos últimos dias, no entanto, por baixo de toda a culpa, frustração, raiva e negação, seu coração batia de amor por Stefan. — Meu senhor. ― Ela disse suavemente. — Eu estou cansada. Vou me retirar para o quarto. Stefan levantou-se e estendeu o braço. A sala levantou-se com ela. Enquanto ele acompanhou-a até a escada, ela sentiu todos os olhares queimando em suas costas. Stefan abriu a porta e assim que entrou no quarto, ele a seguiu. Jane se levantou da cadeira onde estava costurando uma peça de roupa. — Deixe-nos. ― Ordenou Stefan suavemente. — Eu preciso dela. —Arian disse. — Seu marido atenderá você. — Cortou Stefan. — Não quero a sua ajuda! ― Disse Arian caminhando pelo quarto. Quando ele a seguiu, girou e encarou-o. — Será que você vai me forçar? Ele parou com as suas palavras, estreitando os olhos, seu rosto ficou sombrio. — Isso é o que faz, Stefan. Se não pode ter o que quer atendido, você o toma. Você sempre toma para seu próprio benefício! Quando verá que não pode forçar o mundo a curvarse aos seus pés? — Eu não forcei seu amor. Você o deu livremente. 192
— Você me raptou! — Sim e faria de novo. No final, ambos nos beneficiamos. — Você matou meu marido! — Ele me desafiou! Era traidor de meu rei e de seu povo! Você teria ficado viúva de qualquer jeito. — Você me fez um juramento, Stefan. Você jurou que iria aceitar meu casamento e não olharia para trás. Sua ira mascarou seu rosto. Aproximou-se e ela pode ver que ele lutava para manter as mãos longe dela, não para magoar, mas para conquistar. — Quando eu fiz o juramento eu não sabia da grande traição de Magnus. Somente depois que estivemos juntos que William enviou uma carta falando da traição dele. A carta que enviou a Sven confirma isso. Stefan acenou para que Jane deixasse o quarto. Quando a porta se fechou atrás dela, ele a trancou e se virou para Arian. — Será que você irá me forçar agora? — Jogou ela para ele. — Não, eu não vou tocá-lanovamente, a menos que você peça. Mas entenda esposa, eu sou seu marido, sou seu dono e senhor daqui, e você ficará ao meu lado até que Deus nos queira mortos. — Eu não vou compartilhar este quarto com você! — Você vai. — Com estas últimas palavras, Stefan saiu de rompante do quarto. Já era tarde quando ela ouviu a porta do quarto se abrir e fechar. Arian fingiu dormir. Momentos depois, a cama rangeu com o peso de seu marido. Sentiu os olhos dele em cima dela. Aproximou-se dela. Podia sentir seu calor irradiar na direção dela. A noite estava quente, e ela dormia apenas com uma camisa de linho fino, as cobertas puxadas aos pés da cama. Apesar do calor do ar e do homem ao lado dela, tremeu. — Porque você me nega, Arian? — Stefan perguntou. A calma angústia de sua voz soltou um pequeno suspiro dela. Uma súbita onda de emoção bateu sobre ela. Lentamente, virou-se e enfrentou seu olhar. Seus olhos azuis queimavam brilhantes à luz das velas. O brilho provocava sombras estranhas em seu belo rosto cheio de cicatrizes. Era um rosto nobre de um homem nobre que lutava por tudo em sua vida. — A culpa me consome, Stefan. — Você deve superar, Arian. Há mais informações sobre Magnus do que você sabe, e você, meu amor, foi apanhada no meio de tudo isso. — O que você quer dizer? Stefan deitou-se de costas e esfregou os olhos. — Seu casamento não foi em vão. Ele e Sven da Dinamarca já andavam conspirando desde a morte de Hardrada, que não fica muito longe daqui, há quase um ano atrás. Ele viajou para Dublin, sabendo que seu pai também estaria lá. Seu pai é rico e respeitado pelos reis galeses. Que melhor caminho para si mesmo do 193
que casar com uma princesa galesa e ter sua grande família a oeste como aliada? Você se lembra das últimas palavras de Dag antes de morrer? ― O coração de Arian começou a bater mais rápido. Relembrou aquele dia horrível, e embora tentasse, não conseguia se lembrar. — Ele disse, “o veado corre para norte”. Ele queria dizer que Magnus ia para norte se encontrar com o vira-lata do Sven. Ele sabia que seu tio estava metido. Stefan virou-se para encará-la, e quando suas palavras fizeram sentido, ela conseguiu entender. — Será que ele achava que os galeses o apoiariam no seu plano de invadir a Inglaterra? — Os reis do norte iriam, tal como Rhiwallon e Bleddyn. É a única razão pela qual eles concordaram com a troca de reféns. Sem seu casamento com Magnus, tudo estaria perdido. Eles não tinham escolha. — Mas eles ainda têm lady Tarian e o seu irmão Thorin. — Sim, mas Wulfson e Rhod levam notícias só de seu casamento e não da morte de Magnus. No momento em que souberem a verdade, será tarde demais. — E quanto a você, Stefan? Um homem que não queria uma mulher. Agora você está casado com uma princesa. Vai usar meu pai para beneficio próprio? — Arian, eu me casei com você, porque eu te amo, mais nada. — Você me obrigou a casar com você! Não tenho nada a dizer na minha vida? — Sua vida é comigo. Você com o tempo verá que foi melhor assim! — Não, Stefan, você não entende. Diz que me ama, mas meu marido depois de jurar que não faria! Então você forçou a minha mão em casamento. Isto não é amar! — Eu daria a minha vida por você. — Disse ele com veemência. Ela agarrou as mãos dele. — Dê-me a minha. — Sua vida? — Se você me ama me deixe ir. — Ela sussurrou. — Deixar você ir? — Ele perguntou espantado. — Sim, deixe-me voltar para casa. ― Assim que ela disse aquelas palavras, seu coração partiu-se. Por um longo momento, Stefan olhou para ela. Seus olhos brilhavam como se lágrimas estivessem ali, mas ela sabia que isso era um disparate. — Você é minha mulher! — Só porque você me obrigou! Eu nunca teria casado com você de bom grado! — Casar-se comigo é tão repulsivo? Ela balançou a cabeça. Não, não era isso que queria dizer. Ela o amava. 194
— Porque eu sou um bastardo? — Não, porque se você não me libertar, eu nunca vou confiar em você. — Ela disse suavemente. Lentamente, ele abanou a cabeça e saiu da cama. Levantou-se sobre os joelhos. — Aonde você vai? Ele pegou suas calças e a sua camisa. — Encontrar um lugar para dormir. Stefan saiu do quarto, sua mente jorrava em um turbilhão de pensamentos e emoções. Não poderia deixá-la ir! Não deixaria! Ela era sua esposa. Caminhou de volta para o salão, que estava quieto. Encontrou seus homens sentados à mesa do lorde, amontoados numa profunda conversa. Rorick levantou-se e entregou-lhe uma caneca de cerveja. Melancolicamente, ele aceitou e sentou-se. — Que tens? — Perguntou Warner. Stefan olhou para seu amigo. — Para além dos rebeldes saxões? Eu não tenho nenhuma pista de como funciona uma mulher. Rorick riu e bebeu; Ioan revirou os olhos e também bebeu. Rohan lhe deu um tapa nas costas. — Não há maior mistério do que a cabeça de uma mulher, irmão. — Ela deseja voltar para o pai. Os homens ficaram em silêncio. Em seguida, Rohan falou. — Você vai permitir isso? Stefan balançou a cabeça. — Ela é minha mulher! — Ele jogou o copo para trás e bebeu. — Eu não posso suportar deixá-la ir embora. Warner coçou a cabeça. — Estou confuso, Stefan. Eu pensei que ela sentia por você a mesma coisa que você sente por ela. — Ela me culpa pela morte de Magnus. Ioan riu num som áspero. — Se não fosse você, teria sido um de nós. Ele era um homem marcado desde o início. — Eu tentei explicar isso, mas ela está com raiva de mim por tê-la envergonhado em sua noite de núpcias. — Stefan encheu seu copo de novo. — As mulheres querem tomar a decisão por si própria, Stefan. Ela precisa chegar até você porque quer e não porque foi forçada por você a aceitar. — Disse Rohan sabiamente. — Sim, as exatas palavras dela. — Vocês já consumaram os seus votos? — Rohan perguntou. Lentamente Stefan abanou a cabeça. — Então, dê a ela o que ela quer irmão. — Ioan disse. 195
— Anule o casamento e liberte-a completamente. — Rohan concordou. O coração de Stefan se partiu com a ideia. Uma dor tão feroz apertou seu peito, que teve dificuldade em respirar. Tamanha era a dor, teve que massagear com as mãos a zona do coração para aliviá-la. Mas não adiantou. Seu estômago revirou e trambolhou de tal forma, que pensou que iria vomitar. Abanou a cabeça, negando o que sabia que era a coisa certa a fazer. Se a forçasse a ficar, seu ódio por ele aumentaria — bem, pelo menos agora ela ainda gostava dele. Mas ele sabia que Rohan tinha razão. Stefan abanou novamente a cabeça e ficou com as pernas bambas. Ele faria o que devia fazer e isso iria matá-lo.
Vinte e três
Momentos depois, quando atravessou a porta do quarto, encontrou Arian chorando na grande cama. Seu coração se partiu ainda mais. – Arian. ― Disse suavemente enquanto se aproximava. Ela olhou para ele com os olhos vermelhos. Sua camisa estava aberta, seus seios fartos espreitavam por baixo do tecido, brilhando com as lágrimas que caiam. Engoliu em seco e focou o olhar no rosto dela. Com cuidado, para não assustá-la, sentou-se na beira da cama ao seu lado. Estendeu a mão para ela, que o olhou como se fosse mordê-la. ― Por favor, me dê sua mão. ―Timidamente ela colocou a mão macia na grande mão calejada. Ele sorriu e amor brotou por ela. Era corajosa e linda, e tinha atravessado um inferno com ele desde o primeiro momento em que tinha posto os olhos em cima um do outro. Amava-a ainda mais, com tanta paixão e convicção que o consumiam. E ele lhe devia sua liberdade. Ela merecia. Ela era como um belo pássaro que estava presa iria murchar e morrer. Levou a mão dela aos lábios e beijou-a suavemente. ― Eu tenho sido um egoísta, Arian. Eu tenho sido um bruto e nunca pensei em mais ninguém, além de mim, em toda a minha vida. Eu cometi erros ao longo do caminho, muitos dos quais não posso desfazer. E 196
enquanto você acredita que nos encontrarmos foi um erro, por causa dos recentes acontecimentos, eu não poderia discordar mais. Você me demonstrou que eu não estou morto por dentro, meu amor. Que ainda sou capaz de amar. Se eu tivesse que devolver algum momento nosso juntos, eu seria egoísta e diria não. Mas posso devolver sua vida, lhe dando a liberdade. ― Ele virou a mão dela sobre a dele e beijou-lhe a palma da mão. ― Eu liberto você, Arian. Você está livre para voltar a sua casa. Vou pedir pessoalmente ao Papa a anulação. William estará de acordo assim que ouvir do Papa. Ela enrolou-se na cama. Stefan recolheu-a em seus braços. ― Arian, não era o que você queria. Eu dou-lhe, voluntariamente, mas com o coração pesado. Ela sufocou um soluço e olhou em seus olhos. Deles irradiava dor e sofrimento e, por baixo disso, ele soube que ela ainda o amava. Seu coração doeu-lhe. ― Lamento muito por ter causado vergonha a você. Lamento pela morte de Magnus e lamento ter forçado você a se casar comigo. Eu não posso devolver Magnus, nem a vergonha, mas posso dar-lhe de volta a sua vida. Ele beijou a testa dela. ― Peça-me qualquer coisa, Arian, e se estiver ao meu poder, eu lhe dou. Ela ficou mole em seus braços, sua cabeça rolou contra o seu ombro. Ele não conseguiu resistir e beijou o rastro de lágrimas no rosto dela. ― Não chore. Seus olhos se abriram. ― Stefan, porque meu coração se sente como se estivesse partido em mil pedaços? Porque sinto que isto é errado? ― Errado? ― Você e eu, separados. ― Eu sei que isto não é o certo. Fomos criados um para o outro, Arian e, embora o caminho tenha sido forjado com dificuldade, eu nunca tive tanta certeza na minha vida. Você é a única mulher que eu vou amar. ― E se eu estiver grávida? A imagem dela carregando um filho seu, queimou em seu peito como se lhe estivessem pressionando um ferro quente. Não daria possibilidade a nenhum pensamento. No entanto, não iria forçá-la a ficar por causa da criança. Também não iria ignorar um bebê. Ele afastou uma mecha de cabelo de seu rosto. ― Arian, me diga agora, o que você quer? ― Stefan. ― Ela gemeu. ― Eu quero que você me abrace e me diga que tudo ficará bem com o nosso mundo. Eu não posso suportar viver assim. Ele beijou seus lábios úmidos. Quando ela não o afastou, mas abriu os lábios para aceita-lo, um fogo inflamou seu corpo. Ele a queria tão desesperadamente que mal conseguia se controlar. Mas não iria liderar, iria seguir. ― Só mais uma noite juntos, Stefan. ― Ela sussurrou contra seus lábios. ― Uma noite mais. ― Ela pressionou-o contra os travesseiros. Habilmente, desapertou o cinto da espada
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dele e colocou de lado, depois retirou a túnica por sobre a cabeça e a camisa a seguir. Quando puxou os cordões de suas calças, ele agarrou suas mãos. ― Quando elas forem removidas, eu não vou deixar este quarto até amanhecer. Ela sorriu um lento sorriso triste e empurrou seu cabelo pesado para trás dos ombros. ― Eu ficaria desapontada se você fizesse isso. ― Quando ela puxou para baixo suas chauses e tirou as calças, ela deu um suspiro forte. Seu pau já estava duro e pronto. Beijou os lábios dele, entrelaçando os dedos nos dele e levou os braços dele para cima da cabeça. ― Você é meu prisioneiro esta noite, Meu Senhor. ― Ela respirou contra os lábios dele. Os músculos de Stefan ficaram tensos, sua pele ardia e seu sangue corria veloz nas veias. ― Eu sou todo seu, pra fazer o que quiser comigo, minha senhora. Arian riu e mordiscou os lábios e o queixo dele. Seus beijos deslizaram pela garganta até a cicatriz da espada. Seus dedos libertaram os dele e ela deslizou as mãos quentes ao longo dos braços dele. Os músculos dele pulsavam sob a ponta dos dedos dela. Ela alcançou seu mamilo com a língua, depois sugou-o tal como ele lhe tinha feito. Ele contorceu-se por baixo dela, mas não se atreveu a tocá-la. Os dedos deslizavam de seu peito à sua barriga, seguindo um rasto de fogo deixado pelos lábios dela. Ele estava se aguentando por um fio. Ela apertou as mãos nos quadris dele, apoiando-se sobre ele, seus seios fartos provocavam seu pau erguido. ― Arian. ― Ele gemeu. ― Shhh. ― Quando pegou-o com as mãos e moveu-o lentamente para cima e para baixo, os quadris dele saíram do colchão. Quando levou-o aos lábios, Stefan sibilou uma respiração áspera. Seus dedos escavaram os lençóis torcendo-os. Ele estava a beira de perder todo o controle. Ele agarrou a cabeceira esculpida da cama, sabendo que se suas mãos estivessem livres, ele iria tocá-la. Olhou para ela e quase gozou naquele instante. Seus longos cabelos pendiam sobre seus ombros como um manto dourado e vermelho, mas foi os lábios dela sobre seu pau e suas mãos pequenas em volta dele, que o eclipsaram. Ela era de tantas maneiras inocente, no entanto ficou experiente no último mês. Stefan arqueou-se para ela, jogando a cabeça para trás, fechando os olhos e a deixou levá-lo. Pelo menos esta noite ele iria esquecer o amanhã. Fome enrolava-se por baixo da barriga, desejo e uma necessidade tão insuportável que ele tinha que se forçar para respirar. Quando ela terminou, prendeu a respiração e a olhou. Ela sorriu timidamente e colocando-se de quatro, arrastou o corpo contra o dele, fazendo com que os seus lábios inferiores úmidos passassem por seu pau. Ele ergueu-se um pouco, pressionando seu membro na morna umidade. Ela subiu ligeiramente, negando-lhe a entrada. ― Arian. ― Com voz rouca gemeu. ― Eu não aguento muito mais. ― Mas você deve, Meu Senhor, eu ainda não acabei. Lentamente, sentou-se sobre ele. O corpo de Stefan congelou, com medo de se mover e agarrá-la e afundar-se nela, para nunca deixá-la ir. Olhou para seu rosto enquanto lentamente ela montava-o, suas expressões mudavam de tentativa para aceitamento, então, quando enfiou-se dentro dela, prazer sublime. Ela fechou os olhos e suavemente exalou. Quando os abriu, ele prendeu o fôlego. Seus olhos de prata estavam tão escuros que seria capaz de jurar que eles eram negros. Sua face transparecia rosa à luz das velas, seus lábios carnudos se separaram quando também prendeu a respiração. 198
Ela arqueou, seus seios fartos balançando contra seu peito, em seguida, num movimento de balanço lento moveu-se contra ele. Stefan respirava arduamente, deixando-se levar. Agarrou seus quadris e moveu-a mais forte contra ele, mas forçou-se a deixá-la marcar o ritmo. E ela fez. Num doloso, lento e deliberado sublime. Inclinou-se, colocando as mãos sobre o peito dele, dando-lhe mais de um ângulo. Ele podia sentir os músculos interiores dela a contarir e relaxar em torno dele, girando os quadris e numa dança tão antiga como o tempo, eles fizeram amor. Gotículas de suor irromperam da pele dele. Os lábios dela pressionaram os seus. Ele a beijou de volta com um devasso desejo, enquanto seus quadris subiam e desciam contra ela. Ela deslizou com ele, sua respiração dura e forçada, correspondendo á necessidade dele. Quando seu impulso aumentou, ela cavou os dedos em seus cabelos, seus suaves gemidos de prazer foram capturados por um beijo. ― Stefan. ― Ela sufocou quando seu corpo estremeceu contra o dele. Ele rangeu os dentes e gemeu assim que o corpo dela sofreu um espasmo em torno do dele, puxando-o mais fundo no vórtice quente dela. Ele gozou numa louca corrida feroz, suas mãos soltas do seu aperto de morte na cabeceira da cama, tentavam não tocá-la. Numa onda selvagem encheu-a com sua semente, marcando-a como sua. E ela era dele. Uma possessividade primitiva se apoderou dele. Gritou quando a última gota de sua semente deixou seu corpo, e ela voltou de sua jornada nas estrelas. Ela desmoronou contra ele, seu corpo sensual se contraia com os últimos vestígios da sua libertação. As mãos dele tremiam ao lado, mas ainda assim controlou seu desejo de puxala para seus braços. Os dedos dela deslizaram ao longo de seus antebraços, massageando os músculos tensos. Quando finalmente levou os braços dele ao redor dela, ele soltou a respiração que segurava havia tempo e apertou-a com força contra ele. Ele esfregou o nariz em seus cabelos, inalando a doce essência que era exclusivamente dela. ― Ari ... ― Ele soltou sem nunca querer deixá-la ir, mas sabia que se quisesse ter o perdão dela, teria que deixa-la ir. Arian permaneceu quieta nos braços de seu marido. Seu marido. O único homem que faria tudo por ela. E fez. Emoções bateram em seu coração. Soube logo de início em que pediu para ele ficar, que iria se arrepender. Não por aquilo que tinham acabado de compartilhar, mas porque iria dificultar ainda mais sua decisão. Seu amor por ele não estava em questão. Nem o dele por ela. Havia mais do que isso. Em cada pensamento seu ou até mesmo sem estar a pensar, a imagem de Magnus sangrando até á morte em seu colo a assombrava. E por mais que tentasse justificar sua morte, a resposta estava lá. Ela era a responsável. Não Stefan. Como poderia viver consigo mesma? Os lábios de Stefan pressionaram sua testa. Alisou o cabelo úmido de sua testa. ― Que pensamentos lhe atormentam, meu amor? Ela sorriu tristemente. Como poderia explicar-lhe que não conseguia viver com ela mesma e por causa do que aconteceu, não poderia viver com ele? Olhou para seus olhos brilhantes. ― Eu não sei o que fazer, Stefan. Meu amor por você é tão forte quanto antes, por ventura mais, mas a culpa me consome. Ele abanou a cabeça pensativo por um momento. ― Arian, eu fiz coisas na minha vida de que não me orgulho. Coisas que eu gostaria de poder voltar atras. Mas eu não posso voltar o passado. Eu só posso seguir em frente e aprender com os erros do passado. 199
― Mas… Ele a beijou. ― Shhh, deixe-me terminar. ― Quando ela assentiu, ele continuou. ― Perdão é uma bênção poderosa para o coração. Ambos pedimos por isso e oferecemos. Eu pedi o seu perdão e espero que um dia você possa encontrar isso em seu coração e me dá-lo. ― Eu já encontrei, Stefan. Ele sorriu e seu coração derreteu-se um pouco mais por ele. ― Então, meu amor, você deve dá-lo a si mesma. ― As sobrancelhas dela enrugaram-se em confusão. ― Perdoe a si mesma por qualquer coisa que pensa ter feito a Magnus. Peça com o coração. As emoções são mais fortes do que qualquer espada, Arian. Eu aprendi essa lição recentemente. O amor faz enlouquecer uma pessoa lucida. Desde que te conheci, eu vivi emoções que nunca pensei ser possível. Do pico mais alto, ao mais fundo das emoções e algum entre o meio. Você causou estragos com o meu coração, mas… ― Ele riu. ― Eu não faria de outra forma. Eu não consigo controlar mais do que eu consigo controlar cada nascer do sol. Eu já não me questiono. É o que é. Eu aceitei isso. ― Stefan, Magnus sabia… ― Sim, o mundo sabia do nosso amor. Quando você aceitou a oferta dele de casamento, você o fez com o coração limpo, Arian. No entanto ele não. Se ele não tivesse caído debaixo da minha espada, você acha que ele teria consideração seus sentimentos se estes o interrompessem em seu grande plano? Você acha que ele não teria uma amante ou duas escondidas? ― Ela abanou a cabeça. Não era a mesma coisa. ― Você está a negar uma coisa clara que está diante de seu nariz. Magnus era um traidor. Embora tivesse alegado aos nórdicos paz, Magnus tinha planos aqui na Inglaterra. Ele teria sido enforcado. Como senhor destas terras, eu teria escrito uma ordem e o jogaria pra fora. Ele atou o seu próprio nó. Não foi você, nem eu. Enquanto as palavras de Stefan faziam efeito sobre si, a culpa que ela vinha sentindo em seu coração diminuia. ― Você sabe que eu falo a verdade. Por ventura, parte da sua raiva agora é por saber que Magnus tinha outras intenções, e sente-se um pouco desprezada? Arian estremeceu, admitindo que pelo menos uma pequena parte de seu orgulho estava envolvido. ― Eu admito que quando descobri sua traição e a razão do casamento, meu orgulho ficou ferido. ― Arian, você era um peão em seu jogo mortal. Ele teria jogado você aos lobos se isso significasse salvar a própria pele. ― Ele a levou de volta aos travesseiros, seus olhos suaves olhavam o rosto dela. – Mas acreditei que ele… Ele a beijou nos lábios. ― Seria capaz de dar o meu cavalo, a minha espada e a minha vida por você. Ele a conquistou com aquilo. E a ideia de não haver futuro para ela sem esse homem ao seu lado, bateu com uma força retumbante em seu corpo. ― Stefan. ― Ela sussurrou, envolvendo os braços em volta do pescoço dele, puxando-o para perto. ― Estou com medo. Tenho medo de perder você e eu tenho medo dessas pessoas de Yorkshire. Eles têm sangue em seus olhos. Eu não confio neles. 200
- Nos ocuparemos dos Yorkshires.
Vinte e quatro
No dia seguinte ao casamento de Arian com Stefan, uma nuvem escura pairou sobre a aldeia e a mansão. Os nobres saxões incluindo Lord Overly e Lady Lisette, com Philip a seguilos, deixaram Moorwood num êxodo em massa. Pela partida deles Arian estava grata. Apesar de seu casamento com Magnus ter sido de curta duração, pela lei nórdica Arian era herdeira do tudo o que era dele, incluindo o comando de cem homens que o acompanharam até Moorwood e centenas de outros que ele tinha enviado para a Escócia. Arian, sem o marido por perto e para não incitar mais ódio nos vikings, chamou o capitão da guarda nórdica ao seu quarto. Quando ele entrou, acenou a cabeça em reconhecimento da sua reverencia. ― Seu nome, sir. ― Bjorr Thorkellson. ― Sir Bjorr, quanto tempo você estava a serviço do meu falecido marido? ― Seis anos. ― E nesses seis anos, ele era um senhor justo? ― Sim, muito justo. ― Já que ele está morto, você está ciente que sob a lei Nórdica tudo o que era dele agora é meu. Ele acenou a cabeça, mas ela soube que em seu rosto fechado e pelas respostas curtas, a notícia não era bem-vinda. ― Eu entendo o seu desagrado pelos normandos, e este assunto me importa, mas devemos seguir adiante. ― Ela olhou nos olhos dele e disse. ― Eu preciso de sua ajuda, sir. A área é instável. É só uma questão de tempo antes de sermos atacados. ― A minha lealdade é para com a Noruega. ― Não para mim, sua senhora? Ele balançou a cabeça lentamente. ― Você não é minha senhora. Por causa de você, meu senhor está morto. Meus homens não vão lutar por você ou pelo seu marido normando. ― Nem mesmo por ouro? Ele abanou a cabeça. ― Não, nem mesmo por ouro. 201
Arian se levantou e balançou a cabeça. ― Então você não me deixa escolha, Sir Bjorr. ― Seu rosto ficou pálido. ― Não vou forçá-lo a lutar por mim ou pelo meu marido. ― Seus olhos se estreitaram. Ela sorriu. ― Volte para a Noruega e proteja o que é meu. Quando as coisas se resolverem aqui, eu vou viajar para seu país e resolver meus negócios. ― Qual é o truque? ― Nenhum, sir. Você está livre para voltar para a Noruega. Ele ficou por um longo momento incerto. ― Você não vai mandar os normandos irem atras de nós, assim que formos e chamar-nos de traidores? ― Não. Eu não brinco com jogos de intriga e traição. Então ele curvou-se e virou-se para sair do quarto quando Stefan entrou. Bjorr continuou seu caminho e os olhos de Stefan estreitaram-se. - O que você fez? - Libertei a minha guarda nórdica. Seu marido não ficou satisfeito. ― Eles vão se juntar aos homens de Magnus ao norte e voltar para matar a todos nós enquanto dormimos! ― Não Stefan, eles não vão. ― Arian, eu sou perito na forma como os homens lidam com a guerra. ― Você também é perito em conquistar com força, meu amor. Há outras maneiras. ― Você está errada. ― Não, não estou. Você vai ver. ― Ela fechou a porta do quarto e a trancou, sem dar importância de que o sol ia alto no céu, olhou por cima do ombro e sorriu. - Vem, me deixa te mostrar como acalmar a besta selvagem com apenas um beijo.
Na manhã seguinte Robert partiu para oeste em direção a Normandia, e Bjorr com os seus homens partiram para a terra natal deles. Enquanto Arian e Stefan os viam partir, ela teve um pressentimento, um mau presságio se aproximava. No entanto, não pensaria duas vezes antes de autorizar a saída dos vikings. Eles seriam inúteis. Se não lutassem por ela, e ela os forçasse como seu marido aconselhou, eles se voltariam contra ela. Stefan estendeu a mão e pegou a dela entrelaçando os dedos. Quando ela olhou em seus olhos, emoção cresceu em seu peito. Ele era bruto, selvagem, mas também era justo. Era um homem de honra e não apenas um homem, ele compreendia que ela, como a senhora do castelo, era digna de seu próprio direito. Ele aceitou seu conselho e por isso, ele teria sempre a sua eterna gratidão. Várias horas mais tarde, assim que se sentaram para a refeição do meio-dia, o vigia gritou que mensageiros com a bandeira do rei se aproximavam.
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― Os saxões exigem a cabeça de Lady Arian e de Lord Stefan! ― Gritou Robert quando entrou a passo de gigante no pátio, seguido por alguns homens que tinham partido com ele naquela manhã. Arian se engasgou e virou-se para Stefan, que estava ao seu lado nos degraus de pedra da mansão. Seu braço apertou sua cintura. Ele estava calmo, enquanto o medo se apoderava dela.― Não temas, meu amor. Vamos ganhar o dia. Ele levou-a para o salão e a sentou-a na cadeira do lorde. ― Ouça-me atentamente, Arian, porque nossas vidas dependem disso. Reúna os empregados e dê-lhes a tarefa de encher o interior da dispensa. Apague os fogos da cozinha, preparar-se para cuidar de feridos e depois tranque a mansão e esteja armada. ― Ele puxou-a e a beijou com força, quando se afastou, os olhos dele queimavam de paixão. ― Não confie em ninguém, apenas em seu proprio pessoasl e nos Espadas de Sangue. ― Onde você vai? ― Proteger os campos. Assim que Stefan correu da sala, Arian chamou os empregados, mas para seu desânimo e crescente temor, apenas alguns responderam ao seu chamado. ― Onde estão os outros? ― Ela exigiu da cozinheira. Os olhos da mulher olharam para o chão. ― Eles se foram. ― Foram? Porquê? A mulher olhou para Arian e viu desprezo neles, então entendeu. ― Vão então, todos vocês, se não podem ficar aqui para servir. Eu não vou obriga-los. E para seu espanto, todos se viraram e fugiram, deixando-a sozinha na sala exceto Jane e alguns servos normandos e galeses. Arian tomou medidas imediatas. ― Jane, vê se a dispensa está cheia. Apague as fogueiras e os fogos da cozinha e em toda a mansão. ― Virouse e correu para o quarto para vestir o traje de amazona que usava para caçar. Pegou seu arco e flechas no canto e colocou sua adaga na cintura, então correu para fechar e trancar as janelas de cada quarto. Carregou baldes grandes de água e comida, correu para o arsenal e pegou dois arcos e aljavas cheias de setas. Enquanto corria para garantir a segurança da casa, Arian não pensou duas vezes sobre o uso de força letal para salvar sua vida ou a de Stefan. Fora da mansão, havia uma correria louca de atividade, mas ao longe ela viu uma nuvem escura ondular sobre a aldeia no grande prado. Correu pelo espaço até á torre de vigia e encontrou Stefan comandando seus homens. Olhou para fora da muralha e para além da estrada. Seu sangue congelou. Ao longe, centenas de saxões estavam reunidos. Eles estavam em número menor. ― O que vamos fazer? ― Perguntou ela, com medo da resposta. O rosto de Stefan estava duro e rígido. ― Nós já começamos, chérie. Os homens de Ralph já se adiantaram e nós vamos cercá-los pelos flancos. Após o ataque deles, nós vamos enchê-los de flechas e uma vez enfraquecidos, vamos terminar a obra com as nossas espadas. Mais homens viajam ao longo da estrada ocidental, estão vários dias atrás de Robert. Eles também vão servir ao meu propósito. 203
Enquanto ele falava, os saxões aproximavam-se do prado gritando um selvagem grito de guerra. Os olhos de Arian se arregalaram de horror. ― É Ralph! ― Num silêncio atordoante, eles viram como os homens de Ralph entraram na briga, não como inimigos, mas como aliados dos saxões. ― Jesus! ― Stefan amaldiçoou. Arian agarrou a manga de Stefan. ― Os homens de Magnus, Stefan, eles estão metade de um dia de distância, deixa-me encontrá-los! ― Não! É muito perigoso. E eles não vão te ajudar. Stefan ficou em silêncio por um longo momento e ela viu uma linha de fúria selvagem no seu rosto. ― Ralph é o impostor! Rorick.
― William nos avisou que havia traidores entre a nossa própria espécie. ― Fervilhou
― Stefan. ― Disse Arian suavemente. ― Há muito para eu fazer. ― Levantou-se na ponta dos pés, colocou os braços em volta do pescoço dele e o beijou. ― Não se preocupe com a mansão. Eu tomarei conta dela. ― Sim, Arian, eu tenho fé em você. Ela correu para longe dele e encontrou-se com Jane no salão que rasgava pedaços de roupas. Arian agarrou seu arco e duas aljavas de flechas. ― Jane. ― Disse ela com a certeza de que não eram ouvidas. ― Eu vou encontrar Bjorr e implorar por sua ajuda. ― Minha senhora! Você não pode, os campos estão infestados com saxões! ― Há um caminho por trás que leva á floresta. ― Abraçou a aia fortemente e depois moveu-se para fora da mansão até ao pátio. Como se tivesse todo o direito, Arian correu para o estábulo, selou sua égua, então apressou-se para o portão dos fundos e exigiu que o guarda abrisse-o. Quando ele resistiu, ela tirou seu arco e enfiou uma flecha na corda. ― Abra-o agora ou morre. Ele o fez e ela voou para leste, virou na estrada para norte até encontrar os barcos que esperavam Bjorr e seus cem homens. O que tinha levado horas viajando a pé, Arian os apanhou numa fração de tempo. Quando se aproximou de Bjorr, ele franziu a testa e olhou para trás dela esperando ver a sua escolta. ― Eu vim sozinha, sir. Peço uma palavra em particular com você. Ele acenou a cabeça e se afastou de seus homens, que a olhavam com olhares esquivos. Continuavam a achar que ela era a responsável pela morte de seu senhor, mas ela não tinha a certeza, se eles tinham conhecimento da conspiração dele com Sven de desafiar o jovem rei, que desejava apenas paz com a Inglaterra. ― Sir, eu preciso da sua ajuda e dos seus homens. Moorwood está sob ataque. Lorde Stefan foi traído pelo próprio primo, aliou-se aos irritados senhores saxões. Se você não vier, tudo será perdido hoje.
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― Você me pede novamente para apoiar o homem que matou o meu senhor? ― Ele perguntou incrédulo. ― O seu senhor, meu marido, estava prestes a trair seu rei e seu povo! Bjorr abanou a cabeça. ― São apenas boatos. ― Não, você sabe no seu coração que não é. Sar é a prova e enquanto seu senhor estiver morto, tudo o que era dele é meu, inclusive você. Ele puxou de seu machado. ― Eu posso facilmente corrigir isso, Minha Senhora. Arian estimulou seu cavalo para perto, sem medo da ameaça dele. ― Sim, você pode, ou você pode ouvir a minha oferta e então decidir para quem você deve lealdade. Ele considerou por um longo momento em silêncio, depois disse: ― Eu sou todo ouvidos.
― É uma reminiscência de Hereford, Stefan. Estamos em desvantagem numérica e desta vez por experientes normandos! ― Rorick amaldiçoou. ― Ralph! O palhaço covarde! ― Ele é muito ambicioso, mas muito tolo. Ele enviou cavaleiros à frente para parar a guarnição que William enviou e ele sabe que somos poucos aqui. ― Stefan pensou em voz alta. Virou-se para Robert. ― Dispa sua armadura e monte o corcel mais veloz. Leve seu escudeiro, vá pelas portas traseiras e cavalgue com o vento para oeste. Quando você encontrar os homens de William, exponha os homens de Ralph e suas tramas. Depois volte. Nós somos suficientes para mantê-los afastados por um dia, talvez dois e mesmo que eles ultrapassem as paredes periféricas, nós aguentaremos aqui até você chegar com reforços. Robert fez uma curta reverencia e correu para fazer a tarefa. Stefan encarou seus homens: Ioan, Rorick, Rohan e Warner. ― Então aqui estamos nós novamente, superados em número pelos saxões traiçoeiros e um primo traiçoeiro. Como em Hereford, vamos continuar a usar os arqueiros para nossa vantagem. Os galeses, até agora, fizeram um bom trabalho em proteger as muralhas e mantê-los do outro lado, mas eles ganham terreno. Nós recuaremos apenas quando não tivermos escolha, mas não vamos abrir os portões para retaliar. Vamos agora ajudá-los com os nossos próprios arcos. Todos acenaram com a cabeça e quando Stefan desceu da torre, procurou por Arian, mas encontrou apenas a velha aia contorcendo as mãos nervosamente. Medo se apoderou de seu coração. ― Milord. - Jane gritou. ― Lady Arian saiu. ― Saiu! Para onde? Porquê? ― Ela agia inquietamente, mas disse que ia pedir ajuda ao viking. ― Como? ― Num cavalo pelos portões dos fundos.
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Stefan saiu correndo do salão para o fundo do pátio, perto do estábulo onde encontrou seu guarda. No minuto em que o homem olhou para ele, Stefan soube que tinha-a deixado passar. ― Onde ela está? ― Foi-se, milord. ― Você deixou-a ir? ― Ela ameaçou-me matar! ― Bah! ― Stefan virou-se para a mansão para encontrar seus homens, os poucos que restavam, ao lado dos homens de Arian amontoados perto das paredes altas. Seu coração se rasgou ao meio. Uma parte queria ficar com seus homens e lutar até a morte com eles ao seu lado, a outra parte queria buscar sua esposa e trazê-la de volta em segurança. Mas era realmente seguro ali para ela? Subiu a escada na parede e olhou para cima do mar de saxões. Estavam condenados. Numa corrida maluca, poderiam escalar os muros e eles teriam que abandonar a mansão, e embora permanecesse resistente a mansão também poderia cair. Porque, se perguntou, que eles ainda não tinham feito isso? Numa inspeção mais atenta aos saxões, pareciam estar desorientados e inseguros. Ralph não tinha o controle, mas de onde Stefan estava, viu que um nobre saxão ― que lhe tinha prometido fidelidade um dia antes ― liderava a multidão, principalmente camponeses com forcados e foices. Havia outros nobres entre eles a cavalo, mas esses também não pareciam ter muito apetite para uma luta. Bastava terem a convicção da sua causa e eles teriam tomado as muralhas. ― Eles não têm um líder. ― Stefan gritou para Rohan. Apontou para Ralph, que assistia a desordem de seu cavalo na direção do flanco esquerdo. ― E ele parece não ter nenhuma autoridade. ― Stefan puxou o arco de seu ombro e entalhou três flechas. ― Homens, armem os vossos arcos e procurem o coração negro de Ralph! Como uma tempestade escura, um enxame de setas voaram através do céu em linha reta e certeiros. Stefan viu-as cair em arco num poderoso ataque e caíram vários passos largos de distância onde Ralph estava sentado sobre o cavalo. O traidor normando levantou seu punho na direção deles e Stefan soube que ele ria deles. Assim fosse. ― Vou dar a volta por trás e um por um, eu vou apanhar os normandos e os saxões. Sem líder, os camponeses vão correr para casa. ― Stefan disse aos seus homens. Agarrou várias aljavas cheias e jogou-as por cima do ombro, depois correu para fora do portão de trás, onde aproveitou a floresta para se camuflar e deu a volta ao recinto. Ele ia devagar, o que levou um bom tempo desperdiçado mais do que tinha pensado inicialmente. Até aquele momento o sol estava em pico e não podia deixar de se preocupar com a segurança de sua esposa. Quando ele pusesse as mãos em cima dela, ele iria sacudi-la até ela não conseguir ver direito! Como ela ousava colocar-se em perigo? Não havia súplicas com os vikings. A única corda que prendia Stefan em Moorwood era a sua inabalável confiança na mulher a quem ele chamava de esposa. No pouco tempo que a conhecia, ela tinha se transformado de uma princesa ingênua para uma grande dama confiante. Sim, eles iriam sobreviver aquele dia e o vínculo deles seria tão inquebrável como aço forjado. Enquanto ele atravessava a floresta até onde Ralph e o seu capitão tinham aparecido naquela manha, Stefan parou congelado. Mais Saxões vinham na estrada vinda do norte, saxões armados e pode ver que com eles vinham com guerreiros misturados de ascendência 206
do norte. Grandes homens com machados de guerra pesadas. Seriam a parte dos homens de Sven? Stefan agachou-se, espreitando à espera da primeira oportunidade para atacar. Apesar de Ralph estar usando sua armadura e o elmo, Stefan tinha um bom angulo da abertura, o suficiente para poder atacar a garganta dele e acabar com seu primo para sempre. Moveu-se mais para baixo da linha das árvores, onde o líder dos saxões reuniu-se com seus homens. Com a destreza da brisa, Stefan armou o arco com uma flecha, focou um ponto e largou a corda do arco. Antes da flecha atingir o ponto, Stefan virou-se e afundou na floresta pelo caminho de volta para os normandos. Um grito soou pelo campo e Stefan soube que o homem a quem tinha destinado a seta estava morto no chão. A notícia rapidamente se espalhou e como os saxões estavam em pânico, ele mirou em um outro homem a quem dias antes lhe tinha jurado fidelidade. Ele caiu no chão. Continuando camuflado na floresta, Stefan voltou a sua atenção para o grande dinamarquês que levava um pequeno contingente, mas com soldados de infantaria mortais. Ralph mandou os arqueiros apontarem para a floresta e lançar uma rajada de flechas. Mas eles estavam longe. Com a chuva de flechas, Stefan mirou e fez o poderoso dinamarquês cair sobre os joelhos. O homem gritou em indignação e puxou a flecha de seu peito. Stefan continuou seu caminho de volta e durante esse período de tempo, jogou o jogo do Gato e Rato com seus inimigos. A sua sorte foi que a perseguição lançou os saxões numa correria em todas as direções com medo e confusos. Mas Ralph era mais esperto do que isso. Ele conhecia o jogo de Stefan e puxou todos os normandos, saxões e dinamarqueses para fora dos limites da floresta, onde aguardavam a sua orientação. A menos que Stefan cruzasse sem cobertura, ele não poderia ir para o outro lado e dar uma flechada em seu primo. Stefan observou e esperou, meditando sobre suas opções. Ele tinha tirado uma dúzia de homens, a maioria era lideres bem armados. De alguma forma, Ralph conseguiu escapar dele e também conseguiu renovar o espírito de luta nas tropas. Irado e das árvores Stefan observava como Ralph reunia os homens, colocando os poucos arqueiros que tinha para a frente e depois os cavaleiros. Stefan abanou a cabeça. O homem não era conhecido por suas táticas. Os soldados deviam ir primeiro para suavizar as paredes e jogar os ganchos, enquanto os arqueiros bombardeavam o terreno impedindo, os que estavam dentro das muralhas, de proteger as paredes. Logo atrás, os cavaleiros para atacar os portões quando estes fossem conquistados e matar qualquer um que estivesse em seu caminho. Mas a idiotice de Ralph seria a vitória de Stefan. Quando Ralph acendeu as setas, Stefan fez uma careta. Ele queimaria o lugar e toda a alma viva dentro da muralha. Observou, furioso e com medo por seus irmãos, como o enxame de flechas flamejantes subiu alto no ar e ficou um pouco feliz, ao ver um bom número de setas cair do lado de fora. Mas várias caíram do outro lado das muralhas e no próprio muro de madeira. Baldes de água escorriam pelas paredes. Irado, Stefan viu como Ralph levou os homens a formar um círculo estreito ao redor da mansão. Assim tornava quase impossível de defender. Os homens de Robert eram apenas cinquenta, a guarda galesa de Arian eram trinta e os seus Espadas de Sangue que equivaliam a três homens cada um. Nem um camponês tinha ficado para pegar numa arma e defender Moorwood. Eles seriam esticados até ao limite. A única esperança de sobrevivência era aguentar o máximo até Robert chegar com reforços. Orou para que Robert tivesse passado pelo meio dos homens de Ralph. Com mais cavaleiros, os traidores covardes fugiriam para salvar suas vidas. 207
Stefan pegou suas armas e correu para o lado mais distante da floresta e mais perto de Ralph. Viu repetidas vezes as paredes em chamas, e depois encharcadas com água. Eles pareciam concentrar-se em vários pontos e os fogos estavam fazendo seu estrago. Se Stefan não conseguisse uma boa visão e tirar Ralph do campo de batalha, ele perderia seus homens. E não iria permitir que isso acontecesse, não outra vez! Quando o sol começou a se pôr, ficou claro para Stefan que parte de cima dos muros tinha enfraquecido, ao ponto de que com um aríete eles seriam facilmente derrubados. Conseguiu acabar com mais alguns dinamarqueses e até alguns dos homens de Ralph. Embora normandos, eram traidores e quando chegasse o momento ele iria ver cada um deles mortos. Sabia o que Ralph planejava: ele diria que todos foram atacados pelos senhores da terra e os Espadas de Sangue caíram. O que ele não contava era com Robert acabando com seu plano dali a pouco tempo pelo oeste. Frustrado com a incapacidade de se aproximar de Ralph, Stefan tirou sua armadura. Quebrou ramos de árvores, enfiou-os nas costas e á frente e no cinto da espada. Esfregou sujeira da terra no rosto e esperou que o sol mergulhasse mais a oeste. Quando a luz ficou perfeita para ele se mover discretamente, lentamente se arrastou para fora da floresta. Sorrateiramente, fez seu caminho na direção ao acampamento onde Ralph se reunia com seus homens, fazendo estratégias e comandando-os. ― Nós não precisamos de um ariete. ― Ralph se vangloriou. ― Os muros vão cair ao pôr-do-sol, e quando isso acontecer, sob o manto da escuridão iremos entrar no interior e vamos ganhar o dia! Aplausos irromperam. Agachado atrás de um dos grandes cavalos, Stefan lentamente retirou seu arco e silenciosamente armou-o e mirou. ― Homens aproximam-se! ― Disse o vigia. Ralph moveu-se tão rapidamente do fogo que Stefan perdeu a oportunidade. ― Normandos? ― Não! A guarda nórdica regressou e Lady Arian vem com eles! ― A cadela! ― Ralph amaldiçoou. O coração de Stefan quase caiu aos pés. Arian voltou? Com a guarda de Magnus? Como ela… Pego de surpresa com a palavra Arian, Stefan ficou exposto aos homens que montavam os cavalos. ― É o normando Stefan! ― Gritou um saxão. Stefan deixou a seta voar no homem mais próximo e entalhou outras mais antes de ser dominado por vários normandos. Estava preso ao chão, quando Ralph se colocou em cima dele e jogou a cabeça para trás e riu ruidosamente. ― Ah, primo, você está finalmente derrotado! Ralph puxou da espada. ― Isto vai me dar muito prazer, cortar a sua garganta. Fique tranquilo que eu vou consolar sua mulher nas noites frias de Inverno. Stefan gritou seu poderoso grito de guerra e quando o fez, com uma força suprema, jogou os dois homens que seguravam seus pés ao chão e rolou sobre eles, quebrando o 208
aperto. Ele desembainhou a espada e se agachou para trás. Normandos o cercaram e ele viu dúvida em algumas faces. Endireitou-se e sacudiu a espada ereta diante de todos. ― Você pode ganhar o dia aqui, Ralph, mas Robert foi buscar a guarnição na estrada e trazê-la para cá. Você não pode matar todos nós. Você está condenado. ― Robert não conseguiu passar da borda da floresta, querido primo. Você vai estar morto antes da guarda da Lady chegar. ― Ele ergueu a espada. Stefan riu. ― Sua ambição só é superada por sua insensatez, Ralph. Você acha que é melhor que eu na espada? ― No minuto que eu cair, meus homens vão acabar com você. ― Ele fez-lhe uma curta reverencia. Stefan olhou para o grande círculo de homens que o rodeavam. ― Vocês todos vão ser enforcados por traição. ― Não, Stefan, serão saudados como heróis por salvar o dia. ― Ele apontou sua espada a Stefan que, facilmente, se defendeu. Num círculo lento, mediram um ao outro. Ralph era alto e suficientemente competente com a espada, mas Stefan foi altamente treinado na arte da esgrima. Ralph apontou novamente e assim como antes, Stefan facilmente defendeuse. Ele iria brincar enquanto podia, esperando que Arian e a sua guarda chegassem ao campo a tempo e, quando chegassem, todo o inferno seria solto. Os homens do Jarl eram guerreiros duros e sanguinários e, Stefan ainda não conseguia entender como os tinha convencidos a voltarem para lutar pelo homem que matou o senhor deles. ― Você brinca comigo, Stefan. ― Disse Ralph enquanto fechava o círculo em torno deles. ― Você espera ganhar tempo. Lute comigo agora ou os deixarei ir. Stefan acenou a cabeça, e num ataque rápido e forte pegou Ralph desprevenido, saltou para a frente e pegou no antebraço direito dele. Ralph sibilou e devolveu o golpe, passando de raspão o ombro de Stefan. Sem sua armadura, ele estava mais leve mas completamente exposto. Com cuidado, moveu-se em torno do normando e atacou novamente, desta vez em suas costas. A velocidade da batida empurrou Ralph para o outro lado do círculo. Seus homens começaram a aplaudir e a vaiar. E ao longe, Stefan viu os muros que cercavam a mansão serem envolvidos numa súbita explosão de chamas. Mais aplausos seguiram. Stefan aproveitou o momento. Ele investiu novamente, pegando Ralph mais uma vez no antebraço. Enquanto o cavaleiro se recuperava, Stefan girou para fora do seu caminho, baixandose assim que a lâmina de Ralph passou por suas costas. Stefan endireitou-se e chutou o cavaleiro no joelho. Ralph gritou de dor quando caiu para trás. Gritos vindos da floresta furaram o círculo apertado. ― Estamos sob ataque! ― Um homem gritou. Stefan se moveu para perto de Ralph assim que tentava se levantar. Naquele momento, chutou a cara dele levando-o a cambalear. Seus gritos preencheram o ar, misturando-se com os dos outros. O círculo havia diminuído consideravelmente, mas Stefan ficou focado em Ralph ― ele era a chave da batalha ― quando fosse removido eles ganhariam o dia. Ralph conseguiu levantar-se com a ajuda de seu escudeiro. Por trás dele, Stefan podia 209
ver a mansão em chamas e os portões abertos, mas espalhados pelo pátio estavam cavaleiros montados. Ele não se atrevia a olhar para a floresta para ver onde a guarda ia, em vez disso, se concentrou em Ralph, que agora tinha dois homens armados ao seu lado. Lentamente eles se aproximavam com suas armas em punho. ― Você vai morrer como viveu, Ralph: um covarde. Antes que seu sangue manche esta terra, eu ofereço os meus agradecimentos. ― Pelo quê? Stefan sorriu. ― Por todos em Lyon. ― Nunca! ― Não, querido primo, você está errado. Robert me informou da morte de meu pai e da missiva que chegou a William antes de ser envenenado. Você não me disse que ele estava morto. Por quê? Para você poder me matar e reinvidicar tudo? ― Seu pai era um velho tolo. Dizia que não podia mais viver consigo mesmo. Ele devia estar cheio de pecados! Faria de você herdeiro e depois embarcaria numa peregrinação a Jerusalém. Bah! Eu garanti que isso não acontecesse. Mas foi tarde demais, ele mandou um recado para William. ― Sua ganância será seu fim. ― Stefan atingiu o homem á esquerda de Ralph, fatiando sua panturrilha. Virou-se e se agachou novamente, levando consigo sua espada num movimento baixo para terminar o trabalho. O homem uivou enquanto sangue esguichava de sua perna rasgada. O outro correu para Stefan, mas ele estava preparado. Manteve a posição agachada e assim que o homem aproximou-se, Stefan apontou sua espada em sua barriga e o furou. Ele tirou a espada do corpo, mas enquanto fazia isso, Ralph golpeou-o no ombro pegando-o desprevenido. Stefan grunhiu de dor, ignorando o fluxo de sangue que escorria pelo braço. Tinha sido a esquerda e não a sua direita, o seu braço de espada. Empurrou-se pelo chão, em movimentos sucessivos de golpes até Ralph, que agora não tinha outros para apoiá-lo. A batalha se seguia à sua volta, a mansão em chamas. Stefan no meio do barulho ouviu o grito de batalha de Rohan, seguido por Ioan, então Rorick e no final Warner. Ralph empalideceu à luz do luar. ― Faça as pazes com Deus agora, primo. ― Stefan! Ele congelou. Arian? Aqui, no meio de uma batalha? Virou-se para dizer-lhe para ir, para correr e se esconder. Foi seu erro fatal. Ele a viu em cima de seu cavalo, com os olhos arregalados de medo. Estendeu a mão para ela. Naquele momento, ela gritou e lentamente, ele se virou assim que a lâmina de Ralph descia sobre ele. Rolou para fora do caminho, pegando o impacto do golpe no ombro. Ralph chutou a espada de Stefan de sua mão quando atingiu o chão. Stefan agora não tinha nenhuma arma, seu primo elevou a dele com ambas as mãos. Stefan rolou afastando-se, tentando se levantar do chão, mas não tinha força no seu braço esquerdo e o seu direito estava ferido. Caiu de costas no chão. Os olhos de Ralph queimavam em ódio. ― Faça a sua paz com Deus, primo. ― Disse Ralph e assim que a espada descia num silvo, o som do baque indiscutível de uma seta entrando na carne e osso, ecoou nos ares. 210
Stefan assistiu, atônito, como Ralph agarrava a flecha presa em seu pescoço. Ele ergueu os olhos para cima e além de Stefan, que acompanhou seu olhar. Arian sentada em cima do cavalo, tinha outra seta preparada em seu arco. ― Para baixo, Ralph, ou a minha próxima seta vai cortar sua garganta ao meio. – Ameaçou ela. Ele deu um passo na direção de Stefan e antes do pé tocar no solo, outra flecha prendeu-se em sua garganta. Sangue jorrou e Stefan soube que ele estava morto. Stefan se moveu e lentamente levantou-se, agarrando sua espada do chão, foi ao encontro de Arian o mais rápido que pode. Ela estendeu a mão para ele e ele saltou sobre as costas de seu cavalo. ― Meus agradecimentos, senhora. ― Ele tomou as rédeas e incitou o cavalo na direção de seus homens, que com a ajuda da guarda nórdica e dos galeses de Arian, tinham formado um círculo apertado em torno dos trêmulos saxões e dos restantes normandos, que estavam numa situação pior que os saxões. Ao longe, a mansão inteira e o pátio em chamas iluminavam o céu noturno. Stefan deu o sinal para tocar a tromba. Depois de várias trombetas soarem, um silêncio sinistro caiu sobre o campo sangrento. ― O dia está perdido! ― Ele gritou para o exército fraco. ― Lancem suas armas agora e hoje pouparei suas vidas. arcos.
Metal retiniu sobre metal assim que os homens largavam as espadas, machados e
Stefan olhou para além, para o fogo ardente que antes tinha sido Moorwood. ― Vocês saxões fizeram um bom estrago. ― Olhou para os homens de Ralph, metade deles tinham fugido. ― Desmontem. ― Lentamente desmontaram. Os Espadas de Sangue rodeando-os. ― Vocês são traidores da Coroa. Decidirei esta noite como vocês morrerão pela manhã! Sentiu Arian endurecer em seus braços, mas ela permaneceu em silêncio. Por um longo momento, Stefan olhou os rostos temíveis diante de si. A maioria eram camponeses que seguiriam seu senhor até os limites da terra, em profunda lealdade. Era tipo de homens que queria. ―O que vocês destruíram hoje, amanhã reconstruiremos de novo para William. ― Seus olhos dirigiram-se para os poucos nobres que estavam entre eles. ― Cadoc! ― Stefan chamou. ― Veja se estes homens podem ser mantidos. ― A seguir os olhos de Stefan dirigiram-se para os furiosos dinamarqueses. ― Dê uma mensagem ao vosso rei em meu nome: estamos cientes do plano dele para invadir a Inglaterra. Olaf não dará nenhum apoio a Sven, nem Sven encontrará apoio entre os reis galeses. A mão de William segura firmemente as rédeas por aqui. E não se esqueçam que Yorkshire terá normandos mais competentes a cada dia enquanto eu for senhor daqui. E eu não vou a lugar nenhum. O dinamarquês mais próximo de Stefan fez uma curta reverencia e inclinou-se para pegar o seu machado. ― Não. ― Stefan alertou. ― Vocês vão voltar como despojados de sua luta. O homem olhou para Stefan, mas recuou e foi rapidamente seguido por seus homens, desapareceram na escuridão. 211
Uma vez mais, Stefan virou-se para o grande grupo de camponeses. ― Voltem para as suas famílias esta noite, mas á primeira luz da manhã voltam e juntos iremos reconstruir um castelo digno de um rei! ― Com os olhos arregalados, os camponeses se entreolharam, incapaz de acreditar que estavam livres para ir para casa. Quando o campo ficou vazio, deixando apenas Stefan e aqueles que lhe eram leais, ele apertou os braços em torno de sua esposa. Encolheu-se com a dor emseu antebraço e soube que iria precisar de pontos. Estava grato por ela ficar em silêncio. Quando se falassem, queria que as palavras fossem em privado. Lentamente, eles cavalgaram para a mansão que já não era mais do que um amontoado de escombros enfumaçados. ― Jane? ― Arian perguntou com medo nas suas palavras. ― Ela está segura na floresta atrás da mansão. ― Disse Rohan ao lado deles. Seu corpo soltou-se de seus braços. Quando pararam para contemplar os destroços, tal como todos atrás deles, incluindo os escandinavos, ele perguntou. ― Como você convenceu o capitão nórdico a voltar e lutar por você? Ela recostou-se em seus braços. ― Eu ofereci as terras de Magnus a ele e aos seus homens na Noruega. Stefan jogou a cabeça para trás e riu. ― Você é uma princesa astuta, minha senhra. ― Eu sou uma princesa determinada. Quando entraram no pátio, havia apenas algumas cabanas deixadas ilesas. As cozinhas feitas de pedra, embora chamuscadas, ainda estavam em pé. Felizmente, o estábulo também tinha sobrevivido. ― A mansão está completamente destruída. ― Arian disse suavemente. ― Nós podemos reconstruir. ― Disse Stefan tão suavemente. ― Eu nunca gostei destas paredes ou da paisagem. Há uma área mais protegida mais á frente da estrada, com um rio por perto. Seria um bom lugar para criar nossos filhos. ― Disse Arian. Ela virou-se em seus braços e olhou para ele com olhos brilhantes como suaves brasas. Ele baixou os lábios para os dela e beijou-a longa e profundamente. Quando seus lábios se separaram Stefan levantou o queixo dela com a mão. ― Esta é uma área hostil, Arian. Iria ser difícil, na melhor das hipóteses, vencer o coração destas pessoas. Não há sangue saxão em nossas veias. ― Você é forte e justo, Stefan. As pessoas verão isso como eu vi. ― Por ventura com o tempo, mas não há outra opção. Ela inclinou-se confortavelmente em seu peito. ― Estou ouvindo.
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― Eu sou herdeiro das terras de meu pai na Normandia. Elas são vastas e é mais seguro para você lá. Stefan.
― Eu vou aonde você for, meu amor. ― Disse Arian com o olhar penetrando a alma de
Emoção brotou em seu peito com tal velocidade que ele achou que poderia morrer com aquilo. ― O que você deseja, Arian? Por um longo minuto, seus olhares fixos um no outro enquanto ela ponderava sua pergunta. ― Um novo começo, aqui, para nós. Ele sorriu e puxou-a para perto de seu coração. Seu olhar vasculhou as ruínas fumegantes onde se encontravam seus irmãos, Rohan, Warner, Rorick, e Ioan, feridos mas bem. Com Wulfson, Thorin, e Rhys ― eles ainda iriam encontra-lo ― que estavam ausentes, ele ainda se sentia incompleto. Mas iria sobreviver tal como os seus irmãos. Stefan beijou o cabelo dourado avermelhado sob o seu queixo. Princesa Arianrhod de Dinefwr não era apenas sua esposa, mas sua força de vida, seu coração e alma e, Stefan sabia incondicionalmente que enquanto ela permanecesse ao seu lado, iria prosperar em Yorkshire e construir uma dinastia que duraria mil anos.
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