Série Sexo e as Negas

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SALVADOR QUINTA-FEIRA 18/9/2014

TELEVISÃO POLÊMICA Intelectuais, artistas e ativistas negras da Bahia alegam que série da Rede Globo dirigida por Falabella não as representa

Críticas a Sexo e as Negas são mantidas após estreia Reprodução / Facebook

GISLENE RAMOS

2014. Quatro mulheres negras. Camareira, recepcionista, desempregada e cozinheira. Assim são as protagonistas da nova série da Rede Globo, Sexo e As Negas, de Miguel Falabella, que estreou na terça sob denúncias de racismo, sexismo e propostas de boicote nas redes sociais. A reportagem convidou mulheres intelectuais, ativistas e artistas negras para assistirem à estreia e fazer comentários. Vilma Reis, coordenadora da rede de combate ao racismo e intolerância religiosa da Secretaria de Políticas de Igualdade Racial – Sepromi, responde com sua análise sobre a série. "Não é possível que em pleno século 21 a única forma que a Globo tenha de representação das mulheres negras seja a partir da nossa sexualidade. Isso é um equívoco”, diz. A série é inspirada no seriado Sex and the City, mas as mulheres na produção norte-americana têm um cotidiano em que a sexualidade é parte e não o centro da trama, afirma Vilma. Um argumento em defesa de Sexo e As Negas é o grande número de atores negros empregados na série, mas Fernanda Júlia, diretora de teatro do Nata (Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas), rebate. "Para mim, artista negra é alguém que luta pela modificação da ação do negro no espaço midiático, esse argumento é equi-

RICARDO FELTRIN ricardo.feltrin@grupoatarde.com.br

Bocão assume Balanço Geral na Bahia Conforme esta coluna já havia antecipado aos leitores de A TARDE, a Record havia muito tempo estava de olho na performance do apresentador Zé Eduardo, do policialesco Se Liga, Bocão. Ele chegou a ser cotado para assumir o programa vespertino inclusive em São Paulo, mas acabou superado por Reinaldo Gottini. Agora, no entanto, Zé Eduardo vai assumir a versão soteropolitana do Balanço.

Entrevistas Movimento do Facebook propõe boicote à série Sexo e as Negas

vocado. De que adianta essa quantidade de atores negros se eles estão em cena reproduzindo e reforçando tudo aquilo que nós estamos tentando combater?”, questiona. Para Juliana Ribeiro, pesquisadora, cantora e compositora, a questão do racismo social é algo sutil. “É até muito bacana ter quatro mulheres negras protagonizando uma série na Globo, mas não há a sensibilidade de perceber que essa mulher, para além de negra, é um ser humano. Dentro de mim também tem um pouco daquelas mulheres, mas no meu dia a dia eu não sou daquele jeito”, conta Juliana. “A mulher não tem que ter um papel social. Quem escolhe esse lugar sou eu”, diz. Carla Akotirene, assistente social e mestra em Estudos sobre Gênero e Mulheres pela Uf-

ba, diz que aquelas mulheres negras de comunidade existem, do contrário, seria preconceituoso. “Mas a mídia não pode só visibilizar esse tipo de mulher. Afinal, existem outras possibilidades de existência da mulher negra", completa. Para Aline Silva, editora da página do Facebook Boicote Nacional ao programa Sexo e as Negas da Rede Globo, com mais de 28 mil seguidores, a TV tem responsabilidade de formação de opinião e um papel educativo. “Será que o outro lado não existe?”, questiona Aline. O fato é que estas mulheres convidadas a opinar não se sentem representadas em Sexo e as Negas. Como afirma a advogada carioca Ludimila Cruz: “Quero outras referências. Eu quero outro tipo de mulher negra sendo retratada na televisão”.

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Para tomar essa decisão, a Record fez pesquisas junto a telespectadores. As pesquisas apontaram que o público queria um programa "com menos corpo (defunto) presente" e mais descontraído. Ou seja, menos estilo Gil Gomes e mais estilo Ratinho, mais solto.

ser a derradeira. É um programa muito caro, que causa muita dificuldade para atrair patrocínios graúdos e, sem dúvida, há uma saturação do formato reality, tanto na TV aberta como na fechada.

Troca-surpresa A Globo emitiu um comunicado oficial, fez cara de paisagem e não fala em motivos razoáveis para a repentina decisão de tirar Patrícia Poeta da bancada do Jornal Nacional. Na verdade, o que a Globo não revela é que desde que assumiu o posto no lugar de Fátima Bernardes, o Jornal Nacional perdeu quase 30% de ibope. Ou seja, um em cada três telespectadores abandonou o jornalístico. João Cotta / TV Globo

Apesar de ser muito bonita e comunicativa, Renata Vasconcelos também não está agradando muito ao público mais popularesco do Fantástico. Vista como uma apresentadora sofisticada e mais afeita ao jornalismo, ela não estaria agradando como "entertainer".

A propósito A Globo está com problemas não só no jornalismo, mas principalmente em seu Departamento de Jornalismo. Há anos estão à caça de um substituto à altura de Galvão Bueno e, até agora, nada. Tentaram até um teste de transmissão com locução do repórter Alex Escobar, mas ele não agradou. A verdade é que os veteranos vão fazer muita falta no futuro. Hoje todo mundo fala mal do Galvão. Quando ele não estiver mais na TV, vão todos se lamentar dos bons tempos...

Guerra de nervos

Ainda na Record Causou grande decepção a estreia da nova versão de A Fazenda. Esperava-se muito mais, e não os míseros 11 pontos na estreia. O programa anterior começou com 16 pontos (na Grande São Paulo cada ponto vale por 65 mil domicílios; em Salvador vale por 10 mil, cada domicílio contendo, em média, 3,4 pessoas).

Saturação Se a média continuar ruim, a atual edição de A Fazenda pode

Por outro lado...

Renata Vasconcelos: sofisticada

Está medonha a guerrinha de nervos entre produções do Balanço Geral (Record) e o Tá na Tela, de Luiz Bacci, na Band. Há acusações mútuas de espionagem e espiões infiltrados. Tudo cascata, claro. Na semana passada, aliás, Luiz Bacci amargou o pior resultado desde sua estreia: 2,1 pontos – o mesmo que a Band registrava antes dele. Já tem gente falando que o programa perdeu o fôlego e o estilo sensacionalista/fantasmagórico, mais cedo ou mais tarde, iria cansar o público. Isso sem falar na falta de criatividade das pautas.


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