Encontro sobre Direitos Autorais do compositor

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SALVADOR SÁBADO 22/11/2014

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Emilio Rodrigué e seu legado de luta por uma psicanálise libertária e criativa Urania Tourinho Peres Psicanalista e membro da ALB colpsiba@terra.com.br

O Colégio de Psicanálise da Bahia, com o apoio de Cassandra, instituição psicanalítica de Córdoba, Argentina, realizou em 2010 um colóquio para homenagear Emilio Rodrigué. Participaram do evento um grupo baiano, que, durante os anos em que aqui viveu Rodrigué, manteve uma intensa e rica convivência com o psicanalista argentino. O grupo de Cassandra conheceu Emilio Rodrigué através de seus livros e do filme Heroína, baseado no romance de mesmo nome. Entusiasmados, seus integrantesrealizaramumintenso estudo da obra do psicanalista e organizaram um seminário para então expor e debater as ideias aí desenvolvidas. Fui convidada para proferir umaconferêncianesseencontro, e percebi a riqueza de um confrontoentreum grupo quefalava da obra de um autor e outro grupo que havia acompanhado e participado do surgimento da maior parte dessa obra. Tivemos, então, a ideia de reunir os dois grupos em um colóquio, no qual os baianos apresentariam depoimentos da convivência com o psicanalista, e os cordobeses textos de ensinamentos extraídos das obras

do mesmo. O Colóquio Emilio Rodrigué aconteceu no espaço do Centro de Estudos Bahianos, na Universidade Federal da Bahia – Ufba, em 28 e 29 de maio de 2010. EmilioRodriguénosdeixouum legado de luta por uma psicanálise libertária e criativa, longe das mestrias e hierarquias, lugar deinvenção.Aclínicapsicanalítica é uma clínica transgressora, na medida em que não se faz acontecer fora da estrita observância dos limites da singular subjetividade de quem a ela recorre. O livro Emilio Rodrigué: Velho Analista do Tempo Novo não se constitui como Anais do colóquio, pois muitos textos foram revistos e ampliados e mesmo reescritos, sendo a eles acrescentado o discurso que homenageou Rodrigué, quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa, pós mortem, pela Ufba.

Inspiração do mar

Emilio Rodrigué dizia que se tornou escritor na Bahia, ainda que Heroína, sua primeira novela, tenha sido escrita na Argentina. Heroína, como reconhece, “fala de outro tempo, outro mundo” (Rodrigué, 1987). Ele admitia receber, sobretudo do mar, dos coqueiros e das praias baianas, uma força criativa, uma liberdade inovadora. Soubeserbaianocomopoucose, por isso mesmo, recebeu o título deCidadãoSoteropolitanoeode Doutor Honoris Causa da Ufba,

tristemente post mortem. Escrever era uma prática diária, e orgulhava-se das páginas escritassemrasura.Queixava-se apenas de que costumava plagiar e plagiar-se com muita frequência, ainda que considerasse o plágio “um crime hediondo”, muito embora fascinante (Rodrigué, 1996a, p.11). Nutriaumaforteadmiraçãopor si e pela sua produção, repetindo, sem muito pudor, que era um cidadão notável, homem de grande sabedoria. Essa avaliação, contudo, não partia de uma vaidade desmesurada, uma vaidade nociva, mas era fruto de uma rara capacidade de poder retirar de coisas simples, e aparentemente desprovidas de maior interesse, uma conclusão significativa. Era homem de grandes colheitas, investia em imensos campos e semeava inúmeras sementes. Pela experiência de vida e talvez por decisão própria, dizia-se possuidor de boa dose de imunidade, que lhe outorgava direitos de apenas atender e responder ao que de fato lhe interessava. Dizia brincando que o seu autismo era-lhe muito útil quando estava frente a uma situação ou a um grupo que lhe desagradava. Era curioso, sempre interrogativo em relação às pessoas, como se estivesse, a todo instante, pronto para receber alguma revelação que lhe poderia ser útil. Nos últimos anos, dizia-se um homem feliz e estava convicto de

Divulgação

Rodrigué (Londres), antes de trocar o terno pela bermuda na Bahia

Livro reúne textos ampliados e revisados de um colóquio sobre o psicanalista argentino

que iria transmitir à velhice uma sabedoria de viver. O corpo, a sexualidade, a liberdade de atuar e pensar eram companheiros constantes. Acreditava que ultrapassaria os 100 anos, mas a morte o surpreendeu. Que legado nos deixou? Que lição transmitiu ao longo de sua vida de homem e psicanalista inquieto? E, mais do que isso, de

que transmissão se trata, quando interrogamos a lição transmitida? Será que, em algum momento, quis transmitir alguma lição? Não saberia dizer. O certo é que era um bom ouvinte, sabia colocar-se como aluno, pronto a apreender as lições que lhe vinham de Colita, o cão, e de Ondina, a praia. Certa vez, escrevi que os seus depoimentos e a sua literatura testemunhal poderiam nos permitir demarcar, com muita facilidade, períodos bem distintos em sua vida e em sua produção. Talvez, entre essas demarcações pudesse estar presente a mais radical e também a mais simples de todas, a que usaria a sua condição de exilado como fronteira. Ou seja, antes e depois de Salvador-Bahia tornar-se sua terra por eleição, quando abandonou o paletó e a gravata pela bermuda e a camiseta e viveu em intenso contato com a natureza, tendo, sobretudo com o mar, uma relação de fascínio. Foi em um mergulho no mar que recebeu como um raio a evidência de sua divisão. A estranheza de Colita, o cachorro acompanhante na praia, que o cumprimentou com um latido inesperado, deu-lhe a certeza, naquele dia, de que latia por percebê-lo outro. EMILIO RODRIGUÉ: VELHO ANALISTA DO TEMPO NOVO (ORG. URÂNIA TOURINHO PERES E GRISELDA PÊPE) / LANÇAMENTO DIA 24, ÀS 18H / PALÁCIO DA REITORIA, CANELA

Lucio Tavora/ Ag. A TARDE

ENCONTRO

Grandes nomes da música discutem a valorização dos direitos autorais na arte GISLENE RAMOS

Você prepara uma festa. Espaço, decoração, buffet, roupas. Tudo é planejado e pago, muitas vezes altos valores. Contrata uma banda, paga o cachê. Mas e as músicas? Será que há uma preocupação em pagar ao compositor? Eis a questão. Vinculadas ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), instituições como a União Brasileira de Compositores (UBC) administram as relações dos direitos autorais e buscam a valorização do trabalho do autor musical. Na última segunda-feira, a UBC, em evento comemorativo, reuniu diversos artistas, entre músicos, compositores e produtores musicais para discutir a valorização do compositor. Entre eles, o presidente da UBC e compositor Fernando Brant; o cantor e compositor Manno Góes; a cantora, compositora e atual diretora da UBC Sandra de Sá e muitos outros.

Artistas como Luiz Caldas, Waltinho Queiroz, Alexandre Leão e Jorge Moreno marcaram presença. Além do grande homenageado da noite, o sambista baiano Riachão.

Direito em debate

Ronaldo Bastos, um dos principais letristas do Clube da Esquina e atual diretor de Comunicação da UBC, afirma sobre a noção do direito autoral no país: “O simples reconhecimento de que essa atividade é um trabalho e que precisa ser remunerada é uma conquista". Manno Góes completa: “Nossa maior vitória foi a quebra da inadimplência por parte de grandes empresas de TV e rádio que negligenciavam o pagamento de direitos autorais". A carioca Sandra de Sá comenta: “As pessoas falam muito que o Ecad não paga, mas ninguém comenta a inadimplência, nem o que não é pago ao Ecad”. E completa: “É uma maioria que não se interessa e nossa con-

quista é ter a consciência de que, já que é difícil o compositor vir, a gente vai até ele”. Parceiro de Milton Nascimento, Fernando Brant diz sobre as dificuldades no meio: “Se na música é um criar constante, no caso do direito autoral é uma luta constante”.

O compositor

Para o guitarrista e compositor Graco, da banda Scambo, “é importante que se crie uma cultura de valorizar o trabalho do compositor, que artistas se preocupem em informar o nome do compositor em seus shows”. “O artista tem que se informar. O compositor tem que querer e fazer a sua parte”, complementa Manno Góes. “A gente poderia viver num mundo em que as pessoas tivessem mais tempo livre e melhores condições de vida para serem mais criativas e assim melhorar o mundo com criações”, afirma o letrista mineiro Ronaldo Bastos.

Membros da União Brasileira de Compositores (UBC), Manno Góes, Fernando Brant e Sandra de Sá

“O artista tem que se informar. O compositor tem que querer e fazer a sua parte”

“Se na música é um criar constante, no caso do direito autoral é uma luta constante”

“Nossa conquista é ter a consciência de que, já que é difícil o compositor vir, a gente vai até ele”

MANNO GÓES, compositor e membro UBC

FERNANDO BRANT, presidente da UBC

SANDRA DE SÁ, cantora e diretora da UBC

É tempo de colher jacas Hélio Pólvora Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia

Contam que Fernando Sabino, aquele do romance O Encontro Marcado, apesar de mineiro e chegado a Juscelino desesperou-se em Brasília. Saltou do táxi com a mala na mão e se perdeu à porta do endereço buscado. Olhou várias vezes em volta: não havia calçada, tudo era igual a uma floresta de eucaliptos. Abordou, por fim, uma senhora que aparentemente ia trabalhar. Ela apontou-lhe o edifício e sorriu. Sabino, no pórtico, olhava umas letras maiúsculas: SQW. Queria o nome da rua; percebia, agora, que ali não batizavam os logradouros públicos com o nome de personalidades como Jorge Amado ou Luiz Eduardo Magalhães. Uma hora depois, perdido o encontro com Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende, chegava ao aeroporto, pegava um avião para

o Rio e Ipanema. Pergunto à escritora Eglê Malheiros, que passa uma temporada na capital com Salim Miguel, que nota ela dá a Brasília. – Ao povo, 10. À cidade, 2. Pois quanto a mim, digo que Brasília me agrada. Gosto do silêncio espesso, seja feriado ou dia útil; gosto da sesta, da inércia, da lua baixa e grande, muito amarela, com que fui saudado ao chegar; só não aprecio o calor úmido, que já escalou um ou dois pontos sempre que olho, curioso, o mostrador do termômetro público. As brisas do Lago Sul chegam exangues, quase desfalecidas à mesa do restaurante. De madrugada, a temperatura cai, os vândalos atmosféricos estreme-

Fora da Esplanada, salve-se quem puder. Somente a lua parece incorruptível

CURTAS cem as vidraças do Palácio da Alvorada. E, no entanto, a cidade está bem arborizada, com exemplares da flora tropical, e nesse sentido, apenas nesse dispensa o ambientalismo de Marina. Está chegando a época de colher mangas e jacas. As jaqueiras estão carregadas de frutos que repontam do tronco, dos galhos, de raízes expostas, aos cachos. Teremos jacas e mangas com fartura para parlamentares e executivos, se não fossem quase todos bolivarianos e não amassem as iguarias importadas. O sergipano Paulo Dantas escreveu uma vez, em livro de adolescente nas letras, quando morava no sul baiano: ‘’Itabuna, terra que dá pão aos desgraçados e ouro aos coronéis. '' Dava, Paulo, dava. A paródia vem em louvor à sua memória: Brasília, terra que dá supersalários aos governantes, legisladores e magistrados, e mangas e jacas aos candangos. Prefiro jacas, quando trazem pingos de mel, a maçãs, uvas e peras, incluindo as maçãs húngaras, que são muito vermelhas, talvez envenenadas pela

bruxa adversária de Branca de Neve. Quanto a mangas, as de Itaparica levam a palma. Mas nem tudo são frutas e frutos. As flores anteciparam a primavera, com muito escândalo de tons e entretons. Os ipês rebentam em flores alvas, alaranjadas, amarelas. Creio que sejam ipês, sou apedeuta em botânica e não posso recorrer a Jose de Alencar, que escreveu um romance sobre um deles. Mas aqui no planalto ninguém sabe quem foi o distinto, a ministra Martha Suplicy acaba de pedir as contas na pasta da Cultura . Nota 8 para Brasília. Um noticioso nos adverte que a criminalidade corre de rédea solta. Estupros, assaltos nas ruas, assaltos a lojas e apartamentos, sequestros curtos e demorados. Fora da Esplanada dos Ministérios, salve-se quem puder. Somente a lua que nos banha parece incorruptível. E pensar que tais mazelas ocorrem na sede do poder, em pleno paraíso fiscal, com guarda real e polícia numerosa... Bem, restam-nos as jacas, a corrida às jacas neste grande prêmio Brasil.

FIT Bahia leva teatro Livro traz panorama para Lauro de Freitas de autores baianos Começa hoje e vai até dia 29, em Lauro de Freitas, a 8ª edição do FIT Bahia 2014 – Festival Ipitanga de Teatro, que traz 24 espetáculos, nas categorias teatro de rua, teatro adulto e teatro infanto-juvenil. Os espetáculos, oriundos de dez estados brasileiros, serão apresentados no Cine Teatro de Lauro de Freitas, na Praça da Matriz, Largo do Caranguejo, Praça do Jambeiro e na comunidade quilombola Quingoma. Os grupos participantes também oferecem oficinas gratuitas para a comunidade.

A Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia promove o lançamento do segundo volume do livro Autores Baianos: Um Panorama. O evento acontece nesta terça às 19h, no Goethe-Institut/Icba (Corredor da Vitória). A publicação em quatro idiomas apresenta 12 nomes que representam a atual produção literária da Bahia. A proposta é de que a obra seja utilizada em feiras e eventos literários internacionais, com distribuição estratégica, direcionada a agentes literários e editoras.

Programação inclui apresentações gratuitas ou com preços populares, além de oficinas de teatro

Em português, inglês, alemão e espanhol, a obra busca estimular a tradução de escritores da Bahia


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