TCC_ m.a.i. - anteprojeto de módulo emergencial de apoio ao imigrante

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giulia fernanda de assis universidade federal da paraíba anteprojetom.a.i. de módulo emergencial de apoio ao imigrante Message In A Bottle Benedetto Cristofani Illustration

“Eu só quero paz. Sem paz, nada é possível.” – mãe e refugiada do Sudão do Sul iniciativa da Mercy Corps Europe, mensagem em metrô de Londres

UFPB - Universidade Federal da Paraíba Centro de DepartamentoTecnologiadeArquitetura

Giulia Fernanda Lucena de Assis Bezerra Dr. Antônio da Silva Sobrinho Júnior João dezembroPessoa/PBde2020

Trabalho final de graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), como requisito à obtenção do título de bacharel.

B574m Bezerra, Giulia Fernanda Lucena de Assis. M.A.I.: Anteprojeto de Módulo Emergencial de Apoio ao Imigrante / Giulia Fernanda Lucena de Assis Bezerra.João Pessoa, 2020. 75 f. : Orientação:il. Antônio da Silva Sobrinho Júnior. TCC (Graduação) - UFPB/CT. 1. Arquitetura efêmera. 2. Arquitetura emergencial. 3. Design para desconstrução. I. Sobrinho Júnior, Antônio da Silva. II. Título. UFPB/BST CDU 72 Catalogação na publicação Seção de Catalogação e Classificação Elaborado por ONEIDA DIAS DE PONTES - CRB-CRB15-198

agradecimentos

Agradeço a meus colegas de turma, que transformaram toda essa fase em algo mais divertido e co laborativo. Pela construção coletiva de conhecimento, e pelos incontáveis momentos de descontração, tão necessários na rotina que perduramos durante esses anos. Tenho certeza que todos vocês serão excelentes profissionais. Agradeço em especial a minhas amigas pelo apoio emocional nessa jornada final e pelo in centivoAgradeçomútuo.a cada pessoa que fez esse trabalho se concretizar da melhor forma possível, em especial a Daniel, pela imensurável compreensão, carinho e incontáveis revisões textuais durante essa fase. Agradeço por compartilhar sua visão de mundo comigo.

Agradeço, por fim, a todos os migrantes forçados e refugiados que compartilharam suas histórias, pela força e persistência que demonstram no ato de apenas existir.

Agradeço ao meu orientador, professor Antônio da Silva Sobrinho Júnior, que abriu uma exceção para mim. Pelos passos iniciais dados bem antes de qualquer cronograma e pelos desafios propostos ao longo do processo projetual. Tenho certeza que este trabalho condensa nossas visões de uma arquitetura bem pensada, acolhedora e principalmente humana.

Agradeço primeiramente a minha família, que me permitiu a imersão no mundo da arquitetura e urbanismo, pelo privilégio de me dedicar completamente à área que tanto amo. Por me ensinarem persis tência, dedicação e ânimo, e que a única bagagem que não pesa é o conhecimento. Agradeço em especial aos meus pais e avós, pelo incentivo diário e por acreditarem em minhas metas pessoais. Amo vocês. Agradeço aos meus professores e mestres, que compartilharam comigo um pouco da sua paixão pela arquitetura, urbanismo, teoria histórica e ambientação. Por conseguirem transmitir o essencial além dos olhos e instigarem a curiosidade de sempre buscar mais. Agradeço em especial a professora Amélia Panet, que me introduziu a beleza da arquitetura social e da área acadêmica. Agradeço também aos meus colegas do TRAMA, pela oportunidade de exercitar a teoria na prática ao lado de comunidades tão inspiradoras na construção de projetos maiores que a própria arquitetura.

Questões práticas e específicas do projeto foram apresentadas, como sua construção e desmonte, suas propostas de layout e usos flexíveis do móduloPalavraspadrão.chave: arquitetura efêmera; arquitetura emergencial; de sign para desconstrução

Keywords: ephemeral architecture; emergency architecture; de sign for deconstruction resumo abstract

O presente trabalho aborda a temática da arquitetura efêmera aplicada em contextos emergenciais, voltado para a crise humanitá ria dos refugiados no Brasil. Trata-se de um tema de grande relevância contemporânea, principalmente agravado após 2017. São abordadas questões sobre as solicitações de refúgio no Brasil, as bases da arquite tura efêmera e conceitos associados, como flexibilidade e adaptabilida de. Também se utilizou a metodologia projetual do “design para des construção”, como uma ferramenta para se obter um projeto coerente com o Condicionantestema. projetuais sobre a arquitetura emergencial foram estudados e, por fim, aplicados em um anteprojeto de módulos emer genciais com três tipologias distintas. A abordagem programática se baseou na metodologia do “problem seeking” para definir o progra ma de necessidades, as tipologias necessárias e questões climáticas e estruturais, além de abordar toda a problemática acerca do usuário.

The present work addresses the theme of ephemeral architecture applied in emergency contexts, focused on the humanitarian crisis of refugees in Brazil. It is a topic of great contemporary relevance, mainly aggravated after 2017. Issues are addressed about asylum applications in Brazil, the bases of ephemeral architecture and associated concepts, such as flexibility and adaptability. The design methodology of “design for deconstruction” was also used as a tool to obtain a project consistent with theDesigntheme.constraints on emergency architecture were studied and, finally, applied in a preliminary design of emergency modules with three distinct typologies. The programmatic approach was based on the “problem seeking” methodology to define the needs program, the necessary typologies and climatic and structural issues, in addition to addressing all the issues concerning the user. Practical and specific is sues of the project were presented, such as its construction and dis mantling, its layout proposals and flexible uses of the standard module.

referencialintrodução teórico referencial projetual abordagem programática anteprojeto proposto conclusões 030201

060405 sumário

01.1 apresentação do tema 01.2 contexto mundial e brasileiro 01.3 delimitação do problema 01.4 objeto/recorte 01.5 objetivos 01.6 justificativa 151515141109 02.1 bases conceituais 02.2 normativas 02.3 metodologia de projeto 232117 03.1 projetos correlatos 03.2 resumo da aplicação dos elementos 03.3 condicionantes de projeto 313026 04.1 usuário 04.2 programa de necessidades 04.3 tipologias desenvolvidas 04.4 condicionantes climáticas 04.5 condicionantes estruturais 3938373533 05.1 partido arquitetônico e sua evolução 05.2 propostas de layout 05.3 terrenos e contextos propostos 05.3 lógicas sistêmicas do módulo padrão 05.4 construção e desmonte 05.5 transporte 05.6 usos flexíveis do módulo 05.7 destino dos materiais 7169686764575146 06.1 considerações finais 06.2 referências bibliográficas 7473

introdução01

O Estatuto dos Refugiados, de edição original de 1951, define refugiado como:

Esse estado de suspensão do cotidiano e da vida, “fora do ordenamento jurídico formal”, “deslocados da relação entre nascimento e nacionalidade”, é consoli dada pela formação dos chamados de “espaços de ex ceção” e pela “territorialização forçada” (BRAGA , 2011). Esse deslocamento forçado configura novas margens, produzidas pelo controle da mobilidade de pessoas através de dispositivos governamentais “que dividem as populações entre aquelas com direitos e aque las sem Estados, quer dizer, sem direito a ter direitos” (AGIER, 2008, apud BIRDMAN, 2009 , p. 361). Esses lo cais podem ser interpretados como locais de retenção, como salas de espera em aeroportos, centros de deten ção na fronteira entre países, zonas de trânsito, cam pos de refugiados, entre outros. Estas áreas, marcadas por seus traços de controle do fluxo de pessoas vistas O primeiro exílio ocorre quando eles são forçados a deixar suas casas. O segundo exílio ocorre quando eles enfrentam profundas e longas exclusões em lugares em que encontra ram segurança - excluídos do direito ao traba lho (e, portanto, de sustentar suas famílias), ex cluídos das comunidades e forçado a viver em campos, excluídos da educação e de serviços de saúde e outros benefícios que os Estados de acolhimento fornecem aos seus cidadãos.

A questão dos refugiados hoje vive seu maior de safio desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Na con temporaneidade, as discussões sobre os direitos dos refugiados e outros migrantes dizem respeito à condi ção de vulnerabilidade destas pessoas. O Estatuto dos Refugiados e as leis brasileiras se destacam como ele mentos dissonantes dessa lógica desumana de exclu são, violência e restrições, desenvolvida desde o final da década de 1970 (SILVA, 2016). O Estatuto por si próprio se tornou um instrumento norteador, sofrendo tentati vas de restrições em suas indicações. A questão migra tória tem evidenciado progressivamente um contexto em expansão da retirada e contestação de direitos hu manos.Um deslocamento forçado é marcado principal mente pela perda dramática do lar, onde reside gran de parte da identidade de uma pessoa, e, ruptura dos laços construídos ao longo de uma vida, indicados por Claval (2010, apud SILVA, 2016). A experiência trau mática de uma migração forçada é marcada por um movimento vulnerável e desordenado, representando mais que um deslocamento físico, mas sim um “des locamento de sentidos”, forçando essas pessoas a viver em um estado de exceção, uma inexatidão ao perten cer a um lugar (VIANNA e FACUNDO, 2015, apud SIL VA, 2016). Este “limbo geográfico” é caracterizado pelo estado constante de movimento, não pertencente de forma jurídica pelo Estado, e nem de forma simbólica pela condição de refugiado. Segundo Said (2004, apud SILVA, 2016) o primeiro

(ALEINIKOFF , 2015, tradução livre).

(…) pessoa que receia, com razão, ser perseguida em função da sua raça, religião, nacionalidade, pertença a um determinado grupo social ou opinião política e não possa ou, em virtude daquele receio, não queira, pedir proteção do seu país. (Estatuto dos Refugiados, capitulo 1, artigo 1, 1951) 9 apresentação do introduçãotema impacto do exílio é a perda do lar e da língua materna. Os deslocamentos forçados se tornam tão prolonga dos que, por vezes, estas pessoas vivem um segundo exílio: como indesejadas ou sobrecarga econômica para um país, são construídas por relações de poder e controle, transformando-os assim em territórios (HAESBAERT, 2010, apud SILVA, 2016).

Segundo a Acnur (2006 , p.12) “a globalização e as migrações internacionais andam de mãos dadas”, e “a mobilidade humana é uma forma crucial de globaliza ção” (CASTLES, 2010, p.23 ). Desde o início do milênio, o fluxo migratório mundial aumentou exponencialmen te, em conjunto com as reconfigurações “das relações de poder político e militar, desde o fim da Guerra Fria, representam uma ‘mudança radical contemporânea’ – uma nova ‘grande transformação” (CASTLES, 2010, p.29). Para os refugiados, a globalização implica em sua limitação de acesso à proteção, assim como representa um desafio para sua definição, em virtude dos comple xos fluxos migratórios existentes nas fronteiras políticas dos países (ACNUR, 2006).

Porém, com o passar dos anos, essa definição se expandiu para buscar atender às questões contempo râneas de refúgio. Além disso, existem outros grupos, como os migrantes forçados, que não são protegidos pelo governo como os integrantes da categoria de re fugiados, questões tratadas mais à frente do trabalho. Como dito por Haesbaert (2012, p. 233 ) “as migra ções são um processo multidimensional, condensan do toda a complexidade da des-re-territorialização das sociedades”. Assim, os refugiados integram uma ca tegoria de pessoas em constante movimento não só geográfico e físico, mas também nas reflexões acerca sua definição. Essa extrema vulnerabilidade observada através da perda de seus direitos humanos básicos os deixa em uma condição limite entre espaços, onde a retomada desses direitos “depende, prioritariamente, de sua reintegração territorial e, por consequência, ju rídica ao espaço da política governamental” (AGUIAR, 2011, p. 148 ).

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O autor procura abordar a questão da imigração sob outra ótica: Processos estruturantes dessas migra ções, só recentemente têm sido vistos como uma anomalia que tem como sua estrutura os aspectos sociais, econômicos e políticos, e não apenas como resultado de catástrofes ou emergências, ou seja, deve-se abarcar todo o contexto relacionado a cada processo. (SILVA, 2016, p. 74). Uma das implicações dessa perspectiva é olhar para o refugiado ou o retornado não só como sujeito que necessita de proteção (física e jurídica) de instituições internacionais, iso lando-o enquanto categoria, mas situá-lo num processo mais vasto e complexo de reconfigu rações sociais e políticas. (...). Também ajudaria a ter em conta que a migração é um fenôme no humano e que os seus protagonistas, os mi grantes, também têm as suas visões e perspec tivas e refletem sobre a migração. Considerar o que eles pensam e o que fazem talvez ajude a captar aspectos das migrações que estão para além do controle burocrático e administrativo. (INGLÊS, 2015, p. 181 - 184).

Apesar dos poucos pertences materiais, os refugiados levam suas subjetividades, riqueza de conhecimentos e potencialidades (SOUZA, 2014, apud SILVA, 2016). Assim, essas pessoas carregam consigo suas ex periências, conhecimentos adquiridos ao longo de toda uma vida, além de gerações passadas, e apenas engrandecem culturalmente o novo local em que se instalam.Oconceito das “migrações desesperadas” con fere subjetividade à experiência migratória para além das estatísticas e números (BLANCO, 2011, apud SILVA, 2016).Paulo Inglês (2015), sociólogo angolano, desenvol ve uma visão crítica sobre as migrações forçadas. Visa destacar que: de controle não se dão apenas por meios físicos como muros e centros de detenção, mas também por discursos de medo, infundados e espalhados por toda a sociedade. Apesar dos poucos pertences físicos, os re fugiados levam suas subjetividades, riqueza de conhe cimentos e potencialidades (SOUZA, 2014, apud SILVA, 2016).Assim, essas pessoas carregam consigo suas ex periências, conhecimentos adquiridos ao longo de toda uma vida, além de gerações passadas, e apenas engrandecem culturalmente o novo local em que se instalam.Oconceito das “migrações desesperadas” con fere subjetividade à experiência migratória para além das estatísticas e números (BLANCO, 2011, apud SILVA, 2016).Paulo Inglês, 2015, sociólogo angolano, desenvol ve uma visão crítica sobre as migrações forçadas. Visa destacar que:

trole não se dão apenas por meios físicos como muros e centros de detenção, mas também por discursos de medo, infundados e espalhados por toda a sociedade.

Nas palavras de Helen Crouzillat e Laetita Tura, do cumentaristas da obra “Les Messagers” (2014 ), eles são mais que apenas migrantes, são “mensageiros”: fazem referência à forma desesperada que o processo ocorre, expressando a mensagem do funcionamento cruel e inaceitável do sistema e pelo qual “eles têm sido devo rados” em um “aterrador abismo que divide o mundo em terras de abundância e terras de onde muita dessa abundância vem”. Os migrantes “irregulares”, refugiados, deslocados internos e solicitantes de asilo são representantes de um movimento de contestação e questionamentos do sistema “moderno-colonial” (GONÇALVES, 2002, p. 224, apud SILVA, 2016). Para estas pessoas, sua busca por novas territorialidades vai de encontro com dispositivos de controle do seu direito decisório de permanecer, de ir e vir, ou de solicitar refúgio. Esses dispositivos de con

Fonte: Organização das Nações Unidas, 2019.

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A situação brasileira é de liderança na proteção in ternacional de refugiados dentro do continente ameri cano. Com o passar dos anos, o país é um dos principais destinos das solicitações de refúgio nas Américas, pon do em prova seu sistema de refúgio. Segundo o CONA RE (Conselho Nacional para Refugiados), o número de solicitações de refúgio cresce a cada ano, inicialmente com haitianos, e mais recentemente, pessoas vindas da Síria e Venezuela. Na figura 3, é evidente que de 2015 para 2019, a quantidade de solicitantes de refúgio e refugiados no Brasil cresceu vertiginosamente, evi denciando fato anteriormente mencionado: a crise la tino-americana da Venezuela afetou bastante os fluxos migratórios nos países vizinhos, sendo o fluxo brasileiro em especial bastante afetado. contexto mundial e

A globalização e as migrações internacionais são duas questões justapostas: a mobilidade humana é uma forma de globalização (ACNUR, 2006). Com as novas reconfigurações de poder político, questões eco nômicas, sociais e conflitos ao redor do mundo, o fluxo migratório se alterou. Na figura 1, é apresentada quan tidade total de migrantes contabilizados pela ONU de 1990 a 2019, dados que crescem de 150 milhões na dé cada de 1990 para mais de 250 milhões em 2019, evi denciando o crescendo fluxo migratório mundial. Nas décadas mais recentes, conflitos armados e instabilidade política têm gerado números recordes de deslocamento forçado e solicitações de refúgio. Recentemente, alguns países latino americanos tam bém tem sofrido com crises econômicas, em especial a Venezuela, desde 2017, alterando o cenário de deslo camento. Segundo estudo da ONU (Organização das Nações Unidas), no Inventário de Migração Internacio nal, entre os anos de 2010 e 2017, o número de pesso as refugiadas e solicitantes de asilo cresceu cerca de 13 milhões, sendo quase um quarto de todos os migran tes internacionais. Na figura 2, é evidenciado o aumen Segundo dados do mesmo documento da ONU, o número de migrantes internacionais em 2019 foi de 272 milhões de pessoas, somando 3,5% da população global. Segundo dados do mesmo estudo, a maior par te dos migrantes internacionais se movimenta entre países localizados na mesma região: na América Latina e Caribe, a porcentagem chega a 73% de pessoas que saíram da mesma região onde residem atualmente. Tal fato evidencia as novas dinâmicas de deslocamen to

A migração sempre foi um fenômeno de propor ções mundiais, porém em circunstâncias atuais, deixou de ser tratada como um problema pontual, e sim como assunto permanente (BRAGA, 2011). Uma das caracte rísticas que mais marcam o fluxo migratório mundial contemporâneo é a sua dispersão global, assim como o prolongamento dessa condição de deslocamento forçado (ZETTER, 2015).

Fonte: Organização das Nações Unidas, 2019. to vertiginoso de refugiados contabilizados a partir de 2010, derivado de conflitos intensos que começaram nessa década, como a Guerra da Síria e a crise econô mica venezuelana.

Figura 2: Quantidade total de refugiados contabilizados pela ONU de 1990 a 2019

introduçãobrasileiro

migratório.Figura1:Quantidade total de migrantes contabilizados pela ONU de 1990 a 2019

• O estabelecimento de um órgão nacional para a determinação da condição de refugiado;

• A proteção internacional dos solicitantes de re fúgio no país, assumida como política estatal, e emba sada em diversas leis federais;

O país recebeu, em 2010, mais de 5 mil imigran tes de cada país listado: Bolívia, Chile, Colômbia, Líbano, Paraguai, Peru e Uruguai; evidenciando dado anterior de migração dentro da mesma região. Tais dinâmicas externas influenciam fortemente o fluxo de imigran tes e refugiados no país, sobretudo no contexto latino americano.Asboas práticas brasileiras são reconhecidas in ternacionalmente, onde se destacam:

Fonte: CONARE, através do Projeto de Cooperação para Análise das Decisões de Refúgio no Brasil,

Fonte: CONARE, através do Projeto de Cooperação para Análise das Decisões de Refúgio no Brasil, 2019.

Figura 3: Quantidade total de refugiados contabilizados pela ONU no Brasil de 1990 a 2019

Fonte: Organização das Nações Unidas, 2019. dos, expandindo o direito ao trabalho para os solicitan tes de refúgio;Aassistência administrativa para os refugiados; • O compromisso com a busca de soluções dura douras para estas pessoas; • A participação do Brasil como “país emergente de reassentamento”, reforçando sua disponibilidade em aceitar tais imigrantes. (TORELLY, 2017)

• A regulação dos direitos e deveres dos refugia

O Projeto de Cooperação para Análise das Deci sões de Refúgio no Brasil é derivado de uma parceria entre a Coordenação Geral do CONARE, a ACNUR e o MJSP, buscando “analisar e publicar dados referentes às decisões de refúgio no Brasil”. Os dados abastecem uma Plataforma Interativa de Decisões sobre Refúgio, em que é possível analisar as decisões plenárias do CO NARE. Em dados de 2020, contabilizados até o mês de junho, as principais nacionalidades dos solicitantes de refúgio eram: Venezuela, Síria e Cuba. Na figura 4, é possível observar em formato de gráfico como a por centagem de venezuelanos é muito mais expressiva que outras nacionalidades, devido à crise econômica no país latino-americano vizinho.

Se observa que os estados com maior número de solicitação das decisões do CONARE, em 2020, foram Roraima (13.892 solicitações), Amazonas (1.791 solicita ções), São Paulo (746 solicitações) e Distrito Federal (611 solicitações). O estado nordestino com maior número de solicitações foi o Ceará, com 48 apenas. É evidente na figura 5 que Roraima possui a quantidade mais ex pressiva de solicitações para seu território: tal fato se dá pela proximidade territorial entre Roraima e a Ve nezuela, fazendo com que essa travessia entre países seja facilitada em meios motorizados ou a pé. Também é interessante observar que, ao se pedir refúgio no es tado de Roraima, o contato familiar com os conhecidos venezuelanos ainda seria possível através dessa proxi midade física.

O estado do Amazonas também acumula gran de número de solicitações de refúgio pela mesma pro ximidade territorial. São Paulo, maior cidade do Brasil, já abriga a maioria das organizações fixas de refúgio do país, estando sobrecarregada com essa demanda ex tra de pessoas nos últimos anos. O Distrito Federal, por ser a capital brasileira, também acumula solicitações, porém em quantidade bem menos expressiva que os 12

DemaisCubaSíriaVenezuela2019.países

• A incorporação de uma denominação mais am pla de refugiado;

Figura 4: Nacionalidade dos solicitantes de refúgio no Brasil até junho de 2019.

Figura 5: Estado destino das solicitações de refúgio no Brasil até junho de 2019.

• A participação de representantes escolhidos da sociedade civil dentro deste órgão para a determina ção da condição de refugiado;

DemaisSãoAmazonasRoraimaPauloestados

FemininoMasculino

Fonte: CONARE, através do Projeto de Cooperação para Análise das Decisões de Refúgio no Brasil, 2019.

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Figura 7: Gênero dos solicitantes de refúgio no Brasil até junho de 2019.

Fonte: CONARE, através do Projeto de Cooperação para Análise das Decisões de Refúgio no Brasil, 2019. Anos 18-29 Anos Acima30-59de60 anos Anos 12-17 Anos Abaixo5-11de 4 anos Figura 6: Faixa etária dos solicitantes de refúgio no Brasil até junho de 2019. três primeiros. Já os demais estados não se configu ram como um destino expressivo para os solicitantes de refúgio, uma situação ruim, já que concentra o fluxo migratório em poucas cidades. No Nordeste do país, o estado que mais recebeu solicitações no período foi o Ceará, apenas com 48: esta seria outra opção para de safogar o fluxo de pessoas e espalhar melhor os solici tantes pelo território brasileiro. Sobre a faixa etária, as parcelas mais representati vas se encontram na faixa entre 18-29 anos, com 7.405 solicitantes, e entre 30-59 anos, com 9.387, conforme presente na figura 6. Tal fato indica que a maioria dos refugiados que chegam ao país se encontram em ida de própria para trabalhar em solo brasileiro e se esta bilizar no país. Idosos e crianças acabam por vir com suas famílias, sendo o grupo na faixa etária laboral res ponsável pela sobrevivência destes mais vulneráveis. Propiciar condições de trabalho e encaminhamentos é essencial para estas famílias, caso contrário se tornam dependentes de auxílios governamentais e nunca con seguem se estabelecer verdadeiramente no Brasil, com moradia, emprego e escolaridade. Sobre o gêne ro, são 11.708 solicitantes do sexo masculino e 6.156 do sexo feminino, conforme figura 7.

A problemática se baseia em utilizar a arquitetu ra efêmera e emergencial como uma ferramenta de acolhida eficaz para os solicitantes de refúgio no Brasil. Sendo assim, se pauta bastante na linha de estudos te óricos sobre efemeridade da arquitetura, também tra zendo a flexibilidade e adaptabilidade de um projeto. A chamada arquitetura de emergência também é uma base teórica, já que toda a crise humanitária é um esta do emergencial. delimitação do introduçãoproblema

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A proposta projetual é baseada em conceitos de arquitetura efêmera e transitória, aplicando tais precei tos no tema principal do trabalho, que é a crise dos re fugiados na América Latina, especificamente imigran tes e refugiados que chegam ao Brasil. A ideia inicial surgiu de um estudo de arquitetura emergencial, itine rante e acolhedora, sendo um instrumento de suporte e apoio à essas pessoas que chegam em estados tão frágeis ao país. Tal proposta foi alimentada diretamen te pelos dados de solicitação de refúgio nos estados brasileiros, afunilando as variáveis de instalação e agen ciamento de possíveis terrenos. Estudando-se o funcio namento dos órgãos e instituições brasileiras voltadas para o acolhimento de refugiados se desenvolveu o programa de necessidades do projeto, que viria a ser

composto de módulos desmontáveis e itinerantes pelo Brasil, visando fornecer o básico para que estas pessoas transitem de um estado de incerteza para a instalação completa como cidadãos brasileiros.

A capital de estado que absorve a maior quan tidade de solicitações é Boa Vista, Roraima, sendo a primeira cidade selecionada para agenciamento e es tudo de condicionantes para instalação do projeto. A segunda em solicitações é Manaus, Amazonas, próxi ma de Boa Vista, não apresentando diferenças muito muito bruscas em relação à anterior que justifiquem seu estudo. Ao longo das pesquisas observou-se que o estado de São Paulo apresenta a maior quantidade de órgãos fixos de acolhida de refugiados no país, sendo uma capital bastante sobrecarregada, descartada para estudo no presente trabalho. Logo após vem Brasília, apresentando condicionantes bem distintas de Boa Vista e assim, selecionada para estudo e agenciamen to de terreno. Por último, sendo três capitais escolhidas para estudo, optou-se por Fortaleza, atraindo esse fluxo para o Nordeste, região do país pouco explorada para a acolhida de tais pessoas.

O projeto se torna relevante pela sua demanda real e crescente de estrangeiros advindos do contex to migratório brasileiro: a cada ano, cresce o número de pessoas que solicita abrigo no Brasil. A chegada e acolhida desses imigrantes é fundamental no proces so de reassentamento em outro país, sendo o projeto proposto uma ferramenta para que isso aconteça. A ar quitetura efêmera nesse caso se prova como uma po tencialidade a ser explorada.

• Desenvolver estruturas desmontáveis, visando seu múltiplo uso em diversas localidades do país;

• Conceber o projeto visando o uso independente e seguro dos grupos imigrantes vulneráveis;

• Apresentar possíveis destinos futuros dos mate riais utilizados; 15 justificativa, objeto/recorte e objetivos justificativa objeto/recorte objetivos introdução

O objetivo geral do trabalho foi o de conceber um projeto de módulos de apoio aos imigrantes, através de estruturas adaptadas às necessidades do usuário em situação transitória. Os objetivos específicos são:

• Apresentar as estratégias de construção, des monte e transporte das estruturas;

• Apresentar outros possíveis usos para os módu los, além do acolhimento de imigrantes;

O objeto de estudo é a arquitetura efêmera e emergencial, utilizada no contexto migratório brasilei ro, no desenvolvimento de módulos desmontáveis e itinerantes. Se utilizou como metodologia de projeto o “design para desconstrução”. No tocante do recorte geográfico, foi proposto a instalação do projeto em ci dades com condições climáticas distintas entre si, vi sando o estudo da edificação e sua eficiência, como já explicado na delimitação do tema. As cidades esco lhidas são capitais de suas unidades federativas, sen do elas Boa Vista (Roraima), Brasília (Distrito Federal) e Fortaleza (Ceará).

referencial02 teórico

Na adaptabilidade para um novo uso, o autor, se base ando em Kerr (2004) cita três objetivos principais: bases

A arquitetura efêmera não se propõe a ficar per manentemente ligada a um lugar, podendo ficar al guns dias, meses ou anos (KRONENBURG, 2008 apud FERNANDES, 2019). O conceito de efemeridade está

• Os portáteis, em que existe uma linha tênue en tre veículo de transporte e edifício;

A adaptabilidade pode ser adquirida através da mobili dade da edificação ou de sua flexibilidade. Em Houses in Motion, Robert Kronenburg (1995) estuda a mobili dade arquitetônica e define três categorias principais para os edifícios com essa proposta:

Pensando na construção como algo provisório, a própria noção de arquitetura como espaço construído precisa ser repensada. O construído se confunde com o lugar, em noções mais tradicionais, Paz (2008) se propõe então a separar ‘configuração’ e ‘objeto’. A ‘con figuração’, segundo o autor, é composta de todos os elementos componentes de uma cena, como: o entor no imediato, a edificação, mobiliário e outros elemen tos percebidos no arranjo. Já o ‘objeto’ é o edifício em si, projetado e construído. Sendo assim, é o recipiente onde o ser humano se abriga. A ‘configuração’ apare cerá para o usuário como um ambiente, sendo cons tituída por elementos de diferentes naturezas, alguns sendo ‘objetos’ arquitetônicos (PAZ, 2008).

O que é relevante para o autor é o ambiente construído, não relacionando a arquitetura apenas à figura do arquiteto: todos os ‘objetos’ que constituem esse ambiente, nem sempre são derivados da produ ção arquitetônica. Apesar disso, são fundamentais para a qualidade ambiental dos espaços. Assim, “alguns ele mentos não-arquitetônicos são a faceta mais expressi va do construído, no que diz respeito à percepção”. Um ambiente é considerado efêmero se os seus ‘objetos’ significativos são provisórios. Para a configuração do ‘objeto’ arquitetônico ser transitória, ou ele é provisório em sua própria constituição, ou é nômade (PAZ, 2008).

As estruturas desse tipo de arquitetura devem ser pensadas para fácil inserção e posterior extração do local, se dando através da reversibilidade ou adaptabi lidade de usos. Edifícios adaptáveis têm a vantagem natural de sobreviverem à evolução social, já que foram projetados com a intenção de se adaptar às necessi dades ao longo do tempo (KRONENBURG, 2008, apud FERNANDES, 2019). A evolução social que é menciona da pelo autor pode ser vista através de novos usos atri buídos à edificação, construída com uma proposta em mente, alongando seu ciclo de vida. Assim, também se relaciona com aspectos de sustentabilidade ambiental e reuso de estruturas e seus componentes. 17 majoritariamente relacionado com o tempo de vida humana: de certa forma, todos os edifícios são efê meros e eventualmente deixarão de existir. O que Paz (2008) cita é que “quanto menor o tempo de estadia de uma construção no espaço, maior a sensação da sua efemeridade” (apud FERNANDES, 2019, pg. 11). As propostas efêmeras são utilizadas para resolver proble mas imediatos, já prevendo que da mesma forma que aparecem, podem desaparecer. Assim, sua passagem temporária nos locais de implantação costuma ser re versível e de mínimo impacto.“Assimoque distingue a arquitetura efémera das outras arquiteturas é o tipo de uso que o edifício vai suportar e a rapidez de cons trução para um impacto sensorial maior. O uso, por si só, deve obrigar a escolha da sua efeme ridade. ” (FERNANDES, 2019, pg. 16) Dentre os autores que estudaram o tema, um foi Steven Groák (1992, pg. 15-17) ao dizer que “a adaptabi lidade chama a atenção para a ‘capacidade de respon der a diferentes usos sociais’”. Assim, relaciona em seus estudos a ‘adaptabilidade’ com a utilização do espaço.

• E os desmontáveis, que são transportados em um número maior de partes para outro local, fornecen do maior adaptabilidade ao seu futuro terreno (KRO NENBURG, 2002, apud FERNANDES, 2019).

referencialconceituaisteórico

• Os recolocáveis, que são transportados como um todo ou em partes, podendo ter em sua estrutura um sistema de transporte embutido;

O edifício desmontável se torna, portanto, o mais adaptável, devido seu maior número de componen tes independentes, fazendo com que seu rearranjo, para utilização em novas situações, seja mais eficien te. Segundo Fernandes (2019, pg. 20) “uma arquitetura adaptável significa que lida com o passar do tempo e com as mudanças do comportamento humano. ” A re abilitação de um edifício para novos usos implica em benefícios sociais, de inovação, econômicos e urbanos.

• A manutenção dos valores e conceitos do edifí cio; Um novo uso compatível com os espaços que o uso original se utilizava;

• Modulação estrutural, que tem como propósito garantir a flexibilidade na combinação de elementos, precisão na definição, alcance de medidas e facilidade de produção;•Paredes e divisórias leves, podendo ser de dife rentes materiais, deve satisfazer as necessidades de pri vacidade acústica e visual;

• Fachada livre, resultante da independência da estrutura;•Ambiente único – ausência de divisões internas; • Terraço como um espaço de intervenção do usuárioAssim,final.estes elementos também nortearam deci sões projetuais, visando comprometer-se com o concei to através destas estratégias mais práticas. Finkelstein (2009) apud Barbosa (2016) também aponta formas de flexibilidade, podendo ser intrínseca ou de forma pro jetada. A flexibilidade de forma intrínseca se utiliza de espaços neutros (pela possibilidade de transposição de espaços), e pela flexibilidade inicial, dada pelas al ternativas de escolha de planta pelo usuário. Aqui se encaixam as plantas adaptadas aos grupos familiares observados, utilizando-se de um mesmo espaço inter no pré-estabelecido, porém com arranjos de elemen tos móveis que permitem essa flexibilidade, conforto e privacidade. Já a flexibilidade de forma projetada se dá através de algumas características, sendo algumas de las as diversas possibilidades de distribuições espaciais das atividades (layouts) e projetos expansíveis. Projetos que se expandem têm a tendência de acomodar me lhor e incorporar novos usos que não haviam sido con templados na organização inicial do projeto; porém, em alguns deles, essa expansão já está prevista e ocor re de forma ordenada.

• Por meios técnicos, através da incorporação de elementos móveis;

Estrutura independente, permitindo a locação das paredes, elementos não-estruturais;

• Mobiliário como divisória, possibilitando inte grar, isolar e definir espaços domésticos; • Núcleos de banheiros/cozinha, visando que as canalizações hidráulicas e elétricas estejam concentra das;

• E a reabilitação de forma contemporânea da edificação.Manter os conceitos anteriores da obra arquitetô nica faz com que seu remodelamento posterior tam bém conserve bons atributos e características. A de terminação de um novo uso que seja compatível com o anterior é essencial para o melhor aproveitamento do que há disponível para se rearranjar, como compo nentes de higiene, segurança, privacidade e conforto. Quando os usos não conversam entre si, é bastante complexa a transição e boa utilização de um uso ante rior, não mais necessário, para outro contemporâneo. A reabilitação envolve a inserção de elementos carac terísticos da época de produção arquitetônica nesse edifício a ser adaptado, observando-se materiais e con ceitos, conferindo a este uma nova roupagem.

Projetar com a remoção e desmontagem do objeto arquitetônico em mente faz com que o produto final ganhe características materiais mais refinadas e adap táveis ao seu uso, pensando principalmente em ques tões de toque do edifício ao chão e sistemas comple mentares.Oconceito de flexibilidade espacial arquitetônica é abordado por diversos autores. A ideia que os une é que todos buscam relacionar a qualidade do espaço fí 18 sico de se adaptar espontaneamente às necessidades de seus ocupantes (DIGIACOMO, 2004, apud BARBO SA, 2016). O conceito de “flexibilidade” transcende alte rações puramente físicas, e estende-se para noções de adaptabilidade: a multifuncionalidade, a polivalência, a mobilidade, a evolução, entre outros (BARBOSA, 2016). Steven Groák (1992, pg. 15-17) um dos muitos autores a falar do tema, diz que “a flexibilidade chama a atenção para a ‘capacidade de responder a várias disposições fí sicas possíveis’”. O autor considera a flexibilidade como sendo a adequação de arranjos físicos espaciais, não somente domésticos, como também exteriores. (FORTY, 2000, apud BARBOSA, 2016) identifica três tipos de flexibilidade arquitetônica:

• Por redundância espacial, sendo um espaço tão amplo que cria condições para coexistirem usos dife rentes; E como estratégia política, que possibilita a mul tifuncionalidade.Omaisexplorado neste trabalho, devido seu es paço compacto, foi o conceito através dos meios téc nicos, incorporando elementos móveis em seu interior e exterior, buscando uma maior adequação a arranjos familiaresFinkelsteinpropostos.(2009) apud Barbosa (2016) elabora uma tabela com elementos de projeto facilitadores de flexibilidade para arquitetura residencial, alguns deles sendo:•

Outro conceito relacionado à adaptabilidade é o de reversibilidade, aplicada quando se pretende pre servar e não modificar o pré-existente, visando a remo ção da intervenção do local. Algo adaptável necessita ser reversível. Quando não se pretende deixar marcas de passagem no local de intervenção, o método mais apropriado é sua desmontagem (FERNANDES, 2019).

A arquitetura de emergência é o expoente mais conhecido da arquiteta efêmera: os primeiros abri gos, em contexto militar, influenciaram a concepção de abrigos desmontáveis e de fácil transporte. Com o nomadismo contemporâneo, segundo Oliveira (2018) os mesmos princípios básicos foram mantidos, como a fácil execução e transporte, uso de materiais susten táveis, de fácil acesso e flexibilidade. Apesar da seme lhança em seus princípios, com o avanço tecnológico e da sociedade humana, as necessidades são outras. Atualmente, tanto a crise humanitária dos refugiados quanto os grandes desastres naturais, inflamados pelo aquecimento global, estão em foco. Essa arquitetura surge como um potencial a ser explorado na área da

Utilizando de forma mais flexível a conceituação de arquitetura efêmera, Paz, 2008, considera que o pe ríodo de um ano é razoável para delimitar uma cons trução como efêmera, apesar da subjetividade do con ceito. Esse tipo de arquitetura de caráter temporário é empregado quando se pretende melhorar a perfor mance de um lugar, para um fim também temporário.

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não foi proposto para a quantidade de pessoas que re cebe. Na figura 8, no campo de refugiados de Atmet, é possível ver a proximidade entre as tendas oferecidas e as condições em que vivem centenas de milhares de sírios. Tal fato contribuiu para que 40% dos testes rea lizados no campo para o novo coronavírus, pandemia que eclodiu em 2020, dessem positivo.

“O critério definidor da arquitetura efê mera não é a durabilidade potencial do objeto construído, mas sua durabilidade real. Um assentamento rural pode ser precário, mas pretender a permanência, e assim sê-lo por conta de contínuas manutenções. Ao contrário, edificações sólidas podem ser demolidas por esgotar-se, em curto intervalo de tempo, sua finalidade. Eis o primeiro paradoxo do tema: uma arquitetura só se torna efêmera de fato quando se desfaz de um dado lugar. Conceitu almente, existe apenas quando cumprida sua efemeridade. Tudo o mais é incerteza. O se gundo paradoxo é consequência deste: não há relação direta entre a tecnologia construtiva e a efemeridade real da construção. ” (PAZ, 2008) “Portanto, a arquitetura de emergência está conectada à necessidade, quase que ime diata, de responder o mais rapidamente possí vel a situações emergentes como, catástrofes naturais e conflitos provocados pela religião, política, economia, entre outros. ”

Figura 8: Imagem do início dos campos em Atmeh, junto à fronteira com a Turquia.

2018,(OLIVEIRA,pg.39)

Fonte: Jornal Público, em notícia de outubro de 2020.

Os poucos países que abriram suas fronteiras e acolheram tais pessoas estão desfazendo suas ações, como foi o caso da Grécia e da Turquia, que andam reforçando suas fronteiras desde março de 2020. So licitantes de asilo nestes países relatam que ocorrem prisões, espancamentos e roubos de passaportes por parte da polícia grega. Agentes da Guarda Costeira do mesmo país são acusados de expulsar migrantes an tes mesmo de solicitar asilo na Grécia, abandonando tais pessoas no Mar Egeu, passando a responsabilidade Assim, esse tipo de arquitetura é considerada como transitória, um processo e não um fim. O papel do arquiteto como agente nesse processo requer sen sibilidade humanitária para lidar com os solicitantes de refúgio, refletindo sobre suas necessidades, níveis culturais, análise do local e recursos existentes, fazen do com que sua condição seja apenas transitória e não permanente (OLIVEIRA, 2018). Uma grande discussão contemporânea sobre a arquitetura emergencial é sua temporalidade. Estru turas propostas para o período emergencial e transitó rio acabam por serem absorvidas como permanentes, pela falta desta terceira fase de acolhida e reinserção dessas pessoas em uma nova realidade. A maioria dos campos de refugiados do mundo está sobrecarrega do, abrigando muitas vezes mais sua capacidade ini cial. Essa aglomeração intensa em locais indevidos atinge de diversas formas essas pessoas, que se veem sem uma assistência governamental jurídica, por vezes aglomeradas nas ‘terras de ninguém’. Gera a perda da autoestima, além de diversas consequências psicológi cas nos mais inocentes da situação, as crianças. Gera também a proliferação de doenças, já que todo o local arquitetura e urbanismo, visando atender à estas ne cessidades urgentes e complexas, que envolvem mais que apenas fornecer uma moradia improvisada. São questões que permeiam o reassentamento e acolhida nesses períodos de fragilidade em que a arquitetura de emergência se propõe a atuar.

20 para o governo turco. A ACNUR e a União Europeia atu am nas investigações de tais acontecimentos, porém, sem muitas ações que impeçam essas atrocidades de continuarem acontecendo de forma reincidente, des de a intensificação do fluxo de refugiados a partir de 2017.Figura 9: Após um naufrágio de um navio que deportava imigrantes na costa de Lampedusa, na Itália, em 2017, centenas de refugiados ficaram presos em alto mar. Fonte: Revista Hypeness, em agosto de 2020. A questão da crise dos refugiados é complexa para ter apenas uma solução. O embasamento teóri co trata principalmente de questões de como projetar para estas situações, visando ser um alívio para estas pessoas encontrar um pouco de dignidade na arquite tura. A demanda é cada vez mais de espaços que aco lham, promovam a segurança, fortalecimento de laços e renovação dos ânimos após períodos transitórios tão difíceis. Aspectos flexíveis e adaptáveis da arquitetura de emergência fazem com que as obras sejam mais exequíveis, tanto pelo custo quanto pela necessidade abrupta de sua implantação.

Estas três esferas organizacionais são fortemente interrelacionadas entre si, porém atuam com diferente peso e alcance. Segundo Perin (2014) as relações entre estas organizações se transformam em uma malha de entes técnico burocráticos (VIANNA, 2010, apud PERIN, 2014), permitindo observar estes órgãos como operan tes em mesmo nível, criando um efeito estrutural: não como uma estrutura de fato, “mas como um poderoso efeito de práticas que fazem estruturas aparentarem existir como entidades” (PERIN, 2014, pg. 308).

Tomando o funcionamento da CASP (Cáritas Ar quidiocesana de São Paulo) como exemplo, pelo seu funcionamento relevante no processo de integração do refugiado no Brasil, observou-se o funcionamento de seus setores de Recepção, Proteção, Assistência e Integração para se estudar o funcionamento, visando uma programação arquitetônica mais adequada à re alidade.No setor de Proteção é onde ocorre a assistência jurídica aos refugiados e solicitantes de refúgio. Sua

• ONGs: a elas cabe o trabalho mais abrangente, envolvendo assistência social, proteção e a integração dos refugiados à sociedade local.

• CONARE: representante do governo brasileiro, é voltado para medidas de proteção ligadas ao status de refugiado do solicitante;

O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001, capítulo I, art. 2º) também apresenta suas normativas:

referencialnormativasteórico

“Parágrafo 1º: Todo ser humano tem direi to a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis [...]” (ONU, 1948). “[...] apresenta diretrizes gerais que ressal tam a importância e dever da política urbana, de ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, garantindo o direito a cidades sustentáveis e o direito à terra urbana e moradia” (KLEIN,pg.2017,9).

• ACNUR: prover assistência financeira, repassan do para às ONGs responsáveis nos países de acolhida;

giados que chegam ao Brasil. As atribuições da estru tura tripartite são:

Apesar de não existir uma lei específica sobre a obrigatoriedade governamental de disponibilizar ha bitações em casos emergenciais, diversas entidades 21 defendem o direito ao abrigo apoiadas no Artigo XXV da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), indicando tal questão em seu primeiro parágrafo (KLEIN, 2017).

A gestão do problema dos refugiados no Brasil é caracterizada por alguns autores como sendo uma estrutura tripartite (LEÃO, 2003; MOREIRA, 2006, apud PERIN, 2014), ou seja, operada por três sujeitos. São eles a ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), o CONARE (Comitê Nacional para Refu giados) e ONGs, como por exemplo a Cáritas Arquidio cesana de São Paulo (CASP), ligada à rede Caritas In ternationalis. Esta última, a Casp, é um dos principais órgãos de recepção, assistência e integração dos refu

Na história da humanidade, o ato de fornecer asi lo e refúgio sempre esteve presente, com registros de até 3.500 anos atrás, de povos como o babilônio, assírio e egípcio (ACNUR, 2014 ). Apenas em 1921, visando prin cipalmente o apoio humanitário aos refugiados russos, advindos da Revolução Russa de 1917, foi criado o pri meiro Alto Comissariado para Refugiados, através do Conselho da Sociedade das Nações. Em 1951, sua prote ção foi garantida juridicamente através do Estatuto do Refugiados, com os direitos e deveres dos refugiados anteriores a este ano e oriundos de países europeus. Não havia obrigatoriedade de os Estados aceitarem o fluxo de outros continentes, neste primeiro documen to. As ampliações jurídicas foram ganhando definições mais abrangentes e mais adaptadas às diferentes reali dades e desafios ao redor do mundo (RAMOS, RODRI GUES E ALMEIDA, 2011, apud SILVA, 2016). Com a proteção jurídica internacional, os refugia dos integraram o grupo dos “migrantes forçados”, ter mo que começou a se popularizar na década de 1980 pela academia e organizações especializadas. Os mi grantes forçados e os refugiados tiveram sua proteção estatal rompida: no caso do refúgio, se materializando através da perseguição. No caso dos migrantes força dos, existem dois fatores principais para esta ruptura: ou o não fornecimento de meios vitais de subsistência, ou em ocorrência de desastres naturais.

22 proteção no país que o acolhe é feita de maneira formal através de um documento, se tornando assim a docu mentação um dos fatores primordiais do processo. No setor de Assistência é onde se busca suprir as necessidades mais imediatas do refugiado: saúde, mo radia e alimentação. A Casp oferece um auxílio finan ceiro por três meses para pessoas caracterizadas “de alta vulnerabilidade”, inseridas no grupo de migrantes vulneráveis: mulheres desacompanhadas que são che fes de família, idosos, portadores de doenças crônicas ou em tratamento, famílias em situação de desempre go, entre outros. Desde que os solicitantes de refúgio recebem seu protocolo provisório de documentação, podem utilizar as Unidades Básicas de Saúde do sis tema público brasileiro. A moradia se torna a principal dificuldade do órgão: por não dispor de uma estrutura interna de albergue, fica à mercê de vagas em institui ções parceiras, que são mínimas. A outra opção é en caminhar os refugiados para programas de albergues públicos: os solicitantes de refúgio, através de relatos, preferem por vezes ficar na rua, já que estes albergues não possuem um público específico, sofrendo precon ceito e intimidação. A alimentação pode ser feita de duas formas: se o refugiado residir longe da localização da CASP, a instituição visa fornecer uma cesta básica mensal, de retirada no local; a outra opção é utilizar um cartão de alimentação que possibilita refeições a baixo “O setor de Proteção é onde primeira mente as dimensões burocrático-administrati va e assistencial-humanitária se atravessam [...]. Esse programa legitima a categoria jurídica de refugiado e confere a esse sujeito a possibilida de de uma documentação que o identifica e ainda permite que seja incluído como benefici ário dos demais auxílios oferecidos pela CASP. ” (PERIN, 2014, pg. 320)

custo em restaurantes parceiros (esta opção é permiti da apenas para pessoas que não possuem o visto per manente brasileiro).

“A busca por recuperar os direitos e a dignidade que teriam sido perdidos por esses sujeitos é o etos que informa o processo de constituição dos refugiados e dos solicitantes de refúgio como sujeitos de direito plenos, pela dimensão assistencial-humanitária apresen tada. Este sujeito pleno é aquele que tem um local de moradia, condições adequadas de alimentação, formação educacional garantida, que trabalha formalmente e que, portanto, tem seus direitos trabalhistas assegurados. Tal processo de subjetivação terminaria com a integração na sociedade local, conformando o sujeito plenamente visível para o olho do Esta do. ” (PERIN, 2014, pg. 326)

O setor de Integração é focado em duas das prin cipais preocupações dos refugiados quando chegam ao Brasil: trabalho e educação. O seu principal modo de operação se baseia em parcerias. Na Integração, com carteira de trabalho e CPF já feitos na Assistência, o so licitante entra na busca por um trabalho formal e na formação educacional. As assistentes sociais auxiliam com o idioma, agendando entrevistas em projetos par ceiros. Outro problema é a comprovação de altos graus de formação, impedindo que esta pessoa garanta em prego na sua área. Até que consigam algum empre go formal através das entrevistas, muitos acabam no comércio informal. As assistentes sociais têm também a função de encaminhar os refugiados aos cursos que lhes interessem, principalmente cursos técnicos e pro fissionalizantes, existindo também a educação formal e vagas específicas em universidades. Cursos de por tuguês nível básico também são bastante procurados.

“Ou seja, em relação à arquitetura eféme ra, se for projetada para durar um ano, é cons truído com materiais que o permitem durar muito mais tempo, a reversibilidade pode ter um papel importante no futuro desses mate riais. ” (FERNANDES, 2019, pg. 24) determinar os materiais, os componentes do projeto, a relação entre os elementos do edifício, os espaços in ternos e Osconexões.edifícios projetados com esse conceito in corporado apresentam sistemas com melhores se parações dos constituintes, indicação da duração dos componentes, elementos de apoio e de estabilização própria, acessibilidade projetada, pontos de conexão para maquinário e materiais biológicos, de alta quali dade e altamente recicláveis. As maiores oportunida des em se apropriar deste conceito estão nos valores ambientais e econômicos: a mudança de expectativas culturais, questões econômicas sobre o uso da terra e a obsolescência tecnológica são pontos chave para a remoção de um edifício de seu uso (GUY, SHELL E ES THERICK,Um2006).dosprincípios é defendido por Brand (1994) apud Guy, Shell e Estherick (2006) como sendo a sepa ração de componentes de longo e curto ciclo de vida, sem muitos danos ou gastos. Uma consideração chave deste conceito é a conexão entre estes componentes, a separação de materiais e a remoção de parafusos, grampos e tintura, no final da vida útil da edificação.

A desconstrução em si implica em um alto nível de separação entre os componentes do edifício, servin do com um fim. Seu propósito é a recuperação dos ele mentos, componentes, subcomponentes e materiais de uma obra arquitetônica, para reuso ou reciclagem, da maneira mais eficiente possível (GUY, SHELL E ES THERICK, 2006). O “design para desconstrução” pode ser abordado em níveis hierárquicos de: 1_design para reuso; 2_design para remanufatura; 3_design para reci clagem; sendo o reuso o mais otimizado.

• Aumento da longevidade do edifício, de forma a evitar sua desconstrução completa via adaptações possíveis; metodologia de projeto referencial teórico

Segundo Guy, Shell e Estherick (2006) alguns de seus objetivos são:

O principal objetivo ao se adotar a metodologia do “design para desconstrução” é o de aumentar a efi ciência econômica e os recursos, reduzir os impactos da poluição na adaptação e eventual remoção de edi fícios, e para recuperar componentes e materiais para reuso, reciclagem e reconstrução (GUY, SHELL E ES THERICK, 2006). A ideia surge com os escritos de Ha bakren, em The Open Building Movement (1981) e de Steward Brand (1994) sobre arquitetura adaptativa. O conceito se expande para todo o ciclo de vida da edi ficação, sendo grande parte da eficiência do processo atribuída ao arquiteto, designer ou engenheiro, que irá 23

• Rápida remoção de um local; • Fácil acesso aos componentes, prevenindo da nos no processo de desconstrução;

• Eliminação da toxicidade de materiais constru tivos, que influenciam suas possibilidades de reutiliza ção;

• Redução dos custos de ferramentas e maquiná rio, e uso de operadores especializados nas atividades de desconstrução;•Recuperação dos materiais com alta eficiência, para reuso e reciclagem;

O maior critério para o sucesso do “design para desconstrução” é que o custo da desconstrução final não exceda os custos de descarte evitado, mais o valor de reuso ou reciclagem de componentes e materiais, mais o custo de remoção de uma edificação que não foi projetada para ser desconstruída (BILLATOS e BA SALY, 1997, apud GUY, SHELL E ESTHERICK, 2006). Por tanto, a viabilidade econômica de sua aplicação está di retamente ligada ao alto valor de reuso ou reciclagem dos materiais da edificação, assim como à eficiência do processo de desconstrução.

O conceito do Design for Deconstruction ganhou mais reconhecimento desde meados do século XX, através de trabalhos de Habakren e Bradley Guy, so bre movimentos de arquitetura adaptável. Segundo Fernandes (2019, pg. 22) “é um conceito que pretende considerar o tempo dos materiais para além do tempo de vida útil do edifício. ”O conceito tem dois objetivos: o design para reciclar, ou reconstruir, e o outro é o de sign para reutilização. É possível que, desde a escolha de materiais, antes da construção, estes sejam previs tos para evitar desperdício.

Uma das vertentes do conceito é a “desmonta gem de produto”, bastante utilizada na indústria de computadores. Alguns fatores que são levados em consideração são o número de peças, quantidade de materiais utilizados, ciclo de obsolescência, limpeza do produto e tempo de substituição. Os edifícios funcio nam diferentes dos produtos devido sua localização fixa, sujeitos às intempéries do tempo e necessitam de manutenção. A análise do produto sob a ótica da “desmontagem de produto” pode ser utilizada des montando os produtos e os montando novamente, observando e rememorando o encaixe de suas peças. Este método também fornece guias para o tempo e dificuldade desse processo (OTTO E WOOD, 2001, apud GUY, SHELL E ESTHERICK, 2006). O “design para des construção” pode se apropriar desse processo para se analisar de forma empírica se os elementos propostos são necessários para o sistema proposto. Alguns autores descrevem quais são os prin cipais fatores para o “design para desconstrução”, ou quais são os princípios mais importantes para sua im plementação e consequente sucesso. De acordo com Rose et al (1998) apud Guy, Shell e Estherick (2006) os dois fatores mais críticos na previsão do fim do ciclo de vida de produtos são o ciclo de substituição e o ciclo de tecnologia. De acordo com Billatos e Basaly (1997) apud Guy, Shell e Estherick (2006) os principais critérios para se aumentar a eficiência da montagem de um produ to é reduzir o número de peças e reduzir a quantidade de tempo necessária para montagem. Já Otto e Wood (2001) apud Guy, Shell e Estheric (2006) fatores críticos para a desmontagem de um edifício são: o número de tarefas, quantidade de ferramentas e o tempo ou nível de dificuldade destas tarefas. Segundo Guy, Shell e Es therick (2006) o tempo é o mais importante fator para a desmontagem de uma edificação, a menos que todo 24 o edifício possa ser removido do local para depois ocor rer seu desmonte. Um edifício que foi projetado para ser desconstruído deve ao menos separar os maiores elementos que o compõe: telhado, paredes e piso/fun dação, com elementos modulares pré-fabricados.

referencial03 projetual

A obra é de madeira, material pensado desde o início da concepção arquitetônica, resolvendo a estrutura e seus envoltórios. As dimensões espaciais partem de proporções áureas. O sistema construtivo foi pré-fabricado e tudo foi pensado para montagem no local. A estrutura se expressa no interior do espaço, sendo aparente, através de pórticos.

O projeto de 2018, localizado em Córdoba, Argentina, conta com 15m² de anexo à casa existente, configurando-se como um pequeno cômodo multiuso. Foi proposto para as atividades de guardar, exibir e pintar quadros. O objeto é um “prisma abstrato que se relaciona com seu entorno como um objeto na paisagem circundante”.

Figura 12: Fachada frontal da obra. projetos correlatos ateliê de madeira - berzero jaros projetual

Fonte: Berzero Jaros, através de Archdaily, 2019.

referencial

Fonte: Berzero Jaros, através de Archdaily, 2019. Figura 11: Planta baixa da obra.Figura 10: Etapas do processo de montagem.

A ideia dos pórticos de sustentação e elevação do edifício do solo foi absorvida do projeto, visando sua inserção em múltiplos contextos. A fachada ventilada que é criada através dos painéis externos também foi tomada como inspiração, após entendimento das várias camadas que a compõem devido seu contexto argentino. 26

Figura 13: Corte esquemático. Figura 14: Imagem externa da obra.

Fonte: Constanza Otera, através de Archdaily, 2019.

Fonte: Berzero Jaros, através de 2019.Archdaily,

Fonte: Constanza Otera, através de Archdaily, 2019.

Fonte: tr3s, através de Archdaily, 2017. Fonte: tr3s, através de Archdaily, 2017. projetos correlatos b.o.b (backyard office box) - tr3s referencial projetual

Figura 17: Detalhe do pé hidráulico sanfonado.

Figura 15: Perspectiva explodida evidenciando os painéis. Figura 16: Planta baixa e corte esquemático, respectivamente.

O projeto de quase 14m² foi o produto de uma bolsa de pesquisa da Universidade Estadual de Montana, Estados Unidos, proposto por três candidatos de mestrado. Trata-se de um kit de peças desmontáveis adaptáveis a uma grande variedade de terrenos e usuários. Pode funcionar como um anexo à projetos já existentes ou como um abrigo temporário. O projeto é um quadrado de 3.35 de lado, divididos em uma rígida grade estrutural que permite diversas configurações de painéis de parede, adaptando-se às necessidades dos usuários.Umdetalhe que foi absorvido pelo projeto final proposto e que vale destaque é o toque do edifício ao chão através do macaco hidráulico sanfonado, que permite sua melhor adequação topográfica à diversos contextos. Também vale salientar a importância da estrutura independente e dos painéis de fechamento: também foram ideias que permearam as discussões posteriores de projeto, pensando em maior flexibilidade e adequação à diversos usos internos.

Figura 18: Imagem do projeto.

Fonte: Kimball Kaiser, através de Archdaily, 2017.Fonte: Kimball Kaiser, através de Archdaily, 2017.

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glennon

referencial

O projeto de 2019, localizado na cidade de Noosa Heads, Queensland, Austrália, é uma residência de 321m². A ideia era que fosse “um volume de madeira suspenso e contemporâneo”. Devido um orçamento limitado, foi adotada uma forma estrutural e revestimentos simples. A fachada é de grande impacto visual, também produzindo um jogo de luz e sombra sobre a entrada: “o uso da estrutura de madeira operável na fachada oeste abriga importantes funções de bloquear o sol à tarde e deixar entrar a paisagem e a brisa durante o dia”. O projeto se apropria da estrutura em aço e utiliza a dobradiça para transformar os painéis de madeira em peças móveis ao longo do dia. A solução estética e funcional dos painéis em ripas de madeira foi o elementos absorvido de tal projeto. A ideia se apresenta como uma solução de baixa complexidade e fácil montagem, ideal para as tipologias de projeto desenvolvidas. Também é de baixa manutenção e alto potencial de reaproveitamento. 28

Figura 19: Fachada frontal da edificação. Figura 20: Imagem aproximada da fachada. Figuras 21, 22 e 23: dosaproximadasImagenspainéisdemadeiradafachada.

Fonte: Reitsma Associates, através de Archdaily, 2020. Fonte: Reitsma Associates, através de Archdaily, 2020.Fonte: Archdaily,Associates,Reitsmaatravésde2020. projetos correlatos residência - reitsma associates projetual

Fonte: Leonardo Finotti, através de Archdaily, 2014. Figura 26: Imagem da obra em seu entorno proposto.

Figura xx: MAPA, através de Archdaily, 2014.

Figura 24: Maquete em madeira do projeto. Figura 25: Perspectiva axonométrica explodida do projeto.

O alto nível de separação dos elementos que compõem o projeto foi absorvido como diretriz projetual, fazendo com que diagramas explodidos se tornem ótimas ferramentas de entendimento do volume proposto. Também se foi adotado o tipo de abertura da porta principal, que ora permite total fechamento, ora se apresenta como uma marquise frontal. Tal estratégia foi utilizada aliada à outras, conferindo maior peso à entrada principal do módulo emergencial proposto.

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referencialminimodcorrelatos-mapaprojetual

Figura 27: Fachada principal da obra. projetos

O Minimod, de 2013, 27m², é um projeto “silencioso mas nunca tímido: seu desenho compacto de alto desempenho e a alta qualidade de sua materialização distingue-se pela busca da excelência na préfabricação.”Nasce de uma lógica sistêmica, utilizandose do sistema steelframe e permite diversos usos, dependendo da composição dos módulos. São 100% pré-fabricados e transportados através de caminhão grua.

Figura xx: MAPA, através de Archdaily, 2014.

O projeto absorveu aspectos diferentes de cada correlato estudado, sendo uma mescla deles, porém com sua devida originalidade (figura 28). Buscou dar uma roupagem mais acolhedora e humana ao típico projeto emergencial, de fachadas duras e imperme áveis. A identificação com a estética da madeira e do aço dos correlatos foi essencial na busca de uma lin guagem arquitetônica. Da Residência Glennon, se utilizou os painéis de madeira como ferramentas climáticas e de permeabi lidade visual, sendo um elemento de baixo custo e fácil desmontagem. Do B.O.B., se estudou a modulação es trutural aliada aos painéis de vedação, que permitem configurações opacas ou com esquadrias. O macaco hidráulico sanfonado também surgiu da solução des te projeto do seu encontro com o solo desnivelado. Do Ateliê de Madeira, observou-se que a fachada ventilada pode ser uma estratégia tanto estética quanto climá tica para uma obra, utilizada junto da lógica estrutural dos pórticos. Por fim, o Minimod apresenta um con ceito de elementos independentes para encaixe, e que chama a atenção pela esquadria principal, ora porta ora marquise, com um sistema de dobradiças de fácil operação. 30 Fonte: Elaboração própria. Figura 28: Colagem com os projetos utilizados de correlatos, com seus respectivos elementos absorvidos. resumo da aplicação dos elementos painéis de madeira móveis de baixo custo operacional fachada ventilada atra vés dos painéis externos e estrutura em pórticos separação porta/marquisecomponentesdosemodulação estrutural, toque do edifício ao solo e painéis independentes referencial projetual

tecnologias e sistemas construtivos 20. quando é pré-fabricado, é justificado pelo número, urgência e custo; 21. quando é pré-fabricado, são descentralizadas as partes; 30.destinoprevisão de segunda vida, com função de: casa reutilizável/casa núcleo/reciclagem das partes/casa de aluguel;

Após revisão e estudo de literaturas especiali zadas, como por exemplo Feres (2014), fatores funda mentais para as soluções de projetos de abrigos foram analisados. São parâmetros de avaliação dos modelos existentes de abrigo indicados pela autora, somando 9 categorias: 1_contexto; 2_clima; 3_tempo da interven ção; 4_custo da intervenção; 5_materiais; 6_projeto; 7_ tecnologias e sistemas construtivos; 8_assentamento; e 9_destino.Aotodo, são 62 parâmetros indicados pela auto ra em seu estudo. Após filtragem e adequação, se op tou por utilizar 30 parâmetros no presente exercício de projeto, apresentados ao lado.

13.projetopossibilita a ocorrência de atividades internas corriqueiras; 14. possibilita convívio familiar, proteção, privacidade, segurança física e emocional; 15. controle de permeabilidade pelo usuário; 16. flexibilidade interna dos espaços; 17. plantas alternativas para acomodação familiar; 18. acessibilidade universal; 19. 22.assentamentomobilidade;locadodemaneira dispersa e pouco densa; 23. abrigos em clusters ao redor de espaços comuns; 24. acesso individualizado do abrigo; 25. núcleos de serviços dispersos; 26. espaços externos de lazer; 27. implantação considerou saneamento e água; 28. implantação considerou a oferta de equipamentos existentes; 29. visou a acessibilidade de pessoas e serviços (entrada e saída, atenuação de impactos); tempo da intervenção 08. tempo de vida útil condizente ao tempo de permanência estimado; 09. características que otimizam o tempo na instalação e construção. custo da intervenção 10. não necessita de manutenção pelo tempo previsto; 11. previsão de reaproveitamento da estrutura ou de suas peças; 12.materiaisresistência condizente com o tempo de permanência esperado; 04.climacontrole da exposição solar; 05. controle dos ventos; 06. previsão de drenagem da água da coberta; 07. abertura com controle da exposição visual, fluxo de ar e proteção contra a entrada de insetos;

referencial projetual

01.contextoadequação ao clima local; 02. adequação às variações topográficas; 03. considera as relações intrafamiliares e comunitárias;

Por se tratar de um projeto de temática não con vencional, se optou por buscar fontes que ofereçam diretrizes acerca dos condicionantes que deveriam ser adotados. As condicionantes descritas a seguir perme aram toda a discussão projetual, servindo como fato res decisórios sobre as decisões de materiais, estética e funcionalidade do projeto final. Assim sendo, foi de vital importância o estudo dessas condicionantes an tes mesmo da abordagem programática, na etapa de referencial projetual. As condicionantes serviram de guias para as escolhas projetuais, mas não atuaram como limitadoras para os conceitos adotados. 31 condicionantes de projeto

abordagem04 programática

Os agrupamentos familiares variam de 4 a 6 pessoas, visando englobar os mais diversos tipos de família (figura 29). Assim, a proposta buscou desenvolver layouts internos para os tipos familiares com quatro integrantes, cinco integrantes e seis integrantes, podendo também ser proposto de forma segura e mais privativa para imigrantes individuais que precisassem dividir o espaço com pessoas fora de seus núcleos familiares. Esse agrupamento de pessoas que são acolhidas individualmente também se aplica a crianças desacompanhadas e mulheres vítimas de tráfico de pessoas/sexual, grupos vulneráveis descritos nos estudos sobre refúgio.

layout 6 pessoas

33

layout 5 pessoas grupo misto grupo de homens casal e filhos grupo de mulheres criançasfamíliadesacompanhadasintergeracional

abordagemusuárioprogramáticalayout4pessoasdoiscasaisgrupodehomenscasalefilhosgrupodemulherescriançasdesacompanhadasfamíliaintergeracional

Figura 29: Grupos familiares e individuais propostos.

três casais grupo de homens casal e filhos grupo de mulheres criançasfamíliadesacompanhadasintergeracional

Fonte: Elaboração própria.

Quarantelli, 1982, apud Jessé, 2015, indica que na habitação temporária as pessoas são agrupadas, de preferên cia, mantendo seus agrupamentos familiares, retomando às rotinas diárias em um local temporário. O alojamento pode iniciar-se com uma unidade básica e ser ampliado ao longo do tempo, com acréscimos, a depender da neces sidade de cada situação. Normalmente é cedida pelo governo na fase de reabilitação pós-catástrofe.

De acordo com a ACNUR (2007, apud JESSÉ, 2015, p. 51), a dimensão e organização dos módulos para im plantação é determinada pela variação da escala do acampamento, estando relacionada à quantidade de pessoas a serem abrigadas:

• familiar: 1 família (de 4 a 6 pessoas);

O trabalho buscou se adequar a proposta de uma comunidade, que varia de 80 a 100 pessoas. Segundo o manual Shelter After Disaster, 1982, para uma comu nidade os serviços e infraestrutura necessários são um banheiro público e um ponto de água. Sobre as vias e o calçamento, são reservadas de 20 a 25% da área to tal da proposta. Já para os espaços públicos abertos e equipamentos, é destinado de 15 a 20% da área total. Todos esses valores e indicações são guias para melhor aproveitamento dos terrenos propostos e conforto para os residentes. Também é importante observar os espa ços de lazer externos e comunitários, que fortalecem os laços familiares e sociais entre os usuários.

• setor: 4 blocos (5.000 pessoas);

Segundo Feres, 2014, o desenvolvimento de abri gos tanto emergenciais quanto temporários deve es tar baseado no usuário e suas relações com familiares e com o entorno. Para desenvolver um abrigo saudável, a relação entre a habitação e os usos circundantes deve ser estimulada, visando o retorno às atividades nor mais, como lazer, saúde e contato social. No que diz respeito à acessibilidade, operações de recuperação são implementadas com pouca con sideração às capacidades e necessidades dos usuários do espaço. Por vezes as pessoas com algum tipo de mobilidade reduzida ou deficiência são consideradas apenas a partir do ponto de vista médico, sendo isola 34 dos em setores especiais e privados de contato social (TWIGG et al, 2011, apud FERES, 2014). Idosos e crian ças não possuem espaços destinados ao convívio e prática social, sendo ou isolados demais, ou agrupados demais. A proposta visa desenvolver espaços democrá ticos para todos porém acessíveis e adaptáveis às ne cessidades de cada grupo específico.

• comunidade: 16 famílias (80 pessoas);

Segundo DAVIS, 2011, apud FERES, 2014, as solu ções tomadas para a concepção de projetos de abrigos devem priorizar o bem estar dos beneficiários finais, zelar pela sua proteção, reestabelecimento no local e manutenção de suas relações pessoais. O projeto adotou três diretrizes principais, sendo elas divididas entre: diretriz conceitual, projetual e so cial. A diretriz conceitual fala sobre a mutabilidade, o estado de transitoriedade tanto dos imigrantes quanto do próprio projeto, relacionado à possibilidade de mu dança, algo passível de transformação. A diretriz proje tual adotada foi a desconstrução, através da estrutura desmontável, sua ocorrência efêmera e pelas partes associáveis entre si. Já a terceira diretriz, e mais impor tante, é a preocupação com o usuário, os imigrantes forçados e refugiados, buscando uma acessibilidade universal no projeto e acolhida em especial de grupos vulneráveis.

• bloco: 16 comunidades (1.250 pessoas);

• acampamento: 4 setores (20.000 pessoas);

Após definidas as atividades principais, optou-se por construir uma matriz de relações entre elas (figura 30), visualizando e estabelecendo relações considera das fortes, médias e fracas, auxiliando na definição do agrupamento de atividades em cada tipologia. Tal fato fez com que o máximo de atividades integradas en tre si pudesse gerar o mínimo de tipologias diferentes com maior eficiência.

A construção do programa de necessidades se deu através da metodologia do “problem seeking”, que visou prever relações e atividades necessárias para o conjunto proposto. A primeira etapa consistiu em com pletar aspectos mais relevantes da metodologia, como a conexão entre função, forma, economia e tempo. Esta etapa ajudou a definir as relações que se deseja va obter, quais pessoas se utilizariam do projeto, o que se desejava para os espaços, questões de passagem do tempo, fontes de energia, entre outros.

matriz de atividades 01 02 02 03 03 04 04 05 0605

atividades 01

assistênciajurídicaaulasdeportuguês encontros culturais eespaçospalestrasdelazer e convívioalimentaçãomoradia

Fonte: Elaboração própria. Figura 30: Matriz de atividades.crise humanitária faz com que imigrantes busquem refúgio no país e assim sobrecarreguem as desafogarcidades; o acolhimento de imigrantes do centro São Paulo e realizar o apoio de forma rápida e projetoitinerante;de rápida montagem e múltiplo reuso, atendendo às necessidades dos imigrantes para cada cidade a ser instalado; diretrizes norteadoras projetuais (desconstrução), sociais (foco no usuário) e materialdeaoinstalação(mutabilidade);conceituaisesuportecomplementarprojeto,assimcomologísticasconstruçãoeaproveitamentomáximo; programa de necessidadesabordagemnecessidadesobjetivosfatosconceitosproblemas programática

assistênciajurídicaaulasdeportuguês encontros culturais eespaçospalestrasdelazer e convívioalimentaçãomoradia assistência jurídica (01), moradia (02), alimentação (03), aulas de português encontros culturais e palestras (05), espaços de lazer e convívio (06) forte fracamédiaconexãoconexãoconexão

Por fim, foi abordada a relação entre fatos do projeto, seus objetivos, suas necessidades, conceitos e problemas a serem enfrentados. Essa etapa de abor dagem programática foi extremamente importante para se evitar tanto cair em clichês do que é um proje to efêmero emergencial, quanto para se distanciar de projetos mirabolantes e nada exequíveis. 35 assistência jurídica (01), moradia (02), alimentação (03), aulas de português (04), encontros culturais e palestras (05), espaços de lazer e convívio (06) forte fracamédiaconexãoconexãoconexão

matriz de 02 02 03 03 04 04 05 0605

36 refugiados e solicitantes de refúgio; assistentes sociais de cada cidade; voluntários; palestrantes socialização entre os imigrantes; integração à sociedade local; fortalecimento dos grupos familiares assistência jurídica; moradia; alimentação; aulas de português; encontros culturais e palestras; lazer e convívio cidades que necessitam do serviço de acolhida de imigrantes em seu território; projeto itinerante no país forma deve seguir as dimensões dos materiais especificados, visando mínimos recortes espaços concisos porém confortáveis para o desempenho das atividades propostas, com bastante iluminação interna permita um projeto de boa qualidade, visando reutilização, porém com sistemas de baixa complexidade buscar sistemas complementares que permitam o uso mais independente possível do módulo justificado pela quantidade de ‘reusos’ do projeto com sua designação original e usos posteriores projeto visa abrigar pessoas que perderam suas moradias, territórios sociais e familiares, repondo estas relações usos diversos do proposto original, pensando na longevidade dos materiais, assim como sua reciclagem projeto emergencial que atende aos usos da questão imigratória forçadafontescusto-benefíciocaracterísticasfunçãopessoasatividadesrelaçõesformalugarespaçoeconomiaorçamentodeenergiatempopassadopresentefuturo

A habitação temporária significa, na esfera social, abrigar-se por um curto período de tempo onde pode se recuperar atividades normais e cotidianas, dando um senso de autonomia às pessoas que esperam sua habitação permanente e instalação fixa. Na esfera fí sica, difere em custos, conforto e disponibilidade de serviços associados à habitação, sendo confortáveis o suficiente para prover níveis de serviço estabelecido (FERES,Segundo2014).

É nesse contexto que o projeto se insere, sendo reapro veitado seu uso em diversos contextos brasileiros, de vido seus materiais duráveis e de fácil montagem/des montagem, visando pouca ou nenhuma manutenção. Os abrigos temporários constituem, em alguns casos, um serviço essencial para prover o suporte para as pessoas reconstituir suas rotinas em uma nova con figuração, mesmo que através de soluções temporá rias (LIZARRALDE, JOHNSON E DAVIDSON, 2010, apud FERES, 2014). Assim, se optou por desenvolver um mó dulo habitacional, que abrigasse principalmente as funções de moradia e convívio social íntimo, descanso, higiene e armazenagem; um módulo de administra ção e outro de refeitório, agrupando as demais ativida des desejadas nestas outras duas tipologias. O módulo 37 Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

Figura 32: Vista externa dos módulos de administração e refeitório, respectivamente, evidenciando as sinalizações coloridas de cada tipologia.

Lizarralde, Johnson e Davidson, 2010, apud Feres, 2014, dentre os tipos de habitação emer gencial e temporária que requerem novas construções estão as unidades pré-fabricadas. Estas podem ser transportadas até as áreas necessitadas, e reutilizáveis em outros eventos, dependendo de sua durabilidade.

Figura 31: Vista externa do módulo habitacional. de administração conta com atividades de acompa nhamento psicológico e jurídico, aulas de português, acesso a banco de dados de empregos, como também espaço para palestras e cursos. Já o módulo de refeitó rio proporciona atividades de preparação de alimentos, armazenagem, convívio social e reuniões informais en tre usuários. Um quarto tipo de módulo foi proposto, o chamado ‘módulo livre’, contanto apenas com estrutu ra, piso e coberta, visando sua apropriação pelos usuá rios da forma que preferirem. As tipologias propostas buscam transformar problemas complexos em solu ções simples, práticas e flexíveis, servindo a diversos propósitos, inclusive além do uso inicial emergencial. tipologias desenvolvidas abordagem programática

Figura 33: Carta solar da cidade de Fortaleza. Figura 34: Carta solar da cidade de Brasília. Figura 35: Carta solar da cidade de Boa Vista.

condicionantes climáticas abordagem programática

A cidade de Fortaleza, Ceará, foi selecionada pelo seu clima quente semiúmido, visando ser a represen tante nordestina estudada. As secas são periódicas e apresenta baixo índice pluviométrico. Visa aplicar o projeto em climas tipicamente quentes e com boa ventilação natural, assim como época de chuvas inten sas concentrada em uma parte do ano. Brasília, Distrito Federal, é a representante se lecionada da região central brasileira, com seu clima tropical, com variações de temperatura de 13 a 28ºC ao longo do ano. A umidade relativa do ar é mais baixa, e o período de seca chega a durar cinco meses. Visa apli car o projeto em climas em que a amplitude térmica é grande, as vezes até no mesmo dia. Boa Vista, Roraima, apresenta clima equatorial e tropical-úmido, similar aos demais estados da Região Norte do país. A temperatura média anual também varia bastante, predominantemente quente e abafado.

Fonte: PBE EDIFICA, 2020. Fonte: PBE EDIFICA, 2020. Fonte: Elaboração própria, através do SOLA-AR Tool.

Também se destaca pela proximidade com a Floresta Amazônica, trazendo assim a preocupação com inse tos e outas intempéries ao projeto.

38

Figura 37: Detalhe macaco hidráulico.

Fonte: Elaboração própria.

A estrutura que se optou por utilizar, dentre tan tas opções, foi a metálica, em aço patinável, resistente e pré-fabricado, além de ser um material leve. Foi uti lizado em perfis quadrados de 150x150mm, tanto em vigas quanto em pilares, sendo inicialmente proposto em pórticos que depois ganharam vigas perpendicu lares para melhor travamento da estrutura de piso e de coberta. O toque do edifício ao chão é feito através de macacos hidráulicos, que se utilizam de sua altura va riável para compensar desníveis topográficos e nivelar o módulo.Aestrutura externa dos painéis foi inspirada em fachadas ventiladas, sendo um sistema de perfis metá licos parafusados nas vigas superiores e inferiores, que recebem molduras metálicas que sustentam ripas de madeira parafusadas, um sistema de baixa comple xidade e que gera fachadas dinâmicas pelas diversas perspectivas. O sistema foi proposto em três seções de mesma altura, sendo a seção central passível de aber tura superior, tipo toldo, devido às esquadrias internas. Já a porta principal utiliza dois painéis para gerar a mar quise superior, com o mesmo sistema de ganchos em cabos metálicos, presos na parte superior da estrutura. Além disso, fixado na moldura metálica, se inseriu uma tela para proteção contra insetos e outros fragmentos

abordagem programática

Figura 36: Estrutura metálica em diagrama explodido.

Figura 38: Detalhe macaco hidráulico do tipo sanfonado em diferentes alturas. condicionantes estruturais

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O projeto buscou aplicar no módulo materiais duráveis e que permitissem fácil execução e encaixe. Se preocupou também na amenização da estrutura aparente através de elementos de madeira conferindo maior aconchego interior e estética externa dinâmica.

Fonte: Elaboração própria.

Figura 39: Detalhes do encaixe dos painéis. Figura 40: Detalhe de encaixe da coberta. que poderiam atravessar as ripas de madeira.

Na cobertura é utilizada a telha termoacústica TR-40, da fabricante Metalforte, observando-se suas larguras e comprimentos máximos e observações de instalação, como parafusos e fixação. A inclinação mí nima é de 6% para esta telha específica, apresentando espessura de 30mm. A fixação é feita na malha supe rior estrutural através de tirantes metálicos. A prote ção lateral da coberta é feita em peças de acrílico, ao se buscar um material que não fosse frágil e resistisse ao transporte, além de ser translúcido para aumentar a iluminação natural interna. Sua espessura é de 10mm. A calha lateral é metálica, com dois tubos para queda d’água, já que seu tubo central coincidiria com a estru tura de fixação dos painéis de madeira externos.

As vedações internas são em madeira laminada colada (MLC) na espessura de 150mm, conversando diretamente com a estrutura metálica em que é fixa da. Se optou por este material de vedação por sua du rabilidade, leveza e estética, além do que, por ser um material pré-fabricado, pode-se já vir especificado os cortes em seu interior para tubulações hidrossanitários e elétricas, por exemplo. A madeira é um material ade quado para se utilizar no ‘design para desconstrução’ já que é flexível para reuso e reciclagem, assim como pode ser facilmente conectado com outras partes da construção (GUY, SHELL E ESTHERICK, 2006).

montante50mmmetálico painéis de madeira com moldura metálica tela protetora

40 Fonte: Elaboração própria.Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

Figura 42: Elementos em MLC componentes do projeto. A modulação estrutural definiu o comprimen to das vedações, tanto longitudinais, mais compridas e únicas, quanto transversais, menores e em mais se ções. A ideia foi de propor um número de peças distin tas entre si que permitisse diversos arranjos internos, de acordo com cada função, pensando também em não tornar esse kit de componentes em algo extenso e com muitas variáveis. Assim, no final do estudo se chegou em 4 peças opacas de paredes laterais, 3 peças com esquadria convencional, 1 peça lateral com janela alta, 1 peça longa com a porta e outra peça longa com uma esquadria. Os arranjos internos explorados foram vários, sendo selecionados apenas alguns para serem apresentados no trabalho. A intenção também foi a de servir não só ao contexto emergencial, como também ser adaptável o suficiente para ser utilizado em usos al ternativos.

Figura 41: Detalhe encaixe das vedações. vedação longa com porta altura porta: vedação2,1m longa com esquadria altura peitoril: 1,13m altura janela: 1,30m vedações laterais com esquadria altura peitoril: 1,13m altura janela: 1,30m vedações laterais sem alturaesquadriatotal:2,80m altura peitoril: 1,77m altura janela: 0,65m

Fonte: Elaboração própria.

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No caso do projeto, os painéis foram utiliza dos nas placas de piso, utilizando-se sua medida de 2500x1200mm como definidora da paginação, e conse quentemente da estrutura. Se optou por essa estraté gia visando a utilização das placas inteiras, sem cortes, e também pela fixação das placas na estrutura metá lica inferior, através de parafusos. Seu revestimento de fábrica consiste numa manta fenólica antiderrapante e que protege contra o fogo e produtos químicos abrasi vos. Também se utilizou como vedações verticais para os banheiros, optando-se pelo corte para cada peça possuir 2400x1200m de dimensões, sendo exatamente iguais às placas de gesso, posteriormente explicadas.

Fonte: Painel Wall, 2020. Fonte: Painel Wall, 2020. Figura 43: Detalhes construtivos do painel Mad Wall como piso. Figura 44: Detalhes construtivos do painel Mad Wall como vedação vertical.

42 A estrutura de piso é composta de painéis Mad Wall, da fabricante Madeirit. Consiste em madeira maciça revestida de compensado, com colagem fe nólica antiderrapante à prova d’água, de dimensões 2500x1200mm, conforme figura xx. A madeira utilizada em sua fabricação é proveniente de reflorestamento, sendo 100% reciclável, e gera poucos resíduos em sua fabricação. Tal fato é relevante pela intenção projetual de reciclagem posterior dos componentes do módu lo. Apresenta bom isolamento termoacústico, assim como alta resistência. Pode ser pintada e revestida. Sua espessura é de 40mm, sendo utilizada em diver sos contextos, como em mezaninos, paredes divisórias, piso e fechamentos termoacústicos.

Ao lado, nas figuras xx e xx, os detalhes de encaixe de cada uso específico do material no projeto, como piso e vedação vertical, destacando elementos que po dem ser desmontáveis posteriormente ao uso, como parafusos e chapas metálicas.

O encaixe das peças foi se adequando às medidas necessárias internas, fazendo com que proporcionas se conforto aos usuários, com espaços de giro e apoio necessários, mas também pensando-se no menor des perdício material possível. 43

O banheiro se apresentou como um desafio no projeto, pensando em questões de funcionamento e desmonte das peças. As configurações de layout in terno foram testadas até que se conseguiu chegar na configuração ao lado, conforme figura xx, dispondo de espaço adequado para acessibilidade. Conseguiu-se compactar o volume interno do banheiro em dois pai néis de piso, com quase 6m². O layout foi aliado dos materiais selecionados: painel Mad Wall para vedações verticais e placas de gesso impermeabilizado, próprio para uso nesses ambientes. A placa de gesso seleciona da possui 2400mm de altura, forçando um corte míni mo no painel Mad Wall para adequação.

Fonte: Elaboração própria. Figura 45: Imagem do banheiro do módulo de administração/refeitório. porta de correr trilho externo, altura 2100mm placa gesso impermeável peça de 2400x1200mm própria para o uso em áreas espessuramolhadas10mm

Fonte: Elaboração própria. Figura 46: Esquema explodido do banheiro do módulo habitacional.

vedação mad wall peça cortada de espessura2400x1200mm40mm

44 Fonte: Catálogo Hunter Douglas, Folding and Sliding Shutters.

Fonte: Elaboração própria.

A esquadria também foi pensada fora do convencional de abertura de correr. Também em moldura metálica e elemento translúcido de acrílico, busca conversar com a linguagem dos demais componentes do módulo. A primeira proposta foi a de ser esquadria camarão, principalmente pela estética e pela possibilidade de abertura total; logo descartada pela necessidade de espaço externo para as portas correrem. A segunda proposta consistiu em uma abertura lateral simples que, quando aberta, pudesse funcionar de proteção lateral para a janela, também descartada pela baixa praticida de devido ser uma peça única de dimensão considerável. Por fim, se escolheu fazer uma esquadria específica para o caso, que permitisse abertura total, mas que fosse segmentada, com possibilidade de correr para as laterais. Se utilizou de base a Folding Shutter, do catálogo da Hunter Douglas Brasil, para se obter o resultado desejado, conforme figura 48. Abaixo, de forma esquemática, segue a es quadria projetada final.

Figura 47: Vista axonométrica da janela.

Figura 48: Elementos do catálogo da Hunter Duglas Brasil, inspiração para a janela proposta.

anteprojeto05 proposto

As ideias inicias de partido arquitetônico vieram de formas geométricas simples, visando a racionaliza ção da forma (figura 49). A partir do estudo de correla tos temáticos de arquitetura emergencial, se observou que os volumes geralmente são quadrados ou parale lepípedos, sendo este o ponto de partida. O primeiro partido foi um cubo de 4m de lado, portanto base de 16m², e altura também de 4m; se tornou inviável pelo espaço interno diminuto, não dispondo do conforto adequado para os usuários.

Figura 49: Evolução do partido arquitetônico. partido arquitetônico e evolução anteprojeto proposto primeiro partido ideia inicial a partir de um cubo de 4m de lado segundo partido extrusão do cubo inicial com varandas de 1m terceiro alongamentopartidodovolume,com6mdelado quarto deslocamentopartidodojogo de volumes e vazios quinto partido volume final, mais com pacto e simples

Assim, o segundo partido contava com extru sões que funcionavam como varandas, ainda com 4m de altura, que ajudavam no encaixe dos módulos nas quatro fachadas. Foi uma solução interessante, mas que ainda se mantinha presa à solução quadrada de planta. Optou-se por se alongar o volume, gerando um espaço interno sem as varandas de 4x6m, aumentan do-se um pouco mais o espaço interno. A solução foi prática, porém não possuía uma estética que agradas se, e dificultava seu encaixe lateral.

No quarto partido se efetuou um deslocamento dos volumes, pensando no dinamismo da forma, ainda com 4m de altura. Essa proposta foi estudada mais a fundo, já entrando nas questões internas de espacia lização, porém, evoluiu para uma forma de paralelepí pedo mais compacto e com estética a ser explorada, visando sua praticidade de encaixe e replicação. O par tido final se apresenta minimalista, prático e de fácil execução, não perdendo também sua capacidade di nâmica e estética pelo invólucro criado com a fachada. 46 Fonte: Elaboração própria.

O módulo habitacional foi o primeiro a ser desen volvido, já que sua replicação e encaixe geraria as outras tipologias. Com seu volume definido, o primeiro passo foi observar as entradas e saídas de ar, que gerariam as esquadrias de janela. Se observou que nas cidades estu dadas a ventilação predominante é leste, propondo assim duas aberturas nessa orientação, o que gerou um fluxo de ar saindo pelo oeste, convergindo em uma só abertura. A porta também foi inserida na fachada sul, visando tam bém entrada de ar sudeste e sua fácil inserção nos terre nos, pensando nas vistas geradas para cada janela e suas orientações. Como já observado nas condicionantes es truturais, as vedações de MLC podem gerar diversas con figurações internas, sendo este um dos possíveis layouts.

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Fonte: Elaboração própria. Figura 50: Fachadas do módulo habitacional. nortesul oesteleste partido arquitetônico e evolução anteprojetohabitaçãoproposto

A configuração interna e as fachadas ventiladas fo ram sendo resolvidas em conjunto, um avanço alimen tando o outro em questões de estética e funcionalidade. As fachadas ripadas trouxeram um dinamismo ao volume que ganha uma nova roupagem além do paralelepípedo inicial. Com os painéis externos adicionados e fixados na estrutura, pode-se pensar em termos técnicos de tipos de esquadria e suas aberturas, e como isso influenciaria o ex terno. Conforme já explicado anteriormente, a solução de abertura dos painéis tipo toldo faz com que o espaço ex terno imediato à cada módulo habitacional independen te seja convidativo às pessoas que transitam ao seu redor, podendo parar em sua sombra e conversar um pouco, por exemplo. Também delimitam de forma imaginária o espaço íntimo habitacional do público. Por fim, visando sua identificação em uma comunidade com vários mó dulos habitacionais, se adicionou um número para cada um, linguagem universal e clara, pensando nos diversos grupos culturais que seriam abrigados. Tal elemento seria externo, em placas na cor branca, podendo ser fixado ou removido da estrutura metálica dos painéis, já que toda a estrutura possui mais de um uso.

partido arquitetônico e evolução anteprojetoadministraçãoproposto

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Figura 51: Fachadas do módulo da administração. sul oestelestenorte Fonte: Elaboração própria.

No módulo de administração o volume inicial foi replicado, e assim ganhou oito painéis de vedação laterais com aberturas para se adequar melhor ao seu uso interno. Com a disposição do layout, as vedações e o arranjo da fachada externa foram decididos a partir das aberturas. É uma lógica simples mas que permitiu praticidade cons trutiva. O módulo também recebeu uma placa de orientação na cor verde, e em português e espanhol, visando se adequar a necessidade do usuário estrangeiro (no caso, principalmente venezuelano).

Fonte: Elaboração própria.

49

nortesul partido arquitetônico e evolução anteprojetorefeitórioproposto

Figura 52: Fachadas do módulo do refeitório.lesteoeste

Para o módulo de refeitório a mesma lógica do administrativo foi aplicada: as aberturas correspondiam às necessidades do uso interno. Assim, é possível observar que ficaram mais espaçadas, pensando na maior entrada de ar possível pela fachada leste na área das mesas do refeitório. Duas portas de entrada foram instaladas no módu lo, pensando no fluxo de pessoas e facilidade de circulação. Também apresenta placa de identificação na cor azul, em português e espanhol, podendo ser adaptada para qualquer linguagem adequada ao usuário.

Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

Figura 53: Colagem do módulo de livre apropriação. Figura 54: Imagem do módulo livre, composto de estrutura, piso e coberta.

A ideia de criar um módulo aberto veio da inte gração social entre os usuários, pensando em criar um espaço em que o convívio não fosse apenas íntimo, como é o uso habitacional. O módulo livre é uma res posta à situação atual dos campos de refugiados, que fornecem módulos de moradia enclausurados e não proporcionam espaços de lazer coletivo. O espaço é li vre para apropriação pelos próprios moradores, assim como convida outros grupos da cidade que a instala ção está a ir até lá e conhecer estas pessoas. Promove o contato humano através da espontânea apropriação.

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partido arquitetônico e evolução módulo anteprojetolivreproposto

Figura 57: Corte AA.

Figura 55: Planta de coberta do módulo habitacional. Figura 56: Planta baixa do módulo habitacional.

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Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

Figura 58: Corte BB. Figura 59: Corte CC. A modulação de piso definida pelos painéis esta beleceu as medidas padrão do módulo, já que a estru tura metálica se adequaria a quaisquer medidas neces sárias. O pé esquerdo foi fixado em 2.80m, sendo 2.76 na prática, já que o piso possui 4cm de espessura. A área interna é de 36m², com dimensões totais de 7.5m (três painéis de 2.5m) e 4.8m (quatro painéis de 1.2m). O espaço interno, se contando com medidas mínimas, poderia ser um pouco menor, porém se optou por es paços confortáveis, pensando no usuário e sua estadia. propostas de anteprojetohabitaçãolayoutproposto

Fonte: Elaboração própria.

A disposição dos layouts acima é uma sugestão, podendo ser agrupadas as camas formando camas de casal, por exemplo. Pensando em agrupamentos de pessoas que não são do mesmo grupo familiar, mas que precisam conviver no mesmo módulo, por exemplo, foram previstas cortinas para privacidade in dividual, isolando cada cama se necessário. Os móveis propostos são simples, consistem em uma mesa de ca beceira de uso pessoal e um armário maior e mais alto, de uso coletivo. Também foi inserida uma mesa com cadeiras, pensando em manter um espaço mais ‘social’ dentro do ambiente, onde se pode conversar, jogar, es tudar, entre outras atividades. Visando o convívio com outros moradores, espaços externos foram propostos. quatro pessoas cinco pessoas seis pessoas

52

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

Figura 60: Layouts internos propostos.

Figura 61: Imagem interna do módulo habitacional.Os layouts internos, pensando nos usuários pro postos na figura 29, foram determinados pela quanti dade de pessoas que poderiam ser abrigadas em um módulo habitacional. Seguindo o guia Shelter After Disaster, 1982, a quantidade varia de 4 a 6 pessoas por moradia; portanto, propôs-se layouts distintos para es tas situações.Mantendo em mente que as camas todas são térreas, sem beliche, acima (figura 60), estão apresen tados os layouts internos para quatro, cinco e seis pes soas. Vale salientar que, pelo pé direito do módulo pa drão, também podem ser instalados beliches. Esse uso é adequado apenas para situações de extrema neces sidade, já que é menos confortável e privativo do que camas individuais.

53 Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

propostas de

portuguêsepalestrascursos,aulasde antessala

Figura 62: Planta de coberta do módulo de administração. Figura 63: Planta baixa do módulo de administração.

anteprojetoadministraçãolayoutproposto atendimentojurídicoepsicológico

O módulo administrativo deriva da junção de dois módulos modelo, contando com o dobro de peças de vedação disponíveis. Optou-se por concentrar uma ca lha central na coberta, fazendo com que a água dos dois módulos caísse em sua direção. Utilizou-se de uma parede central para separar os ambientes de for ma mais clara, porém sem perder o dinamismo, já que ela não apresenta porta. O banheiro foi reduzido e re movido a ducha, servindo apenas de lavabo. O proces so se deu respeitando os cortes já realizados nas peças verticais do banheiro do módulo habitacional, confor me a figura 45. No ambiente livre com grandes mesas é previsto acontecer as aulas de português, assim como cursos e palestras de pequeno porte. Pode-se também reservar para alguma reunião administrativa ou atividade espe cial. No ambiente pensado para abrigar o atendimen to jurídico e psicológico, aberto para a fachada leste, se deu maior privacidade, com paredes e porta, com o mesmo painel vertical Mad Wall. Existe também, como primeiro ambiente, uma antessala e uma mesa de re cepção com espera, visualizando um encontro inicial antes de adentrar os demais ambientes com ativida des específicas.

Figura 65: Corte AA. Figura 66: Corte BB.

Figura 64: Imagem interna do módulo de administração.

Fonte: Elaboração própria.

Figura 67: Corte CC.

Fonte: Elaboração própria.

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anteprojetorefeitóriolayoutproposto

O módulo de refeitório é o único que apresenta duas portas de entrada, auxiliando também na circu lação de pessoas. As mesas internas e cadeiras são do bráveis, podendo ser facilmente criado um novo layout e/ou outro uso. Visa também facilitar o desmonte e transporte de peças menores do projeto até uma nova locação.

Figura 68: Planta de coberta do módulo de refeitório. Figura 69: Planta baixa do módulo de refeitório.Assim como o módulo de administração, o refei tório é a junção de dois módulos modelo. A ideia foi criar um ambiente de circulação livre, que evitasse o acúmulo de filas para se servir e que fosse bastante ventilado. Dimensionado para 40 pessoas, 10 em cada mesa, em média concentra os usuários de oito módu los habitacionais. A ideia é bastante simples, em que um ambiente livre de vedações ou pilares internos proporciona o arranjo de mesas e cadeiras como pre ferir. As janelas foram espaçadas na fachada leste pra garantir um fluxo mais uniforme para todas as mesas. Foi inserido um lavabo e bancada de serviço, visando o preparo e serviço individuais. Pensando nos sistemas necessários para inserção de fogão e equipamentos a gás, optou-se por inserir apenas eletrodomésticos que pudessem ser conectados ao sistema elétrico propos to, como aparelho de micro-ondas e geladeira, além de armários de armazenagem.

propostas de

55 Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

56 Fonte: Elaboração própria. Figura 71: Corte AA. Figura 72: Corte BB. Figura 73: Corte CC. Figura 70: Imagem interna do módulo de refeitório.

Figura 71: Cidade de Fortaleza, em destaque o bairro selecionado.

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Fonte: Elaboração própria, com bases do IBGE.

Figura 72: Destaque do bairro de Jangurussu.

A partir do estudo das três cidades selecionadas na primeira etapa do trabalho (Boa Vista, Brasília e Fortaleza), se optou por realizar um agenciamento mais elaborado na última. Assim, procurou-se na cidade um terreno que comportasse o tamanho do projeto, em uma área que oferecesse serviços urbanos e área tranquila residencial. Lo calizado na grande zona 6 de Fortaleza, o bairro de Jangurussu ofertou um terreno propício para aproveitamento, em área majoritariamente residencial, promovendo assim o contato maior entre os usuários e os residentes do bair ro. A ideia foi de transformar um terreno que originalmente continha um espaço público de campinho de futebol de terra batida para se aplicar um agenciamento inicial da obra.

Fonte: Elaboração própria, com bases do IBGE.

Fonte: Elaboração própria, com bases do IBGE.

Figura 73: Em destaque, o terreno selecionado para agenciamento. terrenos e contextos propostos fortaleza, ceará anteprojeto proposto

Fonte: Elaboração própria, com bases do IBGE. Fonte: Elaboração própria.

Figura 74: Em visão aproximada, o terreno selecionado para agenciamento Figura 75: Agenciamento do terreno em Fortaleza.

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Fonte: Elaboração própria. Figura 76: Imagem do agenciamento proposto para o terreno em Fortaleza, em vista aérea.

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O resultado final do agenciamento foi derivado de questões tratadas nas condicionantes projetuais (página 31), assim como conceituações próprias de ur banismo. Os módulos habitacionais se apresentam em disposição pouco densa, de maneira dispersa, criando caminhos entre eles, favorecendo também os encon tros casuais entre moradores. As habitações também se organizam em função dos espaços comuns, como o refeitório e o módulo livre, por exemplo, trazendo um maior estímulo à vivência externa, e também gerando a segurança. A implantação considera também a en trada e saída de veículos de abastecimento dos refeitó rios, por exemplo, com amplo espaço frontal próximo à rua. Também visa um impacto mínimo na popula ção residente do bairro, que poderia utilizar as demar cações de piso e arborização como espaço público de lazer ou rapidamente remover a sua implantação sem danos maiores causados. habitacionaismódulos habitacionaismódulos habitacionaismódulosdemódulosrefeitório administrativomódulo administrativomódulo módulolivre

60 Fonte: Elaboração própria. Figura 77: Imagem do agenciamento, evidenciando o módulo habitacional.

61 Fonte: Elaboração própria. Figura 78: Imagem do agenciamento, evidenciando o módulo de refeitório.

62 Fonte: Elaboração própria. Figura 79: Imagem do agenciamento, evidenciando o módulo de administração.

63 300m Programa das Nações Unidas Desenvolvimentopara OPAS MundialOrganizaçãoOMSdaSaúde BID TrabalhoInternacionalOrganizaçãoDesenvolvimentoInteramericanoBancodoOIT Embaixada do Senegal Embaixada da coreia do sul Embaixada do egito UNAIDS Brasil 300m abrigo rondon 1rondonabrigo abrigo rondon

Os terrenos pesquisados em Brasília se localizam próximos ao setor de embaixa das, próximo à UnB, menos de 2km de distância do Hospital de Base e da Rodoviária do plano piloto. O terreno selecionado para o agenciamento está ao lado da sede do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e da sede da UNAIDS Brasil. No entorno imediato da quadra existem diversas embaixadas de países como Tailân dia, Bulgária, Nigéria e Coréia do Sul. Também existem o Centro Cultural de Brasília e o BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento. A intenção dessa localização é trazer à tona e aumentar a visibilidade do problema dos refugiados, próximo de edifí cios tão relevantes para a cidade. Em pesquisa acerca da decisão de terrenos possíveis em Boa Vista, Roraima, a escolha mais plausível é o Abrigo Rondon, já existente no local. Em 2018, foi-se reali zada uma expansão do abrigo, com capacidade para cerca de cinco mil e quinhen tos venezuelanos, indígenas e não-indígenas (ACNUR, 2018). A abertura do Abrigo Rondon 3 contou com o apoio da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI) e da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), organizações parceiras do ACNUR em Roraima. Além de barracas do exército, o abri go conta com unidades habitacionais da ACNUR utilizadas em ações humanitárias, instaladas pela primeira vez na América Latina.

Fonte: Elaboração própria, em base do Google Earth Pro. Fonte: Elaboração própria, em base do Google Earth Pro.

Figura 80: Agenciamento do terreno em Brasília. Figura 81: Agenciamento do terreno em Boa Vista. terrenos e contextos propostos brasília, distrito federal boa vista, roraima anteprojeto proposto

BATERIA PARA ARMAZENAGEM CENTRAL DE DISTRIBUIÇÃO elétricoponto 64

PAINEL SOLAR FOTOVOLTAICO

CONTROLADOR DE CARGA

Fonte: Elaboração própria. Figura 82: Esquema do sistema elétrico proposto.

Uma das condicionantes projetuais indicava a implantação do projeto considerando a oferta de equi pamentos e serviços existentes na área. O terreno, loca lizado em área residencial, apresenta possibilidade de acessar a rede elétrica local e se utilizar de novos pon tos de consumo tanto no módulo habitacional quanto nas demais tipologias, caso necessário. Estes pontos de consumo elétrico seriam facilmente embutidos nas ve dações de MLC, com previsão anterior, já chegando ao local para montagem com tais recortes e instalações feitas.Além do sistema elétrico convencional público, optou-se por prever também a instalação de painel so lar fotovoltaico para o módulo, pensando na instalação em locais remotos e estratégicos. Pelo pouco consumo necessário previso, a energia elétrica seria armazenada em baterias acopladas a cada módulo, já que a energia produzida por um só painel já é mais que o suficiente. O sistema também é facilmente desmontável e pode ser transportado junto do projeto. lógicas sistêmicas do módulo padrão anteprojetoelétricoproposto

O sistema de reutilização de águas pluviais foi previsto desde a concepção projetual, que determinou a calha única para coleta de água da chuva. O sistema de filtragem e reuso utiliza filtros e espaços de arma zenagem para reutilizar essa água na bacia sanitária. A solução depende bastante dos índices pluviométricos do local que é inserida, mas foi prevista devido à condi ção de itinerante que o projeto possui, visando ser sus tentável e adequado à diversos contextos.

PONTO ChuveiroCONSUMODE

lógicas sistêmicas do módulo padrão

alimentação a partir da rede

RESERVATÓRIOpúblicaSUPERIOR

Figura 83: Esquema do sistema hidráulico proposto.

PONTO CONSUMODECUBA

O sistema tradicional, com o reservatório superior, pode ser abastecido através da alimentação a partir da rede pública disponível, e também através de outros meios, como caminhão pipa, em locais isolados ou que sofreram com grandes desastres que compromete ram a rede pública.

anteprojetohidráulicoproposto

Prevendo o uso da rede pública para a maior par te do abastecimento de água, optou-se por prever um sistema de aproveitamento de águas pluviais como anexo. Ambos trabalham de forma separada já que ali mentam peças sanitárias diferentes.

inicialfiltro filtrofino impurezas descarte dos milímetros iniciais de chuva desinfeccção por cloro e armazenagem 65 Fonte: Elaboração própria.

O sistema de descarte dos resíduos foi bastante complexo de ser resolvido. A solução mais fácil indica a utilização da rede pública para solucionar a ques tão, fazendo com que cada módulo puxasse uma co nexão com a rede de esgoto local. Porém, através de pesquisas sobre os demais projetos da mesmo tipolo gia emergencial, surgiu a possibilidade de incorporar sistemas pouco explorados para solucionar o mesmo problema.Osistema convencional demonstrado ao lado indica o reuso, após etapa de filtragem, da água pro veniente do chuveiro e da cuba para a bacia sanitária, a chamada de água cinza. Tal mecanismo é mais co nhecido. O outro sistema proposto consiste no banhei ro seco. Ele se utiliza dos dejetos orgânicos produzidos para fertilizar a terra, e, consequentemente, propor cionar adubo para certas plantas. Um dos modos é o ciclo das bananeiras, conforme desenho. A solução foi proposta também, além de seus benefícios ecológicos, pelos aspectos socias de se prever alguma horta urba na, plantio que forneça alimento para os moradores.

lógicas sistêmicas do módulo padrão de anteprojetoresíduosproposto

sistema convencional filtro com cloro bomba que envia a água reaproveitada ao vaso quando a descarga é acionada reservatório sistema de banheiro seco MATÉRIA ORGÂNICA MICRORGANISMOSCOM subterrâneacâmaraFertilizante 66 Fonte: Elaboração própria. Figura 84: Esquema do sistema de resíduos proposto.

As etapas de construção ao lado foram desenvolvidas como uma es pécie de guia de montagem para o projeto, pensando também no pro cesso inverso de desmonte. Através dos esquemas explicativos demons trados ao longo do trabalho, é possí vel notar que todos os componentes podem ser fixados e separados entre si, devido às noções do “design para desconstrução”.Conformeo módulo vai ganhan do forma, as peças de layout interno podem ser alocadas dentre as etapas. Por exemplo, se o espaço necessita de um grande equipamento, uma ban cada, um sofá, pode ser transportado antes das vedações, por exemplo.

PAINELPAINELMADEIRA

Fonte: Elaboração própria. Figura 85: Esquema das etapas de construção e desmonte.

MONTANTE PAINEL TELA

COBERTAPISOESTRUTURA ESQUADRIASBANHEIROvedações

anteprojetodesmonteproposto

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construção e

Fonte: Portal OMDN.

O transporte dos componentes do projeto seria feito através de caminhão. Assim, buscou-se utilizar comprimentos adequados para esse tipo de transpor te, desde a concepção projetual. Segundo a TruckPad, a carroceria para caminhão do tipo truck apresenta 14 metros de comprimento, 2.6 metros de largura e 4.4 metros de altura, comportan to todos os elementos previstos da obra. Sua carroceria pode ser em aço, pela resistência, ou em alumínio, ma terial mais leve, de maior durabilidade e menor custo. Utilizando-se de carroceria fechada, o tipo baú, como disposto em foto ao lado, os componentes estariam protegidos de agressões climáticas. Também se pen sa no menor desgaste possível das peças, visando seu múltiplo uso.

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Figura 86: Caminhão do tipo truck, previsto para transporte dos componentes.

anteprojetotransporteproposto

Figura 88: Visualização interna de layout sugerido para uso de casa de campo/chalé.

usos flexíveis do módulo anteprojeto proposto casa de campo/hotelaria/chalé

Um dos usos flexíveis que o módulo proposto pode abrigar é o de casa de campo e chalé, devido seus sistemas de fácil desmonte e transporte (figura 87 e 88). Assim, o layout interno se configura de forma bastante individual do usuário, sendo bastante flexível nesse quesito. Sua utilização em locais mais isolados, graças à algumas soluções independentes, também é uma possibilidade.Tambémseapresenta como uma boa alternati va na área da hotelaria, visando rápida ampliação para abrigar hóspedes, sem necessitar de uma solução de finitiva.

Figura 87: Uso sugerido de casa de campo, anexo de hotelaria e chalé.

69 Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

vacinação/coleta de sangue/exames públicos camarim para eventos

Figura 89: Uso sugerido de instalação emergencial de vacinação. Figura 90: Uso sugerido de camarim para eventos. O uso de instalações básicas de saúde também pode ser adequado ao mó dulo, como em campanhas de vacinação, coleta de sangue e exames públicos como verificação de pressão arterial. Pode-se considerar um contexto de difícil acesso, como em áreas remotas, para se utilizar o módulo como uma solução. Já no caso de arquitetura efêmera para eventos, o projeto também pode ser adaptável ao uso, já que apresenta fácil montagem e pode ser transportado pelo país. Na figura 90 acima, é exemplificado o uso de camarim privativo, po dendo agregar usos também de administração e bilheteria.

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Os maiores valores conceituais do “design para desconstrução” estão em seus as pectos ambientais e econômicos, no pensamento de que quando um edifício não é mais necessário, sua remoção deve ser o mais prática possível, pensando no ciclo de vida tam bém contemplando seu fim. destino dos

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Adotando-se o conceito do “design para desconstrução” desde as primeiras etapas projetuais, seus preceitos foram adotados para a escolha dos materiais e seus encaixes.

anteprojetomateriaisproposto

Mesmo assim, se não mais for necessária a edificação, seus componentes metálicos podem ser facilmente absorvidos pela indústria siderúrgica, na forma de novas estruturas de aço patinável, por exemplo; assim como os demais elementos do edifício. A madeira na forma de MLC pode ser destinada para outras obras da mesma forma que está cortada, e também pode ser reciclada para folhas de outras dimensões. Elementos de acrílico na co berta e esquadrias também podem ser recortados e remontados para novas edificações.

Como os objetivos do conceito são de “aumentar a eficiência econômica, reduzir os impac tos na remoção de edifícios e recuperar componentes e materiais para reuso e reciclagem”, se considera o projeto exitoso nesse aspecto. Todos os componentes foram pensados para serem reutilizados diversas vezes com o mesmo uso, pensando na viabilidade econômica.

conclusões06

O presente trabalho buscou apresentar a arqui tetura emergencial sobre uma nova ótica, voltada para a crise humanitária dos refugiados. Apesar de ser um problema que migrou da escala pontual para a global, a área de produção arquitetônica dessa natureza tem sido impulsionada principalmente pelos concursos e não pela discussão acadêmica. A possibilidade de efe meridade, assim como suas estruturas itinerantes pelo Brasil, se provou como uma proposta coerente com as necessidades contemporâneas. O resultado é relevan te pelo próprio tema que abordou, além das soluções adotadas para cada desafio. Se observa que o ante projeto condensa uma arquitetura prática, ao mesmo tempo dinâmica e flexível, visando perdurar mais que o seu uso inicial, servindo a outros propósitos posterio res. A ideia é de que, reutilizando os módulos propostos em contextos privados e através de contrato, se consi ga financeiramente manter a manutenção das peças.

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conclusõesfinais

A conceituação do projeto se baseou na linha social, que teve como peça chave o usuário. Assim, as demais esferas de atuação circulavam ao redor de questões como acesso individualizado, acessibilidade universal, grupos de migrantes vulneráveis, privacida de e socialização. Pensando em devolver aos usuários a dignidade da moradia e atividades cotidianas anterior mente perdidas, a arquitetura se prova como uma fer ramenta social transformadora, algo que pode reinserir as pessoas em um novo contexto, da forma mais sua ve e menos traumática possível. A temática se conecta com diversas questões geográficas, urbanísticas e prin cipalmente políticas, lembrando do sistema moderno capitalista e globalizado. Conflitos armados, religiosos, crises econômicas e políticas se tornam motivadores para tantos pedidos de refúgio. Organizações indepen dentes têm promovido ações para aliviar o desespero desse tipo de migração forçada, ofertando uma acolhi da e encaminhamento à órgãos fixos concentrados no sudeste brasileiro. Porém, essas atitudes pontuais não podem ser a única esperança para essas pessoas, ao adentrar num país que detém legislações tão avança das em relação ao refúgio. Apenas se ressensibilizando com os refugiados, que sofreram muito mais do que perdas meramente materiais, pode-se almejar um mundo mais igualitário, acolhedor e fraterno. considerações

A exequibilidade de um projeto desta natureza, especi ficamente na área social, se põe a prova pelo interesse governamental e pela logística de sua implantação. As sim, buscou-se detalhar ao máximo o funcionamento dos componentes, e propor soluções e materiais que justifiquem seu uso. As ideias de uma arquitetura con fortável e segura foram desenvolvidas aliadas à um pro cesso projetual que buscava definir a estratégia menos custosa e mais eficiente para cada situação.

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