Gilberto Freyre* Uma introdução a Casa‑grande & senzala
... nossa tarefa máxima deveria ser o combate a todas as formas de pensamento reacionário. Antonio Candido
Gilberto Freyre tem uma característica com que simpatizo muito. Como eu, ele gosta que se enrosca de si mesmo. Saboreia elogios como a bombons, confessa. Sendo esse seu jeito natural, em torno dele se orquestra um cul‑ to que Gilberto preside contente e insaciável. Apesar de mais bada‑ lado que ninguém, é ele quem mais se badala. Abre seus livros com apreciações detalhadas sobre suas grandezas e notícias circunstan‑ ciadas de cada pasmo que provoca pelo mundo afora. E não precisava ser assim. Afinal, não é só Gilberto que se admi‑ ra. Todos o admiramos. Alguns de nós, superlativamente. Guimarães Rosa, o maior estilista brasileiro, nos diz que o estilo de Gilberto já por si daria para obrigar a nossa admiração. Mestre Anísio, o pen‑ sador mais agudo deste país, nos pede que antecipemos a Gilberto a grandeza que o futuro há de reconhecer nele, porque ficamos todos mais brasileiros com a sua obra.1 Fernando de Azevedo, falando em nome da * Prólogo à edição venezuelana de Casa‑grande & senzala, publicada em 1977, no âmbito da Biblioteca Ayacucho, projeto editorial levado a cabo nas décadas de 1970 e 1980, o qual verteu para a língua espanhola uma série de livros clássicos concernentes à literatura, cultura e artes plásticas brasileiras. (N. E.) 1 Cito grifando porque enjoei das aspas. 11
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