Organização Geral Gisele Jacques Holzschuh Maristela Andréa Teichmann Bazzan
Organização Clides Aliande Loreto Pereira Romário Volk
Autores Alunos do 1º, 2º e 3º anos Curso Técnico em Eletromecânica, Modalidade PROEJA - CTISM Santa Maria, RS - 2017
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Reitor Paulo Afonso Burmann Vice-Reitor Paulo Bayard Dias Gonçalves Coordenadoria de Educação, Básica, Técnica e Tecnológica – CEBTT Luiz Fernando Sangói Colégio Técnico Industrial de Santa Maria – CTISM Diretor Luciano Caldeira Vilanova Vice-Diretor Marcelo Freitas da Silva Centro de Artes e Letras – UFSM Diretor Pedro Brum Santos Vice-Diretor Cláudio Antonio Esteves Núcleo de Técnologia a Distância – CTISM Coordenação Institucional Paulo Roberto Colusso/CTISM Coordenadora Adjunta Erika Goellner/CTISM Curso Técnico em Eletromecânica, modalidade PROEJA - CTISM Coordenadora Alexsandra Matos Romio L ablínguas – CTISM Coordenadora Milene Vania Kloss Coordenadora Substituta Maristela Andréa Teichmann Bazzan Projeto Gráfico e Diagramação Emanuelle Shaiane da Rosa Arte de Capa e Ilustração Augusto Zambonato Ficha catalográfica elaborada por Alenir Goularte - CRB-10/990 Biblioteca Central da UFSM R438
Retratos do que vejo / organização geral Gisele Jacques Holzschuh, Maristela Andréa Teichmann Bazzan ; organização Clides Aliande Loreto Pereira, Romário Volk; autores alunos do 1º, 2º e 3º anos, Curso Técnico em Eletromecânica, Modalidade PROEJA – CTISM . – 1. ed. – Santa Maria : UFSM, Colégio Técnico Industrial de Santa Maria: UFSM, CAL, 2017. 96p. ; 21 cm ISBN 978-85-9450-034-2 1. Literatura brasileira 2. Literatura hispano-americana 3. Produção textual I. Universidade Federal de Santa Maria. Colégio Técnico Industrial de Santa Maria. Curso Técnico em Eletrônica. Modalidade PROEJA II. Holzschuh, Gisele Jacques III. Bazzan, Maristela Andréa Teichmann IV. Pereira, Clides Aliande Loreto V. Volk, Romário CDU 82-82 Copyright © Todos os direitos reservados à Universidade Federal de Santa Maria.
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 7 A BELA LIÇÃO DO PROEJA 8 1º ANO - TURMA 328 11 O trânsito e seus elogios 13 A compreensão é o que faz a diferença 14 A alegria de viver 16 De sempre, para a eternidade 17 Encontro com sua guerreira 18 Atualidade ou não 19 Ponto de vista 20 O pequeno grand e homem 22 Estar com quem amamos é a melhor rotina 24 Modificando sonhos 26 Geraldo e suas limitações 28 Um dia com Marcos Antônio 29 Achado não é roubado 31 Velhice e solidão 32 Buracos nas rodovias mudam nosso destino 33 Como vejo meus dias 34 As crianças nos ensinam 35 Estudar não é ruim: ruim é deixar de tentar 36 Saída à noite 38 Uma turma presente 40 Rios poluídos 41 Um dia poderá ser tarde 42 Anseios 43
2º ANO - TURMA 348 45 Surpresas de uma vida fragmentada 46 El anillo 75 El giro 76 Accidentado 77 Puerta de la vida 78 Accidentes de una vida de pareja 79 El dolor de la verdad 80 Amistad 81 Espera 82 Equívocos de la vida 83 3º ANO - TURMA 368 85 O país da “ficção” 87 Que dor é essa? 88 O tempo passa 89 O soldado 90 A natureza 91 Levem os fardos uns dos outros e, assim 92 Dúvida existencial 93 O que nos resta 94 SOBRE O PROEJA 96 CARTA DO DIRETOR 98
APRESENTAÇÃO
A presente obra é uma coletânea dos textos produzidos pelos alunos
do Curso Técnico em Eletromecânica do Programa Nacional de Integração da Educação Básica com a Educação Profissional na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA), do Colégio Técnico Industrial da Universidade Federal de Santa Maria (CTISM). Esses textos são o resultado da produção escrita desenvolvida na área de Linguagens Códigos e suas Tecnologias, sob orientação das professoras Gisele Jacques Holzschuh e Maristela Andréa Teichmann Bazzan e dos professores em formação Clides Aliande Loreto Pereira e Romário Volk, no segundo semestre de 2017.
“Retratos do que vejo” apresenta um olhar acerca do cotidiano
construído através de diferentes gêneros textuais: a crônica, a narrativa curta, o microconto e o poema, produzidos em Língua Portuguesa e Língua Espanhola. Mais do que um exercício de escrita, este trabalho oportuniza o ir além do acesso e permanência na escola, permite que os alunos possam ressignificar a produção do conhecimento por meio da leitura, da escrita e da cultura, contribuindo assim para que os alunos do PROEJA e os professores envolvidos afirmem-se como sujeitos autores da própria história.
Esperamos que desfrutem dessa leitura e, assim como os autores
dessa obra, sintam-se motivados a retratar o que veem. A Organização.
A BELA LIÇÃO DO PROEJA
Uma vez perguntaram ao grande músico Louis Armstrong o que era jazz,
e ele teria rebatido de pronto: “Se você precisa perguntar, não vai entender nunca”.
Na escola, o desafio de ensinar a ler e a escrever, de transmitir o
conhecimento disciplinar, é mais ou menos semelhante ao problema supostamente levantado por Armstrong, que podemos resumir com a seguinte pergunta: como se pode ensinar com eficiência?
Os casos da leitura e da escrita são paradigmáticos. Ambas possuem um
apelo heurístico, isto é, trata-se de algo em que o sujeito chega à verdade por seu próprio meio, como uma forma aberta para o mundo da vida. Um texto tem em si a força de descoberta e aquisição do conhecimento, pois sua energia própria lhe permite um relacionamento estreito com o estabelecimento do indivíduo na sociedade e no universo.
Mais do que saber disso, o aluno precisa, de fato, sentir isso. E esse é um
grande desafio para a escola. Mais do que instituição inclinada ao ensino, cada vez mais, a escola é o lugar da formação geral de crianças, jovens, adolescentes e adultos. Em um mundo conectado em tempo integral e sem limites, cobra-se da escola a imposição de paradigmas que sejam exemplares dos bons usos e dos bons costumes. Isso tudo ante um quadro de precarização institucional.
Como se pode ensinar com eficiência? Um caminho seguro é engajar
professores e alunos em torno de objetivos comuns. Nesse sentido, parabéns à equipe do CTISM e à incorporação maravilhosa que tem alcançado com os alunos do PROEJA (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos). A modalidade é ofertada desde 2007 e, nesse Colégio, além de sua finalidade técnica, tem somado preocupação com a formação geral. O presente volume – que reúne textos produzidos por alunos do Proeja, é exemplo vivo desse esforço.
Parabéns a alunos e professores! O esforço de vocês é vitória de todos nós.
É vitória da escola no sentido amplo do termo. Quando Armstrong sugeriu que o jazz é para ser ouvido e não explicado, talvez ele simplesmente quisesse dizer que nenhuma explicação se iguala à experiência. Diante do aluno, o desafio do professor é exatamente da mesma ordem, porque, antes do conceito, é preciso sensibilizar corpos e mentes para a boa causa do ensino e da aprendizagem. Como vocês estão fazendo no CTISM através de iniciativas como esta. Pedro Brum Santos
Doutor em Letras, Professor Titular UFSM Diretor do Centro de Artes e Letras - CAL - UFSM
1º ano - turma 328
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O trânsito e seus elogios
Mais um dia e aqui estou, no trânsito nosso de cada dia, logo cedo da
manhã me perguntando: poxa, ninguém vai me dar a vez? Preciso passar, vou me atrasar de novo para o trabalho... Ah, mas uma hora eles vão precisar... E sigo em frente, com minha maneira “educada e gentil” de dirigir.
Logo à frente, vejo uma travessia de pedestres, não consigo parar a tempo
e, por pouco, não atropelo um ciclista. E lá vem o cara da bike, cheio de carinho me fazer “elogios”: p#*???!!!! Vá se ferrar, você não olha por onde anda?
É... Por mais gentil que você seja, ninguém é perfeito. No trânsito, tenham
todos calma. Todos nós temos pressa, mas também o mesmo direito de trafegar. Só não venham parar na minha frente, seus “pé de break”, seus #*!!! Ahh, me deixem passar, que estou cheio de pressa e não posso perder o futebol com a rapaziada. Alexandre Machado de Paula
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A compreensão é o que faz a diferença
Era um sábado um pouco nublado quando Anderson resolveu levar seu
sobrinho Leonardo para passear.
Léo tem nove anos e é autista. Alegre, cheio de energia, adora água. Por
isso os dois foram até uma barragem, perto de um parquinho, em meio à natureza, lugar ótimo para brincar e observar a paisagem.
Lá, os dois encontraram patinhos e peixinhos pulando na água, muitas
árvores grandes e natureza exuberante. Leonardo se encantou com os peixes e queria entrar na água para tentar pegar um, mas o dia estava frio e o tempo para chuva.
Depois de algum tempo, os garotos encontraram o amigo Raphael.
Rapha também é primo de Léo, os dois se dão muito bem, e por isso ficaram ali brincando, observando a água, percebendo que, de vez em quando, um peixe pulava para o alto.
Rapha e Léo têm realmente muita afinidade. Léo, com seu jeito especial,
às vezes se distraía com algumas coisas simples, um galho de árvore, e deixava Raphael de lado, mas como os dois se entendem muito bem, Rapha sabe que Léo, às vezes, se perde em seus pensamentos e por isso respeita esse momento. Depois de alguns instantes, Rapha voltou a chamar Léo e os dois voltaram a brincar. Os dois brincam juntos desde bem pequenos. Rapha entende que Léo é especial e tenta inseri-lo nas brincadeiras para que possam se divertir juntos.
Não é fácil crianças como Léo serem aceitas em ambientes sociais por
outras crianças e até mesmo por pessoas adultas. Anderson também entende a importância desses momentos para Léo e gosta muito de levá-lo para passear, pois o menino tem um carinho imenso por seu tio e seu tio, por ele.
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Anderson estava sentado perto dos outros dois garotos, cuidando deles,
percebeu que o clima estava mudando e não demoraria muito para a chuva começar, então chamou Léo para que fossem embora. Os dois despediram-se de Rapha e voltaram para casa, pois já tinham se divertido muito. Antes da chuva começar, eles já estavam em casa novamente.
Ao chegar em casa, Anderson começou a refletir sobre tudo e pensou
como é importante que existam no mundo pessoas como Rapha, que brincam e têm paciência para entender que pessoas como Léo têm seu jeito diferente, mas se forem tratadas com amor e carinho conseguem brincar e demonstrar seus sentimentos. Léo é um menino agitado e as pessoas não costumam entender que ele tem seu jeito diferente, que é uma criança incrível, por toda sua pureza e o amor nos seus gestos. Anderson da Costa
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A alegria de viver
Observando como as pessoas passam o dia, deparo-me com várias perso-
nalidades: estressadas, tímidas, sérias... uma delas chama minha atenção.
Rui, marceneiro em minha empresa, está todos os dias rindo, brincando
e tentando deixar os colegas bem humorados, e age assim com todas as pessoas que cruzam o seu caminho. Mas, como é possível... Ele não tem problemas?
Perguntei a ele:
- Como consegue manter sempre o bom humor?
E ele me respondeu:
- Nessa vida, tudo é passageiro. Por que perder tempo com outros sen-
timentos que não a alegria? Tudo na vida tem seu lado bom, e eu aproveito isso. A vida que pode nos apresentar situações difíceis, como a perda de um ente querido, deixa-nos mais fortes, cientes de que há coisas que não podemos evitar. No trabalho, às vezes, perdemos uma ferramenta, por causa disso criamos outras, até melhores.
Pensar o lado bom das coisas faz a pessoa mais otimista, feliz, e essa é a
alegria da vida: enxergar o bom, o bem em tudo, porque ela passa rápido demais para perdermos tempo com pensamentos negativos. Bruno Domingues Melo
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De sempre, para a eternidade
Quanto tempo temos? Algumas horas ou minutos...
É isso que separa minha presença da sua ausência. Seus batimentos dimi-
nuem, seus olhos vão se fechando aos poucos e em minha mente sinto o seu último latido ecoando por toda aquela pequena sala onde estávamos. A saudade de chegar no quarteirão de casa e já lhe escutar latindo, pronto para brincar...
Em alguns momentos meu coração aperta ao saber que não vou mais ter
o confidente, pra quem eu desabafava diariamente, e mesmo sabendo que não iria falar nada, você demonstrava me entender. A cada aperto no peito vem uma lembrança de quando quebrava algo e eu tinha que limpar e, por isso, brigávamos muito... Os canteiros de flores em que você fazia questão de tirar tudo do lugar...
Sinto sua falta, meu amigo, e isso não tem fim. Esses poucos minutos que
tivemos antes da sua partida ficarão para a eternidade em minhas recordações.
Hoje, se vejo um cão com aparência semelhante à sua, me vem aquela
forte e dolorosa saudade. Nunca imaginei que essa ausência me ensinaria tanto sobre a verdadeira amizade entre um cão e um homem.
Ame seu “pet”, pois quando ele partir será tarde pra isso. Bruno Lino
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Encontro com sua guerreira
Em meio à correria do dia a dia, surgiu você na minha vida. Foi chegando
de mansinho, conquistando-me com sua conversa sobre como era sua rotina e sobre as coisas que mais gostava de fazer. Foi chegando para ficar.
Quem ouve nossa história pode chegar a imaginar que é invenção, mas
não imagina que começou com a simples pretensão e ousadia de duas pessoas querendo fazer algo acontecer, algo sólido e cheio de sentimentos. Um simples convite para bailar durante uma noite de verão se transformou em uma família. Uma paquera se tornou amor. Uma história onde dois seres humanos estão sujeitos a falhas, que não é nenhum conto de fadas, já que ninguém é perfeito.
A você, que está do meu lado, que me ajuda a construir uma família cheia
de amor, obrigado por me presentear todos os dias com seus carinhos e defeitos, porque ninguém é perfeito. Obrigado por se mostrar humana e não uma mulher maravilhosa, fazendo-me enxergar minhas falhas e ajudando a superá-las. Eu agradeço todos os dias da minha vida por ter alguém com quem eu posso compartilhar e aproveitar momentos felizes, como quando resolvemos passear e saímos para nos divertir com amigos e familiares. Agradeço todos os dias por poder contar com essa pessoa para “segurar as pontas” e as “barras” nos momentos difíceis, além dos momentos bons. E assim, ninguém “faz sombra” para ninguém. Trabalhamos para alcançar várias conquistas, ajudando-nos um ao outro. É bem melhor uma conquista conjunta do que a doce ilusão de uma vida perfeita.
Nesse mundo em que vivemos, bem melhor poder contar com você,
guerreira. Cláudio Borck
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Atualidade ou não
Quando ligo o televisor e vejo notícias de roubo e mais roubo, morte,
assaltos e tragédias, a única sensação que tenho é de impunidade. Políticos roubando, policiais matando inocentes, pessoas se matando por celulares, ou por coisas mais fúteis como, por exemplo, relógios ou até mesmo não tendo um motivo concreto.
Será que a humanidade está perdida? Observação: sempre tem uma luz no
final do túnel. Com tanta gente nesse mundo, ainda existem pessoas boas em quem se pode confiar, ajudando o próximo no dia a dia, realizando trabalhos voluntários, ou até mesmo com um olhar, um sorriso ou uma palavra de carinho.
Uma solução para tanta tragédia seriam punições mais severas para aque-
les que realizam atos que prejudicam o seu próximo ou a si mesmo. Enfim, todos nós, e quando me refiro a nós, refiro-me a toda humanidade, se nos uníssemos, conseguiríamos um mundo melhor, sem tanta violência, mais amor pelo próximo, não tendo tanta individualidade e rivalidade entre as pessoas. Dionatas Ribas Marconatto
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Ponto de vista
Nunca fui apegado a detalhes, mas num dia qualquer, andando perto
da minha casa, observei que dentro de um container havia um homem e, perto dele, seus dois filhos. Um dos meninos carregava uma sacola com alguns papelões e o outro, menor, ficava brincando com um brinquedo quebrado que deveria ter ganhado de alguém.
Seu pai, dentro do container, alcançava alguns materiais ao filho maior, que
os depositava em um carrinho. Por um momento pensei: Por que um ser humano, em sã consciência, estaria disposto a colocar-se em perigo, em um cubículo totalmente fechado, somente com o espaço da tampa aberto o suficiente para a retirada de materiais? Eu, quando coloco o lixo em um local desses, mal consigo permanecer muito tempo com a tampa aberta, pelo mau cheiro que sai daquele local... Como um homem, em sã consciência, disputa o lugar com ratos e outros animais nocivos à saúde, com materiais como vidros, pontas de metal, madeira com pregos que as pessoas descartam sem o mínimo receio de que alguém possa se machucar? Materiais que podem ferir a pessoa que, humildemente, se dispõe a reciclar, tentando sobreviver disso, correndo o risco de ser compactado por máquinas-robôs que não se importam se há alguém lá dentro?
Observando a situação que presenciei, poderíamos pensar que tal indivíduo,
disposto a arriscar a sua saúde, não estaria em seu estado normal, ou até mesmo poderia estar alterado pelo uso de álcool ou de algum tipo de droga. Mas, vendo esse homem em seu “local de trabalho”, eu tentava me colocar em seu lugar e entender os motivos para tal “loucura”. Foi, então, que observei seus filhos, que olhavam para seu pai saindo do container. Não olhavam para ele com desprezo por verem que ele estava em tal condição. Ao contrário: Era um olhar de orgulho
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e admiração, como se aquele homem fosse um herói. Percebiam com sua pouca idade que o pai se sujeitava a tais intempéries buscando uma saída para garantir o sustento da família.
Hoje não tenho filhos, mas se algum dia meus filhos me olharem com
aquele olhar de admiração, tenho certeza de que serei o homem mais rico do mundo, como aquele trabalhador que, ao tirar seu sustento do lixo, tornou-se herói aos olhos de seus filhos. Fernando Cacenot
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O pequeno grande homem
Num dia de muita chuva, sentado sobre uma árvore, Arthur cantarolava
uma velha música que havia aprendido com seu avô, enquanto esperava a chuva passar, para voltar para casa. Mal sabia ele que, dali a alguns minutos, tudo iria mudar e uma grande história estava prestes a se iniciar.
Depois que a chuva parou, o menino decidiu seguir seu caminho, mas
quando chegou na estrada sentiu uma forte pancada na cabeça e desmaiou. Depois daquele instante, só acordou no outro dia, sem saber o que estava acontecendo.
Quando o menino acordou, notou que estava amarrado em uma cadeira
e um homem, de aparência velha e com um rifle na mão, estava parado na sua frente. Então o garoto gritou:
- Quem é você?
- Seu maior pesadelo!
- Como eu vim parar aqui?
- Eu te sequestrei, e agora você será o meu escravo.
O pobre menino estava em uma construção antiga, com vários outros
meninos, que trabalhavam em uma plantação de cana-de-açúcar, no interior do Acre. Um dos meninos disse a Arthur que agora ele seria um escravo também e nunca mais seria livre. Arthur, ao ouvir aquilo, ficou em estado de choque, mas ao mesmo tempo tentava se acalmar. Ele era pequeno ainda, mas tinha uma coragem de leão e, mesmo com muitos problemas, estava disposto a lutar até o fim. Ele sabia que seria difícil escapar daquele lugar, mas não estava disposto a desistir e, mais do que isso: queria salvar os outros, porque ele era um pequeno grande homem.
De repente, ele acordou. Tinha sido tudo um sonho! O que ele nunca
mais esquecerá é que devemos resistir. Mesmo quando o mundo estiver desabando
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sobre nossa cabeça, é preciso se manter forte e inabalável, sem recuar, porque a vitória é sempre certa! Flávio Henrique Braz Vieira
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Estar com quem amamos é a melhor rotina
Meu dia começa logo cedo. Ao acordar, já penso no que vou fazer durante
o dia. Levanto da cama, visto o fardamento e saio para o meu trabalho de moto, como todos os outros dias.
Chegando ao trabalho, vejo meus colegas, cumprimentamo-nos e vou
para minha seção. Vejo meu chefe e conversamos sobre as tarefas que terei que realizar no dia. Eu assumo a parte de controle de viaturas e dos abastecimentos, algo que às vezes é corrido, mas em outras, é calmo. Aí, sempre que sobra algum tempo durante o dia, na repartição, meus colegas e meu chefe debatem muito sobre a política, falam sobre como as coisas poderiam melhorar em nosso país, e que se todos nós tivéssemos mais tempo para dar atenção à política, ela seria melhor.
Quando acaba o expediente, pego minha moto e vou para casa dar um
“oi” para meus avós, que são tudo para mim, e sempre que sobra um tempo estou com eles. Ao chegar em casa, tomo um café e já saio para a aula. Nessas horas, indo para aula, o trânsito está quase sempre lento, e eu demoro uns trinta minutos para chegar.
Quando volto para casa, depois da aula, o trânsito está mais tranquilo, mas
volto sempre muito cansado da rotina, porque de segunda a sexta é essa “correria boa, mas cansativa” que todos nós temos, uns trabalhando e outros estudando, com deveres de casa, mas a vida é assim mesmo, meio rotineira.
Aos finais de semana, quando estou por casa, procuro aproveitar para
descansar e, principalmente, ver meus amigos, porque durante a semana fica difícil encontrá-los. Sempre que me encontro com eles a diversão é garantida, aproveitamos ao máximo o tempo em que estamos juntos, bebendo algumas cervejas e jogando conversa fora, ou indo ao rodeio, que acontece quase todos os finais de semana.
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E quando percebo, já acabou o domingo, e tenho que me preparar para a volta da semana, e toda a correria de novo.
Essa é minha rotina. A cada dia procuro melhorar mais, para viver melhor
e estar com meus amigos e familiares, porque eles são um dos bens mais preciosos que alguém pode ter na vida. Guilherme Almeida de Souza
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Modificando sonhos
Sou uma pessoa apaixonada por carros, porém não na sua forma original.
Gosto de modificá-los completamente, sua parte estética, como rodas, suspensão, altura, som, deixar como eu gosto. É algo importante para mim, e não questão de ser uma criança ou “piá”, como muitos falam. Não é “carro de piá”. Carro, para mim, é um estilo de vida, uma forma de deixar minha vida mais agradável de ser vivida.
Convivemos com muito preconceito por conta desse modo de viver, pois
muitas pessoas não gostam e nos chamam de “abobados”, palhaços, dizem que “gostamos de aparecer e jogar dinheiro fora”. Quando passo por esses momentos, prefiro não ligar e tento defender minha ideologia de vida e prazer, pois o importante é eu estar feliz. Como já falei, é um amor, uma paixão, sem explicação, só quem está nesse meio sabe do que estou falando.
Já tive inúmeros carros, mas um dos que mais me chamou a atenção foi
um Pálio 2010,1.0 Fire, preto, com rodas maiores, pretas grafitadas, rebaixado. Até aí tudo bem, o que chamou minha atenção foi que ninguém acreditava que poderia transformá-lo num turbo... Isso mesmo! Um Pálio 1.0 turbo! Como sou mecânico, eu mesmo montei o projeto, e isso me fez pensar que assim como o carro, precisamos fazer um planejamento para poder realizar nossos sonhos, assim como com nossos carros, precisamos sonhar na vida, planejar e realizar, para poder colocar em prática, como depois de meses eu realizei o meu sonho, e o coloquei em prática. O carro ficou forte como planejei e gosto de dirigi-lo, assim como gosto de dirigir meus sonhos. Porém, como tudo na vida, tive alguns imprevistos, quebrei o motor algumas vezes até acertar, mas o resultado final foi muito bom, trazendo-me muita alegria.
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Com o tempo, acabei vendendo o carro, pois cheguei ao limite, não teria
mais o que modificar, perdendo a graça e o envolvimento de poder personalizar algo mais nele. É como a vida... precisamos mudar para continuar lutando pelas coisas que queremos, esta luta é o que nos move no dia a dia, para corrermos atrás de nosso sonhos.
Hoje em dia estou com um Volkswagen Saveiro G4 branco, já fiz algumas
modificações, rodas maiores, suspensão rebaixada, som externo, já estou planejando transformá-lo em turbo.
Sou feliz dessa maneira, muitas pessoas não gostam, mas têm outros
hobbies: jogar futebol, fazer trilha de moto. Não critico, pois cada um tem seus gostos, e minha paixão vai continuar sendo sempre modificar os carros que adquiro.
Se você tem um sonho e alguém lhe critica, siga em frente, e as críticas,
use-as para fortalecer seus planos e conseguir realizar seus sonhos.
Iuri Lazzarotto
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Geraldo e suas limitações
Geraldo teve paralisia infantil quando criança. Ele tem limitações do lado esquerdo
do corpo, mas isso não o impede de trabalhar. Desempenha a função de servente de pedreiro, “serviços gerais” como muitos dizem, ele é muito esforçado em todas as tarefas que lhe são propostas e é goleiro em um time de futebol de amigos. Como cidadão, ele contribui com a sociedade, pagando seus impostos e, como pai de família, ele tenta ensinar a seus filhos o valor da vida e do que eles têm hoje, pois Geraldo, quando criança, passou por necessidades.
Com um sorriso no rosto, ele sai todos os dias de casa para trabalhar. A força
de vontade que tem é impressionante, e chega a ser contagiante a energia que vem do seu interior, típica de quem já sofreu muito na infância. Essa força, essa garra para seguir de cabeça erguida todos os dias, talvez seja uma forma de mostrar para a sociedade que, mesmo tendo limitações, ele contribui com ela e, como todos nós, merece muito respeito e valorização.
Na escola, zombavam dele, faziam chacota e o excluíam das brincadeiras, mas
ele não deixou que isso afetasse sua pureza e bondade, pois em seu coração não há espaço para a maldade.
A sociedade, em grande parte, está doente, com esse costume de classificar
as pessoas pela sua aparência física e condição financeira. O respeito pelos semelhantes e por suas limitações deveria vir de casa.
As pessoas que convivem com Geraldo não o julgam, não o excluem de qual-
quer atividade, pois todos sabem que ele é perfeito em sua forma e não há nada a ser mudado. Ele transmite a todos em sua volta que melhor do que julgar alguém é viver em paz, ensinar e aprender todos os dias, absorver o que foi bom e o que não agrega nada à vida, simplesmente, deixar pra lá. Geraldo é um exemplo de ser humano. Jeferson Xavier
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Um dia com Marcos Antônio
Mais um dia amanhece. Os pássaros cantando, o dia clareando, e nosso
amigo desperta para mais um dia de trabalho. Prepara-se para encarar o trânsito até o “trampo”. Trânsito pesado, muitos carros, ônibus, caminhões, poluição, muito estresse para uma segunda-feira. Vai ser puxado pra caramba, mas trabalho é trabalho.
Sua profissão é de eletricista e nessa profissão não podem existir falhas, e
ele sabe disso. Somente uma e pronto: sua vida acaba ali. Mas a profissão também tem bons momentos, com os colegas de trabalho. Sua missão de hoje é revisar instalações, trocar lâmpadas, montagem de quadro de comando e, para finalizar a manhã, um baita chimarrão e erva boa moída da grossa.
- Nossa! Que segunda-feira! – Ele diz, cansado.
Mas o colega responde:
- Não se preocupe, vamos almoçar que a tarde é longa, kkkkkkkk.
- É verdade!
E lá se foram.
À tarde, retornando ao trabalho, Marcos não tira o olho do seu celular, e
então seu colega adverte:
- Cara, daqui a pouco você vai dar de cara em um poste por causa desse
tal Facebook.
- Que nada... Estou ligado!
- Então tá.
Marcos continuou e não deu outra. Pisou em um buraco e seu celular
caiu longe, quebrando em mil pedaços, e seu colega, apavorado, correu até ele e perguntou:
- Você está bem?
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- Estou sim, mas meu celular não!
Então o amigo:
- Eu lhe falei, né? Mas você não ouviu. Agora pode ser que você aprenda,
kkkkkk.
Nessa hora, passaram umas garotas e também riram da situação de Marcos.
Os dois amigos juntaram os pedaços do celular e depois seguiram caminhando.
As horas foram passando e Marcos estava muito triste porque não iria ter
redes sociais.
- Mas, tudo bem... Amanhã compro outro. Jorge Luiz Padilha
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Achado não é roubado
Em certa ocasião, quando eu estava indo encontrar minha esposa, passando
de carro em uma avenida da cidade onde morro, notei que, no sentido contrário em que eu ia, cruzou por mim outro carro e, nesse momento, percebi que havia uma quantia em dinheiro em cima do capô desse automóvel.
Quando o veículo ia se deslocando, vi que o dinheiro voou e espalhou-se
pela rua. Como eu estava subindo a rua, passei pelo dinheiro, que estava espalhado pelo chão, parei meu carro e comecei a juntá-lo.
Um homem que, provavelmente, viu tudo, passou por mim e me disse:
- Deixa que te ajudo com isso...
E eu falei:
- Não precisa!
Recolhi o dinheiro e saí correndo. Já pensou se ele rouba meu dinheiro?
Não podemos confiar em mais ninguém nesse mundo. Márcio dos Santos
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Velhice e solidão
Gosto dos poemas de Mário Quintana. Li alguns livros dele e achei inte-
ressante sua forma de explicar assuntos do dia a dia. Conheço vários livros dele, mas uma de suas obras chamou minha atenção, porque mostra algo que se torna uma realidade em muitos casos: vamos ficando sozinhos com o passar do tempo. Os filhos crescem, formam suas famílias e nos deixam.
Assim, temos que vencer nossa solidão não somente no começo de nossas
vidas, quando somos gerados e permanecemos sós no ventre de nossas mães.
Após o nascimento, somos amparados por nossas mães, que nos ensinam
e amparam perante nossas dificuldades, mas logo envelhecemos, e estamos sós novamente.
No fim das contas, devemos aproveitar ao máximo nossa vida junto das
outras pessoas, porque ela passa rápido e nós chegamos e partimos sós. Mateus Trindade da Luz
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Buracos nas rodovias mudam nosso destino
O dia a dia de muitas pessoas é uma correria: trabalho, aulas, e ainda há
tempo para imprevistos, como acidentes ou algo mais.
Um dia, depois de muitos dias de chuva e frio, eu deveria ter ido à aula
de carro, mas aquela noite estava tranquila, com uma temperatura agradável, e pensei: Hoje o tempo está bom, vou para a aula de moto, pois o preço da gasolina já está um absurdo, vou gastar bem menos e ainda pego menos trânsito.
Saí de casa. Já era noite. Uns quinze quilômetros de distância até a escola,
estradas ruins, mas a chegada foi tranquila. Curti a aula. Era quarta-feira.
Quando voltava para casa, estava já perto de casa, atrás de um caminhão,
a visão um pouco embaçada por causa do capacete, a viseira fechada, entrei com o pneu em um buraco. Não tive como desviar, perdi o controle da moto e acabei caindo. Na queda, minha moto estragou um pouco, eu caí e levantei num impulso. Um carro parou para prestar socorro. O casal que estava dentro dele logo me perguntou se eu estava bem e se queria que a polícia fosse chamada. Respondi que não e agradeci. Disse que estava tudo bem e que foram só uns arranhões mesmo.
Então segui viagem e fui para casa. E ao chegar, refleti sobre o acontecido.
Dei-me conta de como existem pessoas boas que, mesmo com seu dia corrido, se importam com os outros e também percebi como tive sorte por não me machucar, pois acidentes com motos, mesmo em baixa velocidade, quase sempre causam danos sérios ao motorista. E aproveito para deixar aqui um recado aos motociclistas que gostam de acelerar: não abusem da velocidade! Devagar também chegamos ao nosso destino! Maurício Nunes Rodrigues
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Como vejo meus dias
Hoje, como de costume, acordei por volta das cinco e meia da manhã. Liguei meu
rádio e fiquei ouvindo as notícias. Por volta das sete horas já havia tomado café e dado comida aos animais. Saí com minha esposa e fomos até a fábrica que temos atrás de casa.
Depois disso, saí sozinho para olhar os campos e dar sal ao gado. Desci a coxilha e fui
até o açude para dar ração aos peixes. Fiquei ouvindo eles se debatendo, felizes. Estava sendo um dia comum para mim, eu estava muito feliz, pois estava em um lindo campo com cheiro de flores, já que era primavera. Fiquei por horas observando o gado pastar, os peixes nadando. Logo abaixo de onde eu estava, havia um galpão, e eu ouvia os animais que estavam ali.
Quando voltei para casa, já era meio-dia. Fomos almoçar e minha esposa, que ficou
preocupada comigo, falou:
- Meu amor, você podia ter se machucado ou até mesmo se perdido. Fiquei com
medo...
Respondi a ela:
- Acalme-se, meu amor. Qual seria o perigo? Fui perdendo a visão aos poucos, mas
já sei o caminho de cor. É o suficiente para não me perder nesse meu mundinho maravilhoso, pois já estou com sessenta anos e não preciso ver para saber que estou bem, apenas sentir o mundo que está a minha volta.
Logo depois de conversarmos por mais algum tempo, fui dar aquela sesteada pós-
-almoço. Já havia passado das três da tarde quando acordei. Fiquei ouvindo o noticiário até às seis da tarde e depois, como de costume, fui tratar os animais, cantando e com um sorriso singelo.
Assim encerrei o meu dia, como tem sido durante muitos anos, desde que comecei
a perder a visão, mas sem perder o espírito de viver, determinado e feliz. Maurilio Vargas de Medeiros
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Curso Técnico em Eletromecânica Modalidade PROEJA - CTISM
As crianças nos ensinam
Hoje em dia é normal que nossas vidas sejam norteadas por rotinas de trabalho e
estudo e, com isso, acabamos tendo pouco ou quase nenhum tempo vago para atividades de lazer junto de nossos amigos. Situação muito diferente do que acontece com as crianças... Há alguns dias, quando estava em meu intervalo para o lanche, no mesmo momento em que descansava para voltar ao trabalho, passei a observar um grupo de meninas e meninos de diferentes idades que estavam brincando em um campinho próximo dali.
Mesmo que tivessem apenas uma bola, no pouco tempo em que estive observando,
as crianças fizeram diferentes brincadeiras, com muita interação, trocavam de lugar uma com a outra, corriam, jogavam futebol usando chinelos para serem as goleiras e eles mesmos eram os juízes. Claro que houve impasses em alguns lances, mas tudo era resolvido com calma e uma boa conversa. Houve brincadeiras diferentes, algumas durando pouco tempo, porque umas crianças levavam boladas e então ficava decidido que era melhor brincar de outra coisa.
De repente, sentaram em círculo. No início não entendi o motivo, mas logo percebi
que já era outra brincadeira. Cantavam com muita alegria, sem preocupação, enquanto um deles contornava o círculo com uma bola na mão, aí percebi que estavam brincando de ovo choco. E, então, chegou a hora de eu voltar ao trabalho.
Essas crianças me levaram a perceber que quando somos crianças não temos
preocupação com nada e aproveitamos muito o tempo da nossa vida com quem a gente gosta. Mas depois que começamos uma rotina de trabalho não nos sobra muito tempo para nosso lazer e nosso dia se torna estressante. Mesmo assim, devemos arrumar um tempo para estarmos com nossas famílias e com nossos amigos, para termos aqueles momentos de lazer e despertarmos aquele espírito de criança que há dentro de nós, e assim nossos dias ficarão mais leves. Pablo Mateus Silva
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Estudar não é ruim: ruim é deixar de tentar
Meu colega Josué, que trabalha numa empresa metalúrgica comigo, não
se interessou em estudar na turma em que estou por achar que seria difícil. Na hora do intervalo e do trabalho, Josué e eu conversamos sobre como está o estudo:
- Ô, Josué, estou gostando de estudar no Curso Técnico em Eletromecânica,
você poderia estar junto comigo, mas vai ter que se inscrever quando abrirem as inscrições, no final do ano.
- Tá, mas como é o curso, Paulo?
- Ah, é bastante teórico. As pessoas que já têm um conhecimento prático,
que trabalham na área, aperfeiçoa-se mais. Tenho alguns colegas que pararam de estudar por muito tempo e que estudam lá agora, como é meu caso.
Ao me questionar, Josué fica ressentido por não estar estudando. Percebo
que ele está bem entusiasmado, interessado a voltar para a sala de aula. O patrão o incentivou a fazer o curso, disse que assim aprendemos a soldar de outras maneiras, montar fiação elétrica com várias formas e posições, ver desenhos de máquinas de vários ângulos. O diploma levará ao conhecimento, o que é bom para Josué e para a empresa: o dono compraria mais máquinas, Josué trabalharia com elas e a fábrica não precisaria comprar peças ou mandar fabricá-las em outro lugar. Com tudo isso, o patrão lucraria mais e os funcionários ganhariam melhor.
A família de Josué o apoia, pois estudar é bom, ajuda a progredir na vida.
Estudar não é ruim, mas sim difícil. Quando se tem família e se precisa estudar, acaba sobrando pouco tempo para atividades de lazer, hobbies, passeios. Mas a pessoa que quer evoluir não pode se acomodar, deve mostrar que é capaz de evoluir, ter melhor salário, fazer o que gosta, dar uma vida de melhor qualidade para si e para a família.
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Curso Técnico em Eletromecânica Modalidade PROEJA - CTISM
Josué, espero que em 2018 você esteja comigo no CTISM, cursando o
PROEJA, para trocarmos ideias de trabalho e de estudo, e dessa vez não no trabalho, mas no colégio. Paulo Ricardo Lesina
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Saída à noite
Era uma noite quente de verão, Alex e Antônio decidiram sair, como de
costume. Iriam dar uma volta pela cidade, ver o movimento, encontrar a turma com que saem todos os finais de semana para conversar, beber, divertirem-se e paquerar, já que são jovens. Paqueravam todas as meninas que passavam por eles para ver o que acontecia. Fizeram a festa, beberam e aproveitaram a noite e se divertiram muito, beijaram algumas meninas, resultado da paquera.
Já que estava tarde, resolveram ir para casa. Mas estavam com fome e
cansados da noitada que tiveram, e resolveram parar no “Food Truck do Alemão Lanches”, uma van de um dos amigos de Antônio.
Chegando lá, Antônio cumprimentou Pedro, seu amigo que vendia
cachorro-quente. Pediram um cachorro-quente cada um. Os três conversavam sobre o movimento, o aumento de pedidos de lanche, sobre a família, pois eram muito amigos. Enquanto o lanche ficava pronto, Antônio contava a Pedro sobre como foi a noite, que seu cachorro-quente era um dos melhores da cidade e dizia para Alex que o lanche era muito saboroso. Passaram-se alguns minutos e pronto: deliciaram-se comendo aquele cachorro-quente!
Nessa hora, chegou um casal de namorados: Josi, uma menina de short
curto, bumbum empinado e Junior, um rapaz de porte médio e sério. Pararam na frente de Alex para fazer um pedido de lanche a Pedro e ficaram conversando sobre o dia corrido de serviço, pois o casal só se vê à noite, já que o turno de trabalho é de 8 horas corridas.
Enquanto o casal esperava pelo lanche passou um cachorro, desses de
rua, mal tratado, sujo, com mau cheiro, abanando o rabo bem onde estava sentado Alex e então ele gritou:
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- Tira esse seu rabo sujo daqui!
Nesse momento, Josi deu um pulo, olhou rapidamente em volta, achando
que Alex havia dito isso para ela, e Junior, que estava na frente de Josi, ficou olhando sério e bravo para Alex. Pedro ficou então atento para os dois, para evitar uma possível desavença, causada pelo comentário de Alex.
Mas Antônio piscou para Pedro, demonstrando, assim, que estava tudo
sob controle e explicou que Alex estava se referindo ao cachorro, que ao abanar o rabo espalhou o mau cheiro.
Todos riram da situação e a noite terminou com todos felizes, rindo da
mesma coisa, já que quem causou todo o mal entendido foi o cachorro. Rodrigo dos Santos Faria
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Uma turma presente
Foi vista, em uma lista de chamada de um curso técnico, uma turma com mais
de trinta alunos. Uma turma presente, alegre, divertida, que na lista de chamada, era presente.
Passou-se um tempo, agora já sem volta, um tempo que poderia ser aproveitado
para o aprendizado por uma turma presente. Essa turma era presente. Porém, um dia, algumas pessoas dessa turma, que era presente, começaram a relaxar, faltar a algumas aulas, porque o estudo estava começando a ficar fácil, e como a turma era presente, acomodou-se por causa da situação.
Mas, hoje, essa turma não é mais presente. Muitos desistem por causas familiares
ou pessoais, cansam-se, perdem-se, e deixam se perderem as chances de ser uma turma presente, deixam se perderem as chances únicas de obterem um bem muito especial para si, que é se orgulhar e poder dizer e mostrar que são formados em uma área muito admirada e respeitada pelas pessoas.
Coloque-se no lugar de alguém: existem muitas pessoas que gostariam de estar
em uma turma presente, que gostariam de responder a chamada ao professor, para lhe mostrar que fazem parte de uma turma presente, que por momento algum hesitariam em estar presentes, que não perderiam os estudos e, principalmente, em momento algum deixariam de fazer parte de uma turma presente.
Por isso, você aí, que está lendo essa crônica, escrita por uma pessoa que, um
dia, fez parte de uma turma presente, se você fez parte de uma turma presente, se você faz parte de uma turma presente, não perca essa oportunidade, pois você mal sabe quão feliz é alguém que pode dizer que faz parte de uma turma presente, pois esse é o maior orgulho que se pode ter. Taylor Trobian
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Rios poluídos
Certo dia uma turma de amigos decidiu ir acampar. Escolheram um riozinho
que passava perto da cidade.
Chegando lá, Maria foi montar o acampamento, Pedro foi buscar lenha
para a fogueira e Luiz foi nadar um pouco. Mas, ao se aproximar do rio, Luiz se deparou com uma cena nada agradável: o rio estava poluído, tinha lixo acumulado na beira e a água não tinha um cheiro agradável. Luiz voltou para o acampamento e comentou com seus amigos sobre o rio. Todos ficaram chocados, então tiveram a ideia de criar um projeto contra a poluição dos rios.
Em pouco tempo, começaram a dar palestras em escolas, distribuir pan-
fletos, pois só com um alerta as pessoas iriam se tocar sobre o mal que estavam causando para a natureza, pois essa poluição muitas vezes causava enchentes, que alagavam muitas casas localizadas em volta dos rios. Isso também causa, muitas vezes, até a extinção de algumas vidas que costumavam habitar os rios.
Algum tempo se passou e a poluição nos rios reduziu muito. Isso, para os
três amigos, já era uma vitória, mas havia muito o que melhorar ainda. Eles nunca ligaram para os problemas ambientais, mas precisaram presenciar uma cena preocupante, durante um acampamento, para “acordarem”, tomarem alguma atitude. Thainã Seeger
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Um dia poderá ser tarde
Às vezes deixo de pedalar, brincar, conversar, ler um bom livro, refletir
sobre a vida nas horas vagas, para dar atenção à internet.
Há tempos em que eu brincava, conversava com meus familiares, contá-
vamos piadas, histórias, dávamos muita risada com as coisas que conversávamos entre nós.
Mas os anos passaram e levaram com eles a infância, levaram os adultos
e os velhos para longe das brincadeiras, das piadas, das histórias, das risadas em família. A evolução vem ocupando o espaço e o tempo de muita gente. Não nos preocupamos mais em levar a vida como há tempos, com brincadeiras, histórias, piadas e muitas risadas, um tempo que uniu famílias, amigos, que agora não se preocupam mais em manter essas relações, o que nos deixa com saudades daqueles tempos em que havia união.
Eu mesmo fico com o pensamento ocupado com os compromissos que
tenho com a internet, que nos possibilita termos muito, apesar de precisarmos de pouco. Isso nos impede de termos iniciativas para nos reunirmos pessoalmente com aqueles que foram presentes em um passado de muitas histórias e união. Hoje estamos perto de quem está longe, mas longe de quem está perto. Thaislan Souza
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Anseios
No silêncio do galpão desinquieto mateio, sentado na beira de um fogo
de chão com os cavalos e um “cusco” por parceiro, num beijo da bomba lábios de prata relembro saudades tuas, saudade que de tempos já não cabem mais em mim e vêm regar meu olhar.
No amargo de cada mate que sorvo se fazem presentes lembranças de um
fim de tarde com o sol já posto, em frente ao rancho com uma flor a me despedir e com um nó na garganta, jurando-lhe amor eterno, pois ali eu já partia para mais uma tropeada.
“Muntei” em meu mouro e me fui cruzando estrada, “sofrenando” anseios
da dor da partida e o olhar da minha prenda na cancela. Mas um dia hei de voltar e em teus braços morar, e deixo a estrada pra ter sossego e carinho, porque não há nada mais triste do que matear “solito”. Yuri Charão
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2º ano - turma 348
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SURPRESAS DE UMA VIDA
FRAG MEN
TA DA
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Hoje, depois de tudo, percebo a importância de registrar cada segundo. É o que preciso e começo a fazer...
6 de janeiro, domingo
Meu nome é Marcos, tenho 33 anos e, a partir de hoje, vou começar a
descrever um pouco do meu dia a dia. Às 5h50min o relógio desperta, levanto da cama, vou ao banheiro e, a partir daí, a minha rotina começa, assim como hoje: preparei o café da manhã e, quando estava tudo pronto, acordei minha esposa para tomarmos o café juntos. Depois de comermos, saímos de casa. Deixei minha mulher no seu trabalho e segui para o meu. Cheguei por volta das 7h10min. A partir do momento em que eu bati o meu cartão-ponto, às 7h30min, o meu inferno começou.
Não gosto do que faço. Estou naquele lugar porque preciso de dinheiro
para sustentar minha família. Conto as horas para que acabe o expediente e isso ocorre às 17h30min. Logo vim para casa e fiquei esperando minha esposa, que veio de carona com uma amiga. Nesse meio tempo fiquei pensando... “preciso mudar minha vida, preciso estudar para conseguir uma profissão melhor, preciso buscar algo novo...”.
Minha esposa chegou em casa e fiquei eufórico para contar a ela que
resolvi voltar a estudar e que pretendo cursar uma faculdade que ainda não sei qual, vou decidir. Então jantamos e conversamos mais um pouco. Mais tarde, já na cama, demoro a pegar no sono pensando em que rumo tomar na minha vida? Qual profissão escolher?
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07 de janeiro, segunda-feira
Acordei às 5h50min, fiz a mesma rotina de todos os dias. Estava feliz pela
conversa que tive com minha esposa na noite passada, me senti forte para seguir em frente.
Chegando no trabalho, ainda não estava me sentido realizado no desen-
volvimento de minhas funções, por isso me perguntava, insistentemente, o que eu poderia fazer para melhorar.
Completei minha jornada de trabalho pela manhã e logo fui para o intervalo
do almoço. Sempre após o almoço eu deitava um pouco, mas nesse dia eu estava tão ansioso que logo comecei a pesquisar outras empresas em busca de um novo emprego que me possibilitasse estudar à noite, pois a empresa em que trabalho só pensa em produção e, assim, eu não tenho horário para sair.
A partir de então, comecei a procurar uma escola para fazer um cursinho
preparatório para o ENEM, porque desejo voltar a estudar para poder oferecer uma melhor condição de vida para a minha família. Quando cheguei em casa, me envolvi na pesquisa de um bom Cursinho.
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15 de janeiro, terça-feira
No dia de hoje, depois de refletir sobre minha rotina matinal, fui trabalhar.
Chegando lá fui chamado ao RH. Fiquei preocupado. O que queriam comigo? Um tanto desconfiado, fui até o escritório da empresa. Lá me informaram que a partir da próxima semana estaria em férias. Pensei: Ok! Beleza!. Não lembrava que já estava na época de tirar férias. Na verdade, quando fui chamado para o RH, fiquei mesmo preocupado em perder o emprego, apesar de não gostar do que faço. Como ainda era de manhã, voltei para minha seção onde desenvolvo minhas funções.
Depois de passada a preocupação, comecei a trabalhar mais motivado
do que nos outros dias. Estava me sentindo mais leve e rendendo mais. Eu mesmo achei estranho.
Ao meio-dia almocei, conversei com meus colegas e também resolvi ligar
para minha esposa para dividir a notícia sobre minhas férias. Quando estávamos conversando, comentei sobre como estava me sentindo no trabalho, que estava mais feliz. Ela disse que não estava me entendendo, eu disse a ela que não sabia explicar, simplesmente, trabalhei com mais vontade e feliz, naquele momento eu estava gostando do meu trabalho. Ela respondeu que acreditava que eu gostava do meu trabalho, que, talvez, eu estivesse um pouco desmotivado, que eu precisava de um Curso Técnico para aprimorar meus conhecimentos e, então, progredir na empresa, talvez numa nova função. Assim poderíamos aumentar a renda da nossa família já que iríamos precisar de uma situação financeira melhor a partir de agora. “Como assim?”, perguntei a ela. Rindo, falou que à noite nós conversaríamos.
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2 de março, quarta-feira
Minha esposa está no trabalho. Meu filho, agora com 2 anos, na escolinha. Eu
estou em casa. Decidi organizar minhas coisas, meus pensamentos. Então, reencontrei esse caderno e decidi voltar a fazer meus registros, embora esparsos, pois sempre gostei de escrever, sempre me fez bem. Quem sabe tenha chegado a hora de voltar a acreditar num futuro melhor, talvez o que eu tenha perdido tenha sido inferior ao que recebi...
Há três anos, no dia 15 de janeiro, depois de registrar parte de meu dia
neste caderno, saí do meu trabalho, feliz. Fui para casa ansioso por encontrar Adriana e ouvir o que ela tinha para me dizer, mas nem tudo acontece como planejamos... No caminho para casa, sofri um grave acidente, fiquei em coma por 4 meses e, quando despertei, encontrei minha esposa já no sexto mês de gestação. Me senti o cara mais feliz do mundo por ser pai!
Logo em seguida meu mundo desabou. O médico que estava me acompa-
nhando no hospital, fez eu relembrar o que havia acontecido naquele 15 de janeiro. Um homem de 50 anos, bêbado, dirigindo um carro importado em alta velocidade, acertou em cheio o meu Fiat 147. Ele morreu na hora, eu sobrevivi, preso entre as ferragens, aguardando que os bombeiros me retirassem dali. Depois da cirurgia, entrei em coma. Ninguém acreditou que eu fosse resistir a tamanhos ferimentos, mas eu queria ouvir o que minha esposa tinha para me contar.
Resisti. Quando acordei, minha alegria em ser pai, logo deu lugar a uma
imensa tristeza por saber que eu estava paraplégico, que não jogaria futebol com meu filho, que não o ensinaria a andar de bicicleta, a nadar... Era o que eu pensava. Hoje, ele está com 2 anos, chama-se Antônio, nome de meu pai. Sei que ele sente falta de um pai presente.
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Tem alguém batendo à porta. Vou atender...
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4 de março, sexta-feira
Com dificuldades e sem esperança, coloquei minhas mãos sobre as rodas
da cadeira e me desloquei até a porta. Um homem! Quando retirou o chapéu, reconheci na hora: Doutor Ângelo Fontoura dos Santos, o médico responsável por minha cirurgia. Convidei para entrar. Conversamos e ele, alegre, me fez rir por várias vezes. Me senti feliz como quando tinha minha vida completa. Sei que hoje não tenho mais esperanças de voltar a ser quem fui. Como a vida nos trata...
De repente, o Doutor Ângelo elevou sua voz e me perguntou se eu estava
ouvindo. Respondi que havia me deixado levar pelos pensamentos e pedi desculpa. Então ele disse que tinha algo imprescindível para compartilhar comigo. Um pouco assustado, eu respondi que estava pronto para ouvir. Ele falou que o assunto era a respeito dos meus exames, pois na última vez em que eu estive no consultório, ele solicitou uma ressonância magnética. Isso fazia vinte dias e o resultado desse exame estava com ele, por esse motivo ele estava aqui. Eu disse que estava ficando nervoso. Houve um silêncio em nossa fala. Nesse momento, Adriana estava chegando do trabalho, trazendo Antônio da escolinha.
Ela cumprimentou o Doutor Ângelo e disse que era uma alegria vê-lo.
Ele também a cumprimentou e disse que foi muito bom ela ter chegado. Adriana se sentou a meu lado e Antônio foi para o cantinho dos brinquedos, onde acabou dormindo porque estava cansado das atividades da escolinha.
Doutor Ângelo então disse que meus exames constataram, através da res-
sonância, uma melhora indescritível. Disse que meu quadro não era mais o mesmo e que eu poderia voltar a andar, para tanto, teríamos que organizar uma sequência de fisioterapia.
Naquele momento, choramos. Adriana se abraçou em mim, em prantos.
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Não resisti. Choramos muito naquela hora. Depois de um tempo, doutor
Ângelo falou que havia resolvido vir pessoalmente trazer a notícia porque sabia da importância disso para as nossas vidas e que considerava o que estava acontecendo um milagre.
Depois de um tempo, doutor Ângelo me perguntou qual era minha pro-
fissão. Respondi que trabalhava em uma Metalúrgica, minha função era de torneiro mecânico, mas não gostava muito do que fazia, mas hoje sinto falta. Ele apenas me ouviu e, depois de um tempo, disse que tinha de ir e que sua secretária entraria em contato comigo. Respondi que aguardaria o contato e nos despedimos.
Eu quase não acreditava no que tinha acontecido, pareceia um sonho!
Na madrugada, já sem conseguir dormir, pensava em Adriana, no Antônio... Me sinto com ânimo! Meu filho. Ah! Poderei voltar a ser ativo com ele! Não vejo a hora de voltar a caminhar e ter minha vida de volta. Olho para minha esposa dormindo e agradeço a Deus por tê-la a meu lado e sempre me animar e nunca me deixar sozinho. Te amo, amor!
Que sono, vou dormir. Nossa! Já são três da manhã. Esse caderno... vou
encerrar por aqui.
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8 de abril
Já se passou um mês desde aquela bela notícia que eu e minha família
recebemos do médico. Hoje, uma sexta-feira, 10 horas da noite, Adriana está com Antônio no quarto e eu vim relatar que hoje tivemos melhoras significativas. Comecei de leve a sentir minhas pernas. Fiquei tão alegre! Bom, não sei se foi algo criado pela minha mente, sei que estou feliz.
À tarde, comecei a pesquisar alguns sites de emprego. Hoje, percebo que
tudo que me chama atenção era da área de software para desenho 3D. Vejo que deveria ter pesquisado mais há alguns anos atrás. Mas vendo por outro ângulo, também não me sinto decepcionado, pois agora tenho plena convicção do que me interessa e será nisso que batalharei para desenvolver meu trabalho.
Dia 9 de abril, amanhã, irei conversar com Adriana sobre o assunto e ver
o que ela acha, espero que ela me apoie, pois estou muito motivado com a ideia. Sem falar na minha situação da fisioterapia, como eu disse, não sei se é do meu psicológico, mas que está dando tudo certo, está. Estou com tantos planos, não irei conseguir dormir... Se Antônio já dormiu, conversarei com Adriana ainda hoje. Se ela me apoiar poderei iniciar o Curso na próxima semana. Não consigo esperar de tão ansioso que estou.
Essa semana quero colocar minha cabeça em ordem novamente e decidir
meus próximos passos, pois a partir de agora sei aonde quero ir, como vou ir e como chegar. Com o apoio da minha família, sou um novo homem, uma nova pessoa e com eles vou ao rumo certo.
Bom, vou me despedindo por hoje, logo retorno com notícias ainda
melhores.
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9 de abril, sábado
Hoje, apesar de não ter conseguido dormir bem devido a minha empolga-
ção, acordei cedo e fiquei aguardando Adriana acordar para termos nossa conversa. Assim que ela acordou, minha euforia era tanta que ali mesmo, na cama, comecei a falar sobre meus novos planos e ideias. Adriana, feliz com a minha motivação e força de vontade, foi concordando e me incentivando. Após longo tempo de planos, ideias e sonhos, minha esposa me convidou para levantarmos e terminarmos nossa conversa na mesa do café.
Ao tentar me levantar da cama percebi que minha realidade impõe alguns
desafios, pois, infelizmente, ainda estou impossibilitado de realizar muitas das atividades que antes era acostumado. Assim começa uma nova etapa na minha vida: a recuperação.
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4 de julho, segunda-feira
Acordei muito disposto e feliz, afinal já se passaram 3 meses e a minha
recuperação foi um sucesso. Estou totalmente recuperado e decidido a recolocar minha vida nos eixos. Amanhã será um dia muito especial, pois, com apoio de minha esposa e meu filho, começarei o tão desejado e esperado curso de software para desenho 3D. Sim, amanhã. Espero que dê tudo certo, que supra minhas expectativas e que realmente seja o recomeço de uma nova vida.
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5 de julho, terça-feira
Hoje, com meu coração batendo a mil, levantei, tomei um banho cantarolando
(coisa que há muito tempo eu não fazia). Sei que a partir de hoje viverei uma nova etapa, com muitos desafios que surgirão na minha vida. Então saí do banho, coloquei minha roupa preferida e fui para o meu primeiro dia de curso.
Confesso que ao chegar no local onde seria realizado o curso fiquei um pouco
nervoso e pensativo. Como me adaptaria com a nova e tão esperada oportunidade de um conhecimento tecnológico em minha vida? Mas eu não era o único preocupado com a adaptação. Conheci Cláudio que também estava buscando um novo rumo para sua vida. Conversamos bastante antes de dar o sinal para a entrada e, na sala, até o professor chegar. Ambos sabíamos que tudo na vida era feito de oportunidades, que muitas vezes recebíamos e jogávamos fora, sem parar para pensar que o tempo voa e os sonhos e projetos podem ficar para trás e tudo isso pode se transformar em frustrações em nossas vidas. Refletindo sobre isso, percebemos que hoje era mais um dos muitos passos que tínhamos que dar para uma nova conquista em nossas vidas, tanto profissional como pessoal.
Agora, nesse exato momento, já são 11:45 da manhã, acabo de retornar para
casa depois do meu primeiro dia do curso, onde tive as primeiras horas de aprendizado das muitas que terei. Chego com muita ansiedade para contar para minha família como foi o início das aulas. Já em casa, mais tranquilo, vejo com muito mais certeza e clareza o que eu quero e o que preciso fazer para que esses sonhos e projetos se tornem realidade. É isso, tudo o que queremos conquistar tem que haver desejo, planejamento e muita força de vontade, só assim podemos chegar onde queremos.
Também gostaria de registrar nesse dia que tudo que já passei e sofri serviu de
degrau para imensa escada que é a vida. Nessa escada, todos os dias devemos subir alguns degraus, porque é subindo que vamos vencendo o medo e as dúvidas e, assim, nossa história pode ter um final feliz.
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6 de julho, quarta-feria
Tocou o despertador, acordei, levantei, fui ao banheiro e fiz minha higiene
matinal. Desci até a cozinha, esquentei a água para o café e preparei a mesa. Então Adriana desceu, demos um beijo e perguntei se ela havia dormido bem. Ela respondeu que sim e me perguntou por que eu tinha demorado para dormir. Respondi que estava pensando que depois de tudo que passamos, agora percebi que o tempo coloca as coisas no lugar, querendo a gente ou não, que paciência é uma virtude, que hoje estou aos poucos me recuperando, recuperando o meu psicológico.
Me pergunto também que, se não tivesse ocorrido tudo isso, será que eu
estaria trabalhando, batalhando? Será que eu estaria com essa vontade de vencer, de lutar para dar uma vida tranquila para minha família? Penso que este curso agora vai me ajudar a dar mais um passo positivo nas nossas vidas, mas, principalmente, na minha. Isso é uma batalha pessoal e tenho que vencer.
Então, minha esposa me olhou e me disse que é por isso que me ama
tanto, que minha força e minha garra também nos fortalece. Peguei minha mochila, beijei minha esposa e meu filho. Respirei fundo e fui para mais um dia de luta.
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7 de julho, quinta-feira
Cheguei em casa, às 19 horas, depois de um dia cansativo, minha esposa
e meu filho me esperavam no portão, ansiosos, pela minha chegada. Vendo minha esposa, que parecia nervosa, perguntei o que tinha acontecido. Ela correu em minha direção, me abraçou e, depois de um tempo, disse que tinha algo para me contar. Assustado, perguntei o que havia acontecido. Com lágrimas nos olhos, ela me falou que estava grávida. Por um momento não soube o que falar, pois era tanta emoção que sentia. Então, nos abraçamos e fomos para dentro de casa todos felizes e sorridentes.
Hoje, acordei mais cedo. Encantado ainda com a notícia da noite anterior,
fiquei pensando em várias coisas que iriam mudar em nossas vidas com a chegada daquele filho. Fiquei imaginando todas as possibilidades desse novo ser. Seria menino, menina, baixo, alto? Não importa, o importante é que tenha saúde.
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8 de julho, sexta-feira
Hoje, saí de casa já em cima da hora, porém feliz.
Ao entrar na sala de aula, Cláudio perguntou o que tinha acontecido comigo
porque eu estava com um olhar diferente, mais feliz. Contei a ele que minha esposa está grávida. Ele ficou muito feliz com a notícia e me perguntou se eu iria continuar no curso. Eu respondi que sim, que desejava dar um futuro melhor para eles. Cláudio disse que eu tinha razão e me perguntou se eu já sabia se era menino ou menina. Respondi que não sabia, mas que amanhã Adriana vai fazer ultrassom para saber como está o bebê. Cláudio perguntou se eu iria junto no ultrassom. Eu respondi que sim, que quero estar junto em tudo porque, na gestação de Antônio, eu não pude participar, já que sofri um acidente no dia 15 de janeiro, fiquei em coma e quando acordei, Adriana estava com 6 meses e ao saber que ia ficar numa cadeira de rodas e não iria poder ensinar meu filho jogar bola, nadar ou andar de bicicleta, a tristeza bateu. No entanto, minha esposa ficou sempre a meu lado, não me deixou, sempre me apoiou, inclusive nos momentos em que eu estava em profunda depressão, mas agora é diferente.
Então o professor Paulo chegou na sala e começou a aula. Assim que terminou,
fui correndo para casa falar com minha esposa sobre o curso e sobre a minha amizade com Cláudio que se fortalecia a cada dia.
Já em casa, tomei um banho e fui para a cozinha fazer almoço, porque ela não
tinha chegado. Fiz uma massa com molho branco e, quando estava terminando, ouvi um barulho na porta da sala, era ela chegando com o nosso menino.
Que alegria! Fui correndo abraçar os dois e os convidei para irmos para a sala de
jantar porque a mesa já estava posta. Ela ficou muito feliz e disse que eu valia ouro, fiquei lisonjeado... Conversamos sobre o pré-natal e decidimos que eu iria junto ao médico para ver nosso filho, pois queria participar em tudo. Depois do jantar, fomos dormir, mas, certamente, eu não poderia dormir sem registrar meu dia.
Agora, boa noite.
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10 de outubro, segunda-feira
Hoje minha esposa levantou, foi até a cozinha, fez um café e foi para o
quarto me chamar para tomarmos um café juntos, antes de sair para o trabalho. A mesa já estava toda arrumada. Estranhei que algo tinha acontecido, mas continuei tomando o café. Havia um certo tempo ainda antes de eu sair. De repente, ela se levantou, foi até o quarto e pegou um pacote, colocou na minha frente e pediu para eu abrir. Fiz um suspense... Ao abrir o pacote, encontrei um lindo vestido cor-de-rosa e sapatinhos muito pequenos. Foi então que me dei conta que iria ser pai de uma menina. Achei o máximo e perguntei a minha esposa que nome daríamos a ela.
Nesse momento, me ocorreu a ideia de convidar Cláudio para jantar aqui
em casa, pois teríamos que conversar sobre a nossa formatura e sobre a possibilidade de abrirmos um negócio juntos, também aproveitaríamos para pedir uma opinião sobre o nome.
A aula terminou mais cedo e fomos direto para casa. Depois do jantar,
eu e Cláudio conversamos bastante sobre a formatura e também sobre o possível empreendimento.
Entre uma cerveja e outra, Cláudio comentou que sempre teve um sonho
de ser pai de uma menina e sua vontade de colocar o nome de Helena, pois era o nome de sua avó materna. Eu e Adriana começamos a pensar na ideia e decidimos colocar o nome que Cláudio sonhava. Será Helena. Após esse dia, Cláudio sempre está em nossa casa.
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25 de novembro, sexta-feira
O tempo passou e chegou o dia da formatura. Foi um dia de confraterni-
zação entre os familiares. Eu e Cláudio relembramos os velhos tempos de amizade com muito papo e bebidas. Depois das comemorações da formatura, acabamos indo para a boate que nossos colegas haviam reservado para a confraternização que organizaram para depois das comemorações familiares.
Conversando com Cláudio, ele se queixou da solidão. Nessa boate havia
garotas lindas. Uma delas se aproximou de Cláudio. Ele saiu com ela e acabou descobrindo que a moça queria seu dinheiro pois, na boate, nós falávamos muito em negócios.
No outro dia, Adriana disse que não havia gostado da minha ida à boate
e quase se separou de mim, mas pensou na gravidez... em Helena que estava quase nascendo... no Antônio... Adriana também ficou furiosa com o Cláudio por ter insistido que fôssemos comemorar com nossos colegas.
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12 de agosto, sábado
Depois de minha formatura, o corre-corre do dia a dia, a batalha pela
abertura da nossa empresa que começou pequena e hoje já estamos com uma filial. A luta para que o nosso empreendimento se solidificasse e gerasse lucro fez com que eu esquecesse esse caderno no fundo de uma gaveta. Hoje, após muitos anos, com a vida mais tranquila, mexendo na minha bagunça, encontrei meu diário, reli o que havia escrito e decidi voltar a escrever, estava sentido falta dos momentos de desabafo e reflexão que a escrita naquele caderno me proporcionava.
Quatro meses depois de minha formatura, Helena nasceu. Cláudio foi o
padrinho dela, o que fez com que nossa amizade ficasse ainda mais fortalecida. Hoje, nossa empresa está bem, com os lucros lá em cima.
A minha filha cresceu e já está com 17 anos. Este ano conclui o Curso
Integrado de Técnico em Eletromecânica. Antônio está concluindo a faculdade de medicina. O tempo passa muito rápido...
Ontem tive uma notícia que me entristeceu e me preocupou muito: fiquei
sabendo que Helena está doente. Ela fez um exame de sangue no qual foram constatados problemas na contagem dos fatores coagulantes do sangue, o que indicava que Helena tinha hemofilia. Não conseguíamos entender, pois ela nunca apresentou nenhum sintoma.
Hoje, fiz uns exames para saber se poderei doar sangue para ela, caso seja
necessário. Ao chegar o resultado, descobri que não sou doador compatível com ela e acabei ficando louco atrás de uma pessoa compatível. Por saber que era uma doença genética, surgiu uma dúvida: será que ela era realmente minha filha?
Comentei com meu amigo Cláudio sobre a doença de Helena e que ela
poderá precisar de doação de sangue, ele se dispôs a fazer os exames para verificar
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a compatibilidade. O resultado dos exames de Cláudio chegam e mostram que ele é compatível!
Isso me faz pensar que ele seja o pai de Helena, já que Cláudio tratava
Adriana muito bem, com carinho e presentes. Será que a minha esposa me traiu com o meu melhor amigo?
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20 de outubro, quarta-feira
Dia que gostaria de apagar da memória. Já havia passado por maus momen-
tos, mas agora com a doença da minha filha e a suspeita de não ser o pai biológico dela o inferno começou... Saí da empresa mais tarde, estava cheio de problemas para resolver, mas não conseguia me concentrar em nada, pois aquela suspeita me atormentava, martelando na minha cabeça o dia inteiro. Olhei para o relógio e aí me lembrei de que tinha que pegar o Antônio na faculdade e já estava atrasado. No caminho, sem conseguir me concentrar no trânsito, com a cabeça fantasiando mil coisas, passei no sinal vermelho. Quase ocorreu um acidente, mas graças a Deus consegui chegar em casa com meu filho ileso.
Ao abrir a porta, para minha surpresa, encontrei Cláudio sentado à mesa
jantando com minha mulher e minha filha. Estavam tão empolgados que quase não notaram a minha presença e a de Antônio, o que aumentou ainda mais minha desconfiança. Nesse momento, perdi o chão, aquilo me deixou paralisado por um minuto, passaram mil coisas pela minha cabeça, vendo a felicidade estampada em seus rostos.
Tomado pela raiva, fiquei fora de controle e comecei a agredir minha esposa
com palavras. Vendo aquilo, Antônio tentou me acalmar, mas já era tarde. Quando Cláudio tentou defender minha esposa, saí fora de controle. Furioso, parti para cima de Adriana. Nesse momento, Antônio pulou em cima de mim. Cláudio, vendo aquilo, tentou ajudar Antônio. Caímos sobre a mesa, onde consegui alcançar uma faca. Cego de raiva, peguei a faca, derrubei Antônio e desferi um golpe no abdômen de Cláudio. Assustada, minha filha, saiu em pânico porta a fora pedindo ajuda. Então vi Cláudio caído, sangrando, e minha mulher me chamando de louco. Rapidamente, Antônio me tomou a faca e começou a prestar os primeiros socorros a Cláudio. Consciente do que havia feito, mas achando que teria me vingado de tal traição, sujo de sangue, peguei o carro e saí sem rumo.
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21 de outubro, quinta-feira
Após alguns minutos dirigindo sem rumo, pensei no que fiz e o arre-
pendimento me consumiu ao lembrar das feições assustadas dos meus filhos e de Adriana... Tudo aquilo me levou à delegacia. Confessei meu crime e fui posto sob custódia. Aquela, sem dúvida, estava sendo a pior noite da minha vida, no escuro daquela cela, encarando o nada, percebi a grande burrada que havia cometido. Cláudio era meu amigo e naquele momento poderia estar morto por minha culpa...
Fui tirado de meus devaneios com a visita do meu advogado, Doutor Serra.
Pedi que fosse ao hospital antes de me encontrar. Ele me contou que Cláudio não estava em perigo, pois o corte não havia sido profundo, e que ele não iria registrar ocorrência, o que significava que eu não iria ficar na cadeia por muito tempo.
Diferente de Cláudio, Adriana não estava disposta a me perdoar. Ela estava
decepcionada comigo e isso era totalmente compreensível, eu havia desconfiado dela e nem ao menos lhe dado chance para falar. Meus filhos estavam assustados, porém já estavam em casa, o que era melhor que o ambiente do hospital.
Estava enganado quando pensei que minha vida não podia piorar. Meu
mundo desabou quando Doutor Serra me disse que Adriana queria o divórcio. Incrível como cada ação que fazemos, em poucos segundos, pode determinar o rumo da nossa vida...
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22 de outubro, sexta-feira
No dia seguinte, meu advogado foi me visitar na delegacia e me informou
que Adriana também não iria registrar ocorrência contra mim, portanto eu estava liberado. Nesse dia fui para a casa de minha mãe, pois não tinha como voltar para minha casa. Não entendia como Adriana havia feito isso com a gente.
No outro dia, Antônio veio à casa de sua avó me visitar e me propôs
que eu fizesse um exame de DNA para confirmar a paternidade de Helena. Como meu exame deu negativo, sem eu saber, Antônio pediu a Adriana e a Cláudio que também fizessem o exame. Quando o meu filho foi buscar o resultado, descobriu que os três deram negativo. Antônio, que dentro de poucos dias estaria formado em medicina, entendia que pelo resultado dos exames, Helena não era nossa filha, nem minha e de Adriana, nem de Adriana e de Cláudio como eu suspeitava. Mas e a nossa filha? A menina que vimos nascer naquela manhã?
Antônio teve a ideia de ir ao hospital em que Adriana deu à luz para bus-
car informações sobre as crianças nascidas naquela manhã. Como era um hospital pequeno, foram realizados apenas dois partos naquele dia, o de Adriana e o de uma adolescente que deixou o filho no hospital para adoção. No mesmo instante em que recebeu essa informação, meu filho entendeu que os bebês haviam sido trocados e se questionou onde estaria sua irmã.
O hospital mantinha sua documentação muito bem organizada e, nos
registros, ficou a informação de que a criança deixada pela jovem foi encaminhada ao Lar Santa Maria para adoção.
Aquele Lar era muito próximo de nossa casa. Ele, junto com seus colegas
de curso, fez muitos trabalhos voluntários nessa instituição. Eu e Cláudio, quando nossa empresa começou a prosperar, passamos a auxiliar financeiramente essa
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instituição. Será que a menina deixada pela adolescente para adoação era nossa filha?
Antônio não se conteve, não conseguiu esperar. Saiu do hospital e foi direto
ao Lar. Ele era conhecido e estimado por todos, contou ao diretor do Lar tudo que havia acontecido. Releram junto os arquivos e chegaram ao nome da menina que foi deixada no Lar naquela manhã singular.
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23 de outubro, sábado
Antônio descobriu que sua irmã biológica, que havia sido deixada no lar
para adoção, se chamava Vitória e seus pais adotivos moravam no interior da cidade de São Bernardo do Campo. Antônio planejou dar a notícia para a nossa família, uma vez que já estava com todos os dados necessários para entrar em contato com a família adotiva de Vitória. Antes disso, precisava nos contar sobre os exames de DNA.
Antônio marcou uma reunião na nossa casa e chamou também Cláudio.
Quando cheguei, Adriana me recebeu bem, tive a esperança de refazer minha família, foi então que Claudio chegou e, com ele, as desconfianças que eu tinha reavivaram em minha memória.
Meu filho, tenho certeza, percebeu o que eu estava sentindo e o clima que
estava se formando, por isso se apressou em contar tudo o que havia descoberto. Começou contando sobre os exames de DNA, o que angustiou a todos. Eu, além de angustiado por querer saber onde estaria a minha filha, a menina que vi nascer, estava profundamente envergonhado, pois percebi que minhas desconfianças de Adriana não tinham razão de existirem. Cláudio parecia aliviado. Adriana estava atordoada, chorava, andava de um lado a outro.
Antônio continuou a contar o que havia pesquisado e, finalmente, contou
que estava com os dados necessários para entrar em contato com a família que estava com nossa filha. Um simples telefonema poderia mudar a vida de todos nós. Meu filho era o único que tinha condições de fazer aquela ligação.
Uma senhora atendeu. Era a avó adotiva de Vitória. Antônio disse que
trabalhava como voluntário no Lar que abrigou Vitória e que ele e sua família precisavam, com urgência, conversar com os pais da menina, disse que era importante e
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urgente. Com a voz embargada, a senhora contou que seu filho e sua nora haviam falecido em um grave acidente de carro e que Vitória estava sob sua tutela desde então. Antônio, um pouco perturbado com a notícia, perguntou se poderiam conversar com ela, ela disse que o receberia com prazer, marcaram o encontro para o início da tarde do dia seguinte.
Quando ele nos contou o que houve, choramos muito. Como estaria a
nossa Vitória? Em meio a tantas lágrimas, abracei Adriana, que aceitou meu abraço. Meio sem jeito, pedi desculpas a Cláudio. Olhei para Antônio e agradeci a Deus pelo homem que ele havia se tornado. Fomos nos preparar para a viagem.
Convidei Cláudio para ir conosco, na tentativa de apagar as mágoas
que restaram. Ele disse que iria ficar para ajudar minha mãe a cuidar de Helena e, também, que estaria à disposição para o que precisássemos. Aquelas palavras me trouxeram um profundo alívio.
Chegando na casa de Vitória, uma senhora idosa e muito simpática nos
recebeu. Vitória estava no Curso de Inglês, chegaria em breve. A avó adotiva nos contou sobre a adoção e o acidente, e nós contamos a ela sobre a troca das crianças. A avó de Vitória ficou feliz com a notícia de sua neta poder contar com novos pais, pois ela era uma senhora idosa e tinha receio de que a menina ficasse sem ninguém para a amparar caso ela partisse. Disse também que a neta sempre quis conhecer os pais verdadeiros.
Quando já havíamos conversado e estávamos tomando café, Vitória che-
gou. Não contivemos a emoção... ela era muito parecida comigo... Obrigado meu Deus! A avó adotiva e Antônio, que eram os que se mantinham mais calmos, contaram a Vitória um pouco sobre a conversa que tivemos. Vitória nos recebeu com carinho, mas um pouco distante, o que era natural. Sabíamos que o tempo seria o melhor
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remédio. Só ele poderia reconstruir nossa família: eu, Adriana, Antônio, Helena e Vitória seríamos novamente uma família! Era o que eu mais queria!
A avó adotiva, que se chamava Helena (coincidências incríveis), nos convi-
dou para ficarmos uns dias em sua fazenda, que se chamava Nova Esperança. Com o passar das horas, fomos nos conhecendo melhor. Os assuntos foram surgindo naturalmente.
Ainda estávamos na fazenda quando Antônio recebeu um telefonema de
Cláudio avisando que o Laboratório no qual Helena havia feito uma nova bateria de exames, havia ligado e precisava com urgência falar conosco. A conversa era séria e urgente. Eu pensava: agora que tudo estava ficando bem, o que poderia acontecer? Voltamos com urgência para casa, falamos com Cláudio e fomos direto ao laboratório.
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5 de novembro, sexta-feira
Chegando ao Laboratório, uma equipe de médicos nos esperava, disseram
que refizeram várias vezes os testes com o sangue de Helena e afirmaram que não tinham dúvidas sobre o diagnóstico: Helena não tinha hemofilia, não sabiam explicar o que tinha acontecido com os exames realizados no outro Laboratório. Naquele momento, só queríamos saber como Helena estava. Antônio nos acalmou e disse que estava tudo bem, que por via das dúvidas fariam uma nova coleta de sangue, apenas para confirmar que, de fato, Helena estava bem. Na hora, a emoção foi tanta que nem quisemos saber sobre o erro cometido pelo laboratório anterior. Era tanta coisa que acontecia em nossas vidas que só queríamos comemorar a boa notícia.
Daqui a alguns meses seria a formatura de Antônio e Vitória viria passar
uns dias conosco, quem sabe o primeiro de muitos... Será que tudo está se resolvendo? Tanta dor e sofrimento, mas não foram em vão, foi a maneira possível de reencontrarmos Vitória e de recebermos Helena. Em poucos dias ganhei mais uma filha e recebi a notícia da cura da minha amada Helena.
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30 de janeiro, terça-feira
Há algum tempo deixei de escrever nesse diário, que só era lido por mim,
para me dedicar à escrita de minha autobiografia, pois acredito que tudo o que a vida me ensinou vale a pena ser dividido com outras pessoas, não apenas através de fragmentos registrados em um caderno, mas por meio de um texto completo, um retrato do que vi e vivi nesses anos de existência.
Para encerrar este diário é importante escrever que, aos poucos, minha
família foi se reconstruindo, mais fortalecida e feliz. Realmente, o tempo é um construtor muito eficiente. Pode parecer frase feita, mas, com certeza, o tempo é o melhor remédio quando fornecemos a ele o material necessário para a reconstrução da nossa vida, ele nos dá a oportunidade de revermos os fatos do passado com um olhar amadurecido, possibilitando compreender o porquê de cada acontecimento.
Na formatura de Antônio, Cláudio, que era viúvo, encontrou um novo amor,
pouco tempo depois casou, daqui a alguns dias vai ser pai, Helena e Antônio serão os padrinhos. Três meses após a formatura, Vitória decidiu vir morar conosco. Sua avó Helena decidiu sair da fazenda que está sendo administrada por seu sobrinho cuja filha está morando com Dona Helena numa casa próxima à nossa, o que enche Vitória de felicidade. Ah! Quase esqueço de escrever que a formatura de Antônio foi no dia 15 de janeiro, mais um 15 de janeiro em nossas vidas, mas este foi um dia de felicidade e recomeço.
Que venham mais dias felizes pela frente e que todos nós tenhamos,
sempre, a serenidade para compreender as surpresas que a vida nos apresenta, mesmo quando elas não são nem um pouco desejadas...
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Autores:
Alexandre Martins de Souza Daniel Ribas Soares Denise de Oliveira Diego da Silveira Reginaldo Franciele de Souza de Oliveira Gisele Jacques Holzschuh Helvio Gabriel da Rocha Itamar Marcos Lorenzoni Jair Mendes Cardozo Jeferson de Oliveira Sartori Jocemar Trindade da Luz Jorge Leonir de Souza Lima Leandro Cardoso Becker Leandro Pires dos Santos Lucas de Quevedo Moresco Máicol Cezar Parode Márcio Costa Lopes Maristela Andréa Teichmann Bazzan Nilton Figueiredo Ismael Paulo Alexandre Vargas da Silva Pedro Batista Oliveira de Andrade Vanderson Moura da Rosa Vanessa da Silva Flores
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MICROCUENTOS
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El anillo Y yo estaré siempre con ustedes... hasta el fin de los tiempos... Daniel Ribas Soares ALeandro Pires dos Santos Helvio Gabriel da Rocha
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El giro Usinando un torno de la fábrica, completo mi día, produciendo más de lo que imagino... Así acabo mi rutina de trabajo Franciele de Souza de Oliveira Vanderson Moura da Rosa
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Accidentado Dirigiéndome a casa pienso en mi futuro. Sucede el imprevisto en mi recurrido. El destino cambia instántaneamente. Jorge Leonir de Souza Lima Márcio Costa Lopes
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Puerta de la vida La puerta se abrió. Sale de los cuidados de enfermo. Se cierra la puerta. La muerte podría abrirla de nuevo. Itamar Marcos Lorenzoni Nilton Figueiro Ismael
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Accidentes de una vida de pareja Recibió una llamada de su mujer “tengo una noticia”. Ella estaba embarazada. En el camino... un accidente. Jeferson de Oliveira Sartori Pedro Batista de Oliveira Andrade Vanessa da Silva Flores
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El dolor de la verdad El hombre fue sorprendido con tres golpes repentinos. Y a partir de este dolor... la verdad apareció. Paulo Alexandre Diego da Silveira Reginaldo
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Amistad Hice algo que uno a veces ni imagina, pero pasado el tiempo… se queda sin aquella persona y siente que la perdió. Leandro Cardoso Becker Lucas de Quevedo Moresco
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Espera Recuerdo del orfanato. A veces me quedo pensando... ¿no sería allí mi verdadera felicidad? Denisede de Oliveira Jair Mendes Cardozo Máicol Cezar Perode
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Equívocos de la vida La pulsera era falsa, los registros también... Así, nuestras vidas se volvieron en eternas búsquedas. Alexandre Martins de Souza Jocemar Trindade da Luz
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3º ano - turma 368
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O país da “ficção” No país em que vives a arte se mistura com a realidade, lá no morro a encenação do Projac se repete sem dublês, são pessoas que descem e sobem o morro e outras que nunca descerão. Até quando vai ser assim? Que a TV só mostra o que não presta! Até quando vai ser assim? Que preferem prender do que educar? Até quando vai ser assim? Que não previnem para remediar! Rafael dos Santos
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Que dor é essa? Invadiu meu peito sem pedir, sem avisar... Não posso dar jeito... Sei, é profunda e não consigo explicar Quantas lágrimas preciso derramar Até que eu possa me sentir pronto novamente para encarar o mundo Enfim, parece que não há lágrimas suficientes para superar esta grande perda... A perda de mim mesmo. Ricardo Correa Moreira
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O tempo passa A vida e seus desafios, Nascer, crescer e morrer, Ainda, antes Vivemos, Crescemos, Amigos vêm e se vão, Lembranças e histórias ficam, O tempo passa A vida também! Robinson Flores Ribeiro
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O soldado Você levará a minha vida, mas eu levarei a sua Disparará o seu mosquete, mas eu irei te golpear Então, quando você esperar pelo próximo ataque É melhor ficar, não há como voltar A corneta soa e os tiros começam Mas neste campo de batalha ninguém vence O cheiro da fumaça ácida e o hálito dos cavalos Enquanto mergulho para uma morte certa O cavalo sua, com medo, nós corremos O estrondo poderoso das armas... E quando corremos de encontro à parede humana Os meus camaradas gritam de dor e caem Nós saltamos sobre corpos espalhados no chão Disparam mais uma salva de balas Nós chegamos tão perto mas ainda tão longe Não viveremos para lutar mais um dia Cledir Emilio Boeck
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A natureza São muitos lugares... Lugares lindos, outros nem tanto... Tudo é natureza. Uma bela mata e os cantos dos pássaros, o barulho das cascatas que caem e correm nos rios. Tudo é natureza. Pássaros que voam, animais que correm no pasto verde, insetos que fazem parte da cadeia alimentar como tantos outros bichos. Natureza tão bela e tão linda que traz muitas vidas... e tão grande e de cores vivas do verde das matas, por isso eu admiro a bela natureza. Nei Rogério Rodrigues Hamerski
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Levem os fardos uns dos outros e, assim, Poderão sentir a dor de quem vocês julgam. André Wernenn de Oliveira Neves
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Dúvida existencial Todos os dias acordo, olho no relógio e daí me pergunto se realmente é isso que gostaria de fazer... fazer o que se esse é meu dever? Se não trabalho, não posso ganhar meu salário. Gostaria de viajar, mas gosto mesmo de viajar? Sigo encarando essas dúvidas sobre meu passado, presente e futuro a fim de cessar essas dúvidas que rodeiam a minha mente. Pablo Bortoloto da Silva
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O que nos resta Do jeito que as coisas andam, a situação só tende a piorar, a menos que apareça alguém com capacidade e atitude para mudar, mudar e acabar com tudo o que está acontecendo, acabar com esse mau cheiro, cheiro de impunidade, de situações incômodas causadas pela ganância e pelo dinheiro. Só nos resta continuar acreditando nesse país, nas pessoas boas, dignas e batalhadoras que merecem pisar nesse solo, solo que é coberto de riquezas e raras belezas. Que o futuro sirva para que tudo volte ao normal, que afaste a preocupação, traga de volta nossos melhores dias e acabe de vez com essa corrupção. Enquanto isso, o que nos resta é continuar acreditando, vivendo dia após dia, tentando fazer a diferença, já que o mundo não vamos mudar. O que nos resta é torcer para que aquelas pessoas honestas que estão no poder não desistam de lutar por este país, que não deixem esses corruptos a nossa luz apagar. Carlos Roberto Paranhos Gomes
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SOBRE O PROEJA...
O Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educa-
ção Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) comemorou 10 anos em 2017. No Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM) o PROEJA já existe há 9 anos, representado pelo Curso Técnico em Eletromecânica integrado ao EJA. Trabalho com esse curso há 6 anos e nos últimos 2 anos o estou representando como coordenadora. Em todas as minhas observações vejo muitos desafios e grandes conquistas.
O objetivo desse Programa é oferecer ensino fundamental e médio para
os trabalhadores que não concluíram seus estudos no período regular, para tal visa a formação do profissional a partir de uma organização curricular integrada (conteúdos pertinentes ao Ensino Médio e ao Ensino Técnico) e da utilização de metodologias e mecanismos de assistência que favoreçam a permanência e a aprendizagem do estudante. Dessa forma, os estudantes que acessam ao CTISM por meio desse Programa, vêm de realidades distintas, com os mais diversos conhecimentos e fazeres básicos, possuem diferentes faixas etárias e buscam ora o curso técnico, ora o diploma de ensino médio e, na maioria dos casos, ambas as oportunidades no mesmo espaço.
Os estudantes superam, em cada momento, as suas próprias expectativas.
Eles precisam se esforçar muito para se apropriar dos conhecimentos oferecidos pelos três anos de curso, sendo desafiados a buscar sempre mais aperfeiçoamento e informação.
Da mesma forma, os profissionais das mais diversas áreas de conheci-
mento que trabalham com esse público precisam moldar os conteúdos a cada nova
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turma heterogênea, adequar as teorias para pessoas que já estão há algum tempo afastadas do ensino e acrescentar à prática e ao fazer diário dos estudantes um conhecimento que possa agregar um olhar amplo à sua rotina. O desafio é elaborar aulas adequadas ao perfil dos estudantes e que possam superar a canseira do dia de trabalho, as diferenças de idade e de cultura e o desânimo que às vezes insiste em se fazer presente.
Além disso, reconhecemos que a sociedade colabora para que possamos
fazer o melhor trabalho possível. Diante da sociedade, o desafio é superar as suas expectativas e contribuir tecnicamente para ela, preparando profissionais que atendam as demandas, sejam plenos e felizes em suas profissões e agreguem valor ao que façam.
Sendo assim, vejo a evolução dos estudantes, desde a entrevista de seleção,
em seu primeiro contato com a instituição, até o momento da entrega do relatório de estágio obrigatório, levando para casa o diploma de conclusão do curso. Percebo o quanto são diferentes, mudam ao longo da jornada e superaram seus próprios medos e insegurança e fazem a diferença para fazer parte dessa história de desafios e superação que é o PROEJA.
Desejo sucesso e felicidade a todos os colegas e estudantes que contribuem
para que esse movimento aconteça. Espero que o Programa tenha longa vida e que possa contribuir com a sociedade da melhor maneira possível.
Alexsandra Matos Romio
Coordenadora do PROEJA - CTISM
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CAROS ALUNOS, o Colégio Técnico Industrial de Santa Maria - CTISM é uma tradicional instituição de ensino profissionalizante vinculado a Universidade Federal de Santa Maria e vem se afirmando como uma das principais instituições de ensino profissionalizante do país. Nossa Instituição que tem como missão “Construir e compartilhar conhecimento humano e tecnológico” atua em todos os níveis de ensino nas modalidades de ensino profissionalizante e da educação de jovens e adultos, buscando sempre o equilíbrio entre o ser e o fazer.
Dessa forma, o resultado do trabalho que encontramos registrado neste livro
é de muito orgulho para nossa Instituição, pois demonstra que nossos estudantes do Curso Técnico em Eletromecânica integrado ao ensino médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos obtiveram grande êxito no desafio da produção textual, uma habilidade muito importante para a construção do “ser”. Temos a certeza de que esta habilidade despertada em cada um de vocês, nossos alunos, proporcionará a nossa sociedade uma massa de profissionais completos, capazes de compreender e interagir com mundo a sua volta contribuindo para o desenvolvimento da humanidade. Parabéns a todos! Prof. Luciano Caldeira Vilanova
Diretor do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria
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