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Capítulo 2 - Assentamentos indígenas
- C A P Í T U L O I I Assentamentos indígenas
OS ASSENTAMENTOS INDÍGENAS apresentam-se com grande diversidade e riqueza em suas organizações espaciais e edificações, com uma pluralidade de implantações e materialidades, salientando a heterogeneidade dos povos originários antes da chegada dos invasores.
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Mapa dos rios da unidade hidrográfica do Rio Doce
Desenho de Luisa Quintal, através do mapa da Agência Nacional das águas e saneamento básico
QUADRO GERAL DOS POVOS, ISA (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL)
Na região das bacias do Rio Doce, localizada no estado do Espírito Santo e Minas Gerais com o curso de 853 km, atualmente, estão os territórios Krenak (Crenaque, Crenac, Krenac, Botocudos, Aimorés, Borum), que segundo o livro - Índios Botocudos do Espírito Santo no século XIX - habitam também o Rio Pardo, e nas fozes dos Rios Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim os territórios Tupiniquim e Guarani (Kaiowá, Mbya, Ñandeva).
Ilustração das habitações, de pau a pique, estuque e alvenaria e telha cerâmica.
Desenho de Luisa Quintal
HABITAÇÃO DOS GUARANI
Vindos de outra região para o território demarcado, os Guarani adquiriram o hábito de viver em casas pequenas e cabanas de fácil desmonte. As técnicas construtivas utilizadas pelos povos Guaranis na contemporaneidade incluem estuque, bambu, coberturas de palha, tijolos e telhas cerâmicas e as casas são unifamiliares, implantadas na forma de clareiras em meio a áreas de floresta preservada.
Cozinha coletiva
Desenho de Luisa Quintal inspirado em fotografias dos Guarani por Luã Quintão.
MODELO UNIFAMILIAR
A substituição das casas que utilizam madeira em toda sua estrutura e vedação e do modelo de uma grande oca multifamiliar foi substituída pela habitação unifamiliar pela escassez de matéria construtiva como a madeira, devido o ciclo colonizatório e extrativista que não visava a sustentabilidade de materiais, abundantes no passado. Apesar do modelo de habitação ser unifamiliar, existem construções coletivas como cozinhas ou construções com o interior livre, utilizadas para momentos de encontros, refeições, reuniões e celebrações.
ilustração do espaço coletivo com estrutura de bambu e cobertura de palha, de planta livre.
Desenho de Luisa Quintal inspirado em fotografias dos Guarani por Luã Quintão.
UMA REDE PELA MATA
As casas, implantadas de maneira não ortodoxa, se conectam por trilhas e caminhos. A FUNAI (Fundação Nacional do Índio), órgão responsável pelo cadastramento das terras indígenas, não realiza o mapeamento das casas dentro das aldeias, apenas do território e seu entorno.
“O limite da aldeia não é claramente definido. Elas são uma espécie de rede que se espalha pela mata. [...] três importantes caracteristicas das aldeias guaranis: a “impermanência, a fluidez e a fragmentação” (15). A aldeia guarani constitui uma rede viva e encontra-se em permanente mutação. ” (NEIVA, 2016)
LOCALIZAÇÃO
A aldeia de Rio Sono encontra-se no rio de mesmo nome e apresenta, ainda hoje, características tradicionais, em contraste com a aldeia da Porteira (MOI) . Desenho de Mariana Lamenza
ABRIGO DA TRIBO XAVANTE
Exemplos desta tribo que possivelmente habitou a região do Rio Tocantins. Baseado em: ALMEIDA. Desenho de Mariana Lamenza
ORGANIZAÇÃO DA ALDEIA XERENTE
Diagrama da organização física da aldeia Xerente em relação à proximidade do núcleo da tribo. Baseado em Donato. Desenho de Mariana Lamenza
ALDEIA XERENTE DA PORTEIRA
Diagrama atual destacando a natureza linear desse assentamento, que destoa-se da natureza circular tradicional registrada.
Baseado em MOI. Desenho de Mariana Lamenza
ALDEIA XERENTE RIO SONO
Destaque da natureza circular desse assentamento. Os abrigos deste assentamento aparentam ser de pau-a-pique e menos compartimentadas .Baseado em MOI. Desenho de Mariana Lamenza
Representação da composição estrutural de uma casa Karajá.
Desenho de Amanda Reis baseado em EHRENREICH (1948). Disponível em:<http://etnolinguistica.wdfiles.com/local-files/biblio:ehrenreich-1948-contribuicoes/ehrenreich_1948_contribuicoes.pdf>. Acesso: 5 jul. 2021.
ESTRUTURA DA "CASA" KARAJÁ
De planta “retangular (...). A armação compõe-se, em cada lado, de três ou quatro varas flexíveis apoiadas em forquilhas e ligadas às do lado oposto por meio de cipós; constituem, assim, uma cobertura arqueada à maneira de canoa, e suportada, ainda, por varas verticais fincadas na terra, em direção longitudinal. (...) Sobre sarrafos finos, paralelos entre si, e fixados externamente na armação do telhado, descansam as enormes folhas pinuladas da palmeira oaguaçu (Attalea spectabilis), as quais, em várias camadas sobrepostas, formam uma cobertura bastante impermeável. (...) À direita e à esquerda da porta estão fincadas duas varas altas, que dão maior firmeza às camadas de folhas de palmeira do lado da frente. ” (EHRENREICH, 1948, p.35; apud BONILLA, 2000, p.33)
Representação do exterior das casas Karajá.
Desenho de Amanda Reis a partir de imagens da "Expedição Mesopotâmia Araguaia - Xingu" disponíveis em: <http://base.museudoindio.gov.br/memoteca/srav/fotografia/spi/se/album/expedicao_mesopotamia/index.html>. Acesso: 5 jul. 2021.
O EXTERIOR DAS "CASAS" KARAJÁ
“No espaço doméstico, cada casa possui um quintal ou pátio interno, chamado de hirarina, espaço das meninas. É nele que a maioria das atividades quotidianas se passam. É nele que está o espaço utilizado pelas mulheres para cozinhar. ” (BONILLA, 2000, p.36)
Representação do interior das casas Karajá.
Desenho de Amanda Reis a partir da descrição de EHRENREICH (1948) apud BONILLA (2000).
O INTERIOR DAS "CASAS" KARAJÁ
“Uma parte do chão é revestida de esteiras (bykyre) de buriti, sobre as quais também se dorme. Um pedaço de madeira, cilíndrico e liso, colocado embaixo da esteira, faz as vezes de travesseiro. Das vigas horizontais pendem as várias cestas de provisões, recipientes para penas de adorno, enfeites de plumas já acabados, porongos etc. Arcos e flechas enfiam-se entre os sarrafos do telhado. Lanças e clavas estão sempre à mão, encostadas nalgum canto. Alguns banquinhos com feição de trenó, e os potes e cuias de diferentes tamanhos completam o trem da casa. ” (EHRENREICH, 1948, p.36, apud BONILLA, 2000, p.35)
Representação de uma aldeia Karajá às margens do Araguaia.
Desenho de Amanda Reis;
A ALDEIA KARAJÁ
“A aldeia é o espaço socializado onde a maior parte da vida dos KARAJÁ se passa. A tripartição encontrada nos níveis étnico (Karajá, Javaé e Xambioá) e cosmológico (bero hatxi, ahana obira e biu-e-tyky) reencontra-se no nível aldeão. De fato, as aldeias KARAJÁ são lineares, construídas em fileiras paralelas ao curso do rio nos barrancos mais altos. De um modo geral, as aldeias possuem duas ou três fileiras de casas com suas aberturas (portas e janelas) voltadas para o rio. (...)
Ainda hoje, nas aldeias onde existe Casa dos Ijasò (que é igualmente chamada de Casa de Aruanã, Casa dos Homens, ou Hetokre) esta situa-se no nível mediano da aldeia, sempre recuada em relação às fileiras de casas, e aberta para o mato. Esta disposição das casas nas aldeias permanece inalterada desde as primeiras descrições que se tem dos KARAJÁ. ” (TORAL, 1992, p.51-52, apud BONILLA, 2000, p.32-33)
Representação de um assentamento de indígenas canoeiros pré-colonial.
Colagem digital de Giulia Sgarbi.
ASSENTAMENTOS INDÍGENAS PRÉ-COLONIAIS
Os primeiros grupos indígenas ceramistas, canoeiros e agricultores que se fixaram no Pantanal são estudados através dos chamados “aterros” , pequenas colinas perto de cursos d’água, que foram superfícies de acampamentos ou aldeias indígenas, hoje já desaparecidas. Esses aterros eram sistematicamente conectados, com morfologias complexas, e que poderiam ser áreas de moradia, cemitérios, praças centrais, locais de produção de alimento, demarcadores territoriais, espaços de memória, etc.
Representação de uma aldeia Karajá às margens do Araguaia.
Desenho de Amanda Reis;
A ALDEIA KARAJÁ
“A aldeia é o espaço socializado onde a maior parte da vida dos KARAJÁ se passa. A tripartição encontrada nos níveis étnico (Karajá, Javaé e Xambioá) e cosmológico (bero hatxi, ahana obira e biu-e-tyky) reencontra-se no nível aldeão. De fato, as aldeias KARAJÁ são lineares, construídas em fileiras paralelas ao curso do rio nos barrancos mais altos. De um modo geral, as aldeias possuem duas ou três fileiras de casas com suas aberturas (portas e janelas) voltadas para o rio. (...)
Ainda hoje, nas aldeias onde existe Casa dos Ijasò (que é igualmente chamada de Casa de Aruanã, Casa dos Homens, ou Hetokre) esta situa-se no nível mediano da aldeia, sempre recuada em relação às fileiras de casas, e aberta para o mato. Esta disposição das casas nas aldeias permanece inalterada desde as primeiras descrições que se tem dos KARAJÁ. ” (TORAL, 1992, p.51-52, apud BONILLA, 2000, p.32-33)