Capítulo 1
Não entendo como um lugar pode ser hostil, uma qualidade tão humana, mas é como sinto esta cidade. Desde a primeira vez que vim aqui sozinha visitar meu pai, este lugar horroroso me olha com descon‑ fiança. As ruas com jeito de armadilhas, os bares onde entrei e que me repeliram, as árvores das pra‑ ças, todas prestes a desabar por cima de mim. E o cheiro, este cheiro que não se define porque é mistu‑ ra das emanações de todos os detritos da cidade com os odores que sobem do rio. Uma cidade com alma humana, feia e rancorosa, uma cidade com humor de velha entrevada. Não gosto de vir aqui e não é por vontade que o faço, mas por necessidade, e acredito que seja esta a última vez. Agora, por exemplo, me sinto observada, quer dizer, espionada por coisas e pessoas. Em parte, a cul‑ pa por estar sentada dentro do carro esperando é mi‑ nha. O advogado me disse que ele estaria livre às nove 7