O anel encantado
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I
figênia tinha o cabelo louro como o trigo e olhos mais azuis que o lago de Constanza. Caminhava descalça à beira d’água. Era pálida e leve. Parecia feita de ar. O imperador Carlos Magno a viu e se apaixonou por ela. Ele já era um homem velho e ela, apenas uma moça. Mas o imperador apaixonou-se perdidamente e logo esqueceu seus deveres de soberano. Os nobres da corte estavam muito preocupados porque nada mais interessava a Carlos Magno. Nem dinheiro. Nem caçadas. Nem guerras. Nem batalhas. Só a moça.
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Apesar do amor, Ifigênia morreu em uma tarde de abril cheia de pássaros. Os nobres da corte respiraram aliviados. Afinal o imperador se ocuparia das suas terras, da sua guerra e de suas batalhas. Mas nada disso aconteceu, porque o amor de Carlos Magno não havia morrido. Mandou levar para o seu quarto o cadáver embalsamado da moça. Não queria separar-se dele. Assustado com essa paixão macabra, o arcebispo do império suspeitou um encantamento e foi examinar o cadáver. Morta, Ifigênia era tão bonita como quando caminhava descalça junto ao lago de Constanza. Examinou-a dos pés à cabeça. Debaixo da língua dura e gelada, encontrou um anel com uma pedra azul. O azul daquela pedra lhe trouxe lembranças do lago e do mar distante.
O arcebispo tirou o anel que estava escondido debaixo da língua. Nem bem o tomou nas mãos, Carlos Magno enterrou o cadáver. E se apaixonou pelo arcebispo. O arcebispo, constrangido e sem saber o que fazer, entregou o anel ao seu assistente. Nem bem o assistente o tomou nas mãos, Carlos Magno abandonou o arcebispo. E se apaixonou pelo assistente. O assistente, aturdido por essa situação embaraçosa, entregou o anel ao primeiro homem que passava. Nem bem o homem o tomou nas mãos, Carlos Magno abandonou o assistente. 14
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E se apaixonou pelo homem. O homem, assustado por esse amor estranho, começou a correr com o anel na mão, e o imperador atrás dele. Até que cruzaram com uma cigana e o homem lhe entregou o anel. Nem bem a cigana o tomou nas mãos, Carlos Magno deixou de perseguir o homem. E se apaixonou pela cigana. Mas a cigana deixou cair o anel na água. Nem bem a água recebeu o anel no seu leito, Carlos Magno abandonou a cigana. E se apaixonou pelo lago de Constanza junto ao qual Ifigênia caminhava descalça.
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