Discipulos e Missionários

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DISCÍPULOS E MISSIONÁRIOS... PARA QUE TODOS OS POVOS TENHAM VIDA... Ser discípulos é pôr­se aos pés de Jesus... Ser discípulo significa, como Maria, pôr­se aos pés de Jesus para ouvir a sua Palavra de vida (Lc 10,41­42) e praticá­la. O que é ser discípulo? É fazer a experiência de Jesus, é viver junto dele até aprender seu novo modo de viver e de trabalhar, de amar e de servir, adotando sua maneira de pensar, sentir e agir, a ponto de experimentar que ‘já não sou eu que vivo, mas que ‘já é Cristo que vive em mim’ (Gl 2,20).1 Discípulo é muito diferente de aluno Por isso, discípulo é bem diferente de ‘aluno’ que sabe algo porque estudou, pesquisou etc. Discípulo significa relação com uma pessoa, a de Jesus Cristo, cujos passos segue sem reserva, percorrendo o seu mesmo caminho, partilhando as suas escolhas, abraçando o seu mesmo projeto, o Reino de Deus. O discípulo não deve somente aprender (uma doutrina, uma idéia, noções, conhecimentos...) e sim seguir, confiar, se desapegar, se deixar transformar. O discípulo partilha em tudo a vida do Mestre, vivendo profundamente unido a ele. 2 A igreja precisa mais de adoradores do que de conhecedores­alunos’. Mc 8,34­45: O discípulo deverá ‘renunciar a si mesmo’= o centro da própria vida é Jesus.3 Paulo, o Judeu praticante ‘pego’ por Deus na estrada de Damasco Em Jerusalém Paulo recebeu uma formação superior, estudando aos pés do grande erudito rabi Gamaliel (At 22,3). Logo alcançou um lugar de destaque. Formação superior, líder nato, membro ativo da comunidade: ele tinha diante de si um futuro promissor e uma carreira brilhante. Aqui Paulo era o dono de sua vida. Mas a entrada de Jesus em sua vida foi uma REVIRAVOLTA. Na estrada de Damasco, Deus o ‘pegou’, o alcançou e o derrubou (At 9,1­2; 26,8­12).4 Ele caiu por terra e ficou cego, três dias, sem comer nem beber (At 9,8­9). Morreu o perseguidor, ressuscitou o profeta e missionário! Paulo já é um homem transformado.5 1

Discípulo é aquele que faz experiência: ‘o que vimos com nosso olhos.... e nossas mãos tocaram do Verbo da Vida...’ (Jô 1,1). Experiência é viver juntos, é ter um contacto direto, imediato, de coração a coração, de pessoa a pessoa. Somente quem faz a experiência pode ser testemunha. Ela é uma relação, um trato, entre duas pessoas, a pessoa de Deus e a gente. Assim como a amizade é uma relação entre duas pessoas. Aos poucos, a pessoa se torna cada vez mais semelhante a outra, e os dois passam a partilhar tempo, ideais, interesses, gostos... 2 Nas escolas dos rabinos e dos filósofos gregos, o mestre ensinava doutrinas, verdades, conceitos e o discípulo aprendia. Na escola do rabi Jesus, o mestre é Jesus que propõe a si mesmo, e o discípulo o segue. Nesta escola é proposta não somente uma idéia/doutrina e sim uma vida, um projeto de existência. Precisa estar atrás, levar vida comum, a vida toda! Há uma comunhão pessoal, íntima e vital. Mestre e discípulos dividem tudo em comum: os ideais, os projetos, o trabalho, as responsabilidades e as conquistas, as provas, as ansiedades, os sofrimentos e as alegrias. 3 O mestre Jesus visa, lenta e respeitosamente, encher de si toda a vida e a pessoa do discípulo; visa ‘possuí­lo’ com sua divina pessoa (Jo 15). Ele quer ser o único, e somente ele, a ter um relacionamento imediato com o discípulo, que deve viver ‘para o mestre’. A iniciativa é de Jesus. É ele que chama e faz a proposta de amizade e de intimidade, atingindo a pessoa chamada com um amor gratuito, inesperado, divino. 4 Inesperadamente Paulo encontrou­se sozinho, sem rumo, perdido no meio do caminho. A entrada de Jesus na vida dele foi uma tempestade violenta. Deus não pediu licença: entrou sem mais e o derrubou. Caído no chão, ele se entrega. O caçador foi alcançado, vencido pela caça!


Paulo chamado e enviado=missionário A experiência de Damasco foi uma mudança radical na vida de Paulo. Ele, chamado por Deus de uma maneira tão ‘violenta’ vai descobrindo a sua missão. Deixa o seu passado, a sua carreira, as suas (falsas) certezas e seguranças (observava rigorosamente as leis), confia e entrega­se nas mãos de Deus que o ama apesar de tudo.6 Discípulo e missionário ao mesmo tempo ‘Jesus constituiu doze para que andassem com Ele e mandá­los a pregar’ (Mc 3,15). Não se pode seguir Jesus só para segui­lo, só para ficar com ele. Ele nos envia em missão!7 A comunhão com Ele não é para ficar parados, mas é para caminhar, andar, se abrindo aos outros (ser pescadores de homens). Primeiro vem o seguir, o ser discípulos, a comunhão (‘Vinde após mim’.... agora!); depois vem a missão (sereis pescadores de homens).8 Chamados para formar comunidade, união.... Jesus chama para ficar com ele e também para viver em comunidade. Isto é importante para a missão, pois esta é sempre algo comunitário, que se realiza ‘dois a dois’ (Lc 10,1­ 2; At 2,42­47; 4,32­35). Para ser missionários não é suficiente ‘ir (sozinho!) por todo mundo pregar o Evangelho a toda criatura’. Os ouvintes, de fato, se deixam ‘arrastar’ sobretudo pelo testemunho de uma comunidade missionária alegre, fraterna, acolhedora, unida.9 Para que todos tenham vida. O bom Samaritano: Lc 10,25­37.10 Descendo de Jerusalém para Jericó, o Samaritano vê um homem assaltado, espancado, despojado e deixado quase morto à beira do caminho. A parábola narrada por Jesus é de uma fineza incrível: parte da pergunta: ’quem é o meu próximo?’, e acaba com a pergunta: ‘quem dos três se tornou próximo’?’. A missão é um tornar­se próximo – e Na estrada de Damasco, de repente, Paulo descobre que Deus o acolhia e o amava apesar dele estar perseguindo a sua Igreja. A graça foi maior que o pecado! 6 Ele recebeu de Deus tal chamado/missão, de graça, sem merecimentos (quem mais indigno do que um grande perseguidor da Igreja?). 7 O amigo partilha os interesses e ideais do amigo. Ser amigo de Jesus é colaborar em sua missão de implantar o reino. Trabalhar com e para Jesus é sinal de que Jesus nos ama, confia na gente. 5

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O cristão não é uma pessoa ‘sedentária’. Missão é partir, sair de si, se preocupar pelos outros e pelo mundo inteiro. Mt 17,1­9: No monte Tabor Jesus, por um instante deixa entrever a sua glória. Os três ficam fascinados e querem ficar lá contemplando, esquecendo a missão: ‘Mestre, é bom estarmos aqui!’ Cristo retorna rapidamente ao seu estado habitual, não permitindo que os apóstolos fiquem com ele mais do que o necessário e os envia de novo a descer do monte e prosseguir a missão!

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União que se realiza valorizando as diferenças, os dons, a experiência de cada um. Quando há um objetivo comum a diferença não ameaça, mas favorece a unidade. Os cristãos/missionários trabalham juntos, criando comunhão, família. Trata­se de uma família não fundada na carne e no sangue, mas no amor de Cristo e no ideal comum que une.

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854 milhões de pessoas que ingerem menos de 1900 calorias diárias. No mundo o 20% da humanidade dispõe dos 80% dos recursos do planeta; de outro lado, a multidão de pobres, sem nome, sem­rosto, que nem conseguem satisfazer as necessidades básicas. Mais de um bilhão e 300 milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia. Três bilhões vivem com menos de dois dólares por dia. Esta intolerável desigualdade interpela cada homem e mulher nesta terra.


um aprender a tornar­se próximo – dos outros, dos pobres, das vítimas da sociedade, dos caídos. O sacerdote e o levita não se tornaram próximos, obedecendo a uma lei sagrada que os obrigava a não tocar em cadáveres para não ficarem impuros. Para amar a Deus precisava ficar puro. Neste caso, eles tinham que ‘se sujar’ para amar o próximo! Missão é despojar­se até de certas leis, prioridades, medos, convicções, para nos aproximar dos outros. É uma kenosis (esvaziamento) que nasce da compaixão e da aproximação. O missionário é convidado a ‘se sujar’, a sair de si, de sua tribo e ‘terra’. Jesus não vacila diante do mestre da lei: ‘vá, faça a mesma coisa (que fez o samaritano), e viverá’ (Lc 10,37). É possível amar a Deus somente amando o próximo que agoniza. Missão como encarnação e inculturação Missão é se encarnar, se desapegar, se inculturar, como fez Jesus, Palavra do Pai encarnada (Jo 1,14). Inculturação é se aproximar, dialogar, escutar, ter simpatia e empatia em relação ao ‘mundo diferente’ no qual o missionário se encontra. Missão é renunciar à arrogância, é se adaptar ao povo, servindo com humildade e gratidão, saber escutar.


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