O REINO ROSADO Enredo da história e capa:
Júlia Garrancho – neta Forma literária:
José Garrancho – avô 30-06-2013
Agrupamento de escolas Nuno Mergulhão Jardim de Infância do Fojo Sala Encarnada
Educadora: Glicéria Gil Auxiliar: Vera Duarte
Trabalho de grupo ano letivo 2012/2013
Era uma vez um reino de brincadeira, onde viviam três princesinhas lindas: Júlia, Jéssica e Anastácia, a quem as amigas costumavam chamar Ana. As princesas eram muito felizes e brincavam sem preocupações, como acontece com a maioria das crianças, sejam princesas ou não. E é pena serem quase todas, mas não todas, não é?
As nossas amigas tinham uns namorados muito giros, o Alexandre, o Bernardo e o Miguel, que gostavam muito delas e com quem tinham combinado casar. Mas só quando fossem grandes, se ainda gostassem uns dos outros. A bruxa Mariana vivia sozinha numa torre escura do castelo, aonde ninguém se aventurava; e tinha muitos ciúmes das princesas. - Por que é que elas são felizes e têm namorados e eu vivo sozinha? Não é justo! – res-
mungava ela, olhando cá para baixo e vendo a alegria estampada nos rostos das três amigas.
A bruxa Mariana não era feia, como se podia ver nos raros momentos em que não se encontrava de trombas. Tinha uns olhos grandes amendoados e uma boquinha de cereja. Mas era mesquinha, má e mal-humorada e, por isso, não tinha amigos. E, porque não tinha amigos, pior ficava. E quanto pior ficava, menos amigos tinha. Era assim como a história do ovo e da galinha.
Naquele dia, estava pior do que nunca. Tinha visto as três princesinhas a brincar e a rir com os namorados e ficara ciumenta de morrer.
- Vou fazer uma poção que as transforme em sapos. – Disse ao seu morcego de estimação – Tão forte que ninguém vai ser capaz de desfazer o feitiço, nem que leve a vida inteira a tentar.
O morcego, pendurado pelos pés numa trave da cozinha, de cabeça para baixo, voltou a fechar o olho esquerdo que preguiçosamente abrira e mergulhou de novo no seu sono. A bruxa Mariana agarrou no livro de receitas de bruxarias, pôs o caldeirão ao lume, foi buscar uns ingredientes malcheirosos à dispensa e começou a cozinhar, enquanto cantarolava na voz mais desafinada do mundo: Agora, vou cozinhar Um chazinho apetitoso Que te irá transformar Num sapinho malcheiroso. - Bruxa Mariana, o que estás a fazer? – perguntou o papagaio careca, acabadinho de chegar da sua corrida matinal. A careca era o resultado de um púcaro de água a ferver que a bruxa lhe tinha despejado pela cabeça abaixo. Mas ele tinha jurado vingar-se, logo que pudesse.
- O que tens com isso? – respondeu-lhe Mariana, com ar ameaçador e colher de pau levantada. - Nada. – Disse ele, recuando dois passos. Mas isso cheira mal que se farta. Muito pior do que habitualmente. - Pois cheira, porque é dose reforçada. Aquelas princesinhas nem sabem o que lhes está reservado. Vou transformá-las em sapos horríveis até ao fim das suas vidas. Nem um batalhão de príncipes muito lindos a beijá-las,
todos ao mesmo tempo, conseguirão quebrar o feitiço. - Mas porquê? As meninas nunca te fizeram mal ou se meteram contigo. - Porque são lindas, felizes e têm namorados. E eu não tenho nada. - Somente porque tens mau feitio e tratas mal toda a gente que se aproxima de ti. - Cala-te já! E vou fazer outro feitiço que torne os rapazes meus criados para sempre. - E como vais fazê-las beber essa mistela? Elas são três… - o papagaio quis saber.
A bruxa estava tão feliz com a sua maldade que confiou o segredo: - Vou esperar que elas adormeçam, esta noite, e despejo-lhes a poção mágica em cima. É só tocar-lhes e transformam-se logo em sapos fedorentos. Eheheheh. - És mesmo uma bruxa malvada – disse o papagaio. - Pois sou. Com muito prazer. E agora deixame, porque tenho que fazer. Está bem! Está bem! Vou já. – disse ele, afastando-se.
«E vou vingar-me de ti, bruxa má», pensou com as suas penas.
Alheias ao que a bruxa Mariana preparava, as princesas brincavam às escondidas no jardim do palácio, quando o papagaio careca veio pousar no ramo de uma acácia. - Olá!… olá! – gritou com a sua voz rouca. Não gostavam dele, porque era maleducado. Às vezes, dizia palavrões muito feios, aos gritos. - Não lhe liguem, senão começa com as asneiras – disse a Júlia, baixinho.
- Princesas! Princesas! Escutem-me, por favor. - Vamos para outro local – sussurrou a Jéssica. E começaram a afastar-se.
Mas o pássaro voou por cima delas e veio pousar mesmo à sua frente. Parecia diferente desta vez, sério, como se algo importante ou grave se passasse. - Pela vossa saúde, escutem-me. Vocês correm grande perigo!
- Esperem! – disse Anastácia, pensativa. – Vamos ouvir o que nos quer dizer. - Que se passa? – perguntaram as três em coro.
- Vocês estão em perigo – a frase saiu num sussurro, como se tivesse medo de ser ouvido pela bruxa. - Estás a brincar? – gritaram as princesas em coro. – Explica-te! - Chiu… ela pode ouvir…
O tom em que a ave disse a frase, olhando de soslaio para o alto da torre, assustou as jovens. - Que se passa? – perguntou a Júlia. - Tem a ver com a bruxa Mariana? – quis saber a Anastácia.
- Tem e, desta vez, é muito mau mesmo. As princesas sentiram um calafrio percorrerlhes o corpo da cabeça aos pés. Que andaria a bruxa a preparar?
O papagaio careca contou-lhes rapidamente o que a bruxa estava a cozinhar e voou logo de volta à torre, não fosse Mariana dar por falta dele e desconfiar de que viera avisar as princesinhas..
As meninas estavam em pânico, sem saber o que fazer. E foram a correr contar aos namorados, que também ficaram muito aflitos. De repente, o Alexandre teve uma ideia:
- E se colocassem os travesseiros na cama, a fingir que eram vocês, e se escondessem no guarda-vestidos? Todos aplaudiram. E o Miguel acrescentou: - Como ela vai entrar com o quarto às escuras, a gente atravessa uma corda no caminho. Assim, ela tropeça, cai e derrama a poção. - Boa! – exclamou o Bernardo. – E podemos prendê-la e correr com ela do reino. Ou prendê-la num local sem panelas nem mistelas para fazer magia.
- Uáu! Que fixe! – exclamaram todos em coro. E logo começaram a preparar os detalhes da operação, como grandes generais. Sim, porque não podia falhar nada.
Durante a tarde, enquanto os outros brincavam ruidosamente para distrair a bruxa, a Júlia e o Alexandre meteram-se no quarto das princesas e começaram a preparar a armadilha para a Mariana má.
Primeiro, colocaram travesseiros na cama e cobriram-nos com cobertores. Com a luz suave da lua a entrar pela janela, ninguém diria que não eram pessoas a dormir. Depois, arrumaram muito bem as roupas no guarda-vestidos, de modo a encontrar espaço para as princesas. A última coisa a fazer foi esticar a corda a um palmo do chão, no meio do quarto, para derrubar a bruxa. Voltaram a sair sorrateiramente e juntaramse aos outros. - Já está! – avisaram. E continuaram a brincar, como se nada se passasse. O sol foi deitar-se no horizonte, a poente, embrulhado num edredão de tonalidade laranja, com uns salpicos de azul, vermelho e amarelo. Se alguém olhasse com atenção, o que pouca gente faz, descobriria lá no meio uns pontos esverdeados muito interessantes.
Ao mesmo tempo, a nascente, a lua começou a erguer-se lentamente, espreguiçandose e espalhando a sua luz prateada sobre os campos e as cidades. A bruxa Mariana, do alto da torre, vigiava atentamente os aposentos das princesinhas, procurando o momento exato para atuar. Tão preocupada se encontrava a ver se a luz do quarto se apagava, que nem tirou prazer da beleza da lua cheia, redondinha como uma bola, a erguer-se num céu sem nuvens.
As princesas espreitavam, uma de cada vez, por uma pequena fresta. Viam a silhueta da bruxa na janela da torre e riam-se, meio nervosas, meio divertidas. Até que decidiram apagar a luz, para ver o que acontecia. Escondidos no quarto oposto, os três rapazes aguardavam com impaciência. A seu lado, no chão, havia um saco muito grande. Assim que a luz se extinguiu no quarto das princesas, a bruxa montou a vassoura e fez um voo picado desde a torre até ao pátio do palácio, onde a escondeu debaixo de uma árvore. Pé ante pé, dirigiu-se ao quarto das meninas, com um grande jarro de poção nas mãos.
Chegou à porta e escutou durante algum tempo, para se assegurar de que as meninas dormiam. Não ouvindo qualquer ruído, abriu vagarosamente a porta e espreitou. A luz da lua espalhava-se pelo aposento, mostrando os vultos imóveis nas camas. Entrou sorrateiramente, segurando o jarro com ambas as mãos, junto ao peito. Parou um segundo, respirou fundo e avançou rapidamente, a fim de terminar a tarefa.
Mas não conseguir dar mais do que duas passadas. À terceira, tropeçou na corda e
estatelou-se do chão com grande ruído. O rei acordou com o enorme barulho e veio a correr, de pijama e espada na mão, seguido pela sua guarda pessoal. - Que se passa aqui? – quis saber, assustando toda a gente com o seu vozeirão.
As princesas contaram a história e o rei decidiu castigar a Mariana, atirando-a para as masmorras. Mas ela chorou e pediu perdão,
dizendo que só fazia aquelas maldades porque se sentia sozinha e ninguém gostava dela. - A culpa é toda tua! – disse o monarca em tom severo. – Como é que queres que alguém goste de ti, do modo como te comportas? Tu fazes tudo para as pessoas te detestarem e se afastarem de ti. A Mariana prometeu que, se lhe dessem uma oportunidade, mudaria e tornar-se-ia boazinha. As três princesas e os três meninos pediram então ao rei que não a castigasse, porque eles iam ajudá-la a mudar de comportamento. O rei acedeu, mas avisou a Mariana de que, se não mudasse, seria expulsa do reino. Do dia para a noite, a Mariana mudou completamente, tornou-se boa e caridosa. A beleza da sua face veio à tona e até já arranjou um namorado loirinho, lindo e amoroso.
A primeira boa ação foi transformar o sapo novamente em candeeiro, terminando o clima de terror entre a população. Depois, colocou cabelo na careca do papagaio, que não para de saltar de contente. Destruiu os caldeirões e os livros de receitas de feitiços. Mudou-se da torre para um quarto junto ao das princesas e todos vivem muito felizes, no Reino Rosado.
FIM