Gilberto Freyre e o Estado Novo

Page 1

Prefácio

G

ustavo Mesquita aborda uma questão pouco discutida entre os estudiosos da obra de Gilberto Freyre: a relação entre o sociólogo e o governo Vargas. A obra de Freyre sugere uma nova percepção de região que se apresenta como alternativa à costumeira crítica ao estadualismo e ao domínio oligárquico. A partir da Revolução de 1930, nota-se um novo modo de gestão do passado: a experiência republicana rapidamente recebeu a alcunha de velha e o regime federativo foi gradativamente golpeado até a decretação do Estado Novo. O novo tempo visava ao passado como ruína e apresentava o futuro como obra de soerguimento da nacionalidade fundada na ação racional do Estado, longe de qualquer vínculo com o mando oligárquico. Distante do passado recente, o novo regime valorizou a cultura popular e a tradição dos vultos nacionais que remontava ao tempo do império. Nessa direção, o governo estadonovista encontrou na obra de Gilberto Freyre um repertório analítico que ia ao encontro de suas aspirações. O regionalismo de Freyre era avesso ao estadualismo e, ainda na década de 1920, se voltava para a defesa das tradições locais, da culinária e da cultura nordestina como manifestações genuínas da cultura nacional. A tradição nacional remontava a uma experiência histórica que teve como berço o Nordeste, mas sua diferenciação não provocou desequilíbrios de monta que sustentassem os rompantes separatistas. O regionalismo, como fenômeno cultural, expressa uma dimensão particularista, entretanto, harmonizado, representaria a nação como forma de sentimento. A reflexão de Gustavo Mesquita tem uma dimensão mais pragmática. O regionalismo de Gilberto Freyre alcança outra perspectiva: o controle das disparidades regionais, sobretudo com a atuação do empresariado nordestino na produção sucroalcooleira, que causava a estagnação da economia canavieira pernambucana, ou mesmo a disparidade resultante da concentração econômica em São Paulo, resultante do plantio de café. Nessa direção, o presente trabalho adentra na ação do governo Vargas com a criação do Instituto do Açúcar e Álcool e indica a lógica e a eficácia da ação contemporizadora do governo Vargas em ações como a Marcha para Oeste, o Estatuto da Lavoura Canavieira, a regionalização da administração pública e até mesmo a limitação da política trabalhista ao operariado urbano.

15 Gilberto Freyre e o estado novo_miolo_fonte 10x13_mancha maior.indd 15

1/17/18 10:10 AM


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
Gilberto Freyre e o Estado Novo by Global Editora - Issuu