SALVADOR QUINTA-FEIRA 25/9/2014
ADALBERTO MEIRELES Jornalista e crítico de cinema
A decisão de dividir o prêmio de R$ 250 mil, de melhor longa, entre os seis concorrentes à mostra competitiva oficial do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, tomada pelos próprios diretores, foi coerente em relação à proposta do vencedor oficial, Branco Sai. Preto Fica, de Adirley Queirós. O filme ficcionaliza um episódio de violência ocorrido em Ceilândia em 1986, protagonizado pela polícia, que invadiu um baile black e deixou feridos. Marquim da Tropa tomou um tiro e ficou paraplégico. Shockito foi pisoteado pelos cavalos e perdeu uma perna. Ambos são protagonistas de BrancoSai.PretoFica,quemistura a história real com uma mirabolante trama de ficção científica passada na própria Ceilândia do futuro, onde aos moradores da cidade satélite é proibido o trânsito livre pela capital federal, concedido apenas àqueles agraciados com um passaporte. Trata-se de uma história típica de enfrentamento de um estado de exclusão, o que se pode dizer também da decisão tomada em conjunto, anteriormente à premiação,nanoitedeterça-feiraem Brasília, pelos seis diretores concorrentes. Um ato corajoso e histórico, que submete à prova qualquer modelo de premiação. Branco Sai. Preto Fica ficou ainda com melhor ator, o rapper Marquinho do Tropa, e direção de arte (Denise Vieira), mas a sua contundência se espalhou pelas premiações paralelas do festival que lhe conferiu mais oito distinções, incluindo melhor longa na Mostra Brasília e prêmio da crítica, concedido pela Abraccine - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Outro filme contundente, Brasil S/A, que faz uma bela alegoria da história brasileira apenas com som e imagem, foi o mais premiado, entre os longas, pelo júri oficial: direção e roteiro (Marcelo Pedroso), trilha sonora (Mateus Alves), som (Pablo Lamar) e montagem (Daniel
CINEMA Os próprios diretores resolveram ratear os R$ 250 mil que cabiam a Branco Sai. Preto Fica, filme marcado pelo ideal de coletividade. Entre os curtas, venceu Sem Coração
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Divisão de prêmios é ação histórica na 47ª edição do Festival de Brasília Junior Aragão/ Divulgação
Equipe de Branco Sai. Preto Fica recebe prêmio de Melhor Filme
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do litoral alagoano. O filme de Mascaro é impressionante. Isso ficou claro no dia posterior à exibição. Cinema com várias referências, evocou um sem-número de teorias em torno de suas influências – de Barravento, de Glauber Rocha, ao documentário puro de Jean Rouch. MasMascaro,quenãoseassume como um cinéfilo, admitiu um referencial em Joris Ivens, o diretor holandês que, em Uma História do Vento, se embrenhou com sua equipe pela China na tentativa de capturar o vento. Ela Volta na Quinta é um curioso registro do mineiro André Novais Oliveira, que reúne a família – o pai, Norberto, a mãe, Maria José, e o irmão, Renato – em uma história de ficção sobre um casal em crise depois de 38 anos juntos. Cinema de afetos, contemplativo, tranquilo em sua narrativa sem maiores embates, o filme ficou com melhor ator e atriz coadjuvante – Renato e a namorada de André, Élida Silpe.
Curtas
Branco Sai. Preto Fica ficou ainda com melhor ator, o rapper Marquinho do Tropa, e direção de arte (Denise Vieira)
Outro filme contundente, Brasil S/A foi o mais premiado no festival, entre os longas-metragens, pelo júri oficial
Bandeira). Sem Pena, de Eugenio Puppo, que se recusa a ser um documentário tradicional, revelando o rosto dos entrevistados apenas nos créditos finais, recebeu o prêmiodojúripopular.Ainformação de que o Brasil tem a maior população carcerária do mundo – atrás apenas dos Estados Unidos e da China – move o filme que já no início do festival sinalizava a que veio: foi o mais aplaudido
logo depois da exibição. Entre os favoritos, Ventos de Agosto ficou com melhor atriz (Dandara de Morais) e fotografia, do próprio diretor, Gabriel Mascaro. Conhecido sobretudo por Doméstica e Avenida Brasília Formosa, Mascaro se deixa impregnar pela ficção com muito humor e impelido pelo embate entre o amor, a natureza e a morte, ao registrar a vida em uma pacata vila de pescadores
Entre os curtas, o vencedor foi Sem Coração, de Nara Normande e Tião, que, além de melhor filme, recebeu os prêmios de direção e montagem. Maeve Jinkings foi escolhida melhor atriz por Estátua!, produção paulista dirigida pela baiana Gabriela Amaral Almeida, que também ficou com melhor roteiro e foi ainda escolhida pelo júri da Abraccine. Crônica de Uma Cidade Inventada, de Luísa Caetano, foi escolhido melhor filme pelo júri popular e Zé Dias, um senhor de 100 anos que tem o seu cotidiano documentado, em Geru, de Fábio Baldo e Tico Dias, recebeu o prêmio de melhor ator. Outro baiano, André Luiz Oliveira, foi um dos destaques da Mostra Brasília. Recebeu melhor direção, trilha sonora e prêmio do júri popular por Zirig Dum Brasília – A Arte e o Sonho de Renato Matos. Veja a relação completa dos premiados acessando: http:// www.festbrasilia.com. br/home
MÚSICA
LETRAS
Ganhadeiras de Itapuã lança primeiro CD
Achel Tinoco publica biografia do empresário Klaus Peters
GISLENE RAMOS
Samba de roda, tradição e cultura popular é o que mostra o grupo As Ganhadeiras de Itapuã em seu primeiro CD, cujo show de lançamento acontece hoje, às 17h, no Hotel Mar Brasil, no bairro de Itapuã. Com produção de Alê Siqueira e direção musical de Amadeu Alves, o disco é composto por 13 faixas. Participam ainda as cantoras Margareth Menezes e Mariene de Castro, nas canções Festa na Aldeia e Rainha do Mar. Diversos instrumentos acompanham as Ganhadeiras, como flauta, bandolim, cavaquinho, violino, baixo, violão, além da marcada percussão, que se unem às vozes formando o samba-de-roda de "mar aberto", além de performance teatral. "O grupo tem uma autenticidade muito grande por conta da familiaridade das integrantes. É um samba de roda com um jeito de ser bastante itapuãzeiro, em que o sotaque praieiro se revela em cada toque", conta o diretor musical.
Foram 13 dias de gravação, em Jacuípe, no estúdio Coaxo do Sapo, de Guilherme Arantes. "A estrutura do estúdio favoreceu muito e foi uma experiência única que a gente só tem a agradecer", conta Amadeu.
Divulgação
Algumas das integrantes do grupo criado em 2004
VERENA PARANHOS
Tradição
Fundado em março de 2004, o grupo, com 19 mulheres, entre senhoras e jovens, traz canções inéditas, do cancioneiro popular e releituras de Caymmi. Mulheres símbolo da resistência e da luta na história da Bahia, a expressão "Ganhadeiras" refere-se àquelas que andavam longas distâncias a pé, vendendo frutas, peixes, tecidos e outros produtos, sempre cantando. Dona Mariinha, uma das primeiras integrantes do grupo, conta orgulhosa a sua história: "Antes eu catava camarão pra uma baiana de acarajé, que também é do grupo; aí me chamaram, conversa vai, conversa vem, todo mundo cantando, eu fui ficando e nessa brincadeira estou até hoje".
O trabalho das Ganhadeiras tem grande importância no resgate e valorização da história de Itapuã, como conta Amadeu: "Tudo isso tem um resultado muito expressivo na autoestima do bairro e dos moradores. A gente faz com que esse trabalho contribua para Itapuã, mas também para Salvador e para a Bahia como um todo", afirma.
Além do CD, o grupo está se preparando para a gravação do primeiro DVD e um show previsto para dia 28 de setembro no Projeto Boca de Brasa, além da participação no Festival em Itapuã e no Novembro Negro. LANÇAMENTO DO 1° CD DAS GANHADEIRAS DE ITAPUÃ / HOJE, 17H/ HOTEL MAR BRASIL / ITAPUÃ / EVENTO PARA CONVIDADOS
CURTAS Maracangalha realiza Utilização da Galeria festival cultural Acbeu para mostras O primeiro Festival Cultural de Maracangalha acontece domingo e movimenta a cena do vilarejo localizado a 58 km de Salvador. A programação gratuita acontece das 9 horas às 18 horas e inclui arrastão cultural, shows, sambas de roda, palestras e exibição de curtas metragens. A Lira de Maracangalha se apresenta às 13 horas, em comemoração ao aniversário da Filarmônica. Outra atração é o grupo infantil Dó Ré Mi Lá, que já finalizou a produção do CD de estreia e deverá lançá-lo em breve na capital.
Com o objetivo de incentivar a produção artística, a Acbeu está com inscrições abertas para artistas visuais interessados em utilizar o espaço da Galeria Acbeu, localizada no Corredor da Vitória, para exposições. As inscrições ficarão abertas até 22 de outubro e para se candidatar é necessário preencher formulário de inscrição Pedido de Pauta, disponível na Galeria de segunda à sexta-feira, das 14h às 18h, ou no site www.acbeubahia.org.br, onde também poderão ser obtidos o regulamento e demais informações.
Caetano e Moreno no 15º Grammy Latino A Academia Latina da Gravação anunciou os indicados para a 15ª Entrega Anual do Latin Grammy na página oficial. Entre os artistas brasileiros, Caetano Veloso e Moreno Veloso estão em categorias do campo geral (fora da premiação dedicada à música brasileira) e concorrem com artistas da música latina na categoria Melhor Canção, com A Bossa Boca é Foda, e de produtor do ano, respectivamente por Gilbertos Samba e Abraçaço Ao Vivo. Na categoria instrumental, três brasileiros estão no páreo com artistas latinos, Yamandu Costa, Hamilton de
Holanda e Antônio Adolfo. A lista completa dos indicados está no site http://www.latingrammy.com/pt/nominees.
Os dois artistas concorrem com nomes latinos nas categorias Melhor Canção e de produtor do ano
Para o escritor baiano Achel Tinoco, biografia é uma história baseada em fatos reais, mas romanceada em alguns pontos. Guiado por essa premissa, ele publica seu 12º livro, O Castelo de Wilhelm Hermann, que será lançado hoje, a partir das 18 horas, na Livraria Cultura (Salvador Shopping). A publicação entrelaça a história do empresário Wilhelm Hermann Klaus Peters, falecido em 2011, no Panamá, à de seu pai, Martin, alemão que chegou ao Brasilnofinaldoséculo19atraído pelos seringais da Amazônia. Os feitos de Klaus Peters, paulista que teve êxito nos negócios em diversas áreas e se instalou em Praia do Forte na década de 1970, resvalam em episódios marcantes do Brasil e em personalidades como o arquiteto Oscar Niemeyer, o engenheiro João Augusto Gurgel, o conde Francisco Matarazzo e o político Antônio Carlos Magalhães. “No fim das contas, o que eu queria era homenagear Klaus Peters. Daqui a 10 ou 20 anos, ninguém vai saber que ele desenvolveu a Praia do Forte, criou a Fundação Garcia d’Ávila e ajudou a preservar o meio ambiente através da Reserva da Sapiranga”, comenta Achel Tinoco. Em meados da década de 1990, Tinoco foi sondado misteriosamente sobre a possibilidade de escrever um livro sobre um empresário baiano. Depois de enviar alguns dados pessoais e um de seus livros, Vilarejo dos Anjos, só soube quem era o personagem quando chegou em sua casa, na Praia do Forte.
presário em encontros regados à água de coco. Klaus Peters tinha como sonho transformar a Praia do Forte em um grande polo de ecoturismo. “Em 1970, a Praia do Forte custou para ele 500 mil cruzeiros. É inacreditável a valorização que ele promoveu e transformou o lugar no maior polo de ecoturismo do Brasil”. “Ele acreditava que tudo em sua história estava escrito e queria até que o livro se chamasse Maktub”, conta Tinoco, que além das entrevistas com Klaus, teve como referência um caderno de Martin Peters, com escritos do período após a segunda guerra mundial. O projeto de O Castelo de Wilhelm Hermann ficou guardado por quase uma década e sai da gaveta por meio de uma editora portuguesa, a Chiado. No Brasil, a publicação será vendida por R$ 33 e na Europa por 11 euros. LANÇAMENTO DE O CASTELO DE WILHELM HERMANN / HOJE, ÀS 18H / LIVRARIA CULTURA / SALVADOR SHOPPING / GRÁTIS
Mauro Coelho / Divulgação
Praia do Forte
Ali conheceu o descendente de alemães, discreto e recluso, de quem já tinha ouvido falar. “Era um alemão completamente diferente do que eu imaginava. Um homem alegre, simpático”, conta o autor, que durante um ano colheu a história do em-
Achel Tinoco: O Castelo de Wilhelm Hermann é o 12º livro