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Lula vai apresentar a Biden ideia de ‘clube da paz’ para Ucrânia com participação da China
Em conversa no Salão Oval da Casa Branca nesta sexta-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende apresentar ao seu homólogo americano, Joe Biden, a proposta de um “clube da paz” para negociar uma saída para o con lito na Ucrânia. O fórum incluiria países como Índia e China -e Lula deve propor a ideia também ao líder chinês, Xi Jinping, em sua visita a Pequim, que acontecerá em março.
O petista quer reunir um grupo de países que, na visão do governo brasileiro, não estão diretamente envolvidos na guerra para discutir uma perspectiva de longo prazo e uma solução no con lito. O Brasil reconhece que a Rússia foi um país agressor ao invadir a Ucrânia, mas acha que imposição de sanções e envio de armas ou munições não ajudarão a chegar na paz.
Brasília considera que Pequim estaria entre esses países, ainda que o regime chinês não tenha condenado a agressão da Rússia contra a Ucrânia e tenha optado por se abster em resoluções do Conselho de Segurança da ONU que condenavam Moscou. Recentemente, o embaixador chinês na ONU, Zhang Jung, disse que a guerra é “o resultado de desequilíbrios de segurança de longa data na Europa” e que esses desequilíbrios necessitam de “uma solução política”.
Na visão do governo brasileiro, a China é incontornável na negociação de paz. Outros países que devem ser convidados para isso são a Índia, que não aderiu às sanções ocidentais e aumentou suas compras de petróleo, carvão e fertilizante da Rússia, e a Turquia, que intermediou o acordo para que a Ucrânia voltasse a exportar grãos.
O clube da paz proposto por Lula seria como negociar uma resolução para o con lito entre Israel e Palestina, exempli ica um interlocutor: não poderia ter países diretamente alinhados a nenhuma das partes.
Não está claro de que forma Biden vai receber a proposta de Lula. Washington e Pequim vivem há anos uma escalada crescente de tensões, agravadas mais recentemente pelas disputas comerciais, pela posição americana em relação a Taiwan e até pelo balão chinês que os EUA abateram em seu espaço aéreo.
Nesta quarta-feira (8), John Kirby, do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, disse que a Guerra da Ucrânia estará na pauta da conversa entre os dois presidentes. Enquanto o governo americano articula um novo pacote de armamentos para Kiev na casa de US$ 1,75 bilhão, o brasileiro mantém a política do ex-presidente Jair Bolsonaro de evitar interferência mais direta no con lito e negou pedido da Alemanha para envio de munição a tanques do lado ucraniano.
Questionado pela reportagem se a neutralidade de Lula incomoda Biden, Kirby a irmou que “são decisões soberanas que as nações precisam fazer, e nós respeitamos isso”, antes de deixar clara a posição do governo. “Eu só posso falar por nós [EUA]. Nós não acreditamos que é momento para ‘business as usual’ [agir de modo habitual]”, a irmou ao descrever a guerra como “totalmente desprezível”.
Lula já havia lançado a ideia de um clube da paz após encontro com o premiê alemão, Olaf Scholz, em 30 de janeiro, em Brasília. Na ocasião, ele disse que o Brasil não tem interesse em enviar munições à Ucrânia porque não quer ter qualquer participação no con lito, mesmo que indireta.
“Temos que criar outro organismo, da mesma forma que criamos o G20 quando ocorreu a crise [econômica] de 2008”, disse Lula em entrevista coletiva. “A gente tenta criar, a gente cria um clube ecológico e a gente cria um clube das pessoas que vão querer construir a paz no planeta.” O presidente disse que Pequim poderia ter um papel importante para intermediar o im do con lito. “Está na hora de a China colocar a mão na massa e tentar ajudar a encontrar a paz entre Rússia e Ucrânia.”
A chanceler da França, que foi a Brasília nesta quarta-feira (8) em viagem preparatória para a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, demonstrou divergência em relação à abordagem brasileira da guerra. “Deixe-me ser muito clara: existe um país que foi atacado, a Ucrânia, e um agressor, a Rússia. Ao promover uma guerra ilegal contra um país soberano e independente, a Rússia, um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, violou deliberadamente os princípios da Carta das Nações Unidas. Ao mirar deliberadamente a infraestrutura civil, a Rússia está cometendo crimes de guerra. É nossa responsabilidade garantir que esses crimes não iquem impunes”, disse à Folha de S.Paulo.
Lula chega a Washington nesta sexta, acompanhado pelos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Marina Silva (Meio Ambiente) e Anielle Franco (Igualdade Racial), além do assessor especial Celso Amorim. Também viajam o secretário do ministério do Desenvolvimento Econômico Marcio Elias Rosa e o senador Jaques Wagner.
Ele se hospedará na Blair House, residência do governo americano em frente à Casa Branca onde icam chefes de Estado estrangeiros. O brasileiro a irmou que preferia icar em um hotel, mas foram levadas em conta questões de segurança, devido à agressividade de alguns apoiadores de Bolsonaro e à possibilidade de manifestações.
No local, o petista receberá o senador americano Bernie Sanders de manhã e se encontrará com deputados do Partido Democrata logo depois. À tarde, participa de encontro com representantes da AFL-CIO (Federação Americana de Trabalho e Congresso de Organizações Industriais), maior sindicato do país. Depois, será recebido por Biden na Casa Branca. Ele volta ao Brasil no sábado (11)