LIVRO DE OURO DO MUNDO PORTUGUÊS - Moçambique

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A RAZÃO POR QUE SE FEZ ESTE LIVRO O jornalista A N T Ó N I O FEIO, sonhou um dia, arquivar em livro, a vida dos Pioneiros portugueses, espalhados pelos cinco continentes, e m u i t o principalmente, nos territórios de Á f r i c a . Nada havia arquivado até agora, que nos falasse deles. Arquivados, somente os feitos militares, mas quanto aos Pioneiros, os principais obreiros das grandes realidades actuais, no campo da colonização, tudo se ia perdendo com o rodar dos anos . . . A N T Ó N I O FEIO entendia, e m u i t o justamente, que se historiasse a vida desses Pioneiros, em todos os seus sectores, que pudesse vir a servir de estímulo para os vindouros, e t a m bém, para não deixar cair no olvido o nome e a obra desses bravos portugueses! Assim pensando, decidiu que cada Província tivesse o seu volume, e a obra chamar-se-ia «0 LIVRO DE OURO DO M U N D O PORTUGUÊS», seguido do nome da Província a que se referisse o volume. Este sonho que A N T Ó N I O FEIO t a n t o desejava concretizar, exigia alguém, que tivesse interesse em realizá-lo, fosse jornalista e conhecesse um pouco de Á f r i c a , e se dedicasse, por largo tempo, ao trabalho de pesquisa, indispensável em tal caso, levando anos a sua confecção. Um dia, fui à Redacção do seu j o r n a l — o semanário « A C T U A L I D A D E S » — p o r motivo de colaboração f u t u r a . Nesse dia tivemos uma larga troca de impressões sobre trabalho, e eu pedi a A N T Ó N I O FEIO, que me mandasse em serviço para qualquer ponto longe de Lisboa. É então que surge a sua proposta para ser eu a fazer «O LIVRO DE OURO DO M U N D O PORTUGUÊS», por etapas. A c e i t e i , pondo apenas uma condição : iniciar esses livros começando por Moçambique, pois desejava imenso voltar à Província onde já estivera a trabalhar, onde deixara amigos, e tinha saudades de tudo voltar a ver : lugares e pessoas! A minha condição foi aceite, e pronto passei aos indispensáveis preparativos, partindo para Moçambique logo que fosse possível. Em M a i o de 1964 chegava a Lourenço Marques com o f i m de iniciar os trabalhos. Percorri toda a Província, de Lourenço Marques a Porto A m é l i a , pesquisando, contactando, observando, no que gastei quase dois anos! Em meados de Fevereiro de 1965, encontrava-me na Redacção do « N O T Í C I A S » — q u e era o meu quartel-general de trabalho — quando sou surpreendida por uma terrível notícia, trazida pelo Manuel Pombal, que me d i z : — «Lena, tenho uma notícia m u i t o triste para lhe dar! M o r r e u , às portas de Paris, num grave acidente de viação, o jornalista A n t ó n i o Feio!» Tal notícia deu-me um grande choque, e pensei com mágoa, que os seus olhos já não veriam as terras de Á f r i c a , que ele t a n t o desejava conhecer, nem veria editar a obra que ele havia sonhado! No meu coração, porém, estava escrita a promessa de cumprir, custasse o que custasse! Meses depois, regressei a Lisboa, onde me surgiram mil um problemas, que a sua morte inesperada, me acarretou! Mas eu estava empenhada em cumprir! Cumprir perante a sua memória e a gente de Moçambique, que sempre me tratara com t a n t o carinho e amizade, e o meu desejo, de com esta modesta obra, poder contribuir para um mais profundo conhecimento da vida dos que, espalhados por esta vasta Província, têm lutado e labutado para a tornar fértil e civilizada! Este trabalho não está tão completo como desejaria, mas razões alheias à minha vontade assim o determinaram, pois nem todas as pessoas com quem contactei acederam a dar a sua colaboração, outros ainda, por qualquer impossibilidade no momento próprio. Espero que me relevem essas falhas, pois tudo fiz para que resultasse num trabalho honesto e sério. Não interessa agora evocar os muitos prejuízos que tal encargo me acarretou, nem as arrelias sofridas para levar a cabo esta obra. Apenas interessa que a tenha feito. Neste momento, em que escrevo estas palavras, sinto uma grande satisfação por ver a minha promessa, f i n a l m e n t e , cumprida! A m i n h a palavra dada a A N T Ó N I O FEIO e ao povo de Moçambique, cumpriu-se!

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UM AGRADECIMENTO A q u i desejo formular e deixar expresso o reconhecimento e agradecimento, extensivo a todos quantos me a j u d a r a m , por qualquer f o r m a , a levar a bom termo este trabalho. Às entidades oficiais — de que menciono as p r i n c i p a i s — : o Comandante Peixoto Correia, então M i n i s t r o do U l t r a m a r ; à Força Aérea Portuguesa; à DETA, que generosamente me transportou através desta imensa Província, numa colaboração altamente valiosa; aos meus camaradas jornalistas, que me deram elementos e muita assistência; ao jornal « N O T Í C I A S » e a todos quantos lá trabalhavam nesse tempo pela excelente a j u d a ; aos repórteres f o t o g r á ficos Carlos A l b e r t o , Ludgero Bispo, A r m i n d o Afonso, Silva, que deram a sua colaboração grat u i t a ; aos meus camaradas de «O J O R N A L PORTUGUÊS», de Toronto (Canadá), onde uma parte deste livro foi f e i t a ; e a todos quantos em Moçambique me deram a sua prestimosa colaboração. Para todos vai o meu agradecimento e a minha gratidão! Sem ela eu nada poderia ter feito. Bem h a j a m ! A todos quantos tenham contribuído para o engrandecimento desta parcela da terra portuguesa — M O Ç A M B I Q U E — a minha homenagem sincera, a quem dedico este poema.

MARIA HELENA BRAMÃO

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"ÁFRICA" África . . . Terra descoberta nos confins dos mares por Homens que não t i n h a m medo! África : : : com Docas apinhadas de navios que despejam gente cheia de esperanças . . . e de sonhos! África : : : com urbes que se erguem altaneiras e vigorosas, criadas pela força e tenacidade do homem branco! África . . . obra do homem civilizado, arrojado . . . que deu ao M u n d o novos Mundos, cultivando o trigo onde só havia capim . . . África : : : lugar da terra onde o Sol brilha com mais fulgor, com noites de luar branco . . . e poentes de fogo . . . incendiando as almas! África . . . terra de permanente chamada ao Sonho e à Aventura . . . numa mistura de etéreo e de real, de anseios e de lutas! África . . . com seu «segredo-feitiço», que se entranha . . . nos corações e cria raízes . . . África . . . de beleza ímpar, promissora de fecundidades e grandezas, — pedra rara que os portugueses burilaram com sua a l m a e sangue! Homem branco, meu irmão, que por um sonho todo Ideal ergueste e construíste um Pedestal, — qual símbolo heróico — e nele ficarás perpetuado! A terra virgem, agreste e bela, fecundaste com o teu labor, e t u d o lhe ofertaste : o Sonho . . . a Vida . . . o A m o r !

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GOVERNADOR-GERAL DE MOÇAMBIQUE ALGUMAS NOTAS BIOGRÁFICAS

DR. BALTAZAR REBELLO DE SOUZA

O Dr. Baltazar Rebello de Souza é licenciado em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Lisboa, possuindo os cursos superiores de Medicina Sanitária e Medicina Tropical. Figura das mais representativas da sua geração, foi dos primeiros filiados da Mocidade Portuguesa, organização em que ingressou logo após ter sido criada, em 1936, e onde exerceu grande actividade, tendo ascendido, sucessivamente, a todos os postos da hierarquia de graduado e dirigente. Ao cumprir o serviço m i l i t a r , nas fileiras do Exército, no Batalhão de Caçadores 5, foi louvado, por ter "revelado qualidades que constituem a estrutura das virtudes militares e o classificam como um oficial com que se pode contar e como homem que, pelo seu aprumo, pode ser apontado como exemplo".

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Quando estudante, tomou também parte na actividade de vários organismos da juventude católica, e foi secretário-geral da Associação dos Escuteiros de Portugal e comandante do Centro Universitário de Lisboa da M O C I D A D E ^ PORTUGUESA. Em 22 de Julho de 1955, assumiu o alto cargo de subsecretário de Estado da Educação, no qual permaneceu cerca de seis anos, e em que revelou excepcionais qualidades de orientador e políticas, mais tarde novamente afirmadas no desempenho de outras importantes f u n ções, nomeadamente como vice-presidente, em exercício, do Conselho U l t r a m a r i n o , lugar que actualmente ocupava. Deputado à Assembleia Nacional em várias legislaturas, o Dr. Baltazar Rebello de Souza foi também secretário do sr. prof. Marcello Caetano, quando este ilustre homem público serviu no Governo como M i n i s t r o do Ultramar. Especialmente identificado com os problemas das pronvíncias ultramarinas, que por diversas vezes visitou, o Dr. Rebello de Souza é autor de numerosos trabalhos, na sua maior parte consagrados a questões de educação e cultura popular. Instituidor com o Dr. João Havelange (da Confederação Brasileira de Desportos) dos Jogos Desportivos Luso-Brasileiros, chefiou as delegações portuguesas aos 2.0S Jogos e ao II Congresso Luso-Brasileiro de Educação Física, no Brasil, em 1964, tendo visitado o Brasil pouco antes de ser nomeado para o cargo de Governador-Geral de Moçambique, onde proferiu uma importante conferência na sessão realizada no salão nobre do Ginásio Clube Português, do Rio de Janeiro, enquadrada nas comemorações do Dia de Portugal. Publicou vários trabalhos, entre os quais, "A QUESTÃO F U N D A M E N T A L " , "A RELIGIÃO E A V I D A " , " F Ó R M U L A S E CRITÉRIOS DA C U L T U R A POPULAR", " C H A M A DA M O C I D A D E " e o " A M O R PLENITUDE DA L E I " . Entre outras condecorações, o Dr. Baltazar Rebello de Souza possui a grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique, e os grandes oficialatos das Ordens de Cristo, da Instrução Pública, do Cruzeiro do Sul e de Cisneros. O Doutor Baltazar Rebello de Souza chegou a Moçambique em 23 de Julho de 1968, para iniciar o seu mandato de Governador-Geral, lugar que ocupou até Janeiro de 1970, a l t u r a em que foi nomeado M i n i s t r o das Corporações e Previdência Social e da Saúde e Assistência. O seu governo caracterizou-se por uma notável acção de realizações, em todos os sectores da vida moçambicana, sobre os quais se debruçou com devotado carinho e interesse, não esquecendo a A r t e nas suas diversas formas, fomentando certames artísticos, espectáculos c u l t u rais, promovendo reuniões para intercâmbio social entre artistas, a que o Governador se associava, presidindo com sua Esposa, que no capítulo da promoção social e benemerência igualmente desenvolveu notável actividade! Também o património histórico-artístico da Província não foi esquecido pelo Doutor Rebello de Souza, promovendo restauros e beneficiações. Era um Governador que se dava por inteiro à tarefa de governar e fazer progredir! Sua Esposa, a Senhora Dona M a r i a das Neves, seguia, em cópia f i e l , a acção de seu marido. Por isso, Moçambique sentiu, simultaneamente, alegria e tristeza, quando recebeu a notícia de que. o seu Governador fora nomeado M i n i s t r o do Governo Central. É que o Doutor Baltazar Rebello de Souza ganhara o coração e estima da gente que governava, sem distinção de classes. Foi apoteótica a sua p a r t i d a , em que o povo de Lourenço Marques e Beira lhe proporcionaram uma despedida inesquecível, tão grande e calorosa f o i ! Tais provas de consideração e apreço, de que foi alvo, j u n t a m e n t e com sua Esposa, devem tê-los sensibilizado profundamente! Moçambique também o recordará como tendo sido, até ao presente, um dos seus mais notáveis governantes!


PRESIDENTE DA CAMARÁ MUNICIPAL DE LOURENÇO MARQUES

ENG.° EMÍLIO EUGÉNIO DE OLIVEIRA MERTENS

O actual Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques, é uma individualidade que tem m u i t o da sua actividade profissional indelevelmente ligada à Província de Moçambique — nomeadamente à obra do Limpopo — região a que se devotou com todo o seu entusiasmo e saber, ajudando-a a desbravar! A l g u é m disse, referindo-se ao Eng.° Emílio Mertens, que «ele era um dos homens obreiros do Limpopo». Efectivamente assim é, pois c o n t r i b u i u , poderosamente, não só com os seus conhecimentos profissionais, mas também ,com devotado interesse e carinho por essa obra de povoamento, e que é hoje, a imagem do que o homem pode fazer, quando a vontade é f i r m e : a obra do Vale do Limpopo! A ela ficará ligado o seu nome, j u n t a m e n t e com outros prestigiosos. E agora que estas palavras surgiram em primeiro plano na sua biografia, à « i n t r ó i t o » , vamos iniciar uma retrospectiva.

laia de


O Eng." Emílio Eugénio de Oliveira Mertens, nasceu nos arredores de Lisboa, em Algés. Iniciou os seus estudos universitários na Universidade de Coimbra, vindo a concluí-los na Universidade de Lisboa, formando-se simultaneamente, em Engenheiro Geógrafo e em Ciências Matemáticas. A sua vida pública começou na Metrópole, prestando serviço na Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola, em 1943, ocupando, sucessivamente, vários cargos, entre eles, o de Secretário do Subsecretário de Estado do U l t r a m a r , de que recebeu louvor, por «ter exercido o cargo com m u i t a dedicação, zelo e competência». Em Março de 1953, o Eng. 0 Emílio Mertens, é contratado para prestar serviço como Adjunto do Chefe da Brigada Técnica de Fomento e Povoamento do Limpopo, vindo em seguida, para Moçambique. Em 17 de Dezembro de 1953, passou a exercer, na mesma Brigada, as funções de Engenheiro Chefe. Dez anos depois, em Setembro de 1963, foi nomeado Inspector Provincial dos Serviços Geográficos e Cadastrais da Província de Moçambique, tendo tomado posse em Novembro de 1963. Em Outubro de 1967 foi nomeado para desempenhar, em comissão de Serviço, o cargo de Presidente da Junta Provincial de Povoamento de Moçambique, tendo tomado posse em 26 de Fevereiro de 1968. A 10 de Fevereiro de 1969 é designado para exercer, em comissão de serviço, o cargo de Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques, tendo tomado posse em seguida, a 20 de Fevereiro. A t é ao presente, o Eng. 0 Emílio Mertens teve numerosos louvores, sempre por «muita dedicação, zelo e competência técnica», ou ainda pelo bom desempenho de missões fora do país, como por exemplo, por «na qualidade de membro da Comissão dos Rios Internacionais de Moçambique, pela forma inteligente, criteriosa e dedicada como conduziu esses trabalhos, a cargo da referida comissão». O Eng.0 Emílio Mertens, igualmente tem desempenhado variadíssimas missões especiais, dentro e fora do país, das quais tem sido incumbido oficialmente, de que destacamos algumas das mais recentes. Em 1968 chefiou a Delegação Portuguesa à reunião da «SARCCUS», em Salisbúria; nomeado para a Comissão Coordenadora Portuguesa do Congresso Sul-Africano para o avanço das Ciências, realizado em Julho de 1968. Também durante o ano de 1968 foi o Presidente da Sociedade de Estudos de Moçambique. Ao dinamismo, visão exacta do tempo presente, e inteligente critério sidente da Câmara, por certo que, m u i t o virá a beneficiar a cidade, nele se grandes esperanças. Algumas inovações já s u r g i r a m , entre elas no capítulo sentação, g r a t u i t a , de espectáculos no recinto da Câmara — criação de novas a assegurar uma maior eficiência nos seus serviços.

seguido pelo Prepodendo depositar c u l t u r a l — a apresecções, tendentes

Dado o crescimento constante de Lourenço Marques, que assim, se associa ao surto de desenvolvimento que se processa por toda a Província, impunha-se ter à frente do município alguém capaz de corresponder a esse progresso de se devotar a ele, debruçando-se sobre os seus variados, e por vezes, tão complexos problemas! Por tudo quanto já foi dito em referência à personalidade do Eng. 0 Emílio Mertens, tudo leva a supor que melhor escolha não poderia ter sido f e i t a . Quem ajudou — com «pioneiro» espírito de sacrifício a desbravar terras moçambicanas — não deixará, t a m b é m , de se dedicar, com igual interesse e carinho a esta nova missão de dirigir e governar o Município lourenço-marquino.


VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LOURENÇO MARQUES

JOÃO FERNANDES DELGADO

Pela primeira vez, e dado o grande desenvolvimento da capital da Província, acaba de ser criado o lugar de Vice-Presidente. Precisamente porque é o primeiro a exercer tal cargo quisemos arquivar neste livro, a figura de relevo do Eng.° João Fernandes Delgado, o primeiro Vice-Presidente agora nomeado, traçando em resumo a sua biografia. O Eng.° João Fernandes Delgado nasceu na Metrópole, em V i l a Real de Santo A n t ó n i o , tendo-se licenciado em Ciências M a t e m á t i c a s , em 1937, e terminando o curso de Engenheiro Geógrafo, em 1938, na Universidade de Lisboa, com as classificações de «Bom». Além destes, possui o curso de Fotogronometria, tirado na Escola Politécnica Federal de Zurique, na Suíça. É instrutor de Topografia M i l i t a r Aplicada do Serviço Geográfico do Exército, desde 1942, tendo colaborado nas I e II Jornadas de Engenharia do U l t r a m a r , realizadas em Lourenço Marques e Luanda, respectivamente, em 1965 e 1969. Iniciou, muito jovem, a sua carreira pública, em missões de serviço pelo U l t r a m a r , tendo estado em Moçambique, Angola e Guiné, sempre desempenhando com competência e zelo os cargos de que era incumbido. Em 1963, o Eng.° João Fernandes Delgado foi nomeado Inspector Provincial dos Serviços Geográficos e Cadastrais de Moçambique, lugar que tem desempenhado até à actualidade, sendo t a m b é m , o Presidente da Sociedade de Estudos de Moçambique.

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LOURENÇO MARQUES «A capital da Província, Lourenço Marques, e os seus arredores, constituem uma zona turística de invulgar interesse. É-o por virtude da sua famosa praia da Pólvora, quase na foz de três rios que desaguam na Baía do Espírito Santo — o Tembe, o Umbelúzi e o M a p u t o . As suas águas são de temperatura m u i t o agradável, sem a frieza do mar que ali se j u n t a com as correntes dos rios mencionados; é-o pelo seu palmar à beira da Baía, onde a municipalidade mandou construir as tão conhecidas «palhotas maticas» que servem de residência de férias aos turistas; é-o pela amenidade do seu clima, pela beleza da própria cidade, pela maneira franca e aberta com que os portugueses recebem as suas visitas; é-o pelos divertimentos que pode oferecer ao estrangeiro, em espectáculos públicos de que o «bull-fight» é o maior cartaz de propaganda; é-o pela categoria dos seus cinemas, pelas especialidades gastronómicas de cada um dos seus restaurantes, pela excelência dos nossos vinhos, pelos passeios na Baía e pela pesca desportiva; é-o pelas provas de vela e pelos desafios de futebol ou pelos combates de boxe. É-o, principalmente, porque Lourenço Marques tem um padrão de vida diferente e é uma cidade limpa.

Um aspecto parcial da cidade

Cidade-jardim, assim classificaram os próprios visitantes a capital moçambicana. E, realmente, Lourenço Marques é um j a r d i m multiplicado por mil jardins, diferentes uns dos outros mas todos igualmente maravilhosos do cor, de perfume, de aspecto próprio, que põem manchas de verdura à beira dos passeios e p u r i f i c a m o ar que se respira. Seja sob que prisma se pretenda olhar a sempre jovem e bela Xilunugíne, a verdade é que Lourenço Marques, entre todas as cidades portuguesas, é a mais arrojada na concepção urbanística e a mais florida que o génio lusitano criou.»

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ESTUDOS GERAÍS UNIVERSITÁRIOS DE MOÇAMBIQUE

Alocução do Governador-Geral, Almirante Sarmento Rodrigues

Os Estudos Gerais Universitários de M o ç a m b i q u e , foram solenemente inaugurados a 8 de Novembro de 1963. Tal criação m u i t o veio contribuir para o desenvolvimento da cultura na Província. Os Estudos Gerais iniciaram os seus trabalhos com os seguintes Cursos: CIÊNCIAS — M E D I C I N A E CIRURGIA — E N G E N H A R I A C I V I L — E N G E N H A R I A DE M I N A S — E N G E N H A R I A M E C Â N I C A — E N G E N H A R I A ELECTROTÉCNICA — E L E C T R Ó N I C A — V E T E R I N Á R I A E AGRONOMIA. A 19 de Novembro de 1963 foi solenemente inaugurado, anexo aos Estudos Gerais U n i versitários, o Centro de Estudos Humanísticos. A m p l i a n d o sempre e melhorando as condições de ensino, foram inaugurados em A b r i l de 1964, os Laboratórios de Física, Química e Ciências. A i n d a em 1963, a ]0 de Novembro, portanto um mês depois da solene inauguração dos Estudos Gerais Universitários, foi inaugurada a Residência Universitária «Alferes Dr. José Carlos Godinho Ferreira de A l m e i d a » .


O Professor Doutor José Veiga Simão, é desde o início, o M a g n í f i c o Reitor dos Estudos Gerais Universitários de Moçambique.

Alocução do Magnífico Reitor, Prof. Doutor José Veiga Simão

A FUTURA CIDADE UNIVERSITÁRIA As Instalações Universitárias que se projectam erguer na Cidade de Lourenço Marques virão ocupar uma área de terreno situado na zona de Sommerschieid, delimitado de acordo com a Câmara Municipal e constituída pela parcela actualmente ocupada pelo Centro de Telecomunicações dos C.T.T. e por uma área adjacente a esta. 0 conjunto das Instalações Universitárias foi concebido plenamente integrado no tecido urbano e social da cidade para estímulo de contacto constante e fecundo entre todos os seus habitantes e a população universitária. No plano das próprias instalações está implícito o desejo de promover e fomentar o convido diário intenso entre a população escolar e os docentes, técnicos, e seus familiares. 0 carácter informal dominará t a n t o o conjunto como as construções, que dispersas no parque Botânico, assumirão um forte sentido funcional e racionalmente económico, na procura do máximo de eficiência no tempo presente, e da maior capacidade de ajustamento ao sentido da evolução que o f u t u r o exige de uma Universidade. — 19


A maleabilidade da concepção permite esperar poder fazer-se face a todas as solicitações e exigências que o f u t u r o nos reserve e que, de momento, é imposível prever embora se a d i vinhe que nos surpreenderão. As instalações Universitárias foram projectadas para servir uma população escolar de cerca de 5.000 a 6.000 alunos, número que se julga seja atingido dentro de 20 a 25 anos. Após a sua conclusão calcula-se que possam viver no área das instalações Universitárias, aproximadamente, 60 por cento dos estudantes e do pessoal docente, técnico, administ r a t i v o e menor. Desde j á , estão previstas instalações para os seguintes serviços: FACULDADE DE CIÊNCIAS — Com os seus Zoologia, Botânica e Mineralogia.

Institutos de M a t e m á t i c a , Física, Química,

FACULDADE DE M E D I C I N A — Com os seus diversos Institutos e Hospital Escolar. I N S T I T U T O SUPERIOR DE A G R O N O M I A E S I L V I C U L T U R A — Com os seus diversos departamentos e laboratórios. ESCOLA SUPERIOR DE M E D I C I N A V E T E R I N Á R I A — Com os diferentes Institutos que a integram. INSTALAÇÕES culturais.

A C A D É M I C A S — Comportando locais para recreio, desporto e actividades

REITORIA E SERVIÇOS A D M I N I S T R A T I V O S As construções que se integram na Cidade Universitária serão erguidas por fases, dando-se prioridade absoluta às edificações docentes. Em virtude de actualmente serem os Institutos mais deficientemente instalados, os p r i meiros edifícios a construir destinam-se à Faculdade de Ciências, esperando-se que o primeiro a estar concluído seja o I n s t i t u t o de Física.

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SESSÃO SOLENE INAUGURAL DO CENTRO DE ESTUDOS HUMANÍSTICOS

O

Dr.

Alexandre

Lobato

pronunciou

uma conferência subordinada ao tema: Problemática dos Estudos Humanísticos n u m a perspectiva portuguesa

0 Centro de Estudos Humanísticos, criado j u n t o da Universidade de Lourenço Marques por deliberação do Senado, foi solenemente inaugurado, na Sala dos Actos Grandes, no dia 19 de Novembro de 1963. No acto da inauguração proferiu uma conferência o deputado da Nação e insigne historiador moçambicano, Dr. Alexandre Lobato, tendo usado da palavra além do Governador-Geral, Almirante Sarmento Rodrigues, o M a g n í f i c o Reitor, Prof. Doutor Veiga Simão, e o Director do Centro, Prof. dr. Luís Ribeiro Soares.

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SOCIEDADE DE ESTUDOS DE IVfOÇAMBIQUE UMA INSTITUIÇÃO CULTURAL PIONEIRA A Sociedade de Estudos de Moçambique foi instituída em 6 de Setembro de 1930, data em que foram superiormente aprovados os seus Estatutos, publicados pela Portaria n.° 1185, daquela data. Resultou de um movimento inspirado pelo Engenheiro de M i n a s , A n t ó n i o Joaquim de Freitas, que veio a ser o seu Sócio Fundador n.° 1. Na Circular-Convite que dirigiu aos intelectuais de Moçambique, a propor a fundação da Sociedade, mencionava A n t ó n i o Joaquim de Freitas, ser um dos objectivos «estabelecer um convívio intelectual necessário às pessoas que vivem pelo cérebro». Os Estatutos aprovados d e f i n i r a m como objectivos da Sociedade de Estudos, contribuir para o estudo e valorização económica de M o ç a m b i q u e ; e contribuir para o desenvolvimento intelectual, moral e físico dos seus habitantes em geral, e, em especial, dos seus associados. A A n t ó n i o Joaquim de Freitas juntaram-se 101 Sócios Fundadores. E depois, desde 1930, muitos outros, que com esforço, dedicação e inteligência têm vindo a realizar com persistência os objectivos da Sociedade. Foi o primeiro Presidente da Direcção da Sociedade de Estudos o Coronel Eduardo Augusto da A z a m b u j a M a r t i n s . Sucederam-lhe o Eng.° Joaquim Jardim Granger ( 1 9 3 2 - 3 4 ) ; o Coronel João José Soares Z i l h ã o (1935 e 1 9 4 0 - 4 1 ) ; o Eng.° M á r i o José Ferreira Mendes (1936-38 e 1 9 4 6 - 4 9 ) ; o Comte. José Cardoso ( 1 9 3 9 ) ; o Eng.° A n t ó n i o Joaquim Freitas ( 1 9 4 2 - 4 5 ) ; o Dr. A n t ó n i o Esquivei ( 1 9 5 0 - 6 0 ) ; o C o n t r a - A l m i r a n t e João Moreira Rato ( 1 9 6 1 - 6 2 ) ; e o Prof. Eng.° M a n u e l Gomes Guerreiro (1963). O actual Presidente é o Eng.° João Fernandes Delgado. Foram nomeados Sócios Beneméritos, pelos relevantes serviços prestados à Sociedade de Estudos, o C o n t r a - A l m i r a n t e Manuel M a r i a Sarmento Rodrigues, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques. A Sociedade de Estudos foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem M i l i t a r de Sant'lago da Espada (1956), grau de Oficial da Ordem de Instrução Pública (1960), Medalha de Ouro de Serviços Distintos da cidade de Lourenço Marques (1960) e Palma de Ouro da Academia das Ciências de Lisboa (1960). Dentro da acção desenvolvida desde 1930, a Sociedade de Estudos tem promovido a realização de estudos, cursos, lições, conferências, congressos, exposições e sessões de cinema. Desde 1931 que se publica o «Boletim da Sociedade de Estudos de M o ç a m b i q u e » , que é presentemente t r i m e s t r a l . Tem editado outras publicações entre as quais se destaca «A Cartografia A n t i g a da Á f r i c a Central e a Travessia entre Angola e Moçambique, «1500-1860» da autoria do ilustre historiógrafo Comte. Avelino Teixeira da M o t a , que a dedicou ao C o n t r a - A l m i r a n t e Sarmento Rodrigues e a ofereceu à Província de Moçambique. A edição foi custeada por subsídio especial concedido pelo Governo-Geral de Moçambique, tendo-se feito a versão inglesa. As publicações da Sociedade de Estudos são permutadas com as de numerosas instituições nacionais e estrangeiras em todo o M u n d o . Foi assim organizada progressivamente uma Biblioteca de carácter enciclopédico, que conta cerca de 25 0 0 0 volumes; e uma biblioteca juvenil, com perto de 1500 volumes, convenientemente escolhidos. O actual Presidente, é o Eng.° João Fernandes Delgado.

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Vista geral do edifício da Sociedade de Estudos

A Socideade de Estudos tem-se feito representar em diversos congressos e reuniões de carácter c u l t u r a l , no país e no estrangeiro. Desde 1934 que participa nos congressos anuais da Associação Sul-Africana para o Progresso da Ciência, tendo colaborado na Organização dos Congressos de 1948 e de 1958, que se realizaram em Lourenço Marques. Já nos Estatutos aprovados em 1930 se previa a necessidade de se conseguir «uma sede suficientemente a m p l a , cujos meios de trabalho e conforto irá sucessivamente aumentando, por forma a tornar a sua frequência cada vez mais agradável». Depois de grandes esforços, foi finalmente decidia a construção do novo Edifício-Sede em 1962, sendo Presidente da Direcção o C o n t r a - A l m i r a n t e João Moreira Rato, que desenvolveu valiosa acção para tornar viável a realização. Os encargos foram suportados por subsídio, concedidos pelo Governador-Geral de Moçambique, C o n t r a - A l m i r a n t e Sarmento Rodrigues, pela Fundação Calouste Gulbenkian, por reservas criadas, por quotização suplementar por parte dos sócios, e por um empréstimo a amortizar anualmente. O edifício, segundo projecto do arquitecto Marcos Guedes e o Eng.° Carlos Pó, foi executado em 1963, sob a orientação da Direcção presidida pelo Prof. Eng.° Manuel Gomes Guerreiro, tendo sido inaugurado oficialmente em 21 de A b r i l de 1964, pelo Governador-Geral de Moçambique, C o n t r a - A l m i r a n t e Sarmento Rodrigues. Registam-se também as numerosas e várias ofertas recebidas de diversas entidades para o apetrechamento do novo Edifício-Sede. Na sua estrutura a c t u a l , a Sociedade de Estudos compreende as seguintes secções: Artes e Humanidades; Ciências Exactas; Ciências N a t u r a i s ; Ciências Sociais; Agro-Pecuária; Economia e Finanças; Engenharia e A r q u i t e c t u r a ; Legislação e Jurisprudência; Medicina, Veterinária e Farmácia; Estudos Brasileiros; Estudos Franceses; Etnologia A f r i c a n a ; Feminina; e de I n i ciação Cultural. No relatório da Direcção, relativo a 1964, figura o seguinte resumo das sessões públicas realizadas naquele a n o : 21 conferências; 39 conferências ou lições incluídas em cinco ciclos de conferências e cursos; 6 exposições diversas; 7 sessões de cinema; 18 sessões de cinema para jovens, com filmes educativos e recreativos. A Sociedade de Estudos de Moçambique m u i t o tem contribuído para o estudo e valorização da Província de Moçambique, assim como para o seu desenvolvimento moral e intelectual.

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RODRIGUES JÚNIOR JORNALISTA, O

ESCRITOR DE

ESCRITOR, MAIS

ENSAÍSTA

REPRESENTATIVO

MOÇAMBIQUE

O «Patriarca do jornalismo e das letras moçambicanas» — assim o designa um crítico m e t r o p o l i t a n o — , nasceu em Lisboa, na Freguesia do Socorro — um bairro popular do centro da capital do Império. Rodrigues Júnior, que descende de uma família madeirense, veio para Moçambique com seus pais, t i n h a então 18 anos, em 1919. Pouco depois da chegada a Moçambique, coíocou-se nos Caminhos de Ferro, e simultaneamente, iniciou-se nas lides jornalísticas, escrevendo para o «BRADO A F R I C A N O » . Colaborou na revista «SEARA N O V A » , de Lisboa; « C I V I L I Z A Ç Ã O » , do Porto; e outras. Foi chefe de Redacção d e : «O E M A N C I P A D O R » , «O J O R N A L » , o « N O T Í C I A S » , e redactor principal, bem como proprietário, da revista de arte e crítica « M I R A G E M » . Foi, durante muitos anos, o representante, em M o ç a m b i q u e , do « D I Á R I O de L U A N D A » . Como jornalista convidado, esteve na Holanda; em Goa, Damão e D i u ; na Alemanha Ocidental, e por ú l t m o , em 1963, em A n g o l a . Foi, t a m b é m , o presidente do Centro Cultural dos novos. É membro efectivo da Sociedade de Geografia de Lisboa; sócio da Sociedade Portuguesa de Escritores, e vice-presidente do Grupo de A r t e s , Letras e Actividades Culturais e Jornalismo, da Secção de Estudos Brasileiros da Sociedade de Estudos de Moçambique. Quase toda a sua actividade de escritor e jornalista tem sido dedicada ao estudo dos problemas de M o ç a m b i q u e , para o que realizou, durante mais de 20 anos, viagens de inquérito económico-sociais, através de toda a Província. Na opinião da crítica metropolitana «os seus estudos sobre Moçambique são, a par de notáveis obras literárias, trabalhos de sociólogo, de colonialista, de moralista e, até, de economista, e muitas das melhores páginas da nossa novelística e da nossa reportagem, destes últimos t r i n t a anos, por exemplo, saíram das suas i n f a tigáveis mãos». Falando da sua obra, diremos que durante a sua longa vida profissional, de mais de 40 anos de labor intenso, Rodrigues Júnior editou até ao presente, 42 obras, entre Ensaios,

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Estudos, Romances e Reportagens. Alguns desses valiosos trabalhos foram galardoados com diplomas e prémios nacionais, que passamos a mencionar: DIPLOMA DE H O N R A do Núcleo de A r t e , em 1945; D I P L O M A DE H O N R A do Concurso de Literatura U l t r a m a r i n a , em 1945; PRÉMIO DE LITERATURA U L T R A M A R I N A , em 1949; 1.° PRÉMIO DE J O R N A L I S M O , em 1950; D I P L O M A DE H O N R A do Concurso de Literatura Ultramarina, em 1 9 5 1 ; PRÉMIO «FERNÃO MENDES P I N T O » , nacional, de Literatura Ultramarina, em 1960; PRÉMIO «AFONSO DE B R A G A N Ç A » , nacional, de Jornalismo, em 1961. E por ú l t i m o , em 1969, recebe da Academia de Ciências, de Lisboa, da Classe Letras, o PRÉMIO «RICARDO MALHEIROS» que premeia a sua ú l t i m a obra, o romance «ERA O TERCEIRO D I A DE V E N T O SUL». O que é e o que vale a obra literária de Rodrigues Júnior, já todos o sabemos, no entanto parece-nos interessante arquivar nestas páginas, que ficam no presente e para o f u t u r o , como subsídio histórico, daqueles que, por qualquer f o r m a , contribuíram para o engrandecimento da Província, o que a crítica tem d i t o a seu respeito. Referindo-se ao seu trabalho «ENCONTROS», Nuno Silveira, escreve: «A mesma f i n a sensibilidade, o mesmo espírito agudo de romancista, repórter, ensaísta, sociólogo, areja estas páginas com um largo sopro de lírica emoção, de espírito crítico, de imensa capacidade de vivência dos problemas com que o homem contemporâneo se confronta. Mais um belo, indispensável livro saído do incansável labor intelectual do mais representativo escritor ultramarino. Nós saudamo-lo da forma que nos parece mais indicada: falando em breves linhas de Rodrigues Júnior, da sua obra, da imensa gratidão de uma geração inteira que ele soube comandar, t a n t o através do exemplo da sua probidade intelectual, como através do dia a dia em que chefiou redacções, estimulando, aconselhando, corrigindo, valorizando aqueles para os quais foi sempre e acima de tudo mestre e camarada. Rodrigues Júnior conseguiu conquistar um raro equilíbrio: o da harmonização do seu lirismo e do seu espírito polémico. O escritor está sempre bem, sempre seguro, sempre forte em qualquer dos géneros que solicitem a sua necessidade de criação,e de revisão de erros sociais e políticos.» Quando em 1967, Rodrigues Júnior publicou o estudo «MÃE NEGRA», A m â n d i o César referiu-se elogiosamente a esta obra, dizendo: «Rodrigues Júnior — um dos raros escritores de Moçambique que conhece a gama toda da sua Província, nas diferenciações e ramificações dos problemas, verificou que o problema da «mãe negra», era um daqueles que necessitavam de meditação e investigação maior do que lhe poderia dar numa novela, num romance ou numa crónica. Daí a importância deste estudo a que desejou, intencionalmente, tirar a ganga da erudição demonstrada, para nos apresentar um texto com erudição, assinalada e vazada numa experiência que era a dele próprio.» E mais adiante a f i r m a : «Escrito com aquela clareza meridiano que Descartes aconselhava para as ideias claras, o estudo de Rodrigues Júnior lê-se e relê-se com o mesmo interese de uma primeira leitura e com a emoção de se estar diante de um t e x t o , sabiamente preparado para a leitura proveitosa. Isso, bem o sei, é oficinagem. Mas a oficinagem também é uma característica do virtuosismo de um escritor. E só me consta que os grandes escritores sejam capazes desse milagre: darem como aparentemente simples de elaborar aquilo que foi d i f í c i l , m u i t o difícil de cerzir. Que o diga o nosso Eça . . . » Reis Ventura, do jorna! luandense, «Província de A n g o l a » , escreve a propósito e referindo-se a «MÃE NEGRA»: «0 maior escritor vivo de Moçambique, no seu estilo directo e comunicativo, tão adequado à alta dignidade do assunto, fala da mãe africana com a justiça de um homem bom, com a competência de um intelectual m u i t o culto e com a emoção bem característica do seu enternecido coração de português. Graças a este conjunto de virtudes, produziu um trabalho que fica a enriquecer a literatura portuguesa com um depoimento m u i t o lúcido, grandemente oportuno e todo refulgente daquela beleza a que Platão chamou o esplendor da verdade.»

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Terminamos com algumas palavras insertas na revista « A N H E M B I » , de São Paulo, Brasil, que d i z : «Entendemos, para lá das catalogações momentâneas, que Castro Soromenho é o escritor de A n g o l a . Com a mesma exactidão que vemos em Rodrigues Júnior o escritor de Moçambique, afirmado pela «moçambicanidade» da sua vasta obra.» Ela projectou-se para além das fronteiras de Portugal. Assim o comprovam o Ensaio « M O Z A M B I Q U E , PUEBLO NUEVO» da autoria de Francisco Elias Tejada, catedrático da Universidade de Sevilha; o Estudo «PORTUGUESE A F R I C A » , de James D u f f y , catedrático da Harvard University, de Cambridge, Massachussets, o Estudo crítico e histórico «AFRIC A N LITERATURE IN THE PORTUGUESE L A N G U A G E » , do Prof. Geraid M. Moser, da Pennsylvania University, que citam largamente, com relevo, Rodrigues Júnior. O laureado escritor é oficial da Ordem do Infante Dom Henrique e Cavaleiro da Soberana Ordem dos Cavaleiros de Colombo. Eis a traços largos, a biografia do maior e mais representativo escritor de M o ç a m b i q u e : RODRIGUES JÚNIOR.

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CONCHITA BRETON Conchita Breton, a primeira a ensinar a A r t e do Bailado, em Lourenço Marques, nasceu em Madrid, num dos Bairros castiços da bela capital de Espanha. Com oito anos iniciou a sua aprendizagem na arte de bailar, na Escola de «Ballet» Clássico Espanhol, no Teatro Real de Madrid, passando mais tarde, para a Escola do Maestro M a r t i n e z — consagrado Mestre — e depois, para a Escola de M í m i c a de Flora Rossini. Foi, t a m b é m , aluna do Mestre Montesinos, pai da conhecida artista de cinema, Rita Hayworth. Apenas com 14 anos, apresentou-se pela primeira vez, no T e a t r o da Ópera de M a d r i d . Depois de ter frequentado o T e a t r o Liceu, de Barcelona, tornou-se bailarina profissional, percorrendo as principais cidades de Espanha. Em Paris, apresentou-se no T e a t r o A l h a m b r a , célebre casa de espectáculos, onde se manteve a trabalhar com sucesso, durante meses. Anos mais tarde, visitou Portugal, apresentando-se, pela primeira vez, no Casino de Espinho. Em Portugal permaneceu oito anos, tendo estado t a m b é m , em Angola. Conchita Breton veio para Moçambique em 1949, por contrato artístico, mantendo-se a trabalhar durante seis meses. Veio a casar-se com um português, radicando-se, por tal f a c t o , em Moçambique, ou mais precisamente, em Lourenço Marques. De início, começou por dar lições em sua casa, e simultaneamente, deu lições no Clube Naval, e depois, nos Velhos Colonos. Depois, leccionou durante 10 anos, no I n s t i t u t o I n f a n t i l . Em 1956 abriu a Escola de «Ballet» no Clube Ferroviário, onde continua a ensinar a arte do bailado.

C O N C H I T A BRETON com um grupo de alunas

Todos os anos, as suas alunas se apresentam num grande espectáculo, que além do êxito artístico que sempre alcançam, são ainda uma prova da tenacidade, do carinho e interesse com que Conchita Breton se t e m dedicado, através de todos estes anos, ao «Ballet», procurando elevar o nível cultural da juventude, e ajudando-a a desenvolver-se em linhas harmoniosas. Além da Escola de «Ballet» do Ferroviário, Conchita Breton continua a leccionar, t a m b é m , em sua casa. Eis a traços largos, a biografia da a r t i s t a que introduziu a A r t e do «Ballet» em Lourenço Marques. — 27 —


I

Poetas

de

MOÇAMBIQUE TIMBRE EU,

M í n i m o sou, Mas quando ao Nada empresto A minha elementar realidade, O Nada é só o resto.

Morreu.

Só há ideal No plural. Tecidos Como fios que há nos linhos, Parecidos Entre nós como dois molhos, Somos do tempo de viver aos molhos Para morrer sozinhos

Reinaldo Ferreira

Reinaldo Ferreira

BATUQUE A dissonância que rompe a noite contém mensagens duma alegria rude e desnuda que me trepassa.

RUMO A i , noite, irei contigo. Não serei estrela nem abrigo, nem m u r m ú r i o perdido A i , noite, irei contigo. Não serei estrela nem abrigo, nem m u r m ú r i o perdido ou voz clara de linho.

Ânsias ocultas, clamores perdidos e t a n t a coisa que não se indaga

A dissonância que rompe a noite é como o g r i t o d u m cristal puro que se estilhaça.

Serei apenas eu que irei contigo. Fica pairando, num ritmo agudo, incompreendido, e permanece ainda, oculto e vivo, na palidez tranquila da madrugada.

(Que prossigo descalça e sem caminho.)

Glória de SanfAna

Glória de SanfAna 28


ILHA

TARDE

DOURADA

NO

RIO

ZAMBEZE

Rio calmo. Á g u a de prata a cintilar Onde as nuvens vulcânicas se m i r a m , Almadias que esperam o regressar, Peixes que saltam, viram e reviram.

A fortaleza mergulha no mar os cansados flancos e sonha com impossíveis naves moiras. Tudo mais são ruas prisioneiras e casas velhas a mirar o tédio. As gentes calam na voz uma vontade antiga de lágrimas e um riquexó de sono desde a Travessa da Amizade. Em pleno dia claro vejo-te adormecer na distância, Ilha de Moçambique, e faço-te estes versos de sal e esquecimento

Na areia, um crocodilo a rastejar, À distância, mais dois que submergiram, Fogo no Céu! Espreitas do Luar Quando a Terra e o Sol se despediram! Aigretes brancas saltam com leveza, Macacos g u i n c h a m , correm com destreza, Gigantescos bambus e matagais. Pretos e pretas que no f i m do dia Batucam, g r i t a m , dançam de alegria Ritmos inquietos, loucos, sensuas . . .

Anunciação Prudente

Rui Knopfli

A

FLORBELA

ESPANCA

« V i m de M o i r a m a , sou f i l h a de Rei . . .» Florbela Espanca GRITO

DE

ALMA

Vem de séculos, a l m a , essa orgulhosa casta, Repudiando a dor, tripudiando a lei. Num gesto de altivez que em onda leve, arrasta inteiras gerações de amaldiçoada grei. Ir procurar, amor, nessa altivez madrasta, Um gesto de carinho ou de brandura, eu sei? Ao tigre dos juncais, duma crueza vasta, Quem há que roube a presa? A p o n t a - m e e eu i r e i ! Cruel destino o meu, que ao meu caminho trouxe Na fulgurante luz do teu olhar tão doce A mágoa minha eterna, a minha eterna dor. Vai. Segue o teu destino. A onda quer-te e passa. Vai com ela cantar o orgulho da t u a raça Que eu ficarei cantando o nosso eterno amor . . .

Rui de Noronha

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M i n h a pobre princesa destronada Encontraste, a f i n a l , onde reinar . . . Ouviu a M o r t e a prece torturada Que lhe fizeste um dia, a soluçar . . . Pousaste, e n f i m , a fronte já cansada, Fechaste as asas tontas de voar — Romeira vagabunda e f a t i g a d a , Pálida irmã da noite e do luar. Para nós, na magia dos teus versos Rezaste inquietações, sonhos dispersos; Caudal imenso de uma angústia vã . . . Descansa e, dorme no caixão estreito Que para ti foi ninho, berço, leito . . .

Eu sou a t u a A m i g a . . .

a t u a Irma . . .

Irene Gil


HISTORIADOR, ESCRITOR E JORNALISTA ALFREDO AUGUSTO PEREIRA DE LIMA

ALFREDO AUGUSTO PEREIRA DE LIMA

A l f r e d o Augusto Pereira de Lima, nasceu em Lourenço Marques em 19 de Fevereiro de 1917, onde fez o Curso Complementar de Ciências dos Liceus, continuando os seus estudos na Á f r i c a do Sul. A sua grande aspiração era formar-se em Medicina e Cirurgia, cursando a Faculdade em Lisboa, o que não pôde fazer por f a l t a de meios, em virtude de ser órfão de pai, desde os vinte meses He idoH^ A l f r e d o A u g u s t o Pereira de Lima, descende de um casal de pioneiros, chegados a M o ç a m bique no ano de 1914. Seu p a i , A n t ó n i o Lúcio Pereira de Lima, cuja família originária do Porto se fixou em A n g o l a , Moçambique, índia Portuguesa e Brasil, era Secretário A d m i n i s t r a tivo do Distrito M i l i a r de Gaza, vindo a falecer no Chongoene em 1919. Sua mãe, M a r i a da Conceição M o u r ã o Garcez Palha e Pereira de Lima, ficou em Moçambique com seu f i l h o , após a morte do seu marido. Pereira de Lima foi ajudante do historiador sul-africano, Dr. W i l l e m Punt, da Universidade de Pretória, em 1944, em investigações históricas sobre as ligações entre pioneiros portugueses e transvalianos, na Á f r i c a A u s t r a l , no século X I X . Em 1946, nomeado pelo Govemador-Geral de M o ç a m b i q u e , General Tristão de Bettencourt, acompanhou em Moçambique a expedição científica organizada pelo Departamento de Educação do Transval, chefiada pelo historiador Dr. W i l l e m Punt, que determinou o trajecto percorrido pelo pioneiro transvaliano, Louis T r i chardt, até Lourenço Marques, no ano de 1938. Com o mesmo historiador trabalhou noutras pesquisas históricas em Lourenço Marques e Pretória. Em 1949 foi louvado pela Organização das Nações Unidas, pelos serviços prestados como Secretário da Comissão Central de M o ç a m bique da « U N I T E D N A T I O N S APPEAL FORCHILDREN». No mesmo ano, foi distinguido com o distintivo de prata dos « T R A N S V A A L VOORTREKKERS», por serviços prestados àquela organização da juventude sul-africana, na qualidade de Chefe de Secção de Turismo e Propaganda da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques.


Como escritor, jornalista e historiador, vem colaborando com Centros Culturais da República da África do Sul e participando de Congressos internacionais sobre Economia, Comércio e Turismo, realizados na Á f r i c a do Sul e nas Rodésias, nos últimos vinte anos, e ainda, em expedições científicas de investigação histórica realizadas em Moçambique, sendo a mais recente, a expedição de arqueologia submarina, ao largo da Ilha de Moçambique, organizada pelo Comissão de Monumentos e de Relíquias Históricas de Moçambique. Em 1957, com uma Bolsa de Estudo que lhe foi concedida pela «SOUTH A F R Í C A N BUREAU OF SOCIAL RESEARCH», colaborou com o Dr. W i l l e m Punt, em trabalhos de investigação histórica, em Moçambique, sobre o pioneiro Carolus T r i c h a r d t . Em Setembro de 1960 fez parte de três expedições organizadas pelos Serviços Culturais da « N A T I O N A L PARKS BOARD OF TRUSTEES», para descoberta do local onde teriam sido massacrados os membros da coluna do pioneiro Van Rensburg, na região do Limpopo, próximo de M A B A L A N E (Moçambique). Em 1958 exerceu as funções de Chefe do Gabinete de Imprensa do Congresso das Câmaras de Comércio Federadas da Á f r i c a A u s t r a l , realizado em Lourenço Marques, pelo que foi louvado pela Câmara de Comércio de Lourenço Marques. Pereira Lima, participou no II Congresso Ibero-Americano de Municípios, reunido em Lisboa, em M a i o de 1959, como Secretário da Delegação da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques, presidida pelo respectivo Presidente, Coronel Pedro Pinto Cardoso, j u n t o de quem exerceu as funções de Secretário particular, por diversas vezes, pelo que foi louvado. Chefiou, ainda, a representação do Automóvel e Tourinfy Clube de Moçambique, à primeira Reunião Provincial do Turismo de Moçambique, realizada na Beira, em Fevereiro de 1964. Funções oficiais que desempenhou: Arquivista da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques, de 1943 a 1947. Chefe da Secção de Turismo da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques, de 1947 a 1948. Chefe das Secções de Turismo e da Informação do Centro de Informação e Turismo de Moçambique, de 1960 a 1962. Inspector de Turismo e O f i c i a l de Relações Públicas do Pavilhão de Portugal, na Feira da Páscoa do Rand, em 1963. Superintendente do Museu Histórico da Cidade de Lourenço M a r ques, desde 1962. Vogal da Comissão de Inspecção aos Hotéis (despacho do Governador de Distrito, 31 de Janeiro de 1961). Vogal (representante da Câmara Municipal) da Comissão Distrital do Serviço Extra-Escolar de Lourenço Marques. Vogal da Comissão de Propaganda do Automóvel e T o u r i n g Clube de Moçambique. Alfredo Augusto Pereira de Lima, possui as seguintes condecorações: Medalha de Bons Serviços da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques, da classe «DEDICAÇÃO» (1960). Medalha Comemorativa do Cinquentenário da Linha Férrea Lourenço Marques-Pretória (1945). Distinções: Sócio permanente da Fundação « S I M O N V A N DER STEL», de Pretória. M e m b r o da «LOUIS T R I C H A R D T SOCIETY». de Pretória. Sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa. Proposto para Sócio Correspondente Estrangeiro do I n s t i t u t o Geográfico e Histórico do Estado de São Paulo, no Brasil. Sócio da Sociedade de Estudos de Moçambique e de outros organismos culturais nacionais e estrangeiros. Actividades jornalísticas: Iniciou a sua carreira no jornalismo em 1936, tendo sido redactor dos jornais «LOURENÇO MARQUES G U A R D I A N » e do « D I Á R I O » ; Chefe da Redacção do semanário «ORIENTE», Chefe da Redacção do «COMÉRCIO DE M O Ç A M B I Q U E » , órgão da Associação Comercial de Lourenço Marques; Redactor-Delegado em Lourenço Marques do « D I Á R I O DE M O Ç A M B I QUE», da Beira, e Redactor do jornal « N O T Í C I A S » , de Lourenço Marques. Tem a i n d a , uma vasta colaboração dispersa pela Imprensa nacional e sul-africana. Foi correspondente local dos jornais sul-afrícanos « S U N D A Y EXPRESS», «DIE TRANSVALER» e «DAGBREEK», e correspondente especial em Moçambique da agência noticiosa « U N I T E D PRESS I N T E R N A T I O N A L » . Como historiador: — 31 —


Deve-se-lhe a descoberta, em 1944, do local onde foi sepultado em Lourenço Marques, o explorador transvaliano Louis T r i c h a r d t , fundador do Transval, é sua iniciativa, o M o n u m e n t o que a Sociedade T r i c h a r d t construiu na capital de Moçambique. Colaborou ainda, com o historiador sul-africano, Dr. Colin Coetzee na descoberta do local onde os holandeses construíram em 1720 a sua fortaleza, no Estuário do Espírito Santo. Publicou diversos artigos sobre o passado histórico de Lourenço Marques, tendo merecido do eminente historiador moçambicano, Dr. Alexandre Lobato, que foi Deputado à Assembleia Nacional, a seguinte apreciação em prefácio do seu livro, «OS MILHÕES DE KRUGER» : «Sempre me chegaram a Lisboa, pelos jornais daqui, os rastos da sua presença viva, fragmentos do seu labor tenaz e fecundo, a vasculhar continuamente, com os modestos recursos da casa, os dias passados e obscuros desta mesma casa. Do seu estudo de certos temas, difíceis e nebulosos, e da sua tenacidade na pesquisa de fontes perdidas, fiquei há muitos anos com a ideia segura de que A l f r e d o Pereira de Lima é um investigador nato, que durante tantos anos se perdeu para a exegese viva da história, porque santos de casa aqui não f a z i a m milagres, e a dimensão cultural colectiva qualificava tudo isso de pura chinesice.» Publicações de sua a u t o r i a : «A NOSSA INTERVENÇÃO NA POLÍTICA I N D Í G E N A DE HÁ 100 ANOS» «OS MILHÕES DE KRUGER» (1963). « N A PISTA DO TESOURO DE KRUGER» «LOURENÇO MARQUES» (Monografia — 1963).

(1960). (1963).

No prelo: «A DELICIOSA Ultramar).

MENTIRA

DE

K U S S U M L A T A PRAGJI»

(Edição da Agência-Geral

do

Em preparação: «SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO M U N I C Í P I O DE LOURENÇO MARQUES»; «ROTEIRO DOS EDIFÍCIOS HISTÓRICOS DE LOURENÇO MARQUES»; «O PALÁCIO MUNICIPAL»; «A HISTÓRIA DE LOUIS T R I C H A R D T » / Conferências proferidas: «LOURENÇO MARQUES NASCEU A S S I M » , em Março de 1945, na Escola de Telegrafia e I n s t i t u t o Profissional de Lourenço Marques. « T I M O R E A SOBERANIA PORTUGUESA NA O C E Â N I A » , em 10 de Setembro de 1945, no Salão do Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria de Moçambique, dedicado às Forças Expedicionárias Portuguesas enviadas para a libertação de T i m o r , durante a II Grande Guerra. «A LIÇÃO DE M O U Z I N H O » , em Novembro de 1955, no Salão da Associação dos Naturais de Moçambique, integrada nas comemorações do Centenário de M o u z i n h o . Louvores: Da sua folha de serviço, como funcionário público, constam seis Louvores e uma Medalha de Bons Serviços. Este é o prestigioso «curriculum» do historiador laurentino, A l f r e d o Pereira de Lima, que com as suas persistentes e laboriosas pesquisas tem engrandecido o património histórico da Província de Moçambique, bem merecendo por isso, ficar arquivado nestas páginas.

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"MARRABENTA" UMA DANÇA DO FOLCLORE

MOÇAMBICANO

Vamos procurar historiar o que é e de onde veio a dança da « M a r r a b e n t a » , hoje tão popular em Moçambique e além das suas fronteiras. A «Marrabenta» vem da amálgama de muitas danças do N o r t e , Centro e Sul da Província de Moçambique, vertida sobre uma base «Ronga», possivelmente construída sobre o ritmo «NTfehna». O contacto, a consequente penetração dessas danças, processou-se na cidade de Lourenço Marques, para onde anualmente convergem moçambicanos das mais diversas regiões do território. O êxodo dessas populações à capital, norteia-se na busca de maiores defesas económicas junto às nossas zonas industriais.

Grupo da Associação Africana de Moçambique dançando a «Marrabenta»

Quando os grupos dessa gente desembarca na capital da Província, traz consigo uma força rítmica, capaz de vencer o cansaço, e no peito, a força mística das consoladores esperanças. A adversidade, a nostalgia ou a tristeza, não conduzem, nesta gente, a um desajustamento social típico das populações. Chegados à cidade, na necessidade de comentar, narrar e lamentar as desditas, que se revelam comum a centenas de milhar de pessoas., surge prontamente, o ritmo da região de proveniência, a sublinhar o espírito de observação dos africanos. Estabelecido o diálogo, o conceito clássico de tribo sofre uma alteração profunda, dando lugar à aceitação da identidade de um sem-número de factores de ordem económica e social. As fronteiras entre os diversos dialectos rompem-se; a dança, autêntica forma de expressão — que ainda é em Á f r i c a — enriquece-se com a aquisição de novos «vocábulos». No caldeamento, no cadinho receptivo dos hábitos das gentes, surgem os novos «vocábulos» da nova linguagem «coreográfica». Pode dizer-se, que assim nasceu a « M a r r a b e n t a » .

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A nova dança, depois de imperar em todo o território moçambicano, foi viajar pelos países vizinhos, antes de aparecer no Europa e no A m é r i c a , obtendo foros de ritmo do momento. Espera-a, certamente, uma carreira de êxitos, nesta internacionalização da «Marrabenta». Foram os conjuntos moçambicanos « H A R M O N I A » , «JOÃO DOMINGOS» e «DJAMBO», que deram a conhecer a « M a r r a b e n t a » , através das suas interpretações. Foram eles os iniciadores do sua divulgação. O disco «Alvorada», editado só com « M a r r a b e n t a » , constituiu um êxito, assim como outro disco editado em Moçambique, que foi o primeiro disco editado, de «Marrabenta». Graças oo trabalho de moralização desenvolvido pelo Centro Associativo dos Negros de Moçambique e a Associação A f r i c a n a de M o ç a m b i q u e , que apoiam os conjuntos já citados, vai-se registando em Lourenço Marques um movimento de interesse pelo genuíno folclore moçambicano.

ARTISTAS PLÁSTICOS

Nesta obra dedicada aos pioneiros serão mencionados t a m b é m , os Artistas Plásticos mais representativos de Lourenço Marques. Principiamos pelos pintores pioneiros, de tendência africana e «expressionista», a que pertencem os dois primeiros: JOÃO AYRES e JOÃO PAULO. Seguem-se G A R I Z O DO C A R M O , M A L U D A , BERTINA LOPES, M I R A N D A GUEDES e M A L A N G A T A N A V A L E N T E . Mencionamos a seguir os pintores com tendências estéticas de raiz europeia: PASSOS — « s u r r e a l i s t a » — , ROSA ANTÓNIO

HELENO e DUGOS

No desenho: N a escultura:

PASSOS,

ANTÓNIO

QUADROS, A N T Ó N I O

ÁLVARO

SANTANA,

BAPTISTA.

TERESA ROSA DE O L I V E I R A , A N A M I C H A E L L I S e JORGE CHAVES. M A R I A ALICE MEALHA e A N T Ó N I O MOURA.

Nas artes decorativas:

ZECA M E A L H A , JORGE M E A L H A e A N T Ó N I O BRONZE.

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RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE

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Hoje, quem passa e olha o Palácio da Rádio, erguido no centro da cidade de Lourenço Marques, difícil será imaginar quantas batalhas foi preciso vencer para atingir o desenvolvimento que hoje possui. Todavia o Rádio Clube de Moçambique tem a sua história — uma longa e prodigiosa história que merece contar. Corria o ano de 1 9 3 1 , quando Augusto das Neves Gonçalves e Firmino Lopes Sarmento conceberam a ideia de criar em Lourenço Marques um posto de radiodifusão. Mas a tentativa não pode ir por diante. Uma o u t r a , pouco tempo depois, também não encontrou eco na população, mal amadurecida, ainda, para realizar os grandes sonhos. Volvidos alguns meses, porém, aproveitando o regresso a Lourenço Marques de um dos seus dedicados amigos, A n i a n o Mendes Serra, puderam então, Augusto das Neves Gonçalves, A l b e r t o José de Morais e Firmino Lopes Sarmento formar com aquele um grupo de vontades fortes para vencer todas as resistências e aplainar as dificuldades. E a fundação de uma Emissora, que antes t i n h a sido inviável, teve e n f i m possibilidades de corporização. Efectuou-se a 5 de Julho de 1932, numa das salas do Grémio N á u t i c o , a primeira reunião preparatória para a Fundação do que viria a chamar-se Grémio dos Radiófilos da Colónia de Moçambique. E os seus estatutos, cuidadosamente elaborados, receberam a aprovação do Governador-Geral, Coronel José Cabral. No dia 1 de Agosto, rea!izou-se no T e a t r o Scala a primeira Assembleia Geral para eleição dos Corpos Gerentes. A assistência, d i m i n u t a embora, não deixou de acarinhar a iniciativa. E os resultados foram os seguintes: para a Direcção foram escolhidos os nomes de Aniano Mendes Serra, presidente, A l b e r t o José de Morais, vice-presidente, Augusto das Neves Gonçalves, secretário, e Ernesto de Brito, tesoureiro. Para presidentes da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal foram eleitos, respectivamente, Firmino João Lopes Sarmento e Pedro Lúcio de Assunção. Assim, nos lugares de comando f i c a r a m os homens a quem a iniciativa se deveu, e com os quais o Grémio dos Radiófilos ia começar a caminhada no f u t u r o . A experiência dizia-lhes todavia, que teriam de vencer as maiores dificuldades, previstas aliás; que haviam de aparecer entraves, surgir descrenças, medrar invejas; mas eles, os quatro principais obreiros da radiodifusão moçambicana, não temiam as críticas e consideravam-se precavidos contra os desânimos.

Edifício do Rádio Clube de Moçambique, na Vila Salazar

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A primeira reunião da Direcção efectuou-se no dia 3 de Agosto de 1932, numa sala cedida pelo vice-presidente da Direcção, no seu estabelecimento comercial. Ficou assente que se adoptaria como sede provisória aquela mesma sala, que se deviam pedir cotações para o fornecimento de impressos do expediente do Grémio, e que se designasse a primeira quarta-feira de cada mês para as sessões ordinárias da Direcção. Nessa mesma data foi lida uma carta do sócio Américo Salcedas Pais, a comunicar a existência de uma pequena emissora de radiotelefonia no Depósito dos C.T.T., de Lourenço Marques, a qual, se pedida fosse, poderia ser cedida ao Grémio para a radiodifusão de concertos. Na reunião seguinte foram admitidos catorze sócios, amortizado o pagamento das despesas feitas com a aprovação dos Estatutos, na importância de 667$90,e autorizada a liquidação da primeira f a c t u r a , de 5 9 0 $ 0 0 , relativa a artigos de expediente. Na rubrica «Outros assuntos» foi resolvido oficiar às casas que já começavam a vender material de rádio e outros artigos vários, a pedir a concessão de bónus nas compras a fazer pelos sócios; e assentou-se, em princípio, na compra do material necessário para a montagem de um pequeno emissor. Na reunião de 12 de Agosto foram admitidos mais cinco sócios e apareceram os primeiros resultados positivos do pedido f e i t o às casas comerciais. Na acta desta sessão não figuravam quaisquer referências ao posto emissor, mas na seguinte já aparece a primeira alusão, ainda que vaga, ao facto de «se ter discutido os vários assuntos inerentes à construção do emissor». Finalmente na acta de 4 de Janeiro de 1933, tomou vulto o «aluguer do edifício para a sede e a montagem do emissor», que ficariam instalados em duas salas do edifício Já Assam, na Avenida da República, com o pagamento da renda anual de 9.400$00. Ousadamente, o Grémio dos Radiófilos assumiu nesse dia o seu primeiro encargo financeiro de grande magnitude. Os que tiveram conhecimento da resolução, pasmaram — tão desproporcionados eram os recursos e as imprevisíveis possibilidades da jovem instituição com o encargo contraído. E esta a t i t u d e de reparo e de surpresa haveria de acompanhar por m u i t o tempo, se não para sempre, os actos principais da vida da emissora moçambicana, antes e depois de mudar de nome. Eram e são desculpáveis, todos os receios dos menos confiados, porquanto a evolução do Rádio Clube foi sempre caracterizada por audaciosos rasgos de coragem determinada, que não deixaram tolher, antes estimularam, as iniciativas surgidas, aos olhos dos críticos como estando em desproporção com as realidades ou as necessidades da Organização e, até mesmo, do desenvolvimento de Moçambique. Chegou o mês de M a r ç o , previamente escolhido para a inauguração oficial do Grémio dos Radiófilos da Colónia de Moçambique. Na acta n.° 8, relativa à reunião do dia 1 desse mês, considera-se o assunto resolvido: «Para início dos Programas a emitir pelo posto, resolveu-se contratar um quarteto pelo preço semanal de 2 5 0 $ 0 0 » . Levantando a cortina que encobria os trabalhos feitos em laboratório (não se fazendo contudo referência às grandes dificuldades surgidas com a obtenção do m a t e r i a l , que por estar proibida a importação suscitou a necessidade de recorrer a adaptações ao serviço da radiodifusão, como por exemplo, o de um amplificador de cinema já fora de uso) dizia-se: «estando já quase terminadas as experiências e ajustamento do emissor, resolveu-se fixar o dia 18 do corrente para inauguração oficial e convidar Sua Exa. o Governador-Geral, a quem a Direcção deliberou conceder o t í t u l o de Sócio Honorário, para fazer a abertura solene da Estação. Resolveu-se, t a m b é m , convidar a assistir a este acto os representantes da Câmara M u n i c i p a l , da Associação Comercial, o Director dos Serviços dos Correios e Telégrafos, o Director dos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro, e a Imprensa». Amanheceu quente e abafado aquele dia 18 de Março de 1933, que marcaria, uma notável etapa na vida do emissor. ! Quando a estação foi posta «no ar», e se ouviu a voz de M á r i o Souteiro — o primeiro locutor de Moçambique — anunciando o início das emissões do Grémio dos Radiófilos, no coração dos presentes bateu forte a comoção, e só depois tiveram consciência do peso das responsabilidades que acabavam de contrair, transformando o sonho naquela certeza que requeria a maior dedicação, o mais forte empenho, todo um somatório de energias e vontades férreas para levar de vencida as contrariedades, que inevitavelmente haviam de surgir com o decorrer dos tempos.

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Mas aquela voz, ouvida a princípio com surpresa, bem depressa se tornou familiar em todo o território de Moçambique, na Rodésia, na Á f r i c a do Sul. Solícitas informações acrescentavam, mesmo, que a estação se fazia ouvir, com relativa intensidade, na Madeira, em Londres, em alguns lugares da América do N o r t e , na cidade de Lisboa. Estava, por conseguinte, atingido o máximo objectivo, que era levar a voz de Moçambique aos ouvidos da Mãe-Pátria. Durante dois anos o pequenino posto prestou excelentes serviços, amparado carinhosamente pelos técnicos. Depois passou a ser uma preocupação constante. Umas vezes, durante as emissões, «não sustentava a onda e o técnico suava e tressuava para a a g u e n t a r » ; outras vezes, uma válvula deixava de trabalhar ou havia uma peça que tinha de ser substituída — consequência da improvisação que presidiu a manufactura do emissor e a carência de material utilizável. A propósito, pode ler-se em «RÁDIO M O Ç A M B I Q U E » , de 30 de Novembro de 1935, o seguinte comentário elucidativo: «O técnico converteu-se em autêntico médico assistente do débil posto, inclinado sobre a pequena emissora, no permanente receio de que a vida se lhe escapasse, de um momento para o outro, em cualquer acidente terminal das graves lesões que sofria». Assim, graves problemas administrativos e financeiros absorveram a Direcção durante alguns meses. Na reunião do mês de M a i o , a Direcção julgou de absoluta necessidade a aquisição por 25 libras esterlinas, de um novo microfone. Depois de se fazer o estudo pormenorizado das informações chegadas do exterior de Moçambique, decidiu-se suspender temporariamente a actividade do emissor, para se proceder à beneficiação do material e tirar dele as máximas possibilidades de ser bem ouvido nos territórios vizinhos. A decisão, como é fácil de calcular, provocou nos seus próprios responsáveis um sentimento de amargura, que mais se acentuou quando o Presidente da Direcção lamentou «ser notório o grande desinteresse, por parte dos sócios, pelo Grémio, pois que a quotização e o número de sócios está diminuindo». Pairava sobre a instituição uma pesada nuvem negra, de consequências imprevisíveis. Havia pois, que proceder de acordo com as circunstâncias e combater o ma! pela raiz. Assim, como medida de urgência, o Presidente da Direcção propôs a melhoria dos programas e a admissão de uma orquestra. Este seria o antídoto para o mal que estava a minar o Grémio dos Radiófilos. T a m bém se julgou indispensável fazer apelos para a entrada de mais sócios. E a campanha, lançada em boa hora, ecoou no coração dos moçambicanos, já habituados a ouvir os programas da «sua» Estação. Na reunião de 5 de Setembro foram aprovados 36 sócios e na de 17 de Outubro, mais 43. Desanuviada a situação da emissora laurentina, e depois da sua interrupção de duas semanas, começou a pensar-se em mais largos voos. O Dr. A n t ó n i o de Sousa Neves, chamado a presidir aos destinos da colectividade, logo na reunião de 5 de Janeiro de 1935, procurou dar solução a assuntos de m u i t o interesse, tais como: a intensificação da propaganda para angariar fundos destinados à compra de um novo posto emissor; requerer ao Ministério das Colónias a isenção de direitos aduaneiros do material radiofónico destinado ao Grémio; nomear comissões para se avistarem com o Director dos Caminhos de Ferro de Moçambique e com o Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques, no sentido de solicitar subsídios. Na Assembleia Geral realizada em 15 de Fevereiro, o Presidente da Direcção leu uma proposta a pedir autorização para o Grémio contrair o empréstimo de vinte mil escudos, para a compra de um novo posto emissor, proposta que foi aprovada por unanimidade. A compra e instalação do emissor «Colins» de 2 5 0 watts, marcou, n i t i d a m e n t e , o progresso que se i n i ciava. Com este transmissor o Grémio ascendeu a um nível de categoria incontestavelmente marcante, pois passava a dispor de um posto próprio para a radiodifusão, construído por casa especializada, com modulação de alta qualidade e elevado grau de eficiência. Foi positivamente, um paso em f r e n t e , e o incentivo para dar outros mais. Em 1 de M a i o de 1935 saiu o 1.° número da revista editada pela Emissora a que foi dado o t í t u l o de «Rádio M o ç a m b i q u e » , publicação que sempre se tem mantido sem interrupções, acompanhando todo o desenvolvimento da referida Emissora.

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 primeira locutora de Português do R.C.M., D. MAFH A TERESA DE S A M P A I O A R R O Z , numa fotografia dessa ép oca

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MISS EDWIGES SEQUEIRA

Em Setembro de 1935 a nova Estação Emissora foi solenemente inaugurada pelo Governador-Geral, Coronel José Cabral e outras individualidades de v u l t o , fazendo-se transmitir pela primeira vez o Hino Nacional. O Governador, usando da palavra, louvou publicamente o Grémio dos Radiófilos, pondo em relevo o serviço patriótico que estava a prestar a toda a Província de Moçambique. Dado o franco progresso da Estação, e o sucesso da sua audição que estava a ter no estrangeiro, abriu concurso para locutoras de inglês e português, dando origem na Província, a uma nova profissão para as mulheres. A primeira locutora de português foi a Sra. D. M a r i a Teresa de Sampaio A r r o z , que a n u n ciava o programa, dizendo: «Boas noites, minhas senhoras e meus senhores. A q u i Lourenço Marques, C R . 7 A A , Estação Emissora do Grémio dos Radiófilos, trabalhando na frequência de 6.137 quilocíclos; onda de 48 metros e 88 centímetros.» A primeira locutora de inglês foi Miss Edwiges Sequeira, que fazia a locução dirigida aos países de língua inglesa, dizendo: «Good evening, ladies and gentlemens. Thi is Lourenço Marques . . .» Depois surgiu como segunda locutora da secção portuguesa a jovem senhora D. M a r i a Emília Salvado da Costa, cuja bonita voz se fez ouvir por largos anos ao serviço da Emissora moçambicana, passando, mais tarde, por sua vontade, para Chefe dos Serviços da Discoteca, que reorganizou com a maior eficiência. Na Á f r i c a do Sul, e n t r e t a n t o , a popularidade do CR 7 AA aumentava consideravelmente, expressa através de cartas significativas e de notícias publicadas nos principais órgãos da I m prensa diária. Passaram pelos estúdios do Grémio figuras de relevo nas artes; organizaram-se festas radiofónicas; abriram-se concursos i n f a n t i s ; a orquestra privativa actuava com inteira regularidade. E a t u d o isto não era estranha a pertinaz actuação do novo locutor e mais tarde Chefe de Produção, Carlos Ahrens Teixeira, que carinhosamente se dedicou à radiodifusão moçambicana à qual deu o melhor da sua experiência t e a t r a l .

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Sempre progredindo, os pequenos estúdios da Rua A r a ú j o , principiavam a ser pequenos para a grande actividade do Grémio, que entretanto passara a denominar-se Rádio Clube de Moçambique. Congrassando todas as boas vontades da gente de Moçambique, em 1949 foi iniciada a construção do Palácio da Rádio, que viria a ser o f u t u r o edifício do Rádio Clube de Moçambique, inaugurado em 1 9 5 1 . O Rádio Clube de Moçambique também mantém intercâmbio de Programas com vários países: «A Voz da A m é r i c a » , «A Voz da A l e m a n h a » , «A Voz da Holanda», «A Voz do Brasil», «A Voz da França», «A Voz da Bélgica», «A Voz da Inglaterra», além dos Programas vindos da Emissora Nacional de Lisboa. Esta é, em síntese um pouco da sua história, através de todos estes anos da sua laboriosa existência. Houve dificuldades tremendas, que foram vencidas, houve algumas crises graves, que foram transpostas; houve momentos de alegria, que serviram para iluminar o f u t u r o . Mas sempre a dedicação, a força de vontade, a inteligência e o sentido das realidades dos Dirigentes do R.C.M. souberam encaminhá-lo no trilho da vitória — pois vitória se pode considerar a posição que a estação laurentina ocupa entre as suas congéneres de todo o M u n d o ! O t r i u n f o do Rádio Clube de Moçambique — justo é que se diga — pertence t a m b é m , em parte, a toda a Província, que sempre o acarinhou e nele confiou, considerando-o, orgulhosamente, uma das realidades mais significativas de quanto podem e sabem fazer os moçambicanos! Desde 6 de A b r i l de 1958, que o Rádio Clube criou um programa nativo. «A V O Z DE M O Ç A M B I Q U E » , como hoje se i n t i t u l a toda a programação em línguas nativas — que presentemente emite em 1 1 dialectos — além de programas musicais, mantém variadas rubricas de carácter educativo e c u l t u r a l . A média semanal actual de horas de emissão é de 158. O ú l t i m o Presidente do R.C.M. foi o Capitão A n t ó n i o dos Santos Figueiredo, que presidiu aos seus destinos de 1941 a 1965, pouco antes do seu falecimento, do qual foi um grande e devotado obreiro. O mesmo poderemos dizer, do Presidente a c t u a l , — que se seguiu ao Capitão Figueiredo — Augusto das Neves Gonçalves, que é um dos pioneiros da radiodifusão em Moçambique, pois se encontra ligado ao R.C.M. desde o seu início, tendo sido um dos que tomou a iniciativa de erguer tão meritória obra.

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A ASSOCIAÇÃO DOS VELHOS COLONOS

Este livro ficaria incompleto se nele não se incluísse a biografia desta prestimosa colectividade, que tantos benefícios tem espalhado, m u i t o principalmente àqueles que para Moçambique vieram quando jovens e que com o seu esforço ajudaram a desbravar e a civilizar a terra moçambicana.

Edifício da Mansão dos Velhos Colonos

A Associação dos Velhos Colonos pode dizer-se que nasceu em 28 de Junho de 1919, com a primeira reunião que um grupo de velhos colonos efectuou no Salão Nobre da Câmara Municipal, na qual ficou expresso os fins a que se destinava a mesma, assim designados: a) — Protecção e auxílio, material e moral, aos sócios e seus filhos. b) — Construção de um Mausoléu ou Ossário no novo Cemitério. c) — Criação de uma Caixa Económica. d) — Fundação de um jornal. A Associação foi formada por colonos com mais de 25 anos de residência na Província, considerados fundadores; por colonos que tivessem completado 21 anos de residência na Província, como sócios ordinários, e incluindo os filhos de colonos sócios, residentes na Província; os naturais de Moçambique de cor, considerados civilizados de maior idade.

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O Governador-Geral, que era nessa época o Doutor M a n u e l Moreira da Fonseca, deu à jovem Assciação todo o seu apoio e carinho. Como reconhecimento, a Associação fê-lo Sócio Honorário desde o início. A Associação dos Velhos Colonos foi fundada por 70 colonos portugueses e estrangeiros, cujos nomes vamos transcrever, e bem assim a primeira A C T A :

ACTA

N.°

I

Aos 28 dias do mês de Junho de mil novecentos e dezanove nesta cidade de Lourenço Marques e no Sala das Sessões da Câmara M u n i c i p a l nos Paços do Concelho, reuniram-se os velhos colonos: Sebastião Alves, Francisco l.da Cunha, A n t ó n i o de A b r e u , Harry W i l s o n , José A u g u s t o de A g u i a r , Andrews Roberts, Rufino de Oliveira, A n t ó n i o do Nascimento, Firmo dos Santos, A n t ó n i o Silva, Francisco de Oliveira, Luciano Inácio Félix, Manuel Correia, Isidro Lopes, Luís W i l y , Á Ivaro T. da Câmara, A l f r e d o A. Bastos, A n t ó n i o Furtado, Francisco M. Correia de Brito, A n t ó n i o C. dos Santos, João P. do Tanque, John M i h a l e t o , José Ribeiro, Joaquim M. Gouveia, Francisco Xavier da Silva, Fernando M e l o Alves, José C. Lopes, João P. Abrantes, M. A r a ú j o Gomes, Filomeno Pereira, Pedro F. Pereira, A n t ó n i o José, José C. de Sequeira, Caetano Dias, A. J. Rodrigues de M o u r a , A n t ó n i o G. da Costa Lima, Carlos Galino, A l b a n o Mendonça, M a n u e l J. Guilherme, C. J. Gonzaga Gomes, J. J. Nunes de Sousa, A. Libânio dos Santos, J. G. dei Valle y M o n t o j o , Pierre Loze, Pe. J. Vicente do Sacramento, J. J. A l b i n o de Sousa, John E. Roberts, M a n u e l de Paiva, M i g u e l M. V i a n a , M a n u e l Baião, J. C. Dias, A l f r e d o F. Cernadas, A d r i a n o I. Mesquita, A n t ó n i o de Andrade, E. G. Dascalakis, A. M a r tins Pina, Madaíl dos Santos, J. Miguéns Jorge, J. Paula Reis, J. R. Peixoto, J. T. dos Santos Júnior, M a n u e l L. A l p a l h ã o , A n t ó n i o da Silva Marques, Bernardo C. da Piedade M i r a n d a , M a n u e l Pedro, Augusto César Ferreira, A. Nunes dos Santos, Nicolau F. Dias, C. F. de M a i o , e Napoleão L. F. Leão, para o f i m do convite de 29 de M a i o do corrente ano, e, sendo quinze horas e um quarto, pelo velho colono Albano de Mendonça foi lido o seguinte: «Senhores: V o u dar por finda a minha missão de organizador desta reunião em que fui auxiliado nos trabalhos de expediente pelo velho colono Senhor A l f r e d o A. Bastos a quem aqui deixo o meu agradecimento; cumpre-me também agradecer aos velhos colonos a sua presença a quem vou dar-lhe conhecimento do que fiz desde o seu início. Os meus primeiros passos f o r a m dados em procurar os colonos que assinaram o primeiro convite, a que expus individualmente a minha ideia, com a qual concordaram, como se prova pelas suas assinaturas no convite original que vou ler e foi o primeiro acto público relativo a esta reunião: «Convite — Os colonos portugueses ou estrangeiros que tenham completado vinte e cinco anos de residência na Província de Moçambique se achem em Lourenço Marques, são convidados pelo abaixo assinado, os seus nomes e moradas até ao dia 15 do próximo mês de Junho, a f i m de se promover uma reunião em que se há-de resolver a maneira de se comemorar aquele facto. A correspondência deve ser dirigida para os Correios desta cidade, caixa postal n.° 3 6 4 , com a indicação «VELHOS COLONOS». Lourenço Marques, 29 de M a i o de 1919. (ass) Augusto Cardoso, Rufino dos Santos O l i veira, Ângelo Ferreira, A l f r e d o Bastos, Roque de A g u i a r , M e l o Alves, H. Beltrão e Albano Mendonça. A este convite responderam setenta e tantos colonos mandando cartas ou bilhetes com os seus nomes. Entre estas cartas figura uma do Exmo. Senhor Rv. Paul Bathoud, em que diz não poder comparecer a esta reunião em virtude do seu estado de saúde o não permitir, t e r m i nando por fazer votos por que alguma coisa de útil aqui se resolva e outra do colono Eduardo Franco M a r t i n s que passo a ler: — 42 —


Exmo. Senhor — Satisfazendo ao convite para a reunião dos velhos colonos, associo-me moral e espiritualmente à reunião projectada para comemorar a residência dos que têm lutado nesta terra há mais de vinte e cinco anos. Desembarquei em Lourenço Marques em M a i o de 1 8 9 1 , vindo pelo vapor «Luanda» da M. R. Portuguesa e julgo-me também velhote. Fui em Maio do ano passado a Lisboa, onde estive apenas cinco meses. O resto da minha vida tem sido a q u i , onde tenho passado o melhor de vinte e oito anos. Seria ao Governo, a quem devia competir, estabelecer um prémio de colonização como incentivo à estabilidade dos portugueses, muitos dos quais têm lutado contra as maiores indiferenças dos governos, havendo mesmo alguns que têm passado miséria. Justo é salientar o nome de alguns sócios fundadores beneméritos: Carvalho, Ismael Costa e Capitão Manuel Simões Vaz. A Associação teve uma fase de grande desenvolvimento seu Presidente, podendo afirmar-se que ele foi o obreiro dos ção. A ele se deve a construção dos edifícios da Sede e juventude moçambicana, e por ú l t i m o , esboçando um vasto

F. Dicca, Sebastião

quando Ismael Costa se tornou alicerces do que é hoje a Associada Mansão; interessando-se pela programa de realizações.

Um aspecío do Parque i n f a n t i l

REALIZAÇÕES

Em 1 de Junho de 1946, foi inaugurada a Mansão dos Velhos Colonos, criada para recolher os velhos colonos de ambos os sexos que vivem na indigência e que, pela sua avançada idade e longa permanência na Província, estejam fisicamente incapacitados de, pelo trabalho, angariarem os meios de subsistência. A b r i u as suas portas com 27 recolhidos sendo 13 mulheres e 14 homens, e fornecia alimentação a mais 21 comensais externos, necessitados.

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Ao acto inaugural da Mansão presidiu o então Governador-Geral, General José Tristão de Bettencourt. A c t u a l m e n t e tem 66 recolhidos, sendo 43mulheres e 23 homens, e fornece alimentação diária a 39 comensais externos. Na Mansão funciona um Posto Médico, devidamente eficiente e tem duas enfermarias para os recolhidos.

apetrechado

com

aparelhagem

Em Novembro de 1947 foi inaugurado pela sua patrona, a Senhora Dona M a r i a João Vieira de Castro Teixeira, o Parque I n f a n t i l . É m u i t o frequentado pelos filhos dos sócios. Em Fevereiro de 1950 foi inaugurada a Piscina, que trouxe muitos benefícios para o desenvolvimento da natação em Lourenço Marques. A l i têm aprendido a nadar algumas centenas de crianças, filhos de sócios, e muitas, t a m b é m , já têm tomado parte em competições da modalidade, representando a Associação. Funcionam ainda, na Associação, as seguintes Secções:

ARTE

FOTOGRÁFICA — BILHARES — ESGRIMA — TÉNIS — X A D R E Z

OUTROS

DEPARTAMENTOS

DA

ASSOCIAÇÃO

No campo da cultura física procura a Associação cumprir o melhor possível a sua missão. T e m , t a m b é m , três campos de ténis e um de voleibol, que serve de rinque de patinagem. Pratica-se a esgrima, dirigida por um mestre da especialidade. Nos seus salões funciona uma Secção de X a d r e z , com bom número de jogadores. A Biblioteca, com alguns milhares de livros, é, t a m b é m , m u i t o frequentada, além dos muitos livros que fornece aos sócios para os lerem em casa. Finalmente, uma das obras a que é dispensado um grande carinho, tão grande como o dispensado à « M A N S Ã O » , é o PARQUE I N F A N T I L , para onde os sócios mandam os filhos, que são entregues aos cuidados da Directora, uma senhora especializada. O PARQUE, que reúne muitos atractivos para as crianças é dotado de uma piscina, cujas águas são purificadas por maquinismos especiais.

SERVIÇOS

Junto da M A N S Ã O funciona um nados, sócios e suas famílias.

DE

SAÚDE

Posto Médico, para consulta e t r a t a m e n t o dos inter-

O médico é assistido por duas enfermeiras. A l é m dos Postos de Socorros e Consultas, t e m sob a sua direcção uma Enfermaria já em actividade e outra que aguarda, apenas, a chegada do material requisitado à Metrópole.


Uma perspectiva da bela piscina

A M A N S Ã O é subsidiada pelo Estado — cujo interesse por esta Associação é deveras notável —, pela Câmara M u n i c i p a l , pela Assistência Pública e pela própria Associação. No sector da Asistência Social aos Velhos Colonos têm as Direcções dispensado grande interesse e carinho, considerando-se modelar a sua instituição a M A N S Ã O . O colono que, f i n d a uma vida de trabalho por Moçambique, se acolhe à M A N S Ã O , sabe que vai viver na sua CASA, onde a palavra esmola não é conhecida, e só o termo solidariedade tem significado. Portugueses nascidos em Moçambique ou em Portugal continental, gregos, franceses, italianos, sírios e indianos, todos têm encontrado na « M A N S Ã O » — q u e consideram o seu ú l t i m o lar — a paz e sossego merecidos. A l é m dos internados, a « M A N S Ã O » senta à sua mesa, t a m b é m , muitos colonos, que mais não pedem que comida e assistência médica. Merece, ainda, evidenciar a « M A N S Ã O » , onde vivem os velhos colonos, que se acolheram à sombra da sua prestimosa Associação, ali terminando a ú l t i m a etapa da sua existência, rodeados de carinho e conforto. A visita que fizemos à « M A N S Ã O » deixou-nos francamente bem impressionados com o ambiente acolhedor que ali se respira, do seu conforto, tranquilidade e carinho, que a todos é prodigalizado! Assim o deve ter sentido o Senhor Governador-Geral, Dr. Baltazar Rebello de Souza, quando ali esteve, no momento em que se comemoravam os cinquenta anos da Associação dos Velhos Colonos, que tantos e tão valiosos serviços tem prestado, durante estes largos anos da sua existência! Tal obra bem merece ser acarinhada e ajudada por todos quantos o possam fazer!

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GRUPO DESPORTIVO 1.° DE MAIO O

MAIS

ANTIGO DE

DOS

CLUBES

LOURENÇO

DESPORTIVOS

MARQUES

O Grupo Desportivo 1.° de M a i o , fundado a 1 de M a i o de 1917, foi o primeiro Clube desportivo a existir em Lourenço Marques. Este Clube nasceu da tenacidade e boa vontade de alguns adeptos do Desporto, que formaram o grupo fundador: A R T U R J O A Q U I M M A I A , M A N U E L V I T O R I N O , JOSÉ R. FERREIRA, LUÍS GOMES J A R D I M , A R T U R DA CRUZ e M A N U E L DA SILVA QUITÉRIO, que foi o 1.° Presidente da Direcção.

A MAQUETE DA NOVA SEDE

Lutando com inúmeras dificuldades, o Clube foi singrando, mercê do esforço dos seus dirigentes e sócios. A sua primeira sede era no A l t o M a é , numa casa de um só piso. Como se tornava necessário, e quase premente, ter um edifício conveniente, envidaram-se esforços nesse sentido, e assim, em 1956, o Clube inicia a construção da nova Sede, em moldes adequados de modo a servir eficientemente os seus desportistas e sócios. Para a realização de tão grande como dispendiosa aspiração, muitos esforços se despenderam, e algumas boas vontades se conjugaram. A q u i salientamos a acção do seu Presidente da Direcção, Tenente M á r i o de A l m e i d a Machado, a quem o Grupo Desportivo 1.° de M a i o «é devedor de toda a gratidão e reconhecimento pela execução da obra que extraordinariamente valoriza o património do Grupo e constitui o símbolo indestrutível de união de toda a Família a l v i - r u b r a » .

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Em 1 9 6 1 , segundo estatísticas do seu «Boletim», o Grupo Desportivo 1.° de M a i o tinha conquistado 180 Taças, 26 Galhardetes e 9 Salvas de prata, distribuídas pelas várias modalidades: Futebol, Ciclismo, Hóquei em Patins, Basquetebol, Voleibol, T i r o aos Pratos, Tiro ao Alvo, Ténis de Mesa, Esgrima, Motociclismo, Fox-Ball, Andebol de 7, e diversos, 6. No Clube, aquando da sua fundação, praticavam-se as seguintes modalidades: Futebol, Ciclismo, Basquetebol, Hóquei e Ginástica. Mais tarde, o Clube teve uma secção de A u t o mobilismo, de que eram praticantes entusiastas, dois sócios-fundadores: Manuel Alves Cardiga e Bartolomeu Baptista Picolo. Na vanguarda das realizações culturais, o Grupo Desportivo 1.° de M a i o , criou um Cine-Clube, o que revela que a sua Direcção interpreta o Cinema como um valor educativo e como Arte. Segundo a opinião de Faria de A l m e i d a , «o Cinema é a arte que mais facilmente pode elevar a cultura de um agregado populacional, por ser t a m b é m , o meio mais acessível de fazer compreender todas as artes, interessando nelas a quem ele assista». Para terminar esta biografia feita a «traços largos» do Grupo Desportivo 1.° de M a i o , vamos transcrever algumas palavras que lhe dedicou o jornalista A r m a n d o Valério, quando o Clube comemorou os seus 44 anos de existência, com as quais julgamos finalizar da melhor forma. «Sou dos que desde há t r i n t a anos tem acompanhado a par e passo a activdade desse prestigioso clube que é o Grupo Desportivo 1.° de M a i o , o mais antigo dos clubes ecléticos de Lourenço Marques, pois completa agora 44 anos de labuta em prol do progresso desportivo da capital moçambicana, tem ocupado sempre uma uma posição de relevo, mesmo em épocas d i f í ceis por que passou, a que sobreviveu mercê da extraordinária dedicação de um grupo de sócios para quem o clube era tudo no vida. E realmente, só mercê de m u i t a carolice, de m u i t o trabalho e de elevado grau de dedicação ao serviço de uma causa, foi possível lograr resistir a mil e uma contrariedades e terminar por vencer, de forma verdadeiramente espectacular como é o caso do 1.° de M a i o , cuja situação é hoje um exemplo para todos os clubes desta cidade!»

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CLUBE FERROVIÁRIO DE MOÇAMBIQUE

Como e quais as razões que levaram à fundação do Clube Ferroviário de Moçambique. «Junto do M a t a d o u r o (velho) havia uma cantina onde se jogava o chinquilho, e ali se reunia, nas horas vagas, o pessoa! de Tracção que cultivava aquela modalidade de jogo. Perto havia o campo de futebol do Sporting Clube de Lourenço Marques («mais tarde campo de treinos do 1.° de Maio») onde se disputavam os campeonatos da Associação local.» «Um dia do mês de Setembro de 1924, à porta dessa mesma cantina, abria-se uma quota entre indivíduos para a compra de uma bola e respectiva bomba. Neste momento não posso deixar de mencionar os nomes desses indivíduos que foram os primeiros a dar o impulso para a fundação do Clube Desportivo Ferroviário («como se escrevia então»). São eles: A n t ó nio Joaquim Lourenço, A n t ó n i o Ferreira M o u c o , Carlos Alves M i l i t a r , Hernâni Lourenço, José da Silva Teixeira, Joaquim do Nascimento Galha e Nicolau Dias Cardoso.» «Da compra da bola nasceu a ideia de se fundar o Clube . . .» Eis o teor da 1 . a A c t a : «Aos 13 dias de Outubro de 1924, pelas 20 horas, reuniu-se na casa n.° 13 de V i l a Mousinho, um grupo de ferroviários que deliberou fundar em Lourenço Marques uma associação desportiva, denominada «Clube Desportivo Ferroviário», destinada a exercer o desporto e beneficência; mais deliberou nomear uma comissão composta de sete indivíduos, todos ferroviários para elaborar os estatutos e regulamentos pelos quais se deve reger a mesma. «A Comissão, segundo a vontade dos indivíduos que reuniram, é composta pelos seguintes ferroviários: Jacinto Francisco V i l a M a i o r , A n t ó n i o Ferreira M o u c o , A r m a n d o Francisco V i l a M a i o r , José M a r i a de Freitas Júnior, Nicolau Dias Cardoso, José da Silva Teixeira e Luiz Couto do Amaral.»

Edifício Sede do Clube Ferroviário, em Lourenço Marques

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«Começou-se a trabalhar e os primeiros êxitos no campo desportivo surgiram com o Futebol. Porém, em fins de 1925, por um sucesso anormal que abala profundamente a classe ferroviária e se reflecte directamente na vida do Clube, este, desde essa d a t a , até, 1929, só existe a bem dizer . . . no nome. Não faz provas nem entra em competições, porque não possui nem elementos, nem recursos para isso.» «E se não deixa de existir (o Clube de todo, como várias outras colectividades que por cá tem havido, deve-se isso unicamente, m u i t o unicamente, à tenacidade forte desse grupo de carolas que nunca perdeu a fé de ver o seu «Ferroviário» chegar a ser ainda alguma coisa em Lourenço Marques.» E assim, a vontade dos homens de então venceu a dura batalha, como hoje podemos verificar, pelo momento que se vive. Passado aquele período, a colectividade entrou na senda do progresso e a sua acção veio a ser reconhecida e veio a fazer «interessar a Administração Ferroviária na educação física dos seus funcionários, delegando no Clube essa missão». Isto aconteceu no ano de 1 9 3 1 . A partir de então o clube foi «crescendo» para melhor servir o desporto de Moçambique. 0

PRIMEIRO

CAMPO

A Câmara M u n i c i p a l concedeu o terreno necessário para nele o Clube construir o seu campo de jogos que veio a ser iluminado por quotização dos sócios (tal como foi o «Estádio Salazar»). Em 1944 o campo recebe o nome «Eng.° Freitas e Costa», numa homenagem àquele que foi dos mais dedicados dirigentes do Clube Ferroviário, e então já falecido. Durante muitos anos as Sedes do Clube foram demasiado modestas, até que, em Dezembro de 1944 é inaugurada a sua actual e magnífica Sede, situada na Avenida da República e Luciano Cordeiro. DELEGAÇÕES

DO

CLUBE

FERROVIÁRIO

O Clube tem espalhadas pela Província várias delegações que são um prolongamento da sede, constituindo, todas elas, elementos válidos no desporto da Província, com acção preponderante na área que servem. Pela ordem alfabética são as seguintes delegações, num total de 21 : BEIRA, CALDAS X A V I E R , G Ô N D O L A , I A P A L A , I N H A M B A N E , JOÃO BELO, L U M B O , MACHIPANDA, MAGUDE, MALVÉRNIA, MALEMA, M A N G A , MOATIZE, MOAMBA, MUTARARA, N A C A L A , N A M P U L A , Q U E L I M A N E , TETE, VILA MACHADO e VILA PINTO TEIXEIRA. Todas as Delegações possuem instalações próprias, Sede e Parques Desportivos. Destacamos: As instalações da Beira, que incluem um Pavilhão de Desportos. Em N a m p u l a , o conjunto de instalações, que comporta um Pavilhão de Desportos e uma Piscina. A Delegação de Gôndola t e m , t a m b é m , uma Piscina. Pode-se dizer que o maior Parque Desportivo da Província é o do Clube Ferroviário de Moçambique, em Lourenço Marques. ACTIVIDADE

DESPORTIVA

DO

CLUBE

O Clube m a n t é m em actividade diversas secções com equipas nas diversas provas dos calendários oficiais, participando ainda em outras competições a nível inter-clube ou inter-sócios, envolvendo tudo centenas de atletas dos dois sexos. São as seguintes as modalidades a que o Clube se dedica: ATLETISMO Com atletas dos dois sexos e de todas as categorias previstas nos regulamentos. juvenis, juniores e seniores. BASQUETEBOL O mesmo que para o atletismo e, t a m b é m , equipas femininas. CICLISMO Categorias regulamentares. — 49 —

Iniciados,


FUTEBOL Participação em todas as provas oficiais. GINÁSTICA

DESPORTIVA

São mantidas classes de infantis e adultcs, dos dois sexos. HÓQUEI

EM

PATINS

Actividades em todas as categorias. MINI-BASQUETE Em funcionamento classes para os dois sexos. NATAÇÃO É mantida uma escola de aprendizagem que funciona na piscina do Desportivo. A piscina do Ferroviário será a nossa próxima realização. TÉNIS

DE

MESA

De momento esta actividade está limitada aos sócios. TIRO Por f a l t a de «carreira» a acção limita-se a participar nas provas que se organizam. TÉNIS Actividades inter-sócios. ACTIVIDADE

RECREATIVA

E

CULTURAL

Para atender os sectores recreativo e cultural o Clube m a n t é m : Uma Biblioteca — Secção de Xadrez — Escola de Ballet — Banda de Música. Festas na Sede:

de Aniversário, Páscoa, Fim de A n o e outras.

O Clube tem um passado verdadeiramente brilhante no teatro Laurentino, e, embora, de momento, esta secção esteja inactiva, tal como o orfeão, sessões de cinema e a publicação do boletim mensal, são actividades de referir, por ser passageiro e eclipse. OS

TROFÉUS

É grande o património do Clube em troféus, quer no valor material quer na variedade, como pode ser observado numa visita à sala dos troféus. São taças, medalhas, medalhões, placas, plaquetes, estatuetas, galhardetes, etc. CAMPOS

DE

JOGOS

Há junto da Sede do Clube, em Lourenço Marques, um conjunto de instalações deportivas, que engloba campos de Futebol, Ténis, Hóquei patinado e Basquetebol, bem como recinto para Feira Popular. Na Machava está situado o magnífico «ESTÁDIO S A L A Z A R » — o r g u l h o dos ferroviários — que foi solenemente inaugurado em 30 de Junho de 1968, pelo Subsecretário de Estado do Fomento U l t r a m a r i n o , Dr. Rui Patrício, em representação do Chefe do Estado. Estiveram presentes, também, muitas altas individualidades dos países vizinhos e representantes do corpo consular, creditados em Lourenço KAarqu&s. O festival inaugural, que se revestiu de grandiosidade, teve várias cerimónias, entre elas, o descerramento de três placas. A primeira assinalando a inauguração oficial do Estádio descerrada pelo Dr. Rui Patrício; a segunda descerrada pelo Presidente da Confederação Brasileira de Desportos, Dr. João Havelange, em homenagem do desporto brasileiro; e a terceira, colocada à entrada da T r i b u n a de Honra do Estádio, descerrada pelo chefe da embaixada da Federação Portuguesa de Futebol, Dr. Matos Correia, em homenagem ao Ferroviário. A bênção do Estádio foi lançada pelo Arcebispo de Lourenço Marques. Do festival fez parte um grandioso e colorido desfile, em que t o m a r a m parte filiados da Mocidade Portuguesa, Escuteiros, delegações de todos os Clubes da Província, assim como de algumas agremiações da Metrópole, e a i n d a , um interessante grupo de Marjoretes sul-africanas. Houve, t a m b é m , grande largada de pombos e balões.

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O Director dos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro de Moçambique, Eng.° Fernando Seixas, fez um brilhante discurto no acto inaugural. Coube a honra de hastear a Bandeira Nacional, ao Eng.° Pinto Teixeira, ex-Director dos Caminhos de Ferro, figura de grande prestígio em Moçambique. Conduziu o facho com a chama da Pátria — vinda da cidade do Porto, berço da nacionalidade, e ali acesa pelo Chefe do Estado em significativa cerimónia — o consagrado atleta do Ferroviário, José Magalhães. Nas cerimónias da inauguração foi condecorado o Eng.° Albano de Sousa Dias, pelo representante do Chefe do Estado. O nome do Eng.° Sousa Dias já havia marcado posição de relevo, pois que ao serviço do Estádio desenvolvera grande actividade, dando-lhe o impulso decisivo para uma mais breve conclusão, pelo que lhe foi dado o epíteto de «O Homem do Estádio», que veio a falecer, repentinamente. O festival terminou com um encontro de futebol entre as selecções de Portugal e do Brasil, tendo tido uma assistência «recorde» de 50 mil pessoas! O dia 30 de Junho de 1968 constitui um marco a assinalar uma progressiva etapa no desporto moçambicano, testemunho de uma valiosa acção desenvolvida pelo Clube Ferroviário, que por tal facto, tornou possível tão magnífico empreendimento! Terminamos a biografia com algumas palavras do Presidente Salazar, patrono deste Estádio: «Temos de reagir pela verdade da vida que é o trabalho : : : e dar aos portugueses, pela disciplina na cultura física, o segredo de fazer duradoura a sua mocidade em benefício de Portugal.»

Vista aérea do

«ESTÁDIO S A L A Z A R »

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CLUBE NAVAL DE LOURENÇO MARQUES O Clube Naval de Lourenço Marques — o antigo Grémio N á u t i c o — pode dizer-se que foi fundado em 1912, por um pequeno grupo de rapazes, sob a direcção entusiasta de José Correia Borges, sócio fundador n.° 1 e seu vice-comodoro honorário, embora os seus Estatutos só tivesem sido aprovados por A l v a r á de 25 de de Agosto de 1913. As reuniões, nesse tempo, faziam-se nos quartos dos mais entusiastas, tendo sido a primeira quota de cinquenta centavos, passando a um escudo quando foram aprovados os Estatutos. Em Janeiro de 1919 o número de sócios ainda não a t i n g i a uma centena. Isto quer dizer que o rendimento das quotas do «GRÉMIO» não chegava a ser de cem escudos mensais! Mesmo assim, ainda tinha embarcações e um barracão onde as guardava. Em Julho de 1913 o Clube realizou a sua primeira Regata, que se efectuou ao longo da Ponte-cais Gorjão, tendo obtido grande ê x i t o ! O relatório da Direcção, apresentado em Assembleia Geral de 14 de Janeiro de 1914, diz que o material que o «Grémio Náutico» possuía se resumia a uma canoa, dois «inrrigers» e 14 remos. NJooLjelee tempos distanfes os monífesfações desportivas começavam a despertar. O «Grupo N á u t i c o » , em 1917, devido aos esforços incansáveis de José Correia Borges, vice-comodoro, e do Eng.° J. V a z M o n t e i r o , Presidente da Direcção, conseguem que o Conselho de Turismo lhe construa o edifício para a sua Sede. E assim, na noite de 2 de Outubro de 1918 realiza-se um memorável Sarau no TEATRO V A R I E T Á , com o f i m de angariar f u n dos para mobilar o edifício, que lhe tinha sido entregue. A festa redundou em verdadeiro sucesso, o que mostrava que o «Grémio» sabia cumprir a sua missão. Desta f o r m a , foi possível à Direcção conseguir com que o Governador-Geral de então, Dr. Moreira da Fonseca, se interessasse pelo «Grémio» e lhe concedesse o subsídio de 1200 libras para mobilar o seu edifício. A inauguração da nova sede fez-se com grande pompa, em 27 de Dezembro de 1919.

Fachada principal do edifício do Clube Naval

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Em 1920 o número de sócios passou para 5 2 8 , pasando a quota para mais tarde, para 5 0 $ 0 0 .

10 escudos, e

Depois, a cidade foi evoluindo. Nasceram outros Clubes, o desporto toma o seu lugar e o «Grémio Náutico» passa a denominar-se «Clube N a v a l » , passando a limitar a sua acção às actividades para que fora criado: Remo e Vela. O Clube N a v a l , através da sua longa existência, nem sempre f o i , n a t u r a l m e n t e , o que é, devido principalmente, às boas vontades e m u i t o trabalho, logrou alcançar a posição de relevo que hoje ocupa em Moçambique. Para isso m u i t o tem contribuído o auxílio e simpatia que lhe têm dispensado os Governadores-Gerais da Província, a Câmara M u n i c i p a l , entidades oficiais e particulares, os seus sócios, sem os quais não lhe seria possível vir a cumprir a missão para que fora criado o Clube. Em Julho de 1969, o Clube Naval de Lourenço Marques apresentou um vasto Programa de comemorações do seu 56.° aniversário, que fez deslocar à capital da Província numerosos estrangeiros que vieram acompanhados de suas famílias, participar nas várias Regatas, a t i n gindo cerca de um milhar de visitantes. O Clube promoveu campeonatos de: SNIPES; Clases de «Spearhead», «505»/ «0» e «FD», além de promover um Concurso Internacional de Pesca, na Inhaca. T a m b é m se vem efectuando desde 1968, a Regata Oceânica «Vasco da Gama», Lourenço Marques-Durban, a que concorrem iates de Cruzeiro, tendo sido ganha por um sul-africano. O Clube Naval t a m bém promoveu uma competição de M o t o n á u t i c a , que teve bastantes concorrentes nacionais e estrangeiros, proporcionando um interessante espectáculo, que a população da cidade pode apreciar g r a t u i t a m e n t e , obtendo grande êxito. Na mensagem que dirigiu ao Clube N a v a l , o actual Presidente da Câmara Municipal de Lourenço Marques, Eng.° Emílio Mertens, a f i r m o u :

Aspecto geral do Clube

«Lourenço Marques deve todo o prestígio e atracção de que desfruta à sua situação perante o mar e o Clube Naval sempre prestou, através dos tempos, uma destacada c o n t r i buição para a sua valorização turística, o que, se representa motivo de orgulho para os seus sócios, garante uma extremosa simpatia extensiva a todos os habitantes desta nossa terra. Com os votos de pleno êxito para as suas organizações, endereço a todos os velejadores e corpos directivos as minhas calorosas saudações.» Também o Dr. Noronha Feio, Presidente do Conselho Provincial de Educação Física e Desportos, referindo-se ao Clube N a v a l , diz no sua mensagem:

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«O Clube Naval de Lourenço Marques comemora o 56.° aniversário da sua fundação com uma série brilhantíssima de realizações de nível nacional e internacional, raras vezes igualada no espaço português e em tudo dignas das tradições do Clube. O Desporto e o Turismo da Província de Moçambique estão mais uma vez de parabéns e, de modo m u i t o especial, a cidade de Lourenço Marques que na maravilhosa quadra de Julho encontra nos festejos do Naval uma expressão em tudo digna da sua beleza, paz e juventude. Não contestemos nem uma vez tamanha lição de generosidade e de vida plenamente realizada nestes encontros da juventude com o sol e o mar! Dias de m u i t o trabalho e de preocupações sem conta, dias felizes de missão cumprida — há jovens e velas na Baía do Espírito Santo.» Com as elogiosas referências de duas ilustres entidades oficiais, terminamos a história deste simpático Clube lourenço-marquino.

Entrega de prémios aos vencedores das Regatas Internacionais, em 1969

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O

CLUBE

MAIS

ANTIGO

DE

LOURENÇO

MARQUES

CLUBE DE GOLFE DA POLANA

Edifício do Clube de Golfe

Fundado em 1895, nos terrenos onde actualmente se encontram as instalações fabris da firma P. Santos Gil e os depósitos da Caltex. Em 1914 mudou-se para a zona de Sommerschield da Polana, ocupando o campo de golf a área onde presentemente se encontra a Igreja de Sto. A n t ó n i o da Polana e toda a zona «A» do Bairro dos Cronistas. O plano de urbanização que criou o Bairro dos Cronistas obrigou o Clube de Golfe da Polana a procurar novamente outras instalações. Em 1955 começou-se a construção do novo campo tendo ficado completados os trabalhos em 1956, com 18 buracos. Durante alguns anos o Clube continuou a fazer uso da Sede antiga ao lado do actual Clube de Lourenço Marques, mas em 9 de A b r i l de 1961 foi inaugurada por S. Exa. o GovernadorGeral de Moçambique, Comandante Pedro Correia de Barros, a nova Sede. Na ala esquerda do edifício situa-se o Gabinete da Direcção, Sala de Jogo, Leitura, Bar, etc. Em 1963 foi inaugurado um parque i n f a n t i l com piscina para a pequenada, filhos de sócios. Em 1964 foi construído um «Court de S q u a s h » — a única instalação em Moçambique para a prática de squash. Também devido à compreensão e ajuda do Eng.° Lopes Duarte, Director dos Correios, Telégrafos e Telefones, o Clube pôde contrair dois empréstimos à Caixa Económica Postal, sem os quais a construção da Sede continuaria, talvez, no plano d a : esperanças . . . E assim, caminhando progressiva e t r i u n f a n t e m e n t e , mercê da união de todos os sócios e da boa vontade de simpatizantes, a prestigiosa colectividade tem singrado e subsistido.

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Em 31 de_ Dezembro de 1964 o Clube de Golfe da Poiana tinha 3 0 8 s ó c i o s — 190 de golfe — 63 da secção Social e 55 Correspondentes e Juniores. Todos os anos é disputado nos Campos de Golfe o Campeonato de Moçambique com a participação de grande número de jogadores dos países vizinhos, incluindo os* melhores amadores da Á f r i c a do Sul. Em 1964 inscreveram-se 60 jogadores estrangeiros, incluindo 10 jogadores internacionais de grande categoria. É, actualmente, o Presidente da Direcção do Clube, João Ferrão.

Sala de convívio do Clube

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SPORTING CLUBE DE LOURENÇO MARQUES

O Sporting Clube de Lourenço Marques foi fundado em 3 de M a i o de 1920 e pelos seguintes sócios: Jorge Belo, Joaquim Duarte Saúde, José Roque de A g u i a r , Peter Mangos, A n t ó n i o José de Sousa A m o r i m , A l b e r t o Gonçalves T ú b i o , Júlio Belo, José Nicolau A r g e n t , Edmundo Dantes Couto, M a n u e l Sousa M a r t i n s , José Miguens Jorge, José Mendes Felizardo M a r t i n s , A l f r e d o Carlos Sequeira, João Carvalho, M a n u e l Dias, José Lopes, A n t ó n i o Pimenta Freire, Augusto Gendre Ferreira, A n t ó n i o M a r i a Veiga Peres, A b í l i o Carmo, João de Freitas e Fernando de Figueiredo Magalhães. Na actualidade, o Clube t e m cerca de 1300 sócios.

Estádio coberto do Sporting

MODALIDADES

PRATICADAS

E

NÚMERO

DE

ATLETAS

A t l e t i s m o — Andebol de 7 — Badminton — Basquetebol — Automobilismo — Ciclismo — Futebol — Futebol de Salão — Judo — Ténis de Mesa — T i r o — Voleibol e Hóquei em Patins, num total de 6 0 0 atletas.

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TAÇAS E CAMPEONATOS GANHOS PELO CLUBE

Em 1961 o Sporting Clube de Lourenço Marques foi o campeão do Campeonato de Futebol de Moçambique, e vencedor da eliminatória do Ultramar para a « T A Ç A DE PORTUGAL». Nesse mesmo ano também foi o campeão de ciclismo em Lourenço Marques.

O Sporting Clube de Lourenço Marques, campeão de 1 9 6 0

Em 1962 foi o vencedor da « T A Ç A DE PORTUGAL», em Basquetebol, na categoria de Seniores, disputada em Lisboa. Em 1962, f o i , também o vencedor do «I TORNEIO I N T E R N A C I O N A L DA ÁFRICA AUST R A L » , em Basquetebol, na categoria de Seniores. Foi vencedor do Campeonato U l t r a m a r i n o , em Futebol, em 1963. Em 1964 foi o vencedor do Campeonato Nacional de Basquetebol, na categoria de Juniores. Igualmente foi vencedor de diversos Campeonatos Provinciais e Distritais em diversas modalidades e categorias.


Campeão Ultramarino em

1963

As instalações do Clube ocupam uma área de cerca de t r i n t a e quatro mil metros quadrados. O seu Pavlihâo de Desportos tem capacidade para cinco mil pessoas. Na Província, é a mais importante Filial do Sporting Clube de Portugal, sendo considerada uma instituição de utilidade pública. Em 1965, d i r i g i r a m os destinos deste prestigioso Clube, os seguintes Senhores: Presidente da Direcção: Eng.° Luís Júdice Folque. Vice-Presidente das Relações Públicas: Eng.° Joaquim Cabral Jacobetty. Vice-Presidente A d m i n i s t r a t i v o : Dr. M a n u e l Lourenço Real. Vice-Presidente das Actividades Desportivas: Luís José M a r i n h o Falcão. Secretário-Geral: Rolando M a i a Vinhos. Tesoureiro: Manuel de A l m e i d a Saraiva. O Sporting Clube de Lourenço Marques m u i t o t e m contribuído para o desenvolvimento e prestígio do Desporto na Província.

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CLUBE DE PESCA DESPORTIVA DE LOURENÇO MARQUES

O belo edifício do Clube de Pesca Desportiva

Considerada como prática generalizada a pesca desportiva tem passado pouco remoto em Moçambique, porém, a sua introdução, pelo menos em Lourenço Marques, é bem mais antiga do que muitos dos seus actuais praticantes poderão supor. Aí por volta de 1924-25 já existiam aficionados, poucos, é certo, em número reduzido e sempre os mesmos que, quer de cima da velha ponte do Pavilhão da Polana, de saudosa memória, que especados na muralha m a r g i n a l , passaram horas sem conta na prática da modalidade, alheios às «piadas» dos «mirones» e indiferentes aos conceitos que deles f a z i a m amigos e desconhecidos. Todos esses primeiros praticantes se dedicavam à pesca pesada e, munidos de longas canas de bambu n a t u r a l , com linhas de algodão ou de linho enroladas em primitivos carretos «center-pin» ou «Sacarborough», os componentes desse reduzido número de pioneiros — não mais de meia dúzia — cometeram verdadeiras proezas que muitos praticantes de hope, com material aperfeiçoado, não desdenhariam de averbar nos seus palmarés. Porém, esse pequeno grupo não fez escola e não deixou continuadores. Fechados em si mesmos — talvez por serem tidos como mais ou menos lunáticos e, por isso, frequentemente ridicularizados — os seus componentes não souberam, ou não quiseram, interessar outros, insuflando-lhes a chama sagrada e criando entre si e nos novos o necessário «espírito de grupo» para que o desporto evoluísse. A esse grupo pertenceram o velho Sprackett, já falecido, cujas capturas de tubarões, quer em número quer em tamanho, se tornaram famosas, e o Romeu Casaleiro, ainda vivo mas afastado das lides, a quem durante m u i t o tempo coube a honra de ter, sucessivamente, pescado as maiores garoupas gigantes até então vistas. Foi só depois da ú l t i m a guerra mundial que a pesca desportiva alastrou explosivamente ao mundo inteiro, como epidemia impossível de conter, tendo a t i n g i d o Moçambique aí por volta de 1947-48, data em que pode situar-se o começo do afluxo de gente interessada que, em 1952, constituiu o primeiro grupo de aficionados que deu origem ao seu actual desenvolvimento.

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Seria ingrato não mencionar a influência que neste grupo exerceu, nessa a l t u r a , Jorge Brun do Canto, grande pescador entre os maiores, que aqui deu proveitosas lições e acendeu o fogo sagrado quando por aí andou f i l m a n d o « C h a i m i t e » ; os proveitosos ensinamentos sobre pesca grossa que nos proporcionou o falecido coronel John K. Howard e os contactos com campeões como Joe Brooks e com praticantes de experiência internacional como A l b e r t V a n der Riet, N o r m a n M a r c h a i I , George Wooler e W. van Rooyen, para só citar alguns entre os mais notáveis que nos têm visitado e que, directa ou indirectamente, contribuíram para a evolução deste desporto entre nós.

A doca do Clube

O rápido desenvolvimento da pesca desportiva conduziu ao necessário agrupamento dos aficionados que, começando por formar «secções» especializadas dentro de alguns clubes de desportos náuticos, como o Clube N á u t i c o , em Lourenço Marques, e o Clube N á u t i c o , na Beira (que ainda hoje m a n t é m essas secções em plena actividade), culminaram por fundarem clubes da especialidade. Deste, foi pioneiro o Clube de Pesca de Moçambique, criado na Beira mas de efémera duração, ao qual se seguiram, por ordem cronológica, o Clube de Pesca Desportiva, de Lourenço Marques e o Clube de Pesca de Gaza, em João Belo, ambos em plena actividade. O Clube de Pesca Desportiva, com mais de seiscentos associados, entre os quais se cont a m alguns dos mais destacados praticantes, possui embarcações próprias para a pesca grossa de alto mar, uma doca privativa e uma grandiosa sede, criou já reputação internacional que m u i t o t e m honrado o clube e a Província. A partir de 1952 a pesca desportiva evoluiu rapidamente em Moçambique. Primeiro em Lourenço Marques e depois, mais lentamente, em toda a Província, foram aparecendo cada vez mais adeptos deste desporto que hoje t e m entre nós alguns milhares de praticantes. A princípio, como é n a t u r a l , o desporto era praticado de qualquer modo, à maneira de «arranca-nabos», desajeitadamente. Mas dentre esse grupo inicial alguns houve que não se contentaram com apenas «tirar» peixe de qualquer f o r m a e quiseram saber mais. Estabeleceram contactos, criaram relações, aprenderam e, o que é mais i m p o r t a n t e , f o r a m espalhando entre os confrades, os conhecimentos que iam obtendo, corrigindo-se e aperfeiçoando-se, passando a pescar mais com a cabeça do que com os músculos, mais em «souplesse» do que em forca. — 61 —


Entretanto, da Á f r i c a do Sul, onde este desporto tem tradições estabelecidas, alguns desportistas experimentados, apercebendo-se das possibilidades das nossas águas, começaram a visitar-nos com frequência e a contactar cada vez mais com os nosos praticantes que rapidamente iam absorvendo todos os conhecimentos experimentando todas as novas práticas que : podiam. Este facto, aliado às descobertas feitas por Alexander e por van Rooyen (independentemente um do outro, mas quase simultaneamente) das enormes possibilidades haliêuticas das águas do Bazaruto consolidaram entre nós o estabelecimento da pesca desportiva de alto mar, que culminou na realização ali do primeiro concurso de pesca, aberto a equipas de clubes da Rodésia, da Á f r i c a do Sul e de Moçambique. A partir de então o concurso de pesca-grossa do Bazaruto que se tem realizado regularmente há dozes anos sem uma falha graças à iniciativa do velho colono Joaquim Alves, proprietário da organização que tem o seu nome e que explora o turismo no arquipélago, adquiriu foros de tradicional. Com a nomeação de representantes em Moçambique da International Game Fish Association e a filiação dos nossos clubes nesta organização internacional, passaram a adoptar-se as regras internacionais de pesca desportiva em todos os concursos e o regulamento daquela competição foi-se tornando cada vez mais rígido e apertado, dando-lhe o nível internacional que lhe trouxe fama e que a ele atrai pescadores experimentados nas Bahamas, em Wedgeport, no Hawai, no Cabo Blanco, no Cabo e na Nova Zelândia. Assim, em poucos anos, os nossos desportistas foram-se graduando da pesca nas muralhas e nas praias à pesca de estuário e a l t o - m a r ; da pesca no estuário e canais, em botes a remos, à pesca nas barras em «ski-boats» com motores fora de borda e, f i n a l m e n t e , à pesca grossa em poderosos barcos como os «srikers» do Clube de Pesca Desportiva; das tainhas, douradinhas e carapaus, às cavalas (serras), xaréus e barracudas; dos bonitos, dourados-do-alto e atuns, aos tubarões, veleiros e espadins (marlins). O prestígio criado pelas equipas portuguesas que têm disputado os concursos da Cidade do Cabo — onde se reúnem os mais experimentados «springbocks» — levou os organizadores a considerar o Clube de Pesca Desportiva como «convidado permanente» nos prélios entre c l u bes e, nos internacionais, a equipa de Moçambique como um «must». Em Melinde (Quénia) onde Moçambique se fez representar antes da independência daquele t e r r i t ó r i o , ao lado de americanos, australianos, sul-africanos e rodesianos, a nossa equipa foi favorita e, embora perdendo, os organizadores deram-nos a honra de instituir, para futuras competições, um troféu f l u t u a n t e que designaram por «THE HENRY, THE N A V I G A T O R ' S TROPHY». Infelizmente, embora convidados, Moçambique não pôde voltar a fazer-se representar. O concurso do Bazaruto t e m sido várias vezes ganho por equipas moçambicanas, sendo de notar que o júri destes concursos, de que fazem parte delegados dos territórios vizinhos, é hoje tradicionalmente presidido por um delegado de Moçambique. As possibilidades da pesca desportiva das nossas águas são hoje conhecidas a l é m - f r o n t e i ras, não só entre os nossos vizinhos como também na América do Norte, na Europa, na A u s t r á lia e Nova Zelândia. Esta projecção deve-se não só à actuação de alguns dos nossos pescadores mais destacados como, u l t i m a m e n t e , à acção do Clube de Pesca Desportiva de Lourenço Marques, que reúne entre os seus membros alguns dos mais conhecidos pescadores de Á f r i c a , t a n t o nacionais como estrangeiros, através dos quais tem procurado estabelecer contactos com a fraternidade do resto do mundo.

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CLUBE MARÍTIMO DE DESPORTOS

Aspecto exterior do Clube Marítimo de Desportos

Em Lourenço Marques, foi fundado em 3 de M a i o de 1948, por oficiais e mais funcionários da Capitania d o > o r t o de Lourenço Marques, o CLUBE M A R Í T I M O DE DESPORTOS. A sua sede e campo de jogos teve lugar nos terrenos da Capitania. Praticavam-se os desportos da Vela, Remo, Futebol e outros. M u i t o s anos depois, mudaram as suas instalações para a Praia do Polana, onde construíram a sua nova sede. Esta consta de um grande Salão de Festas; um Bar para Homens; um Bar para Senhoras; cozinha e copa; sala para Direcção e Conselho Técnico; Balneários para ambos os sexos; seis quartos de cama para alojar embaixadas desportivas; um Hangar coberto para t r i n t a embarcações e uma esplanada para cem embarcações. No presente, o Clube dedica-se somente aos desportos náuticos, m u i t o principalmente, à Vela, Remo, Pesca, Caça Submarina, Ski aquático e M o t o n á u t i c a . Esta é mais uma agremiação desportiva moçambicana, que ao Desporto de Moçambique tem dado valioso contributo.

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ANTÓNIO MELO PEREIRA O

PIONEIRO EM

DO

CINEMA

MOÇAMBIQUE

A n t ó n i o M e l o Pereira desde a juventude que se dedica à Sétima A r t e , profissão que iniciou na Metrópole, trabalhando com os melhores realizadores portugueses, como por exemplo, Leitão de Barros e Brun do Canto, assim como com equipas estrangeiras que se deslocaram a Portugal para produzirem filmes, entre as quais, dos realizadores Alejandro Perla, espanhol, e M a x Nosseck, americano. A n t ó n i o Melo Pereira também esteve em Londres, onde sstagiou durante seis meses, na Secção de Televisão da BBC. O produtor de « A C T U A L I D A D E S DE M O Ç A M B I Q U E » nasceu próximo de Leiria — a linda princesa do Liz — tendo ido depois, para Lisboa, estudar, acabando por se prender aos encantos da capital. Em 1 9 5 1 , A n t ó n i o Melo Pereira vem para Moçambique integrado na equipa cinematográfica que ia produzir o filme « C H A I M I T E » , acabando por se fixar na Província, ou mais propriamente, em Lourenço Marques. Sonhando sempre com projectos cinematográficos, inicia em Agosto de 1955 a feitura de um jornal mensal, de actualidades da Província, a que foi dado o t í t u l o de « A C T U A L I DADES DE M O Ç A M B I Q U E » , que desde então aparece regularmente nos écrans dos principais territórios portugueses. Depois o seu sonho cresceu . . . e há cerca de dois anos montou um laboratório, modernamente apetrechado, no qual labora o seu jornal e Todos os trabalhos cinematográficos idênticos. Desde que se f i x o u em Moçambique, M e l o Pereira tem produzido diversos Documentários de elevado nível técnico e artístico, focando diferentes aspectos da Província, grangeando-lhe louros e merecidos elogios.

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JOÃO TERRAMOTO

O primeiro representante da Televisão Portuguesa, em Moçambique, foi o malogrado colega João T e r r a m o t o , falecido num brutal desastre, em Julho de 1969, quando se encontrava em serviço, a f i l m a r as Corridas de Automóveis, no A u t ó d r o m o de Lourenço Marques. Viera para Moçambique em 1959, iniciando a sua vida profissional na Beira, fixando-se, pouco depois, em Lourenço Marques.

João Terramoto num momento de reportagem

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MANUEL AUGUSTO RODRIGUES

PIONEIRO

DO

CINEMA

E

DO

TEATRO

Em Janeiro de 1897, desembarcava em Lourenço Marques, o que havia de ser mais tarde o grande pioneiro da indústria do cinema e teatro em Moçambique, Manuel Rodrigues e que ali se finou no ano de 1944. A cidade era, então, um pequeno aglomerado de amigos, qual V i l a de hoje, que nestas paragens a todos irmanava. Não eram passados dez anos, e devido a tenacidade forte desse pioneiro, que havia de legar a Moçambique um dos melhores exemplos de colono e p a t r i o t a , saiu Lourenço Marques do seu marasmo, com a inauguração da sua primeira sala de espectáculo, assistida pelo seu Governador-Geral, M a j o r Freire de Andrade e a que lhe deram o nome de «Salão Edison». Passaram-se os anos, e com eles, o desenvolvimento da cidade evoluiu na rotina própria daquela época. É tal o amor pela terra que o acolheu e tal a boa vontade dos amigos que o rodeavam, que levaram Manuel Augusto Rodrigues a sentir uma maior aspiração. Na realidade, o seu já agora modesto salão, não correspondia a digna sala de visitas que a terra merecia. Vencidos que foram os obstáculos quase intransponíveis, para aqueles tempos, e com o espanto geral da população ante t a n t a tenacidade e arrojo, seis anos volvidos, lança-se Manuel Augusto Rodrigues, na construção duma já moderníssima e ampla casa de espectáculos que a todos orgulhava. Esse orgulho foi tão elevado que, ainda hoje, os vindouros o sentem ao ler uma carta dos mais proeminentes velhos colonos dirigida a Manuel Augusto Rodrigues pedindo-lhe que ao novo teatro fosse dado o nome de «Gil V i c e n t e » . Essa carta, repassada de amor pela arte portuguesa e de sentimentos patrióticos, era assinada por uma centena de vultos de destaque de então e que hoje ainda lembramos com saudade ao ver os seus nomes invocados para designar algumas das Avenidas de Lourenço Marques. Manuel Augusto Rodrigues, que pertencia também a essa mocidade exuberante, cheia de uma vontade incomensurável de vencer, abraçou com carinho a ideia dos seus amigos e em 1913 inaugurava o seu primeiro teatro já de v u l t o , «Teatro Gil V i c e n t e » , o primeiro teatro em terras de Moçambique e já um dos melhores de toda a Á f r i c a . Presidiu à inauguração o Governador-Geral daquele tempo, Sr. Dr. Ferreira dos Santos, tendo como chefe de gabinete, o Comandante João Belo.

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Para a estreia do primeiro teatro de Moçambique veio também a primeira companhia de teatro da Metrópole, empreendimento e organização esta, de que só o arrojado e desprendido empresário, M a n u e l A u g u s t o Rodrigues, daquele tempo, seria capaz. Que momentos de f e l i c i dade e alegria deu, então, aos seus compatriottas, este homem, à custa de tantos trabalhos e canseiras! Nós, os vindouros, nesta época dos telefones, correios aéreos, e mil uma facilidades de agora, é que avaliamos bem o trabalho exaustivo e privações até, por que Manuel Augusto teria de passar para alcançar os seus objectivos: apresentar o melhor, do melhor daqueles tempos . . . Em 1 9 3 1 , porém, contra tudo muda, arrebatando-lhe o minutos, um incênido destruiu nem sequer o seguro lhe valeu

a maré norma! do seu ritmo de t r i u n f o , uma vaga de pouca sorte, seu sonho, toda uma vida de trabalho e honestidade. Em poucos por completo todo o edifício e recheio do Gil V i c e n t e » , em que por o mesmo não ter sido renovado.

Seguem-se dias de desalento amargo, ao profundo golpe sofrido, na sua alma já abalada pelos anos que avançam e f a t i g a m as vontades mais fortes. Há amigos, porém, que o não desamparam e o encorajam a prosseguir. Manuel Augusto Rodrigues, vê a cidade de Lourenço Marques, a terra dos seus filhos que também já é sua, a alindar-se, a povoar-se cada vez mais. Lembra-se com saudade de seu passado de lutas e contrariedades vencidas. Escudado no seu ânimo forte e persistente, lança-se na construção do novo «Gil V i c e n t e » , pois sente que ao findar da sua vida alguma coisa de seu, alguma coisa da sua personalidade tem de legar à cidade a que t a n t o quis. E ao findar o ano de 1933 inaugura o novo e elegante teatro da Avenida A g u i a r , o seu novo «Gil Vicente». O que foi a noite de estreia, presidida pelo Encarregado do Governo, Senhor Tenente-coronel Soares Z i l h ã o , faiam-nos os periódicos daquele tempo. Noite de distinção, brilhantismo, luz e alegria para todos os que a ela assistiram. A l i acorreu a população em peso, quanto mais não fosse para patentear a sua satisfação e homenagem ao persistente pioneiro do teatro de Moçambique e a quem a cidade já t a n t o devia Noite de comoção forte para Manuel A u gusto Rodrigues, sua família e seus amigos, para o empresário de larga visão que se agigantava na adversidade e que não passava de uma sombra modesta dos seus triunfos. Noite momerável, aquela, nos anais do progresso citadino! Estava realizado o sonho do velho colono e pionero, Manuel Augusto Rodrigues, que ainda viveu até 1944.

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A representante da « M G M » entrega uma placa de homenagem aos Irmãos Rodrigues, em 1 9 5 6

Deixou raízes a sua vontade indómita, deixou reflexos o impulso da sua natural vocação. E assim, seus filhos, César e M a n u e l , continuadores da obra orgulhosa do p a i , não se limitando, somente, ao seguimento do t r i l h o encetado, resolvem dotar Lourenço Marques, na sua ampla Avenida 24 de Julho, com mais um novo t e a t r o , um dos mais luxuosos e delineados teatros modernos, onde tudo é com gosto e sobriedade. Como preito de homenagem ao autor dos seus dias e ao justo e valoroso pioneiro da i n dústria teatral de Moçambique, decidem dar-lhe o nome de «Teatro Manuel Rodrigues».


CAPITÃO MANUEL SIMÕES VAZ FUNDADOR O

PRIMEIRO

JORNAL

DO

"NOTÍCIAS"

DIÁRIO

DE

MOÇAMBIQUE

O capitão Simões V a z a ser galardoado pelo Presidente da Câmara de L. M . , homenageando os seus 40 anos ao serviço da cidade, em 26 de Setembro de 1 9 6 1 .

Nasceu em 9 de Setembro de 1889, frequentou a Escola Politécnica e depois as Escolas do Exército e Prática de Cavalaria, sendo promovido a alferes em 15 de Novembro de 1910. Foi promovido a tenente em 23 de Setembro de 1911 para seguir para S. T o m é em comissão ordinária, onde organizou e amestrou em pelotão de Cavalaria da Polícia. Seguiu em Junho de 1913 para Lourenço Marques, onde foi tomar parte n u m concurso hípico internacional sem vencimento e sem contagem de tempo de serviço, ficando colocado depois em Moçambique, no Quartel General, como defensor oficioso dos Conselhos de Guerra. Em fins de 1914 foi nomeado ajudante de Campo do Governador-Geral, General Joaquim José Machado, e t a m b é m taquígrafo do Conselho do Governo, lugares que desempenhou c u m u lativamente, até ser concedida, depois de 14 de M a i o de 1915, a demissão ao Governador-Geral que acompanhou no seu regresso a Lisboa. No mesmo ano voltou a Moçambique como subchefe do Estado-Maior da expedição comandada pelo coronel de A r t i l h a r i a M o u r a Mendes e de que era chefe do Estado-Maior o major L i berato Pinto. Foi encarregado da missão de proceder ao reconhecimento do vale do rio Rovuma, no que respeitava a recursos alimentares da região e vaus possíveis para passagem de tropas. Fez esse reconhecimento, apenas acompanhado de carregadores e seus cipaios, e gastou nele, numa extensão de cerca de 5 0 0 quilómetros, cerca de um ano, tendo elaborado um levantamento expedito do percurso f e i t o a t é uma localidade de nome Chivinde no ponto em que o rio saía do nosso território. —

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Regressando mais tarde à Base, em Palma, depois da queda de Nevala, f o i , apesar de ser capitão de Cavalaria e subchefe do Estado-Maior, nomeado para comandar um batalhão de Infantaria constituído por uma companhia europeia e uma indígena, com instruções para ir ao encontro duma formação alemã que se encontrava já em território português, perto de uma povoação chamada N h i c a , na margem direita do Rovuma. Com a aproximação desta coluna as forças alemãs retiraram para a margem esquerda sem terem dado combate. Terminada a guerra ficou em Lourenço Marques e depois duma missão a Singapura de que foi encarregado pelo Governador Massano de A m o r i m , voltou a Moçambique em fins de 1919, tendo então entrado em licença registada e pouco depois em licença ilimitada. Em Janeiro de 1920 abraçou definitivamente o jornalismo, entrando como director da secção portuguesa do bisemanário «Lourenço Marques Guardian», hoje «Diário». O primeiro artigo que escreveu para esse periódico, como jornalista profissional, e publicação num dos primeiros dias desse ano, foi subordinado ao t í t u l o «Colonização - ligeiras observações» e este mesmo tema serviu de assunto para dezenas de artigos escritos nos anos que se seguiram. Em 15 de A b r i l de 1926, no desejo de satisfazer uma necessidade que surgia na população, a de um jornal diário noticioso, iniciou a publicação do «Notícias», publicado regularmente até hoje. Para a manutenção desse diário, iniciado com pequeníssimo capital e limitados recursos, teve de deitar mão de trabalho a ele estranho para obter recursos para a sua manutenção e assim foi professor de inglês e desenho no Liceu 5 de Outubro, intérprete oficial do T r i b u n a l , dando simultaneamente lições de português a estrangeiros residentes em Lourenço Marques. Além disso foi contratado como redactor de actas do Conselho do Governo, ocupações que foi deixando à medida que o «Notícias» ia obtendo popularidade e firmando-se financeiramente. Durante os 42 anos de jornalismo profissional, não só pugnou enérgica e persistentemente pela colonização portuguesa da Província, como em artigos sucessivos pedia o desaparecimento dos Prazos da Z a m b é z i a , a passagem para a administração directa do Estado dos territórios na posse das Companhias Magestáticas do Niassa e de Moçambique e a nacionalização dos serviços de estiva do porto de Lourenço Marques, o que finalmente se conseguiu em benefício do interesse nacional. Debateu em centos de artigos os problemas administrativos, económicos e de instrução, assunto duma campanha que se prolongou durante anos. Nas colunas do «Notícias» das edições publicadas nos 37 anos da sua existência encontram-se assinados e não assinados, muitos centos de artigos t r a t a n d o da necessidade de se promover o desenvolvimento agrícola e pecuário, defendendo os interesses legítimos da população e das suas actividades, pugnando pelo progresso e desenvolvimento de Moçambique, e n f i m dando sempre toda a cooperação, sem auxílo ou subsídio de qualquer natureza, aos Governos de Moçambique. Em 1938 foi eleito vogal do Conselho do Governo pelo distrito de Gaza, e no mesmo ano escolhido, nesse Conselho, para seu delegado j u n t o do Conselho de Administração dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, lugar que desempenhou durante alguns anos! Desde essa data nunca mais deixou de fazer parte do Conselho do Governo, eleito por Gaza, ou do Conselho Legislativo, eleito pelos maiores contribuintes. — 70 —


Actual edifício do « N O T Í C I A S »

Durante alguns anos teve a honra, nunca anterior ou posteriormente t i d a por qualquer outra pessoa, de ser simultaneamente vogal do Conselho do Governo, do Conselho de A d m i nistração dos C.F.M., presidente da Câmara do Comércio e director do principal jornal diário de Moçambique, tendo durante esse período defendido e pugnado pelos interesses da Província, seu desenvolvimento e prosperidade.

__ 7i _..


TRANSPORTES DE MOÇAMBIQUE A história dos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique inicia-se com a construção do 1.° troço do caminho de ferro Lourenço Marques-Pretória, em 1888, com 53 quilómetros de extensão, ligando Lourenço Marques à M o a m b a . O segundo troço foi inaugurado em 5 de Outubro de 1914, devendo-se à visão inteligente do Governador Freire de Andrade, prolongando-se a t é Ungubana. Esta via foi a percursora do Caminho de Ferro do Limpopo, tendo em vista a intenção de alargar a zona de colonização europeia, no ubérirmo vale do Guijá, cuja linha férrea se prolongou até lá, concluindo-se'em 1937. Em 13 de M a i o de 1952 a linha foi prolongada mais 24 quilómetros, até à Aldeia da Barragem, centro do Plano de Fomento e Povoamento do Limpopo.

Uma visto aérea do Porto

Em 1 de Janeiro de 1953, foi iniciada a ú l t i m a etapa deste grande empreendimento, que se concluiu mais rápido que o previsto, construindo, os portugueses, o caminho de ferro para além das fronteiras, em território rodesiano. O primeiro comboio de Mercadorias para a Rodésia do N o r t e , saiu de Lourenço Marques às 19 horas do dia 31 de Julho de 1955, chegando à Estação fronteiriça, do Pafúri, no dia 1 de Agosto às 16.35. —

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Cais do M i n é r i o

DISTRITO

DE

MANICA

E

SOFALA

Outro troço importante dos Caminhos de Ferro é a linha Beira-Machipanda, que liga o Porto da Beira à Rodésia do Sul, que teve a sua conclusão em 1896. Por sua vez, a N i a s s a l â n d i a — hoje M a l a v i — d e s e j a v a possuir um fácil acesso ao litoral, através do Porto da Beira. Hoje existe um troço, Dondo-Rio Zambeze. Em 1922 formou-se a Transzambézia-Railway, Companhia particular, que passou a explorar uma linha, que entroncando no Dondo, alcança a povoação de M u r r a ç a , na margem direita do rio Zambeze. Depois de construída a Ponte sobre o rio, estabeleceu-se, f i n a l m e n t e , a ligação directa da Niassalândia com o Porto da Beira. A Ponte que atravessa o rio Zambeze é uma das maiores do mundo, medindo 3702 metros de comprimento.

Estação Nova dos Caminhos de Ferro, na Beira


DISTRITO

DA

ZAMBÉZIA

Em 1 de Junho de 1912 o Estado iniciou a construção da linha férrea de Namacurra a Mocuba, que deveria constituir um ramal da linha Quelimane-Chire, várias vezes estudada, mas não f e i t a . Só em 1914 se deu início à construção dessa linha, a partir de Quelimane, que se prolonga até Mocuba.

i

Porfo de Quelimane

DISTRITO

DE

TETE

A Direcção dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, em A b r i l de 1939 iniciou a construção da linha férrea de Tete. Parte de D. A n a , onde entronca com a linha transzambézia e assegura a ligação da rica região mineira do M o a t i z e com o Porto da Beira. Esta linha foi inaugurada em 29 de Julho de 1949, projectando-se o seu prolongamento até aos Planaltos da Angónia e Furancungo, locais privilegiados para a fixação europeia.

Edifício dos Correios, em Tere

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DISTRITO

DE

MOÇAMBIQUE

A linha que começou a ser ventilada por Serpa Pinto, em 1889, só veio a ser realizada em 1912, num primeiro troço, indo do Lumbo ao Rio Monapo e Nacala. Em 1922, fizeram-se novos estudos e a linha prolongou-se até N a m p u l a , concluindo-se no ano de 1930. Prosseguindo-se na sua construção, a linha foi prolongada até Nova Freixo, em 1949, e depois, até ao Catur, e dali até V i l a Cabral, em 1969. Esta linha férrea irá até ao Lago Niassa, no local denominado Porto Arroio, onde será construído um porto, destinado a receber o tráfego do M a l a w i , bem como de outros pontos da Á f r i c a Central.

A Barragem de Nampula

A chefia e direcção dos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique tem estado entregue ao Eng.° Fernando Seixas, desde 3 de Março de 1964, lugar que tem desempenhado com provada competência.

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A "DETA"—TRANSPORTES AÉREOS DE MOÇAMBIQUE «DETA» é a abreviatura por que é conhecido o Departamento dos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, que tem a seu cargo a Aviação Comercial. A «DETA» foi criada em Novembro de 1936, com dois aviões, para um total de cinco lugares, iniciando a exploração em 1937.

0 primeiro avião da DETA

Hoje a « D E T A » , com mais de 30 anos ao serviço de Moçambique, possui avultada e e f i ciente f r o t a de aviões, que cruzam a Província de lés-a-lés, em todas as direcções, colocando-se na honrosa posição de pioneira, de que justamente se deve prestar homenagem ao seu prestigioso fundador, o Engenheiro Francisco dos Santos Pinto Teixeira, quando era Director dos Serviços dos Caminhos de Ferro de Moçambique. A «DETA» tem correspondido às crescentes necessidades do transporte aéreo regular, não se limitando à exploração das linhas onde é possível e até fácil assegurar rentabilidade considerável, mas antes alargando a sua acção onde a relevância dos factores de carácter social e político assim o aconselham a manter ligações aéreas e por vezes certas de frequências semanais. Tem excelentes Pilotos, e a bordo um serviço impecável, feito por simpáticas e gentis hospedeiras, que com a maior afabilidade t r a t a m os passageiros, proporcionando agradáveis viagens. Também as oficinas da «DETA» podem ser consideradas modelares, equipadas com a aparelhagem da mais moderna para inspecção, reparação e calibração, não só dos aviões e motores, mas t a m b é m , de todos os seus pertences e acessórios. N u m território como Moçambique, onde as distâncias entre os principais centros contam por muitas centenas de quilómetros — se não por milhares a aviação encontrou todas as condições para t r i u n f a r , impondo-se ao público como meio de transporte corrente e imprescindível na vida moderna.

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O Tenente-Coronel A R M A N D O CERQUEIRA DA SILVA PAIS, quando Director da DETA, colocando um emblema de ouro ao Subdirector, Eng.° ABEL DE A Z E V E D O , o actual Director

Deste modo a «DETA» cumpre a sua missão de ligar entre si, e com a maior rapidez, segurança e conforto, os mais distantes pontos da Província, o que m u i t o contribui para o seu desenvolvimento e progresso. O pequeno transporte aéreo, geralmente sem carácter regular, já a t i n g i u em Moçambique um notável desenvolvimento, realizado pelas chamadas empresas de táxi-aéreo, a c t u a l mente em número de 5. Dispõem no seu conjunto de 25 aviões, dos quais alguns bimotores, e cerca de vinte pilotos.

Uma panorâmica do Aeroporto Gago Coutinho

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m

O Comandante Branco ao ser-lhe imposta pelo General Costa Almeida, a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique

Desnecessário será encarecer a importância dos serviços prestados à Província por estas organizações, ligando pontos onde o transporte regular da «DETA» ainda não pode dirigir-se, constituindo, muitas vezes, verdadeiras rotas adjuvantes das rotas regulares. O tráfego de longo curso é transportado principalmente nos aviões da T A P , através de Lourenço Marques ou da Beira, e em m u i t o menor volume, via Joanesburgo ou Salisbúria. Com a conclusão das obras de adaptação do aeroporto da Beira, as operações dos grandes jactos, os jactos da TAP passaram a escalar aquele aeroporto, competindo à «DETA» fazer as ligações imediatas com a capita!, o que se tornou desnecessário a partir de 1 de Junho de 1970.

O antigo edifício do Âeraporío de Mavalane

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A

DETA

NA

ERA

DO

JACTO

A 10 de Janeiro de 1970, a «DETA», entra na era do jacto com a aquisição de dois aviões de puro jacto «Boeing 7 3 7 » , com capacidade para 95 passageiros, sendo considerado o mais moderno e versátil da grande família «Boeing». Os dois aviões — a que foi dado os nomes de « A N G O L A » e «MOÇAMBIQUE» — tiveram o seu baptismo solene naquela d a t a , presidido pelo Arcebispo de Lourenço Marques, e por M a d r i n h a , a Esposa do Governador-Geral, Senhora Dona M a r i a das Neves Rebello de Souza, tendo assistido ao acto as mais altas individualidades da Província. Após a cerimónia do baptismo, usou da palavra o Eng.° Fernando Seixas, Director dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes de Moçambique, seguindo-se o Secretário Provincial de Obras Públicas e Comunicações, Eng.° Brazão de Freitas. Em seguida efectuaram-se dois voos turísticos, em que participaram altas individualidades civis, militares e religiosas, bem como numerosos convidados Os elementos da fábrica «Boeing», que se deslocaram a Moçambique, ofereceram lembranças aos pilotos e mecânicos que se deslocaram aos Estados Unidos para estagiar, durante as cerimónias que se efectuaram no Aeroporto Gago Coutinho. Foram contemplados os Comandantes Branco, A l m e i d a , Virgílio e Ferreira da Costa; os pilotos Jorge Marques, J. Matos e J. Primavera; os mecânicos M a r t i n s , Fidalgo, Fortuna e Castro. Desta f o r m a , a «DETA», prossegue na sua senda de progresso e renovação, para continuar a oferecer o que de melhor existe no transporte aéreo, e corresponder à confiança nela depositada, cujo lema é: SEGURANÇA — EFICIÊNCIA — REGULARIDADE.

Convidados desembarcando do «Boeing 7 3 7 » — « M O Ç A M B I Q U E — após o voo inaugural

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COMO NASCEU UM GRANDE BANCO O NACIONAL ULTRAMARINO

Sede do Banco, em Lourenço Marques, na A Y . da República

A Carta de Lei «dada no Paço de Sintra aos 16 de M a i o de 1864», por El-Rei D. Luís, autorizou a criação do Banco Nacional U l t r a m a r i n o , vindo, assim, sancionar o Decreto das Cortes Gerais, datado do dia 10 do mesmo mês.

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Aspecto do interior do rés-do-chõo

A criação deste Estabelecimento Bancário deve-se à iniciativa do Conselheiro Francisco de Oliveira Chamiço, que t i n h a exercido no Porto e passara a exercer em Lisboa, actividade m u i t o saliente na vida comercial. Arrojado e dinâmico, ele foi o fundador do Banco Nacional U l t r a marino, ao qual ligou o seu nome a sua f o r t u n a , tendo sido, t a m b é m , o seu primeiro Governador, desde a d a t a da sua fundação, em 1864, até 1888, ano em que morreu. Atravessava-se uma época em que se instituíram muitos Estabelecimentos Bancários, mas este, distinguiu-se de todos, em virtude do seu programa, que consistia não só em realizar operações da sua especialidade, no Continente português, como em levar capitais e estender a sua actividade às Ilhas Adjacentes e a todos os nossos territórios de A l é m - M a r . Esta iniciativa teve o mais caloroso acolhimento, por parte do M i n i s t r o da M a r i n h a e U l t r a m a r de então. Como facilmente se compreende, nos cento e seis anos desde então decorridos, o Banco atravessou vicissitudes m u i t o diversas, favoráveis umas, desfavoráveis outras. Defrontou-se com incompreensões, mas t a m b é m se lhe depararam apoios generosos, alguns prestados por homens da maior estatura moral e política do nosso País, que o ampararam dedicadamente, com a consciência da importância que para o domínio português representava a existência activa de uma organização bancária nacional. Dadas as circunstâncias, pode-se dizer que a História do Banco Nacional Ultramarino acompanha, desde a sua chegada ao nosso U l t r a m a r , a do País, reflectindo os acontecimentos da sua evolução, assim como os da evolução mundial. O que ficou demonstrado, através dos tempos, e confirmado por observadores dos mais categorizados, é que a intervenção do Banco Nacional U l t r a m a r i n o , nos nossos territórios, foi uma alavanca poderosíssima para o seu desenvolvimento.

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Tão extensa e vultuosa organização não pode deixar de ser servida por um quadro numeroso de colaboradores, cuja totalidade, em 1962 ascendeu a 2335 e cuja remuneração absorveu 38 por cento dos lucros brutos. Desde o ano de 1920, o Banco Nacional U l t r a m a r i n o vem concedendo ao seu pessoal uma participação nos seus lucros, para o que criou «títulos de t r a b a l h o » , que são atribuídos nominalmente, segundo o número de anos de serviço. Em princípio, estes títulos vencem 1/5 do dividendo distribuído aos accionistas, mas de f a c t o , por deliberações sucessivas da Assembleia Geral, tem-lhe sido concedido anualmente o nivelamento com os dividendos. Os empregados com 40 anos de serviço têm recebido um prémio pecuniário, independentemente da sua categoria, e o mesmo acontece com os que completam 50 anos. Não f i c a m por aqui as provas de atenção do Banco Nacional U l t r a m a r i n o para com os seus servidores, pois um Serviço Social, tecnicamente planeado e progressivamente realizado, lhes assiste nas diversas circunstâncias. Nessa acção se inserem: a concessão de empréstimos, a juro estatístico, para facilitar a construção ou aquisição de moradias; ajudas para fazer face a despesas extraordinárias, já participando nelas o Banco, já concedendo crédito, também a juro estatístico; assistência médica, diagnostica, curativa e de enfermagem, além de comparticipação, em percentagem elevada, no custo dos medicamentos; colónias de férias ou subsídios de viagens de férias aos empregados que não podem aproveitar daquelas colónias; subsídios a cantinas.

Átrio do rés-do-chão e escadaria

Em 1962, também o Banco investiu 7 0 6 2 contos em casas especialmente destinadas ao pessoal, no U l t r a m a r . Não deixam, t a m b é m de ser consideradas as necessidades recreativas e a promoção c u l t u r a l , e assim, tem sido f o r t e m e n t e coadjuvado um grupo desportivo e foi constituída uma biblioteca de milhares de espécies, que proporciona leitura, a qual pode ser domiciliária. Desta maneira, o Banco Nacional U l t r a m a r i n o , é um exemplo da consciência equitativa e moderna atenção aos interesses sociais. No plano nacional, como instituição b a n c á r i a , honra o País, até por constituir, m u n d i a l mente uma forte organização, na sua especialidade, de altíssimo relevo. —

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FRANCISCO DE OLIVEIRA CHAMIÇO

Propósitos de engrandecimento da Pátria Portuguesa, visão larga das potencialidades do ultramar, preocupação valorativa do património económico da Nação — una, distribuída pelas sete partidas do M u n d o — o conselheiro Francisco de Oliveira Chamiço bem merece a a d m i r a ção dos portugueses. Arrojado e dinâmico, foi ele o criador do Banco Nacional U l t r a m a r i n o , ao qual ligou o seu nome e a sua f o r t u n a . Foi Governador do Banco desde 1864, data da sua fundação, a t é 1888, ano em que morreu.

Algumas cifras, de significado f u n d a m e n t a l , do balanço do ano de 1962, dão ideia da categoria do Banco Nacional U l t r a m a r i n o : Depósitos, 4 milhões e 2 8 6 mil contos; Lucros líquidos, 153 mil contos. A sua História é um quadro de serviços da mais de um século.

mais

transcendente

importância,

durante

T a m b é m , nestes cento e seis anos, nenhum empreendimento importante, nos territórios do U l t r a m a r Português, em que o Banco Nacional U l t r a m a r i n o actua, deixou de ter, da sua parte, apoio prático, franco e eficaz. A c t u a l m e n t e , o Banco tem 28 dependências no Ultramar. No Continente Europeu e nas Ilhas Adjacentes, tem o Banco múltiplas dependências, delegações, e numerosos Agentes e Correspondentes, que asseguram ao Banco uma acção que m u i t o vem contribuindo para o fomento económico de Portugal C o n t i n e n t a l , Insular e Ultramarino. Com a sua actividade metódica e cuidada, tem este Banco, ao longo de mais de um século laborioso, contribuiu poderosamente para o já apreciável fomento -económico, patente em todas as parcelas do território nacional. O Estado é um importante accionista do Banco Nacional U l t r a m a r i n o , e sempre tem encontrado j u n t o deste os melhores propósitos de engrandecimento da Nação. É seu Governador, o DOUTOR FRANCISCO V I E I R A M A C H A D O , que desde há m u i t o preside à governação do Banco Nacional U l t r a m a r i n o . No tempo e no espaço, um grande Banco serve Portugal!

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EMPRESA PECUÁRIA DO SUL DO SAVE, LDA.

MANUEL ALVES CARDIGA

Em 16 de M a i o de 1944, Manuel Alves Cardiga, que a esta Província chegou em 1897, apenas com três anos de idade. Formou com sua esposa, Ema Teixeira Cardiga, e os irmãos Benj a m i m e João Cacho, a Empresa Pecuária do Sul do Save, Lda. O capital inicial era de mil contos, e o objectivo, era a criação de gado, seu comércio e o aperfeiçoamento por selecção e cruzamento de Raças. De início teve esta empresa um dos maiores problemas, que uma organização congénere pode enfrentar: o terreno adequado para uma criação eficiente, com pastagens em proporção às cabeças existentes na manada. A luta foi grande, mas alguns anos volvidos a empresa possuía o terreno quase necessário, sendo em parte concedido pelo Estado e parte adquirido por compra aos seus vizinhos. A área de C H A N G A L A N E , riquíssima em pastagens naturais, possuía pouco ou quase nenhum gado bovino. Eis a razão da Empresa se ter radicado nessa área. Boas pastagens; o Rio U m b e l ú z i , ao N o r t e ; a Ribeira de Changalane ao Sul; um comboio d i á r i o , mas acima de tudo, a sua situação; a noventa quilómetros de Lourenço Marques. Desde o início, a Empresa, trabalhou sempre com o objectivo de melhorar as suas manadas, introduzindo e adquirindo reprodutores, não só dos países vizinhos, mas t a m b é m , dos Estados Unidos da A m é r i c a . A Empresa é visitada constantemente por Técnicos nacionais e estrangeiros estando a mesma à disposição da Universidade de PRETÓRIA, que anualmente envia os seus alunos para uma pequena estadia, para ali obterem dados técnicos, como: temperaturas, fertilidade, percentagens de nascimentos e mortes, e t c , etc. . . . Alguns anos atrás teve a honra de receber a visita do Professor Doutor Jacinto Ferreira e um grupo de vinte e cinco Médicos Veterinários, de Lisboa. Em 1952, e já depois da saída do sócio Benjamim Cacho, o sócio João Cacho cedeu a sua cota, tendo nesta data entrado para a Sociedade os três filhos de Manuel Alves Cardiga: V L A D I M I R O , VASCO e VERA. —

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Pesagem do gado

Desde essa d a t a , a actividade da Empresa aperfeiçoou-se a tal ponto, que em 1958 e quando da visita oficial da Comissão Regional da «África Austral para a conservação e u t i l i zação do solo» — «S.A.R.C.U.S.»—recebeu do seu Secretário-Geral este agradecimento: «Foi realmente um privilégio para nós, passar algumas horas com V. Exas., e ficamos grandemente impressionados pela qualidade dos animais que nos foi dado ver, e pela vasta Empresa que V. Exas. construíram durante estes anos. Nós achamos que a sua grande propriedade é algo que o Governo de Moçambique pode ter orgulho em mostrar aos seus visitantes.» Passaremos, numa simples análise, a transcrever alguns números que indicam, efectivamente, o valor económico, que representa para Moçambique, como seja: Dispendido até 1964: Gado a b a t i d o :

V A L O R — quarenta m i ! contos.

V i n t e mil cabeças.

Gado existente:

Nove mil cabeças.

Pessoal ao serviço: Leite produzido: Ordenados pagos:

Duzentos homens.

Dois milhões de litros. V i n t e mil contos.

A área hoje ocupada pela Empresa: T r i n t a mil hectares, devidamente vedados, possuindo a c t u a l m e n t e , cinquenta cercados para o bom controlo de pastagens. Em A b r i l de 1964, realizou a Empresa, uma Feira Pecuária, ao Sul do Save. Esta iniciativa teve por f i m resolver certos problemas de criação de gado, principalmente no que se refere a melhorar muitas das espécies. Esta iniciativa teve o apoio da Repartição de Veterinária e da Cooperativa dos Criadores de Gado. A Empresa leva a efeito, todos os anos, uma Feira Agro-Pecuária. À primeira Feira — organizada pela Empresa Pecuária do Sul do Save — estiveram presentes, cerca de duas mil pessoas, sendo a mesma inaugurada pelo Sr. Governador do Distrito, e tendo o Sr. Director dos Serviços de V e t e r i n á r i a , a f i r m a d o : «Quando a Feira é organizada por iniciativa do criador, podemos estar certos, que há nítida indicação da existência de uma mentalidade que é, igualmente, importante factor da valorização da Pecuária.» O resultado obtido foi de tal ordem, que depois da Feira e nas semanas seguintes a Empresa foi procurada por muitos dos Criadores ao Sul do Save, com a intenção única de obter reprodutores para as suas manadas. —

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Resta-nos falar da personalidade de M a n u e l Alves Cardiga, Homem de grande inteligência, actvidade, espírito combativo e recto, bondoso, que há anos Moçambique perdeu! Manuel Alves Cardiga, faleceu em Joanesburgo, na madrugada de 10 de Fevereiro de 1964, numa clínica daquela cidade sul-africana, após uma intervenção cirúrgica. A notícia da sua morte, célere se espalhou por toda a Província, enchendo de tristeza e de luto quantos o estimavam — e muitos e r a m !

Corredor de tratamento

O gigante t o m b a r a ! Aquele Homem de pensamentos rectos e desassombrados, que tantas vezes pusera a sua pena ao serviço dos seus ideais, não mais viria à liça! O seu f u n e r a l , foi uma verdadeira manifestação colectiva de apreço e saudade, em derradeira homenagem ao Homem, que nascido na capital do Império português, t a n t o contribuíra para o engrandecimento de Moçambique, que passara a ser a sua t e r r a ! O articulista do jornal «Diário», d i z i a , referindo-se a M a n u e l Alves C a r d i g a : — «Homem para quem a luta fazia parte da própria vida, n u m trabalho constante que se desdobrava em actvidades que t a n t o o envolviam nos problemas económicos da Província, como até, no que se planificava na cena política dos nossos dias, M a n u e l Alves Cardiga, deixa em todo o Moçambique verdadeiros amigos, e admiradores que m u i t o o respeitavam. E f o r a m inúmeras as pessoas que quiseram acompanhá-lo à ú l t i m a morada. Pessoas de todas as classes sociais, desde o mais humilde servente, colaboradores, figuras ligadas às diversas actividades económicas da Província; as entidades governativas, que se f i z e r a m representar. Não o esqueceram, t a m b é m , a população de Changalane e Goba, que se fez representar na sua maior força, numa verdadeira e sentida homenagem de saudade.»

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O elogio fúnebre foi feito em pleno cemitério, pelo advogado Dr. Almeida Santos, que o jornal da cidade, «Tribuna» transcreveu na íntegra, e com o qual finaliza esta Biografia: «Sinto-me confuso, num momento e num lugar que é mais de recolhimento e de meditação e em que as nossas atitudes poderiam porventura ser mais caracterizadas pelo silêncio dos nossos sentimentos e pela certeza muda dos anseios de todos nós. Sei, porém, e sabem-no todos que em vida se honraram de ser amigos e correligionários de M a n u e l Alves Cardiga, quanto ele desejaria encontrar, em cada um de nós, a mesma vontade f i r m e , a mesma energia e a mesma combatividade que sempre o acompanharam na luta de todos os dias pelas causas que considerava justas. Por isso entendi eu, entendemos nós, que não poderíamos, até por um dever indeclinável de consciência, ficar calados. Limitarei as minhas palavras ao indispensável para exprimir, neste momento em que dele nos estamos despedindo, a admiração, o respeito e a veneração que foi dado experimentar apreciando, através de uma vida de lutas, de inquietações e de incertezas, a transformação de um homem em pequeno gigante. Sempre se sabendo conservar em sua posição vertical, de verdadeiro homem, sem jamais ter dobrado a cerviz, sem transigências e sem medo, resistindo a ameaças e a aliciações, teve o prazer e deu o prazer aos seus amigos, de sempre ter vividc de pé tendo sido surpreendido pela morte. Foi para além de tudo, quanto dele possam dizer, um verdadeiro homem e um exemplar cidadão. Desejou que a vida, a sua vida e a vida de todos nós, não tivesse sido tão silenciosa, entendendo que este mundo tão abalado que nos rodeia deveria sofrer grandes remodelações. Para que todos fossem mais felizes, se compreendessem melhor e, em paz, harmonia e justiça pudessem ser resolvidos todos os problemas. Esta homenagem é a homenagem de todos os homens bons, seus coreligionários e amigos. Homenagem sincera e imorredoura de democratas que f i c a m de pé a um democrata que, para exemplo nosso, dignamente soube tombar de pé. Sempre o acompanhou um desejo enorme, um desejo que f i c a , apesar da sua morte, v i vendo em todos nós: o de ver modificadas as condições de vida difícil e asfixiadora de grande parte da humanidade que chora, porque sofre . . . e que r i , quantas vezes para não chorar. Que todos os que f i c a m mantenham aceso o mesmo desejo, tudo fazendo para o transformar em realidade. Esta é, a f i n a l , a melhor homenagem a Manuel Alves Cardiga, e que ele melhor merece.» Foi um pioneiro exemplar cidadão, figura conhecida nos meios comerciais, industriais e agrícolas, onde pontificou e se prestigiou. Pode chamar-se-lhe um pequeno gigante que fica de pé, nesta terra que t a n t o a m o u !

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ABEL ACÁCIO AZEVEDO

O pioneiro Abel Acácio Azevedo, proprietário da «CASA SPORT», nasceu na M e t r ó pole, em Freixo de N u m ã o , Distrito da Guarda, a 17 de Junho de 1 8 8 1 . A sua chegada a Moçambique verificou-se em 1900, tendo desembarcado na Beira. Empregando-se no comércio, foi trabalhar para Macequesse, hoje V i l a de hÁanlca. T i n h a então, 19 anos. Aos 20 anos veio para Lourenço Marques para cumprir o serviço m i l i t a r , tendo ficado isento. Em seguida colocou-se como funcionário da A l f â n d e g a , tendo ido prestar serviço na Ilha de M o ç a m b i q u e , que nessa época era a capital da Província. A l i se conservou cerca de um ano, e em M a r ç o de 1910 estabeleceu-se, sem sócios, com uma casa de artigos de desporto. Na cidade, era a segunda a existir neste género, ao qual ainda hoje se dedica. Depois, acrescentou-lhe a venda de sobressalentes para automóveis. O primeiro estabelecimento situava-se na rua que hoje se chama Salazar, onde teve um incêndio, após seis meses da inauguração, que tudo destruiu. Como Abel Azevedo não possuía seguro, ficou sem n a d a ! Contudo, coragem e força de ânimo não f a l t a v a m ao jovem pioneiro, que recomeçou de novo, a vida comercial, com a ajuda de alguns amigos. Para o efeito concederam-lhe um empréstimo, que lhe permitisse abrir um novo estabelecimento, o que veio a fazer na Rua Consiglieri Pedroso, onde continua desde essa época até à actualidade, sofrendo, somente, algumas remodelações. Mais tarde, em 1912, deu sociedade a um cunhado, A m a d e u Luís Neves, voltando a ficar único proprietário em 1944. Em 1917, Abel Azevedo, resolve alargar as suas actividades, e começa a dedicar-se à A g r i c u l t u r a , vindo a formar em 1922 a Sociedade Pecuária A. Neves e Companhia. Sempre desenvolvendo larga actividade, o pioneiro f u n d o u , ainda, um estabelecimento para venda de Automóveis e Camiões, de marca japonesa, situado na A v . do Trabalho. Foi, t a m b é m , o fundador da grande e conhecida f i r m a «STEIA», em conjunto com seu genro, o Eng.° Flausino M a c h a d o , e seu f i l h o , A g n o Azevedo, desligando-se da organização em 1953. Desenvolvendo enorme actividade, através de toda a sua vida — Abel Azevedo acaba de completar 88 anos — mantendo-se com excelente saúde física e m e n t a l .

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Um aspecto do interior do Estabelecimento

É ele quem dirige a «CASA SPORT», apesar da sua avançada idade! Em 1954, é ainda Abel Azevedo quem toma a direcção t o t a l da f i r m a pecuária, ficando seu único proprietário, passando a organização a denominar-se «HERDADE DO FREIXO». Esta fica situada a 8 quilómetros de Boane, e t e m a extensão de 8264 hectares. Na Herdade t r a b a l h a m cerca de 4 0 0 empregados. A sua produção de citrinos — a que se dedica em exclusivo na parte agrícola — é de cem mil caixas por ano. Na parte pecuária, t e m uma produção diária, de mil litros de leite.

»«iHH Vista parcial dos Pomares de Citrinos

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Neste sector, Abel Azevedo é coadjuvado, m u i t o especialmente, por seu filho Agno, dando também a sua colaboração, seu filho Eng.° A b e l , que m u i t o têm contribuído com a sua criteriosa orientação para um maior e mais eficaz desenvolvimento da propriedade, cujos pomares nos oferecem belas panorâmicas. Resta-nos ainda dizer, que o pioneiro se casou, pela primeira vez, em 12 de Dezembro de 1914, com uma jovem metropolitana, de quem teve três filhos: A i d a , A l d a e Abel. Quatro anos após o casamento, a esposa falecia atacada pela epidemia da «pneumónica», que a a t i n gira. Mais tarde, em 1 9 2 1 , voltou a casar, t a m b é m com uma metropolitana, jovem professora, D. Ester de Sousa Lobo, de quem teve mais três f i l h o s : Á r i o , A l b a e Agno. A todos os filhos procurou dar uma boa educação. A c t u a l m e n t e , o filho mais velho, A b e l , — Engenheiro de Máquinas e Electricidade — é o actual Director da DETA; o segundo f i l h o , Ário, é Engenheiro Agrónomo e Silvicultor — doutorado com 19 valores — e actualmente Prof. Catedrático do I n s t i t u t o Superior de Agronomia, de Lisboa; o filho mais novo, A g n o , estudou Engenharia Civil até ao 3.° A n o , dedicando toda a sua actividade às organizações paternas, de que é, actualmente, sócio da «CASA SPORT» e no estabelecimento de venda de automóveis. Eis a traços largos, a história de mais um pioneiro, que com o seu esforço e tenacidade, m u i t o contribuiu para o progresso da Província.

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BREYNER & WIRTH, LDA.

No panorama económico de Moçambique há firmas que, pela sua grande e meritória a c t i vidade, t ê m jus ao reconhecimento público. A esse número pertence, sem favor, a f i r m a Breyner & W i r t h , Lda., que já tem mais de setenta anos de existência, tendo sido fundada em 1898 por D. Francisco de Melo Breyner e Fritz O t t o W i r t h . Entraram posteriormente como sócios o Dr. Francisco Ferrão, Dr. A l f r e d o Reis, A n t ó n i o de Azevedo, Pedro Gaivão, Luís Costa, Eng.° Manuel Prata Dias e Dr. Theodorino Sacadura Botte, que t a n t o contribuíram para prestigiar o nome do comerciante lourenço-marquino. A sociedade é hoje pertença dos seguintes sócios: — D. Helena Ferrão, Dr. A l f r e d o Reis, D. M a r i a Bernardino Salema Reis, D. M a r i a José Salema Reis de A l m e i d a Garrett, Álvaro Ferrão de Castelo Branco, A l b e r t o M a n u e l da Gama Lobo Salema Reis, Manuel Ferrão de Lencastre, Manuel da

O edifício actual da BREYNER & W I R T H , LDA.

Gama Lobo Salema Reis, Eng.° M a n u e l Prata Dias (Herdeiros), Dr. T. Sacadura Botte e João Ferrão de Castelo Branco, dos quais o ú l t i m o j u n t a m e n t e com o Eng.° A m â n d i o Borges, const i t u e m a Gerência da Firma em Á f r i c a . — 91


Desenvolvendo sempre os seus negócios de forma a acompanhar o progresso de M o ç a m bique, a Firma, tem vindo a expandir a sua actividade comercial, de forma que é hoje subdividida nas seguintes secções independentes: — Seguros, Armazenagem e Trânsito Internacional, Técnica, Comércio Geral, Farmacêutica e Firestone. «NAVETUR» — Depois de representar durante mais de cinquenta anos a Companhia N a cional de Navegação no Porto de Lourenço Marques, a Breyner & W i r t h tornou ainda mais estreita esta velha ligação associando-se com a própria C . N . N . , numa f i r m a fundada em Agosto de 1969, N A V E T U R — Sociedade de Agências de Turismo e Transportes de Moçambique, Lda., que passou a ser Agente Geral da C . N . N . em Lourenço Marques e com Sucursal na Beira. SEGUROS — Agentes Gerais, desde 1956 para toda a Província de Moçambique, da grande Seguradora Portuguesa, Companhia de Seguros «IMPÉRIO». A R M A Z E N A G E M E T R Â N S I T O I N T E R N A C I O N A L — Para que os exportadores e importadores dos territórios vizinhos sejam bem servidos no trânsito das mercadorias por Lourenço Marques, necessitam de ter neste porto quem lhes trate da recepção, armazenagem e expedição. É este um dos principais negócios das firmas estrangeiras aqui estabelecidas que o fazem ainda hoje, quase em regime de monopólio. M a s a f i r m a Breyner & W i r t h montou estes serviços há uns t r i n t a anos com armazéns próprios servidos por desvios de linha férrea, e é hoje uma das duas transitárias nacionais em Lourenço Marques. As suas estâncias, em terreno próprio, distam um quilómetro e meio do Cais Gorjão.

O edifício aniigo, engalanado e iluminado, por ocasião da visita do Presidente da República, Marechal Carmona, em 1 9 3 9

COMÉRCIO GERAL — A Secção de Comércio Geral trabalha com produtos das mais variadas origens, em que predominam algumas importantes mercadorias de produção e fabricação da própria Província, como seja o conhecido «Chá Licungo», da Companhia da Zambézia - Quelimane, o Álcool Puro e Desnaturado da Companhia do Búzi, S.A.R.L. - Nova Lusitânia (Beira) e Sacaria, Serapilheiras e Fios de J u t a , da Companhia T ê x t i l do Púngoè. Dos produtos de origem nacional metropolitana em que esta Secção negoceia podemos destacar toda a vasta gama de fabrico e especialmente os Adubos da sua representada Companhia União Fabril, de Lisboa, a Caixotaria de Madeira da Socomina, de Viana do Costeio e Tintas C . I . N . - Corporação Industrial do Norte. —

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Um importante ramo de negócio desta Secção é o de produtos Agro-Pecuários em que prodminam os Adubos da CUF e toda a vasta gama de carracicidas, insecticidas, desinfectantes e tudo o mais destinado à Pecuária de que a Cooper £r Newphew S.A. (Pty) Ltd. da África do Sul é fabricante. Já há muitos anos esta Secção se tem dedicado à venda de mobiliário de aço de fabrico nacional e estrangeiro. Em 1965, todavia, a Breyner £r W i r t h associou-se com a fábrica local, L. Duarte dos Santos, Lda., adquirindo metade do capital social, continuando a comercialização dos produtos fabricados a ser trabalhada por esta Secção. O mobiliário fabricado localmente rivaliza já com o que de melhor se produz em qualquer outra parte, e dia a dia vai conquistando o mercado. A Fábrica L. D. Santos também se dedica ao fabrico de casas pré-fabricadas e de estruturas metálicas, tendo u l t i m a m e n t e executado os contratos das novas instalações da SICOMO e SOCAJU, em Nacala. Esta Secção negoceia também noutras linhas que por serem de menor projecção julgamos desnecessário referir especialmente. SECÇÃO T f C N I C A — Sob a orientação de dois engenheiros e outro pessoal especializado, é promovida a venda para o Estado e entidades particulares, de produtos de fabricantes nacionais e estrangeiros que nesta Província a Firma representa, dos quais os principais são: C O M P A N H I A U N I Ã O FABRIL — E S T A L E I R O S N A V A I S DE LISBOA (LISNAVE) — EMPRESA ELECTRO C E R Â M I C A — SIEMENS — DEMAG — PRATT & W H I T N E Y — DEGRÉMONT — BARBIER BERNARD & TURENNE — D O R M A N , LONG — PETTERS — MERRY WEATHER — A D D I S O N — A . O . S M I T H — U N I T E D A I R C R A F T — BRITISH STEEL P I L L I N G — J . STONE — SIGMUND — HALL THERMOTANK — A L L A M — CHRISTIAN & NIELSEN — THE N I S S H O - I W A I CO. e SUPERHEATER CO. A diversidade da gama de produtos coberta por estas representações é traduzida pelos fornecimentos que têm sido feitos de material de via fixo (carris, travessas, croximas, eclisses, mudanças de v i a ) , sinalização ferroviária «Siemens», guindastes eléctricos e carregadores mecânicos de navios «Demag», motores e subressalentes «Pratt £r W h i t n e y » , para os aviões da DETA, Dragas e Rebocadores da Lisnave para os Serviços de M a r i n h a , equipamento «Stone» de ar condicionado e iluminação para locomotivas e carruagens, instalações frigoríficas « H a l l » , instalações de t r a t a m e n t o de água e centrais eléctricas, e t c , etc. É também depositária de «stocks» de motores e grupos geradores «Petters»; motores eléctricos, alternadores, transformadores, centrais telefónicas, teleimpressores, aparelhagem de corte e protecção «Siemens», lâmpadas Osram, material eléctrico da Electro Cerâmica, aparelhos de ar condicionado «Addison», artigos domésticos, também da «Siemens», gás «Freon», bombas de água e vibradores « A l i a m » . SECÇÃO F A R M A C I U T I C À — As representações desta Secção são as seguintes: V I C K — G L A X O - Á L L E N B U R Y S — INFAR — LAKESIDE — LUS OM — ^ S C I E N T I A — ASTRA — HARRIET HUBBARD AYER e M A R C E L ROCHAS. SECÇÃO FIRESTONE — Em fins de 1965, foi a Firma nomeada Agente da FIRESTONE PORTUGUESA, S.A.R.L., cujo negócio tem sido desenvolvido através de uma rede de Subagentes, de maneira a tornar esta Secção uma das mais valiosas da Firma. M I N E LABOUR ORGANISATIÓNS (WENELA) L I M I T E D — A Breyner & W i r t h é repre sentante em Moçambique, há mais de sessenta anos, da M I N E LABOUR ORGANISATIÓNS (WENELA) L I M I T E D . B E I R A — N a capital do Distrito de M a n i c a e Sofala a Breyner & W i r t h , (Beira) Lda., montada em 1956, é consttuído pelos mesmos Sócios da sua associada em Lourenço Marques, sob a Gerência do Dr. Aires V i t e r b o de Freitas. Trata-se, como se vê, de uma organização grande e complexa que há 72 anos se tem vindo a desenvolver, acompanhando o r i t m o de progresso desta parcela de Portugal, e com a preocupação de manter no f u t u r o , o seu prestígio como comerciantes nesta Província.

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FIRMA MARTHA DA CRUZ & TAVARES

ALEXANDRE MARTHA DA CRUZ

A Firma M a r t h a da Cruz & Tavares, foi fundada em 1902, por Alexandre M a r t h a da Cruz, com um pequeno estabelecimento na Rua Francisco Ferrer, hoje Rua Salazar. O nome então usado era o de Alexandre M a r t h a da Cruz. Foi em 1912, que vindo da Metrópole, acompanhado de sua esposa, o pioneiro Francisco Tavares Duarte, foi admitido como guarda-livros da Firma, tornando-se sócio da mesma em 1915. Foi nessa altura que a Firma modificou a sua designação social para M a r t h a da Cruz & Tavares, constituindo-se sociedade em nome colectivo. Francisco Tavares, natural da Covilhã, alguns anos decorridos, chamou para seus colaboradores, os irmãos, Sebastião e A n t ó n i o , que residiam no sua terra n a t a l , chegando a M o çambique em 1928. Alexandre M a r t h a da Cruz, o fundador da Firma, cedeu a sua posição em 1930, ficando os irmãos Tavares como únicos propretários. Nessa época, a Firma já ocupava posição de relevo na/ comércio local.

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SEBASTIÃO TAVARES

ANTÓNIO TAVARES

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Em Novembro de 1949, todo o activo e passivo da Firma passou a designar-se por Tavares (Irmãos), Lda. Firma que pertence à propriedade «Pote» e terrenos anexos. Os três irmãos Tavares, desenvolveram grande actividade comercial, dispondo de um armazém de Tecidos, que abastecia a região do Sul da Província, além de possuir um estabelecimento de Modas, situado na «Baixa» laurentina, na Avenida da República — onde existe o seu grande estabelecimento de Modas — e um de Máquinas e Ferramentas, bem como uma Agência de Automóveis. São, ainda, os representantes do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, e há cerca de quarenta anos, os Agentes da Companhia Colonial de Navegação, em Lourenço Marques. A f i r m a possui sólidos alicerces financeiros, f r u t o do seu trabalho. Constituída pelos irmãos Tavares, a Firma tem hoje como colaboradores os seus descendentes. Hoje, o irmão mais novo dos fundadores, M a n u e l Tavares, é também sócio, assim como um dos descendentes, Manuel Lopes Tavares. Deve ainda, acrescentar-se, que os irmãos Tavares, foram e são, muitíssimo trabalhadores, e sempre de atitudes modestas, prestigiando-se com a sua conduta exemplar, no cumprimento dos seus encargos comerciais. A c t u a l m e n t e , a Firma, continua a manter os mesmos ramos de negócios, valorizando a Província.

Aspecto da fachada do Estabelecimento Martha da Cruz & Tavares

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COMPANHIA DE SEGUROS NAUTICUS

A pioneira dos Seguros, em Moçambique, foi a C O M P A N H I A DE SEGUROS N A U T I C U S , fundada em 1 de Julho de 1943, com a base financeira de 10 mil contos. A iniciativa foi tomada por um grupo de pioneiros, tendo por objectivo principal, evitar a fuga de divisas para o estrangeiro, nomeadamente, a Á f r i c a do Sul, em cujas Companhias as organizações moçambicanas seguravam as suas mercadorias, por não existir nenhuma Companhia portuguesa. Já t i n h a havido, por duas vezes, a t e n t a t i v a para formar uma companhia seguradora moçambicana, que f a l h a r a m . O grupo que fundou a N A U T I C U S procurou fazê-lo em bases seguras, e para o efeito, fez primeiro, uma consulta a todos os comerciantes dispersos pela Província, para que assim, através dessa consulta, o grupo fundador pudesse avaliar do interesse da iniciativa e saber com o que poderia contar no f u t u r o . Como essa consulta foi bastante animadora, prosseguiu-se nos trabalhos para a sua efectivação. Esse grupo fundador era constituído por: P A U L I N O SANTOS G I L , DR. M A N U E L MOREIRA DA FONSECA, Á L V A R O DE SOUSA, CARLOS TEODORO M A R T I N S , C A P I T Ã O M A N U E L SIMÕES V A Z e C A P I T Ã O A N T Ó N I O FIGUEIREDO. A primeira Direcção foi constituída pelos seguintes fundadores: DR. M A N U E L MOREIRA DA FONSECA, CARLOS TEODORO M A R T I N S e C A P I T Ã O M A N U E L SIMÕES V A Z .

Edifício

da

Companhia

de

Seguros

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NAUTICUS


Todos os comerciantes interessados se subscreveram com acções, formando-se, deste modo a Companhia de Seguros Nauticus, com 475 accionistas. Assim nasceu a « N A U T I C U S » , a primeira Companhia de Seguros a constituir-se na Província de Moçambique, a u t e n t i c a mente moçambicana. Um dos Regulamentos dos Estatutos, é de que 80 por cento das acções têm de estar em nome de portugueses. Sempre progredindo, em 1945, a « N A U T I C U S » , aumentou o seu capital para 20 mil contos. Em 1958, para 45 mil contos. Anos volvidos, em 1966, o capital aumentou para 60 mil contos. Em 1968, o capital e reservas da Companhia ascendem a cerca de 275 mil contos. A c t u a l m e n t e , a Companhia tem representações próprias em toda a Província. Igualmente faz seguros em tcdos os ramos, estando ligada a uma das principais Companhias resseguradoras mundiais, da Suíça. Na parte social, no que se refere aos seus empregados, a Companhia « N A U T I C U S » tem um plano, que excede em m u i t o , as regalias que estão determinadas oficialmente. Nos planos de reforma, os empregados comparticipam, mensalmente, para a reforma. A Companhia dá passagens à Metrópole de 5 em 5 anos, aos empregados e f a m í l i a . Os empregados beneficiam, t a m b é m , de «Abono de Família», que é concedido em função dos filhos que t ê m . Tem um plano de reforma, no qual os empregados são reformados aos 65 anos, e as empregadas aos 60. À data da reforma, o empregado recebe uma parte substancial dos seus ordenados. A Companhia tem um Centro Social para convívio, com Biblioteca e variados jogos. A Companhia de Seguros « N A U T I C U S » tem a sua Sede, em Lourenço Marques, em grande imóvel de sua propriedade, que foi construído para esse f i m , e ainda, com outra parte destinada a lojas, escritórios e apartamentos de habitação, situado na Avenida da República, Rua Baptista de Carvalho e Rua Lapa. A c t u a l m e n t e , a Companhia é constituída por um Conselho de Administração, composto pelas seguintes entidades: Companhia de Seguros Fidelidade (representada pelo Dr. A n t ó n i o Mascarenhas Gaivão); Dr. A n t ó n i o Cardoso; George Critikos e Serafim Rocha. Esta é a resumida história da primeira Companhia de Seguros Moçambicana, que devido ao esforço de alguns pioneiros, se tornou na mais revelante realidade, para enriquecimento da Província.

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EDIFÍCIO "LAR MODERNO"

Os pioneiros CARLOS BRAGA e A N T Ó N I O M O R A I S , são os fundadores da organização denominada «O LAR M O D E R N O » . CARLOS BRAGA é natural da cidade do Porto, tendo vindo m u i t o jovem para Moçambique em 1937, fixando-se em Lourenço Marques, juntando-se a um irmão que já residia na capital da Província, qute era funcionário público. O seu primeiro e único emprego foi nos grandes Armazéns J O H N ORR & C O M P A N H I A , onde permaneceu 1 1 anos, saindo para fundar o seu próprio Estabelecimento em 1947. — 99 —


CARLOS BRAGA

Seu sócio, também fundador, A N T Ó N I O M O R A I S , é natural de Celorico da Beira, vindo para Lourenço Marques, onde se fixou em 1930, empregando-se nos mesmos Armazéns J O H N ORR & C O M P A N H I A , onde permaneceu 17 anos. Trabalhando e progredindo, fundaram na cidade da Beira em 1 9 5 1 , uma f i l i a l . Em 1958 inauguram uma Fábrica para fabrico de mobiliário de madeira e ferro, com uma Secção de Estofaria, e ainda, para produzir Colchões de Molas, criando as marcas moçambicanas «L.M.» e «MORFEU». O Estabelecimento que f u n d a r a m , era o primeiro a dedicar-se exclusivamente a Móveis e Decorações. Seis meses após a abertura do Estabelecimento, este foi ampliado para o dobro do seu tamanho inicial. Depois, em 1960, inauguraram um Edifício de 13 pisos, situado no centro da cidade, destinado às várias Secções de Móveis e Decorações, que ocupa o rés-do-chão e mais cinco pisos, onde se s i t u a m , t a m b é m , os escritórios da organização.

ANTÓNIO MORAIS

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Do 6.° andar ao 13.°, todos os andares são constituídos por «Apartamentos» para habitação, que «O LAR MODERNO» aluga mobilados. Ao Edifício foi dado o nome de «PRÉDIO O LAR MODERNO». Em M a i o de 1965, a organização fundou mais um Estabelecimento do género, na cidade da Beira, a que foi dado o nome de «NOVO LAR». Estas são as realizações efectuadas pelos pioneiros CARLOS BRAGA e A N T Ó N I O MORAIS, em 23 anos de actividade comercial e industrial, pois foram os primeiros neste ramo de a c t i vidade, assim como no fabrico de Colchões de Molas, criando uma indústria Moçambicana. A organização emprega nos seus Estabelecimentos, escritórios e Fábricas, 60 europeus e 300 nativos. Todos os empregados têm assistência médica; Seguros contra Acidentes de Trabalho; Férias anuais; Férias à Metrópole de cinco em cinco anos, com passagens e ordenados pagos pela Firma. A organização despende em ordenados anuais, 7 mil e 500 contos. Acontece que, a fábrica de Colchões e M o b i l i á r i o triplicou entretanto, a sua produção. Por tal f a c t o , A n t ó n i o Morais e Carlos Braga decidiram fazer uma nova unidade f a b r i l , apta a corresponder a esse grande desenvolvimento industrial, que se encontra na fase de conclusão, em terrenos anexos ao já existente. A nova fábrica, será inaugurada em 1970, e ocupa uma área de 13 2 0 0 metros quadrados com 75 metros de fachada e 175 de fundo, sendo equipada com maquinaria moderníssima, que se não supera, iguala ao do que há de melhor na Europa. Desta forma se conclui o que hoje representa na economia da Província a organização «O LAR M O D E R N O » , que iniciada há 23 anos, se tornou florescente e grandiosa, mercê do trabalho e perseverança dos seus fundadores. «O LAR M O D E R N O » , é uma organização ao serviço da Província de Moçambique, que honra a Indústria portuguesa nesta parcela do território português.


OS PIONEIROS DA INDÚSTRIA CERVEJEIRA EM MOÇAMBIQUE

MITCHEL PERANDONAKIS CRETIKOS

A Indústria Cervejeira da Província de M o ç a m b i q u e , nasceu em 1922 por intermédio da f i r m a «F. Dicca, Lda.» e obteve a g a r a n t i a da exclusividade do Governo por 10 anos. Assim, até 1935 a Fábrica Nacional pertencente àquela f i r m a , foi d única produtora de cerveja da Província. A f i r m a « V i t ó r i a » , fundada em 1915, cuja primeira actividade foi a fabricação de r e f r i c gerantes, gelo e armazenagem frigorífica, começou a produzir cerveja em 1935. Nesse ano, o consumo total da cerveja em Moçambique, foi de 500 0 0 0 litros, sendo o mercado abastecido nesse momento pelas duas firmas «F. Dicca, Lda.» e « V i t ó r i a , Lda.», em percentagens sensivelmente iguais. Em 1938 a Fábrica V i t ó r i a e a Fábrica Nacional formaram uma companhia administrativa com o nome de «Fábricas de Cerveja Reunidas de Lourenço Marques, Lda.», com o f i m de estabelecer uma orientação comum na produção e venda de cerveja na Província. Em 1953, verificou-se total fusão entre as duas Empresas e ficou assim constituída a f i r m a «Fábricas de Cerveja Reunidas de Moçambique, Lda.», cujas sócias, «F. Dicca, Lda.» e «Vitória, Lda», t i n h a m uma posição de 50 por cento cada uma, no seu capital social. Em 1954, forma-se a empresa «Distribuidora, Lda», com um capital de 2 / 3 pertencente à Fábrica de Cervejas Reunidas de Moçambique, Lda., e 1/3 à Empresa das Águas de M o n t e mor (Namaacha) S.A.R.L., e cujo objectivo era a venda e distribuição dos produtos pertencentes às suas associadas. Em 1959, a «Fábrica de Cerveja do Beira, Lda.» é inaugurada, sendo suas sócias a «Fábrica de Cervejas Reunidas de Moçambique, Lda» com 2 / 3 de capital e a «Empresa das Águas de Montemor, S.A.R.L.», com 1/3. Em 1960, a f i r m a «F. Dicca, Lda» vendeu a sua posição à Companhia Iniciativas Económicas de Moçambique.

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Aspecto da Fábrica Vitória, em 1 9 1 6

A Indústria Cervejeira de Moçambique percorreu através dos anos da sua existência um longo caminho desde as pequenas empresas fundadas por M i t c h e l Perandonakis Cretikos (Vitória, Lda) e Filipe Dicca (F. Dicca, Lda.), que com o seu espírito empreendedor souberam criar uma nova fonte de riqueza para a Província até àquelas existentes nos nossos dias e que são consideradas pela qualidade dos seus produtos, pelas técnicas de produção e controlo u t i l i z a zados, pelas modernas instalações que possuem, pelos métodos de gestão que u t i l i z a , pela sua rede de vendas, das mais progressivas de toda a Á f r i c a . A política seguida pelas empresas cervejeiras foi sempre, através da sua história, a de servir a economia de Moçambique e o público consumidor. Foi assim que, depois duma modernização constante das suas Fábricas, edificaram duas novas unidades fabris, uma na Beira, terminada em 1959, e outra em Lourenço Marques. Os capitais investidos ascendem a mais de 2 0 0 000 0 0 0 $ 0 0 , sendo a planificação daquelas, o material existente e os processos fabris utilzados, dos mais evoluídos de todo o mundo cervejeiro. Paralelamente com o seu apetrechamento industrial, as empresas em questão, conscientes que os objectivos próprios e de comunidade onde exercem a sua actividade só podem ser a t i n gidos com uma organização p e r f e i t a , sofreram uma estruturação em 1961 que as colocou na vanguarda das empresas da Província. As suas vendas, que passaram de 500 000 litros em 1935, para 11 000 000 de litros em 1963 e que duplicaram nos últimos 7 anos, são também produto da política seguida. A exportação de_cerveja, que a t i n g i u em 1963 cerca de 4 0 0 0 0 0 litros e que em 1964 a t i n g i u segundo opiniões, cerca de 6 0 0 0 0 0 litros, fez-se para alguns países industrialmente mais desenvolvidos que o nosso, o que demonstra t a m b é m a qualidade dos produtos fabricados. Para além da produção de cerveja, as empresas em questão fabricam gelo e refrigerantes de a l t a qualidade, como «Canada D r y » , «Reunidas», «Pepsi-Cola» e, mais recentemente, «Schweppes». Pode-se concluir, assim, que a Indústria Cervejeira de Moçambique, pelos processos de gestão utilizados, pelo a l t o nível dos seus quadros — 8 indivíduos com formação universitária, alguns deles especializados nos maiores centros científicos do m u n d o — , pelos processos de contorolo empregues — possuem laboratórios que custaram cerca de 2 0 0 0 000$Ò0 —, pela organização dos seus serviços de vendas — considerados por algumas firmas internacionais como das melhores senão a melhor de toda a Á f r i c a —, pela qualidade dos seus produtos — a cerveja «Laurentino» e «Manica» obtiveram prémios de excelência nas Olimpíadas de cerveja realizadas na A l e m a n h a em 1 9 6 3 — , pelos preços que pratica — desde 1935 o preço dos seus pro— 103 —


Aspecto da fachada da Fábrica Vitória, em

1935

dutos não foi a u m e n t a d o — , pelos altos vencimentos auferidos pelo seu pessoal, tem conseguido alcançar com a sua actividade os seus oobjectivos económcos e sociais.

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COMPANHIA INDUSTRIAL DA MATOLA

Pode afirmar-se, sem receio de exagero, que o nome da Companhia Industrial da M a t o l a e hoje conhecido em todo o território nacional. Os seus produtos, designadamente massas e bolachas, lançadas sob a marca «Polana» — que constitui já um símbolo de qualidade são conhedos e apreciados desde a Metrópole a t é Timor. Esta empresa constitui exemplo flagrante do espírito de iniciativa que empolga os nossos irmãos ultramarinos para quem os tão falados «novos ventos de história», por outros tão t e m i dos, implicam apenas uma actualização de processos, t a n t o quanto às realizações técnicas como sociais, mas sempre segundo as tradições bem características da nossa gente.

Integrada na zona industrial do Língamo, M a t o l a , a cerca de 10 km de Lourenço Marques, as instalações da Companhia Industrial da Matola constituem um conjunto do mais elevado interesse económico

A Companhia Industrial da M a t o l a é ainda uma empresa jovem pois há apenas 18 anos que iniciou a sua laboração ao inaugurar, precisamente em 28 de M a i o de 1952 a sua primeira unidade fabril —a primeira e até agora única moagem de trigo da Província que em conjunto com um silo, veio dar o apoio da indústria à cultura do trigo que então mal passava do estágio de ensaio e que já hoje produz mais de 10 0 0 0 toneladas anuais. Estabelecida como sociedade anónima, desde logo reuniu grandes e pequenas economias de cerca de 700 accionistas, que só perante extremas dificuldades abdicam das suas posições no capital da empresa, que, por florescente e sempre progressiva, é considerada como um dos mais seguros e promissores investimentos.

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Aspecto dos edifícios das fábricas de massas e bolachas. Em 1.° plano, o busto que recorda o Dr. António Félix Pitta Júnior, fundador da Companhia

Mercê de uma Administração cuidada e sempre atenta a todos os progressos que dia a dia se vão verificando no campo da técnica, o que lhe consigna o espírito do verdadeiro indust r i a l , alcançou a Companhia Industrial da M a t o l a uma posição m u i t o lisonjeira no conjunto da indústria Moçambicana e que é motivo de orgulho não só para quantos ali trabalham mas que igualmente se comunica a todos os que apreciam as suas modelares instalações, cujo valor quase alcança hoje 150 mil contos e cujo valor normalmente se inclui no roteiro de nacionais e estrangeiros de passagem por Lourenço Marques. V e m a propósito referir que as instalações fabris da Companhia, situada nos arredores da capital, merecem já a honra de duas visitas presidenciais: em 1956, a do Marechal Craveiro Lopes que inaugurou os refeitórios do pessoal e em 1964 a do A l m i r a n t e Américo Tomás que se dignou inaugurar a 2. a fase do fábrica de massas, constituída por duas linhas automáticas, que levam à capacidade de produção para 600 toneladas mensais, e o primeiro lote de 15 residências do bairro do pessoal. Como não podia deixar de ser, também nós visitámos as instalações da Companhia Industrial da M a t o l a . Impressionados ainda pela grandiosidade dos edifícios, cuja arquitectura, embora sóbria e f u n c i o n a l , é harmónica e alegrada por feliz combinação de cores, logo nos impressionou o a j a r d i n a m e n t o e arranjo das largas avenidas que cruzam o recinto e que quase nos fez esquecer que de fábricas se tratava. Aliás, em todas as secções e oficinas constatámos sempre a mesma preocupação de a r r u mação e limpeza, para o que concorrem as lindas madeiras moçambicanas trabalhadas na carpintaria, a que está anexa uma serração. Por outro lado, também nos impressionou o ar prazen-

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WMMB

Aspecto do imponente edifício de moagens a que está anexo o silo cuja capacidade de armazenegem, já ampliada, atinge 17 0 0 0 toneladas de cereais

teiro com que todos os empregados nos cumprimentavam ou prestavam ufanos esclarecimentos sobre o diverso equipamento a seu cargo. Logo compreendemos tão simpática atitude ao verificarmos a atenção que a «C.I.M.» tem dedicado à função social, inerente à administração de uma indústria que já ocupa hoje cerca de 1.000 indivíduos dos dois sexos e todas as raças. A l é m de inspecções periódicas, uma consulta médica diária é facultada a todos os empregados e seus familiares, a que igualmente são fornecidos medicamentos gratuitos ou com um subsídio, consoante o escalão de salário que recebem. Éfacilitado o pagamento de impostos competindo à Secção do Pessoal o processamento e liquidação dos mesmos. Existe um refeitório que fornece refeições gratuitas e noutro, um almoço custa apenas 5$00. No armazém de abastecimento a que nestas terras se dá o nome de cantina, pode o pessoal adquirir a preços reduzidos além de géneros alimentícios, variados, outros artigos de consumo corrente, desde vestuário até bicicletas.

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No laboratório químico-tecnológico, que no género se pode considerar o mais bem equipado de todo o território nacional, procede-se à análise de todas as matérias-primas utilizadas na laboração e bem assim ao controlo dos produtos laborados, além de ensaios de panificação análises de água e gás dos fornos, etc.

Encantou-nos visitar a Creche e ver dois garotos europeus brincarem com vários bebes negritos e passamos também pela escola onde alunos de todas as idade se preparavam para o exame de instrução primária, reparando que alguns dos atentos alunos emparceiravam com os próurios filhos. Finalmente, pudemos apreciar as 15 residências agora inauguradas que quase invejamos por tão alegres e acolhedoras, primeira série com que se iniciou a construção do Bairro e em que as rendas são acessíveis, não excedendo 7 5 0 $ 0 0 as que dispõem de maior número de divisões. A Casa do Pessoal, dirigida exclusivamente pelos próprios empregados e que em breve terá capacidade jurídica sob a forma de sociedade cooperativa, compete administrar todas as f a c i lidades de carácter social proporcionadas pela Administração da Companhia, de acordo com o esquema de orientação estabelecido pela mesma. E porque «iniciativa acompanha i n i c i a t i v a » , , montou a Casa do Pessoal uma pequena exploração pecuária com que se propõem abastecer os refeitórios e obter receitas que permitam alargar o âmbito das regalias a conceder ao pessoal.

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Aqui se inicia a produção de bolachas, vendo-se a entrada do forno em que a cozedura é efectuada por meio de ondas de alta frequência, sistema revolcionário e ainda recente— esta instalação foi a terceira a ser montada em todo o mundo

A Companhia Industrial da M a t o l a dispõem presentemente de 4 unidades fabris a laborar com pleno rendimento: moagem de trigo, moagem de milho, fábrica de massas e fábrica de bolachas. Em estágio experimental, iniciou agora a laboração de uma instalação-piloto de moagem de mandioca. Outras indústrias de carácter alimentar estão previstas e para estudo das mesmas e aperfeiçoamento das existentes em todos os sectores, tem a administração da Companhia Industrial da M a t o l a promovido a visita dos seus técnicos à Metrópole e Estrangeiro para que possam acompanhar a evolução técnica nos mais avançados centros de produção. A l é m do laboratório modelarmente apetrechado, este conjunto fabril é apoiado por bem equipadas oficinas de carpintaria, de serralharia e de manutenção de viaturas, tendo ainda secções de reparações eléctricas e de construção civil. Prevenindo eventuais falhas do fornecimento de energia, existe uma central eléctrica com dois potentes geradores que, hoje de reserva, eram exigidos antes de ser estabelecida a ligação à rede geral. Existem também 3 unidades de destilação de hulha cujo gás é utilizado em várias caldeiras e também na cozedura final das bolachas. No decurso das conversas que tivemos com vários dos empregados desta grande empresa, ouvimos algumas referências a minério de ferro, manganês, asbestos e outros artigos e, manifestada a nossa estranheza, soubemos então que a Companhia Industrial da M a t o l a , através dos seus Serviços de Navegação e Trânsito, criados inicialmente apenas para uso próprio, desenvolve larga actividade como agente transitário procedendo ao desembaraço portuário e

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Neste edifício e sob administração do próprio pessoal, situa-se o Refeitório principal, Salão de Festas e Biblioteca

alfandegário de mercadorias importadas ou exportadas pela República da Á f r i c a do Sul, Suazilândia e Rodésia, através de Lourenço Marques. E deverá notar-se que se t r a t a de um ramo de actividade altamente especializado que anteriormente constituía um quase monopólio de empresas estrangeiras. Pois, presentemente, a M a t o l a é considerada como uma das mais e f i cientes transitárias, agenciando igualmente largo número de navios, e dispondo de um escritório em Joanesburgo para mais íntimo contacto com os seus clientes. Para a comercialização dos seus produtos, que exporta em m u i t o larga escala, tem a M a t o l a agentes não só em todos os distritos de Moçambique, como em todas as Províncias Ultramarinas, tendo estabelecido uma delegação em Lisboa que superintende em todo o mercado metropolitano e ilhas adjacentes.


Uma das 15 residências recentemente construídas em terreno pouco distante da zona fabril

E ao terminar este apontamento, não podemos deixar de recordar o entusiasmo e dinamismo patenteado por todos os colaboradores desta Companhia cuja Administração, com profunda confiança nos destinos da Província, adoptou o lema famoso: «Estudar com dúvida e realizar com fé.»


CASA

COIMBRA

JOSSUB ABDOOL REHMAN VAKIL Socio-gereni-e da Casa Coimbra

A CASA C O I M B R A é hoje um dos estabelecimentos de Modas da cidade de Lourenço Marques, que marca posição de relevo, tendo tido início em recuados tempos. Fundaram a CASA C O I M B R A quatro irmãos de origem paquistanesa, que emigraram para Moçambique. Em 1887, A B D O O L L A T I F A Y O B V A K I L veio para Moçambique, onde permaneceu quinze meses, após o que regressou ao seu país, que nessa época era um protectorado britânico. A l g u m tempo depois, ABDOOL L A T I F volta para Moçambique em companhia de seus irmãos mais velhos: ABDOOL SACOOR A Y O B V A K I L e ABDOOL R E H E M A N A Y O B V A K I L . Vieram com o consentimento de seu pai, que lhes a b r i u um crédito de 10 mil rupias sobre a praça de Bombaim. Em 1909 veio juntar-se a seus irmãos, o mais jovem de todos, ABDOOL K A R I M AYOB V A K I L . ABDOOL L A T I F A Y O B V A K I L ao iniciar a sua vida comercial em Lourenço Marques, na sua primeira fase, fê-lo como vendedor a m b u l a n t e , pois conseguira por intermédio de alguns patrícios, artigos vendáveis aos indígenas. Desenvolvendo grande actividade, lá ia fazendo o seu negócio a m b u l a n t e , na esperança de melhores dias, sonhando com a possibilidade de abrir um pequeno estabelecimento.

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Quando regressa a Moçambique, na companhia de seus irmãos, ABDOOL L A T I F , é já um conhecedor da terra moçambicana, que mais o anima nos seus propósitos empreendedores de expansão comercial. Foi então, que juntamente com eles, abriu no Bairro da M a l a n g a o seu primeiro estabelecimento, numa casa f e i t a de madeira e zinco, precursor do colosso que viria a ser a CASA C O I M B R A ! Depois, abriram no mesmo Bairro da M a l a n g a , mais três casas comerciais, pois o negócio prosperava. Em 1895 os dois irmãos — ABDOOL LATIF e ABDOOL SACOOR — haviam tanto o seu ramo de negócio, que adquiriram outro estabelecimento.

ampliado

ABDOOL L A T I F , homem de génio empreendedor, abriu mais tarde, uma casa no centro da cidade, na Travessa da Linha, a que se seguiu o u t r a , na Travessa da Palmeira, também no centro da cidade. Foi, porém, em 1907, que abriram a primeira Casa de Modas, só para homens, e em 1910 t o m a r a m de trespasse outro estabelecimento, no qual instalaram, pela p r i meira vez, secções de Modas para Senhora.

FACHADA DA CASA COIMBRA

No mesmo ano de 1910 trespassaram os Estabelecimentos da M a l a n g a e o da Travessa da Palmeira, sendo em 1913, que tomarem de trespasse um grande Estabelecimento situado no centro da cidade, onde registaram o maior desenvolvimento comercial até então nunca a t i n gido! Este foi a Casa-Sede, onde nasceu o nome da CASA C O I M B R A . A i n d a t i v e r a m , em 1915, data em que a b r i r a m , uma casa de Câmbios, e em 1924, uma outra só de artigos orientais, que fecharam em 1928. / — 111 —


Tem interesse explicar-se a razão por que foi dado a esta f i r m a paquistanesa, um nome português. Nesses recuados tempos de fins do século dezanove, os tecidos feitos na M e t r ó pole, nomeadamente, as fábricas ao redor da cidade de Coimbra, eram exportados para M o çambique, e t i n h a m grande procura e preferência entre a clientela que se fornecia dos Estar belecimentos de Abdool L a t i f Ayob V a k i l e seus irmãos, começando a chamar ao fundador da Firma « C O I M B R A » , cuja alcunha se enraizou por tal modo, que muitos clientes só lhe chamavam « C O I M B R A » , daí nascendo o nome de CASA COIMBRA. A d q u i r i n d o um grande terreno na Avenida da República — uma das mais belas artérias da Baixa de Lourenço Marques — aí construíram um grande edifício, a que foi dado o nome de CASA C O I M B R A , inaugurado em meados de Dezembro de 1940, e onde todas as actividades da f i r m a se j u n t a r a m , continuando esta as suas tradições comerciais, engrandecendo o comércio moçambicano e embelezando, com o seu grande edifício de vários andares, a Baixa laurentina. O espírito progressivo dos sócios da CASA C O I M B R A não ficou restrito só àquela f i r m a , pois além de serem proprietários do PRÉDIO C O I M B R A onde têm a f i r m a comercial, possuem, t a m b é m , o PRÉDIO T I V O L I — o n d e está instalado um dos melhores Hotéis da cidade — e o PRÉDIO LOURENÇO MARQUES. Por morte dos fundadores principais — Abdool Latif Ayob V a k i l , Abdool Saccor Ayob V a k i l e Abdool Reheman Ayob V a k i l , tomou uma parte da Gerência da f i r m a , o filho de Abdool Reheman Ayob V a k i l , Jossub Abdool Reheman V a k i l , actualmente gerindo os negócios da f i r m a , j u n t a m e n t e com outros membros da família — filhos, sobrinhos e netos dos fundadores — três dos quais são já nascidos em Lourenço Marques e com nacionalidade portuguesa, e que são, t a m b é m , sócios da f i r m a . Todos os sócios da CASA C O I M B R A aqui construíram as suas residências, tendo a f i r m a cento e dez empregados ao seu serviço, dos quais, noventa são portugueses. A CASA C O I M B R A , obra de uma família paquistanesa, que aqui criou raízes e se propagou, concorreu com o seu trabalho e iniciativa, para o progresso e desenvolvimento desta Província portuguesg de Moçambique.

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FILIPE DICCA FUNDADOR DA FIRMA F. DICCA LDA.

Filipe Dicca era de nacionalidade albaneza, tendo vindo para Á f r i c a do Sul, por ocasião da guerra Anglo-Boyer, alistando-se para combaterão lado dos Boyers. Essa guerra acabou em 1898, data em que ele se refugiou em Moçambique, fixando-se em Lourenço Marques, com a idade de 24 anos. Filipe Dicca começou a negociar, dedicando-se, em especial, à indústria de refrigerantes. Filipe Dicca t i n h a sido estudante de Química, na Á u s t r i a , até se alistar como voluntário, para combater na Á f r i c a do Sul. Durante a primeira Grande Guerra, negociou, comprando as mercadorias aprezadas aos barcos alemães, na Província de Moçambique, tendo obtido grandes lucros, que empregou, em especial, na compra de prédios urbanos e rústicos, na Província, assim como na pesquisa de minérios.

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Mais tarde, em 1920, adquiriu uma fábrica de refrigerantes que tinha pertencido a um italiano de apelido Cavallari, situada na Av. Paiva Manso, onde mais tarde veio a montar a Indústria de Cerveja, de que foi pioneiro. Para tal obteve uma Concessão de exclusividade de fabrico, durante dez anos, a qual lhe foi concedida pelo A l t o Comissário Brito Camacho, que m u i t o contribuiu para que a indústria da Cerveja fosse uma realidade, pois aquele a l t o funcionário apreciava as grandes qualidades de trabalho e iniciativa de Filipe Dicca, que era um homem dotado de uma grande persistência, actividade, inteligência e espírito progressivo, e foram essas qualidades reunidas, que lhe permit i r a m criar um pequeno empório comercial e industrial, que fizeram dele um dos grandes pioneiros de Moçambique. Possuía uma enorme clarividência comercial, que lhe fazia prever tudo aquilo que seria negócio, como por exemplo, guardar objectos velhos, que qualquer pessoa deitaria fora, e ele conservava, e mais tarde, esses objectos velhos eram vendidos por altos preços! Para montar a sua Fábrica em Lourenço Marques, Filipe Dicca dirigiu-se ao Sudoeste africano, que t i n h a sido uma possessão alemã, onde existia uma Fábrica de Cerveja, que se encontrava encerrada, comprando-a e trazendo-a com toda a maquinaria para Moçambique, e ainda contratou os respectivos técnicos dessa Fábrica. A t é 1944 Filipe Dicca tinha negociado sempre em nome individual, só vindo a criar a Firma F. Dicca, Lda., naquele ano. A n t e r i o r m e n t e , em 1938, para reduzir os Cerveja N a c i o n a l , de Filipe Dicca e a Fábrica origem à organização REUNIDAS. Metade do da Firma F. Dicca, Lda., todas as propriedades à Firma, que além da exploração destes bens, Importação.

prejuízos existentes pela luta entre a fábrica de de Cerveja V i t ó r i a , f u n d i r a m as duas, dando capital pertencia a Filipe Dicca. Com a formação e a quota nas REUNIDAS passaram a pertencer passou t a m b é m , a dedicar-se ao Comércio de

Filipe Dicca faleceu em Janeiro de 1949, tendo sido herdeiros dos seus bens, seus irmãos, Pedro Dicca e Cundegunda Dicca. Hoje existe ainda seu irmão, Pedro Dicca, com 83 anos, tendo falecido sua irmã, deixando como herdeira da sua parte, uma f i l h a , Paula Fekete. Hoje, a Firma, é constituída por Pedro D : cca, Paula Fekete, Álvaro Augusto de Sousa, Manuel João Correia, Augusto Bazílio de Oliveira, Dr. Z l a t k o Azinovike e Savo Kadik. A Gerência está normalmente confiada nos Sócios Manuel João Correia, Augusto Bazílio de Oliveira e Dr. Z l a t k o Azinovike. Em 1960, a Firma F. Dicca cedeu a sua quota nas Fábricas Reunidas, a um grupo industrial formado pelas Fábricas de Cerveja da Metrópole. Na actualidade, a Firma F. Dicca, além dos negócios já apontados, está ligada às seguintes Sociedades : Produtos A l i m e n t a r e s , Lda.; Cartonagens de Moçambique, Lda., para fabrico de Caixas de cartão canelado, ligada à organização sul-africana, " N O T I O N A L C O N T A I N E R S " ; à Fonte dos Libombos, Lda., na exploração de água mineral, de mesa, explorando ainda a Cervejaria Nacional e Pedreiras de Goba. Na parte Agro-Pecuária, dedica-se à exploração de gado leiteiro, sendo um dos principais abastecedores de leite para consumo da cidade de Lourenço Marques, e ainda, da União de Curtumes de Moçambique, Lda. Este é o resumo da obra efectuada pelo pioneiro FILIPE DICCA, que sendo estrangeiro, dedicou quase toda a sua vida ao engrandecimento de uma terra, a quem queria como se fosse a sua, e t a n t o ajudou a progredir.

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SOCIEDADE AGRÍCOLA DE TABACOS, LDA.

A Sociedade Agrícola de Tabacos, Lda. foi fundada em 5 de A b r i l de 1935, no Distrito de Inhambane, pelos cidadãos gregos: Panos Macropulos Manuel Macropulos e Telemachus Tshihlakis, que eram agricultores e produtores de Tabaco, naquela época, no Distrito de Inhambane. A Organização dedicava-se, em especial, àcultura do Tabaco, que é precisamente, a maior produção agrícola da Grécia. Foram os pioneiros Panos Macropulos, Manuel Macropulos e Telemachus Tsihlakis, que ensinaram aos nossos indígenas o cultivo do Tabaco. A l é m da cultura do Tabaco, dedicavam-se a outras produções agrícolas: M i l h o , A m e n d o i m , Algodão e Sisal, e ao mesmo tempo, dedicavam-se, t a m b é m , ao Comércio Geral.

Projecto da nova unidade fabril

A primeira Fábrica de Tabaco foi instalada na propriedade agrícola do sócio Panos M a c r o pulos, na Circunscrição de Z a n g a m o , criada para manipular o Tabaco das suas colheitas. Por se tornar inconveniente a laboração da Fábrica j u n t o da propriedade, pediram uma licença para instalar na cidade de Inhambane, que nessa época era ainda V i l a . Por f i m , por conveniências de vária ordem, foi pedida nova transferência da Fábrica, em 1940, para Lourenço Marques. Como a Sociedade tinha adquirido um terreno, na Capital da Província, aí construíram um edifício próprio, com instalações adequadas ao f i m a que se destinava. Em 1950, a Sociedade decidiu ampliar a Fábrica, construindo novas Salas, Dependências e Armazéns. Sempre em franco progresso, em 1954, a Sociedade adquiriu novos maquinismos, e em 1957, todas as Secções da Fábrica estavam apetrechadas com as mais modernas máquinas. A Fábrica possui a sua força motriz própria,alimentada por dois Geradores de Cinquenta Kw., cada. Os Sócios desta Empresa, homens cheios de iniciativa e de espírito progressivo, não se tem poupado a sacrifícios e esforços, para tornarem a sua Fábrica numa modelar unidade f a b r i l , moderna e eficiente, como hoje é. Os seus produtos tem apresentação e categoria, honrando a Indústria moçambicana de Tabacos.

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A c t u a l m e n t e a Fábrica tem doze empregados europeus e sessenta indígenas. Da matéria prima que emprega — Tabaco, por exemplo — oitenta e cinco por cento é adquirido da produção da Província. Toda a sua embalagem é, igualmente, adquirida nas Tipografias da Província. A empresa importa papel prateado, celofane, e mais algumas matérias primas que não existem no mercado moçambicano. A Empresa exporta p a r a : Angola, Cabo Verde, S. Tomé, Guiné e Timor, produzindo, anualmente, cerca de cem toneladas de Tabaco. Procurando alargar a sua exportação, espera que muito em breve, lhe seja permitido exportar para a Metrópole. Os sócios actuais da Sociedade Agrícola de Tabacos, são Manuel Macropulos, Telemachus Tshihlakis e Jorge Tshihlakis. O pioneiro Telemachus Tshihlakis chegou a Moçambique, vindo da Grécia, em 1928, constituindo família com uma Senhora da mesma nacionalidade. Seu filho Jcrge Tshihlakis, que é sócio da Empresa, nasceu em Lourenço Marques. A Sociedade Agrícola de Tabacos, é uma afirmação de tenacidade e progresso, a enriquecer a Província de Moçambique.

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O Pioneiro do fabrico de Ladrilhos e Mosaicos, de utilização doméstica e para construção civil, na Província de Moçambique, foi o cidadão grego, originário do arquipélago do Dodecaneso, Vassilis Gianouris, que acompanhado de sua esposa, chegou a Moçambique no ano de 1912, com a idade de 41 anos. Estabeleceu-se em Lourenço Marques, sem sócios, dedicou-se à construção Civil até ao ano de 1 9 3 1 , a l t u r a em que inaugurou a sua fábrica, dedicada exclusivamente, ao fabrico de Mosaicos hidráulicos para pavimentos. Após alguns anos de laboração, a Fábrica passou a produzir, também, ladrilhos, e mosaicos de outros géneros, para aplicação doméstica, como Lava-loiças, Mesas, Banheiros, Lavatórios, Tanques, figuras decorativas para jardins, Mausoléus, assim como mosaicos granulitados e marmorizados. Vassilis Gianouris, espírito construtivo e muitíssimo trabalhador, obreiro incansável da sua fábrica, viveu muitos anos na sua labuta e direcção, sem se ausentar, permanecendo longos anos sem visitar o seu País. Foi em Lourenço Marque que lhe nasceram os seus únicos filhos: Irene e John. Vassilis Gianouris faleceu com setenta e um anos, ficando seu filho John a dirigir a fábrica, de que hoje é proprietário, juntamenre com sua mãe D. Elefftheria Gianouris. A Fábrica de Ladrilhos e Mosaicos emprega no seu serviço de Escritório, seis europeus, e mais de cem operários indígenas. A fábrica produz e exporta para toda a Província de M o ç a m bique, mas a c t u a l m e n t e , com o grande incremento dado à Construção Civil, sobretudo em Lourenço Marques, a sua produção é praticamente, absorvida pela capital da Província. Como tantas outras Organizaçõos industriais, a Fábrica de Ladrilhos e Mosaicos, desempenha importante papel na economia da Província. Emprega matéria prima local, como seja, cimento, areia e resíduos, no valor anual de duzentos contos, e i m p o r t a , corantes, cimento branco e granulíticos, no valor anual de oitocentos contos. A produção anual de material produzido pela fábrica, eleva-se a dois mil e quatrocentos contos.

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Trabalhos executados pela fábrica

De atitudes simples e modestas, John Gianouris, procura honrar o nome de seu Pai, continuando e aumentando a Obra deixada por ele. Fora da sua fábrica, exerce, ainda, o cargo de Cônsul Honorário da Grécia, em Lourenço Marques. A Fábrica de Ladrilhos e Mosaicos, é uma das muitas organizações moçambicanas pioneiras, que contribuiu para o engrandecimento da Província de Moçambique.

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GARNET PENDRAY--O FUNDADOR DAS ORGANIZAÇÕES PENDRAY, SOUSA & CA., LDA.

GARNET

PENDRAY

GEORGE

PENDRAY

Escritórios, Oficinas e Salão de Exposição em Lourenço Marques

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Garnet Pendray nasceu em Inglaterra, em Camborne, tendo vindo para Á f r i c a — a então Á f r i c a Oriental Inglesa — como combatente na Grande Guerra de 1 9 1 4 - 1 8 . Terminada a Guerra, Garnet Pendray veio a Lourenço Marques, onde tinha um amigo, também de nacionalidade inglesa, de nome Hugo Lemay, que estava estabelecido na capital moçambicana, com a indústria de Automóveis e metalúrgica. Garnet Pendray tinha a profissão de Engenheiro Mecânico, tencionando regressar à Inglaterra. Duas razões, no entanto, fizeram modificar o seu dest i n o : ter gostado de Lourenço Marques, e o seu amigo ter-lhe oferecido um lugar na Firma. Garnet Pendray aceitou esse lugar, acabando por não regressar à sua pátria, e fixando-se em Moçambique. A l g u m tempo depois, estabelece-se com a sua primeira Firma, em Lourenço Marques, de Sociedade com um português — Joaquim de Sousa. Isto passa-se no ano de 1920. Joaquim de Sousa ainda é vivo, contando 88 anos de idade. Depois, sucessivamente, foram estabelecidas novas Firmas, também em Lourenço Marques: "Agências Modernas, L d a . " , "A Predial de M o çambique, L d a . " , e sucursais na Beira, Tete, Quelimane, N a m p u l a e Porto A m é l i a . Todas as Firmas dispersas pela Província representam uma das maiores Organizações mundiais do ramo automóvel — a General Motors. "A Predial de Moçambique, L d a . " , foi criada para a construção exclusiva das Organizações Pendray, assim como para a compra e vendo de propriedades. "A Predial de Moçambique L d a . " , tem concorrido de forma apreciável para o desenvolvimento dos negócios das restantes firmas, construindo prédios para as instalações dos escritórios e das oficinas, não só em Lourenço Marques, como t a m b é m , noutros pontos da Província. Independentemente desta função, tem a seu cargo negócio de prédios, sua aquisição e venda. As Organizações Pendray têm em Lourenço Marques cerca de trezentos empregados, e nas Firmas dispersas pela Província o mesmo número. As Organizações Pendray tem um médico privativo para prestar assistência a tcdo o seu pessoal. O fundador das Organizações Pendray, que faleceu em 1963, na Suiça, durante uma estadia de t r a t a m e n t o numa clínica de M o n t r e u x , foi um trabalhador incansável e de fino t r a t o , sendo m u i t o estimado por todos os seus colaboradores e amigos, deixando uma das maiores e mais prósperas Organizações comerciais de Moçambique, contribuindo, de forma notável, sob vários aspectos — e particularmente no dos Transportes — para o seu progresso e engrandecimento. Na actualidade, encontra-se à frente da Direcção das Organizações Pendray, o filho do fundador, George Pendray, seu digno representante e continuador da grandiosa obra de seu pai.

Oficinas da firma, na Beira

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GIUSEPPE BUFFA BUCCELATTO

Giuseppe Buffa Buccelatto chegou a Lourenço Marques em 2 de Dezembro de 1902, vindo da I t á l i a , onde vivia com sua f a m í l i a , contando então 20 anos de idade, e para se juntar a um irmão mais velho que viera para a cidade da Beira, Província de Moçambique. Esse irmão tinha o Curso da Escola de Belas Artes da Itália. Viera para o Egipto trabalhar em grandes obras que se efectuavam naquele país. A í , quando o seu trabalho f i n a l i z a r a , leu num jornal egípcio uma notícia sobre obras que se iriam realizar na Beira, Província de Moçambique, e resolveu ir à aventura.

GIUSEPPE BUFFÁ BUCCELATTO, a ser condecorado pelo Presidente da República quando da sua visita em 1 9 6 4

Chegado à Beira não ficou decepcionado, iniciando aí o seu trabalho, e quando as obras mencionadas no anúncio t e r m i n a r a m , e verificando que, tão cedo nada teria para fazer resolveu ir para Lourenço Marques onde ficou. Foi por sugestão sua, que Giuseppe B. Buccelatto veio para Moçambique. Nessa época recuada eram navios alemães que f a z i a m carreiras de passageiros na costa de Moçambique, pois a Alemanha possuia colónias no Tanganica e m u i t o do seu tráfego fazia-se através do Índico. — 121 —


Nesse tempo os navios de guerra portugueses existentes, serviam para trazer os poucos portugueses que nessa época vinham para a Á f r i c a . Giuseppe B. Buccelatto desembarcou de um desses navios alemães para uma bateira e desta para as costas dos indígenas, até a terra firme, pois nada existia então, senão as margens da baía que constituíam praias, com pequenas pontes de madeira e havendo um barracão que servia de Capitania. Giuseppe Buccelatto é oriundo de Castellamare dei Golfo — Trapani — na Sicília. Chegado a Lourenço Marques, o jovem siciliano, iniciou a sua vida como Construtor Civil, adoptando a mesma profissão de seu Pai, estabelecendo-se sem sócios. A 16 de Novembro de 1912 casa no seu país com uma italiana, Francesca Lipari, regressando com a esposa a Moçambique, à sua casa de Lourenço M a r ques. Do seu casamento nasceram cinco filhos: Giuseppina, Gaspare, A n t o n i n o , Pierino e Ignázio Giuseppe B. Buccelatto, foi t a m b é m , um grande a t l e t a , possuindo várias medalhas ganhas no Desporto. Foi um praticante de Ginástica aplicada; fez Natação, Futebol, Esgrima e Hóquei em Patins, tendo sido Capitão da primeira equipa de Hóquei Patinado que existiu em Lourenço Marques. Quando o jovem Príncipe D. Luís Filipe visitou a Província houve um Sarau Desportivo em honra do régio visitante. Giuseppe B. Buccelatto exibiu-se nesse Sarau, tendo o Príncipe ido depois, cumprimentar o jovem ginasta italiano, atitude essa que o emocionou profundamente, e que ainda hoje recorda com satisfação. Na sua vida profissional, Giuseppe B. Buccelatto, vai progressivamente desenvolvendo a sua Empresa de Construção Civil, a que não fica alheio o seu dinamismo de trabalhador incansável, que é! São obra da sua Empresa a primeira fase da Ponte Cais de Lourenço Marques, e M u r a l h a do que hoje é o Clube N a v a l , bem como a M u r a l h a da Doca seca, cabendo-lhe, parte na construção da Câmara M u n i c i p a l . Foi em 1919 que formou a Sociedade que hoje tem o nome G. B. Buccelatto & Filhos, Lda., iniciada com dois sócios. Só em M a i o de 1946 é que seus filhos entraram para a Sociedade, passando a ser os únicos sócios. Seguidamente foram-se criando; a sua filial da Beira, especializada em materiais de construção; a Sociedade M e t a l ú r g i c a Portuguesa, Lda., em 1929, construída em terreno da Empresa; G. B. Buccelatto Construtores, Lda., e a Companhia Industrial de Fundição e Laminagem S. A. R. L. — está commais de duas centenas de accionistas. Este, é hoje, o desdobramento fantástico da pequena Empresa iniciada nos princípios deste século pelo pioneiro siciliano, Giuseppe Buffa Buccelatto, cujos filhos se tornaram os seus melhores continuadores e colaboradores. Dois formaram-se em Engenharia Civil, e Electromecânica; Pierino em Mecânica, e Ignázio em Contabilidade, sendo sua f i l h a apenas sócia. Em homenagem carinhosa à terra que o recebeu e acolheu, G. filhos a nacionalidade portuguesa.

B.

Buccelatto deu aos

São numerosas as obras executadas pela f i r m a de G. B. Buccelatto & Filhos, Lda., além das já mencionadas, contando-se : PRÉDIOS : " A F R I C A N L I F E " , M O N T E P I O DE M O Ç A M B I Q U E , " P A B L O PEREZ", CARDOSO E REIS, " H O DICK Y O N G " , "JOSÉ M A R I A " , " H O K A K U I " , " P A R I S O T " . AMPLIAÇÕES : C O M P A N H I A DE CIMENTOS DE M O Ç A M B I Q U E , FÁBRICA DE CERVEJA REUNIDAS, SHELL M O Ç A M B I Q U E , SOCIEDADE N A C I O N A L DE REFINARIA DE PETRÓLEOS, MOGÁS, CENTRAL T É R M I C A , CAJU I N D U S T R I A L E SONEFE. CASAS : ALGODOEIRA DO SUL DO SAVE e BRIGADA DE FOMENTO e P O V O A M E N T O DO LIMPOPO — GUIJÁ.

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SILOS :

COMPANHIA

FÁBRICAS :

INDUSTRIAL

COMPANHIA

DA

MATOLA.

I N D U S T R I A L DE F U N D I Ç Ã O E L A M I N A G E M , S. A. R. L.

OBRAS DO ESTADO : O F I C I N A S DOS C A M I N H O S DE FERRO DE LOURENÇO M A R QUES, NOVAS O F I C I N A S GERAIS DOS C A M I N H O S DE FERRO DE M O Ç A M B I Q U E , MORGUE — l . a e 2. a FASES — C O N S E L H O DE C Â M B I O S ; N O V O HOSPITAL CENTRAL DE LOURENÇO MARQUES. DEPÓSITOS DE Á G U A : DEPÓSITO DE Á G U A DE M A X A Q U E N E , DEPÓSITO ELEVADO DOS CAMINHOS DE FERRO DE M O Ç A M B I Q U E — G U I J Á , BARRAGEM, M A P A I , e PAFURI. HOSPITAL :

ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS.

Giuseppe B. Buccelatto, que com seus filhos formou uma família unida, está certo por isso, da continuação da obra por ele iniciada. A sua acção relevante teve um justo prémio, quando da visita do Sr. Presidente da República a Moçambique, que condecorou Giuseppe B. Buccelatto com a ORDEM DE MÉRITO A G R Í C O L A ^ E I N D U S T R I A L , CLASSE DE M É R I TO I N D U S T R I A L , GRAU O F I C I A L . Com esta condecoração dada pelo mais a l t o Magistrado da Nação, quis assim, o Governo premiar a Obra deste pioneiro de Moçambique, que embora estrangeiro, à terra portuguesa se dedicou como se fosse sua. Por tudo quanto fica d i t o se conclui, que Giuseppe B. Bucelatto, foi um grande obreiro, desempenhando papel de relevo no engrandecimento e economia da Província de Moçambique, o seu labor intenso, a que veio juntar-se a energia jovem de seus filhos. Giuseppe Buffa Buccelatto soube grangear amigos, e consideração em todos os sectores, pelo seu t r a t o simples, a f á vel, falando numa linguagem onde se adivinha um coração bondoso. Ele amou t a n t o a terra moçambicana como a sua terra n a t a l . Faleceu quando esta obra se encontrava no prelo. É interessante salientar, que seu filho Moçambique.

Ignazio, é o Cônsul Honorário da Finlândia, em

Giuseppe B. Buccelatto f o i , por duas vezes, Cônsul da I t á l i a , em Lourenço Marques. Condecorado como sócio mais antigo dos Caminhos de Ferro de Moçambique, e agraciado pelo Governo de I t á l i a , com a Comenda de C O N S T A N T I N I A N O ORDINE M I L I T A R E Dl SAN GIORGIO Dl A N T I O C H I A , e COMENDADORE DELLA STELLA AL MÉRITO.

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SORABJEE EDALJEE GINWALA

Do Pioneiro que nos vamos ocupar — exemplo perfeito de determinação, de sacrifício e de amor por esta boa terra moçambicana — também se pode sentir orgulhosa a Província. O seu trabalho e o seu esforço merecem ser destacados nesta publicação, destinada a pôr em merecido realce o que tem sido o esforço dos pioneiros que fizeram Moçambique. SORABJEE ADALJEE G I N W A L A , nasceu na aldeia de A N K E S W A R , na índia, em 1 8 6 1 , descendente de uma distinta família de origem Persa, há muitos séculos fixada naquele subcont i n e n t e , por motivo de perseguições regiliosas. Tinha no seu sangue, por ancestralidade de ariano puro, o amor pela aventura e uma intransigência absoluta pelos conceitos filosóficos contidos na Religião que professava e com a qual ZOROASTRO imprimira uma feição de moral pura e incorruptível para seus adeptos e que ele seguia com devoção absoluta. Seus Pais haviam instalado na índia a primeira Fábrica de descaroçamento de algodão. Seus irmãos haviam estado em Moçambique de 1882 a 1885, e no regresso ao País onde a a família se f i x a r a , contavam maravilhas do continente onde haviam estado e da hospitalidade portuguesa que tão generosamente haviam recebido em Moçambique. Isso levou o jovem Sorabjee a sonhar com Moçambique, e a embarcar um d i a , num «Pangaio» árabe que demandava a Costa Oriental de Á f r i c a . Deixaram-no em Durban. Os seus primeiros contactos com os ingleses que dominavam a Colónia do N a t a l , da qual Durban era então o principal porto de mar, não lhe agradou. O seu objectivo não era apenas comerciar, era principalmente, estabelecer contactos humanos com raças diferentes da sua, que lhe permitissem ser-lhe útil em convívios como em produtividade. Lembrando-se das conversas que seus irmãos t i n h a m ao serão, pôs-se afoitamente a caminho de Lourenço Marques, numa audaciosa jornada por terra, a corta-mato, desafiando as inclemências do tempo e as incertezas dos caminhos. A q u i conseguiu o seu primeiro emprego, como guarda-livros da f i r m a D A D A A B D U L L A , instalada no pequeno burgo que era então Lourenço Marques, já há bastantes anos. Cedo a sua dedicação e a sua inteligência começaram a revelar-se. Entretanto — já no final do s é c u l o — dá-se a grande conflagração entre ingleses e Boyers, que para a História ficou designada pela de Guerra Anglo-Boyer de 1899- 1902. Guerra cruel, que opôs contra o poderio da Inglaterra Imperial um pequeno povo cioso da sua liberdade, tendo por Chefe um homem de vontade de granito — PAULO KRUGER. Por essa a l t u r a Sorabjee, deixando a f i r m a onde trabalhava, decidiu estabelecer-se em Lourenço Marques, por conta própria. Ao princípio, com uma pequena loja de artigos de mercearia, tendo anexa, uma pequena livraria. Homem de contas limpas e negócios rectos, em breve prosperou. A sua larga visão encaminhou-o para a Indústria e com vontade de ferro, não levou m u i t o tempo a instalar em Lourenço Marques, em 1907, a primeira Fábrica de extracção de óleos vegetais, utilizando unicamente, a disponibilidade da m a t é r i a - p r i m a que Moçambique possuía, não em Lourenço Marques, mas no interior do Distrito, e ainda copra, que o seu espírito aventureiro levou a adquirir no Porto de Sofala e na histórica Ilha de Moçambique. A Fábrica prosperou, pois além de satisfazer as necessidades de consumo de óleos no Dist r i t o de Lourenço Marques, passou a fornecer, t a m b é m , desse produto, a Colónia Indiana de Durban, já então numerosa, devido a importação de mão-de-obra indiana para o cultivo da cana sacarina e sua industrialização. Isso tornou-se possível devido à conclusão dos trabalhos da Linha Férrea de Lourenço Marques a Pretória, que dirigida pelo General Joaquim José Machado havia sido inaugurada pelo Presidente Kruger, em 1895.

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Mas o pioneiro não descansa sob louros tão dificilmente conquistados. Quando em 1923 se inicia, a sério, em Moçambique a campanha da cultura do Algodão, cujo monopólio dos mercados internacionais cabia, quase inteiramente, ao Egipto, Sorabjee, a f o i t a m e n t e , monta em Lourenço Marques, uma vez assegurada a m a t é r i a - - p r i m a , a mais moderna e melhor apetrechada Fábrica de prensagem e descaroçamento do Algodão, dando desta forma continuidade ao espírito aventureiro dos seus corajosos antepassados, cujo sangue irrequieto lhe corria nas veias. Em Moçambique — pelo seu génio inventivo e espírito de audácia — criou e perdeu, várias vezes, grandes fortunas. Teimosamente não se importou em começar de novo, pelo princípio. Lutou denodadamente, e venceu! N ã o a d m i r a , pois, que grande tenha sido o amor que votou por esta terra de adopção, que entranhadamente queria como sua e para cujo desenvolvimento t a n t o contribuiu. Foi, em toda a sua vida, um batalhador i n f a t i g á v e l , até ao dia em que, no ano de 1937, a morte o veio buscar. Em Moçambique ficaram seus filhos — GODREJ, KEKOBAD e N A S S A R W A N , este já nascido em Lourenço Marques — e seus netos, continuando a tradição respeitabilíssima que lhes legou. Tradição essa, que eles cultivam e se m a n t é m bem expresa na Firma S. E. G I N W A L A , FILHOS, LDA., um dos pilares em que assenta a economia florescente de Moçambique, que m u i t o ficou devendo ao esforço de um homem notável, que em vida se chamou SORABJEE ADALJEE G I N W A L A e cuja biografia o « L I V R O DE OURO», de M O Ç A M B I Q U E se orgulha de arquivar nestas páginas. A l é m de pioneiro da Indústria de extracção de óleos, tais como de copra e amendoim, supõe-se que Sorabjee tenha sido, t a m b é m , o pioneiro no aproveitamento industrial da moagem da semente da m a f u r r a , industrialização essa, que era em época tão recuada totalmente desconhecida fora do ambiente botânico e industrial. O seu espírito empreendedor, levou-o a mais esta aventura, conseguindo esse útil pioneiro moçambicano, pela sua técnica original de industrialização, a colocação dos seus produtos nos grandes mercados mundiais, até então dominado pelo Porto de Marselha como seu escoadouro natural. Em 1909, já f i x a d o definitivamente em Lourenço Marques, mandou vir seus filhos GODREJ e KEKOBAD. Carecia não só da sua colaboração como ainda desejava incutir neles o seu amor pela Indústria que realizara com esforço da sua inteligência e por esta boa terra portuguesa de Moçambique. E, com o concurso dos filhos, já no ano seguinte, pode modernizar, não só as suas instalações, como os métodos de trabalho, substituindo os obsoletos moinhos de tipo indiano por prensas hidráulicas, que produziam maior rendimento na extracção de óleos. Entretanto, surge a Grande Guerra, e para se defender da concorrência que se lhe depara no campo industrial a que se dedicou, associa-se a outro pioneiro, o português Paulino dos Santos G i l , e com ele funda a Fábria de óleos e sabões denominada « M O Ç A M B I Q U E SOAP A N D 01L C O M P A N Y » . Deste modo, a f i r m a , com o concurso dos dois industriais pioneiros, consegue manter abastecido um mercado deficiente durante todo o período da Grande Guerra, e ainda renovar a Fábrica, adquirindo aparelhagem mais moderna, de recente inventiva americana, e com ela dar prosseguimento em bases mais sólidas à indústria que já vinha honrando a Província de Moçambique.

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A PRIMEIRA LIVRARIA DE MOÇAMBIQUE A "MINERVA CENTRAL"

JOÃO

ANTÓNIO

DE

CARVALHO

A Indústria Gráfica de Moçambique, foi criada por um Decreto saído em 7 de Dezembro de 1836. Todavia o primeiro número da Gazeta O f i c i a l , só em 13 de M a i o de 1854 é que foi publicado, iniciando-se assim a primeira publicação moçambicana de carácter oficial. Para se apreender o que foi a acção desenvolvida em prol do livro português e da cultura, de um modo geral, do pioneiro João A n t ó n i o de Carvalho, há que nos reportarmos aos seus p r i meiros anos de vida em Moçambique. João A n t ó n i o de Carvalho nasceu na freguesia do Eixo, situada a poucos quilómetros da cidade de Aveiro, vindo da sua terra natal para Lourenço Marques com 16 anos, apenas, e para trabalhar num Estabelecimento de Comércio Geral, que era propriedade de um seu parente, o comerciante Clemente Nunes de Carvalho e Silva. Nesses recuados tempos — como ainda hoje acontece no m a t o , nas cidades e vilas do interior — os Estabelecimentos de Comércio Geral, como o nome indica, nele se vendiam e vendem, os mais variados artigos, incluindo os jornais desse tempo, em que a Política era uma das razões dominantes da vida africana, e se criavam pequenos jornais com o f i m principal de servirem como arma de combate e defesa dos seus interesses económicos. Neste meio heterogénio formou ele a sua mentalidade. As diversões, nessa época, eram m u i t o poucas, e livros não existiam à venda. Para a t e n der alguns pedidos de fregueses que desejavam adquirir livros, João A n t ó n i o de Carvalho, começou a mandá-los vir da Metrópole, cultivando cada vez mais o gosto pelo literatura e divulgando-a. Sempre aumentando os seus conhecimentos, adquiridos, em parte, através da leitura proveitosa que f a z i a , mais se ia arreigando no seu espírito a ideia de criar um Estabelecimento dedicado exclusivamente ao ramo de livraria e papelaria, cujo sonho veio a concretizar, i n i ciando a sua actividade com a abertura em 14 de A b r i l de 1908, da « M I N E R V A CENTRAL». Deste modo, João A n t ó n i o de Carvalho iniciava a venda e divulgação do livro português no Província de Moçambique, a ele se ficando a dever esta iniciativa de divulgar a cultura através do livro, dando primazia às obras portuguesas. Nessa a l t u r a era já casado, coincidindo a inauguração do seu Estabelecimento com o nascimento do seu primeiro filho. Referimos, a t í t u l o de curiosidade, que João A n t ó n i o de Carvalho, ligou-se pelo casamento, a uma família já enraizada na Província e de relevo social, que

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é a Família Furtado. Sua esposa era D. Margarida Furtado, f i l h a do pioneiro A n t ó n i o Furtado, que adquiriu posição de relevo no meio social dessa época. Quando abriu o seu pequeno Estabelecimento de livraria e papelaria, situado na Rua D. Luís, hoje chamada Consiglieri Pedroso, contava 29 anos. O Estabelecimento constava de um edifício de pedra e cal, de um só piso, coberto de telha, com colunas de ferro, como tantos outros construídos nessa época, a que se dá o nome de «tipo colonial». Ficava quase em frente à Rua A n t ó n i o Furtado, a cerca de cinquenta metros para a direita do Estabelecimento actual. Não tardou m u i t o que, ao pequeno Estabelecimento se juntasse uma oficina de tipografia que, com o decorrer dos anos, se transformou e cresceu melhorando o seu equipamento, o quadro do seu pessoal e os seus serviços. A história de uma casa comercial é mais alguma coisa do que a narração dos seus trabalhos, vicissitudes, f o r t u n a e progresso; é um pouco mais que a resenha dos seus negócios e o inventário dos seus bens; ela é sobretudo, a vida dos seus próprios trabalhadores, que lhe consagram a sua actividade, a sua inteligência e dedicação! Logo de começo, a modesta livraria da Rua D. Luís, chamou a si uma tarefa demasiado pesada para as suas possibilidades, que foi a difusão do livro português, por todo o território de Moçambique. As perspectivas não eram animadoras para tão delicado quão difícil ramo comercial. Para nos certificarmos disso, basta considerar que a população da cidade de Lourenço Marques, era, então, aproximadamente, de dez mil habitantes, incluindo europeus, asiáticos e africanos, e que as comunicações com os Distritos e territórios majestáticos de I^Aan\ca e Sofala e Niassa, eram difíceis e morosas. Estas dificuldades de comunicação levaram João A n t ó n i o de Carvalho a pensar com interesse e simpatia na situação do colono do interior, longe do mundo civilizado, muitos sem convívio com europeus, sem revistas, sem jornais ou livros, outros vivendo em pequenas comunidades mal servidas pelo telégrafo e pela navegação. Era preciso servi-los, e o jovem livreiro com optimismo, entusiasmo e vigor, lançou-se na grande aventura do que fez um verdadeiro ideal, a que se conservou fiel até aos seus derradeiros dias: fazer chegar às mãos dos colonos as publicações que recebia, levar a toda a parte o livro português! Para muitos desses colonos do interior, os livros, jornais e revistas da Minerva Central eram o único elo que os m a n t i n h a ligados à Metrópole e à civilização! Um dia viria, em que a escritora Sarah Beirão, ao apreciar o seu labor de livreiro, diria com apreço, sinceridade e j u s t i ç a : « . . . levou a terras de além-mar o nome dos que, sem a sua actividade, nunca aí seriam conhecidos.» Foi, na verdade, para si, a parte mais simpática e querida da sua actividade. Considerou-se, sempre, acima de tudo, um livreiro, e quando falava da sua obra, referia-se à acção que tinha desenvolvido durante quarenta e cinco anos, que, sem exagero, pode dizer-se, foram devotados à divulgação do livro em Moçambique. Seguindo a prática dos editores do Porto e Lisboa, mais com o f i m de desenvolver na população o gosto pela leitura e facultar-lhe a aquisição de livros, por preços mínimos, relegando para um plano secundário a ideia do lucro, i n s t i t u i u em 1936, a Feira do Livro, a qual se tem realizado todos os anos nos Salões do seu Estabelecimento da R. Consiglieri Pedroso. Esta iniciativa teve entusiástico acolhimento por parte de todos os sectores da população da cidade.

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As Feiras do Livro constituem, hoje, uma tradição da Minerva Central, que procura manter no mais elevado nível. Para isso, sem olhar a despesas, são mandados vir da Metrópole e do Brasil, as últimas edições dos melhores livros. Da mesma forma são importados livros em espanhol, francês, italiano e inglês. O que levou João A n t ó n i o de Carvalho a escolher para seu negócio, o precário ramo de livraria, foi sem dúvida, o seu amor à instrução, que manteve sempre inalterável, e que o levou a a t r i b u i r a si mesmo a missão de levar a Cartiha de João de Deus e as jóias da nossa literatura a todos os pontos da Província, f a c i l i t a n d o a sua aquisição, fornecendo livros de ensino, g r a t u i t a m e n t e , a estudantes sem recursos. João A n t ó n i o de Carvalho f o i , t a m b é m , jornalista, e num artigo i n t i t u l a d o «AS M I N H A S RAZÕES», a f i r m a : «. . . E é por sentir tudo isto que sofrendo com um tal estado de coisas, resolvi reeditar a « P R O V Í N C I A DE M O Ç A M B I Q U E » . E f i - l o para defender os meus haveres, a terra dos meus filhos, e mostrar que nem todos se afastam do caminho do dever com uma cobardia que enoja.» Estas duras e enérgicas palavras seguiam-se à análise da grave situação desse momento, em que Lourenço Marques viveu horas de ansiedade, desassossego e dificuldades económicas. João A n t ó n i o de Carvalho ocupou vários lugares de destaque, como por exemplo : Regedor, Jurado do Tribunal do Contencioso, Técnico A d u a n e i r o . O Governador Freire de Andrade era seu amigo, distinguindo-o com apreço. acontecia a um homem jovem, que era prestável, estimado e respeitado.

E tudo isto

A sua casa comercial abriu sob os auspícios da sua já grande popularidade, apesar de ter, apenas, vinte e nove anos! Popularidade que conquistara com a lhaneza do seu espírito alegre, com a saudável disposição que o levava a ser ú t i l e o tornou prestável; com a sua bondade que o f a z i a atentar no que se passava à sua volta e a prestar a sua solidariedade, simpatia e auxílio, a todas as iniciativas altruístas! Era um jovem que todos conheciam, chamando-o afectuosamente pelo d i m i n u i t i v o de «Carvalinho», d i m i n u i t i v o que o acompanhou até ao f i m da sua existência. Nestes cinquenta e oito anos de existência, a « M I N E R V A CENTRAL» acompanhou a cidade no seu maravilhoso crescimento, partilhando das suas alegrias e das suas horas de a n siedade, assistindo ao seu progresso e desenvolvimento, dando-lhe, com entusiasmo, a sua quota de trabalho, servindo a sua população. Hoje, como sempre, a « M I N E R V A CENTRAL» encara o f u t u r o com o mesmo optimismo e com confiança. A sua Tipografia está, hoje, equipada com as mais modernas máquinas, e possuindo pessoal europeu especializado para todos os géneros de trabalhos, acompanhando o progresso industrial. O seu Estabelecimento está instalado num edifício de cinco andares, ocupando dois pavimentos de um edifício situado noutra rua paralela ao do Estabelecimento, numa demonstração de desenvolvimento e progresso notáveis. Em 1943, João A n t ó n i o de Carvalho, deu nova ordem à sua casa, associando a si seus filhos, e alguns antigos colaboradores, entre eles, seu irmão, Sebastião de Carvalho e Constantino de Castro Lopo, que por morte do fundador, seguiram na mesma rota idealista e progressiva, traçada por ele. T e r m i n a esta biografia sumária do pioneiro João A n t ó n i o de Carvalho, com as declarações de algumas personalidades que visitaram a « M I N E R V A C E N T R A L » , e registaram no seu «LIVRO DE OURO» as suas impressões.

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De Gilberto Freyre: «Admirável figura de bom português, este João A n t ó n i o de Caxvalho, que soube dar ao livro em Lourenço Marques, o prestígio, a dignidade, que o livro merece. A Minerva é, sob sua orientação, um centro de c u l t u r a , em geral, e da cultura lusíada — inclusive a luso-brasileira — em particular.» Lourenço Marques, 18 de Janeiro de 1952

De Philipp Soupault, DELEGADO DA «U.N.E.S.C.O.» : «Je suis heureux de pouvoir feliciter le fondateur et les Directeurs de Minerva Central car j'estime qu'ils ont f a i t depuis 1908 une oeuvre qui merite toute 1'attention. lis ont aidé precisament a repandre la culture dans un pays qui commençait a penser a vivre. Je suis persuade que tous ceux qui considerent que le livre est un des meilleurs moyens d eduquer les hommes et de les rendre meilleurs seraient d'accor avec moi pour leur dire notre admiration.» Lourenço Marques, 24 de M a i o de 1951

Do Doutor Mareei lo Caetano, quando M i n i s t r o das Colónias: «Tive ocasião de verificar o papel que a Minerva Central tem desempenhado na difusão do livro na Colónia — especialmente na expansão do livro português. O que mais aprecio nesta acção benemérita é o largo espírito que a a n i m a , sem a mesquinha preocupação dos grandes lucros imediatos e com o respeito devido àqueles que querem aprender, precisam de se cultivar ou de recrear e não são ricos. É assim que se trabalha.» Lourenço Marques, 30 de Agosto de 1945

Aspecto do edifício da «MINERVA CENTRAL»

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' P R O T A L " — PRODUTOS ALIMENTARES, LDA. COMO

NASCEU

A

"PROTAL"

Em 1963/ três dos mais importantes firmas locais, com uma notável contribuição válida já prestada para o desenvolvimento industrial de Moçambique — F. DICCA, LDA, SIPAQ (COMERCIAL), LDA. e V I T Ó R I A , LDA. — resolveram associar-se para que, de esforços combinados, resultassem maiores perspectivas para uma indútsria de lacticínios à escala nacional. Foi assim que, dessa associação de boa vontade, nasceu a PROTAL (Produtos A l i m e n tares, Lda.) com probabilidades mais amplas e o objectivo firme de melhor servir e valorizar a economia de Moçambique.

Desenho do aspecto geral do complexo fabril da PROTAL

Uma vez estruturados os destinos da nova indústria de fabrico, preparação e transformação de manteigas e queijos, no que respeita à produção própria, sua composição e valores de consumo, a PROTAL iniciou imediatamente a sua actividade de relevante interesse económico para a colectividade, sob os mais promissores auspícios.

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A PROTAL — unidade f a b r i l , feita nos mais modernos moldes da técnica moderna, sem paralelo na Metrópole, e de elevado custo de instalação — é o produto de uma já longa experiência no meio da indústria manufactureira local, para a consecução da qual se contou, desde o início, com uma vasta gama de estudos e conhecimentos técnicos adquiridos à luz de princípios que se enunciaram e exemplificaram, e que, cada f i r m a associada trouxe para a nova unidade criada. E ninguém poderá negar — basta fazer uma visita à unidade fabril para o confirmar — que se fez um esforço notável de industrialização com a PROTAL em ocasião oportuna, em que os empreendimentos fabris deixaram de situar-se em Moçambique, nos limites do individual, para entrarem nos domínios dos grandes trabalhos de conjunto. A experiência combinada da especialização em indústria de frio e de conservação de alimentos e de produtos químicos de base de aplicação alimentar, além de outras, contribuiu decisivamente para que a PROTAL se tornasse, bem cedo, numa nova unidade de alto merecimento no espaço nacional.

Laboratório da Fábrica

O planejamento desta importante unidade fabril está, por sua vez, estudado por forma a acompanhar, intensamente, o programa económico de desenvolvimento, que se vem processando aceleradamente, de há anos a esta parte, nesta Província, procurando realizar uma obra que nos tem orgulhado. O elevado grau de industrialização atingido já pela PROTAL, em curto espaço de tempo, p e r m i t i u a esta organização lançar-se a outra arrojada iniciativa — o fabrico em Lourenço Marques, de leite condensado. Para a inteira satisfação a padrão internacional, a PROTAL foi buscar a técnica especializada que lhe f a l t a v a , recorrendo àquela que, mundialmente, é reconhecida como a mais perfeita — a técnica holandesa. A COOPERATIVE CONDENSFABRIEK «FRIESLAND», de Leewarden, Holanda, que se associou à PROTAL, LDA., é um dos maiores fabricantes mundiais de lacticínios. Essa associação teve por objectivo principal e imediato o fabrico, em Lourenço Marques, de leite condensado da sua patente, que goza de justificado alto prestígio no campo da indústria mundial do género. A poderosa organização industrial holandesa trouxe para Moçambique, deste modo, além do investimento de elevadas somas de c a p i t a l , a contribuição inestimável da sua técnica no fabrico de toda a linha de lacticínios.

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A COOPERATIVE CONDENSFABRIEK «FRIESLAND» resultou, por sua vez, da associação livre de cerca de vinte mil criadores de gado das zonas mais ricas da produção do gado leiteiro do M u n d o — a província de Friesland, na Ho'anda, que deu o seu nome à raça especial, assim denominada na pecuária internacional. A organização m a n t é m , além de Cooperativas associadas — de produção de queijo, man T teiga, leite condensado, leite em pó, etc. — um Banco associado, de sólida garantia financeira, para transacções e investimentos, e outras operações bancárias de rotina.

Um aspecto 6a laboração

Da produção mundial de leite condensado, quarenta por cento cabe à Holanda, sendo a «C.C.F.» responsável por sessenta por cento da produção holandesa. E é assim, com sólida confiança no f u t u r o e o apoio firme encontrado por parte do consumidor, que t a n t o tem estimulado a iniciativa, que a PROTAL caminha para a realização plena da sua obra, contribuindo para a valorização e progresso de M o ç a m b i q u e ! Uma organização pioneira, que ontem era uma promessa, e hoje é uma realidade!

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JÚLIO GOMES FERREIRA

Júlio Gomes Ferreira nasceu na Freguesia de Lama, Concelho de Barcelos, região de Port u g a l , onde o Artesanato e a Olaria estão rica e largamente difundidas. De espírito empreendedor, emigrou m u i t o jovem para o Brasil, no no de 1920, onde procurou todas as oportunidades para adquirir uma maior instrução, pois iniciara a sua vida tendo, apenas, a Instrução Primária. Na ânsia de adquirir mais conhecimentos, dedicava todo o seu tempo disponível à leitura, conseguindo assim, uma cultura que lhe abriu novos horizontes espirituais. Igualmente procurou aperfeiçoar-se na A r t e de Ceramista, que era a sua profissão. No Brasil constituiu f a m í l i a , casando com uma jovem de Belo Horizonte, D. Rosa Benvenuta, em 1926. Em fins desse ano regressa a Portugal, com o f i m de vir fixar-se em Moçambique onde t i n h a um irmão, José Avelino Gomes Ferreira, que dirigia a Secção de Olaria na Missão Católica de São Jerónimo de M a g u d e , no Sul do Save, que o convidara para vir trabalhar nessa Missão como seu auxiliar.

O Governador-Geral, Comandante Gabriel Teixeira, durante uma visita à Fábrica, junto de Júlio Gomes Ferreira

Júlio Gomes Ferreira chegou a Moçambique em 8 de Fevereiro de 1927, com a idade de 24 anos. Manteve-se seis anos na Missão de São Jerónimo. A l g u m tempo depois de ter saído da Missão, iniciava a sua actividade industrial, começando por uma pequena Fábrica de Olaria — que teve início em Agosto de 1 9 3 3 — q u e foi sucessivamente aumentando, até ocupar hoje um lugar de relevo na Indústria Moçambicana.

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A sua Fábrica chegou a atingir uma produção m u i t o grande, na parte de Olaria, exportando largamente para a Á f r i c a do Sul e outros países vizinhos, onde as suas cerâmicas eram m u i t o apreciadas e se tornaram famosas. Esse apogeu foi atingido no período da segunda Grande Guerra. Desde que se tornaram conhecidas as cerâmicas de Júlio Gomes Ferreira, que a Fábrica passou a ser m u i t o visitada por turistas, atingindo essas visitas anuais, entre sete a oito mil pessoas. Por estes números se avalia do interesse despertado pelos trabalhos executados pelas mãos de A r t i s t a de Júlio Gomes Ferreira. Por sua vez, esses turistas também adquiriam objectos, que constituíam lembranças que serviam de ofertas. Os visitantes estrangeiros continuam a a f l u i r em grande número pois a Fábrica há m u i t o que se tornou conhecida e famosa pelas suas cerâmicas m u i t o apreciadas além-fronteiras. Alguns anos após ter inaugurado a sua Fábrica, Júlio Gomes Ferreira, sempre no ânsia de progredir, enriquecendo a economia da Província, criou uma secção dedicada à Construção Civil, fabricando telha para cobertura de casas — que nesse tempo, normalmente, eram cobertas de zinco — e mais tarde, lançou o fabrico de manilhas de grés, também para a Construção C i v i l , que até então era importado da Á f r i c a do Sul e da Bélgica. A Fábrica, na a c t u a l i dade, produz outros géneros de cerâmicas para a Construção Civil, a qual se dedica em grande escala, presentemente, pois a sua expansão estende-se até aos mercados dos países vizinhos de Moçambique. A Fábrica de Cerâmica de Júlio Gomes Ferreira foi a pioneira desta indústria, atingido a sua produção anual o valor de cerca de três mil contos. A Fábrica emprega matérias-primas nacionais no valor anual de setecentos e cinquenta contos. Importa, anualmente, matérias-primas, no valor de cento e t r i n t a contos. Paga de mão-de-obra anualmente, mil setecentos e cinquenta contos. Emprega cento e dez indígenas e dezassete empregados europeus. Por estes números se avalia o que representa na economia da Província. Para além da sua vida industrial, Júlio Gomes Ferreira tem desempenhado papel relevante nas relações luso-brasileiras, devendo-se a ele a criação do Consulado do Brasil em Lourenço Marques, departamento diplomático que m u i t o fazia sentir a sua f a l t a . Em 1953, Júlio Gomes Ferreira quis deslocar-se ao Brasil com sua esposa para visitar seus familiares e seus amigos, e para obter os «vistos» necessários a essa deslocação, por carência de entidades competentes em M o ç a m b i q u e , a sua obtenção demorou três longos meses, depois de várias «démarches» e trocas de correspondência feitas através do Consulado do Brasil na Á f r i c a do Sul. Já no Brasil, Júlio Gomes Ferreira queixou-se dessa f a l t a de uma entidade brasileira em território moçambicano, ao Dr. Júlio Pinto Gualberto, Presidente da Academia Belo Horizontina de Letras, e falando da necessidade urgente da criação de um Consulado em Lourenço Marques. Este ilustre brasileiro providenciou sobre o assunto, e assim, a 3 de Outubro de 1953, é criado o Consulado do Brasil em Lourenço Marques, por decreto do Presidente Getúlio Vargas, sendo nomeado Cônsul Honorário do Brasil em Moçambique, Júlio Gomes Ferreira, que exerceu o cargo até 31 de Dezembro de 1 9 6 1 , altura em que foi criado o Consulado-Geral, vindo ocupar o lugar um diplomata brasileiro, de carreira. A Academia Belo-Horizonte de Letras, nomeou Júlio Gomes Ferreira M e m b r o Correspondente, tendo sido, t a m b é m , agraciado com a Medalha de Ouro daquela instituição brasileira, pelos serviços prestados desinteressadamente ao Brasil para um maior intercâmbio cultural luso-brasileiro. É Correspondente em Moçambioue, do Jornal «A V O Z DE PORTUGAL», do Rio de Janeiro, bem como Sócio Correspondente do I n s t i t u t o Histórico e Geográfico de Belo-Horizonte, Minas Gerais. Desenvolvendo sempre uma benéfica e progressiva actividade c u l t u r a l , em prol do intercâmbio luso-brasileiro, Júlio Gomes Ferreira, solicitou que fosse criada uma Secção de Estudos Brasileiros na Sociedade de Estudos de Moçambique, e que por sua iniciativa se inaugurou em 2 de Novembro de 1956. A l é m de Sócio da Sociedade de Estudos, é o Presidente da Secção de Estudos Brasileiros, e desempenha, também o cargo de Tesoureiro da Direcção da Sociedade de Estudos de M o ç a m bique. Quando Júlio Gomes Ferreira convidou o Cônsul-Geral do Brasil, em Lourenço Marques, Dr. A y r t o n Dinis, a visitar as novas instalações da Sociedade de Estudos de Moçambique, e especialmente, a «SALA BRASIL», que foi cedida para a Secção de Estudos Brasileiros, usando da palavra, Júlio Gomes Ferreira, a i f r m o u :

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— «A Sociedade de Estudos de Moçambique, fundada em 7 de Setembro de 1930, por um grupo de entusiastas em prol do progresso social e cultural de Moçambique, teve como p r i mordial obreiro, o Sr. Eng.° A n t ó n i o Joaquim de Freitas que, persistente e confiante, viu a sua ideia vingar e f r u t i f i c a r , embora houvesse de início certas dúvidas a tal respeito. Mas, felizmente, a obra singrou e está à vista nesta grande realização. Entre as várias Secções existentes no seu seio, conta-se a Secção de Estudos Brasileiros que foi criada por proposta minha, em 2 de Novembro de 1956. Pode-se a f i r m a r que foi desde então que se começou a desenvolver de forma saliente o intercâmbio cultural entre Moçambique e o Brasil. Neste estreitamento de mais íntimas relações é que foram nomeados sócios correspondentes da nossa Sociedade os Exmos. Srs. Drs. Salomão de Vasconcelos e Roberto Pereira de Vasconcelos, Copérnico Pinto Coelho, membros do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e o Dr. Júlio Pinto Gualberto, Presidente da Academia Belo-Horizontina de Letras e ainda o muito conhecido homem de Letras, Prof. Dr. George Agostinho da Silva. E há bem pouco tempo outro ilustre brasileiro, o distinto jornalista Dr. Alves Pinheiro, foi igualmente nomeado e por unanimidade, Sócio Correspondente da nossa Sociedade. E entre os de cá também foram nomeados Sócios Correspondentes do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, os confrades Drs. A n t ó n i o Esquivei, Cónego Jerónimo de Alcântara Guerreiro, Eng.° Manuel Pimentel dos Santos e a minha modesta pessoa, que ainda foi honrada com a nomeação de Sócio Correspondente da Academia Belo-Horizontina de Letras. A nossa biblioteca, a partir de então, viu-se enriquecida com variada e valiosa literatura brasileira. No entanto, é de toda a conveniência que este intercâmbio se avive e se f o r t a leça cada vez mais. T a n t o eu como os demais membros desta Secção gostaríamos que a «Sala» fosse apetrechada condignamente, na sua decoração e mobiliário, de forma a traduzir um ambiente e estilo tipicamente brasileiros. Para os nossos irmãos brasileiros que por aqui passassem e viessem visitar a «SALA DO BRASIL», sentir-se-iam como que em sua casa. Para nós, os de cá, ter-se-ia a ideia do progresso e grandeza do Brasil. Mas, para que tal desejo se materialize, eu ouso d i r i gir a V. Exa. um apelo solicitando o seu valioso apoio para a diligência já encetada nesse sentido, pois estou certo de que o Governo Brasileiro não deixará de dar o seu contributo. Estou certo de que não será em vão o desejo que nos anima e a confiança que nos alenta. Sabemos, Sr. Cônsul, que V. Exa., embora esteja há pouco menos de um mês em Lourenço Marques, já grangeou muitas simpatias, o que aliás outra coisa não era de esperar, visto que já em Lisboa criou um ambiente de muitas amizades e simpatias, pelo seu f i n o t r a t o e lhaneza de maneiras, predicados que V. Exa. reúne e com os quais, estou certo, conquistará entre nós a amizade e o carinho de que é merecedor. Ao terminar esta singela e despretenciosa saudação, desejo mais uma vez, expressar a V. Exa. os votos que formulo pelo maior fortalecimento das relações luso-brasileiras em terras de Moçambique, onde o elo da língua e da religião mais nos estreitam. Para finalizar desejo agradecer à actual Direcção desta Sociedade e às Direcções anteriores por todo o carinho que dispensaram às minhas diligências em prol do estreitamento dos laços fraternos luso-brasileiros, pois sempre me a n i m a r a m , não esquecendo a Imprensa e a Rádio que igualmente me apoiaram nesta cruzada de aproximação. Para todos vai o meu m u i t o obrigado.» Continuando a dar o seu contributo noutros sectores, Júlio Gomes Ferreira foi directivo da Associação Comercial e é Vogal da Junta Distrital do Sul do Save.

Membro

Na sucessão das suas actividades industriais, Júlio Gomes Ferreira, tem em seu f i l h o , Aurélio Gomes Ferreira, o seu melhor colaborador, que será o continuador da obra de pioneiro, de homem de acção, progressivo, patriota e íntegro que é seu Pai. Cremos que tudo quanto atrás fica d i t o , é suficientemente elucidativo da obra pioneira de um português, que a juntar a tantos outros de rija têmpera, fizeram desta parcela de Portugal, a bela e florescente terra que é hoje, sem dúvida, a Província de Moçambique.

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EMPRESA DAS AGUAS DE MONTEMOR (NAMAACHA) S.A.R.L.

Vista geral da Fábrica C A N A D Á DRY, na N A M A A C H A

A Empresa das Águas de M o n t e m o r foi fundada em 7 de Setembro de 1944, com a den< mi nação de «Fonte de Montemor Lda.», com o capital de quatrocentos e vinte e cinco conto dividido em quatro quotas pertencentes a Dr. Maurício Luís Neves, Eurico M a r i n h a de Can pos e Dr. Jaime Luís Neves e Luz da Aurora Neves. Em 21 de A b r i l de 1948, o seu pacto social foi alterado, passando a denominar-se, «En presa das Águas de M o n t e m o r (Namaacha) Lda.», a d m i t i n d o novos sócios, e aumentando o se capital para quatro mil e quinhentos contos.


Em 17 de Outubro de 1950, a Empresa elevou o seu capital para nove mil contos, e em 17-1-1952, por nova escritura, transformou-se em Sociedade A n ó n i m a , elevando o seu capital para doze mil quinhentos e dez contos, e em 20 de Fevereiro do mesmo ano, em t r i n t a e cinco mil contos. O Conselho de Administração, com exercício até 31 de Dezembro de 1966, era composto pelos seguintes administradores : Carlos Theodoro M a r t i n s , Presidente; Eng.° Aníbal da Ascensão Rodrigues V a l e n t e , em representação da f i r m a P. Santos Gil Cr Ca., Lda.; Eurico M a r i n h a de Campos, em representação da Sociedade Civil da Quinta de M o n t e m o r ; João Marques Negrão; D i . Inácio Bragança; José Diogo de Mascarenhas Gaivão e Manuel Nunes. Administrador-delegado : Eurico M a r i n h a de Campos. Esta Empresa constituiu-se para explorar uma nascente de Água de Mesa, m u i t o boa e bacteriològicamente pura, situada na povoação da Namaacha, no local denominado « M o n t e mor», propriedade do velho pioneiro, A m a d e u Luís Neves. A Empresa começou por explorar a água no estado natural e gazificado, e mais tarde, enveredou pelo fabrico de refrigerantes de renome m u n d i a l , a marca «Canada Dry» e também, do refrigerante de fama m u n d i a l , «Pepsi Cola». Esta Empresa foi a pioneira em todo o território português, na modernização da indústria de refrigerantes. A Empresa tem o seu estabelecimento industrial na Namaacha e Sede em Lourenço Marques, sendo ainda associada de «A Distribuidora, Lda.», «Fábrica de Refrigerantes de Gaza, Lda.», «Fábrica de Cerveja da Beira, Lda.», e «União Fabril de Refrigerantes, Lda.», com fábricas em Quelimane e Nampula. Para se avaliar da extensão e grandeza desta f i r m a , refere-se que, os capitais investidos pelo Balanço de 1963 eram na importância de quarenta e quatro mil contos, todos de origem moçambicana, através de quatrocentos e setenta e um accionistas. A capacidade de produção da Fábrica da Namaacha, é de dois milhões e quinhentos mil litros anuais, de refrigerantes e sodas. O processo de fabrico é todo mecânico e do mais moderno, assim como a pasteurização dos xaropes, tratando-se de águas e esterilização de vazilhame. A m a t é r i a - p r i m a importada é apenas as dos extractos, que representa cerca de dez por cento do custo do produto. As restantes matérias-primas são de origem nacional, e na sua maioria de produção moçambicana, (gás carbónico, açúcar, cápsulas, garrafas, caixas de madeira, etc. A mão-de-obra utilizada é toda portuguesa e composta por dezassete empregados nos Serviços de Administração, Fabrico e Transporte, e ainda, cinquenta e dois auxiliares africanos. A posição, perante o mercado interno, é bastante satisfatória e a sua produção é toda consumida no mercado da Província. A comercialização dos produtos é feita através de uma organização comercial, denominada «A Distribuidora Lda.», sendo f e i t a por meio de venda directa, distribuidores e Agentes. Eis a traços largos, a biografia de uma f i r m a que m u i t o tem contribuído para o progresso da Indústria moçambicana.

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ANTÓNIO AUGUSTO GEMELGO

A n t ó n i o Augusto Gemelgo, natural de Macedo de Cavaleiros, Província de Trás-os-Montes, de largas tradições espirituais, onde a sua gente é rude como as serranias, mas albergando no coração, as nobres tradições da gente lusa. A n t ó n i o Augusto Gemelgo, veio para Moçambique m u i t o jovem, com 25 anos, em busca de melhores condições de vida, chegando à Província em 1944. A sua intenção, era fixar-se e progredir, pois grandes eram os seus anseios e sonhos. Iniciou a sua vida de trabalho, empregando-se em empresas dedicadas à mecânica, prestando a sua colaboração em mais que uma, durante os primeiros dos anos e meio de estada na Província. Após esse tempo, estabeleceu-se sem sócios, no ramo automóvel, em 1948, mantendo-se nessa actividade até 1954. É nesse ano, que o seu sonho de expansão começa a concretizar-se. A n t ó n i o A u g u s t o Gemelgo estabelece-se,montando uma Fábrica para produzir material agrícola, carrocerias, atrelados, mobiliário de aço e embalagens metálicas. Neste género de indústria, foi ele o pioneiro. A organização é, igualmente, por ele orientada, e foi-lhe dado o nome da « M A Q U I N A G .

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A primeira Fábrica, teve início em Lourenço Marques, tendo sido transferida mais tarde, em 1960, para a M A C H A V A , povoação a 10 quilómetros da cidade, onde as várias dependências da Fábrica poderiam ter as condições necessárias à sua constante expansão. A c t u a l m e n t e , a « M A Q U I N A G » divide-se em quatro edifícios, tendo construído em terrenos próprios, a maior unidade f a b r i l , com todos os requesitos modernos, de modo a bem servir o f i m a que se destina. Sempre em contínuo progresso e crescimento, a « M A Q U I N A G » exporta para a Província de Angola material agrícola e mobiliário metálico, assim como para os mercados estrangeiros vizinhos, do M A L A W I e da S U A Z I L Â N D I A . Em 1957, a « M A Q U I N A G » iniciou a sua produção com doze empregados, e hoje, tem mais de quinhentos, entre europeus e indígenas. Para se avaliar do valor económico desta organização industrial, basta dizer que foi despendido em compra de matérias-primas nacionais, só no ano de 1964, cinco mil seiscentos e setenta e três contos. As vendas, no mesmo ano, a t i n g i r a m a cifra de quase vinte mil contos, e os vencimentos, tGmbém em 1964, a t i n g i r a m cerca de quatro mil e quinhentos contos. A Fábrica tem vindo sempre a aumentar, de ano para ano, a sua produção, numa demonstração de progressiva vitalidade, a enriquecer a economia da Província. À tenacidade e esforço de A n t ó n i o A u g u s t o Gemelgo, fica-se a dever esta iniciativa de vasto alcance económico. Graças ao esforço dos seus pioneiros, Moçambique vai procurando criar as suas indústrias para prover às suas necessidades, e d i m i n u i r as suas importações.

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Laboratório da Fábrica

MANUEL NUNES M A N U E L NUNES nasceu na Metrópole, sendo natural da Freguesia de Fânzeres, próximo da cidade do Porto. Com a idade de vinte e seis anos, chegou a Moçambique, em Fevereiro de 1922, trazendo consigo abundância de esperanças e o desejo de vencer ! Dinheiro pouco t r a z i a . Porém, a sua maneira de ser inspirava confiança, e por isso, com a ajuda de alguns amigos, estabeleceu-se, fixando-se então na V i l a de Inhambane, aí permanecendo durante t r i n t a anos! Durante todos esses anos foi estendendo a sua actividade e associando-se a outros empreendimentos de v u l t o , na Província. O seu estabelecimento de Inhambane dedicava-se ao Comércio Geral — que ainda hoje existe e continua no mesmo ramo de negócio — do qual são sócios sua esposa e alguns filhos. A Firma denomina-se, M A N U E L NUNES, LDA. Na actualidade, o pioneiro Manuel Nunes, tem a Sede de todas as suas actividades em Lourenço Marques, para onde veio residir em 1 9 5 1 . Entre as Indústrias e Organizações a que se ligou, contam-se a do C H Á , estando associado a quatro PLANTAÇÕES DE C H Á na Circunscrição do GÚRUÈ e do LUGELA. M A N U E L NUNES, despendeu durante todos estes anos de permanência na Província — até ao presente, mais de quarenta anos — uma extraordinária actividade, o que o tornou uma figura de relevo no Comércio e na Indústria. O seu nome está ligado a várias grandes Organizações moçambicanas, das quais destacamos :

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"THE DELAGOA BAY LANDS SYNDICATE, LTD. — JOHANNESBURG EMPRESA MINEIRA DO ALTO LIGONHA — LOURENÇO MARQUES EMPRESA DAS ÁGUAS DE MONTEMOR—LOURENÇO MARQUES MANUEL NUNES, LDA. — INHAMBANE; MANUEL NUNES, LDA — M A X I X E MANUEL NUNES, LDA. — JOÃO B E L O — ; MANUEL NUNES, LDA. — QUELIMANE MANUEL NUNES, L D A . — V I L A JUNQUEIRO — M A N U E L NUNES, LDA. — L. MARQUES FARMÁCIA COLONIAL— LOURENÇO MARQUES CARVALHO, COELHO & SOUSA, LDA. EMPRESA DE MADEIRAS DO ULTRAMAR, LDA. EMPRESA INDUSTRIAL DE CONTRAPLACADOS COMPANHIA GERAL DO FOMENTO, LDA. COMPANHIA INDUSTRIAL ALGODOEIRA, LDA. COMPANHIA DOS TRANSPORTES DE MOÇAMBIQUE — M A T O L A SOCIEDADE CONSTRUTORA DE SERRALHARIA— MATOLA MECÂNICA, L D A . — (INDÚSTRIAS INÇAR) METI LI LE AGRÍCOLA, LDA. CHÁ METI LI LE, LDA. CHÁ MOÇAMBIQUE, LDA. CHÁ GÚRUÈ, LDA. CHÁ TACUANE, LDA. Por esta breve resenha de Firmas, se avalia da enorme e vasta actividade que Manuel Nunes tem desenvolvido e continua a desenvolver, com a mesma eficiência de sempre, e já numa altura da vida, em que bem podia e devia, ter uma existência mais sossegada, menos activa, como tem sido sempre a sua vida de autêntico "BUSINESSMAN"! Manuel Nunes possui a Comenda da Ordem de Santa Eulália, dada pelo Rei da Noruega. Da sua prodigiosa actividade, muito tem beneficiado a Província de Moçambique, que hoje lhe é tão querida como a terra que o viu nascer!

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FÁBRICA NACIONAL DE MOAGEM E MASSAS ALIMENTÍCIAS, LDA. A FÁBRICA N A C I O N A L DE M O A G E M E MASSAS A L I M E N T Í C I A S , fundada em Lourenço Marques, em 1925, é uma organização pioneira. Foram seus fundadores alguns pioneiros, cujos nomes estão desde há m u i t o ligados a Moçambique, pelo contributo dado ao progresso da Província, e são: Paulino Santos Gil, G. B. Buccelatto e Costa e Cordeiro, sendo constituída em regime de Sociedade A n ó n i m a . Em 1927, a Fábrica foi tomada pelo Banco Nacional Ultramarino, que a alugou a uma Sociedade constituída por: Osman Abobakar, Dr. Justino de A b r e u , o cidadão italiano, Giuseppe Giuste, Jorge Cadete, e ainda por um cidadão sul-africano. Com esta Sociedade, a Fábrica laborou a t é fins de 1929. Nessa data passou, por compra ao Banco Nacional U l t r a m a r i n o , para outra Sociedade, constituída por outros pioneiros: José Teixeira Catarino, Manuel Teixeira Cat a r i n o , A n t ó n i o Vicente Pinheiro e Manuel Ferreira dos Santos, já falecidos. As suas quotas t r a n s i t a r a m para os respectivos herdeiros, que são os actuais proprietários e administradores da Fábrica. Encontram-se à frente da Organização, e são seus principais Administradores, Alcino V i cente Pinheiro e Hermes Petiz. Na actualidade, a Fábrica produz Massas Alimentícias e várias qualidades de farinha de M i l h o para variados fins. A sua capacidade de produção anual pode atingir as seiscentas toneladas de Massas Alimentícias e nove mil toneladas de Farinha de M i l h o .

Fachada da primeira fábrica de Massas Alimentícias de Lourenço Marques

A Fábrica abastece Moçambique e exporta para A n g o l a , Timor, São Tomé, Madeira e Portugal C o n t i n e n t a l . Esta Organização industrial pioneira, honra a indústria moçambicana, e m u i t o tem contribuído para o progresso da Província. A Fábrica Nacional de Moagem e Massas Alimentícias foi galardoada em várias exposições, pela superior qualidade dos seus produtos e apresentação, possuindo as seguintes Medalhas: " M e d a l h a de O u r o " da Exposição Internacional de Paris, em 1 9 3 1 ; " M e d a l h a de O u r o " p " M e d a l h a de P r a t a " da Grande Exposição Industrial Portuguesa de Lisboa, em 1932; e " G r a n de P r é m i o " na Exposição Colonial Portuguesa, efectuada no Porto, em 1933. Eis a traços largos, a história desta Organização industrial moçambicana, que a enriquece e valoriza.

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"SIPAQ" — SOCIEDADE INDUSTRIAL DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS QUÍMICOS LDA.

EDIFÍCIO DA «SIPAQ»

Esta importante Firma moçambicana, pioneira do fabrico de Fermentos, Lacticínios e seus derivados, foi iniciada pelo Pioneiro de nacionalidade grega, M a n u e l Macropulos, que veio da Grécia para a Província de Moçambique no ano de 1926, fixando-se de início, no Distrito de Inhambane. M a n u e l Macropulos, estendendo e progredindo as suas actividades faz hoje J parte de varias Organizações industriais moçambicanas. A " S i p a q " - denominação abreviada da Firma — é constituída por uma Fábrica que produz Fermentos para panificaçao, culinária e pastelaria, de que é abastecedora da Província Os seus Fermentos são frescos, prensados e secos, possuindo frigoríficos para armazenar produtos frescos. Esta Fabrica foi inaugurada em 20 de Agosto de 1940. Os seus fundadores foram Manuel Macropulos, Joaquim Gouveia P i n t o — já falecido — e pelo Dr. Zacarias Falas formado em Quimica pela Universidade de Viena de Á u s t r i a . Com o falecimento de Joaquim Gouveia Pinto, ficaram como sócios únicos da Firma, Manuel Macropolus e o Dr. Zacarias Falas. Em 1962, a " S i p a q " iniciou a Indústria do Queijo F u n d i d o — a ela se ficando a dever tombém mais uma iniciativa de a l t o interesse e valor económico : a de produzir manteigas Leite Condensado e outros produtos lacticínios. A «Sipaq», é ainda exportadora em larga escala de produtos alimentares. Continuando a sua acção expansiva, a «Sipaq» pediu e obteve uma autorização para instalar na progressiva cidade do Lobito - na Província de A n g o l a - uma fabrica de fermentos secos, que servirá para abastecer aquela Província e para exportação.

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JUSTO MENEZES

Fachada do Edifício da Empresa

Justo Menezes é um metropolitano ligado a grandes realizações efectuadas na Província de Moçambique. Justo Menezes iniciou a sua vida industrial, há t r i n t a anos, em Lisboa. Dinâmico e persistente, aliado a uma inteligência viva, não lhe foi d i f í c i l , graças a essas qualidades, a sua vida ser sempre ascensional, guindando-o a pontos altos da sua indústria. Justo Menezes, iniciou há 17 anos, as suas actividades industriais em Moçambique, fazendo a electrificação do Grande Hotel da Beira. A i n d a naquela cidade, fez a electrificação do Banco Nacional U l t r a m a r i n o e o Cinema S. Jorge. Mais tarde, em Lourenço Marques, foi a sua Organização que fez a instalação da Rede de Corrente A l t e r n a , com distribuição de Corrente A l t a e Baixa Tensão, em toda a cidade, cuja obra, pelo seu grande volume, foi até hoje, a maior obra eléctrica executada, t a n t o em Portugal Continental como U l t r a m a r i n o , no valor de 180 mil contos. T a m b é m foram obra da Organização industrial de Justo Menezes, a electrificação dos Campos de Aviação de Lourenço Marques e Beira, bem como do novo Edifício do Banco Nacional U l t r a m a r i n o , em Lourenço Marques. A l é m destas, muitas outras obras foram executadas, embora de menos v u l t o , pela sua Organização. As instalações industriais de Justo Menezes, em Lourenço Marques, construídas dentro da cidade, ocupam uma área de 18 mil metros quadrados, sendo a área coberta, com a extensão de 12 mil metros. A l i se concentram: a fábrica, material eléctrico; a secção de anúncios L u m i nosos; armazéns e escritórios, construídos nos moldes mais modernos. A Organização Justo Menezes tem executado obras eléctricas em todas as Províncias U l tramarinas, apenas com excepção de Timor e M a c a u . Igualmente tem executado obras em Portugal insular. Em Lisboa, na área da Pontinha, estão instaladas as suas organizações fabris. Eis a traços largos, a biografia de Justo Menezes, progresso de Moçambique.

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que

tem

dado

largo

contributo ao


HOTEL POLANA O

PRIMEIRO

DA

CIDADE

DE

LOURENÇO

MARQUES

O HOTEL P O L A N A — inconfundível marco de turismo da cidade — tem uma história interessante, a que estão ligados alguns nomes grandes dos que ajudaram a civilizar esta parcela da terra portuguesa e, t a m b é m , de alguns que a bem governaram. À realização desta obra estão ligados nomes ilustres de pessoas há m u i t o desaparecidas, e que, por sua vez, ocupam lugar de relevo na História de Lourenço Marques, e, portanto, da Província de Moçambique. O primeiro nome a figurar, vem o do Coronel de Engenharia, JOÃO A L E X A N D R E LOPES G A L V Ã O — M e m b r o Superior da Sociedade de Geografia de Lisboa. O Engenheiro Lopes Galvão — que foi Inspector Superior das Obras Públicas — exercia em 1917, em Lourenço Marques, o cargo de Inspector Provincial de Obras Públicas e era Vogal do Conselho de Turismo, onde pontificava o C O M A N D A N T E AUGUSTO CARDOSO, dono do HOTEL CARDOSO.

Vista aérea do Hotel Polana

De variadíssimas insistências para que o Conselho tratasse de arranjar para Lourenço Marques, um hotel decente, feitas pelo Coronel Engenheiro Lopes Galvão — ele cita o seguinte: «Cheguei à conclusão de que o assunto não interessava ao Conselho. Apareceu-me nessa altura o A D R I A N O M A I A — comerciante categorizado dessa época — que me disse que os seus amigos do Transval estavam dispostos a fazer um grande hotel em Lourenço Marques, em determinadas condições. Ouvi-o, ouvi as condições, que me pareceram aceitáveis, e levei o caso ao conhecimento do General M A S S A N O DE A M O R I M . Este achou bem e autorizou-me a negociar.»

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Dos contactos estabelecidos entre o Engenheiro LOPES G A L V Ã O e o comerciante A D R I A N O M A I A , resultou que os capitalistas transvalianos interessados no assunto, se deslocaram a Lourenço Marques, a apresentar directamente à entidade competente as suas propostas. Daí chegou a um acordo entre o Governo e a «DELAGOA BAY LANDS S I N D I C A T E » , em Julho de 1918, para a construção do Hotel Polana. Levantou-se, em seguida, enorme a g i t a ção por parte daqueles que se consideravam mais lesados pela construção do novo hotel. Estava neste caso o Comandante Cardoso — dono do Hotel que tem o seu nome — fazendo publicar um «manifesto patriótico» ao povo de Lourenço Marques, protestando veementemente contra a construção do Hotel. O General Massano de A m o r i m , encontrava-se nessa altura no Norte da Província, quando lhe fizeram ciente da campanha movida, o que lhe fez ter uma frase brusca com a qual pôs termo a tcda essa trapalhada. E o hotel fez-se! No contrato ficou estipulado um mínimo de 100 quartos. O Governo, por sua vez, garant i a o juro de seis por cento do capital a despender com a construção e mobiliário do Hotel e comprometia-se, ainda, a macadamizar a estrada que deveria servir o Hotel — hoje a Avenida A n t ó n i o E n e s — e «empregar os necessários esforços no sentido de conseguir da Companhia Concessionária a expansão da Linha dos «Tramways» eléctricos, até àquele local. Era estabelecida a cláusula de não poder durante os primeiros dez anos construir-se qualauer outro hotel na área da Polana. Nessa altura o custo do Hotel Polana estava avaliado em cinquenta mil libras. A inauguração do Hotel Polana efectucu-se no dia 1 de Julho de 1922, tendo sido um acontecimento de grande relevo na vida da cidade. Esta grande iniciativa ficou a dever-se, em grande parte ao Coronel Lopes Galvão e ao Governador-Geral de Moçambique, Massano de A m o r i m . A assinalar data tão festiva, a «DELAGOA BAY LANDS S I N C I D A T E » , ofereceu nesse dia um almoço a 131 convidados de honra, na Sala de Jantar do novo H o t e l , a que assistiu o A l t o Comissário Brito Camacho, entre outras individualidades. Aos brindes, Leão Cohen, que representava a f i r m a construtora, disse em determinada a l t u r a do seu discurso — onde o magno problerncrtlo Turismo já começava a aflorar — o seguinte: «Sr. A l t o Comissário, estou convencido que com outros diplomas por V. Ex.a já referendados, e com a abertura deste H o t e l , o aumento de forasteiros será sucessivo, o que virá a dar uma nova vida a esta cidade e ao seu comércio, assim como um aumento das receitas públicas, e trago a exemplo a cidade de Durban, cujas receitas municipais em 1906 se achavam bem precárias, quando o seu Mayor, tAr. Hollander, estabeleceu a comissão das praias, que fez a f l u i r àquele porto o turismo do «Hinter Land» e com t a n t o êxito, que os hotéis e casas de hóspedes multiplicaram-se, e as suas receitas, que em 1906 eram de 391 0 0 0 , foram crescendo de tal forma que em 1921 a t i n g i r a m a importante soma de 1 135 000 libras, e as aduaneiras, que em 1907 eram de 863 0 0 0 libras, passaram para 1 537 000 libras em 1920, isto é, t r i p l i c a r a m , e o resultado foi a expansão do seu comércio, das suas indústrias e da riqueza pública, pois o turismo trouxe àquela colónia o mínimo de um milhão de libras anuais de receita para a sua população. Sr. A l t o Comissário e meus Senhores, não vejo razão para que a nossa cidade não venha a compartilhar de f u t u r o , dos mesmos benefícios que auferiu o N a t a l , dotada com as belezas naturais que possui, o melhor porto do Sul de Á f r i c a , cinco rios, qual deles o mais pitoresco e acessível, que desaguam na sua vasta baía, as suas esplêndidas estradas e arredores, e hoje dotado com este magnífico H o t e l , o melhor de toda a Á f r i c a do Sul, com o fomento da Comissão de Turismo e outras medidas acertadas que decerto, V. Exa., Sr. A l t o Comissário, e o Conselho Legislativo adoptarão, m u i t o em breve rivalizará com qualquer cidade ao Sul do Equador. A construção deste Hotel, cujo custo anda m u i t o próximo de 300 000 libras, é das mais perfeitas e modernas e não tem rival nos portos do Sul havendo m u i t o poucos hotéis na Europa que o igualem nas condições em que está montado. Tem ele vida própria para a sua laboração: máquinas geradoras de electricidade e aquecimento, frigorífico, lavandaria eléctrica, fábrica de sodas, telefones e água quente em todos os quartos — e para que tudo seja mais completo — vai fazer colocar o Hotel em comunicação directa com o M u n d o inteiro, abrindo-lhe um serviço permanente de correio e telégrafos. Cabe-me, igualmente, fazer referência ao a r q u i t e c t o , Sr. W A L T E R REI D, e aos construtores, Senhores EAST COAST ENGINIERS, pela bela arquitectura e solidez da construção.»

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A finalizar todos os discursos, levantou-se o A l t o Comissário Brito Camacho, que foi acolhido com uma vibrante e prolongada salva de palmas. A certa altura © f i r m o u : «Tive ocasião de percorrer nos últimos dias uma parte do país vizinho, a União Sul-Africana, e de, não direi invejar, que seria uma sentimento baixo, mas de admirar, que é um sentimento nobre, as improvisações inteligentes que se estão fazendo no País que temos à porta. Constatei especialmente, que o Governo previdente daquele País progressivo, cuida dê desenvolver o turismo. Espera-se a l i , que, de f u t u r o , quem no Europa tiver dinheiro, bom gosto e . . . não enjoar, tenha o prazer especial de visitar a Á f r i c a do Sul». Brito Camacho frisou ainda, «que Lourenço Marques era uma cidade pequena mas com condições geográficas diferentes, clima, sociabilidade, características diferentes. Lourenço Marques sendo Lourenço Marques, era superior a qualquer das outras cidade, do que o seria se fosse uma caricatura do Cabo ou de Durban. Era uma cidade pequena, t i n h a características diferentes, m a s . . . era Lourenço Marques»!

Um aspecto geral do Hotel, vendo-se a piscina e o jardim

Completaram-se j á , para o Hotel Polana, quarenta e sete anos de existência, continuando a ser, o mais belo Hotel da Província, e grandioso em qualquer parte, rodeado de belos jardins, e tendo voltada para a baía a sua magnífica piscina, delícia de quantos por lá passam. O Hotel Polana criou fama em todas as regiões de Á f r i c a , mais próximas da nossa Província, e, t a m b é m , na Europa, falando-se dele como de* um padrão de beleza hoteleira, em Moçambique.

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De 1922 para cá, os grandes acontecimentos citadinos a ele ficaram ligados, ajudando sobremaneira ao desenvolvimento do turismo na capital moçambicana. O u t r o apontamento curioso, relacionado com o Hotel Polana, é que o arquitecto, autor do projecto da fachada, foi o celebrado «SIR» A R T H U R BAKER, que foi autor do grandioso Palácio dos Ministérios, em Pretória a « U N I O N B U I L D I N G S » — q u e t a n t o se orgulha a capital administrativa da vizinha República da Á f r i c a do Sul. Sucessivamente, o Hotel Polana, tem vindo a sofrer beneficiações de forma a modernizar o que se tornava necessário, para bem continuar a servir e a receber, aqueles que aos seus tectos se acolhem. Deste modo, o Hotel Polana, continua a servir condignamente os fins para que foi criado. A c t u a l m e n t e , o Hotel Polana mudou de dono, mas a garantir as tradições da sua fidalga hospitalidade, estará a pessoa do seu Gerente, Armando de M a t o s Ribeiro, técnico de hotelaria e de turismo dos mais competentes, que dará continuidade às altas tradições daquele verdadeiro marco de turismo, de que a cidade, justificadamente, se orgulha.

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AIDA SORGENTINI

A pioneira A i d a Sorgentini nasceu na Aldeia de TREIA, no Litoral A d r i á t i c o , próximo da cidade de A N C O N A , na I T Á L I A . Foi seu marido, o cidadão italiano GIUSEPPE SORGENTINI, o primeiro a pisar a terra moçambicana. Um seu irmão, mais velho, viera fixar-se em Lourenço Marques, e anos depois manda vir o irmão GIUSEPPE, que era, então, m u i t o jovem, pois nem sequer cumprira o serviço militar. A SEPPE serviço mente

sua chegada a Moçambique, pela primeira vez, verificou-se em 1905. Quando G I U SORGENTINI chegou à idade m i l i t a r , teve de regressar à Itália. Uma vez cumprido o m i l i t a r , regressou a Moçambique, onde permaneceu mais dois ou três anos, voltando novaa Itália.

Na sua terra natal é-lhe apresentada por uma sua irmã, uma jovem amiga. Daquele conhecimento resultou uma forte simpatia, que levou Giuseppe e a jovem A i d a , ao casamento. Ela fizera o Curso de Professora do Magistério, t i n h a terminado o ano obrigatório de tirocínio — a que são sujeitos os novos Professores antes de iniciarem a sua vida profissional definitivamente. Pouco depois de se conhecerem, casaram, e a sua viagem de núpcias foi de Itália para Moçambique, onde se vinham fixar. Isto passava-se no ano de 1919, tendo A i d a 25 anos, e Giuseppe, 36. Fixaram-se em Lourenço Marques, onde seu marido t i n h a negócios, e para onde, mais tarde, vieram fixar-se, também outros dois irmãos mais novos de Giuseppe Sorgentini. Alguns anos depois, juntamente com esses dois irmãos, tomaram de trespasse um Hotel — chamado HOTEL CARDOSO — a que tinha sido dado o nome do seu primeiro proprietário, o C O M A N D A N T E CARDOSO. Este, era um velho edifício e existia no mesmo local onde hoje se ergue uma bela e moderna unidade hoteleira, orgulho e prestígio da capital moçambicana!

Vista geral do Hotel Cardoso

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O HOTEL CARDOSO foi trespassado aos irmãos Sorgentini no ano de 1924. Porém, Giuseppe Sorgentini sobreviveu apenas um ano, vindo a falecer em 3 de Outubro de 1925.' A i d a Sorgentino, era nessa época, uma jovem, com 27 anos. Em virtude disso, os cunhados pretenderam mandar para Itália a jovem viúva, fazendo partilhas e alegando que era m u i t o nova para tomar a direcção do Hotel e seus encargos. A verdadeira razão era o u t r a , pois desejavam ficar eles senhores do Hotel. A i d a Sorgentini, no entanto, era uma mulher de ânimo f o r t e , reagindo de forma contrária, pois sabia que se regressasse a Itália teria de sofrer uma readaptação à sua vida de Professora' com evidentes inconvenientes, além de ter a seu cargo dois filhos pequeninos. Fácil lhe foi compreender que teria de lutar pela sua sobrevivência e de seus filhos, e para isso, ela teria de ficar com o Hotel. Após grande luta com seus c u n h a d o s — durou mais de um ano, após a morte do marido — ela conseguiu vencer! Deu aos cunhados a parte que lhes cabia nas partilhas, tomando ela conta do H o t e l , par despacho do T r i b u n a l , que se pronunciiou a seu favor. E a luta continuou, agora de uma outra f o r m a , em que era necessário uma grande economia para solver os encargos! Em 1932 terminava o prazo de arrendamento do Hotel feito aos Sorgentini. Novas d i f i culdades surgiram para a Senhora Sorgentini, pois o Hotel seria vendido e não mais arrendado. Foi então que, pessoa amiga lhe emprestou uma avultada q u a n t i a , necessária para poder adquirir o Hotel. Quando a sua dívida foi saldada, ela compreendeu quanto era necessário modificar aquele velho prédio, e corajosamente, em 1939, poucos meses antes de rebentar a Segunda Grande Guerra, foi começado a deitar abaixo uma das alas do H o t e l , para ser f e i t o em bases sólidas e modernas.

Outro pormenor do Hotel Cardoso

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Em Fevereiro de 1940 é inaugurada a parte nova, ou seja, metade do Hotel. Os hóspedes que existiam transitaram para a parte nova, e logo no dia seguinte, os martelos começaram a derrubar a outra metade velha. No f i m de 1941 a segunda parte do Hotel era concluída. Quem fez o projecto do novo Hotel foi um italiano, de nome G a d i n i — q u e estudara A r q u i t e c t u r a — e que fizera o projecto do Clube Naval de Lourenço Marques. O novo Hotel levou fundações, de modo a poder levar vários andares. da sua renovação, apenas ficou c o m u m piso — o rés-do-chão.

Na primeira fase

A terceira fase de construção foi iniciada em 1948, em que foram construídos quatro a n dares e um quinto andar, somente no vértice do edifício, onde foi construído o Restaurante e Boite, servindo as duas modalidades simultaneamente. Daí se disfruta um panorama maravilhoso sobre a cidade e a sua extensa baía. Esta ú l t i m a fase foi inaugurada em Agosto de 1965. A Senhora Sorgentino conservou o antigo nome do HOTEL CARDOSO, pela simpatia e respeito que lhe merecia esse velho m i l i t a r das Campanhas de pacificação, que era o C O M A N D A N T E CARDOSO. O Hotel possui cento e dez quartos. Um Bar denominado «PÔR-DO-SOL», recentemente remodelado; um requintado « S N A C K - B A R » ; grande Sala de Estar; Piscina e Jardim, de onde se disfruta um belo panorama sobre a cidade e a Baía. Hoje, A I D A S O R G E N T I N I , tem em seus filhos os mais directos colaboradores: ítalo — o mais velho, com largas tendências artísticas para a Decoração — dedica-se a um sector, e Jorge — o mais novo — a outro sector. Graças à força de vontade, tenacidade e espírito de sacrifício de A I D A SORGENTINI, a cidade de Lourenço Marques possui um dos melhores Hotéis de requintado ambiente e clientela, a que os turistas dão grande preferência, servindo, assim, o turismo moçambicano e enriquecendo a cidade com um belo imóvel! Grande é o prestígio grangeado por esta Senhora, mercê da sua obra, luta e coragem! É pois, uma pioneira que bem merece o respeito e consideração de quantos a conhecem, e de figurar nas páginas do «LIVRO DE OURO DO OURO DO M U N D O PORTUGUÊS» neste volume dedicado a M O Ç A M B I Q U E !

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p

COOPERATIVA DOS CRIADORES DE GADO

A Cooperativa dos Criadores de Gado teve o seu início em 1956, e foi fundada pelas seguintes entidades: "Sociedade Pecuária, A. Neves & C a . " , M a r i n h o da Silva, Padre Vicente, Sousa Costa e Ismael Costa — criadores de gado do Sul do Save. A Cooperativa dos Criadores de Gado foi i n t i t u í d a com a finalidade de valorizar, beneficiar e seleccionar o gado pertencente aos seus sócios, melhorar as raças, promover e organizar a exportação do gado. Não foi necessário m u i t o tempo para que a Cooperativa consolidasse a sua reputação perante o público, mercê da excelência dos seus produtos, todos eles preparados e presentados para o consumo nas melhores condições de higiene, idênticas às adoptadas nos países mais avançados. Merecem especial referência os talhos da Cooperativa, que possuem as melhores instalações que nos foi dado observar em território nacional, onde as carnes estão expostas com apresentação esmeradíssima, igual a qualquer estabelecimento congénere de Paris, Londres ou Genebra. Toda a gama de carnes — vaco, porco, cabrito, carneiro, galinha, peru, pato, coelho, borracho, e t c . — s ã o expostas em condições de higiene e de arranjo agradável à vista. A p o n t a remos alguns números elucidativos do seu movimento. Em 1963 a Cooperativa recebeu, vendeu e transformou 6.526.723 litros de leite; em 1964, 7.055.304 litros, sendo vendidos ao natural — em 1964 — 3.308.224 litros, transformados, 3.743.035. Quanto ao bovino, no que respeita a carnes vendidas através da Cooperativa, traduzem-se pelos seguintes números: em 1963 foram abatidas 12 398 reses, num total de 2 131 401 Kg., e em 1964 12.013 reses, com o peso de 2.065.525 Kg. A seguir apresentamos ainda, alguns números reveladores da grande actividade da Cooperativa, em 1964: Pacotes de m a n t e i g a : 3 5 8 . 9 5 5 ; N a t a s : 17.850 (litros); Queijinhos: 3 7 2 . 0 5 3 ; Iogurte: 43.924 (litros); Masse: 437.081 (litros); Chocolate: 297.165 (litros); Sorvet e : 109.070 (Mfros); Chupas: 3 9 0 . 0 0 0 ; Carne de vaca: 566.866 (quilos).

Fábrica de Lacticínios da Cooperativa, situada na Matola

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Por vezes, os criadores de gado têm atravessado tremendas dificuldades, devido às contingências do clima. Todavia, cremos que essas contingências poderão vir a ser m u i t o atenuadas, ou até mesmo eliminadas, se forem tomadas medidas adequadas. Tal assunto certamente que não será descurado, por quem de direito, pois a prosperidade da Pecuária m u i t o pesa na balança da economia moçambicana e, portanto, da Província. A Cooperativa executou um grandioso plano, construindo duas modernas e bem apetrechadas Fábricas de lacticínios e salsicharia, que são das mais importantes de todo o território português, situadas na M a r o l a . A Cooperativa tem tido a dupla missão de bem servir o público e amparar os criadores com a sua orientção e empréstimos, acção que é de louvar. A Cooperativa dos Criadores de Gado pela acção que tem desenvolvido, foi reconhecida como sendo de utilidade pública, pois ela constitui a maior organização no seu género, do espaço português. Todos esperam a continuação do desenvolvimento da Cooperativa, para bem da economia e prosperidade de Moçambique.

Fábrica de Salsicharia da Cooperativa, situada na Marola

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FACOBOL FÁBRICA

COLONIAL

DE

BORRACHA

FACHADA DO EDIFÍCIO DA FACOBOL

A FACOBOL — p i o n e i r a da sua i n d ú s t r i a — foi fundada em 1942, com o capital de seiscentos contos, que mais tarde se elevou para doze mil contos. Na Facobol fabricam-se variados produtos, dos quais destacamos: Calçado de lona vulcanizada e prensado; sapatos de cabedal com sola sintética- artigos para tarmacra, tais como sacos, tubos para irrigadores, tetinas, chupetas, etc ; bolas- pasta para recauchutagem; câmaras de ar para bicicletas; uma grande variedade de artigos para as mais diversas industrias, para aviões, caminhos de ferro, etc. A Facobol também tem uma secção de plásticos com variados artigos de polietileno e em P.V.C. Os produtos da Facobol, pela sua excelente qualidade e perfeito acabamento, têm grande preferencia, sendo os seus materiais largamente utilizados em importantes construções feitas na Província, nao so em organizações particulares, como do Estado. Alguns números que a Facobol nos forneceu, referentes ao ano de 1964 seu vasto contributo económico:

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demonstram o


Pasta de borracha — 790 toneladas. Calçado de lona vulcanizado — pares produzidos: Calçado de lona prensado

pares produzidos:

Calçado de cabedal — pares produzidos :

133 m i l . 6 0 2 mil

103 m i l .

Botas para pescador — pares produzidos 8787. Bolas — 69

mil.

Câmaras de ar para bicicletas: Pasta para recauchutagem: Vendas feitas em 1964:

321 m i l .

82 toneladas.

42 mil contos.

Ordenados despendidos no mesmo a n o : 5 3 2 6 contos. Na laboração dos seus produtos, a Facobol emprega algumas centenas de operários, aos quais presta toda a assistência médica, com médico, enfermagem e medicamentos, sendo extensivo a suas famílias o serviço clínico e de enfermagem. Aos empregados são concedidas férias na Metrópole. Por tudo quanto fica exposto se avalia do lugar de relevo que a Facobol ocupa no campo industrial e económico da Província, m u i t o contribuindo para a sua valorização e progresso, do q u a l , m u i t o justamente, se poderá orgulhar.

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LAURENTINA BORGES

A pioneira de Modas, em Moçambique, foi Laurentino B o r g e s — d e seu nome completo Laurentino Bárbara M a r i a Silva Carvalho Borges — natural da região do Bombarral, na M e trópole. Veio para Moçambique com vinte anos, no ano de 1935, já casada. Seu marido, que era A d m i n i s t r a t i v o , foi colocado em T e t e , capital do mesmo D i s t r i t o , no Norte da Província, onde Laurentino Borges — nome que adoptou para a sua profissão de M o d i s t a — s e iniciou nos misteres da M o d a . Pequenina ainda, foi residir para Lisboa, e aí iniciou a sua aprendizagem em Costura e Chapéus. Aprendeu Corte e Costura numa Modista francesa — que teve m u i t o nome nessa época na capital portuguesa, chamada Madame M a r t i n . A i n d a em Lisboa, Laurentino Borges, dedicou-se só à confecção de Chapéus, criação que mais a atraía. Em T e t e , durante os anos que lá permaneceu, exerceu o mister de Modista. Em 1949, seu marido foi transferido para Lourenço Marques, abrindo algum tempo depois, o seu p r i meiro A t e l i e r , na Avenida 24 de Julho, j u n t o ao Cinema M a n u e l Rodrigues. Foi em 1951 que transferiu o seu A t e l i e r para a Praça 7 de M a r ç o , onde abriu a sua Loja, depois transferida para o Prédio Nauticus. Laurentino Borges não se tem poupado a eforços para servir o público feminino, visitando os grandes centros de Modas e Costureiros da Á f r i c a do Sul e, algumas vezes, da Europa. Para estimular o gosto pela A l t a Confecção, M o d e l o s » — e m Lourenço Marques e na Beira — cepticismo, acabando por se imporem. A t é hoje, los», apresentados por manequins sul-africanos e

Laurentino Borges iniciou as «Passagens de que de princípio foram encaradas com certo já efectuou mais de 45 «Passagens de Modeportugueses.

Laurentino Borges, emprega no seu A t e l i e r , normalmente, entre vinte a vinte e cinco costureiras. Sempre a par do progresso, Laurentino Borges, pensa em vir a ter na sua residência — que se situa na «Baixa» — uma parte dela dedicada à apresentação diária dos seus modelos, isto é, ter um Salão onde as Senhoras pudessem admirar e escolher as toilettes, com um M a nequim privativo, ou mais, para apresentação e escolha das suas criações, pelas clientes, tal qual como se procede nas Casas de A l t a Costura das grandes capital. Laurentino Borges está a apresentar duas «Passagens de Modelos» por ano. Esta é a briografia — a traços largos — da pioneira da Elegância e da M o d a , em M o ç a m bique, contribuindo e estimulando de modo notável, para o embelezamento e elegância da Mulher moçambicana.

156-


CASA EDUARDO SILVA A

PIONEIRA

DAS

CASAS

DE

MODAS

EM

LOURENÇO

MARQUES

Aspecto das modernas instalações da Casa Eduardo Silva, na Avenida da República

A Casa Eduardo Silva & C.a Lda., foi o primeiro Estabelecimento do género dedicado a Modas e Confecções, tendo-se fundado em 1898, por dois antigos empregados dos Armazéns Grandela, de Lisboa, José Fernandes Cardoso e Eduardo Silva. O primeiro estabelecimento teve lugar na Praça 7 de M a r c o , num edifício onde primitivamente se encontravam as instalações da A l f â n d e g a da República da Á f r i c a do Sul passando em seguida para a esquina da mesma Praça com a Rua da Lapa, no mesmo sítio onde hoie se encontra o Prédio Fonte A z u l .

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Em 26 de Outubro de 1906, passou para a Rua Consiglieri Pedroso, que nessa época se chamava, Avenida D. Luís, e esquina da Travessa da Catembe, onde ainda hoje se encontra. Esta f i r m a fundada por dois portugueses, sempre teve sócios portugueses. Sofreu algumas modificações na sua Sociedade, com a entrada e saída de sócios. No entanto nunca deixou de figurar o nome do seu fundador, José Fernandes Cardoso, ainda fazendo parte da Sociedade, a viúva, Senhora D. Henriqueta Nunes Cardoso.

Em Dezembro de 1958, a Firma abriu uma sucursal no Prédio Nauticus, propriedade da Companhia de Seguros de Moçambique do mesmo nome, cujo imóvel faz esquina para a Avenida da R e p ú b l i c a — h o j e a principal artéria da «Baixa» de Lourenço Marques — e a Rua Baptista de Carvalho. É um estabelecimento moderno e dos melhores no seu género, da capita! de Moçambique. O seu capital social é de dois mil e quinhentos contos.

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UM CASAL DE PIONEIROS D. JUDITE REIS DE OLIVEIRA BELO E EDUARDO LINO DE OLIVEIRA BELO

D. Judite Reis de Oliveira Belo, nasceu em Lisboa, na Freguesia de São Mamede. seus pais e irmãos veio para M o ç a m b i q u e , em 1 8 9 2 , apenas com nove anos de idade.

Com

Seu pai fora colocado na Província, como Chefe dos Caminhos de Ferro, tendo ido ocupar o seu lugar na Estação fronteiriça de Ressano Garcia, pois nessa época já se t i n h a concluído a linha férrea até à f r o n t e i r a , ligando M o ç a m b i q u e com a Á f r i c a do Sul. Esta Senhora veio a casar com um jovem metropolitano, que viera para Moçambique com 18 anos — Eduardo Lino de Oliveira Belo — e se oferecera para combater nas Campanhas cont r a o Gungunhana, sendo integrado nas forças de M o u z i n h o , em 1895. Terminadas a Campanhas de pacificação e ocupação, o jovem soldado colocou-se como funcionário dos Correios de Moçambique. M a i s tarde transitou para os Caminhos de Ferro, reformando-se quando ocupava o lugar de Chefe de M o v i m e n t o . Depois, dedicou-se a negociar, tendo montado n u m prédio da Rua A r a ú j o , alugado para o efeito, um Casino — que teve m u i t a fama — a que deu todos os requisitos de beleza e conforto, luxuosamente decorado, o que causava grande admiração naquela época. Chamava-se «CASINO BELO». A sua fama passou além fronteiras, passando por isso, a ser m u i t o frequentado pelos grandes homens de negócios dos países vizinhos, que vinham jogar e divertir-se. Nessa época, Lourenço Marques, começava a dar início às suas expansões urbanísticas, que fizeram dela uma das mais belas cidades da África Oriental! Conta D. Judite Belo, que quando chegou a Lourenço Marques, havia somente, uma meia dúzia de casais, uma vez que os colonos e Chefes de Serviços dos organismos do Estado viviam sem as famílias, pois nessa época as condições sanitárias eram m u i t o precárias, e por esse facto poucos se aventnuravam a trazer da Metrópole as suas famílias. Deste casal nasceram três filhos varões, que continuaram radicados em Moçambique. Um deles, é hoje um comerciante m u i t o conhecido e conceituado, desenvolvendo larga actividade comercial e industrial, e ainda o Gerente de uma grande f i r m a lourençomarquina — a CASA C O I M B R A — além de pertencer a outras organizações de vulto. Trata-se de Ernesto Belo. D. J u d i t e , que está viúva, conta presentemente 87 anos, gozando de boa saúde, conservando excelente memória, relatando factos remotos passados na Província. Como distração, faz " T r i c o t " , e aprecia receber a visita dos seus familiares e,amigos. Reside em Lourenço Marques.

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RESERVA DE ELEFANTES DO MAPUTO (RESERVA

DE

PROTECÇÃO)

No dia 19 de A b r i l de 1966 foi inaugurada ofcialmente pelo Governador-Geral Sarmento Rodrigues, a reserva especial para protecção dos elefantes no M a p u t o .

Almirante

Tal cerimónia pode considerar-se como início da obra proteccionista que o Estado tem a executar para salvar as espécies faunísticas de Moçambique. _ Sobre este aspecto, pela sua oportunidade vamos reproduzir algumas passagens de dissertação que fez perante o Governador-Geral, o Director dos Serviços de Veterinária Dr E de Castro A m a r o , explicativo das razões da criação da reserva do M a p u t o : «O reino animal sofreu, como todos os outros elementos da natureza, profundas transnformaçoes ao longo de milénios, apresentando nos nossos dias uma fase da sua evolução processo biológico tao complexo que o homem, sujeito às mesmas leis da natureza, n ã o ' logra ainda senão hipoteticamente, prever a sua sequência. Hecatombes naturais varreram para sempre da crosta terrestre inúmeras espécies que apenas por circunstâncias fortuitas surgem de novo aos olhos do homem como achados pré-histoncos, relíquias de um passado longínquo e que para os naturalistas são por vezes preciosidades de incalculável valor quando procuram ligar os elos de uma cadeia perdida na t e n t a tiva de buscarem a linha ancestral das formas coevas. Contra estes cataclismos somos impotentes e nada mais nos resta do que conformarmo-nos Ora o homem, o ú l t i m o dos mamíferos a pisar a terra no f i m da era quaternária, tornou-se sem duvida, um dos maiores flagelos da fauna bravia, considerando por esta designação as espécies que não lhe eram imediatamente úteis, ou por melhor expressão, aquelas que reconhecia serem de difícil domesticação. A chacina foi a sua obra indecorosa nos fins do século passado

UMA MANADA DE ELEFANTES

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Na posse de armas e meios, que diminuíam os perigos em favor de uma eficiência mortífera a longa distância, o homem, que no mórbido e simples prazer de matar, ou na mira de lucros avantajados à custa dos despojos e troféus das suas vítimas, como sejam penas, peles, m a r f i m e outros, longe de serem considerados como artigos de primeira necessidade mas antes para satifação f ú t i l de certos caprichos, causou tal mortadade que as espécies que Icgraram escapar à sua fúria mais não são hoje do que fósseis vivos. Depois de citar uma série de factos, o Dr. Castro A m a r o , termina dizendo : «Por tudo isto, e t a n t o mais de ver, resultou da Conferência Internacional de Londres em 1933, uma Convenção para a protecção da Flora e Fauna Africanas, renovada em Bukavu no ano de 1953». Como resultante destas reuniões, muitas nações criaram departamentos especiais para a protecção da N a t u r e z a , promulgaram medidas proteccionistas, em particular quanto à cinegética, e estabeleceram reservas para conservação não só da fauna como da flora. Estas reservas têm várias finalidades dentro do espírito de preservação da Natureza. Há aquelas, denominadas internacionalmente com integrais, em que se escolhem áreas que representam o aspecto característico da região, quer florístico quer faunístico, quer esteja ameaçado de se perder, e se reservam para tcdo o f u t u r o , nas quais se vão observando os fenómenos da evolução em consociação biológica da vegetação e dos animais sem intromissão do homen. Por isso são vedadas ao público e só inspeccionadas para estudo pela equipa dos biólogos delas encarregados. Noutras reservas é permitida a visita, como sejam os Parques Nacionais onde os animais vivem no seu meio natural e têm simultaneamente um carácter educacional e turístico. A i n d a outras se destinam a preservar espécies que estão em risco de desaparecimento. É este ú l t i m o c caso da reserva de elefantes do M a p u t o . Como se sabe, toda a zona para sul do Umbelúzi até à fronteira era m u i t o rica em caça existindo numerosas espécies de herbívoros, entre os quais o elefante. Por outro lado, grande parte do seu solo é bastante f é r t i l , apropriado a muitas culturas, em particular as baixas aluviais dos rios. Ora a agricultura e a pecuária, são imcompatíveis com a fauna selvagem visto esta ser o reservatório de tripanosomas que d i z i m a m o gado, além de que as espécies herbívoras são naturalmente devastadoras das culturas. Por isso, a reserva foi mais tarde levantada e os caçadores foram dizimando animais, de modo que o valor que, sob o ponto de vista faunístico, tinha essa reserva foi desaparecendo. Como complemento resolveu-se ainda limpar de animais bravios prejudiciais à a g r i c u l t u r a , toda a região da margem esquerda do rio M a p u t o . Os elefantes que escaparam refugiaram-se na área compreendida ao norte da povoação de Sialamanga. Para Rodrigues segundo o uma raça

sua preservação, foi então determinado pelo Governador-Geral, A l m i r a n t e Sarmento a constituição duma reserva especial para os elefantes. Para mais estes animais, estudo feito pelo cientista, Prof Dr. Frade, chefe da Missão Zoológica, pertencem a diferente dos outros elefantes.

Esta reserva pode ser visitada pelo público e, para isso, os Serviços de Veterinária, construíram miradouros e acampamentos para os visitantes. Projecta-se, ainda, melhorar a reserva quer sob o aspecto turístico quer faunístico. Para este ú l t i m o caso tenciona-se prover com mais algumas espécies que não sejam prejudiciais à agricultura e pecuária e está reguardada e delimitaa por uma vedação de arame farpado. Foram os Serviços de V e t e r i n á r i a , a cujo cargo se encontra a protecção da Fauna, que tomaram a iniciativa de constituir a Reserva de Protecção dos elefantes no M a p u t o , com o cuidado de não prejudicar a A g r i c u l t u r a . Deve-se ao A l m i r a n t e Sarmento Rodrigues — quando M i n i s t r o do Ultramar — a publicação do Decreto n.° 40 0 4 0 , que coordenou e regulamentou a protecção de Natureza nas províncias ultramarinas. No acto de inauguração da Reserva, o Governador-Geral, A l m i r a n t e Sarmento Rodrigues descerrou uma lápide, que perpetuará a materialização do seu superior pensamento.

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A COUTADA DE CHICUALACUALA

A Coutada de C H I C U A L A C U A L A fica situada na M a l v é r n i a , quase na fronteira com a Rodésia, e foi preparada para o turismo cinegético, isto é, para os «Safaris», tornando-se uma organização, a que foi dado o nome de « N Y A L A L A N D D SAFARIS, LDA.» Pertence esta organização ao caçador Jcsé Ruiz. A Coutada, que é enorme e e mesmo principesco.

m u i t o bonita, dispõe de um Acampamento-Base, moderno

Fica situada a meia hora do a p e a d e i r o — d a linha férrea que serve a Rodésia — onde grandes morros feitos pela f o r m i g a , estão decorados com caveiras de elefantes. Estes morros, por vezes, chegam a ter três metros de altura. No Acampmento-Base houve a originalidade prática de escavar um morro, de forma a transformá-lo num forno de pão, e sabemos que o pão ali cozido fica uma delícia! Em C H I C U A L A C U A L A , as pessoas capricham em alimentar-se com a caça que m a t a m durante os Safaris. Caçadores profissionais acompanham os Safaris da Coutada. De forma geral todos os caçadores adoram os animais. Por isso, quando têm de matar caça, preferem os búfalos, por acharem que é um animal vincadamente manhoso e traiçoeiro, porque outros animais só o fazem quando obrigados a isso.

Os proprietários da C H I C U A L A C U A L A , José Ruiz e sua esposa D. Vera, participando num Safari

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Abdorreza Pahalavi — irmão do Xá da Pérsia — que esteve acompanhado de alguns membros de f a m í l i a . O Príncipe Abdorreza Pahalavi é membro do «CONSELHO I N T E R N A C I O N A L PARA A PRESERVAÇÃO DA F A U N A » . Quando regressou à Pérsia levou cinco troféus excepcionais, que foram destinados a um museu de Teerão. A Coutada da « N Y A L A L A N D SAFARIS, LDA.» é uma das melhores de Moçambique e tombem das melhores apetrechadas para proporcionar os mais espectaculres safaris. Assim, esta organização, dentro das suas possibilidades, e sempre alargando os seus âmbitos comerciais, tem contribuído para o fomento da indústria cinegética na Província. Toda a Coutada de C H I C U A L A C U A L A é um deslumbramento, onde os animais se vêm por toda a parte em grande abundância, e possuindo inúmeras lagoas que dão imensa beleza à paisagem.

l;itf ;t! A Princesa ABDORREZA, cunhada do Xá da Pérsia, participando num Safari

Nesta Coutada existe, t a m b é m , uma grande floresta composta exclusivamente de acácias, m u i t o leves. São árvores lindíssimas, elegantes, airosas, com a folhagem m u i t o leve e os troncos cor de mostarda. Quando a luz do dia se despede em ténues claridades, e os jabirus passeiam por entre os nenúfares brancos e azuis, as acácias põem reflexos suaves nas superfícies das águas das lagoas. É uma paisagem de sonho! Vale a pena ir a C H I C U A L A C U A L A só para admirar o paradisíaco das suas lagoas! Esta Coutada, além das suas surpreendentes paisagens, possui coça grossa, como por exemplo, o rinoceronte, bem como todas as espécies cinegéticas existentes na Província de M o ç a m bique, entre elas a girafa e o avestruz. A organização de « N Y A L A L A N D SAFARIS, L D A . » , é já bastante conhecida em várias partes do mundo. À Coutada de C H I C U A L A C U A L A têm vindo numerosos turistas americanos, sul-africanos, rodesianos e de outros pontos do mundo, como por exemplo, o Príncipe persa, Abdorreza Pahalavi.

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EM IMAGENS, A CALOROSA RECEPÇÃO QUE A GENTE DE MOÇAMBIQUE FEZ AO PRESIDENTE DO CONSELHO, QUANDO EM ABRIL DE 1969, VISITOU A PROVÍNCIA

Chegada ao Aeroporto Gago Coutinho, em Lourenço Marqi

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À saída do Aeroporto Gago Coutinho, o Presidente do Conselho C n S e h 0 e carinhosamente saudado pela população ° '

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Prestando homenagem aos que deram a vida pela Pátria

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Um aspecto da apoteótica recepção, na cidade da Beira

*

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A

GRANDE

FIGURA

DA

PÁTRIA

EM

MOÇAMBIQUE

MOUZINHO DE ALBUQUERQUE

«A vida de M o u z i n h o , tão meritória e digna como exemplo de elevado e esclarecido nacionalismo, é tão bela que enobrece com rutilante esplendor as páginas da História de Portug a l , reeditando nela os mandamentos da vida e da honra que são timbre do orgulho português. Conservemos assim o reconhecimento sempre vivo daquela brilhante f i g u r a da nossa epopeia u l t r a m a r i n a e glorifiquemos eternamente, na fidelidade inquebrantável dos nossos corações, o nome sem mácula de J O A Q U I M AUGUSTO M O U Z I N H O DE ALBUQUERQUE.» Palavras do General Luís A. de Carvalho Viegas, com que terminou a sua brilhante conferência, comemorativa do centenário do nascimento de M o u z i n h o de Albuquerque. i

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GOVERNADOR

DO

DISTRITO

DE

GAZA

Na faina de levar água às populações rurais

Era Governador do Distrito de Gaza — n o momento de escrevermos esta obra — o Inspector João Moreira Barbosa M a t o s , natural de Cabo Verde. A carreira deste Governador teve início em 1932, em Cabo Verde, passando pela Guiné. Veio para a Província de Moçambique em 1940, sendo colocado como Chefe de Posto Estagiário em Cabo Delgado, servindo sucessivamente noutros pontos da Província, tendo sido, t a m b é m , Governador de Quelimane e Inhambane, antes de presidir aos destinos do Distrito de Gaza, que governou. O Inspector Barbosa M a t o s , durante o tempo que d i r i g i u o seu Distrito, procurou resolver o magno problema do abastecimento da água às populações rurais, mandando fazer represas de terra batida, para o gado, e a abertura de poços para abastecimento da população. No campo da instrução, o Governador Barbosa Matos f o m e n t o u a construção de novas escolas, de instalações sanitárias, enfermarias, postos sanitários, aldeamentos, etc. N u m ano de direcção, o Governador Barbosa Matos promoveu, no aspecto social, os aldeamentos de Coleia, Aldeia Circular e ainda um terceiro aldeamento, que se situa entre o de Coleia e a sede da circunscrição de Manjacaze. A esses aldeamentos é levada a água, a escola e a formação sanitária. No plano do fomento, há a destacar, entre outras, a ponte sobre o rio Limpopo, inaugurada em Julho de 1964 pelo Presidente Américo Tomás, na altura da sua visita a Província, e que veio beneficiar extraordinariamente as comunicações entre as várias zonas do Distrito de Gaza, bem como todo o trânsito que se dirige para o Distrito de Inhambane. O Colonato do Limpopo, realização do Engenheiro Trigo de Morais,.é uma obra de grande alcance económico-social e político, da fixação e racial idade, a que o Governador Barbosa Matos prestou o maior apoio, como aliás a todo o seu Distrito. A par disso, procurou fomentar o desenvolvimento da cultura do arroz e do trigo. Para isso se envidam esforços no sentido de vencer a salinidade do rio Limpopo, que tem prejudicado a cultura do arroz, em especial.

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Na faina de levar água aos centros rurais

No Distrito de Gaza também se cultiva o algodão e com a vinda do Instituto do Algodão, prevê-se que não haja quebra de produção. A l é m desta, há a da castanha de c a j u , existindo algumas fabricas de descasque, trigo e arroz. Presentemente procede-se à distribuição da semente de coco, para elevar a economia do Distrito, pois o coco tem várias aplicações industriais, constituindo fonte de riqueza. O distrito tem ainda zonas que produzem amendoim, prod u t o rico que não tem t i d o o necessário desenvolvimento em virtude das secas sucessivas, que tem originado o aparecimento de uma «virose — a «roseta» — que danifica a planta. O Distrito de Gaza é dos mais ricos no capítulo da Pecuária. Consciente das necessidades do seu d i s t r i t o , o Governador Barbosa Matos procurou desenvolver todos aqueles sectores que mais precisavam do seu auxílio, procurando fomentá-los, criando assim novas riquezas que elevam a economia do distrito e, simultaneamente, a da Província.

FALANDO

DA HISTÓRIA DO DISTRITO DE G A Z A

Gaza foi elevada à categoria de Distrito M i l i t a r após a Campanha de Pacificação em 1895, que pôs cobro às incursões das hordas que, vindas do exterior, escravizavam e aterrorizavam as populações locais. Em 1907, a região foi incorporada no Distrito de Lourenço Marques. Em 1918 foi definida como Distrito C i v i l , voltando a ser integrada no Distrito de Lourenço Marques em 1928. Pelo Decreto 35 7 3 3 , de 4 de Julho de 1946 voltou a ser criado o Distrito de Gaza, englobando as seguintes áreas : A l t o Limpopo, Bilene, Chibuto, Gaza, Guijá, M a g u d e , M a n h i ç a , Muchopes e Sabié. Em 1954, era estabelecido pelo Decreto n.° 39 858, de 20 de Outubro, o Governo do Dist r i t o com sede na Cidade de João Belo. Assim, o Distrito de Gaza tem hoje uma área de 82 937 quilómetros quadrados e a seguinte divisão a d m i n i s t r a t i v a — Concelhos : Baixo Limpopo, Bilene, Chibuto, Gaza e Muchopes; Circunscrições : Guijá, Limpopo e Magude. Vive neste Distrito uma população de cerca de 70 000 almas (censo oficial de 1960). A agricultura da região de Gaza baseia-se em duas grandes culturas : algodão e arroz, havendo no distrito duas fábricas de descaroçamento e prensagem de algodão e seis fábricas de descasque de arroz.

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A pecuária tem também condições favoráveis para o seu desenvolvimento. Foi o seguinte, o resultado do arrolamento pecuário efectuado em 1961 : bovino — 445 747 (correspondendo a cerca de metade de toda a Província); ovino — 23 3 3 6 ; caprino — 63 2 1 2 ; s u í n o — 11 324. A maior parte do leite consumido em Lourenço Marques provém de Gaza. Merecem referência, no d i s t r i t o , o Plano da Brigada de Fomento e Povoamento do Limpopo. Foi dirigido com a maior competência e entusiasmo pelo saudoso Eng.° Trigo de Morais de que resultou o Colonato do Limpopo e o Plano da Brigada Técnica de Fomento Hidroagrícola. Este plano encontra-se em execução há alguns anos e tem por finalidade o aproveitamento das terras alagadiças do rio Limpopo, entre o Chibuto e João Belo, com a fixação de alguns milhares de famílias autóctones em pequenas propriedades. A cidade, capital do Distrito de Gaza, está situada nas margens do rio Limpopo, sendo atravessada pela Estrada Nacional n.° 1. A primeira designação da localidade foi X a i - X a i ou Chai-Chai. Em 2 de Dezembro de 1922 passou a chamar-se V i l a Nova de Gaza. Em 10 de Março de 1928 a designação foi alterada para V i l a de João Belo, em homenagem ao ministro e oficial óa A r m a d a com o mesmo nome. A cidade possui alguns bons edifícios e artérias traçadas com larga visão. Entre outros edifícios, destacam-se os Paços do Concelho, a sede do Governo D i s t r i t a l , a Direcção Distrital de Fazenda, o Hospital de Tavene (moderno e bem equipado), o Banco Nacional Ultramarino e o Colégio-Liceu Nossa Senhora do Rosário.

A nova Ponte sobre o rio Limpopo

Próximo do antigo cais, estendendo-se até à margem do Limpopo, existe um amplo e bem cuidado j a r d i m , com um coreto onde a Banda M u n i c i p a l de Gaza executa concertos públicos. Uma das faces deste j a r d i m confronta com o edifício dos Paços do Concelho. Todos os Serviços Públicos se encontram instalados na cidade com Repartições Distritais. A cidade possui um aeródromo servido por carreiras regulares e daqui parte um caminho de ferro com a extensão de 90 quilómetros que liga esta povoação a V i l a Álvaro de Castro e Mauele. > -= Existem na cidade de João Belo as seguintes associações : AssocraeÕo Comercial de Gaza, Associação Agrícola de Gaza, Associação dos Desportos do Distrito de Gaza, Clube de Gaza, Clube Ferroviário e Aero-Clube de Gaza. João Belo possui, a 7 quilómetros, a magnífica Praia Sepúlveda, importante ponto de atracção turística, servida por uma boa estrada e um bom hotel. Cerca de 20 quilómetros ao N o r t e , situa-se outra estância de turismo — o Chongoene.

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Tem sido notável a acção da actual vereação, na presidência da qual se encontra o Eng.° Manuel Dias da Silva. Entre outras realizações destaca-se o melhoramento da captação das águas para fornecimento à população, bem como a modernização da iluminação da cidade, dois sectores deveras importantes na vida de qualquer comunidade.

JOÃO BELO E A SUA M A G N Í F I C A Z O N A T U R Í S T I C A

Para quem viaja por estrada, a cerca de 188 quilómetros de Lourenço Marques fica o primeiro centro de veraneio, S. M a r t i n h o do Bilene que hoje, graças a ousadas iniciativas, já const i t u i u uma estância de turismo com projecção internacional. O seu grande atractivo é uma longa praia formada por uma lagoa de água salgada, com cerca de 25 quilómetros, que está ligada ao Índico por um canal. A praia é baixa, sem o mínimo perigo para as crianças. O peixe que abunda nas suas águas leva os pescadores desportivos a atraentes jornadas de barco pela calma lagoa. Nos ú l t i mos anos foram construídas no Bilene muitas moradias para férias de residentes na capital de Moçambique. Os C T T , considerando as características da praia, ergueram uma «colónia de férias» da Província, em turnos que funcionam a partir do encerramento das aulas. Os Caminhos de Ferro de Moçambique, através do Clube Ferroviário, também dispõem de um conjunto de moradias, hangar de barcos de recreio e um restaurante. Quem vem de longe, encontra no Bilene pousadas e organizações que alugam tendas e barcos mesmo j u n t o das margens. hAerece especial referência um excelente parque de turismo — sem dúvida o melhor e o mais completo da P r o v í n c i a — o «Parque Flores» possuidor dos melhores requisitos, tais como um m o t e l , parque para «camping» para atrelados e tendas, ancoradouro privativo, cinema ao ar livre e até mesmo um excelente restaurante «self-service» e muitas outras coisas mais . . . incluindo organização. A crescente importância turística de S. M a r t i n h o do Bilene levou o Governo a determinar a construção ali de um areporto. A uma escassa dezena de quilómetros da cidade de João Belo, rodados num asfalto da mais moderna técnica de estradas, fica a Praia de Sepúlveda, tradicional e internacionalmente conhecida por X a i - X a i . A estrada termina numa encosta de exuberante vegetação que quase esconde as belas vivendas. Depois, surge a beleza azul do Índico, beijando um areal branco e macio. Uma linha de rochas e coral, a cerca de uma centena de metros da praia transforma o local numa original piscina sem medidas, numa defesa natural contra tubarões, agora reforçada com uma rede a garantir ainda mais a segurança do banhista. Existe na Praia Sepúlveda uma juvenil «colónia de férias» da Mocidade Portuguesa. As centenas de turistas que vêm da Á f r i c a do Sul e da Rodésia dispõem de dois excelentes hotéis, um dos quais se debruça sobre a praia. Também m u i t o próxima de João Belo, a Barra do Limpopo é uma zona de pesca privilegiada. A l é m de uma abundância extraordinária de corvinas, serras e muitas outras espécies; ao largo encontra-se com facilidade o m a r l i n , o peixe dos campeões. O Clube de Pesca de João Belo possui ali um pequeno abrigo, dispondo de barcos para os seus sócios. Mas os turistas da Á f r i c a do Sul e da Rodésia, que em grande número visitam aquela região, também não são esquecidos, pois estão sendo construídos rondáveis e outras instalações para os acolher convenientemente. A cerca de 22 quilómetros, João Belo oferece outra bela praia no Chongoene, que dispõe de um hotel, beijado quase pelas ondas do Índico, e que sem receio pode ser considerado o mais moderno e audacioso da Província. A q u i , t a m b é m nesta praia, uma linha de rochas resguarda a zona de banhos, esmagando-se as vagas do oceano em belíssimos cachões de espuma. A baixa-mar forma inúmeras piscinas naturais. E o a t r a c t i v o da pesca completa-se com a possibilidade da apanha de ostras e mexilhões.

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O arranjo da estrada M o a m b a - M a g u d e , provocaria um incremento extraordinário no turismo das regiões do Bilene, X a i - X a i , Chongoene, e até mesmo, de Inhambane, pois encurtaria de maneira extraordinária a distância a percorrer, para a maior parte dos turistas estrangeiros que visitam estas regiões.

Os Marimbeiros de Zavala

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O MOTEL PARQUE FLORES EM S. MARTINHO DO BILENE

HÉLDER FLORES

Moçambique desfruta actualmente de um enorme prestígio turístico graças às condições suaves e amenas do seu clima, a beleza da sua paisagem, as suas magníficas praias, a pureza das suas águas e sobretudo ao esforço de homens conscientes que dela fizeram um verdadeiro paraíso terrestre, nestas terras africanas. A q u i como em Portugal, o Turismo está na ordem

do dia. A vila de S. M a r t i n h o do Bilene com o seu «Parque Flores», constitui um fascinante oásis nessa imensa extensão arenosa. Obra de um só homem, Hélder Flores, que a esta grandiosa construção dedicou os melhores anos da sua vida e bens, à custa de muitos sacrifícios e contrariedades, o Parque Flores representa por si só, um grande cartaz e reclame do Turismo M o ç a m bicano. A sua fama ultrapassa já fronteiras e c seu interesse aumenta dia a dia. Na «season», milhares de turistas, dos países vizinhos, afluem constantemente a esta bela estância balnear. Inúmeros atractivos constituem prazer e deleite para os visitantes, que neste j a r d i m florido, encontram um cantinho tranquilo para descansar o corpo e o espírito. Esta praia difere um pouco das restantes praias da Província : areia doirada, sempre pronta a acolher os veraneantes, mar calmo j u n t o à praia, águas puras e cristalinas, deixando ver o fundo do mar, que são uma tentação para os amantes dos desportos náuticos! A t é mesmo os menos entusiastas por estas distracções não podem resistir ao prazer de dar um mergulho e de se deixar arrastar ao sabor das ondas! Ao largo, o mar sempre ondulado e ruidoso, até se sente fascinado por estas maravilhas, e m u i t o de mansinho, como que a espreitar, vem rebolar-se na areia suavemente. De uma maneira geral, é possível praticar aqui toda a sorte de desportos náuticos, desde a natação às corridas de barcos.

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Edifício especialmente construído para várias famílias, com as dependências necessárias

Graças a Hélder Flores, S. M a r t i n h o do Bilene conta actualmente com uma moderna e bem apetrechada estância balnear e de férias, pondo à disposição dos turistas os mais diversos aparelhos de pesca, para praticar esqui aquático, barcos a motor, de aluguer, e um sem-número de material marítimo. Para o interior, um nunca mais acabar de areia, verdadeira continuação do mar, diferente quanto a natureza, mas semelhante nas ondulações. Dunas caprichosamente disseminadas oferecem um espectáculo real e emocionante. Um lago de água doce em pleno deserto, aparece aos olhos do visitante como um delicioso oásis! A i n d a há poucos anos quase desabitada, esta região constitui hoje, sem dúvida uma das melhores estâncias balneares do Sul do Save! Para o forasteiro, que se afaste um pouco da vila, uma grata surpresa surge ante seus olhos o Motel Parque Flores, a grande obra de Hélder Flores. Dividido em três partes, está construído de forma a proporcionar aos turistas a acomodação que mais lhe convenha : uma área destinada a barracas e campismo, para todos aqueles que queiram passar umas férias por pouco dinheiro, ou que prefiram instalações no estilo campista : um edifício, de dois pisos, j u n t o à praia, com 32 apartamentos, para os que pretendem uma estadia cómoda e económica e ainda apartamentos luxuosos, para os turistas mais exigentes.

Um aspecro da Praia do Bilene

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O "Self-Seryice

No edifício do restaurante existe um serviço m u i t o bem montado de «Self-Service»; uma espaçosa sala de jantar, tendo ainda, no primeiro piso, um estabelecimento para fornecimento dos veraneantes, em instalações eficientes e modernas. No segundo piso existem duas salas e um bar, que durante as «seasons» servem t a m b é m de «Boite». A l é m de todos estes atractivos está dotada ainda de campos de ténis e de rinques de p a t i nagem, oferecendo assim, aos turistas, as diversas distracções, adentro de um ambiente elegante e esmerado, não f a l t a n d o o cinema ao ar livre. Novos blocos habitacionais estão a ser construídos de forma a poderem abrigar essa fantástica avalanche de forasteiros, que inundam por completo as praias de S. M a r t i n h o do Bilene, em todas as «seasons»! Hélder Flores deu grande incremento à sua bela estância balnear e campo de aviação. Necessita ser macadamizado o troço de estrada que tinho. Para essas obras contribuirá, certamente, c Clube Ferroviário de possui ali um bloco de uma vintena de moradias, que será f u t u r a m e n t e estupendas avenidas alcatroadas.

turística. Dotada de um vai da Macia a S. M a r Lourenço Marques, que ampliado, o qual ladeia

A l é m de todos estes prazeres e distracções, a caça submarina é outro passatempo atraente e apaixonante. Assim, a praia do Bilene, embelezada por uma profunda e encantadora baía, oferece a todos quantos a procuram, para passar as suas férias, as maravilhas da sua paisagem ou o ar puro e sadio do mar, uma oportunidade única e agradável para se libertarem dos incómodos e aborrecidos atavios, que se vêem obrigados a usar nas cidades civilizadas e pro gressivas, onde imperam as etiquetas. S. M a r t i n h o merece m u i t o , pela sua paisagem verdadeiramente paradisíaca e pela c o n t r i buição valiosa que dá à economia da Província A obra de Turismo que Hélder Flores ali fez é digna dos maiores elogios pelo extraordinário esforço que representa, obra que bem merece ser ajudada pelas entidades competentes. Hélder Flores é filho da Província. Nasceu Lourenço Marques. O Bilene fê-lo sonhar uma obra de Turismo. Se bem pensou, melhor o fez, vindo há anos a desbravar terrenos, a alindar, dando valia à obra da natureza. M u i t o havia a esperar de Hélder Flores, se a morte traiçoeira o não viesse ceifar, de forma trágica, num desastre de viação, em 1969. Hélder Flores é um símbolo de tenacidade, em que são férteis os portugueses.

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O COLONATO DO VALE DO LIMPOPO UMA OBRA NOTÁVEL DE ORGANIZAÇÃO

Foi em 1895, depois das campanhas que se desenvolveram nas regiões de Lourenço Marques e Gaza, que o Rio Limpopo — um dos maiores do extremo meridional do continente africano — começou a despertar as atenções, como via de penetração, para conhecimento do interior. Foi nesse ano de 1895, que o 1.° Tent. da A r m a d a , Álvaro Soares de Andrea, subiu c rio Limpopo, fazendo o seu reconhecimento hidrográfico e estudos, de forma a que «se habilitassem com dados certos, as estações competentes, acerca das condições de navigabilidade dessa via f l u v i a l » . Depois, foi o Governador Freire de Andrade — q u e m u i t o se interessou pelas terras férteis de Gaza, e se entusiasmou t a m b é m , pele fertilidade do Vale do Limpopo. E todos os que depois vieram a fazer estudos e pesquisas no Vale do Limpopo, t i n h a m opiniões unânimes quanto à valia daquelas terras, que por esse facto, mereciam ter uma colonização estudada e dirigida. Segundo um contemporâneo do Governador Freire de Andrade, ele deveria ser considerado um dos precursores da colonização do Limpopo. Um dos Governadores de Moçambique, segundo palavras do Comandante João Belo, que contou com o Vale do Limpopo no seu Plano de Fomento da Província, foi o Dr. Moreira da Fonseca, «e de certeza o único que fez estudar o problema e que arrecadou receitas para começar a obra». Mais tarde, em 1919, passa por Moçambique a caminho do Oriente, um engenheiro inglês, o coronel John Aylmer Balfour, nome famoso em assuntos de Hidráulica Agrícola, a quem o Governador Massano de A m o r i m convida, em 1920, a pronunciar-se sobre a irrigação nos vales dos principais rios do Sul do Save. Aceite o convite, o engenheiro inglês percorreu toda a região, fazendo um reconhecimento dos rios M a p u t o , U m b e l ú z i , Incomáti e Limpopo. Dos estudos a que procedeu, foi o Limpopo que lhe mereceu especial atenção. Depois, fez novos estudos, que veio a apresentar em 1921 e 1922. Este ú l t i m o mereceu «a aprovação das instâncias superiores, e por isso em 1924, o Eng.° Balfour, foi encarregado de elaborar o projecto definitivo da irrigação». Por coincidência, na mesma a l t u r a , o Professor do Instituto Superior de A g r o n o m i a , Eng.° Ruy Mayer e o Eng.° Civil Trigo de Morais — a c a b a d o de se

Vista geral da Ponte-Barragem do Limpopo

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formar - são encarregados pela Companhia do Búzi, de proceder a estudos no Vale do Búzi. Estes estudos foram realizados no decurso dos anos de 1919 e 1920, sendo o relatório apresentado em Lisboa, em Abril de 1921. Crê-se que foi assim, que o Eng.º Trigo de Morais tomou contacto com Moçambique e simultaneamente, com os seus problemas de fomento. Numa ocasião em que ele passou por Lourenço Marques a caminho do Búzi, por sugestão do Director dos Caminhos de Ferro, o Governador-Geral, Dr. Moreira da Fonseca, convidou-o a participar nas estudos do aproveitamento hidroagícola do Limpopo.

Aceite o convite, o Eng.° Trigo de Morais foi contratado pelo Governo da Província para, durante um ano, prestar a sua colaboração técnica ao Engº Balfour. Porém, no decurso daqueles trabalhos, o Engº Trigo de Morais discordou dos planos do engenheiro inglês, e mais tarde, foi encarregado pelo Alto Comissário de Moçambique, Comandante Vítor Hugo de Azevedo Coutinho, de estudar o problema de valorização do Vale do Limpopo e elaborar um contra projecto de irrigação de 20 mil hectares de terreno, tarefa de que se desempenhou entre Agosto de 1924 e Outubro de 1925.

O Eng.° António Trigo de Morais

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Submetidos os projectos ao Conselho Superior de Obras Públicas e Minas, o seu parecer é que ambos os projectos são bons, mas o do engenheiro inglês tem preferência, por ser mais barato. Depois do projecto ser debatido, o M i n i s t r o das Colónias resolve que sejam os organismos económicos da Província a fazer a escolha dos projectos, «tendo em vista os fins políticos e económicos a alcançar». Assim, procedeu-se a novo relatório apresentado pelo Chefe da Brigada de Estudos, que a f i r m a : «Não há razão para recear pelo sucesso da Barragem projectada pelo Eng.° Trigo de Morais nem pelo seu plano de irrigação». Segue-se um período de adormecimento . . . Por f i m , em 1933 o projecto volta a ser falado. É o Dr. Francisco Vieira Machado, em 1934, quem chama de novo a atenção do assunto, num extenso e importante artigo publicado na reviste «PORTUGAL C O L O N I A L » , para o abandono em que se encontrava o Sul do Save.

Fábrica de Lacticínios, em Leonde

Em M a i o de 1935 — 10 anos d e p o i s — o Conselho Superior Colonial, emitiu o seu parecer favorável ao projecto do Eng.° Trigo de Morais, mas só em 10 de Setembro de 1950, por determinação do M i n i s t r o do U l t r a m a r , parte para Moçambique uma missão, chefiada por aquele engenheiro, que era nessa a l t u r a o Director Geral dos Serviços Hidráulicos, que t i n h a sido encarregado de rever o seu projecto, que elaborara há 25 anos! Depois, a esse projecto foram introduzidas algumas alterações feitas pelo seu autor.

Escola Prática de Agricultura

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Finalmente, em 3 de Março de 1 9 5 1 , o Eng.° Trigo de Morais toma posse do cargo de Subsecretário de Estado do U l t r a m a r , lugar onde se manteve até 26 de Fevereiro de 1953, tendo dado durante esse tempo, enorme impulso a este magno e discutido projecto do irrigação do Vale do Limpopo, a quem m u i t o se ficou a dever. Em 17 de Agosto de 1 9 5 1 , o Presidente do Conselho, Doutor Oliveira Salazar, determina a construção da Barragem e do projecto do Caminho de Ferro do Limpopo, com ligação ferroviária com a Rodésia, convertendo em realidade o grande projecto que antes tinha sido considerado u t o p i a ! As primeiras empreitadas são dadas a duas firmas do Metrópole, de reconhecida competência. Depois, por Portaria M i n i s t e r i a l , de 28 de Novembro de 1952, é criada a Brigada Técnica de Fomento e Povoamento do Limpopo, que t o m o u a superintendência técnica e administrativa da obra, que se torna possível, pela sua inclusão no I Plano de Fomento Nacional, para ser executada no sexénio compreendido entre 1953 e 1958. Finalmente, em Março de 1953, a Brigadc insta!a-se no Vale do Limpopo, iniciando-se assim, a vasta e valiosa obra. O primeiro grupo de colonos, constituído por 10 famílias vindas do Metrópole, eram alentejanas, chegando a Lourenço Marques em 2 de Agosto de 1954, seguindo-se-lhe outros grupos vindos, igualmente, da Metrópole, todos os anos, até preencher o número previsto. A área reservada ao Colonato do Limpopo estende-se por uma faixa de terreno ao longo da margem direita do rio dos Elefantes até defronte da lagoa Chingua, já próximo da V i l a do Chibuto. Este rio caracteriza-se por ter uma bacia hidrográfica de 415 000 quilómetros quadrados, dos quais 19 por cento estão em território nacional e 81 por cento nos territórios da República da Á f r i c a do Sul e da Rodésia do Sul. O rio Limpopo nasce a oeste de Pretória, a uma a l t i t u d e de 1500 metros, percorrendo no nosso território 561 quilómetros, mais do que o Tejo, em terras portuguesas. As 13 aldeias de que se compõe o Colonato estão dispersas pelo extenso Vale, com o seu casario num estilo bem português, quer na arquitectura quer na decoração do interior, parecendo trazidas das longínquas províncias metropolitanas. Denominam-se : Barragem, Leonde, Freixiel, Folgares, Sagres, Ourique, Senhora da Graça, S. José de Ribamar, Madragoa, Santana, Pegões e V i l a T r i g o de Morais — a c t u a l m e n t e a Sede do jovem concelho do Baixo L i m p o p o — onde se situam todos os organismos oficiais, os Correios, o Hospital, a Escola Prática de A g r i c u l t u r a , e t c , e onde se centraliza a vida comercial do Colonato.

Hospital da Vila Trigo de Morais

Encontra-se em adiantada construção, um grande edifício situado no centro da V i l a , destinado à instalação conjunta, da Administração do Concelho, Câmara M u n i c i p a l , Fazenda, T r i b u nal, Conservatória e Registo C i v i l , Correios, e t c , obra que foi projectada pelo grande obreiro do Limpopo, o Eng.° Trigo de Morais. A ele se devendo, t a m b é m , a construção e projecto do moderno edifício da Associação Recreativa e Cultural do Limpopo, que possui uma boa sala de espectáculos — p a r a Cinema e T e a t r o — , Biblioteca, Sala de Jogos, dois Bares e amplo Salão de Festas. — 180 —


Os terrenos fronteiros ò Associação estão a ser ajardinados, sendo aí construída uma piscina, cujos trabalhos já foram iniciados. T a m b é m por iniciativa do Eng.° Trigo de Morais, foi construído na V i l a , um Convento destinado às Irmãs Carmelitas, que vieram inaugurá-lo em Novembro de 1964, sendo oriundas da Espanha. As Irmãs professoras iniciaram no Convento as primeiras leccionações, enquanto se edificava em terrenos fronteiros, o primeiro edifício destinado ao Colégio do Carmelo de Santa Teresinha, destinado a ambos os sexos, e com Internato para meninas. Hoje o Colégio é uma bela realidade, instalado em bem delineado e moderno edifício, com todos os requisitos para bem servir o f i m a que se destina : instruir e educar. Este ano, ao iniciar-se o novo ano lectivo de 1 9 6 9 - 7 0 , o Colégio inaugurou uma extensão do complexo, destinada a novos dormitórios para as alunas internas — q u e afluem em grande n ú m e r o — um novo refeitório, salas e outras dependências, que reputamos de modelares.

Um aspecto do edifico do Colégio

O Colégio é dirigido pela Superiora, Irmã Santa Clara, que possui o Curso de Música. A l i se ministra o ensino até ao 2.° ciclo liceal, m u i t o contribuindo para a cultura e formação moral da juventude de toda aquela região, sem o qual a missão do Colonato não estaria completa.

O

Govcrnador-Geral, Dr. Baltazar Rebello de Souza, cumprimenta a Madre Santa Clara, durante uma visita ao Colégio do Carmelo

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Superiora


.

A i n d a neste capítulo, diremos que existe na Aldeia de Folgares uma Missão de Irmãs de S. Vicente de Paulo, que ministram o ensino de Costura, Corte e Bordados, cuja utilidade desnecessário se torna encarecer. Presentemente, as Irmãs têm 26 alunas, divididas em dois turnos, ensino que representa uma ó p t i m a ajuda e estímulo para as jovens, incluindo o aspecto de promoção social da m u lher, valorizando-a.

Um grupo de alunas

Ainda em moldes aos jovens fomentar a

no campo do Ensino, o Colonato tem a sua Escola Prática de A g r i c u l t u r a , construída simples, modernos e funcionais, apta a proporcionar os conhecimentos necessários que pretendem dedicar-se à A g r i c u l t u r a , em moldes rentáveis, que só assim pode riqueza compensadora, seja para ficar no Colonato ou não.

O Estado instalou no Colonato seis Fábricas, situadas nas seguintes aldeias : Em Sagres, uma fábrica de descasque de arroz, com capacidade para 12 mil toneladas anuais. Na aldeia de Leonde — o n d e se situa a zona mais industrial do C o l o n a t o — estão instaladas três f á b r i cas. Uma destinada à farinacão de trigo e m i l h o , podendo laborar 500 quilos por hora. Uma Fábrica de Lacticínios, apetrechada com o mais moderno equipamento, tendo sido inaugurada pelo Presidente da República, em Julho de 1964, embora só iniciasse a laboração — a i n d a exper i m e n t a l — em M a i o de 1965, produzindo manteiga e queijo. A fábrica está apetrechada para produzir diversos tipos de queijos, leite em pó — t i p o s gordo, m u i t o gordo e m a g r o — assim como um subproduto, o soro, com várias aplicações. A t é ao presente só tem sido produzido manteiga e queijo do tipo holandês, por f a l t a de leite. Uma Fábrica de Salsicharia —a mais recente de t o d a s — construída na zona fabril da aldeia, tendo iniciado a sua laboração em meados de 1965. A fábrica é ampla e possui excelente equipamento. Na aldeia da Madragoa foi instalada a Fábrica de Concentrados de T o m a t e , inaugurada em Julho de 1965. Tecnicamente bem apetrechada, possui condições de boa rentabilidade, desde que seja suficientemente abastecida. A sua capacidade de produção é para duas mil e quinhentas toneladas. Os produtos obtidos — n a sua maioria concentrados d u p l o s — são vendidos no mercado interno e para a Rodésia. Na aldeia de Folgares foi instalada a Fábrica de Desidratação de Forragens e Farinacão, podendo laborar com cana-de-açúcar, milho, sorgos, feijão, luzerna, trevo, beterraba, capins de várias espécies, etc. É t a m b é m , nesta aldeia, que se encontra a sede da Cooperativa Agrícola do Limpopo. Existe, fora das actividades agrícolas do Colonato, uma fábrica de descaroçamento e prensagem de algodão, situada próximo do Caminho de Ferro da V i l a Trigo de Morais, que é propriedade da empresa «Algodoeira do Sul do Save, Lda.». — 182 —

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Edifício da «Pousada do Limpopo»

No Colonato existem duas Pousadas. U m a , construída na V i l a Trigo de Morais —a «Pousada Limpopo» — com dois pisos e capacidade para 50 pessoas, além de ter Café, Bar e Restaurante. A outra — «Pousada da Barragem» — situa-se na aldeia do mesmo nome, frente à Barragem, tendo um só piso. Em edifício de linhas modernas e simples, está decorado com bom gosto e sobriedade, sendo o mobiliário em vários estilos portugueses, desde o mais simples ao mais requintado. É interessante mencionar que, desde 9 de Julho de 1966, que o Banco de Crédito Comercial e Industrial abriu uma Delegação na V i l a Trigo de Morais, vindo desde essa data a fomentar notável acção no campo bancário, facilitando empréstimos, transferências e outras operações, e oferecendo um serviço semanal itinerante, de depósitos, para evitar aos colonos a deslocação à Vila para tal efeito, uma vez que não é possível — p a r a j á , abrir Delegações em todas^as a l d e i a s — e f a c i l i t a n d o , deste modo, os depósitos e evitando perdas de tempo.

Pousada da Barragem

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Aspecto geral do edifício c!a Associação Recreativa e Cultural do Limpopo

No início do I Plano de Fomento, diz-se em certo passo : «Queremos, é certo, que o maior número possível de famílias brancas da Metrópole se instale nas aldeias do Limpopo, bem arreigadas ao solo, possuindo a terra onde l a b u t a m , exercendo ali as tradicionais virtudes do agricultor português — tenacidade, sobriedade, apego ao trabalho, servindo de exemplo para os irmãos de África.» «Para cada braço uma enxada. Para cada família um lar. Para cada boca o seu pão.» Estas foram palavras do Presidente Salazar, que segundo Rodrigues Júnior, «definem um programa e a f i r m a m o sentido humano que se i m p r i m i u à obra realizada. N ã o há semelhante em toda a Á f r i c a , de associação de raças com os mesmos objectivos económicos, de combinação simpática de indivíduos de cor diferente, com propósitos sociais que levam aos mais sólidos laços de n a t u reza afectiva, à colaboração que o homem carece sempre do outro homem, da ajuda que cada um deve ao seu próximo». Na actualidade, o Colonato do Limpopo é uma grandiosa realidade económico-social pondo à prova a capacidade dos portugueses, uma vez mais, para colonizar e civilizar!

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GOVERNADOR DO DISTRITO DE INHAMBANE

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O Governador do Distrito de Inhambane a ser cumprimentado por um regedor

O Governador do Distrito de Inhambane, é o Dr. José Dinis Pereira Salvador Paralta nascido em V i l a Pery, Moçambique. É licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de M e d i cina de Lisboa e diplomado, a i n d a , com os cursos de Medicina Tropical e Medicina Sanitária. Em 1949, o Dr. José Dinis Paralta concorreu ao Quadro dos Médicos do Ultramar tendo prestado serviço, de início, no Mossurize, depois em Ribauè e na Beira. Seguidamente, exerceu funções de Chefe Distrital de Saúde do Niassa; de Delegado de Saúde de Inhambane" Chefe Distrital de Saúde e, por ú l t i m o , de 1960 a 1963, foi Presidente da Câmara Municipal de Inhambane. Em 1962 é promovido a médico de 1 . a classe. Em A b r i l de 1963 é nomeado em comissão para o cargo de Governador do Distrito de Inhambane, funções que assumiu em 15 de M a i o de 1963, continuando a estar à frente dos destinos deste Distrito. O Dr. José Dinis P. S. Paralta sempre se tem debruçado com o maior interesse para os variadíssimos problemas do seu Distrito, dos quais nos falou detalhadamente e para eles tem procurado obter as melhores soluções. Assim, o Governador, tem estado a estruturar um plano de desenvolvimento económico, baseado no fomento da agricultura arbórea do coqueiro do cajueiro, e da m a f u r r a . Esse plano é feito à base das técnicas do desenvolvimento comunitário Pensa-se fazer povoamentos organizados dentro dos princípios da mesma técnica sendo os n a t i vos a construir a sua escola, a sua casa, maternidade, etc. Este plano será, depois de concluído apresentado as entidades superiores da Província que o estudarão para ser aprovado. No capítulo de comunicações rodoviárias, está em construção a Estrada Nacional 1 - já quase concluída — que liga Lourenço Marques a Beira. Uma vez aberta ao tráfego produzirá um incremento extraordinário ao turismo do Distrito, onde existem condições naturais privilegiadas A estrada servira as praias de Z a v a l a , Závora, Jangamo, do T o f o , da Barra e do Poméne — próxima de Massinga. A nova estrada passará a cerca de 25 quilómetros de Vilanculos e a 40 de M a m b o n e , servindo, t a m b é m , o turismo cinegético nas regiões de Mambone — o n d e existe já há anos uma organização do género, a «Safarilândia» — do Funhalouro e Panda. — 185 —


Dentro da indústria, o descasque do caju está a tomar grande incremento. Vai ser instalada na M a x i x e uma fábrica, e outra já existente irão aproveitar os restos da castanha de caju para extrair outros sucedâneos, nomeadamente óleo. Também a industrialização do coco se está a esboçar. Três empresas já fizeram requerimentos para montarem fábricas para a sua industrialização para o aproveitamento da f i b r a , copra e da água. Algumas empresas nacionais e estrangeiras pretendem montar organizações turísticas em determinadas zonas marítimas para a prática de vários desportos, entre eles a pesca. T a m b é m está em vista a industrialização dos citrinos : enlatados em fresco, em compota e sumos, dos seguintes frutos : laranja, tangerina, ananás e caju. O Distrito de Inhambane está, assim, em vias de entrar num grande desenvolvimento em todos os seus sectores, a que o seu Governador não deixará de dar todo o apoio possível e estímulo.

Ofanato e Colégio de Nossa Senhora da Conceição

HISTÓRIA

DE

INHAMBANE

A cidade de Inhambane, pequena e graciosa, tem como divisa «Terra da Boa Gente» doada por Vasco da Gama, que segundo a tradição, ali aportou a 10 de Janeiro de 1498, no decurso da tormentosa viagem do descobrimento m a r í t i m o para a índia. Foi primeiramente um Reino absoluto, e mais tarde feitoria-presídio, sendo-lhe por carta Régia de 9 de M a i o de 1761 dada a faculdade de se erigir em V i l a . Só a 7 de Outubro de 1763 é que Inhambane tem o seu «Registo de Instrução, para por ele se reger o Governador e Capit ã o - M o r de C a p i t a n i a » . Foi elevada a cidade em 12 de Agosto de 1956, por ocasião da visita a Moçambique do Venerando Chefe do Estado, Marechal Craveiro Lopes. Ern 1560 ali desembarcou, acompanhado do Padre Fernandes e do Irmão André da Costa, o Padre Gonçalo da Silveira, com o f i m de espalhar a fé e radicar a moral cristã naquelas paragens. Passaram os anos e Inhambane, que D. Sebastião, ao fazer a divisão do Governo do Império O r i e n t a l , deixou na parte que ia desde o Cabo das correntes a D j a r - h a - f a n , nunca foi esquecido, tendo sido objecto de estudo e observações por M a n u e l Mesquita Perestrelo, na viagem que fez em 1575, também por ordem de D. Sebastião, desde o Cabo da Boa Esperança até Inhambane. Inspirando sempre grande interesse comercial, Inhambane passa a ser melhor conhecido pelas viagens dos navios chamados do Cabo das Correntes, que f a z i a m por estas regiões os seus resgates de m a r f i m e porventura de ouro, trazido pelos mucarangas, das regiões nortenhas de Monomotapa. — 186 —


Por ali passaram em 1552, os náufragos do naufrágio do «Sepúlveda» que iam a caminho de Sofala. Em Inhambane, também esteve por duas vezes A n t ó n i o Cardim Fróis, encarregado pelos Reis de Portugal de impedir a influência comercial dos Holandeses, obtendo a simpatia dos régulos do interior, que em 1727 lhe pediram que os nossos navios ali viessem mais frequentemente trazer-lhes fazendas e outros artigos do seu comércio. Inhambane foi um padrão de ocupação, de domínio e de trabalho, de que deve ter justificado orgulho, ainda que, muitos anos depois, tenha sido vencida pelas circunstâncias várias e determinadas pelo tempo e lugar, que a colocaram em inferioridade de condições, quanto a actividades progressivas no campo político e económico. A soberania portuguesa em Inhambane, pelos recuados tempos da segunda metade do século X V I I I , era protegida pela praça de Nossa Senhora da Conceição e pelo forte de S. João da Boa V i s t a , ambas as fortificações completamente desaparecidas. Entregue aos seus parcos recursos, Inhambane, nem sempre estimulada, soube manter com elevação em todos os tempos, o domínio português, cheia de fidelidade, persistência e patriotismo. Já em nossos dias, teve Inhambane um papel importante nas Guerras Vátuas de 1895, contra o potentado Gungunhana. Daqui saiu M o u z i n h o de Albuquerque com a cavalaria, a caminho de Coolela.

Praia do «Tofo»

Os arredores de Inhambane são prodigiosamente dotados de condições naturais para fomentar o seu turismo. À sua volta há muitas e belíssimas praias, destacando-se entre elas, a Praia do T o f o , onde além das transparentes e aniladas águas para banhos, se pode praticar a pesca, t a n t o à linha como submarina. Somente é necessário dotá-la de habitações e das comodidades necessárias e imprescindíveis. A própria baía de Inhambane tem boas condições para a pesca. A Cidade de Inhambane é a capital do Distrito do mesmo nome. Situada j u n t o da ampla baía de Inhambane, que tem cerca de 9 milhas de comprimento por 5 de largura. A área urbana da cidade de Inhambane é de 120 hectares, sendo a área suburbana de 1880 hectares. A cidade de Inhambane fica a cerca de 15 milhas da entrada da barra, tendo uma rede de distribuição eléctrica, em corrente alternada, e a iluminação das suas ruas, por meio de lâmpadas de vapor de mercúrio. Tem também uma rede de distribuição de água potável, considerada m u i t o boa, captada do Guiua. Os edifícios mais importantes são : Escola Industrial e Comercial «Vasco da Gama», residência do Governador, Escolas Primárias, Edifício do Governo e Repartições, Câmara M u n i c i p a l , Colégio de Nossa Senhora da Conceição, Hospital, Caminhos de Ferro, Direcção de Obras Públicas, Direcção e Repartição dos C.T.T., Paço Episcopal, um cinema e um hotel. É testa do caminho de ferro Inhambane-lnharrime. — 187 —


O porto é tranquilo e seguro, possuindo uma ponte-cais, em cimento armado para atracação de navios de a l t o bordo, dando possibilidade t a m b é m , a todos os navios costeiros. Inhambane alia à benignidade do seu clima, que levou muitos a chamá-la de «Sintra de Á f r i c a » , uma linda baía, aonde o pôr-do-Sol, de magníficos cambiantes de cor, constitui um espectáculo de sonho, verdadeiramente maravilhoso. Na cidade existem dois clubes : o Clube Ferroviário de Inhambane e o Clube Desportivo de Inhambane. No Clube Ferroviário praticam-se várias modalidades : f u t e b o l , hóquei patinado, classe de «ballet» e patinagem artística, leccionadas pela professora Pilar Sampaio.

Classe de Ballet

HISTÓRIA

DA

CÂMARA

MUNICIPAL

DE

INHAMBANE

Vamos falar de alguns ilustres Presidentes da Câmara, cujas figuras são de maior relevo. Aos primeiros livros de Registo da Câmara M u n i c i p a l de Inhambane falta-lhes as primeiras 40 fclhas, que foram dadas como desaparecidas. Assim, o primeiro presidente assinalado, data de 1788, tendo sido A n t ó n i o M a n u e l Fernandes. Segue-se, por ordem cronológica, José de Sousa Teixeira, presidente de 1863 a 1874, voltando à presidência da Câmara M u n i c i p a l , de 1885 a 1886. Este presidente foi casado com uma senhora descendente do General Fornasini — o f i c i a l do exército italiano, que se refugiou em Inhambane por motivos p o l í t i c o s — tendo chegado a ocupar cargos de relevo, pois naturalizara-se português, e ingressara no nosso exército. O General Fornasi — c u j o nome completo era Cario A n t ó n i o Fornasini — nasceu em Bolonha, na I t á l i a , tendo sido, t a m b é m , Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Inhambane, cargo que desempenhou de 1852 a 1858. O General Fornasini desenvolveu relevante actividade em prol do engrandecimento da «Terra da Boa Gente», o que levou o Governo a agraciá-lo com a Comenda de Cavaleiro áa Ordem de Cristo. Foi casado com uma natural de Inhambane, D. Augusta Carolina, da qual houve descendentes, assim se iniciando a Família Fornasini, que foi aumentando de geração para geração. O u t r o Presidente da Câmara, figura de relevo, foi João Tamagnini de Sousa Barbosa, o f i cial do Exército, que exerceu o seu mandato de 1914 a 1916, desempenhando t a m b é m , as f u n ções de Engenheiro Chefe das Repartições de Obras Públicas; Eng. Director dos Caminhos de Ferro e Administrador-Delegado da Comissão de Melhoramentos. Foi um homem de acção notável, que desenvolveu grande actividade não só em Inhambane como por todo o distrito, digna de ficar arquivada nestas páginas. — 188 —


O seu actual presidente, Dr. A r m a n d o M a r i a Dionísio, foi nomeado Presidente da Câmara de Inhambane em M a i o de 1963, lugar que continua ocupando. Nascido na Metrópole — e m Penafiel — fez a sua f o r m a t u r a em Farmácia na Universidade de Coimbra. O Dr. Armando M a r i a Dionísio foi para Moçambique em Janeiro de 1944, como oficial miliciano do Exército, com o posto de Tenente, fazendo parte da Companhia existente em Porto A m é l i a ; mais tarde, em 1947, foi transferido para Inhambane, onde terminou a comissão de serviço, após o que iniciou a sua vida profissional, naquela cidade. Em 10 de Fevereiro de 1951 foi nomeado vogal efectivo da Junta Provincial do Sul do Save, lugar que ocupou até à sua extinção. Depois, em A b r i l do mesmo ano, foi nomeado vogal suplente da Comissão A d m i n i s t r a t i v a da Câmara Municipal de Inhambane. Em 15 de Junho de 1955 foi chamado à efectividade até à exoneração da mesma, tendo sido nomeado nessa ocasião para vogal efectivo, lugar que ocupou até à sua nomeação — por eleição — para o mesmo cargo, e deste para Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Inhambane, tendo tomado posse em 22 de M a i o de 1963. O Dr. A r m a n d o Dionísio ocupa também o lugar de Vogal do Conselho Legislativo, como representante do Distrito de Inhambane, o qual foi eleito para o quadriénio de 1964-68. E ainda vogal eleito da Junta Distrital de Inhambane, lugar que ocupa desde 1964. Sempre atento aos interesses do seu município, o Dr. A r m a n d o Dionísio tem desenvolvido larga acção no sentido de promover o progresso da cidade, que dia a dia cresce e se embeleza, acompanhando o grande desenvolvimento que se verifica por toda a terra moçambicana.

Clube Ferroviário de Inhambane

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ALFREDO LOPES TOMÉ

A l f r e d o Lopes Tomé nasceu na V i l a do M a t o , Concelho de Tábua, na Beira A l t a . Veio para Moçambique com a idade de 17 anos, tendo-se colocado numa f i r m a de Inhambane, de nome M a n u e l Branco Rafael, Lda. Manteve-se nessa f i r m a , como empregado, durante treze anos, ao f i m dos quais passou a ser o dono, tomando-a de trespasse. A f i r m a dedicava-se ao comércio geral, continuando a manter o mesmo género de negócio o pioneiro A l f r e d o Lopes Tomé. Trabalhador incansável, ao f i m de três anos de estar estabelecido, lançou a ideia da construção de um hotel em moldes modernos, cuja f a l t a m u i t o se fazia sentir, pedindo Alfredo Lopes Tomé a colaboração de outros comerciantes da cidade, para que fosse f e i t a uma proposta ao Governador do Distrito. A sugestão foi bem aceite, mas tudo ficou em projectos, caindo no marasmo, e sem se dar solução a esse magno problema. Foi então que A l f r e d o Lopes Tomé, que possuía um terreno no centro àa cidade, tomou a iniciativa de, pelos seus próprios meios, const r u i r um edifício que servisse de hotel. Assim se transferiu o velho Hotel de Inhambane para a primeira unidade hoteleira da cidade, construída com esse f i m , tendo sido dado ao novo hotel o mesmo nome do antigo. Este foi inaugurado em 1962, tendo-se construído mais uma ala.

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O pioneiro A l f r e d o Lopes Tomé conseguiu levar a cabo este empreendimento, graças a um empréstimo que lhe foi concedido pelo Barkiays Bank, sem o qual não teria sido possível dotar Inhambane desse melhoramento, que tão indispensável era ao desenvolvimento e progresso da cidade. Se não fora o espírito empreendedor de A l f r e d o Lopes Tomé, talvez Inhambane ainda estivesse à espera do novo h o t e l , que servisse convenientemente todos quantos demandam a «Terra da Boa G e n t e » ! Há vinte anos que A l f r e d o Lopes Tomé chegou a Inhambane, e durante este longo espaço de tempo ainda não voltou a ver a sua terra n a t a l , sempre agarrado ao trabalho, debruçado sobre os seus negócios, no justo sonho de tornar c sua vida numa independência desafogada! A obra do hotel já concluída, custou mil e quinhentos contos, e a segunda ala mais quinhentos contos. Este é, sem dúvida, um Pioneiro cuja actividade progressiva tem vindo a enriquecer a terra que o recebeu.

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JOAQUIM ALVES — O PIONEIRO DO TURISMO

Ao Turismo de Moçambique ainda na sua a d o l e s c ê n c i a — está ligado o nome de Joaquim Alves, o seu iniciador, que há quarenta anos veio fixar-se na paradisíaca região de V i l a n culos, que tornou na mais encantadora Estância Turística de Moçambique, mercê do seu tenaz esforço, ajudado por sua esposa, D. A n a , de espírito tão empreendedor como seu marido. Joaquim Alves, natural da Metrópole, nasceu na região de Torres Vedras, vindo m u i t o jovem para a Á f r i c a , apenas com 17 anos. Há quarenta anos, vindo da Beira, chegou a V i l a n culos, Joaquim Alves, acompanhado da esposa, ambos m u i t o jovens — ela com 18 anos e ele com 20 incompletos.

Joaquim Alves a ser condecorado pelo Sr. Presidente da República quando da sua visita a Moçambique, em 1 9 6 4

Nessa época, Vilanculos não era mais que floresta virgem, que era necessário desbravar e onde nada havia que pudesse lembrar civilização! Foi preciso que D. A n a Alves começasse a ensinar os nativos ali existentes a cozer pão, a cozinhar, a costurar, e n f i m , a civilizar. Após terem construído a primeira casa e seus anexos, assim como uma rudimentar estrada, apareceu-lhes certo dia um amigo inglês, residente na Rodésia, que lhes solicitou alojamento para poder permanecer naquela bela zona m a r í t i m a , de que ele sabia ser, também, excelente para a prática da pesca. Joaquim Alves, gentil e hospitaleiro, acedeu ao pedido. Esse amigo regressou fascinado e entusiasmado com as belezas naturais de Vilanculos e do seu a r q u i pélago, falando aos seus amigos desta região de Moçambique, iniciando assim a sua propaganda. Mercê dessa mesma propaganda, as visitas sucederam-se continuamente, pois cada visitante era mais um propagandista da região de Vilanculos que ia ganhando adeptos e fama além-fronteiras. Em princípio, o alojamento era constituído por barracas de campanha. Quando estas a t i n giram algumas dezenas, Joaquim Alves pediu ume licença para a construção de «Bungalows» para assim poder corresponder à afluência, cada vez maior, de turistas e poder proporcionar-lhes um maior número de comodidades. Porém, os meses passavam e a necessária licença não vinha. Um simples pormenor burocrático, que uma vez resolvido visava em maior escala os interesses económicos da Província, e soluciando um problema de carácter geral. Os turistas pergunta— 192 —


vem qual a razão por que Joaquim Alves não construíra os «Bungalows» do que lhes havia falado, não sabendo que resposta dar! Por f i m , depois de terem passado dois anos à espera da licença de construção, e envergonhado, sem saber que explicação dar aos turistas — q u e ca de ano afluem em maior número a V i l a n c u l o s — decidiu iniciar, mesmo sem licença, as construções, vindo esta, f i n a l m e n t e , quando se completava três anos que tinha sido pedida! A luta despendida por Joaquim Alves para realizar a sua obra gigantesca, que é, sem sombra de dúvida, tem sido enorme! Joaquim Alves tornou num verdadeiro paraíso toda a zona de Vilanculos que se estende, hoje, até ao Inhassoro e Ponta de Bartolomeu Dias, bem como a todas as iíhas que formam o Arquipélago do Bazaruto, assim constituído : a ilha de maior extensão, Santa Carolina; Denguera e Magaruque ou Ilha de Santa Isabel.

Restou/ante — Pousada

de

Vilanculos

Para se poder avaliar da obra turística, gingantesca, feita nestes quarenta anos, por Joaq u i m Alves, é necessário falar do que hoje está feito. A l é m do p r i m i t i v o hotel, construído no centro da povoação de Vilanculos, existe, j u n t o à praia, uma série de casas, t i p o «Bungalow», e um h o t e l , que após a sua conclusão, foi aumentado quase para o dobro, e ficou concluído nesta segunda fase, d e f i n i t i v a m e n t e , em M a r ç o de 1965. A i n d a na parte continental, o Inhassoro possui um hotel de primeira classe, com salões de amplas vistas para o mar, moradias e vivendas para alojamento dos visitantes. O Inhassoro serve t a m b é m de base para a pesca do alto, proporcionando passeios ao longo da sua praia, cuja extensão é de setenta quilómetros, e tendo nas suas margens, aldeias de pescadores constituindo motivo de interesse apreciar a sua faina piscatória. O Inhassoro fica a cem quilómetros de Vilanculos, e como meio de transporte, pode usar-se o avião ou o automóvel. A norte do Inhassoro, ao longo da costa numa língua de terra ladeada pelo mar e por uma grande baía de águas tranquilas, onde desagua o rio Govuro, situa-se a chamada Ponta de Bartolomeu Dias. A í , a diversidade de tons das águas e de maravilhosos cambiantes, tornando o local paradisíaco! Nas suas águas há abundância de peixe, oferecendo aos desportistas aliciante distracção, além de haver, t a m b é m , grande abundância de ostras e caranguejos. Em Bartolomeu Dias construíram-se «bungalows» que ficaram aptos a receber turistas em M a r ç o de 1965.

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Falando do arquipélago, a Ilha do Bazaruto, que íhe dá o nome, é a maior e dista do continente 20 quilómetros, tendo de extensão quase t r i n t a . É o centro por excelência da pesca do alto-mar feita do lado do Canal de Moçambique, que compreende as espécies mais notáveis do género : espadartes, espadins, veleiros, etc. A pesca submarina é outro dos prazeres oferecidos, sendo esta feita do lado do continente, onde a ilha oferece baías abrigadas, com excelentes condições para banhos e natação. A ilha possui frondosa vegetação. O a'ojamento é proporcionado por «Bungalows», como os já existentes em Vilanculos. Não há restaurantes, fornecendo a Organização os serviços de cozinheiro para cada grupo de turistas. A Ilha de Santa Carolina, com cerca de dois quilómetros de extensão e de uns escassos trezentos metros de largura, é denominada pela gente a n t i g a , por «Pérola do Índico», e mais recentemente, os pa'ses nossos vizinhos, chamam-lhe a «Ilha do Paraíso», nome que se ajusta à sua beleza. «Santa Carolina possui deslumbrantes areias de coral branco e as suas águas são cristalinas e cálidas, protegidas por recifes coralíferos, que asseguram banhos em condições de segurança a crianças e adultos.

"Bungalows" no Inhassoro

Santa Carolina, igualmente oferece óptimas condições para a pesca submarina. Possui um hotel, moradias e vivendas mobiladas com todos os requisitos modernos. A Ilha de Santa Isabel ou M a g a r u q u e , fica situada em frente de Vilanculos, sendo de todas a mais próxima, a uma hora de barco. Santa Isabel, tal qual como as outras ilhas, oferece excelentes condições para a pesca do a l t o - m a r e submarina, dada a sua proximidade do Cana\ de Moçambique. A l é m disso, a pesca de terra e as praias completam os a t r i b u t o s desta ilha. Para alojamento, existem «Bungalows» e são fornecidos cozinheiros para cada grupo de turistas, assim como os alimentos. De Vilanculos e toda a sua zona turística irradiam todos os transportes para as ilhas, quer seja por mar, terra ou ar. A DETA e a Rhodesian A i r Services fazem as ligações directas com a Rodésia e Á f r i c a do Sul, além de táxis aéreos, pertencentes à Organização de Joaquim Alves. Existe uma estrada em boas condições até Macovane. O restante percurso até Vilanculos aguardava-se a sua conclusão. Por tudo atrás descrito se avalia — a i n d a que a diosa, criada pela tenacidade de um homem, que é afluxo turístico para a Província, e fomentando assim mico e de progresso. Justo é salientar uma obra que nativo, para que ela continue a crescer e possa servir — 194 —

traços l a r g o s — a obra turística, granJoaquim Alves, canalizando um grande uma riqueza imensa de carácter económerece a melhor atenção do poder govercondignamente o Turismo de M o ç a m b i -


que, igualando Vilanculos e o seu arquipélago :.. outras estâncias em idênticas condições, no estrangeiro. Para melhor se avaliar da importância desta zona turística, que tende a aumentar cada vez mais, há um movimento anual de mais de dez mil turistas! A terminar, queremos ainda salientar a acção de D. A n a Alves, natural de Moçambique, que ao longo destes quarenta anos tem sido uma companheira admirável e a melhor colaboradora da obra de seu marido, sacrificando toda uma vida ao mato e suas lutas, para civilizar s fazer progredir. Joaquim Alves foi, agraciado pelo Senhor Presidente da República, tendo recebido das mãos do Supremo Magistrado da Nação, quando da sua visita à Província, em Julho de 1964, a Comenda de M é r i t o Agrícola e Industrial, com que foi distinguido pela sua meritória obra de pioneiro.

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GOVERNADOR DE MANICA E SOFALA

DR.

FRANCISCO

CASTELO-BRANCO

GALVÃO

Na a l t u r a de iniciarmos esta obra, era Governador do Distrito de Manica e Sofala o Doutor Juiz Dezembargador Francisco Castelo Branco Galvão, natural de A r g a n i l , tendo-se licenciado em Direito no Universidade de Lisboa, em 1939. Iniciou a sua carreira profissional como Delegado do Procurador da República, na Comarca de Reguengos de Monsaraz, em Agosto de 1 9 4 1 . A 6 de M a i o de 1942 foi nomeado Delegado do Procurador da República para o U l t r a m a r , sendo colocado na comarca de S. Tomé, c u m u lativamente com as de Conservador do Registo Predial e Comercial. Depois, em Junho de 1943 foi colocado em A n g o l a , na comarca de Nova Lisboa, exercendo as mesmas funções até Agosto de 1945. Em Novembro de 1945 é colocado na índia, na comarca de Ilhas de Goa, onde exerceu as referidas funções e cumulativamente ainda, as de Procurador da República j u n t o do T r i bunal da Relação de Nova Goa. Nos anos de 1947 e 1949 exerceu t a m b é m , em comissão, o cargo de Chefe de Gabinete do Governador-Geral do Estado da índia. Promovido a Juiz de Direito e colocado na comarca de Damão, foi depois transferido para Cabo Verde (comarca de Sotavento), com sede na cidade da Praia, onde exerceu o cargo desde 25 de Janeiro de 1 9 5 1 . Em Fevereiro de 1954 é novamente colocado em A n g o l a , no comarca de Luanda — T r i b u nal da 3. a V a r a — . Em Janeiro de 1957 é colocado em Moçambique, na comarca da Beira — Tribunal da 1 . a V a r a — sendo promovido em 1960, por distinção, a Juiz-Desembargador e colocado no Tribunal da Relação de Lourenço Marques, iniciando essas funções em 5 de Setembro desse ano. Em Março de 1961 é nomeado Inspector Superior de Justiça, tendo procedido à inspecção das comarcas de Angola. Em 27 de Outubro de 1961 toma posse do lugar para o qual fora nomeado, de Presidente do Tribunal da Relação de Luanda. Em 5 de Fevereiro de 1963 toma posse do cargo de Governador de M a n i c a e Sofala. Este ilustre Governador foi condecorado, em 1964, pelo Chefe de Estado de Espanha, com a Ordem de M é r i t o Civil com Placa. Na actualidade, governa este distrito o Coronel Sousa Teles. — 196 —


IMAGENS DA BEIRA ANTIGA

O 1.° Comandante do Posto Militar do Aruângua LUÍS

INÁCIO

Posto Militar do A R U Â N G U A , Célula-Mãe da futura cidade da Beira, em Isto era a Beira em 1 8 9 2

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1890


Isto era a Beira em

1892

Aspecto da Avenida D. Carlos, na Beira, em 1 8 9 9


Praça Luís Ignácio, em

A primeira casa

de espectáculos, o

1905

«VICTORIA MEMORIAL

HALL».

construída em 1 9 0 1 , que era utilizada também, para festas de gala e variadas mannifestacões artísticas

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Quiosque e Coreto, no Largo Conselheiro Almeida, na Beira, em 1 9 1 8

BEIRA CIDADE DO FUTURO

Centro da cidade moderna

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A cidade do Beira é um testemunho perene do força civilizadora e colonizadora dos portugueses, que nesta parcela do território de Moçambique, operaram verdadeiro milagre, erguendo dos «pântanos» e das areias, a cidade airosa, que é hoje a capital de M A N I C A E SOFALA! Crescendo, dia-a-dia, mercê desse esforço heróico, que vem desde o estabelecimnto da autoridade portuguesa, criando no areal, à beira do mar, o primeiro Posto M i l i t a r do A R U Â N GUA, no recuado ano de 1887! Era de tal modo inóspita a região à volta do Posto M i l i t a r , numa periferia de algumas dezenas de quilómetros, que A N T Ó N I O ENES dissera num seu relatório acerca da Beira : «Custa-me a crer que a Beira fosse aquilo, areia e mangal debruando um enorme lameiro líquido, em que o PÚNGUÈ e o BÚZI vão dissolver as próprias margens laceradas por correntes, que fazem perder o pé aos hipopótamos!» Nem A N T Ó N I O ENES, nem os homens que defendiam no Posto de A R U Â N G U A a soberania portuguesa, puderam jamais pensar que daquelas terras houvesse a possibilidade de nelas construir e fazer surgir uma urbe bela e moderna, como é no presente, a segunda cidade da Província! Não podemos querer mal a esse extraordinário homem, que foi A N T Ó N I O ENES, nem àqueles heróicos militares de 1887, que defendiam o seu Posto, nas mais precárias condições! Era n a t u r a l , naquela época recuada, que descressem das possibilidades futuras da Beira, embora eles, já por si, encarnassem o símbolo da tenacidade e da têmpera portuguesa. Outros como eles, cheios de vontade e de fé em melhores dias vieram, e à custa dos maiores sacrifícios, fizeram uma cidade! E dela, aqui fica arquivado, imagens do passado e do presente da Beira, cidade do f u t u r o !

Iluminações no centro da cidade, quando a Beira comemorou o seu cinquentenário

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Três aspectos da Beira actual

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ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BEIRA

Aprovou os primeiros Estatutos com que esta Associação se constituiu sob a denominação da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BEIRA, a ordem nº 1 6 7 , de 14 de Setembro de 1893, do Governo do Território, subscrita pelo Governador, General Joaquim José Machado. Constam aqueles Estatutos de 49 artigos, e vêm publicados no seguimento daquela ordem, Boletim n.° 18, de 2 de Outubro de 1893, do Governo do Território sob administração da C O M P A N H I A DE M O Ç A M B I Q U E . A i n d a hoje, passados sessenta e oito anos, são as mesmas, nas suas linhas gerais as regras por que se governa a ASSOCIAÇÃO. Após algumas modificações de detalhe, veio o decreto de 25 de Janeiro de 1904, a aprovar a forma definitiva que então tiveram os Estatutos. Tem-se considerado q Carta Régia, decreto de 25 de Janeiro de 1904 acima citado, como sendo a data oficial da fundação da ASSOCIAÇÃO, porque, na verdade, só naquela data o Governo Central lhe deu existência com a sua aprovação. Tomou a ASSOCIAÇÃO parte activa, constante, em grande número de problemas de ordem económica emergentes do gradual desenvolvimento da cidade da Beira e do Território, depois DISTRITO DE M A N I C A e SOFALA, desde o recuado ano de 1893 até esta segunda metade do Século. Fundada dois anos depois do decreto de 11 de Fevereiro de 1 8 9 1 , que concedeu poderes majestáticos à C O M P A N H I A DE M O Ç A M B I Q U E para a Administração do Território de M A N I CA E SOFALA, acompanhou intimamente o evoluir do cidade e do Território e prestou a sua colaboração em todos os actos em que a mesma se tornou oportuna e ú t i l . Seria longo descrever, ainda que m u i t o resumidamente, tudo quanto consta dos seus arquivos a tal respeito. Entre aqueles muitos problemas avultam questões do mais a l t o interesse, como foram os estudos, informações e representações sobre licenças, tarifas, caminhos de ferro, encargos do porto, foros e contribuições, concessões de terrenos, mão-de-obra indígena, direitos aduaneiros, impostos de selo e outros, e t c , etc.

Edifício da Associação Comercial da Beira

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A sua fundação apenas dista seis anos da data da ocupação destas terras — 2 0 de Agosto de- 1 8 8 7 — dia em que desembarcou nas praias da baía de M A Z A N Z A N I a pequena força que constituiu o POSTO DE A R U Â N G U A , dando início à actual cidade da Beira, e sucedeu, apenas, em pouco mais de dois anos, a criação do Governo do Território pela C O M P A N H I A DE M O Ç A M B I Q U E , conforme acima se diz. Nestes últimos anos a actividade da ASSOCIAÇÃO desenvolveu-se consideravelmente. Além dos serviços de Secretaria, que se mantêm em função durante as horas comuns de expediente em cada d i a , foram criadas diversas secções, a saber : Madeiras; Ferragens e Materiais de Construção; Importadores de Automóveis e Garagistas; Construção C i v i l ; Turismo; Transitórios; Agentes de Transportes; Comissionistas; Papelaria; Mercearias, etc. A função destas secções tem sido utilíssima porque tende a coordenar e orientar as respectivas actividades, buscando melhor serviço ao público e melhor defesa dos seus interesses. A ASSOCIAÇÃO construiu a sua primeira sede em 1923, e substituiu-a em 1960 pelo sumptuoso edifício que orna, presentemente, a PRAÇA GAGO C O U T I N H O a oeste e PRAÇA DO COMÉRCIO a leste. Desde 8 de M a r ç o de 1962 que foi eleito Presidente da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, SAUL B R A N D Ã O , tendo sido reeleito em 1964. São vice-presidentes : Eng/58 JOÃO DE MENESES C A I A D O C A B R A L e M A N U E L SOARES DE RESENDE. Fazem parte do Conselho Director : DR. A R M I N D O DE BRITO, de «A M U N D I A L DE M O Ç A M B I Q U E » ; DR. M A N U E L G A M I T O , de ENTREPOSTO COMERCIAL DE M O Ç A M B I Q U E ; FREDERICO MARQUES M A N O , da f i r m a «STEIA»; M Á R I O ROCHA DE A L M E I D A , da firma G. B. BUCCELLATO; M A N U E L SALEMA, da f i r m a SALEMA & C A R V A L H O ; e FRANCISCO SAR A I V A BARRETO, da f i r m a SIMEL, LDA. É Presidente da Assembleia Geral o Eng.° JORGE PEREIRA J A R D I M , Administrador-Delegado da LUSALITE DE M O Ç A M B I Q U E . A ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BEIRA é galardoada com as seguintes condecorações : C O M E N D A DA ORDEM DE MÉRITO I N D U S T R I A L ; M E D A L H A DE OURO DO C I N Q U E N T E N Á RIO DA C I D A D E ; M E D A L H A C O M E M O R A T I V A DE 2 7 - I V - 1 9 5 3 ; M E D A L H A DE OURO DO I N S T I T U T O DE SOCORROS A NÁUFRAGOS e SÓCIO DE H O N R A DA C Â M A R A DE COMÉRCIO DE S. FRANCISCO DA C A L I F Ó R N I A . E para terminar a história da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BEIRA, vamos transcrever o pedido de aprovação dos Estatutos, que foi formulado por nove indivíduos — d o s quais só um era português — a t í t u l o de curiosidade : «Ordem n.° 167 : Tendo A. SHELDRICK, J. D. M A R T I N I , E. A M A V E T , H. H A N S I N G , W. DIEPWEEN, JOSEPH V A N P R A A G H , EDENBOROUGH & BAR, M A N U E L DE JESUS FILHO e JOSEPH ROBBERT, requerido a este Governo a aprovação dos Estatutos que formularam para uma Associação que pretendem constituir e que se denominará Associação Comercial da Beira. Considerando que esta Associação tem por f i m a protecção ao comércio e indústria que m u i t o convém auxiliar e cujo desenvolvimento produzirá benéficos resultados concorrentes para o progresso deste território. Tendo em atenção o parecer do Dr. Delegado do Procurador, da Coroa e Fazenda desta Comarca, dado sobre tal assunto em Ofício n.° 50 de 12 do corrente. Hei por conveniente aprovar os referidos Estatutos que contêm 49 artigos e baixam assinados pelo Conselheiro Secretário-Geral. Secretaria do Governo do Território de M a n i c a e Sofala, no Beira, 14 de Setembro de 1893. O Governador, J. Machado.» O actual edifício da ASSOCIAÇÃO C O M E R C I A L DA BEIRA foi inaugurado em 1961 então M i n i s t r o do U l t r a m a r , Dr. A d r i a n o M o r e i r a , quando da sua visita a Moçambique.

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pelo


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BIOGRAFIA DOS IRMÃOS LOPES, FUNDADORES DA EMPRESA COMERCIAL DE MEGAZA

O português João Lopes, natural do Concelho da Sertã, em 1900, tomou a resolução de ir até à Província de Moçambique, mesmo sem possuir qualquer conhecimento naquela Província, que lhe facilitasse ali a sua colocação. Seu espírito era intrépido e aventureiro. Chegado a Moçambique, colocou-se na cidcde da Beira, onde se empregou no comércio. Constando-lhe que seria bom negócio comprar gado aos indígenas da Z a m b é z i a , para depois ser negociado no V i l a de M a n i c a — q u e então se chamava de Macequece — terra situada no fronteira com a Rodésia, e próximo da cidade rodesiana de U n t á l i , em cuja região havia m u i t a falta de gado, João Lopes tomou a resolução de ir verificar pessoalmente, como era, sendo acompanhado de um outro português, de nome Faria.

Aspecto parcial do edifício da Empresa Comercial de Megaza, Lda. na Beira

O primeiro negócio fez-se, tendo sido bem sucedidos. É necessário esclarecer, que da região zambeziana, onde iam comprar o gado, até à V i l a de M a n i c a , ia uma distância enorme, que era necessário percorrer, através da selva inóspita, levando as manadas pelo seu pé, pois não havia outra forma de transporte, o que além de demorar m u i t o tempo, sujeitavam o gado a graves perigos e inconvenientes. Na segunda viagem que empreenderam foi tão mal sucedida, que o gado morreu todo pelo caminho, ficando os dois homem arruinados, pois t i n h a m empregado todo o seu dinheiro na compra daquela manada. João Lopes, empregou-se, em seguida, em Lourenço Marques, indo depois para Tete, onde trabalhava como recrutador de nativos para as Minas do Rand, na Á f r i c a do Sul. Em determinada a l t u r a o recrutamento foi proibido com a saída de uma nova lei, e por essa ocasião o seu A c a m p a m e n t o da Organização, era em M e g a z a , povoação j u n t o à fronteira com a Niassalôndia — hoje M A L A W I — isto sucedia no ano de 1909. Então, no ano seguinte, João Lopes, resolveu

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dedicar-se à agricultura — t a l v e z prevendo e pressentindo a riqueza enorme do solo zambeziano, fértil sob vários a s p e c t o s — cultivando feijão e uma pequena área de algodão. No f i m do ano de 191 1, João Lopes mandou vir da Metrópole um seu irmão mais novo, que t i n h a nessa a l t u r a 21 anos, chamado A n t ó n i o , para com ele trabalhar. Porém, no ano seg u i n t e , houve uma seca tão grande, que as colheitas perderam-se todas, ficando sem nada os dois irmãos. Por esse motivo abandonaram as suas terras em busca de trabalho, na esperança de mais tarde poderem voltar a cultivá-las, deixando o gado que ainda possuíam e as alfaias agrícolas entregues ao cuidado de um empregado nativo. Assim, o João empregou-se numa plantação de algodão, situada na região do Charre, na circunscrição de M u t a r a r a , e o A n t ó n i o na organização açucareira SENA SUGAR, onde permaneceu seis anos, ali grangeando muitas amizades, pois era um jovem honesto, trabalhador e enérgico. Depois, o João, com algum dinheiro amealhado, voltou às suas terras de Megaza, para as voltar a cultivar, enquanto o seu irmão A n t ó n i o continuava na SENA SUGAR, enviando para o irmão tudo quanto podia economizar e se destinava a custear as despesas do cultivo e progresso das terras, que iam alargando, e que algumas vezes o obrigou a fazer empréstimos que se destinavam ao mesmo f i m , amortizando-os ou pagando-os com as colheitas. Entretanto, já t i n h a vindo para a Província mais outro irmão, de nome Sebastião, que se encontrava colocado em Lourenço Marques. A SENA SUGAR, que m u i t o apreciava António Lopes, pelos seus dotes de trabalho e carácter, sabendo que estava em Lourenço Marques outro irmão, de nome Sebastião, ofereceu-lhe emprego j u n t o de seu irmão A n t ó n i o , o que foi aceite. Deste modo, tudo quanto os dois irmãos ganhavam era enviado para o irmão que estava em Megaza a dirigir as propriedades. Para isso sacrificavam tudo quanto lhes era possível para o fazerem em benefício das suas terras, que sucessivamente iam aumentando e valorizando-se. Em dada a l t u r a , como o movimento em Megaza aumentasse consideravelmente, o Sebastião abandonou a SENA SUGAR para ir ajudar o irmão, continuando o A n t ó n i o empregado, indo juntar-se aos irmãos em 1918. Como as propriedades —concessões a g r í c o l a s — haviam sido pedidas ao Estado em nome do irmão João —o mais velho e o i n i c i a d o r — resolveram entre si, que dividissem as concessões em três partes iguais, tantos quantos eram os irmãos Lopes, e por uma escritura feita em 1919, deram o nome à sua organização agrícola de «EMPRESA A G R Í C O L A » , que passou a denominar-se LOPES & IRMÃOS, LDA. Como a organização foi sempre aumentando e progredindo — hoje é uma das maiores organizações m o ç a m b i c a n a s — criaram uma outra empresa, denominada «EMPRESA COMERC I A L DE M E G A Z A » , que é formada pelos sócios da f i r m a Lopes & Irmãos, Lda. Dos três irmãos pioneiros, morreram os dois mais velhos : o João e o Sebastião. Na actualidade, os filhos e netos do Sebastião, são também sócios da empresa. Os irmãos Lopes fizeram uma obra colonizadora notável, pois ajudaram a fomentar a agricultura no riquíssimo Vale da Z a m b é z i a , financiando os pequenos agricultores do Vale do Chinde. Também na circunscrição de M o r r u m b a l a , no Distrito de Quelimane, a colonização efectuada naquela região foi totalmente f e i t a pelos irmãos Lopes, que providenciaram para que muitos dos seus conterrâneos viessem para Moçambique e se pudessem ali f i x a r , tendo-lhes dado todo o apoio m a t e r i a l , fornecendo-os e financiando-os em tudo quanto necessitavam, para poderem promover o progresso agrícola e comercial, e que, graças ao seu esforço, é hoje um dos centros mais importantes da Z a m b é z i a . M u i t o s dos europeus que vieram fixar-se a l i , são parentes dos irmãos Lopes, que deste modo, os quiseram agregar à sua expansão colonizadora e económica. Igualmente, os irmãos Lopes, fazem parte dos primeiros pioneiros que iniciaram a cultura de algodão em Moçambique. — 207 —


A c t u a l m e n t e , a organização possui as seguintes propriedades agrícolas : EMPRESA AGRÍCOLA DE M E G A Z A ; FÁBRICA DE A R R O Z , em N a n t e , na circunscrição de M A G A N J A DA COSTA; uma FÁBRICA DE C H Á , no Narre, circunscrição de V i l a Junqueiro, no GÚRUÈ. A empresa também construiu um prédio na cidade da Beira, com vários andares, onde possui todas as secções de escritório, bem como um «stand» de exposição de automóveis, conhecido pelo nome de Prédio M e g a z a , cuja inauguração se efectuou em 1959. A empresa criou, na Beira, um pequeno posto de rádio, para, diariamente, poder comunicar com todas as suas filiais dispersas pelos Distritos da Zambézia e de Tete. As Organizações Lopes & Irmãos têm a sua sede na Beira; f i l i a l em Megaza — Zambéz i a ; sucursais — a i n d a na Z a m b é z i a — em : M u r i r e ; Silva; Chirombe; M o r r u m b a l a ; Pinda; Móne e Derre; no Distrito de M a n i c a e Sofala, em : Baué; Missuássua; Sinjal e Chindio. As duas empresas agrícolas de chá produzem, anualmente, cerca de 750 toneladas de chá, que exportam para Inglaterra, Holanda, Á f r i c a do Sul e Portugal Metropolitano. A fábrica de arroz produz cerca de mil toneladas anuais, e é consumido pela Província. As Organizações Lopes Cr Irmãos ainda englobam Importação, Exportação, Representações — Comércio Geral e A g r i c u l t u r a . Empregam cento e oitenta empregados europeus, e nativos, dois m i l . Possui seis acampamentos nativos, em alvenaria, com capacidade para dois mil trabalhadores. Possui assistência médica. Paga em salários anuais : quinze mil e cem contos. Gasta com alimentação e assistência médica aos trabalhadores, cerca de três mil e quinhentos contos anuais. A n t ó n i o Lopes, o único pioneiro vivo, dos três irmãos, teve quatro filhos : A R T U R , A N T Ó N I O , FERNANDO e A L E X A N D R E . Ao filho primogénito quis pôr o nome do seu amigo A r t u r Paiva Raposo — q u e foi gerente geral da SENA S U G A R — como prova de amizade e para o homenagear. A biografia destes pioneiros foi-nos contada por A n t ó n i o Lopes, cuja vivacidade física e espiritual nos dá uma ideia do homem extraordinário que ele foi e ainda é. Curvamo-nos em sentida homenagem a ele e seus irmãos, que de forma tão notável, num esforço verdadeiramente heróico, contribuíram para a civilização e progresso económico das terras de M o ç a m b i q u e !

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"LUSALITE DE MOÇAMBIQUE"

Fachada principal da complexa fabril da LUSALITE

Na vila do Dondo, a cerca de 30 quilómetros da cidade da Beira — num local onde apenas existia pântano e f l o r e s t a — aí foi iniciada e erguida, em 1949, aquela que é hoje uma grande unidade fabril ao serviço da Província de Moçambique : a LUSALITE DE M O Ç A M B I Q U E . Inicialmente, a Lusalite principiou com um investimento de 60 mil contos, feito pela «Corporação M e r c a n t i l Portuguesa» e pela «Sociedade Portuguesa de Fibrocimentos», que foram os fundadores do que viria a ser a «Lusalite de M o ç a m b i q u e » , a qual ocupa uma área de 5 000 000 de metros quadrados, que hoje estão totalmente utilizados pela empresa. A escolha do local para este empreendimento foi propositada, pois o Dondo é um entroncamento ferroviário de m u i t a importância, com ligações para todos os territórios circunvizinhos e a poucos quilómetros da cidade da Beira — centro geográfico de Moçambique, servida por porto de mar demandado por barcos de todos os calados e de todas as nacionalidades. Dois anos foram necessários e gastos na construção da unidade f a b r i l , iniciando-se a laboração em 1 9 5 1 . Ao historiarmos a vida desta grande empresa, imprescindível se torna assinalar os nomes daqueles que mais de perto contribuíram para a sua concretização : Raul Abecassis, Dr. Manuel José Lucas de Sousa; Conde de A l t o M e a r i m ; Eng.° José A b u d h a r a n Abecassis; Eng.° José João Roque de Pinho e O t t o Barbosa da Silva. A primeira Administração era constituída por três elementos : Miguel de Oliveira, Manuel Joaquim Récio e M a x i m i a n o Baptista Leiria. Teve como primeiro Director Técnico o Eng.° Sousa Monteiro. Na actualidade, a Lusalite tem uma A d m i n i s t r a ç ã o em Lisboa e um Administrador-Delegado no Dondo, exercido pelo Eng.° Jorge Pereira J a r d i m ; um Director-Técnico, M a x i m i a n o Baptista Leiria e um Director-Administrativo, Carlos Duarte Silva.

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Aspecto interior da fábrica

A Lusalite tem dedicado a sua actividade à fabricação e artefactos de utilidade doméstica, à base do fibrocimento dada de cimento e a m i a n t o desfibrado. O cimento utilizado amiantos adquiridos na Rodésia, extraídos de minas de que Portuguesa» é a proprietária.

de materiais de construção civil — uma mistura sabiamente estué produzido na Província e os a própria «Corporação M e r c a n t i l

A seguir enumeramos alguns dos principais produtos fabricados pela Lusalite : Tubos para pressão, rega, esgotos e drenagens, chapas onduladas, lisas e complementares de cobertura, casas pré-fabricadas e armazéns curvos, mobílias para j a r d i m , reservatórios para água, de qualquer medida e capacidade. É interessante focar, que as casas pré-fabricadas em fibrocimento, desmontáveis e funcionalmente estudados para resolver, imediatamente, a instalação do agregado f a m i l i a r , são saudáveis, higiénicas e refractárias ao calor ou ao f r i o , resistentes ao sol e à chuva. A Lusalite u t i l i z a essas casas para habitação do seu pessoal menor.

Armazéns da fábrica

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Laboratórios

O bairro residencial da Lusalite ocupa cerca de 100 mil metros quadrados. Cuidado com gosto, é um jardim pleno de cor, pela profusão de flores, num ambiente de tranquilidade repousante! O a r r a n j o dos jardins de cada residência é objecto de concurso a n u a l , com prémios pecuniários estabelecidos pela Administração da empresa, com vista ao melhor t r a t a m e n t o de relvados, arranjo no alinhamento, embelezamento e conservação dos canteiros, bem como do aproveitamento dos quintais.

Casa do Bairro Operário

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Casa do Bairro Residencial

No bairro vivem cerca de 300 pessoas. Este possui Campo de Futebol; Campo de Ténis; Campo de V o l e i b o l ; Ringue, de Patinagem; Parque I n f a n t i l ; «Stand» de T i r o aos Pratos; Carreira de T i r o ao A l v o ; um acampamento permanente para as práticas escutistas; e um Campo de Aviação. No bairro, ainda existem dois edifícios próprios para convívio social, com salas de festa, cinema, palco, bar, salas de bilhar e pingue-pongue, e outro constituído pela sede do movimento escutista, de carácter particular. Na parte desportiva, praticam-se as seguintes modalidades : Hóquei em Patins; T i r o aos Pratos; T i r o ao A l v o ; Patinagem A r t í s t i c a ; Ténis; Futebol; V o l e i b o l ; Futebol de Salão; Pingue-Pongue. H á , ainda, uma Escola de Pilotagem, funcionando como uma secção do Aero-Clube da Beira.

Edifício da Sede do Clube

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Sala de Jogas da Clube

Os grupos desportivos da Lusalite têm conquistado numerosos troféus e taças, ganhas em competições em que têm participado. Na área ocupada pela Lusalite há estradas que somam cerca de oito quilómetros. A fábrica tem 400 empregados; cerca de 15 por cento destes estão ocupados na manutenção da Acção Social. A empresa gasta em salários anuais, sete mil contos; com a Assistência Social, mil e quinhentos contos anuais. As vendas, também anuais, oscilam entre os 30 e 40 mil contos. A Lusalite tem delegações em Lourenço Marques, Vila Pery, Quelimane e N a m p u l a , além de numerosos agentes espalhados por toda a Província.

Taças disputadas no Torneio de Tiro aos Pratos

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Na actualidade, a fábrica produz somente um pouco mais de um terço da sua capacidade, pois foi construída, logo de início, com capacidade de produção tendo em vista um f u t u r o de maior expansão. A visita, longa e pormenorizada, que fizemos a esta empresa, deixou-nos as melhores impressões, sob todos os aspectos, pois na Lusalite nada foi descurado. Os seus dirigentes têm sempre presente o lema, de que «trabalha melhor quem vive melhor». Assim, a Lusalite de Moçambique desempenha um papel importantíssimo no desenvolvimento da economia moçambicana, realizando simultaneamente, uma vasta acção de ccrácter social de repercussão presente e f u t u r a , que m u i t o contribuirá para o progresso de Moçambique.

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JOSÉ E MANUEL LOPES BULHA Os pioneiros JOSÉ e M A N U E L LOPES B U L H A são naturais da freguesia de Teixoso, próximo da Covilhã, onde eram comerciantes. José Lopes Bulha foi o primeiro a vir pare a Província de Moçambique, fixando-se na Beira no ano de 1926. O que incitou José Lopes Bulha a vir conhecer Moçambique, com a intenção de se fixar, foram as boas referências que lhes haviam sido feitas na Metrópole. Em 1928, tomou a f i r m a CAEIRO, LDA., que se encontrava quase em liquidação, e criaram uma nova f i r m a , que passou a denominar-se ALVES CORREIA & B U L H A , LDA. Em Dezembro de 1929, chegou à Beira seu irmão Manuel Lopes Bulha, para a ele se juntar. Desenvolvendo sempre uma grande actividade comercial, os dois irmãos vão prosperando e aumentando as suas actividades, criando novas organizações que, à cidade e à T r o v í n c i a trazem os benefícios de progresso e riqueza. Assim, do velho estabelecimento — d e um só piso de madeira e zinco, como eram todas as antigas construções — ergueram um prédio próprio, de três andares, que foi inaugurado em 1952, construído no coração da cidade, e cujo rés-do-chão ficou totalmente ocupado pelos Estabelecimentos Bulha, possuindo várias secções, entre elas, modas e confecções para senhora, homem e criança, não faltando a secção de perfumarias e do «pronto a vestir». N u m a parte do primeiro andar do prédio ficaram os escritórios da f i r m a ALVES CORREIA & B U L H A , LDA. Os restantes andares são ocupados por escritórios, consultórios médicos e «flats». Os irmãos Bulha criaram em 1950 a SOCIEDADE DE CONFECÇÕES DA BEIRA, onde são confeccionadas todas as confecções apresentadas nos seus estabelecimentos, de roupas para senhora homem e criança.

Edifício da CASA BULHA

Criaram ainda uma outra f i r m a , que se dedica ao comércio geral por j u n t o , denominada BULHAS, LDA. Os irmãos B U L H A são, igualmente, os sócios fundadores da Empresa Portuguera de Madeiras, Lda., de que são proprietários, com fabrica de contraplacado, situada na Manga. A f i r m a ALVES CORREIA & B U L H A , LDA. possui ainda sucursais nas cidades de QUELIM A N E e TETE. Os estabelecimentos ALVES CORREIA & B U L H A , LDA., bem como a SOCIEDADE DE CONFECÇÕES DA BEIRA — i n t i m a m e n t e l i g a d a s — p o s s u e m a c t u a l m e n t e , cinquenta empregados europeus e nativos cento e cinquenta. A f i r m a pagou em salários, no ano findo — incluindo a fábrica de confecções — três mil e quinhentos contos. Por estes números se concluiu do valor económico que representam as actividades dos irmãos Bulha, fomentando riquezas com que t ê m contribuído para aumentar o progresso da cidade da Beira, sua economia e, consequentemente, da Província.

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"CELMOQUE" FABRICA

DE

CONDUTORES

ELÉCTRICOS

DE

MOÇAMBIQUE

A Fábrica de Condutores Eléctricos de Moçambique — C E L M O Q U E — é uma das mais modernas unidades industriais de toda a Província. Nasceu da compreensão e do espírito de iniciativa dos homens da Fábrica Nacional de Condutores Eléctricos — CEL — e Cabos Armados e Telefónicos, Lda. — C A T — que a f u n daram. Em 1960, a CELMOQUE iniciou a sua prcdução, embora ainda em fase experimental. Em M a i o de 1 9 6 1 , teve lugar a inauguração oficia!, com a fábrica já em laboração.

Vista parcial da fábrica " C E L M O Q U E "

O conjunto arquitectónico das suas instalações, embora simples, modernas e funcionais, é notável, como é digno de nota o seu moderníssimo complexo electromecânico. Construída no parque industrial da M a n g a , a CELMOQUE é uma empresa que se impôs no mercado moçambicano pelos seus produtos, pois não goza de qualquer protecção, nem possui exclusivo para o caudal da sua produção. A sua contribuição para o equilíbrio da balança de Moçambique é importante, para o que basta aientar-se no estancamento de divisas que a sua actividade representa para a Província, f a c t o que significa uma valiosa contribuição ao nosso plano económico, e ainda, a satisfação de fazer colocar em Moçambique pessoal especializado, que veio criar raízes de f a m í l i a , e assim, contribuir para um Moçambique melhor. A CELMOQUE iniciou a sua produção com 15 máquinas fabris e grande número das mais diversas máquinas auxiliares e de oficina, trabalhando no fabrico de fios e cabos eléctricos apropriados para transmissão de luz e energia, sinalização, rádio e T.S.F., automóveis, reclames luminosos, telégrafos, telefones e telecomunicações, instalações térmicas, etc. Estes fios e cabos são revestidos a substâncias termo-plásticas sintéticas e conforme as exigências da sua aplicação, sujeitos aos mais variados acabamentos. Uma vez terminada a sua fase de fabrico e antes de serem enviados aos mercados, passam por variadas provas de ensaio que confirmarão a sua

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Aspecto geral da secção de expedição

eficiência. Para este f i m , a CELMOQUE dispõe de um laboratório equipado com o que há de melhor na técnica moderna, onde os seus produtos são submetidos a ensaios mecânicos, t é r m i cos, de resistência de isolamento, resistência eléctrica, alta tensão, etc. A CELMOQUE está, deste modo, equipada com condições de satisfazer, inteiramente, os mercados de Moçambique, com produtos de primeira qualidade.

Pormenor da fabricação de cabos eléctricos

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Tal como as grandes indústrias europeias, a CELMOQUE desenvolve uma acção social de grande valor. Os salários dos seus empregados, sem distinção de raças ou de credos, são, em m u i t o , superiores aos mínimos estabelecidos pelas leis em vigor. As normas de segurança do pessoal são rigorosas, e as condições de reparação dos acidentes no trabalho, são das mais vantajosas. A l é m do fornecimento de fatos de trabalho a todo o pessoal f a b r i l , os empregados t ê m direito a transporte em autocarros da empresa, férias pagas e no f i m de cada ano, pelo N a t a l , são-lhes atribuídas gratificações equivalentes a um mês de salário, e numa festa realizada para tal f i m , são distribuídos brinquedos aos seus filhos.

Equipa de futebol da fábrica " C E L M O Q U E "

A CELMOQUE possui, t a m b é m , uma secção desportiva e recreativa, com campos de jogos, sala de leitura e cantina. O Grupo Desportivo da Celmoque tem-se feito representar em diversas actividades desportivas : Futebol, Futebol de Salão, Voleibol, Ténis e T i r o a Chumbo. Dada a fase de desenvolvimento e progresso que a Província atravessa, a CELMOQUE projecta ampliar as suas instalações fabris, armazéns e expedição. Essa ampliação fazer-se-á em três fases : a primeira, num valor global de três mil contos; a segunda, que orçará por dois mil contos e a terceira e ú l t i m a fase, constará de mais um pavilhão, com um grupo de cinco máquinas, que atingirá o valor de dois mil e quinhentos contos. Esta ampliação prevê-se realizada num espaço de cinco anos. A CELMOQUE tem delegações em Lourenço Marques e Quelimane. A Administração é em Lisboa. O seu Director-Geral, na Beira, é A r t u r Silva de A l m e i d a M a r t i n s , e o Director Técnico, o Eng.° Borges Coelho. A CELMOQUE exporta para a Á f r i c a do Sul e M a l a w i . Na laboração e outros serviços, na Beira, t e m 50 empregados nativos e 25 europeus. Salários anuais despendidos : dois mil e quinhentos contos. Despesa a n u a l , com assistência médica aos empregados : cento e cinquenta contos. Vendas anuais : entre doze e treze mil contos. Por tudo quanto fica exposto, verifica-se que a CELMOQUE é uma empresa que se impôs pela qífalidade dos seus produtos, cuja iniciativa é um exemplo. São realizações como esta, que valorizando c património da Província, a fazem caminhar na senda do progresso. — 218 —


PIONEIRO MANUEL XAVIER DA GAMA LOBO SALEMA

MANUEL XAVIER DA GAMA LOBO SALEMA no seu gabinete de trabalho

O pioneiro M A N U E L X A V I E R DA G A M A LOBO SALEMA nasceu em Lisboa e veio para Lourenço Marques com seus pais e irmãos, todo? na primeira infância. Foi na capital da Província que iniciou os estudos tendo-os completado em Joanesburgo. Depois, iniciou a sua a c t i vidade trabalhando em diversas firmas comerciais de Lourenço Marques até ao ano de 1929, altura em que veio para a cidade da Beira e se estabeleceu de sociedade com o pioneiro BENJ A M I M Z A F R A N Y , e m 1930. Em 1940, a posição deste sócio foi tomada pela f i r m a de Lourenço Marques, J. A. CARV A L H O & C O M P A N H I A , LDA. — d o n o s da M I N E R V A C E N T R A L — pioneiros do livro em Moçambique. A pequena f i r m a nascida no ano de 1930 — h o j e denominada M. SALEMA & C A R V A LHO, LDA. — converteu-se na florescente organização que hoje é, tendo a sua sede no Largo Luís de Camões, onde se encontram as secções de t i p o g r a f i a , papelaria e equipamentos de Escritório, e da sucursal, situada na Praça A l m i r a n t e Gago Coutinho, ocupando uma vasta área do prédio da Associação Comercial da Beira, onde tem os ramos de livraria, material fotográfico e escolar. A finsna, igualmente possui uma sucursal em Vila Pery.

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Um aspecto do estabelecimento da moderna livraria

«M. SALEMA & CARVALHO»

M A N U E L X A V I E R DA G A M A LOBO S A L E M A casou com uma filha do seu primeiro sócio, o pioneiro B E N J A M I M Z A F R A N Y — q u e viera para a Beira nos finais do século passado — aqui tendo nascido dele três qeracões. Hoje, um dos actuais sócios da f i r m a , JOSÉ G O N Ç A L VES, é genro de M A N U E L SALEMA. A q u i arquivamos —a traços l a r g o s — a obra de um pioneiro, que a Moçambique e ao seu progresso tem dedicado toda uma v i d a !

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CAETANO LOPES

O pioneiro C A E T A N O LOPES nasceu na Sertã, terra metropolitana, que cedo deixou, para ir em busca de melhores e mais rasgados horizontes onde o seu precoce espírito empreendedor começava já a demonstrar o que viria a ser, pois quando abandonou a casa paterna, em direcção à capital do Império, t i n h a apenas 12 anos! Aí trabalhou e estudou, até que em 1919 veio de abalada a t é Moçambique, coloa.ndo-se na Beira, no comércio geral, como empregado da firma «F. L. Simões & Companhia». Aí permaneceu durante seis anos, saindo para se estabelecer no comércio, j u n t a m e n t e com outro pioneiro — J O S É C A R D O S O — nascendo assim a f i r m a CARDOSO, LOPES, LDA., que ainda hoje existe em florescente laboração. Após onze anos dedicando-se ao comércio, Caetano Lopes, sempre activo e empreendedor, leva a sua sociedade comercial a dedicar-se, t a m b é m , à indústria de madeiras. Assim, em 1937, a sua f i r m a associa-se a um cidadão italiano, que possuía uma serração, laborando com ele cerca de três anos. Após esse período, a serração pcssa a ser t o t a l m e n t e da sociedade CARDOSO, LOPES, LDA., e à frente dela, gerindo-a, C A E T A N O LOPES. Em 1945, ligaram-se à serração, ingleses residentes na Á f r i c a do Sul, a l t u r a em que é criada a nova f i r m a denominada SERRAÇÕES DO I N H A N S A T O , LDA. — nome que lhe é dado pelo local onde existe. Na nova f i r m a , Caetano Lopes, tal qual como anteriormente, continua a exercer as f u n ções de gerente, sendo um dos sócios principais. Nas suas funções de gerente, só é substituído, quando vai de férias para a Europa, em que toma o seu lugar, o sócio Diamantino Galamba Vieira. As Serrações do Inhansato estão instaladas em plena floresta, formando, cada uma delas, sua aldeia, onde pulsa um r i t m o febril e constante de t r a b a l h o ! As serrações situam-se nas terras do «RÉGULO G A L I N H A » , na circunscrição de C H E R I N GOMA, a oitenta quilómetros da cidade da Beira As suas instalações são modelares, possuindo dezenas de camiões, tractores, caterpilares e outros maquinismos. — 221 —


As Serrações do Inhansato são especialistas no fabrico de travessas para os caminhos de ferro e «parquet», produzidas nas melhores madeiras. A empresa fornece, além dos Caminhos de Ferro de Moçambique e da Trans-Zambezia Railways, grandes e importantes empresas da Beira, Rodésia e Á f r i c a do Sul. Na Europa, fornece para : Inglaterra, Alemanha, Irlanda e Holanda. As Serrações do Inhansato possuem escritórios na Beira e em Joanesburgo. Oitenta por cento da sua produção é exportada, e o restante gasto na Província. As suas concessões florestais são, aproximadamente, de cerca de oitenta quilómetros quadrados, sendo servidas por mais de duzentos quilómetros de estradas bem traçadas, utilizando pontes de madeira, construídas com toda a segurança. A empresa tem ao seu serviço operários nativos, que oscilam entre seiscentos e m i l , e tendo seis empregados mistos e cinco europeus. Aos empregados é dada toda a assistência médica, tendo um médico privativo e enfermeiros, possuindo cada aldeia um posto de socorros permanente. Cada aldeia possui, t a m b é m , uma escola, cujas frequências oscilam entre setenta e oitenta alunos. São despendidos em salários anuais, dois mil oitocentos e quarenta contos, e em assistência médica, vestuário, alimentação, e t c , mil trezentos e oitenta e cinco contos. Todo o pessoal está bem instalado, em casas tipicamente construídas de madeira, que fazem lembrar as construções de alguns países europeus onde caem grande nevões. Por dentro, são confortáveis, e qualquer europeu ali passaria umas óptimas férias, em contacto com a beleza selvagem da floresta, que o deixaria maravilhado, fazendo-o esquecer a civilização! Nas Serrações do Inhansato, em plena região florestal de M a n i c a e Sofala, todos os dias se arranca riqueza à floresta imensa, que não se cansa de dar-se ao homem, que a m u t i l a , e que, mesmo assim, fica ainda plena de seiva e de arvoredo. Não nos a d m i r a , que homens como o pioneiro C A E T A N O LOPES se prendessem às belezas das terras de Moçambique, que são, ao mesmo tempo, fonte de inesgotável beleza e riqueza imensas, que extasiam e prendem aqueles que com ela tomam contacto! Assim, C A E T A N O LOPES tem já uma permanência na Província de cinquenta e um anos, que o seu génio empreendedor e trabalhador, ajudou a progredir e a civilizar!

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SAUL BRANDÃO

SAUL B R A N D Ã O é natural de A r g a n i l , tendo vindo para a Beira no ano de 1936, colocando-se como funcionário da C O M P A N H I A DE M O Ç A M B I Q U E , onde permaneceu alguns anos, após o que se dedicou ao comércio. Desenvolvendo notável actividade, trabalhando com afinco, fez progredir as suas actividades comerciais, que lhe fizeram alcançar uma posição de destaque na Província, posição conquistada com o seu esforço e dotes de carácter. Pleno de iniciativa, a ele se deve a criação dos Serviços de Viação denominados « A U T O -TRANSPORTES, L D A . » , que servem a área urbana da cidade e seus bairros suburbanos. Juntamente com portugueses residentes na Beira, criou uma sociedade destinada à exploração de madeiras, denominada Sociedade de Transportes Lenha, Lda. Igualmente foi o f u n dador da f i r m a « A U T O - I N D U S T R I A L , L D A . » , que se dedica ao ramo de automóveis, assim como fundou também a f i r m a denominada «PREDIAL U L T R A M A R I N A » , que se dedica à construção civil. Fundou ainda uma nova organização, com a finalidade de agrupar as várias coutadas existentes no Distrito de M a n i c a e Sofaia, dedicadas aos SAFARIS, e em conjunto serem administradas, tendo em vista dar um maior incremento ao Turismo Cinegético e levar ao conhecimento dos grandes centros europeus e americanos, a riqueza cinegética de M o ç a m b i que, nomeadamente, neste distrito, tendo Saul Brandão sido convidado para exercer as funções de Administrador-Delegado dessa organização, c que foi dado o nome de «SOCIEDADE DE SAFARIS DE M O Ç A M B I Q U E , L D A . » . Também o maior hotel da cidade da Beira é um empreendimento de Saul Brandão, dotando-a com uma magnífica unidade hoteleira, que é o HOTEL E M B A I X A D O R . Situado no centro da cidade, de linhas modernas e todos os requisitos modernos, para bem servir aqueles que visitam a Beira. O edifício tem seis andares; uma acolhedora «boite», f u n cionando todas as noites; ampla sala de jantar, situada no 5.° andar, bem como o bar e salas de leitura. — 223 —


O belo edifício do Hotel Embaixador

Ao HOTEL E M B A I X A D O R ficam ligados muitos dos actos sociais da cidade, pois é nas suas salas que se realizam com bastante frequência, jantares, almoços, «cocktails» e com grande movimento de viajantes em trânsito. 0 HOTEL E M B A I X A D O R abriu as suas portas a 13 de Agosto de 1958. E porque t e m interesse biográfico, vamos falar de alguns hotéis que existiram na Beira de outros tempos — pois foi sempre um centro de grande movimento de viajantes em trânsito que o seu porto de mar e as várias terminais de linhas férreas fizeram convergir.

Bar do Hotel Embaixador

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Os hotéis mais antigos e de fama foram o «QUEENTS HOTEL» — talvez o maior de há cinquenta anos, que apesar de ser de madeira e zinco, possuía três andares! — e o « V I T O R I A HOTEL», existindo na mesma época, do qual oferecemos uma imagem. A Beira, de ano para ano, cresce e embeleza-se, graças ao esforço de um punhado de portugueses de rija têmpera e espírito progressivo e empreendedor, que aqui se f i x a r a m , como Saul Brandão, cujas iniciativas ficam ligadas ao seu nome e ao progresso da Beira. A l é m de ter sido o Presidente da Associação Comercial da Beira, Saul Brandão pertenceu também ao Conselho Legislativo de Moçambique, onde participou activamente. Saul Brandão faleceu quando esta obra se encontrava no prelo.

«ROYAL HOTEL» com tradições na Beira de há meio século

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COMPANHIA DE SEGUROS "A MUNDIAL DE MOÇAMBIQUE" ALGUMAS

NOTAS SOBRE A FUNDAÇÃO DA

E O

DESENVOLVIMENTO

COMPANHIA

O moderno edifício da Companhia de Seguros

«A MUNDIAL DE MOÇAMBIQUE»

Por escritura pública lavrada em 12 de Dezembro de 1956, foi definitivamente constituída a Companhia de Seguros «A M u n d i a l de Moçambique» e foram seus accionistas fundadores a Companhia de Seguros «A M u n d i a l » , os senhores D i a m a n t i n o Galamba V i e i r a , Eng.° Jorge Pereira Jardim, Eng.° Fernando A n t ó n i o da Veiga Frade, Saul Brandão, José Alexandre Marques, Fernando Ferreira Duarte, Caetano Lopes, M a n u e l da Veiga Frade, A l b e r t o Alves, A n t ó n i o Queirós da Cunha e Manuel da M a i a Júnior. Com a orientação de «A M u n d i a l » , deu a ainda jovem Companhia os seus primeiros passos no ano de 1957 que constituiu o seu primeiro exercício. Dos seus Conselhos de Administração têm f e i t o parte : Eng.° Jorge Jardim, Eng.° Fernando Frade, Gastão de M o u r a , D i a m a n t i n o Galamba V i e i r a , Saul Brandão, Manuel Frade, M a r i n o Moreira e Eduardo Ferreira.

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E é à competente administração destes homens que a Companhia deve não só o extraordinário desenvolvimento que se vem processando através dos seus 13 anos de idade como o enorme prestígio que goza no mercado segurador de Moçambique. Poderá, com efeito, fazer-se u m a ideia do que tem sido a evolução de "A Mundial de Moçarmbique», se atentarrmos em que até hoje foram reguladas indemnizações em montante superior a 70 000 contos e as suas reservas técnicas ultrapassam os 50 000 contos. Correspondendo cabalmente à esperança com que Moçambique viu constituir mais uma companhia, «A M u n d i a l de Moçambique» aqui tem aplicado todas as suas reservas, contribuindo para o seu progresso económico, orientação que aliás foi tomada desde o começo. E é consolador ver hoje o imponente e moderno imóvel, onde está instalada a sua sede na Beira e poder afirmar que, em empréstimos para construções, concedeu a Companhia aos inúmeros mutuários mais de 50 OCO contos. Sem prejuízo para a justa remuneração do capital accionista, com a distribuição de d i v i dendos (a partir de 1961), foi possível j á , mercê de sóiida administração, destinar 2 0 0 0 contos de capital (exercício de 1963 e 1964) para amortizar o capital ainda não realizado pelos senhores accionistas. E assim se pensa conseguir a liberação das acções. Na sua sede e nas suas delegações de Lourenço Marques, Inhambane, Vila Pery, Quelimane e N a m p u l a , «A M u n d i a l de Moçambique» dá trabalho a muitas dezenas de portugueses, e através de uma rede de agentes idóneos, espalhados por toda a Província, cria a confiança de todos os seus segurados.

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COMPANHIA TÊXTIL DO PÚNGUÈ

A C O M P A N H I A T Ê X T I L DO PÚNGUÈ surgiu de um desejo manifestado pelo Governo, feito aos industriais metropolitanos para criarem grandes indústrias em Moçambique, nomeadamente naquelas regiões mais propícias a determinadas culturas. O grupo CUF, dando realidade a essa sugestão, resolveu criar a C O M P A N H I A T Ê X T I L DO PÚNGUÈ, na Beira, que teve início em 1956, sendo uma Sociedade A n ó n i m a . Em 1957 teve início a construção da fábrica, que se dedicaria ao fabrico de artefactos de j u t a e fibras similares, entre elas, o kenaf, substituto da j u t a . A fábrica iniciou a sua laboração em 1958, estando apetrechada com a mais moderna maquinaria de fiação e tecelagem, ocupando uma área t o t a l , as suas instalações na M a n g a , de doze mil metros quadrados. A Companhia dispõe de uma exploração agrícola no Vale do Púnguè, Distrito de Manica e Sofa'a, que é o centro da sua produção de fibras, onde desenvolve a cultura de sucedâneos da j u t a , nomeadamente o kenaf, que é de grande alcance e valor económico. A C O M P A N H I A T Ê X T I L DO PÚNGUÈ t e m agricultados 4 6 0 0 hectares de cultura anual, o que constitui a maior área de cultura deste tipo, do Continente Africano. Em relação ao kenaf, houve anteriormente à existência da Companhia, uma tentativa para lançar a sua produção, mas feita sem continuidade e não apoiada numa organização agro-industrial que lhe assegurasse o êxito. A C O M P A N H I A T Ê X T I L DO PÚNGUÈ aproveitando a experiência que o grupo CUF já tinha adquirido em A n g o l a , foi quem promoveu o início da expansão das fibras que hoje tem Moçambique. As áreas cultivadas para produção da fibra e semente, por agricultores estranhos à Companhia, têm evoluído consoladora e progressivamente, desde a campanha de 1958-59, que foi de cento e sessenta e três hectares. Para a presente campanha estão cultivados 7 mil hectares. Nos mesmos períodos, agricultores interessados, foram em 1958-59, apenas um europeu. Em 1968-69, o número ascendeu a 121 agricultores europeus e 403 africanos, num total de 524.

Vista geral da fábrica

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Por estes dados se conclui que a C O M P A N H I A T Ê X T I L DO PÚNGUÈ tem sido a fomentadora da cultura das fibras têxteis — p r ó p r i a s para o fabrico de s a c a r i a — nomeadamente, do kenaf, não só através dos seus serviços de assistência técnica, como por meio de difusão de instruções escritas sobre métodos de cultivo; com visitas repetidas aos agricultores; com pareceres técnicos sobre a escolha de terrenos e aquisições de alfaias e fornecimentos de sementes comprovadas. Tem tido, ainda, influência decisiva, na expansão da c u l t u r a , o auxílio financeiro prestado pela C O M P A N H I A T Ê X T I L DO PÚNGUÈ a todos os agricultores, indistintamente, que dela carecem. Coube à C O M P A N H I A T Ê X T I L DO PÚNGUÈ realizar e promover em Moçambique e no cidade da Beira, a « I V R E U N I Ã O DA COMISSÃO T É C N I C A DO INSTITUTE EUROPEAN POUR L'ÉTUDE DES FIBRES INDUSTRIELLES». Esta reunião, a primeira realizada no Continente A f r i c a n o , teve a participação de t r i n t a e oito delegados, representando treze países e três continentes. A sua realização teve lugar de 29 de Março a 3 de A b r i l de 1965, e constituiu uma jornada plena de interesse. Parece-nos interessante darmos aqui uma explicação sumária do que é o kenaf e qual o seu valor económico, dado que Moçambique, a esta d a t a , é o primeiro produtor de kenaf do Continente A f r i c a n o . O kenaf —Hibiscus cannabirtus, L . — pertence à família das malváceas. Planta herbácea, anual, desenvolvendo-se entre oitenta a cento e cinquenta dias, conforme a variedade e época de sementeira. Caules erectos, simples, mais ou menos lisos, pilosos, podendo atingir quatro metros de a l t u r a . A fibra encontra-se encerrada na casca que envolve o caule, sendo extraída por diferentes processos, sendo o mais generalizado, o de maceração bacteriológica, que pode ter lugar em qualquer exploração agrícola. Os sacos de j u t a — o u dos seus similares e d e r i v a d o s — constituem a embalagem mais corrente e própria — p o r t a n t o a mais procurado e u t i l i z a d a — para o transporte e comercialização de uma enorme e variada gama de produtos, nomeadamente os agrícolas. Os sacos de j u t a eram, até há meia dúzia de anos, importados na sua totalidade, da Península Industânica — a índia é o maior produtor mundial.

Um aspecto parcial do complexo fabril

A C O M P A N H I A T Ê X T I L DO PÚNGUÈ, com o seu conjunto agro-industrial, modificou essa situação nitidamente desfavorável, prevendo hoje, praticamente, ao integral abastecimento de Moçambique. A cultura do kenaf em Moçambique apareceu como um substituto da j u t a , de fácil adaptação às diversas regiões da Província, com seguras possibilidades de garantir o abastecimento de matéria-prima à nossa indústria têxtil de sacarias e grossarias e de vir a tornar-se um sólido esteio de exportação. O kenaf constitui um valor económico de grande interesse para Moçambique, onde encontra condições ecológicas ideais para a sua cultura. Originário da índia, o kenaf cultiva-se em diversas regiões do mundo, principalmente na Tailândia (designado por j u t a do Sião), V i e t n a m e , China, Rússia, Pérsia, Egipto, Cuba, Espanha, Brasil e, agora, em Moçambique, já o maior produtor africano em cultura planificada. — 229 —


Secção de tecelagem da fábrica

A importância do kenaf justifica-se na medida em que se t r a t a de uma planta boa produtora de fibra e menos exigente, em solo e clima, que a j u t a . A cultura do kenaf é do mais alto interesse para a lavoura de Moçambique. Facilmente adaptável a uma grande variedade de condições ecológicas; de cultura f á c i l ; m u i t o resistente a pragas e doenças — o kenaf garante ao agricultor uma certeza de êxito. Ao agricultor evoluído, dispondo de meios que permitam uma mecanização quase t o t a l , o kenaf garante largas perspectivas; para o pequeno agricultor, é uma rentabilidade assegurada; para o agricultor autóctone, pela facilidade e natureza que requer, o kenaf pode considerar-se a cultura f a m i l i a r ideal. A Companhia eleva a sua produção anual de artefactos a oito mil e quinhentas toneladas. Consome nove mil toneladas de fibra por ano. Tem ao seu serviço cento e dez empregados europeus e três mil operários africanos. Os seus investimentos actuais são de cerca de cem mil contos, sendo setenta e dois mil na parte industrial e vinte e oito mil no sector agrícola. À frente desta grande organização encontram-se dois obreiros, cujos nomes é justo salientar. Em primeiro lugar mencionamos o DR. FREDERICO DA CRUZ RODRIGUES — o Presidente

Outra secção de tecelagem —• Tear automático

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do Conselho de Administração da C O M P A N H I A T Ê X T I L DO P Ú N G U È — que presidiu aos a l i cerces da sua fundação, orientando e conduzindo a Companhia durante os primeiros anos da sua actividade. Na Beira, o Eng.° A N T Ó N I O SEROMENHO, que exerce as funções de A d m i nistrador-Delegado. Por tudo quanto fica exposto se verifica que a C O M P A N H I A T Ê X T I L DO PÚNGUÈ — pioneira neste s e c t o r — é uma grandiosa realidade ao serviço da economia da Província de Moçambique e de todo o território nacional.

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SAMI COEN S A M I COEN, cidadão italiano, nasceu na Ilha de Rhodes. Com doze anos foi para Paris com seus pais, onde se f i x a r a m , e aí, na capital da França, fez os seus estudos. Em 1939, SAMI COEN decide-se a ir até à Rodésia do Sul, onde t i n h a f a m í l i a , e onde permanece alguns meses. Não gostando do ambiente, vai para a cidade da Beira, onde rapidamente faz amizades, e de tal modo lhe agradou o ambiente português, que o decidiu a fixar-se em Moçambique, na cidade da Beira.

SAMI

COEN

no seu gabinete de trabalho

De então para cá, S A M I COEN dedicou-se à indústria da madeira, tendo-se associado em 1942 à f i r m a SERRAÇÃO DA COTA, LDA., organização que fundou j u n t a m e n t e com alguns portugueses residentes na Beira. A serração situa-se na circunscrição de Cheringoma. Desde que a sua organização, j u n t a m e n t e com mais três, fundaram a Fábrica de Contraplacados em 1955, denominada" «INDÚSTRIAS PORTUGUESAS DE M A D E I R A , L D A . » , SAMI COEN passou a dedicar-se à indústria dos contraplacados. Em 1960, por sua exclusiva iniciativa, iniciou a construção de uma fábrica de «parquet» — de que é proprietário ú n i c o — tendo começado a laboração da mesma em 1963, com carácter experimental. Após dois anos de laboração, c fábrica exporta para alguns países africanos, vizinhos de Moçambique, e t a m b é m para a Europa, e em breve será para quase todo o mundo. A fábrica foi dado o nome de « M O Z A M B O » e ao «parquet» a marca de «PARQUET M O Z A M B O » , cuja a l t a qualidade de madeiras com que é produzido lhe confere a posição de ser considerado como um dos melhores do mundo. Para mais amplo conhecimento das vantagens que advêm da sua exportação, é interessante esclarecer que as encomendas de «parquet» vão directas e acabadas para os mercados consumidores europeus, já não como m a t é r i a - p r i m a . Em épocas recuadas, as madeiras, bem como muitas outras matérias-primas produzidas em Á f r i c a , eram exportadas em bruto —e ainda s ã o — enquanto que o «parquet» segue pronto a ser aplicado sem a necessidade de mais manufacturação. — 232 —


A fábri ca « M O Z A M B O » emprega duzentos operários nativos e doze europeus, e as suas instalações fabris ocupam uma área de dois hectares, sendo a área coberta de quatro mil metros quadrados. A sua produção anual está prevista para duzentos mil metros quadrados, com certezas de aumento para os próximos anos.

Vista aérea das instalações da M O Z A M B O

Os salários despendidos anualmente pela organização elevam-se a dois mil e quatrocentos contos, igualmente com tendência para aumentar. Deste resumo da vida e actividade do pioneiro SAMI COEN se conclui rapidamente da sua notável contribuição para o progresso e enriquecimento da Província de Moçambique, e que c tornou um pioneiro no sector das suas actividades industriais. Esta organização participou grande êxito.

na

Feira

Internacional

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de

M i l ã o de

1964,

onde

obteve


A "IMPAL" — INDÚSTRIAS PORTUGUESAS DE MADEIRAS, LDA

A f i r m a INDÚSTRIAS PORTUGUESAS DE M A D E I R A S , LDA. tem as suas instalações f a bris de folheados, contraplacados, carpintaria e marcenaria mecânicas, a dez quilómetros da cidade da Beira, possuindo, t a m b é m , uma serração no Panja, concelho do Búzi. No seu género, a « I P M A L » é uma pioneira. Esta empresa foi criada no ano de 1948 — em cuja primeira fase de organização, apenas possuía a carpintaria e mobiliário, bem como a serração do Panja, no Búzi, ampliando mais tarde, com as secções que hoje possui.

Vista geral da « I M P A L »

A empresa surgia da feliz iniciativa das firmas «MADEIRAS C O L O N I A I S , L D A . » , «EXPLORAÇÃO FLORESTAL DA BEIRA, L D A . » , «SERRAÇÃO DA D O T A , LDA.» e «ALVES CORREIA & B U L H A , L D A . » , que pretenderam, com o seu empreendimento, dotar a Província de uma u n i dade industrial cuja lacuna estava por preencher. A t é então, os toros de madeira eram exportados para a Rodésia e Á f r i c a do Sul, que, por seu t u r n o , devolviam a madeira trabalhada. É evidente que tal processo, além de anacrónico, era anti-económico, trazendo imensos inconvenientes. Foi em A b r i l de 1955 que f o i , f i n a l m e n t e , inaugurada a fábrica de contraplacados, com a presença do Senhor M i n i s t r o do U l t r a m a r , que se havia deslocado à Província de Moçambique. — 234 —


A fábrica e suas instalações possuem uma área de cem mil metros quadrados, sendo uma grande parte coberta. Está inteiramente equipada com maquinaria de origem alemã, do mais recente fabrico, sendo considerada, no género, a mais importante unidade industrial ao Sul do Equador. A l é m de satisfazer as exigências do mercado interno, a « I P M A L » exporta em grande escala para a Rodésia, Z â m b i a , Á f r i c a do Sul, Malawi e Suazilândia; acidentalmente tem exportado para as Ilhas Maurícias e a Bechuanalândia, isto no que diz respeito a contraplacados, pois igualmente exporta madeiras para os países africanos, vizinhos de Moçambique. Na Europa, fornecem, principalmente, a Alemanha e a Inglaterra, de madeiras serradas. No campo social, a empresa tem desenvolvido grande acção, dispondo de instalações para europeus e nativos, a quem é dada toda a assistência médica e englobadas as respectivas f a m í lias. Possui um posto de socorros, com enfermeiros permanentes. A i n d a dentro do plano de assistência, a empresa possui escolas para os operários indígenas, de ensino g r a t u i t o . A « I P M A L » possui central eléctrica privativa, instalações de vapor e t r a t a m e n t o de águas, e um desvio privativo, em ligação com o Caminho de Ferro da Beira e a Trans-Zambezia Railways.

Um aspecto da serração

A empresa emprega cerca de mil operários nativos e t r i n t a e cinco empregados europeus. Despende com a assistência social e médica, a n u a l , trezentos contos. Paga, anualmente, de salários, seis mil e quinhentos contos. Capitais investidos : t r i n t a mil contos. Criando a indústria de contraplacados, a « I P M A L » veio incentivar de forma notável, a construção civil, o que estimulou o progresso nos ramos de carpintaria naval e civil, assim como a fabricação de mobiliário, tornando possível o aproveitamento e divulgação de espécies, que até então permaneciam desconhecidas no seio da floresta. No Distrito de M a n i c a e Sofala, rico de potencialidades de vária espécie, a « I P M A L » veio contribuir em grande escala, para o progresso e desenvolvimento não só deste distrito como de toda a Província de Moçambique. — 235 —


ENG.° JOÃO MENESES CAIADO CABRAL

O Eng.° João Meneneses Caiado Cabral nasceu na Ilha da M a d e i r a , na linda povoação de Santa Cruz. Cedo p a r t i u para a Metrópole, para prosseguir nos seus estudos, tendo-se formado err Engenharia C i v i l , na Faculdade de Engenharia do Porto. No ano de 1944 veio para Moçambique, fixando-se na cidade da Beira, para onde veio contratado pelo Gabinete de Estudos do Plano de Urbanização da Beira. Terminado esse cont r a t o foi chefiar a Repartição Técnica da Câmara M u n i c i p a l , durante cerca de três anos. Em 1949 montou um escritório técnico de engenharia, com uma secção especializada em elaboração de projectos e cálculos, e outra secção de empreitadas de construção civil. Em 1962, o Eng.° João Cabral deu realidade a um seu empreendimento industrial de grande interesse económico, inaugurando a sua fábrica de plásticos, com uma área de dois mil metros quadrados, e possuindo, em continuação, uma área de terreno de seis mil metros, para a expansão da f á b r i c a , no f u t u r o . Esta possui três secções de fabrico : e x t r u z ã o ; injecção e soldagem a alta frequência. Em fins de 1965 foi montada uma nova linha de fabrico, da secção de extruzão, para fabricar folha plástica para a confecção de sacos. A c t u a l m e n t e , a fábrica tem empregado em máquinas, ferramentas e moldes, o capital de três m i l e seiscentos contos. Tem ao seu serviço sete empregados europeus e vinte e sete empregados nativos. Paga de salários anuais, cerca de seiscentos e cinquenta contos. A sua produção anual é de cerca de três mil contos, com tendência para aumentar. Por enquanto, toda a produção é para abastecer a Província.

Um pormenor da fabricação de plásticos

Neste género de indústria, a FÁBRICA DE PLÁSTICOS DE M O Ç A M B I Q U E é a pioneira no Distrito de M a n i c a e Sofala, ficando-se a dever esta iniciativa ao Eng.° João Meneses Caiado Cabral, que exerce ainda o cargo de vice-presidente da Associação Comercial da Beira e a gerência de algumas firmas comerciais.

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CARLOS FERRÃO O pioneiro Carlos Ferrão nasceu em Lisboa, tendo vindo para Moçambique em 1922, com a idade de 16 anos. Como tinha em Lourenço Marques uns tios, a sua ida para Moçambique foi proposta por eles, que o colocaram numa propriedade agrícola que possuíam conjuntamente com uma cantina. Situava-se no Bilene — h o j e local f a m o s o — cujo percurso entre a capital da Província e o Bilene se faz, actualmente, em três horas, levava, então, três dias! O baptismo no mato, deste pioneiro, foi estar isolado pelas águas, durante dois meses, devido às cheias de verão. A t é 1924 manteve-se a trabalhar com seus tios. Em 1925 colocou-se numa f i r m a — e n t ã o i n g l e s a — «Delagoa Plantations», aí se conservando até 1928. No ano seguinte, colocou-se na f i l i a l de Inhambane da f i r m a lourenço-marquina «Delagoa Bay Agency», onde permaneceu até Dezembro de 1938, indo depois para a sede da f i r m a , onde se conservou até 1947, a l t u r a em que pediu a demissão do seu lugar para se estabelecer. Na capital, associou-se a uma f i r m a já existente, hoje m u i t o conhecida, a Agência Merc a n t i l , Lda., à qual deu grande impulso. Em Janeiro de 1955, Carlos Ferrão, sempre fremente de actividade, foi para a cidade da Beira gerir a sucursal da f i r m a , que então t i n h a m criado naquela cidade. Alguns anos depois, Carlos Ferrão comprou a sucursal, que deixou de pertencer à f i r m a de Lourenço Marques, passando a denominar-se « V U L C A N O M E R C A N T I L , LDA.». A l é m desta, o pioneiro Carlos Ferrão é sócio da f i r m a beirense «CASA N O V A , LDA.». Em 1965 f u n d o u , j u n t a mente com outros sócios, uma indústria na Beira, a que foi dado o nome de « F U N D I Ç Ã O DA BEIRA, L D A . » , que iniciou a sua laboração no final desse ano. Durante a sua longa permanência em Moçambique — 4 5 a n o s — apenas se deslocou à Metrópole, em férias, duas vezes! Carlos Ferrão é mais um pioneiro de vontade férrea, que tem contribuído para o progresso e valorização da Província de M o ç a m b i q u e !

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í'

ARMANDO DIAS MONTEIRO

O pioneiro A R M A N D O DIAS M O N T E I R O nasceu na freguesia de Lavos, próximo da Figueira da Foz. Seu pai veio para Moçambique nos princípios deste século. Em 1912, A R M A N D O DIAS M O N T E I R O foi mandado por seu pai para Bombaim, índia, onde frequentou uma escola, ali permanecendo três anos, ao f i m dos quais veio para a cidade da Beira, onde seu pai se tinha fixado. O primeiro emprego que teve A r m a n d o Dias M o n t e i r o foi no National Bank of South A f r i c a , hoje o actual Barclays Bank. Ao f i m de um ano ingressou na Companhia de Moçambique, na secção comercial, tendo tido outros empregos, um dos quait foi na f i r m a East A f r i c a Shiping Agency, onde se manteve até se dedicar ao ramo de exploração de cinemas, em 1928.

0 Cinema Nacional da

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Beira


Os primeiros cinemas que existiram na Beira foram o «Vitoria Hall» e o «Edison H a l l » . O primeiro ardeu em 1918, e era construído de madeira e zinco — u m b a r r a c ã o — e a sua construção fora feita em 1 9 0 1 , sendo então explorado pelos pioneiros — j á f a l e c i d o s — Barreiros e Crusse Gomes. Existiu no mesmo local onde hoje se situa o C I N E M A O L Y M P I A , o «Edison Hall». Na mesma época do cinema «Olympia» existia o cinema «Excelsior», que funcionou num prédio a n t i g o , e foi mais tarde adaptado para uma dependência dos Correios. Também foi edificado um pequeno cinema, já com condições próprias, que continuou com o mesmo nome, explorado pelo pioneiro A n t ó n i o Moreira. Esse cinema veio a arder no ano de 1 9 3 1 . Nessa a l t u r a , a cidade ficou privada de cinema durante seis meses. Foi então que A R M A N D O DIAS M O N T E I R O se decidiu a adaptar o Pavilhão de Desporto do Sport Lisboa e Beira, para exibição de filmes, e adaptando, mais tarde, umas dependências da Câmara M u n i c i p a l , legadas pelo pioneiro Dr. Lacerda, e onde se mante ve até 1940, ano em que iniciou a construção do actual C I N E M A O L Y M P I A , que foi inaugurado em 1942, e por ele explorado. Em 1942 outro cinema foi inaugurado —o C I N E M A REX — hoje também convertido em repartições dos Correios. Alguns anos depois, um grupo de cidadãos gregos, constituído por seis irmãos — j á naturalizados portugueses, de nome PARASKEVA — construíram um cinema a que foi dado o nome de SÃO JORGE», com capacidade para cerca de mil e duzentos lugares, feito em moldes modernos, de belas linhas arquitectónicas. Na mesma altura, a Empresa de Edificações da Beira, Lda. construía outro cinema, a que foi dado o nome de N A C I O N A L . O SÃO JORGE e o N A C I O N A L foram inaugurados, respectivamente, em 1954 e 1956.

O moderno Cinema S. Jorge

Assim, existiam na Beira três empresas exploradoras, que em 1957 decidiram fundir-se numa só organização, a que deram o nome de «CINEMAS DA BEIRA, LDA.» que administra todos os cinemas existentes. Essa organização é dirigida por três representantes dos capitais investidos, um dos quais é o pioneiro A r m a n d o Dias M o n t e i r o , que vive na Beira há quarenta e oito anos, tendo sido ele quem trouxe à Beire o primeiro filme sonoro, chamado RIO RITA. A vida do pioneiro A r m a n d o Dias M o n t e i r o está ligada à história das empresas exploradoras de cinema, na Beira, de que ele foi um dos principais obreiros; proporcionando aos beirenses essa agradável diversão, em terras de tão exíguas distracções. — 239 —


AERO-CLUBE DA BEIRA U M A AGREMIAÇÃO AO

SERVIÇO

DE

PORTUGAL,

EM

MOÇAMBIQUE

Entre as agremiações beirenses, uma das mais destacadas pela sua acção é, sem dúvida alguma, o Aero-Clube da Beira. Fundado em 1936 por alguns entusiastas, entre os quais o Comandante A r m a n d o de Roboredo e Saul Nogueira, teve os seus Estatutos aprovados por alvará de 30 de Novembro de 1936, do Governo do Território de Manica e Sofala (Companhia de Moçambique). Em 8 de Janeiro de 1937 teve lugar a suo primeira assembleia geral para eleição dos corpos gerentes, que ficaram assim constituídos : Assembleia Geral : Dr. Fernando Nunes da Silva, José Rodrigues, Manuel Magalhães, João Moinhos e Carlos Silva. Direcção : Dr. José Maldonado Horta do Vale, Fernando Félix de Faria, Saul Nogueira W. X. Braancamp e Manuel V. Dias dos Santos. Conselho Técnico : Comandante Armando Roboredo, Carlos Picolo e Telmo Nogueira. Conselho Fiscal : Dr. Joaquim Gomes Rascão, Elísio R. de Carvalho e Eurico Santos. Bem recebida a formação desta agremiação, não tardou que à sua volta se juntasse elevado número de entusiastas, logo se pensando HG compra de um avião. Lançada a ideia, foi ela bem acolhida e mercê do auxílio da Companhia de M o ç a m b i q u e , Câmara Municipal da Beira, Notícias da Beira, Sport Lisboa e Beira, Cinema Olímpia, sócios, comércio local e de uma maneira geral a população da Beira, conseguiu-se o montante necessário para a compra do primeiro avião.

Bênção do primeiro avião adquirido pelo Aero-Clube

Este, um « T i g e r - M o t h » , com o número de série 3 6 0 6 , foi adquirido em Salisbúria, t r i p u lado pelo Comandante Roboredo e como navegador Saul Nogueira, chegou à Beira em 23 de Setembro de 1937. Em homenagem à cidade que contribuiu para a sua compra, o avião que recebeu a matrícula C R - A A G foi baptizado — c e r i m ó n i a a que se deu então o devido relevo, como aliás merecia — com o nome de Beira, tendo-se m a n t i d o ao serviço por quase 1 1 anos, até que, com 1664 horas de voo, ficou destruído num acidente em M a i o de 1948. — 240 —


A i n d a em 1937 abriu o Aero-Clube da Beira a sua primeira Escola de Pilotagem, sob a direcção do Comandante A r m a n d o de Roboredo, assistido pelo piloto instrutor Saul Nogueira, ficando a cargo de Manuel V. Dias dos Santos e Joaquim Picardo. Logo 25 interessados se inscreveram, mas por haver um só instrutor, houve que fazer-se um sorteio, para ver quem seriam os três primeiros alunos, cabendo a honra a José de Magalhães, A n t ó n i o M a r i a da Silva Ramos e D. Olímpia do Espírito Santo, mas nenhum destes conseguiu ser brevetado. Da segunda escola de pilotagem, que começou a funcionar em 1938, fizeram já parte 10 alunos, e dela saíram os dois primeiros brevetados do Aero-Clube da Beira : Eng.° Sérgio Medeiros e A l b e r t o Garizo, a que se seguiu pouco depois Francisco Dias dos Santos. Com a ideia em mais e melhor, o Aero-Clube da Beira não mais parou, adquirindo mais aparelhos, e continuando a formar pilotos civis, tendo nestes 33 anos brevetado cerca de 150 pilotos. Mas a sua acção não se limitou somente a formar pilotos, foi também cultural e altruísta. Mercê do entusiasmo e dedicação do então seu presidente da Direcção, Abílio Antunes dos Santos, também radioamador, ofereceu este o seu posto emissor, nascendo assim a Emissora do Aero-Clube da Beira, que através do éter tem levado a voz da Beira além-fronteiras. Os seus aviões onde quer que sejam necessários têm estado presentes, quer em buscas, lançando medicamentos e víveres ou buscando feridos. Por tudo, o Aero-Clube da Beira, uma agremiação que honra a Beira, honrando Moçambique e Portugal, se não é, no género a mais importante, certamente é das mais importantes. A sua apreciável frota aérea, forma actualmente a Força Aérea V o l u n t á r i a n.° 3 0 1 , agregada à Base Aérea n.° 10. Continua assim o Aero-Clube da Beira, hoje como o n t e m , e agora mais do que nunca, mantendo bem alto e vivo o seu lema : SERVIR V O A N D O .

A

AVIADORA

MAIS

JOVEM

DO A E R O - C L U B E

DA

BEIRA

A jovem «breverada» junto de seu pai. o Eng." Jorge Jardim após ter sido homenageada com flores

Isabel M a r i a de Sousa Pereira Jardim é a mais jovem «brevetada» do Aero-Clube da Beira, tendo sido «largada» em voo no dia 28 de M a r ç o de 1964, e em Dezembro de 1965 fez o exame para receber o «brevet» de piloto. A simpática jovem é filha primogénita do Engenheiro Jorge Pereira Jardim, personalidade bem conhecida.

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Desde pequenina que se habituou a voar, tornando-se uma adepta da Aviação. Voava amiudadas vezes com seu p a i , que possui avião particular, vindo daí o seu entusiasmo e interesse. Parecida, física e espiritualmente, com seu pai, irrequieta, inteligente e de irradiante simp a t i a , Isabel M a r i a confidenciou-nos o seu desejo de se formar em Engenharia Química, para c que ia ingressar na Universidade, uma vez que já tinha concluído o 7° ano do Liceu. É muito natural que o exemplo e entusiasmo desta jovem sirva de estímulo a outras jovens moçambicanas. O saber não ocupa lugar e o «brevet» de piloto pode, às vezes, ser útil num momento de emergência.

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MANUEL RODRIGUES PINHO

DESPORTISTA,

JORNALISTA

E

HISTORIADOR

Manuel Rodrigues Pinho nasceu em Ovar, a 1 de Outubro de 1918, tendo ido para a Beira com a idade de 15 meses, onde seus pais se radicaram. A t é à terceira classe estudou na Beira, seguindo, depois, para a Metrópole, onde permaneceu até concluir o Curso dos Liceus. Em 1936 regressa à Beira e pouco depois coloca-se na Shell, onde continua a ser funcionário. Praticou desporto até aos 24 anos, abandonando-o por motivos de força maior. No entanto, continuou ligado a ele e aos seus problemas. Assim, entre 1941 e 1960, ocupou, em diversas Associações, elevados cargos, fazendo também parte de inúmeras comissões para elaboração de Estatutos e Regulamentos. Paralelo a este período, iniciou em 1946 a sua colaboração no jornal «Notícias», na secção da Beira. Principiou por escrever sobre assuntos desportivos, passando, depois, a colaborar diariamente e sobre outros assuntos. C o n j u n t a m e n t e , começou a interessar-se pela História da Beira e do seu Distrito. Durante dois anos consecutivos escreveu artigos intitulados : «Subsídios para a História da Beira», «A Beira de Outros Tempos», «A Beira P r i m i t i v a » , «Poeira dos Arquivos», «Coisas de Tempos Idos», e t c , contribuindo de modo notável para a conservação e conhecimento da História daquele Distrito, que em alguns casos, sem a sua interferência, se teriam perdido. Manuel Rodrigues Pinho, homem recto, de curioso espírito, e um grande coração sempre pronto a dar-se a boas obras, tem tido sempre uma vida muito activa, multiplicando-se. De A b r i l de 1957 a M a i o de 1960 foi presidente do Conselho Geral do Sindicato dos Ferroviários de M ó nica e Sofala e do Pessoal do Porto da Beira, precisamente num período agudo, em que teve de despender grandes esforços para que a secretaria desses sindicatos desse determinadas regalias para o seu pessoal, as quais se impunham e eram de toda a justiça, o que conseguiu. Em 1963, Manuel Rodrigues Pinho foi convidado para o cargo de vereador da Câmara M u nicipal da Beira, que aceitou com a condição de ser suplente. No f i m desse ano teve de passar à efectividade, o que continua, na actualidade. Por ú l t i m o , em 1965, foi investido no cargo de presidente da Comissão A d m i n i s t r a t i v a dos Serviços Municipalizados, cargo que, por força de lei, t i n h a de ser ocupado por um dos membros da Câmara, razão pela qual foi levado a ter de aceitar mais essa espinhosa tarefa. Resta ainda dizer que Manuel Rodrigues Pinho é um inveterado coleccionador, possuindo colecções de moedas, notas, autógrafos e outras curiosidades valiosas. — 243 —


JOSÉ PÁDUA UM

ARTISTA

PLÁSTICO

BEIRENSE

José Pádua nasceu na Beira, no ano de 1934. A sua primeira exposição individual foi em 1960, na Beira, com o patrocínio do Centro de Cultura e A r t e e o Cine-Clube da Beira. Nessa primeira exposição, apresentou-se com gravuras, desenhos e óleos, exposição que constituiu o seu primeiro sucesso. Depois, em conjunto com outros artistas, expôs em 10 exposições, em Á f r i c a . Em princípios de Fevereiro de 1964, a Case dos Estudantes do Império, em Lisboa, organizou numa das suas salas uma exposição do artista moçambicano JOSÉ PÁDUA, composta por desenhos e pinturas, que constituiu um êxito.

José Pádua junto de um seu trabalho

O «Diário de Notícias» de Lisboa, de 13 de Fevereiro, pela pena de M á r i o de Oliveira, diz, referindo-se a JOSÉ P Á D U A : «Felicitamos sinceramente a feliz iniciativa, porquanto aquela casa dos Estudantes Ultramarinos, por onde passaram alguns dos valores mais representativos da nossa actual c u l t u r a , compreendeu, e m u i t o bem, que é ainda pelas actividades estéticas, que melhor se pode entender a linguagem universal do fenómeno humano». — 244 —


Continuando a referir-se a JOSÉ PÁDUA, o mesmo jornalista diz : «Tivemos oportunidade de tomar contacto com um dos melhores desenhadores, não só de Moçambique, como também da Metrópole. O que mais nos impressiona nos trabalhos de PÁDUA é o seu entendimento da unidade do seu mundo emocional, onde a inspiração ditada, como é lógico, pelos diversos estados de espírito, nos dá em cada obra um tão forte sentimento humano aue é capaz de levar qualquer observador atento a dizer : A obra de arte é, a f i n a l , uma ponte de matéria entre uma alma e outra». E o jornalista t e r m i n a , dizendo : «Temos esperanças de que a Fundação Gulbenkian, a «Testa de Ponte» da revolução do ambiente cultural português, a quem se deve já em M o çambique, uma grandiosa obra de acção c u l t u r a l , chame a si mais esta realidade artística moçambicana, que é, incontestavelmente, JOSÉ PÁDUA, já hoje um dos melhores desenhadores portugueses». Também o jornal «Artes e Letras», de 12 de Fevereiro, se refere a essa exposição de JOSÉ PÁDUA, numa crítica de A l f r e d o Margarido : «Os problemas propostos por José Pádua são, efectivamente, uma visão profunda e sem limites, t a n t o da própria p i n t u r a , como de uma realidade humana, a realidade de um homem negro moçambicano, considerado já não como elemento exótico, mas antes como único elemento que importa à visão do pintor. Pádua elimina voluntariamente qualquer presença supérflua para se defrontar apenas com o homem, com os problemas que lhe são sugeridos por esse homem e cujc resolução plástica vai tentando. José Pádua não procura, em nenhum momento, seduzir-nos com uma representação de um mundo falsamente exótico, pois que o mundo por ele considerado, é um mundo completamente normal, o seu mundo». E a terminar, diz ainda : «A participação do A r t i s t a nesse mundo fica assim bem patente, e é impossível de destrinçar deste conjunto de desenhos. Uma participação primeiramente afectiva, depois combativa, na medida em que lhe importa, acima de tudo, reflectir e interpretar uma verdade humana, que não pode ser ocultada nem traída pelo t r a j o , pela paisagem ou pela cor da pele. Eis porque se deve sondar em José Pádua não só um extraordinário desenhador, mas também um artista conscientemente moçambicano». Por estas críticas metropolitanas, se avalia do real valor deste jovem artista beirense, ainda no limiar da sua carreira artística, mas já francamente prometedora. Em M a i o de 1965, JOSÉ PÁDUA voltou a expor individualmente no Centro de A r t e e Cultura da Beira, com êxito. O crítico do jornal «Diário de Moçambique» a f i r m a a propósito desta exposição de Pádua : «José Pádua é um artista plástico de acentuada sensibilidade, o que lhe permite apreender a beleza do mundo em que vive, fixando-a na tela. Esta exposição permitiu constatar que o artista evoluiu no sentido de um maior número de temas. Mas há, assim mesmo, uma linha de continuidade na sua obra — os grandes movimentos que focam o homem, colectivamente; os trabalhos que exigem a coordenação de muitos braços, a união de muitas vontades. O artista interpreta esses fenómenos transmitindo um sentimento trágico, comunicando a angústia que existirá na base desses movimentos e trabalhos. Gostámos desta exposição, sobretudo o seu esforço no sentido de uma evolução que pode traduzir-se por vitalidade, por um dinamismo válido, que a f i r m a ao mesmo tempo a sua capacidade criadora e a sua potencialidade estética». Nesta exposição de que damos alguns passos da crítica, muitos dos trabalhos expostos nos impressionaram fortemente, destacando desses, «MÃE» e « I N F Â N C I A » . JOSÉ P Á D U A é tímido. Sentimos nas suas palavras, uma ânsia enorme, um desejo premente de se expandir, de se comunicar por meio da sua p i n t u r a , da sua A r t e . Porém, o mundo restrito em que vive, cerceia, de certo modo, os seus voos! Merecia uma ajuda, de modo a perm i t i r - l h e ir conhecer os grandes centros artísticos mundiais, que lhe abririam novos horizontes. Já alguns quadros seus foram levados para a América do N o r t e , onde serão expostos, e isso dá-lhe esperanças . . . O seu grande desejo seria conseguir uma Bolsa de Estudo, que lhe permitisse ir aperfeiçoar-se, estudar, em escolas europeias e contactar com outros artistas plásticos. JOSÉ P Á D U A é um valor jovem na vida cultural de Moçambique.

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CENTRO DE CULTURA E ARTE DA BEIRA

O Centro de Cultura e A r t e da Beira é já uma bela realidade no plano cultural da cidade da Beira, mercê do esforço e boa vontade de alguns beirenses. Este teve início em Novembro de 1959. Foi seu primeiro presidente da Assembleia Geral, o Dr. Joaquim Nunes de Carvalho, e como secretários, D. M a r i a Emília Pomba Delgado Baltazar e capitão A n t ó n i o Octávio Dias Machado. À Assembleia Geral presidiu o Dr. João Afonso dos Santos, tendo como secretários, João Peixe Dias e Valdemiro Brito Dias. A Direcção era composta por : Presidente, Jaime Salinas de M o u r a ; Vice-Presidente, Padre Manuel Ferreira da Silva; e Secretário, M á r i o Isaac. Na primeira assembleia efectuada, foi proclamado sócio honorário n.° 1 o coronel de A r t i lharia A l b e r t o Macedo Pinto, então Governador do Distrito de M a n i c a e Sofala. A c t u a l m e n t e é presidente da Assembleia Geral o Dr. A d o l f o Arez da Silva; presidente do Conselho Fiscal, o Dr. Tomé dos Santos Júnior, e presidente da Direcção, o A r q u i t e c t o Paulo de Melo Sampaio. O Centro de Cultura e A r t e da Beira tem promovido conferências, exposições de arte plást i c a , espectáculos culturais de teatro, música, poesia, etc. Numerosas personalidades no mundo das Letras, da A r t e e da Música têm passado pelo Centro, desde o seu início a t é hoje. O Centro, além destas actividades, m a n t é m cursos de Escultura, Desenho, «Ballet», Pintura e Música. O Centro também mantém contactos com outras organizações culturais portuguesas e estrangeiras. O Centro de Cultura e A r t e da Beira j u n t a a sua acção cultural a muitas outras m a n i festais de progresso, de que a Beira tem sido f é r t i l , pois é uma cidade com pouco mais de cinquenta anos, cujo progresso e desenvolvimentc tem bases na tenacidade e na iniciativa audaciosa dos seus habitantes, que umas vezes secundando, outras precedendo até as iniciativas oficiais, numa antecipação que tem o seu quê de alucinante, têm levado por diante projectos e realizações do mais diverso teor, que além de serem a mais legítima consagração e perpetuação dos heróicos pioneiros do velho A R U Â N G U A , são cinda os criadores daquela vida e daquele esforço luso-tropical que há-de ser sempre a característica mais saliente da nossa lusitanidade, nestas terras que crescem d i a - a - d i a , mercê de um esforço contínuo e colectivo. Por isso, estamos certos de que, os dirigentes actuais do Centro de A r t e e Cultura da Beira, continuarão no seu caminho para um maior progresso e alargamento espiritual em terras de M a n i c a e Sofala, principalmente.

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RÁDIO PAX EMISSORA

CATÓLICA

DA

BEIRA

RÁDIO PAX —a primeira Estação Emissora Católica de radiodifusão do Ultramar Portug u ê s — completa em Outubro próximo, 16 anos. Com efeito, ela nasceu nos vãos de uma escada cia Escola de Artes e Ofícios da Beira, em 1954, onde foram montados dois emissores de 50 e 375 watts, respectivamente. A iniciativa partiu do Rev. Padre Afonso Simões, então pároco de Nossa Senhora do Rosário —a Catedral da B e i r a — que viu numa emissora o único meio de levar Cristo a muitas regiões do interior da Província, aonde não chegasse a actividade missionária. Embora a fundação da Emissora tivesse sido solicitada ao Governo-Geral, em 31 de Julho de 1953, só a 4 de Outubro de 1954 começaram as emissões experimentais.

Vista aérea da CATEDRAL, onde funciona a RÁDIO PAX

A sua inauguração teve lugar a 30 de O u t u b r o , com a presença das autoridades da Beira, tendo pronunciado uma saudação, no acto, o seu fundador Rev. Padre Afonso Simões, bem como o saudoso Bispo da Beira, que era então D. Sebastião Soares de Resende. As emissões iniciaram-se com duas horas por dia, havendo ao domingo, de manhã, a transmissão da Missa para os doentes. Hoje, conta com 9 horas de emissão diária e com 16 horas de emissão aos domingos e feriados. A programação é variada, criteriosamente distribuída e escolhida, de forma a satisfazer os mais variados gostos. O problema mais difícil de resolver, no início, foi a f a l t a de receitas. De princípio, todas as despesas foram suportadas pela Ordem Franciscana. Depois, foi criada a Liga dos Amigos do RÁDIO P A X , e vieram, t a m b é m , outros auxílios. A t é 1959 deram a sua colaboração g r a t u i t a mente, técnicos e locutores. São dignos de especial relevo na obra de RÁDIO P A X , o seu fundador principal, Rev. Padre Afonso Simões — q u e f o i , depois, o Delegado Provincial dos Franciscanos em Moçambique — o Rev. D. Ernesto Costa, depois Bispo de I n h a m b c n e ; o Rev. Padre A n t ó n i o Gonçalves — q u e à RÁDIO PAX se dedicou vários a n o s — e Carlos Costa, colaborando como programador, montador, e t c , que m u i t o contribuíram para o desenvolvimento e progresso. — 247 —


A RÁDIO PAX t e m , diariamente, desde Agosto de 1964, um programa nativo, falado nos dialectos «Xissena» e «Maxangane», composto de variadas rubricas : Formação Cristã, Desporto, Higiene, Medicina Social, Noticiários, etc. Esta emissão atinge o f i m em vista, pois é muito escutada pelas populações nativas. O actual director de RÁDIO PAX é o Rev Dr. Manuel dos Reis M i r a n d a , que foi um dos locutores da primeira hora da vida da Emissora Católica beirense, assumindo a Direcção em Outubro de 1963. Como subdirector e chefe de produção encontra-se o Padre Manuel Carreira das Neves, que o assumiu em 1964, desenvolvendo notável acção e servindo-a com o maior carinho. A emissora possui um terreno para construção do seu f u t u r o edifício, onde serão instaladas todas as secções necessárias à sua missão, principalmente cristã e c u l t u r a l , da RÁDIO PAX. Por enquanto t r a b a l h a m em instalações provisórias, nas dependências da Escola de Artes e Ofícios da Beira. RÁDIO PAX t i n h a um subsídio do Governo-Geral de 600 contos anuais, que em 1965 baixou para 3 0 0 . O «sonho» do Padre Manuel Carreira das Neves é que RÁDIO PAX se faça ouvir na Europa, numa evocação d i á r i a , lembrando a acção civilizadora de Portugal em Á f r i c a , neste simples «slogan» : «Aqui Beira, M o ç a m b i q u e ! Província de Portugal, na Á f r i c a ! Estão a escutar a RÁDIO P A X , Emissora Católica!» O RÁDIO PAX é obra dos Missionários Franciscanos, cuja acção civilizadora desnecessário se torna encarecer.

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MOTEL ESTORIL — UM VALOR TURÍSTICO DA CIDADE DA BEIRA

O MOTEL ESTORIL é um empreendimento turístico notável, que muito veio contribuir para valorizar a zona da beira-mar da cidade da Beira. Esta grande obra de aproveitamento turístico, deve-se a CARLOS BRITO, que por simples acaso, construiu a sua habitação particular na zona marítima do M a c ú t i , frente ao mar, local aprazível da Beira. Isto aconteceu em 1956. Como aquele local é óptimo, pois tem uma enorme extensão de praia, os rodesianos em especial, sentiam-se atraídos por esta parte da Beira, cuja extensa praia lhes proporcionava belas férias. Assim, CARLOS BRITO começou por alojar em sua casa amigos estrangeiros, que pretendiam passar fins-de-semana j u n t o ao mar, porque os hotéis f i c a m distantes — no centro da c i d a d e — o que decerto modo era incómodo. Junto à praia nada havia, no capítulo de alojamentos.

Aspecto do MOTEL ESTORIL

Esses estrangeiros sugeriram a CARLOS BRITO — h o m e m de ideias l a r g a s — que e d i f i casse um hotel, a l i , j u n t o do mar. Em 1958 estava construída uma casa ao lado da sua, possuindo 14 quartos — e que seria, a f i n a l , o princípio de uma grande unidade hoteleira. Utilizando as duas habitações simultaneamente, fazia do rés-do-chão da antiga moradia, o escritório, a recepção e a sala de j a n t a r , e no 1.° andar, uma elegante e requintada «boite». Como cada vez era maior a afluência de turistas, fez um acampamento próprio para os turistas que t r a z i a m as suas «roulotes», que foi aumentando progressivamente —e continua a aumentar, porque o afluxo de turistas não p á r a — até ser o que hoje já é, com duzentas casinhas airosas e coloridas, possuidoras de tudo quanto é necessário para se passarem umas boas férias! É um acampamento moderno, embelezando a orla da extensa praia. — 249 —


Em fins de 1958, foi dado início à primeira fase da parte maior do novo motel — r é s - d o -chão e três pisos — onde ficam situados os Apartamentos, modelarmente decorados, num total a'e duzentos. No rés-do-chão do edifício situam-se o restaurante, o «self-service», o «snack-bar», café e esplanada, tabacarias, pequenos estabelecimentos de «souvenirs». Presentemente, o MOTEL ESTORIL tem um movimento anual de quarenta e dois mil turistas, vindos, principalmente, da Rodésia, do M a l a w i e da Á f r i c a do Sul. O M O T E L ESTORIL t e m ao seu serviço permanente, cinquenta empregados europeus e cem nativos. Com esta obra turística, muitíssimo valorizada ficou a zona da beira-mar da progressiva e bonita cidade da Beira — q u e pela tenacidade e vontade dos p o r t u g u e s e s — nasceu e cresceu dos pântanos, como por milagre! O afluxo turístico é cada vez maior, pois a Beira é o centro da grande Província, cujo porto serve a continuação das rotas terrestres dos paízes vizinhos. CARLOS BRITO merece a consideração de todos pela obra já realizada, que muito veio fomentar o turismo em Moçambique, na capital de Manica e Sofala.

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A CINEGÉTICA NO DISTRITO DE MANICA E SOFALA O

DISTRITO

COM

MAIOR

NÚMERO

DE

COUTADAS-SAFARIS

A Caça desde sempre que constituiu diversão m u i t o apreciada por ambos os sexos, embora com predomínio no homem. É em Á f r i c a que a Cinegética atinge o seu ponto a l t o , onde a possibilidade de caçadas emocionantes são fáceis de efectuar, em virtude da riqueza da fauna em conjunto com um «habitat» pródigo de belezas. Deste modo tudo se conjuga para oferecer aos praticantes da caça momentos inesquecíveis. Em Moçambique, muitos pioneiros dedicaram os seus primeiros tempos de adaptação à prática da caça; uns por prazer, outros fazendo dela profissão. N e n h u m , porém, se lembrou de aproveitar a cinegética-turismo, para fomentar riqueza. Por informações colhidas, podemos dizer que a ideia do turismo cinegético p a r t i u , em primeiro lugar, de Gustav Gueix, que embora nunca o tivesse praticado a sério, foi ele, todavia, quem a incutiu no espírito de outro pioneiro — A l b e r t o Novaes de Sousa A r a ú j o — d a n d o - l h e sugestões para tal iniciativa, fanzendo-lhe ver as vantagns normes que daí podiam advir.

Pousada do Acampamento de « K A N G A N'THOLE»

Assim, poderá dizer-se que o pioneiro da cinegética turística em Moçambique foi A l b e r t o Novaes de Sousa A r a ú j o . Seguidamente vamos traçar uma sumária biografia deste pioneiro. Nasceu na Metrópole, vindo com seus pais para Moçambique em 1905, apenas com 5 anos. Seu pai t i n h a sido colocado na Beira com as funções de Comandante da Polícia, e t a m b é m , no Serviço Urbano da Cidade, que nessa época correspondia ao cargo actual de Presidente da Câmara. Os primeiros estudos foram feitos em Lourenço Marques, seguindo, depois, para a África do Sul, frequentando os colégios de Joanesburgo.

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O Almirante Sarmento Rodrigues num

«Safari» com Alberto Araújo

A cinegética bem cedo o a t r a i u , iniciando-se na sua prática aos 16 anos, e tão-sòmente pelo prazer que lhe proporcionava. A l b e r t o Novaes de Sousa A r a ú j o iniciou a sua vida de trabalho em 1919, como funcionário dos Caminhos de Ferro da Beira, cuja concessionária era uma companhia inglesa. M a i s tarde, em 1940, foi convidado pelo Governador do D i s t r i t o , para Superintendente da «Trans-Zambezia Railways», onde permaneceu durante 19 anos. Foi em 1951 que ele fundou o primeiro safari de cinegética turística numa coutada situada na região de Inhaminga, no local denominado Cheringoma. Ao safari foi dado o nome de K A N G A N T H O L E SAFARI — u m a denominação indígena, que quer dizer «galinha do m a t o azul da floresta». Este safari possui um acampamento com edifícios e acampamentos móveis. Como caçador, este pioneiro tem os seguintes palmarés : matou 99 leões; 141 leopardos; 103 elefantes; umas largas centenas de búfalos e outras espécies. Igualmente foi um grande atirador de chumbo, tendo morto algumas centenas de perdizes, pombos verdes, rolas, galinhas do m a t o , coelhos e narcejas. Há já muitos anos atrás, um dos seu divertimentos, era ir nos fins de semana para as planícies da M u n h a v a , caçar narcejas. Acompanhava-o, muitas vezes, outro pioneiro, o advogado Dr. Joaquim Teles da Silva Palhinha, que na Beira vive há muitos anos. A l b e r t o Novaes de Sousa A r a ú j o foi sempre um bom atirador, participando, uma vez por outra, em caçadas. Hoje, a sua coutada faz parle da Sociedade de Safaris de Moçambique, Lda. Faleceu quando este livro se encontrava no prelo.

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SOCIEDADE DE SAFARIS DE MOÇAMBIQUE, LDA. E

OUTRAS

ORGANIZAÇÕES

SIMILARES

J. Simões com o Dr. Beck, num «Safari» em 1 9 5 7

M a n i c a e Sofala tem no seu distrito quinze coutadas dedicadas ao Turismo Cinegético. A t é 1965 eram todas independentes. Porém, a partir daquele ano, o Banco Nacional Ultramarino tomou a decisão de formar uma sociedade constituída por todos os proprietários de coutadas que a ela quisessem associar-se, ficando o Banco como principal accionista. Das coutadas existentes, duas ficaram a trabalhar independentemente. São as de A. Fajardo e Amílcar Coelho. Treze ingressaram na Sociedade de Safaris de Moçambique, Lda., de que fazem parte : Alberto Novaes de Sousa A r a ú j o , José Joaquim Simões, Garcia, V i e i r a , D. A r m a n d a , Francisco Salzoni e Agência de Viagens e Turismo, Lda.

OS CONDES DE C I N Z A N O — Pai e Filho — e m

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1959


Todas as coutadas se encontram optimamente apetrechadas, por forma a servirem o melhor possível o f i m a que se destinam. Justo é salientar a q u i , José Joaquim Simões — g r a n d e c a ç a d o r — possuidor de três coutadas, que tem sido um activo impulsionador da cinegética turística em Moçambique, que m u i t o lhe deve já. Grande entusiasta da caça, José Joaquim Simões tem um grande palmarés. Em 1959 bateu o recorde de caça, de todo o mundo, abatendo os animais mais corpulentos. 0 período de caça no Distrito de M a n i c a e Sofala ínicia-se a 1 de A b r i l estendendo-se até 31 de Dezembro, todos os anos. Um turismo bem organizado poderá levar, em cada época, mais de uma centena de turistas a todas as coutadas. O valor de divisas que tal incremento pode trazer à Província, desnecessário se torna encarecê-lo, por tal forma é visível.

A MARQUESA DE VILAVERDE e SENHORA AZNAR, em 1964

A terminar, diremos que altas personalidades estrangeiras têm moçambicanos, predominando os americanos, seguidos dos espanhóis.

participado em

safaris

De entre esses visitantes, citaremos ao acaso alguns nomes que nos ocorrem : Marqueses de V i l a Verde, Duquesa de A l b a , uma irmõ e cunhado do Xá da Pérsia, o conhecido toureiro espanhol Luis M i g u e l D o m i n g u i n , o actor de cinema americano Henry Fonda, D. Juan Carlos, filho dos Condes de Barcelona. — 254 —


O PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA Em 2 de M a r ç o de 1 9 2 1 , foi criada na região da Gorongosa, uma reserva de caça, hoje conhecida pela denominação de Parque Nacional de Caça da Gorongosa, com o f i m de assegurar a conservação das valiosíssimas fauna e flora, ali existentes. O cuidado posto na protecção às espécies existentes na Província, fez com que, sob a jurisdição dos Serviços de V e t e r i n á r i a , fossem criados em Moçambique, mais quatro Reservas de Caça, onde o visitante não pode caçar, mas encontra motivos de grande interesse. As Reservas são : a dos T A N D O S , em M a r r o m e u , no Distrito de M a n i c a e Sofala; e da circunscrição de M a r r u p a , e a Reserva dos Elefantes, do M a p u t o , no Distrito de Lourenço Marques. A área da Reserva da Gorongosa, era de início, de mil quilómetros quadrados. Em 1935, com a publicação do Decreto n.° 26 0 7 6 , a área foi aumentada para 5300 quilómetros quadrados. Está situada no Distrito de Manica e Sofala, próximo da estrada internacional Beira- U m t á l i . Dispõe de uma via de fácil acesso. Da Beira à Reserva e ao seu Acampamento — denominado do C H I T E N G O — são 156 quilómetros, 100 dos quais são de estrada asfaltada. No parque existe um aeródromo muito utilizado por aviões ligeiros, assim como aviões de tipo DC-3. Para poder proporcionar uma extensa visita, o parque é atravessado por uma rede de «picadas», em número de 15, com 560 quilómetros, permitindo admirar os mais variados contrastes : floresta, planície, lagoas e rios, podendo-se admirar, igualmente, uma abundante e variadíssima fauna. O Parque Nacional da Gorongosa é considerado o «melhor parque de Á f r i c a » , por possuir a maior concentração de animais bravios de todo o m u n d o !

Acampamento do C H I T E N G O

A sede do parque é no Acampamento do Chitengo, situado num local muito aprazível. É constituído por um amplo restaurante — c o m e s p l a n a d a — tendo serviço de bar, agradavelmente decorado com troféus de caça e artesanato indígena; um pavilhão para leitura, festas, jogos, e t c , e uma piscina. A s moradias-dormitórios — e m número d e 8 — são construídas à moda das palhotas indígenas, estendendo-se por vasta área ajardinada, possuindo todas elas o conforto moderno, com dois quartos cada e quarto de banho, providos de electricidade e água corrente. Há quartos simples, de luxo, e ainda quatro casas tipo «bungalow». O Acampamento tem duas lojas de artesanato indígena e dispõe de serviço telefónico e postal. A quarenta quilómetros deste A c a m p a m e n t o foi construído outro, denominado por Bela V i s t a , que é formado por quatro edifícios, dê quatro quartos cada, e dispondo de facilidades

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IMAGENS DA GORONGOSA

para os visitantes; possui cozinhas ao ar livre, loja para aquisição de géneros de primeira necessidade e «snack-bar». A f i r m a concessionária do parque é a Agência de Viagens e Turismo da Beira, que j u n t a mente com o Estado tem colaborado em todos os melhoramentos efectuados, valorizando-o de modo notável, e servindo assim, um dos cartazes turísticos de maior valia de Moçambique. O Parque Nacional da Gorongosa é m u i t o visitado por estrangeiros de todos os pontos do mundo, e com m u i t a frequência, por sul-africanos e rodesianos. O parque possui reservas integrais, só para estudos. A sua época turística estende-se de 1 de M a i o a 31 de Outubro. As suas datas de abertura e fecho não são absolutamente exactas porque dependem das chuvas. O Parque Nacional da Gorongosa, por possuir uma grande riqueza de fauna e f l o r a , e uma óptima situação geográfica, bem como belos panoramas, é justamente considerado uma das mais belas Reservas de Caça de todo o continente africano, proporcionando um espectáculo emocionante e inesquecível a quem o visita.

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COMPANHIA DO BUZI

Uma das mais antigas companhias moçambicanas, com larga projecção na Província, é, sem dúvida, a C O M P A N H I A C O L O N I A L DO B Ú Z I , constituída por escritura pública de 13 de Setembro de 1898, com o f i m de pôr em execução o contrato celebrado entre a f i r m a A r r i a g a & Ca. e a Companhia de Moçambique, datado de 1 de A b r i l de 1898. Os seus Estatutos foram aprovados por decreto de 3 de Setembro do mesmo ano. Do contrato realizado com a Companhia de Moçambique, por iniciativa do Dr. Guilherme de Oliveira A r r i a g a , colonial a cujas invulgares qualidades rendemos o preito das nossas devotadas homenagens, resultaram para a C O M P A N H I A DO BÚZI direitos e privilégios de que foi detentora até ao dia 18 de Julho de 1942. 1.° — O direito de demarcar dentro da circunscrição do Búzi todos os terrenos que pretendesse, mediante o foro de $ 0 1 , ouro, por hectare. 2 . ° — O direito de cobrar o imposto de palhota, de cuja totalidade lhe ficou pertencendo 60 por cento, sendo os restantes 40 por cento entregues à Companhia de Moçambique; 3.° — A preferência quanto a serem desempenhados por empregados seus os cargos oficiais exercidos na área da subconcessão, que abrangia toda a circunscrição do Búzi. 4.° — O livre exercício da a g r i c u l t u r a , comércio e concessão;

indústria, em

toda a área da sub-

5.° — A livre exploração de todas as florestas da circunscrição do Búzi em terrenos não concedidos a terceiros; 6." — O direito exclusivo de caça em toda a circunscrição. As concessões demarcadas no Búzi pela Companhia, nos terrenos do seu contrato, e as que adquiriu t o t a l i z a m , no Búzi, 135 2 0 0 hectares. A l é m daquelas concessões, a Companhia possui as seguintes : Na circunscrição de Mocoque Na circunscrição de Sofala Na circunscrição do Govuro

311 hectares 3 250 hectares 16 550 hectares

A C O M P A N H I A DO BÚZI foi constituída com o capital de 450 0 0 0 $ , ouro, representado por 100 000 Acções de £ 1 cada, capital que foi sucessivamente aumentando.

Busto, erigido em Vila Guilherme Arriaga, em memória do fundador da Companhia Dr. Guilherme de Oliveira Arriaga

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A C O M P A N H I A DO BÚZI pode considerar-se como a mais importante e mais completa de todas as organizações agrícolas e industriais, de nacionalidade portuguesa, de Moçambique. Tem a caracterizá-la a particularidade de, em 1920, ter absorvido, por compra, uma importante companhia inglesa congénere que, sob a denominação de «lllovo Sugar Estates», se havia estabelecido na margem direita do rio Búzi, no local onde hoje, precisamente, se encontra Vila Guilherme Arriaga. Em virtude de tal transacção, a C O M P A N H I A DO BÚZI passou a dispor de uma fábrica açucareira com capacidade para produzir 12 mil toneladas por campanha, além da fábrica que já possuía em Nova Lusitânia, com capacidade para 5 mil toneladas, que mais tarde foi transferida para a propriedade de Nossa Senhora da Graça, na circunscrição de Govuro, j u n t o a margem direita do rio Save. A fábrica adquirida à companhia inglesa foi depois ampliada e aperfeiçoada, de modo que em 1942 tinha uma capacidade de 20 mil toneladas por campanha. A C O M P A N H I A DO BÚZI tem contribuído de modo notável para o progresso e desenvolvimento económico do Distrito de Manica e Sofala. Criou importantes núcleos de actividades agrícolas e industriais; abriu estradas e instalou caminhos de ferro; montou fábricas, centrais eléctricas, oficinas e estaleiros, centrais elevatórias, etc. — de tal modo transformando em centros de progresso terras outrora inóspitas, incultas e completamente alheias à civilização. Vamos dar, em resumo, algumas indicações de carácter geral, das diversas actividades a que se dedica esta importantíssima organização moçambicana pioneira : CIRCUNSCRIÇÃO DO BÚZI Indústria açucareira : Cana sacarina Extracção do açúcar Outras indústrias : Destilaria Moagem Cerâmica Fornos de cal SERVIÇOS DE SAÚDE Serviços auxiliares : Oficinas gerais Centrais eléctricas Construção civil Construção naval Explorações florestais Serração mecânica de madeiras, carpintaria e marcenaria Transportes e comunicações As oficinas que a C O M P A N H I A DO BÚZI possui são as mais completas da Província. Actividades diversas : Zona algodoeira Pecuária Cultivo de milho e algodão Águas-de-colónia Refrigerantes Fabrico de gelo Abastecimento do pessoal A circunscrição do Búzi, onde a Companhia principalmente exerce a sua actividade, tem cerca de 4 9 4 0 quilómetros quadrados de superfície. As povoações mais importantes são : N O V A L U S I T Â N I A , na margem esquerda do rio Búzi, onde a Companhia inicialmente se estabeleceu e onde teve a sede até 1943, bem como a sede da circunscrição, tendo esta passado para V i l a Guilherme A r r i a g a . Pouco mais de um quilómetro a jusante de Nova Lusitânia encontra-se a povoação comercial Feira, uma das mais importantes do interior do distrito.

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V I L A GUILHERME A R R I A G A , na margem direita do rio Búzi, fronteira a Nova Lusitânia, é o centro industrial da Companhia, pois nela está a maior parte das suas instalações, como fábricas, oficinas, estaleiros, armazéns, habitações do pessoal, etc. A vila possui também uma capela, erigida pela Companhia, onde os reverendos Padres Missionários, periodicamente, celebram Missa. A circunscrição dispõe de uma regular rede de estradas que proporcionam comunicações com Lourenço Marques, Beira, Nova Sofala, Neves Ferreira, Chimoio, Mossurize e Manica e, através destas três últimas, com a Rodésia. Mas tais estradas são apenas utilizáveis durante a estação seca. O rio Búzi constitui, porém, a mais importante via de comunicação, através da qual tem lugar importante tráfego de mercadorias. Com as marés, o rio é navegável até Nova Lusitânia, para batelões de trezentas toneladas de carga ou mais. Para m o n t a n t e , desde Nova Lusitânia até ao Grudja, apenas é acessível a pequenas embarcações de fundo raso e, mesmo assim, em condições tão precárias que deixa de ser económica a sua utilização para qualquer género de transportes. Possui a fauna própria dos rios africanos do seu tipo e é abundante em peixe de óptima qualidade, especialmente nos pontos em que o leito é constituído por areia ou pedra. Há na circunscrição do Búzi vários agricultores europeus e a agricultura indígena tem apresentado nos últimos anos incremento apreciável. Destacam-se, como culturas principais, o milho, a mapira e o algodão, este ú l t i m o produzido sob o regime de zona algodoeira de que a Companhia é concessionária. Há na circunscrição florestas com madeiras preciosas e também abundante quantidade de trepadeiras «Landolphia» que noutros tempos foram exploradas em larga escala para obtenção de borracha. Não é conhecida a existência de jazigos de minério. Apenas a Companhia explora pedrei-as de calcário na sua propriedade da Estaquinha, para fabrico de cal e para aplicar em construções. A caça é abundante e variada. SERVIÇOS

DE

SAÚDE

A Companhia do Búzi possui um hospital em alvenaria, denominado «Hospital Conselheiro A l m e i d a » , em homenagem àquele seu antigo e ilustre director. O hospital está localizado em Nova Lusitânia e compreende um pavilhão principal e dois pavilhões-enfermarias, um ao norte, outro ao sul, de um recinto ocupando uma área de 13 mil metros quadrados. Na parte sul do pavilhão principal estão instalados o consultório médico, secretaria e aceitação de doentes, laboratório, farmácia e sala de operações; na parte norte, funciona o banco de curativos, havendo além disso o depósito de medicamentos, arrecadação, dois quartos particulares e instalações sanitárias. O pavilhão-enfermaria sul consta de duas salas; uma que pode comportar quarenta doentes de cirurgia e tem anexo um compartimento pare curativos; a restante sala dispõe de t r i n t a e cinco camas para hospitalização de doentes pulmonares. O pavilhão-enfermaria norte, com setenta camas, tem uma sala para infecções intestinais e outra para doenças infecto-contagiosas. Anexas a estes pavilhões, há cozinhas para europeus e indígenas. Junto da enfermaria sul, um balneário para indígenas. Em V i l a Guilherme A r r i a g a há um posto de socorros, em alvenaria, com sala de curativos, um quarto para doentes e instalações sanitárias. Distribuídos por vários centros agrícolas e industriais, há dez postos volantes de socorro, cada um dos quais tem ao serviço um enfermeiro indígena e dispõe de material sanitário para curativos ligeiros e socorros de urgência. Os serviços clínicos da Companhia e os de saúde são dirigidos por um médico privativo da Companhia. No hospital trabalham um enfermeiro europeu, que desempenha, t a m b é m , as funções de ajudante de Farmácia, quatro enfermeiros indígenas, e três enfermeiros ajudantes.

I

TRANSPORTES

E

COMUNICAÇÕES

Caminhos de ferro — A Companhia possui duas redes servindo as propriedades das duas margens do rio Búzi.


A frota da Companhia, cujo valor excede dois mil contos, é principalmente destinada ao transporte das suas mercadorias, entre V i l a Guilherme A r r i a g a e Beira. Telefones — A rede telefónica tem cerca de oitenta quilómetros de extensão e, abrangendo as duas margens do rio, serve vinte postos telefónicos destinados a estabelecer comunicações entre todos os serviços da Companhia. Aeródromos — A Companhia do Búzi possui em V i l a Guilherme A r r i a g a um campo de aterragem com as dimensões de 800 X 250 metros, acessível a aviões da DETA e frequentemente visitado pelos aviões do Aero-Clube da Beira, que foi completado, em segunda fase, com uma nova faixa de aterragem perpendicular à inicial. Na Companhia do Búzi trabalham duas centenas de empregados europeus e assimilados, incluindo um médico, três engenheiros, um agrimensor, um químico e dois comercialistas. Ao seu pessoal indígena tem a Companhia dedicado os melhores cuidados. Construiu acampamentos de alvenaria, dotados com cozinhas e amplos refeitórios; um balneário, instalações sanitárias, etc. Presta assistência médica g r a t u i t a a todos os indígenas da circunscrição; e com os meios de transporte de que dispõe, sempre tem atendido prontamente a todos os pedidos de socorro provenientes do interior da circunscrição. A Companhia concede ao seu pessoal licenças periódicas na Metrópole, com 50 por cento dos ordenados, e, além disso, as seguintes regalias : habitação, água, luz, lenha, assistência médica e medicamentos, bem como açúcar.

Edifício «CASA Z A M B É Z I A » , construído em 1 8 9 9 , na Beira. Era propriedade da Companhia do Búzi, mas já não existe


ALGUNS

NÚMEROS

REFERENTES

AO

ANO

DE

1964

CULTURAS EUROPEIAS ( C A N A S A C A R I N A ) — Esta Companhia colheu das suas plantações 120 938 965 quilos de cana e adquiriu ainda a plantadores particulares 87 973 193 quilos no valor de 19 mil contos. O total de 2 0 8 912 158 quilos de cana, produziram na nossa fábrica as seguintes quantidades de açúcar : Açúcar branco . . . 14 982 870 quilos Açúcar amarelo 11 703 650 quilos 26 686 520 quilos REGA — Mantém-se em actividade 5 estações elevatórias e um grupo de rega por aspersão. INDÚSTRIA T R A N S F O R M A D O R A : 1 1 1 1 1

— F á b r i c a de açúcar — F á b r i c a de álcool — F á b r i c a de tijolo — Fábrica de moagem — Fábrica de descaroçamento e prensagem de algodão 1 — S e r r a ç ã o de madeiras

CAPACIDADE ( a ) — 4 5 0 0 0 t o n . por campanha — 26 686 520 kgs. ( b ) — 2 0 0 0 0 0 0 Its. por ano 674 859 kgs. ( c ) — 4 500 000 unidades por ano — não laborou (d) — 3500 ton. por ano (farinha) — não laborou

(e) — 8800 quilos em 8 horas (f) — 6500 m 3 por ano

— 1 852 841 — 5015,5 m 3

kgs.

a) — Para consumo na Província e Metrópole. b) — Para consumo na Província. c) e d) — Labora consoante as necessidad2s do consumo interno. Não negoceia a sua produção. e) — Para consumo da Província e Metrópole. f) — Para consumo interno e exportação. VENDAS DE PRODUTOS Metrópole : Açúcar branco 996 480 kgs. @ 3$75 4 4 0 0 280 kgs. @ 4 $ 4 0

3 736 800$00 19 361 2 3 2 $ 0 0

Açúcar amarelo 1 685 015 kgs. @ 2$85 9 002 580 kgs. @ 3$35 Outros destinos : Açúcar branco Angra do Heroísmo 59 9 4 0 kgs. @ 3$25 79 920 kgs. @ 3 $ 9 0 Consumo a bordo (Navios de longo curso) 17 100 kgs. @ 3$65 20 340 kgs. @ 4 $ 3 0

4 802 292$75 30 158 643$00

194 805$00 311 688$00

62 4 1 5 $ 0 0 87 4 6 2 $ 0 0

Melaço Para a Holanda 2 701 500 kgs. @ $8,40 dólares/lOOOkgs

655 587$25


Província Açúcar branco 1 8 5 4 759 kgs. @ 3$45 8 649 231 kgs. @ 4 $ 1 0 Acócor amarelo 3 000 kgs. @ 2 $ 6 8 , 6 4 12 350 kgs. @ 3$18,64 Me!aco 25 231 kgs. @ $65 PESSOAL E U R O P E U — G r u p o «A» 2 0 5 empregados — Vencimentos pagos em 1954 PESSOAL A U T Ó C T O N E — Grupos «B», «C», «D>: Total de trabalhadores — 4 5 1 0 T o t a l dos salários pagos

6 398 918$55 35 461 847$ 10

.

8 059$20 39 352$04

16 4 0 4 $ 0 5

9 745 813$90

14 4 1 4 835$42

Por tudo quanto fica exposto se pode avaliar do papel que esta Companhia pioneira representa na economia e progresso da Província de Moçambique.


VILA PERY — A CIDADE MAIS NOVA DE MOÇAMBIQUE

Em 17 de Julho de 1969 que foi elevada a cidade, o que foi motivo de grande regozijo pcra todos os seus habitantes. É a mais jovem cidade de Moçambique — situada no Planalto do Chimoio, o seu clima é óptimo, e belas as paisagens circundantes. É uma terra que sempre progrediu desde a nascença. O seu nome foi-lhe dado para homenagear um ilustre oficial do Exército, que foi Governador do Distrito de Manica e Sofaia e muito fez por ela, cujo nome era Pery-de-Linde. Daí dar ao tão lindo rincão moçambicano, o nome de V I L A PERY.

Avenida

principal

A cidade é hoje um centro urbano de linhas modernas, com belos edifícios, bonitos estabelecimentos comerciais, colégios, uma Escola Comercial e Industrial, uma Escola de Regentes Agrícolas, Hospital, Cinema, Clube, Bancos, etc. V I L A PERY fica a caminho da Rodésia, sendo, por isso, um ponto de paragem para quem viaja. A cidade do Planalto cresce e alinda-se dia a dia, com os olhos postos no f u t u r o !

Monumento aos pioneiros

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SOCIEDADE HIDROELÉCTRICA DO REVUÈ A SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ, S.A.R.L. foi constituída em Lisboa, a 1 de Julho de 1946. Teve a sua origem num pedido de concessão da Sociedade Algodoeira de Port u g a l , com sede no Porto, para alimentação da fábrica têxtil que iria instalar em Vila Pery. 0 M i n i s t r o das Colónias de então, Professor Doutor Marcelo Caetano, entendendo, em face do alto interesse público que oferecia o aproveitamento das águas do rio Revuè, antevendo a larga projecção e a enorme influência que tal empreendimento viria a ter no fomento da região central de Moçambique, decidiu que o Estado devia tomar parte activa em realizações como esta, ligadas à política da energia do U l t r a m a r Português, e, por isso, fixou as condições em que poderia ser outorgada a respectiva concessão. O capital inicial f o i , assim, de 30 mil contos, subscrito em partes iguais pelo Estado Português e pela Sociedade Algodoeira de Portugal, acompanhada por um grupo financeiro ligado à mesma Sociedade. Pelo Decreto n.° 35 7 4 4 , de 10 de Julho de 1946, foi outorgado à SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ o aproveitamento da energia do rio Revuè e seus afluentes, entre as curvas de nível de 100 e 700 metros, vindo mais tarde a ser-lhe igualmente atribuído o estabelecimento e a exploração de subestações e de linhas de transporte de energia, pelo Decreto n° 39 2 3 7 , de 6 de Junho de 1953. Assim se u t i l i z o u o desnível de, aproximadamente, 2 0 0 metros existente na zona de rápidos denominada «Quedas do Revuè», imediatamente a jusante da foz do seu afluente, o rio M a v u z i , cujo nome passou a designar a Central Eléctrica ali instalada.

Desenho da Barragem da Chicamba Real

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Concluídas em 1953 as obras desta primeira fase e construída a linha de transporte a 66 K V , com 47 quilómetros de extensão, entre a Central do M a v u z i e a Subestação de Vila Pery, foi possível iniciar, no f i m daquele ano, a alimentação da fábrica da Sociedade Algodoeira e, seguidamente, fornecer energia ao concelho do Chimoio. Não só porque o elevado custo das obras realizadas o exigia, como para levar a cabo mais rapidamente a obra de fomento económico na região de M a n i c a e Sofala que justificara as concessões outorgadas, diligenciou-se obter colocação para a energia disponível, noutros mercados. Para este f i m construiu-se uma nova linha com 172 quilómetros de extensão para o transporte da energia à tensão de 1 10 KV até à cidade da Beira, onde foi localizada uma subestação equipada com dois transformadores de 12,5 M V A cada u m , iniciando-se no ano de 1956 o fornecimento à cidade e ao porto da Beira, hoje ampliado por meio de uma linha de 22 KV através da zona industrial da Manga e do concelho do Dondo até à central elevatória de abastecimento que logo se verificou corresponder inteiramente às esperanças nele depositadas. Ao mesmo tempo, indo de encontro aos desejos manifestados pela «Electricity Supply Commission» —o organismo oficial que, na Federação das Rodésias e da Niassalândia, superintende na produção e distribuição da energia eléctrica — encetaram-se negociações com vista à exportação de grandes quantidades de energia para abastecimento da cidade e região de U m t á l i , as quais concluíram pela assinatura, em 1955, na cidade de Lisboa, de um contrato para um fornecimento da ordem dos 1500 G W h de energia, sem prejuízo das necessidades da Província, correspondendo a uma receita bruta de 3 0 0 000 contos, ao longo de dez anos. Com base nos projectos elaborados pelo Gabinete de Estudos da Hidro-Eléctrica do Zêzere, foi construída uma barragem na garganta denominada «Chicamba Real», destinada à regularização inter-anual dos caudais do Revuè, e foi ampliada a central do M a v u z i para instalação de três novos grupos turbogeradores, de 12 MW cada um. Da grande barragem —a que foi dado o nome de «Oliveira Salazar», em homenagem ao Presidente do Conselho, que tornou possível a realização de empreendimentos de tão grande vulto por tcdo o país — e s t á construída apenas a primeira fase, com 53 metros de altura, assegurando um armazenamento da ordem dos 450 milhões de metros cúbicos de água, considerados suficientes para ocorrer às necessidades dos anos mais próximos. Está, porém, prevista a sua elevação em mais 20 metros, o que fará subir a capacidade da albufeira para cerca de 2000 milhões de metros cúbicos, bem como a construção de uma central de pé de barragem que poderá atingir a potência de 35 M W . Na zona do antigo aproveitamento foi aumentada a capacidade de embalse do açude, sob c qual foi construída uma ponte, a que foi dado o nome de «Marcelo Caetano» — o ministro que promoveu a constituição da empresa e lhe assegurou condições de bem poder cumprir a sua m i s s ã o — instaladas novas condutas e os grupos turbogeradores já referidos. Para a efectivação de tão vasto programa, que deixa a perder de vista as previsões mais optimistas dos primeiros tempos da sua actividade, houve que elevar sucessivamente o capital da SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ, por emissões de acções e de obrigações até ao montante de Esc. 4 2 0 0 0 0 0 0 0 $ 0 0 que correspondem ao actual valor do investimento. Ao analisar, retrospectivamente, a evolução da actividade da SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ, há que acentuar a quase chocante aceleração com que os empreendimentos têm sido realizados. Enquanto que 20 milhares de metros cúbicos de betão se colocaram penosamente no primitivo açude, ao longo de alguns anos, o ritmo das últimas betonagens da Barragem da Chicamba chegou a exceder dez mil metros cúbicos por mês; de igual modo surpreende a comparação do tempo despendido na montagem da linha de U m t á l i , a qual foi projectada e construída em menos de um ano, com o que foi gasto na montagem da linha de alta tensão destinada à alimentação de V i l a Pery. Também na exploração, a energia vendida quase triplicou de 1956, atingindo aproximadamente o dobro em 1958. Em relação ao início da exploração e durante os cinco anos já decorridos, é de 20 vezes o aumento verificado. Assim, é lógico admitir-se que a potência máxima solicitada à central do M a v u z i , cujo valor de ponta a t i n g i u os 20 MW no período de 1957-58, venha nos próximos anos a sofrer # u m acréscimo da ordem dos 1 1 % ao ano, motivo por que o actual sistema terá de ser a m pliado novamente dentro de alguns anos. Em breve haverá, p o r t a n t o , que iniciar novos escalões, razão por que já está prevista a construção da central de pé de barragem da Chicamba, que ficará equipada com 35 M W , c prosseguem os estudos para determinar as soluções economicamente mais vantajosas para um f u t u r o mais distante.


Ponte açude

«Marcelo Caetano»

Admite-se ainda a hipótese de intercalar entre quaisquer destes empreendimentos o aproveitamento das águas do rio Púnguè, que corre próximo da área da concessão da SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ e que pelas suas características oferece perspectivas de certo modo complementares das facultadas pelo Revuè. Ao cabo de 17 anos de intenso labor, a SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ pode contemplar com legítimo desvanecimento o caminho percorrido e, certa de haver correspondido à confiança dos poderes pfúblicos que lhe outorgaram concessões e tornaram viável a sua actuação bem como à das entidades particulares que prontamente acorreram a demonstrar-lhe a melhor compreensão e interesse por tão grande empreendimento, continua empenhada com redobrado entusiasmo, em contribuir tão largamente quanto lhe seja possível para o fomento económico da região de Manica e Sofala, que constituiu o seu campo de acção. Esperamos que, de f u t u r o , tal como até agora, não haja pedido viável que se não atenda, necessidade que se não satisfaça, iniciativa que se não anime ou auxilie, acompanhando a SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICÀ" DO REVUÈ, atodo o momento, o progresso da Província de Moçambique, ao mesmo tempo que continue aprestar colaboração eficaz para a satisfação das necessidades e para um maior desenvolvimento dos territórios vizinhos, numa afirmação concreta de quanto vale a amizade e o bom entendimento entre as nações.


ZEMBE PLANTATIONS, LTD.. PIONEIROS DO SISAL

ZEMBE P L A N T A T I O N S é uma organização agrícola que foi criada pelo pioneiro Otto Schneebeli, e também o seu primeiro director, no ano de 1930, com capitais suíços, no valor de dez mil contos. A ZEMBE P L A N T A T I O N S dedica-se à plantação de sisal, na região de V i l a Pery, onde se situam as plantações, sendo uma no Vale de Ceres e a outra no lugar da Boa V i s t a , e pertencem ao Distrito de M a n i c a e Sofala. Na época da sua fundação, era gerente das plantações um irmão do fundador da organização. Mais tarde sucedeu-lhe, como gerente, o cidadão suíço Gustav Linck, que permaneceu na gerência durante quinze anos. As plantações foram sempre progredindo, quer em tamanho, quer em produção, de ano para ano, graças ao emprego de sistemas mais actualizados: A área total das plantações é de seis mil trezentos e noventa e dois hectares. A empresa possui duas fábricas, diversos armazéns, escritórios, uma cantina para abastecimento dos seus empregados, acampamentos para trabalhadores nativos e residências para todo o restante pessoal. As plantações possuem estrades, pontes e linhas «décauville». A ZEMBE P L A N T A T I O N S exporta para os mercados da Holanda, França, A l e m a n h a , Bélgica, América do Norte e Japão. A c t u a l m e n t e , a produção anual das plantações é calculada em duas mil toneladas de sisal, com tendência para aumentar. A venda t o t a l , no ano de 1964, foi de onze mil e cem contos. A despesa a n u a l , com salários, é de cinco mil e duzentos contos. Todos os empregados da empresa têm assistência médica g r a t u i t a . Em construção estão uma escola e uma igreja. Todos os empregados com direito a férias na Europa, têm passagens pagas, bem como a sua f a m í l i a , e os empregados usufruem o seu vencimento por inteiro. A empresa emprega nas suas plantações, entre oitocentos e mil operários nativos, e sete empregados europeus portugueses e um holandês.

Plantação de Sisal

f Nos últimos dois anos, as plantações têm estado a produzir mais, devido ao emprego de métodos recentes. Por esse facto, do qual tiveram conhecimento os sisaleiros do norte da Província, alguns deslocaram-se à ZEMBE P L A N T A T I O N S para tomarem conhecimento desses novos métodos e, assim, poderem aumentar as suas produções de sisal. A actual gerência das plantações é dirigida pelo cidadão holandês A. C. Leenhouts. A ZEMBE P L A N T A T I O N S é uma das grandes empresas agrícolas da região de V i l a Pery que m u i t o contribui para o engrandecimento e progresso agrícola não só de M a n i c a e Sofala como da Província de Moçambique.

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EDMUNDIAN INVESTIMENTS. LDA.

Eng.

Bettencourt Dias

Situada na serra da Isitaca, a 13 quilómetros da histórica V i l a de M a n i c a — n a fronteira de Moçambique com a Rodésia — existe uma mina de cobre, que esteve abandonada durante quarenta e dois anos e encontrada pelo Eng." Bettencourt Dias, em 1963. A mina foi abandonada no ano de 1922, quando o preço do cobre baixou nos mercados mundiais, de 180 para 25 libras por tonelada. É devido ao espírito empreendedor e activo do Eng. 0 Bettencourt Dias — a l i a d o a profundos conhecimentos adquiridos em curso especializado nos Estados Unidos, após a sua formatura em Portugal — que a abandonada mina é explorada. Trata-se de um empreendimento de grande vulto, que só foi possível graças ao auxílio financeiro que o Eng. 0 Bettencourt Dias obteve j u n t o de entidades sul-africanas, que a ele se associaram, permitindo, deste modo, a exploração da enorme riqueza do subsolo, naquela região que é particularmente rica de outros minérios nos quais se inclui o ouro. Nesta mina existem sulfuretos de cobre, em filões verticais, que se estendem lateralmente por cerca de quatrocentos metros, e em profundidade, já reconhecidos, até 2 8 0 metros abaixo da superfície, com maior desenvolvimento no fundo da mina. Já foram iniciados pelos técnicos que prestam serviço na E D M U N D I A N INVESTIMENTS, LDA., os trabalhos de geoquímica, que indicam que além dos filões já conhecidos e explorados pelos antigos proprietários, há grandes probabilidades de se encontrarem outros filões de m i nérios que não afloram à superfície, mas que apresentam regularidade e persistência em extensão. A actual empresa vai efectuar sondagens para estabelecer as riquezas dos novos filões. Trata-se, como facilmente se conclui, de um empreendimento de grande envergadura, que vai, sem dúvida, ter grande projecção f u t u r a na vida económica e industrial do Distrito de M a n i c a e Sofala, que se transformará em grande fonte de riqueza. Ao entusiasmo, inteligência, saber e dinamismo do Eng. 0 Bettencourt Dias, ficamos a dever esta importantíssima iniciativa. A bonita e progressiva V i l a de M a n i c a será, por certo, uma das primeiras beneficiadas com o incremento que a E D M U N D I A N INVESTIMENTS, LDA. lhe proporcionará. — 258-D —


TEXTAFRICA UMA GRANDE ORGANIZAÇÃO

PIONEIRA

Vista geral do complexo fabril, em Vila Pery

258-E


O seu ツォTimeツサ de futebol e treinadores

Piscina do Grupo Desportivo e Recreativo da TEXTテ:RICA


PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE QUELIMANE Manuel Danilo Fernandes da Costa, há já alguns anos à frente dos destinos da Câmara M u n i c i p a l de Quelimane, nasceu em Lourenço Marques. Seus pais — D . Adelina Fernandes e Virgílio F e r n a n d e s — são metropolitanos, tendo vindo para a Província em 1923, fixando-se em Lourenço Marques, onde o pai se dedicou à indústria de barbearia, assim como à a g r i c u l t u r a . M A N U E L D A N I L O FERNANDES DA COSTA, uma vez concluídos os seus estudos, ingressou no Quadro A d m i n i s t r a t i v o da Província, em 20 de Outubro de 1945, tendo inicialmente prestado serviço nos Distritos de T e t e , Inhambane e Lourenço Marques. Ascendeu à categoria de Chefe de Posto em 21 de Junho de 1949, prestando serviço no Distrito de Tete, donde, por promoção a Secretário de Circunscrição, em 19 de Janeiro de 1953, foi transferido para o Distrito de Manica e Sofala. Foi louvado pelo Governador do Distrito de M a n i c a e Sofala, em 8 de Março de 1956, por desempenho das funções de Secretário e Administrador, interino, na circunscrição do Báruè. Durante quatro anos trabalhou na repartição de Administração Civil.

pessoal, da

Direcção dos Serviços de

Promovido a Administrador de Circunscrição em 26 de Novembro de 1960, foi designado para exercer o cargo de Secretário Distrital de Administração Civil da Z a m b é z i a , cargo que desempenhou durante cerca de ano e meio do qual transitou para 'a Administração do Concelho de Quelimane. Foi louvado pelo Governador do Distrito da Z a m b é z i a , em 5 de Fevereiro de 1962, pelo desempenho das funções de Secretário Distrital. Nos concursos do Quadro A d m i n i s t r a t i v o a que teve de se submeter, obteve sempre as melhores classificações. Foi louvado pelo Governador do Distrito da Z a m b é z i a , em 28 de A b r i l de 1964, pelo desempenho das funções de Administrador do Concelho de Quelimane. Nesta mesma d a t a , Quelimane.

tomou

posse do

cargo

de

Presidente

da

Câmara

Municipal

de

Desde a sua investidura, que larga actividade tem desenvolvido em prol do progresso da cidade, procurando com o maior interesse resolver os múltiplos problemas do seu município.

Câmara

Municipal

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HISTÓRIA

DE

QUELIMANE

A vetusta Q U E L I M A N E já constituía povoação quando o f u t u r o Conde de Vidigueira molhou ferro nas águas que ele próprio apelidou de Rio dos Bons S i n a i s — 2 2 de Janeiro de 1498. M a l decorrera um século e já os portugueses saídos desse Tejo glorioso se haviam fixado em Quelimane, aquela Quelimane que ao tempo da carta de D. José —9 de Maio de 1761 — era, depois de Moçambique, o maior centro de toda a costa moçambicana. Nela começava a aventura do misterioso Zambeze — a grande via de penetração até ao Z u m b o ; e por ele se lançavam na milenária quimera do oiro os que imaginavam beijados pelas suas águas os territórios onde se situavam os filões que proporcionaram as aurifulgentes colunas do tempo salomónico e as gemas magníficas que adornam o diadema da rainha do Sabá no dia longínquo em que foi gerado — d i z a l e n d a — o primeiro rei da Etiópia. A t é onde a imaginação das «Donas -—as celebradas «Donas de Q u e l i m a n e » — foi a t i çada pela fama das riquezas e grandezas de antigos monarcas, de governadores poderosos que ficaram nas lendas t a n t o pela sua sabedoria como pelo seu fausto? Os «festins zambezianos» não seriam o derradeiro eco daquele reboar da lenda? Sempre enorme na sua força, no seu potencial económico, nas suas lendas, esta personalizada Z a m b é z i a , com os seus «Prazos da Coroa», uma das suas formas e fontes de v i t a l i dade, tem em Quelimane o seu Salão Nobre e o seu celeiro previdente, onde as linhas do f u t u r o hão-de fazer acorrer, para todo o Moçambique e para todo o mundo, as riquezas do seu fertilíssimo ventre. Quelimane, cidade desde 21 de Agosto de 1842, é a capital de um dist r i t o onde, mercê do esforço de alguns, muitas vezes sem grandes ajudas ou facilidades, se conseguiu dar que fazer a muitos através de um sem-número de realizações sobretudo no aspecto agrícola e comercial.

Vista aérea do porro e da cidade

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Se consultarmos o mapa demográfico da Província, constatamos que o Distrito da Z a m bézia é, depois do Distrito de Moçambique, o que conta maior número de almas. Tal concorre para que a densidade populacional na área circundante da cidade de Quelimane, num raio de 150 quilómetros, aproximadamente, a t i n j a um dos valores mais altos em toda a Província de Moçambique : mais de 40 habitantes por quilómetro quadrado. É óbvio que tal densidade resulta das necessidades de pessoal afecto à indústria, comércio, habitação e à zona portuária e às actividades que com esta se relacionam, mas sobretudo da fertilidade das baixas da Zambézia às culturas essenciais à alimentação da população que nela habita.

Palácio do Governo

Nestes factores — a elevada densidade demográfica e a riqueza das terras do seu «interland» — há que «filhar» a maior ocupação t e r r i t o r i a l , quer por africanos, continentais ou indianos, com raízes de séculos no solo zambeziano. Com esta fixação à terra obteve-se, e obtém-se, o desenvolvimento de várias culturas que podemos classificar de ricas verbi gratia e copta, em todo o litoral dos distritos — perto da Maganja da Costa situa-se o maior Palmar do m u n d o — o chá no Guruè, no Socone, no Tacuane e em M i l a n g e ; o açúcar nas margens do Zambeze (Luabo, Marromeu e Mopeia); o algodão na M o r r u m b a l a , em Mocuba, em Mocubela, no A l t o Ligonna e no Gilé; o sisal em Naciáia e em M o c u b a ; e outras mais pobres a constituírem a base da alimentação da maior parte da população : o milho, a mandioca, o arroz, a batata-doce, o feijão, etc. A par destas culturas, o aproveitamento das madeiras da região e a exportação do subsolo, no extracção de minérios que abundam na A l t a - Z a m b é z i a , constituem fontes de riqueza que muito contribuem para uma valorização económica, não só a nível distrital mas até a nível nacional. O desenvolvimento da cidade de Quelimane é pois consequência do que se fez e do que se fizer no interior do distrito até porque o porto que a serve, agora com a sua ponte acostável ampliada e melhorada a zona portuária, é o escoamento natural de grande parte dos produtos da Zambézia. Pena é que o caminho de ferro existente seja só um troço de 145 quilómetros, estabelecido entre Quelimane e Mocuba, sendo também certo que se apoia numa rede de camionagem automóvel com centro em Mocuba donde irradia para outros pontos do distrito. — 261 —


Paço do Bispo

A pecuária é outro valor económico que já avulta na economia da Zambézia que praticamente se iniciou e desenvolveu por iniciativa de algumas empresas radicadas na exploração dos palmares e com vistas fundamentalmente à fertilização das terras afectas à cultura do coco. Hoje, porém, já se dedicam à pecuária, com carinho, vários criadores europeus e africanos. A fauna africana, sobretudo certas espécies concentradas em determinados pontos do dist r i t o , pode constituir um motivo de atracção turística e, consequentemente, uma boa fonte de receita. A indústria, porém, ainda está em fase inicial. Se bem que existam iá algumas instalações industriais, salientando-se a de transformação de produtos extraídos à terra (açúcar, chá, algodão (descaroçamento), copra, amêndoa, óleos e f i b r a ) , milho, mandioca, madeiras, argila (cerâmica) e extracção de minérios, muitas mais se poderiam aqui instalar não só como apoio a uma a g r i c u l t u r a , por ora bastante rotineira, mas sobretudo para aproveitar os imensos recursos em que a Zambézia é pródiga, incorporando sobretudo nos produtos exportados, obtidos de produções primárias, o maior volume possível de trabalho humano.

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Cinema Águia

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Os dois grandes pilares necessários ao desenvolvimento de qualquer território — energia eléctrica e boas vias de comunicação — têm sido o verdadeiro "Calcanhar de A q u i l e s " a vencer. Tem a Zambézia pugnado pela resolução definitiva da sua rede v i á r i a ; muito há que realizar ainda para alcançar razoável satisfação d a i suas imensas necessidades. Esperancemo-nos, no e n t a n t o , que num período próximo as principais vias de comunicação tenham o arranjo d e f i n i t i v o que o seu tráfego já j u s t i f i c a , encarando-as como meio de rentabilidade indirecta.

Edifício «Ferreira & Faria»

O problema da energia eléctrica está a ser estudado com afinco e interesse, dado que o sua solução é vital para o desenvolvimento de Quelimane e, simultaneamente, de toda a Zambézia e importante para a economia da Província. Recorrendo-se, como sucede actualmente em quase toda a Z a m b é z i a , a centrais térmicas alimentadas a diesel, que aqui chega a preços m u i t o elevados, não pode, cie forma alguma, obter-se energia barata, e consequentemente o rápido desenvolvimento agrícola e industrial de que t a n t o se carece. Como resultado de estudos recentes, encara-se a hipótese da construção de aproveitamentos hidroeléctricos, neste d i s t r i t o , e limite com o Distrito de N a m p u l a , alguns dos quais — conjunto Luo-Lugela e sistema L ú r i o — , t e m já adjudicados os respectivos anteprojectos à f i r m a SOFRELEC (Société Française d'Études et Réalizations Électriques-Paris) pela importância de escudos 33 3 2 0 0 0 0 $ 0 0 . U l t i m a m e n t e , e mercê talvez do propósito demonstrado em encontrar-se uma solução para o problema de produção e fornecimento de energia eléctrica, a par do reconhecimento mais profundo das potencialidades do terreno para diversas culturas, há já firmas constituídas com capitais portugueses e estrangeiros interessadas em estabelecer na Z a m b é z i a , m u i t o próximo de Quelimane, o que redundará em benefício para a cidade. No campo do ensino, teve a cidade nestes últimos anos um grande impulso com a criação de um Liceu — com frequência de cerca de 3 4 0 alunos, hoje já com os três ciclos em funcionamento — uma Escola Técnica em edifício próprio e moderno — com frequência de cerca de 810 alunos.

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Edifício Monteiro e Giro

A l é m destes estabelecimentos de ensino continua em funcionamento o Colégio Nuno Álvares com leccionação até ao 5.° ano dos Liceus e com a frequência de cerca de 300 alunos; e está já em construção um outro colégio para rapazes. O r i t m o de construção não acompanhou a evolução social do meio, lutando-se ainda com bastante f a l t a de habitações, sobretudo para as classes média e economicamente débeis, que recorrem, quase exclusivamente, à habitação do tipo tradicional — casas de madeira revestidas a argila e cobertas a folha de palmeira, o que, aliás, as preserva do calor. A resolução do abastecimento de energia eléctrica à cidade em melhores condições de preço, será sem dúvida o factor determinante do seu desenvolvimento, tal como sucedeu na cidade da Beira.

Hotel Vera Cruz

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HISTÓRIA

DOS

DISTRITO

DA

ZAMBÉZIA

Quelimane, capital do Distrito da Z a m b é z i a , está situada na margem esquerda do Rio dos Bons Sinais, a 18 milhas da barra do Tangalane. Em 9 de M a i o de 1 7 6 1 , por carta régia dirigida ao Governador e Capitão-General da Praça de Moçambique, Calisto Rangel de Sá, foi a povoação elevada à categoria de vila. Em 1942 foi elevada a cidade por portaria do M i n i s t r o do Ultramar. Quelimane, um dos centros populacionais mais vastos e antigos de Moçambique, conservando as suas tradições de uma já m u i t o longa integração entre as raças que ali vivem, não se deixou paralisar na contemplação do seu passado pitoresco. É hoje uma cidade moderna e em constante desenvolvimento, atravessada por boas artérias e possuidora de construções de vulto, destacando-se o grandioso edifício da f i r m a M o n t e i r o & Giro, que talvez possa ser considerado o maior de toda a Província. Rodeada de grandes bosques de palmeiras, a cidade de Quelimane é o centro de uma região de grande interesse turístico. Quelimane é o ponto de convergência das riquezas do distrito e as suas condições actuais permitem que os habitantes vivam com todo o conforto da vida moderna : possui cinema uma piscina, campos de ténis, futebol e outros desportos e numerosos clubes sociais e desportivos. Existem no distrito quatro portos naturais : Quelimane, Chinde, Macuse e Pebane — todos frequentados pela navegação costeira. A cidade possui já um cais acostável com 120 metros de extensão e 1 5 de largura, presentemente sofrendo ampliação; a construção foi terminada em 1954 e permite a acostagem a embarcações até 18 pés de calado. O cais, depois de concluídas as obras, deverá ficar com 2 1 0 metros de extensão. Entre as associações e clubes, registamos a Associação de Fomento, o Clube Ferroviário, o Sport Quelimane e Benfica e o Sporting Clube de Quelimane, além de outros. O distrito tem as seguintes divisões administrativas : Quelimane, Chinde, Mocuba, A l t o Molócuè, Gúruè, He, Lugela, M a g a n j a , M i l a n g e . Mopeia, M o r r u m b a l a , Namacurra, Namarrói e Pebane. Quase todos os centros possuem pequenos aeródromos, escalados pelos aviões de uma Empresa de Aero-Táxis, além dos aviões da DETA, que servem Quelimane. A Zambézia é uma região agrícola de notável riqueza, possuindo os maiores palmares do m u n d o ! É o segundo d i s t r i t o da Província em população, e de solo riquíssimo. No Distrito da Zambézia cultivam-se o chá, algodão, sisal, açúcar, milho e castanha de caju. Tem a copra e o coco. No sector da pecuária tem : gado bovino, caprino e suíno. A Zambézia é o distrito que maior número de divisas dá à Província. Quelimane, sua c a p i t a l , é uma cidade em constante progresso e desenvolvimento, incluindo o urbanístico. O actual Governador do Distrito da Zambézia é o Tenente-Coronel Beça Múrias.

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SOCIEDADE AGRÍCOLA DO MADAL

Instalações da M A D A L

A SOCIEDADE A G R Í C O L A DO M A D A L , estabelecida em Quelimane desde 1903, teve como fundadores, o Príncipe A l b e r t o de Mónaco — bisavô do Príncipe Rainier, do Mónaco — e conjuntamente, capitais marselheses. A Sociedade, a c t u a l m e n t e , dedica-se às seguintes actividades : agrícola, pecuária, comercial e industrial, no Distrito da Z a m b é z i a , nos concelhos de Quelimane, Chinde e Mocuba e nas circunscrições da M a g a n j a da Costa e do Lugela, utilizando cerca de 2 0 0 empregados com carácter permanente e empregando 5000 trabalhadores rurais. Nas áreas dos concelhos de Quelimane e Chinde, nos postos de Inhassunge e Micaune e na circunscrição da M a g a n j a da Costa, no posto do Bajone, como agricultor de copra, possui a empresa 1 464 166 palmeiras das quais 980 551 em produção plena, como criador de gado e nas mesmas divisões administrativas mantém a Sociedade 13 390 cabeças de gado bovino além de outras espécies, pretendendo aumentar para 25 mil cabeças. Como produtor de chá, na circunscrição do Lugela e no posto do Tacuane, cultiva a empresa uma área de 7 5 0 hectares, dos quais mais de 500 em produção e com uma média, por hectare, considerada recorde em Moçambique. A actividade comercial, centralizada em Quelimane, na sede da Sociedade, estende-se às filiais de M o c u b a , Micaune e Inhassunge e exerce, além da exportação dos artigos da sua produção, também a importação dos mais diversos artigos. É Agente Distribuidor, no distrito, dos produtos Ford, Nestlé, M o b i l , Cuf, Basf, Michelin e outros, e ainda como Agente de Navegação M a r í t i m a e Aérea na praça de Quelimane, bem como o A g e n t e de Seguros em representação das Companhias Império e Lloyds, sendo também Agente Transitário, no porto de Quelimane.

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Como industrial, a M A D A L possui uma fábrica de chá no Tacuane, dotada de maquinaria de mais moderna, estando projectada a construção de uma outra unidade. Possui várias oficinas de serralharia e de reparação de veículos, em Quelimane, Inhangulue, Micaune e M a t u l u n e , e uma oficina de reparações navais em M a r r u b u n e . Várias moagens para consumo próprio, com instalações todas dotadas de geradores próprios de energia eléctrica, e no Tacuane está a proceder à montagem de uma central hidroeléctrica, nos melhores moldes de técnica, segurança e economia, para abastecimento de energia a todas as suas actividades daquela área. Para os seus serviços agrícolas, dispõe a empresa de diversos parques de maquinaria e alfaias, integrados de 40 tractores, 40 atrelados basculantes e fixos, niveladoras, escavadoras, bem como centenas de alfaias como charruas, grades, ceifeiras e o mais diverso material. Para transportes por terra, de pessoas e mercadorias, possui a Sociedade cerca de 35 camiões e camionetas, «jeeps» e «land-rovers», quase uma centena de motos e motorizadas e ainda vários centos de carros de bois. Os transportes fluviais, entre as várias propriedades, são feitos por um conjunto de duas dezenas de lanchas de ferro, com uma tonelagem de quase 1000 toneladas de deslocação, para o que dispõe de 7 rebocadores movidos a diesel, bem como instalações para armazenagem de combustíveis e óleo, espalhadas por diversos locais. Distribuídos pelas várias propriedades da empresa, possui a Sociedade quase uma centena de armazéns de alvenaria, 42 estufas para secagem da copra, mais de uma centena de poços de bebedouro para gado, diversos currais de t r a t a m e n t o de gado, 20 tanques carracicidas, etc. Para instalação dos empregados, dispõe a Sociedade de mais de uma centena de residências, bem como para cima de um milhar de pequenas moradias para o pessoal eventual, todas em alvenaria. Para g a r a n t i a de comunicações entre os vários sectores da empresa, além da estrada e da via f l u v i a l , mantém a empresa 4 campos de aviação, servidos, quase que diariamente, por aviões com quem a Sociedade mantém avenças, estando as sedes das diversas plantações ligadas cem Quelimane por 7 postos de rádio, além do telefone, quando existente. No campo social, a Sociedade possui diversos postos médicos, servidos por 6 enfermeiros diplomados, dirigidos por um médico contratado pela empresa e por 3 médicos avençados e duas enfermeiras regionais; nos pontos de maior concentração, com maternidades e mais instalações sanitárias apropriadas.

O Conde de Babone junto de alguns elementos da equipa de futebol da M a d a l .

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Para educação dos filhos dos seus empregados e até para as crianças das populações rurais limítrofes das suas actividades, são mantidas pela empresa, 15 escolas primárias, com professores habilitados nas Missões Católicas, e frequentadas, actualmente, por mais de 1000 crianças. Em Quelimane, e para os filhos dos empregados vivendo no interior, não servido por escolas oficiais, possui a empresa dois internatos para albergar crianças, de ambos os sexos, que frequentam na cidade o ensino primário e o secundário oficiais, pagando os empregados uma pequena verba. A empresa mantém cerca de 20 campos de jogos, mormente para f u t e b o l , cujas equipas são orientadas por empregados com alguns conhecimentos desportivos, sendo de sua conta o fornecimento de todo o equipamento desportivo e os transportes, a quando das competições inter-regionais. Finalmente, organiza a Sociedade, por vezes, festivais desportivos e recreativos, com exibições do agrado das populações, exibições de cinema e folclore regionais, etc. As principais exportações da SOCIEDADE A G R Í C O L A DO M A D A L são a copra e o chá. Este é exportado para a Europa, sendo na sua maior parte para a Inglaterra, seguida da Alemanha. Uma pequena parte da produção é exportada para os Estados Unidos da América. A copra é exportada para o Médio Oriente, isto é, para Israel. O valor dessas exportações anuais oscila entre 75 a 80 mil contos. Na sede da empresa, na cidade de Quelimane, há dois Administradores : o português João Bobone e o suíço Henri Hubert, que se radicou na Província de Moçambique há 33 anos. Há, a i n d a , um terceiro Administrador, que se encontra na fábrica de chá, em Tacuane, que é de nacionalidade inglesa. Por tudo quanto fica descrito acerca desta grande e prestigiosa organização moçambicana, se avalia o seu contributo para o progresso económico e social da Z a m b é z i a , e da Província, em geral.

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PIONEIRO DA INDÚSTRIA AÇUCAREIRA EM MOÇAMBIQUE JOHN PETER HORNUNG

Portugal, que podia honrar-se de ter sido precursor da cultura e da industrialização da cana sacarina em terras do Ocidente; primeiro a M a d e i r a , a seguir os Açores, depois S. Tomé e por f i m , o vastíssimo Brasil; Portugal que se bastara a si próprio e fora exportador para as refinações da Inglaterra, Flandres e A l e m a n h a ; Portugal, que tivera na Madeira os mais apreciados açúcares, fora decaindo na produção, não só devido ao progresso da cultura na América Cent r a l , como t a m b é m , pela independência do Brasil, e vira-se passar de exportador a importador. Em fins do século X I X eram já a Inglaterra, a A l e m a n h a e a França, como a Áustria e o Egipto, q u e m , longe de receber os nossos açúcares, fornecia o mercado interno português. E já então a importação subia a mais de 27 mil toneladas.

è

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Era necessário reatar a tradição açucareira portuguesa. A essa t a r e f a , com arrojo e inteligência, meteu ombros J O H N PETER H O R N U N G , denodado batalhador e pioneiro. T a r e f a quase sobre-humana impôs a si mesmo, a de desbravar a selva, plantando cana, acarretando materiais, reunindo o capital esquivo, de então, para em luta contra o meio, contra o clima, o tempo e o espaço, montar em Mopeia, a 120 q u i l ó m e t r o s — e m linha r e c t a — d a costa, a primeira fábrica açucareira de Moçambique, o que em 1893 já exportava para a M e trópole o açúcar ali produzido. Estava, assim, iniciado, num reatamento da tradição açucareira portuguesa, o ciclo do açúcar moçambicano. Chegou à Zambézia por alturas de 1890 J O H N PETER H O R N U N G , aquele que viria a ser o pioneiro da indústria açucareira em Moçambique. Unido pelo casamento com a ilustre senhoru D. Laura de Paiva Raposo — f a m í l i a p o r t u guesa de nome bem conhecido na ocupação da Z a m b é z i a — traz consigo todo o dinamismo, todo o entusiasmo pelo progresso daquela terra lusitana, a que o ligava já o sentimento e a que em breve quereria como se a sua própria terra natal fosse. Pelo notável esforço despendido e pela obra que ia criando, J O H N PETER H O R N U N G recebeu os maiores louvores das autoridades portuguesas, tendo sido condecorado pelo Governo com a Ordem M i l i t a r de Cristo, como reconhecimento pelo seu notável empreendimento, que t a n t o veio valorizar a Província de Moçambique e a economia nacional. A produção de Moçambique viria a ser decisiva na nacionalização da produção e do consumo do açúcar português.

Escritórios no Luabo

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Clube do Luabo

A tudo preside hoje com o mesmo entusiasmo e dinamismo o neto do fundador : Coronel J. D. H O R N U N G , OB. ; E, M.C., como já anteriormente o fizera, durante longos anos, seu pai, o Coronel CHARLES H O R N U N G , grande impulsionador da empresa, cujo nome todos ainda recordam como grande amigo de Portugal. Do que hoje vale o empreendimento sob os aspectos económico e social de Moçambique, dão ideia, ainda que bastante incompleta, os seguintes quadros :

Campa de aviação

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DESPESAS C O M RECREIO :

Clubes, cinema e desporto : golfe, ténis, futebol — 390 0 0 0 $ 0 0 . Trabalhadores

indígenas—1964.

Número m é d i o — 18 594. Vencendo : Salários e gratificações — 49 150 873$00.

Hospital do Luabo

Vestuário — 3 3 4 0 895$00 A l o j a m e n t o — 4 691 0 1 2 $ 0 0 . A l i m e n t a ç ã o — 44 241 780$00. Recrutamento e transportes — 21 097 4 5 0 $ 0 0 . N u m t o t a l de 122 521 0 1 0 $ 0 0 . Assistência médica e f a r m a c ê u t i c a — 1964 Hospitais centrais — Luabo e M a r r o m e u . Hospitais regionais — Luabo, M a r r o m e u e M a t i l d e . Enfermarias e postos sanitários em todos os acampamentos. Despesa em

1964 — 6 2 7 4 848$00. — 272 —


Transportes e mecânica a g r í c o l a — 1964 Caminhos de ferro — 350 quilómetros. 30 locomotivas e automotoras, 2 0 0 0 vagões e zorras diversas. Frota do Zambeze — 9 vapores com os respectivos batelões. No porto do Chihde — Rebocadores, dois pontões, estaleiros, oficinas de reparações.

Apetrechamento mecânico : 109 tractores, 13 locomotivas a diesel, 30 charruas e grades de discos e valadores. 24 locomotivas a vapor, 5 escavadoras, 2 grupos motobombas, 2 dragas, alfaias, espa dores de adubos, etc.

Comunicações telefónicas ou radiofelefánicas privativas : Entre as diversas propriedades e acampamentos.

Outras actividades em exploração— 1964 Copra — Palmar na M a t i l d e . Capacidade de produção : À data do Decreto-Lei n.° 38 701 1 9 6 4 — 1 3 0 000

(Março de 1 9 5 2 ) — 6 5 0 0 0 toneladas.

toneladas

Área plantada 1964 — 21 3 5 9 hectares Área

cortada 1 9 6 4 — 16 211 hectares com 805 838 toneladas de cana.

Açúcar produzido Em

1964 — 96 7 9 4 toneladas.

D i s t r i b u i ç ã o — 1964 (ano civil) : Vendido na Província — 41 471

toneladas.

Embarcado para a Metrópole e outras Províncias Ultramarinas — 60 3 8 0 toneladas. Pessoal civilizado ( 1 9 6 4 ) — 6 0 0 empregados com Vencimentos pagos — 33 5 0 0 0 0 0 $ 0 0 . — 273 —

1450 familiares.


Benefícios de carácter social no valor de Escudos 19 700 0 0 0 $ 0 0 . T o t a l de Escudos 53 2 0 0 0 0 0 $ 0 0 . Capitação média mensal — Escudos 8 800$00. Pessoal civilizado : Benefícios de carácter social •— 1964. Subsídios de família — 5 215 0C0$00. Subsídio de e s t u d o — 1 410 0 0 0 $ 0 0 . Despesas de alojamento (casa mobilada) —2 084 300$>00. Despesas de viagem (férias, etc.) — 5 154 0 0 0 $ 0 0 .

Gado : Exploração pecuária — Caoxe, Mopeia, M a t i l d e e M a r r o m e u .

Caminho de ferro : M a r r o m e u - C a i a , em ligação com o Trans-Zambezia. Refinaria em Lisboa.

Por tudo que atrás fica apontado se depreende o lugar de relevo que a SENA SUGAR ESTATES, LTD ocupa, não só na economia de Moçambique, como também da Nação, marcando lugar de destaque na linha avançada das grandes açucareiros mundiais e o primeiro lugar entre as empresas açucareiros portuguesas, orgulhandc-se a SENA SUGAR ESTATES de haver reatado ft servido a longa tradição açucareira lusitana. Sempre adaptada às condições de vida nacional, atravessou todas as crises do país neste extenso período, seguindo os altos e baixos da indústria açucareira, reconstituída na esteira das ousadas iniciativas dos pioneiros zambezianos.

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O novo barco «Zomba» na doca do Chinde

Formada para servir o público português, no quadro da soberania, da política e da administração portuguesa, nunca deste objectivo se afastou e a ele permanece fiel. Procurou ser no U l t r a m a r um actividades agrícolas e industriais, mava e reclama, pelo emprego dos exemplar cumprimento dos deveres populações indígenas.

elemento ú t i l , pelo desenvolvimento ininterrupto das suas pelo largo investimento dos capitais que o mercado reclamais avançados processos técnicos de cultura e fabrico, pelo que a sua posição de colonizadora lhe impunha perante as

Procurou sempre, com cuidado e pertinácia, fazer das suas povoações, plantações e fábricas, centros de irradiação da vida e da cultura portuguesa.

Casa do Director e escritório, no Chinde

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Interior da fábrica do açúcar, no Luabo

Seguiu sempre, nos seus laboratórios e campos de experiências, os avanços da técnica agrícola e fabril açucareiros, para os aplicar, com sentido prático, na sua produção, sem que, contudo, se deixasse levar por inovações que muitas vezes seduzem os teóricos, apenas porque trazem a graça da novidade. Soube corresponder ao que dela exigira o Decreto-Lei n.° 38 7 0 1 , aumentando em mais de cinquenta por cento a sua produção efectiva. Integrada no momento que passa, sabe perfeitamente que, mais do que do interesse imediato, o f u t u r o de todas as-empresas depende do rigoroso desempenho do seu dever nacional e social : não se afastará deste para atingir, no contacto com as populações nativas, as formas de vida superior que vão ganhando direito e, pela perfeição dos processos de trabalho, a qualidade e quantidade de um produto que, num alto nível de civilização, o público deve consumir. Neste ano de 1966, a SENA SUGAR ESTATES sente poder declarar-se apetrechada moral e m a t e r i a l m e n t e , para continuar o seu esforço na linha da sua orientação de sempre : «ABASTECER PORTUGAL C O M A Ç Ú C A R PORTUGUÊS»!

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EMPRESA MINEIRA DO ALTO LIGONHA

A história desta organização mineira teve o seu início num conjunto de parcelamentos explorados, mais propriamente denominados por «claimes», cuja sociedade por quotas se chamava Empresa M i n e i r a do N a i p a , Lda. Esta empresa, fundindo-se e sendo ampliada com novos sócios, por escritura de 6 de Setembro de 1947, passou a denominar-se EMPRESA M I N E I R A DO A L T O L I G O N H A , LDA., com o capital de 10 mil contos. Os primeiros sócios foram : Adrião de Faria Gonçalves.

Dr.

Calisto M a r t i n s Baptista, Ernesto Porfírio de A r a ú j o e

A Sociedade tinha por objectivo principal a lavra e exploração dos jazigos existentes na mina de N a i p a , concessão t i t u l a d a a favor de Faria Gonçalves. Foi desta Sociedade que p a r t i u a ideia da constituição da EMPRESA M I N E I R A DO A L T O L I G O N H A . Foram aqueles sócios que, em conjunto com Estêvão Guerreiro de Almeida Lima e Jacinto M a r i a Ribeiro, combinaram formar a nova empresa com a incorporação das concessões tituladas a favor destes últimos e da t i t u l a d a a favor de Adrião de Faria Gonçalves. A administração da nova Sociedade passou a ser exercida pelos sócios Estêvão Guerreiro de Almeida Lima, Adrião de Faria Gonçalves e O t t o Barbosa da Silva, que ficaram sendo gerentes até novo mandato dado por Assembleia Geral. Por decreto publicado em 9 de Dezembro de 1946 pelo Ministério do U l t r a m a r , a empresa obtém, em 4 de Janeiro de 1947, a concessão de exclusivo e o direito de exploração e aproveitamento de todos os jazigos minerais — c o m excepção de petróleos e quaisquer óleos minerais, produtos betuminosos e gases hidrocarbonados que os acompanhem — existentes na Circunscrição do A l t o Molócuè, Distrito da Zambézia. Essa concessão foi celebrada em Lisboa na Secretaria-Geral do Cartório Ultramarino. Ao elevar o seu capital social para t r i n t a mil contos, a empresa deixou de ser uma sociedade por quotas para se transformar em sociedade anónima de responsabilidade limitada. No ano de 1948 foi aumentado o capital para quarenta mil contos, fazendo-se uma emissão de 10 mil acções, no valor nominal de mil escudos cada, tendo sido adquiridas cerca de quatro mil acções. A EMPRESA M I N E I R A DO A L T O L I G O N H A explora os seguintes minérios : Berilo industrial, berilo transparente, berilc cristalizado, bismuto, cristais de quartzo, cassiterite, lepidolite, monazite, mica, ouro, polucite, lamarskite, Columbo, t a n t a l i t e e t u r m a linas. As turmalinas exploradas por esta empresa mineira são de m u i t o boa qualidade, e já muito conhecidas nos mercados da A l e m a n h a e da Suíça. As vendas de minérios a t i n g i r a m em 1961 a importância líquida de sete mil e oitocentos e cinquenta contos, aproximadamente. A c t u a l m e n t e , o número de empregados nas minas e na sede é de dezasseis europeus e trezentos indígenas. Desde 1 de Janeiro de 1963 que o presidente do Conselho de Administração é o General Carlos A l b e r t o Barcelos do Nascimento e Silva, administrador da empresa por parte do Estado, no mesmo Conselho. São vogais : Dr. Lorindo Adélio dos Santos Garcia, Dr. A n t ó n i o A l m i r o do Vale e Manuel Nunes; o Eng.° A n t ó n i o Balbino Ramalho Correia, como delegado do Governo. A EMPRESA M I N E I R A DO A L T O L I G O N H A foi a primeira no seu género, que se consYítuiu com possibilidades de continuidade, laborando há 23 anos consecutivos. Em 1906 teve início a montagem da primeira estação hidroeléctrica do rio Tristão, no Distrito de M a n i c a e Sofala. Supõe-se que esta foi a primeira no seu género, em território português. A sua utilização destinava-se a trabalhos de exploração mineira, sobretudo mineração do ouro. Essa primeira t e n t a t i v a de exploração teria durado uma década. Deste modo, a EMPRESA M I N E I R A DO A L T O L I G O N H A deve considerar-se a pioneira.

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GRÉMIO DOS PLANTADORES DE CHÁ DO DISTRITO DA ZAMBÉZIA

O GRÉMIO DOS PLANTADORES DE C H Á DO DISTRITO DA Z A M B É Z I A tem a sua sede na capital do distrito — Q u e l i m a n e — , tendo sido aprovados os seus Estatutos em Dezembro de 1954. O Grémio só iniciou as suas actividades em Fevereiro de 1956. A missão do Grémio, entre outras, é a de zelar pelos interesses dos produtores e plantadores de chá, com a inclusão da promoção de vendas nos mercados internacionais, em que tem lugar de relevo o mercado londrino. O Grémio publica, iodos os anos, estatísticas sobre a produção do chá, vendas, preços dos mercados internacionais, e t c , pelas quais são elucidados todos os interessados.

Um belo aspecto do Gúruè

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Alguns números que revelam, concretamente, a importância da produção do chá nas quatro importantes regiões : Gúruè :

Produção por hectares, em 1964 — 696 3 1 2 . Por quilos — 6 4 6 8 744. Área plantada — 9 2 9 0 hectares.

Milange :

Produção por hectares, em 1964 — 7 7 8 2 7 7 . Por q u i l o s — 1 4 3 5 9 2 1 . Área p l a n t a d a — 1 8 4 5 hectares.

Socone :

Produção por hectares, em 1964 — 451 853. Por q u i l o s — 1 164 877 Área plantada — 2 5 7 8 hectares.

Tacuane :

Produção por hectares, em 1964 — 8 1 3 0 5 5 . Por quilos — 996 806. Área p l a n t a d a — 1 2 2 6 hectares. Exportação (por destinos) :

Portugal — Metrópole, A n g o l a , Cabo Verde, S. Tomé e M a d e i r a . E s t r a n g e i r o — I n g l a t e r r a , Irlanda, A u s t r á l i a Nova Z e l â n d i a , Holanda, A l e m a n h a , Estados Unidos da A m é r i c a , Somalilândia, Canadá, Tunísia, Quénia, França, Á f r i c a do Sul, Singapura, Sudão, M a l á s i a , Japão, M a l a w i , Escandinávia, Dinamarca, Ceilão, T a i l â n d i a , e outros. Nestes anos de existência, o Grémio t e m procurado a t i n g i r os fins para que foi criado, continuando, estamos certos, a dedicar-se com o maior interesse aos problemas da produção do chá e daqueles que à sua produção se dedicam, pois trata-se de um sector económico que m u i t o pesa na balança da economia da Província. À Direcção do GRÉMIO DOS PLANTADORES DE C H Á e ao seu secretário, Sr. Sequeira, agradecemos penhorados todas as gentilezas recebidas e as facilidades proporcionadas para uma visita às regiões do chá, nomeadamente a do Gúruè, sem as quais a nossa missão ficaria incompleta. A todas as pessoas que nos acompanharam nas regiões do chá, aqui patenteamos, também, os nossos agradecimentos.

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MANUEL SARAIVA JUNQUEIRO UM DOS MAIORES PIONEIROS DA CULTURA DO CHÁ NO GÚRUÈ

Deixar de mencionar o nome de M A N U E L S A R A I V A JUNQUEIRO, numa obra dedicada aos pioneiros, seria imperdoável. Durante a nossa visita às Plantações de Chá do Gúruè, observámos, entre outras de grande projecção, as plantações criadas por Manuel Saraiva Junqueiro — que uma tarde já longínqua tivemos ocasião de conhecer num encontro ocasional na redação de um jornal de Lourenço Marques. M A N U E L S A R A I V A JUNQUEIRO, ainda m u i t o novo, encontrou a morte num desastre de aviação em 1 9 5 1 , precisamente numa altura em que a vida lhe sorria, cheia de esperanças, depois de anos de árdua luta e labor, entremeados de horas de desânimo e esperança, em que teimosamente ia sempre caminhando em frente, até que encontrou o t r i u n f o , tal como aconteceu com tantos outros pioneiros, grandes batalhadores e vencedores das terras de Gúruè.

Um acampamento indígena

Continuando a historiar a vida deste pioneiro, diremos que iniciou as suas plantações de chá em 1929. A área cultivada em 1964, era de 1150 hectares. A produção de chá, nesse mesmo ano, foi de 1 051 736 quilos. Na mão-de-obra, a organização emprega, diariamente, 2 2 0 0 nativos, tendo nos escritórios e outras secções, 23 empregados europeus. Os seus empregados e trabalhadores têm toda a assistência médica, que lhes é ministrada por um médico privativo, bem como medicamentos para todo o pessoal, incluindo suas famílias.

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A organização possui uma enfermaria, uma escola e uma creche, parque de desportos e i n f a n t i l , além de cinema periódico. Os Acampamentos do pessoal nativo são todos de alvenaria. As plantações são servidas por duas fábricas, uma das quais funcionando nos mais modernos sistemas. A organização dedica-se, t a m b é m , à produção de aleurites e à pecuária, possuindo 800 cabeças de gado bovino. O chá produzido pelas plantações é exportado para a Metrópole e mercados da Inglaterra, Estados Unidos da A m é r i c a , Canadá, Á f r i c a do Sul, Quénia, Holanda e Irlanda. As P L A N T A ÇÕES M A N U E L S A R A I V A JUNQUEIRO, por morte do seu dono e fundador, passaram a ser pertença da viúva, sua f i l h a e genro. Em homenagem à memória de M A N U E L S A R A I V A J U N QUEIRO, a V i l a do Gúruè passou a denominar-se V i l a Junqueiro, perpetuando assim o nome de um dos grandes pioneiros que desbravaram as terras do Gúruè, contribuindo para a sua valorização, economia e civilização, que fizeram delas a «Suíça de M o ç a m b i q u e » !

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UM

GRANDE

PIONEIRO

DO

GÚRUÈ — JOSÉ

FARINHA

MIGUEL

N a t u r a l da Sertã, filho de agricultores, JOSÉ F A R I N H A M I G U E L veio para Moçambique em 1 9 2 1 , tendo 19 anos de idade. Fixou-se em princípio em Lourenço Marques, mas devido a crise de emprego foi até ao Chai-Chai em busca de emprego, não sendo mais afortunado. Foi então que decidiu tentar a sorte pela costa, o que fez, tomando uma velha lancha que o levou até Tete. Pouco tempo depois colocava-se em Megaza, na f i r m a Lopes & Irmãos, que então iniciava as suas actividades. Mais tarde, JOSÉ F A R I N H A M I G U E L fixou-se no Ile', como f u n cionário. Foi ali aue conheceu o pioneiro A m é r i c o Colaço Felizardo, que era empregado de Manuel Saraiva Junqueiro, e um seu companheiro de trabalho, José Aires Esperança Ferreira, com quem fez sociedade, ao f i m de quatro anos. Essa sociedade adoptou o nome de AGRÍCOLA DE M O G A D E » , que era no Ile, e se iniciou em 1929. A criação desta sociedade só foi possível em virtude de nesse ano terem terminado em Moçambique todas as Companhias Majestáticas, que usufruíam grande monopólio, o que d i f i cultava a criação e estabelecimento de agricultores individuais ou de pequenas sociedades. Américo Colaço Felizardo possuía plantações de tabaco e dedicava-se, t a m b é m , à criação de gado. Quando em 1929 criaram essa sociedade, t i n h a m em vista dedicar-se à plantação de chá na região do Gúruè, onde f u n d a r a m uma f i l i a l . Mais tarde, porque as plantações de tabaco lhes estavam a dar prejuízo por f a l t a de poder de compra, resolveram dedicar-se só às plantações de chá, e criaram uma nova sociedade, a que deram o nome de C H Á M O Ç A M B I Q U E , LDA., cujo início foi em 12 de A b r i l de 1936. No primeiro ano iniciaram as plantações com 20 hectares; no segundo ano com 50 hectares no terceiro ano com 100 hectares e no quarto ano com 130 hectares. Só no quinto ano de trabalho é que obtiveram a primeira colheita de chá, ven-

Vista aérea da fábrica

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Preparação da chá

dendo-a à Companhia da Z a m b é z i a , que foi a primeira organização Agrícola do Gúruè a possuir uma fábrica. Foram aumentando sempre as plantações até que em 1939 foi iniciada a construção da fábrica, ficando concluída em 1940, laborando já com as colheitas obtidas nesse ano. De então para cá, a fábrica tem sido continuamente aumentada. Hoje a organização cultiva dois mil hectares de chá, incluindo plantações novas, ainda sem dar colheita. C H Á M O Ç A M B I Q U E produz, anualmente, cerca de mil quilos de chá, por hectare. O seu total eleva-se a mil e setecentas toneladas. Para aqueles que desconhecem, elucidamos que cada plantação nova que se faz leva cinco anos até começar a produzir chá, isto é, colheitas. Em 1955 a quota de José Aires Esperança Ferreira foi comprada pelos outros dois sócios. A n t e r i o r m e n t e , em 1 9 5 1 , entrou para a sociedade, o pioneiro M a n u e l Nunes. A organização emprega nas plantações e na fábrica, cerca de três mil nativos e t r i n t a europeus. Exporta para Inglaterra, Holanda, A l e m a n h a , A u s t r á l i a , Estados Unidos, Canadá e Á f r i c a do Sul. O valor dessas exportações anuais oscila entre 45 a 50 mil contos. As despesas anuais elevam-se a mais de t r i n t a mil contos. Nestes números estão englobados os salários, despesa de alimentação com o pessoal, incluindo roupas, assistência médica, etc. É interessante acrescentar, que os pioneiros de chá foram os primeiros europeus a fixarem-se naquela região, e a população nativa somente se fixara nos cumes dos montes, porque as zonas baixas eram infestadas de leões. As dificuldades que inicialmente tiveram foram muito grandes e de toda a ordem, desde o desbravar a densa m e t a , como serem os próprios técnicos da fábrica, tendo t i d o que ensinar os trabalhadores nativos, um por u m , na cultura do chá. A JOSÉ F A R I N H A M I G U E L e seus companheiros se deve todo este admirável empreendimento agrícola da A l t a Z a m b é z i a , criando uma das mais belas e vastas plantações de chá do mundo. Só com m u i t o sacrifício, dedicação e persistência esta obra foi possível! JOSÉ FARIN H A M I G U E L esteve agarrado à sua plantação mais de vinte anos, sem gozar quaisquer férias, nc Província ou na M e t r ó p o l e ! Bem hajam pela riqueza que f o m e n t a r a m , que não é só deles, mas também de todos nós, portugueses! — 283 —


COMO NASCEU A COOPERATIVA AGRÍCOLA DO GÚRUÈ E A FABRICA DE CHÁ

O edifício actual da fábrica

Cooperativa e fábrica foram concluídas há dois anos. A construção da fábrica de chá foi feita a expensas do Estado e entregue a funcionar à Cooperativa dos pequenos agricultores da região. É um edifício amplo, com capacidade para uma produção mensal de 140 toneladas de folha verde. Está delineada, no e n t a n t o , de forma a receber mais maquinismos, de maneira a poder operar maior tonelagem de chá para exportação.

Pormenor do edifício

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A fábrica começou a laborar em 22 de Dezembro de 1964. O chá, depois de manipulado, é enviado para Londres, onde aguarda venda. Depois desta efectuada e apurados os resultados líquidos, estes são distribuídos proporcionalmente pelo valor das colheitas dos seus associados. O coeficiente líquido em sobra é encontrado após as percentagens atribuídas à manipulação da f o l h a , despesas de conservação, laboração, depreciação, etc. Quando o agricultor entrega a sua folha verde à pesagem, é-lhe creditado em conta especial «x» escudos por quilo, importância que pode ser levantada na sua totalidade, se assim o desejar.

O

P R E S I D E N T E DA COOPERATIVA AGRÍCOLA DO GÚRUÈ DR. H E N R I Q U E DE O L I V E I R A JÚNIOR 0 G R A N D E I M P U L S I O N A D O R DA COOPERATIVA

O Dr. Henrique Augusto de Oliveira Júnior é natural da Figueira da Foz, tendo cursado Medicina na Universidade de Coimbra. Veio para Moçambique, colocado como médico na Companhia d a Zambézia — n o G ú r u è — e m 1943. Afeiçoando-se à t e r r a , desde então que ali se conserva a exercer a sua actividade como médico. Possui uma plantação de chá, de sociedade com mais quatro irmãos. Tendo adquirido vastos conhecimentos no Gúruè, no que respeita à agricultura da região, e estando a par dos seus problemas económicos, o Dr. Henrique de Oliveira Júnior foi uma das pessoas que mais influência teve na organização da COOPERATIVA DO GÚRUÈ, cuja função principal é agrupar e ajudar os pequenos plantadores de chá da região, fabricando o chá com a folha colhida e promovendo o financiamento e também a colocação nos mercados. Da Direcção da Cooperativa fazem parte, ainda, José Correia A l e m ã o , como tesoureiro, e Joaquim Francisco Pereira, como secretário. A criação desta Cooperativa m u i t o veio beneficiar os pequenos agricultores, possibilitando uma mais ampla e próspera cultura do chá, uma das maiores riquezas daquela região zambeziana.

/

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OS

COLONATOS

DE

ALVERCA

E

MANGONE

SÃO E X E M P L O S E S T I M U L A N T E S DA F O R M A COMO O H O M E M SE

FIXA

À TERRA

Sob a direcção da Brigada do Povoamento da Cultura do Chá, estas duas aldeias alberg a m cerca de duas dezenas de fogos, estando nelas incluídas, dois casais nativos, com numerosa prole. Cada concessão t e m uma área de 50 hectares, previsto para as culturas do chá e outras culturas anuais, como o milho, feijão e quenafe, cujas produções têm colocação assegurada através dos serviços comerciais da Brigada.

Casas de Colonos

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Militares construindo as suas futuras residências

A l é m das culturas, são distribuídas a cada colono quatro cabeças de gado bovino, além de outras espécies, como a caprina, ovina e porcina, que alguns colonos já possuem para sustento do lar. Donos de uma bela casa em alvenaria, tendo três salas, cozinha e sanitários, com os requisitos necessários, servida por um depósito privativo de água e respectiva fossa séptica. Estas habitações dão um encanto especial, fazendo lembrar aldeias metropolitanas. Alguns rapazes que foram prestar serviço m i l i t a r para Moçambique, fixaram-se a l i , preferindo as terras prometedoras da A l t a Zambézia a regressarem à Metrópole. Uma grande parte das casas dos colonatos de Alverca e Mangone foram construídas por soldados destacados no Gúruè, conforme documenta a fotografia que ilustra este apontamento.

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ALBERTO PINTO CARNEIRO

ALBERTO P I N T O CARNEIRO é natural de Resende, chegando a Moçambique em 1938. Iniciou as suas actividades na região de Quelimane, colocando-se numa serração no mato, no Licuóri, circunscrição de Namacurra. Aí se manteve até 1940. Depois empregou-se numa organização agrícola, transitando, mais tarde, para a Companhia do M a d a l , onde se conservou durante 15 anos. Em 1955 foi para o Gúruè, colocado como gerente da f i r m a Felizardo, onde se manteve até à inauguração da sua pousada, que se efectuou em Agosto de 1963. Anexo à parte da pousada, ALBERTO P I N T O CARNEIRO possui, t a m b é m , um estabelecimento dedicado ao comércio indígena, e ainda uma sapataria e uma barbearia, cuja exploração não é sua.

Um aspecto geral da Pousada

ALBERTO P I N T O CARNEIRO, homem cheio de tenacidade e iniciativa, deliberou dotar a vila do Gúruè —a que foi dado o nome de V i l a Junqueiro, o nome desse grande pioneiro das terras do Gúruè, em homenagem à sua memória — de uma pousada moderna, que acolhesse 3 recebesse confortavelmente quem visitasse as terras do chá. Assim, como já dissemos, em Agosto de 1963, a vila passou a contar com a POUSADA MONTEVERDE, em edifício construído para o efeito. A Pousada possui 16 quartos, com quarto de banho privativo, quatro sem quarto de banho. Tem ampla sala de jantar, sala de estar e jogos, bar e uma esplanada. ALBERTO P I N T O CARNEIRO dedica-se exclusivamente à exploração da sua Pousada, sendo ajudado por seu f i l h o , A n t ó n i o Pinto Carneiro Graças à iniciativa deste pioneiro, a linda terra do chá pode receber, confortavelmente, todos aqueles que a v i s i t a m , quer seja em viagem de negócios, quer seja para admirar as suas belezas. — 288 —


CLUBE DO GÚRUÈ

O CLUBE DO GÚRUÈ, simpática agremiação da gente de Vila Junqueiro, é o ponto de reunião dos seus residentes, que se reúnem para descansar e se distraírem, quer praticando variados jogos e desportos, quer reunindo-se em alegres repastos. É também no salão de festas do CLUBE DO GÚRUÈ que se realizam as sessões de cinema, dirigidas por Gilberto Rodrigues, enquanto não se constrói um edifício próprio. Este pioneiro tomou o encargo de construir um cinema em V i l a Junqueiro, em modernos moldes e com todos os requisitos, capaz de bem servir a progressiva vila, indo, assim, preencher uma lacuna que t a n t o se faz sentir. É uma iniciativa digna de louvores.

Uma Plantação de Chá na maravilhosa paisagem do Gúruè

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PIONEIROS

DA

INDÚSTRIA

DO

CHÁ

EM

MOÇAMBIQUE

S O C I E D A D E AGRÍCOLA DO M I L A N G E E SOCIEDADE CHÁ O R I E N T A L

Padrão comemorativo da Ocupação de Milange feita por JOÃO DE AZEVEDO COUTINHO.

Soldados Landins fazem a «Guarda de Honra», quando em 1943

visitou a Província, o Ministro das Colónias, Dr. Francisco Vieira Machado.

Para falarmos destas empresas, que t a n t a projecção têm hoje na vida económica da Z a m b é z i a , é necessário recuarmos no tempo, e fazer um pouco de história. A EMPRESA A G R Í C O L A DO LUGELA, LDA., sociedade por quotas, explorava outrora os «prazos» de M i l a n g e , Lugela e Lomué, de que era arrendatária. Na a l t u r a em que estes «prazos» f o r a m devolvidos ao Estado, em 1928-29, o empresa resolveu restringir as suas explorações agrícolas à cultura do chá em M i l a n g e . Como se sabe, na região do M a l a w i — a n t i g a N i a s s a l â n d i a — , que confina com o nosso actual concelho de M i l a n g e , separada daquela pelo rio Melosa, encontram-se florescentes plantações de chá. Sendo o regime de chuvas do nosso M i l a n g e quase análogo ao da região de M i l a n g e no M a l a w i , era de calcular que se o chá se dava bem para além do nosso Melosa, o mesmo sucederia aquém do mesmo rio. E assim, a EMPRESA DO LUGELA, LDA. começou a explorar a cultura do chá, no local onde se encontrava a actual plantação, e para esse objectivo começou a fazer viveiros, em 1915. Em 1916 havia 20 hectares de chá plantado e em 1932 este número subiu para 2 7 0 hectares. A preparação do chá foi iniciada em Novembro de 1924, e na campanha de 1924-1925 fabricaram-se, aproximadamente, 43 toneladas de chá, quase todo exportado para Londres. Desde 1924 a 1932, a produção aumentou de 45 toneladas a 115 toneladas com excepção de a l g u m ano em que a f a l t a de chuvas se tenha f e i t o sentir.

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Acampamento de trabalhadores indígenas

A EMPRESA A G R Í C O L A DO LUGELA, L D A foi a primeira a cultivar e a preparar várias qualidades de chá na Á f r i c a Oriental Portuguesa, tendo conseguido impor as suas marcas em todos os territórios nacionais e no exigente mercado de Londres, e t u d o isto devido ao cuidadoso critério com que são feitas as respectivas selecções e misturas. Em 1933 esta empresa é e x t i n t a , passando as plantações para a SOCIEDADE C H Á O R I E N T A L , que se t o r n o u , assim, a sua sucessora na exploração do chá. Em 1953, A SOCIEDADE C H Á O R I E N T A L entra n u m acordo, de parceria agrícola com a SOCIEDADE AGRÍCOLA DO M I L A N G E , estando, na actualidade, a explorar em conjunto as plantações de chá existentes em M i l a n g e e Melosa. A área destas plantações orça por 810 hectares, e nela estão instaladas duas grandes f á b r i cas, eficientemente apetrechadas. Cerca de dois mil nativos t r a b a l h a m , regularmente, nesta cultura e dezenas de europeus t a m b é m , desde o pessoal técnico ao dos escritórios, que ali t ê m a sua actividade assegurada. A produção de 1933-34 a 1941-42 teve um enorme incremento. De 166 toneladas subiu para 396 toneladas. Este progresso continuou nos anos seguintes. Só em 1953 houve uma redução sensível na produção devido à circunstância de naquele ano se ter registado uma seca sem precedentes. Assim, em 1964, a produção foi de 1052 toneladas. O chá vendido para Portugal M e t r o politano adoptou o nome de «Chá Celeste» e o chá para venda exclusiva na Província de Moçambique o de «Chá O r i e n t a l » . A empresa continua a modernizar as suas fábricas, no sentido de obter as melhores q u a l i dades, ao mesmo tempo que continua a a u m e n t a r , gradualmente, as áreas plantadas com chá. Assim, a SOCIEDADE A G R Í C O L A DO M I L A N G E e a SOCIEDADE C H Á O R I E N T A L cont i n u a m a sua marcha de progresso, numa notável contribuição para a economia de Moçambique. — 291 —


GOVERNADOR DO DISTRITO DE TETE

Inspector António Carlos Craveiro Lopes

O Governador do Distrito de Tete era o Inspector A d m i n i s t r a t i v o A N T Ó N I O CARLOS CRAVEIRO LOPES quando visitámos aquele distrito. Nascido em Lisboa, iniciou a sua vida no funcionalismo em Junho de 1927, tendo sido colocado como Secretário da Circunscrição da Chupanga, seguindo pouco tempo depois para a Circunscrição de Neves Ferreira. Serviu várias circunscrições, incluindo quase todas as do Distrito de M a n i c a e Sofala. Em Dezembro de 1942 foi promovido a Administrador de 2." classe, e em 1948 promovido a A d m i nistrador de 1 . a classe. Nesse ano foi chefiar a Circunscrição da Angónia e em 1951 para c. de Cheringoma. É em Fevereiro de 1955 que o Inspector CRAVEIRO LOPES é colocado na Intendência de Tete, cargo que exerceu a t é 1956 e promovido em Junho desse ano a Intendente do Distrito. Em Dezembro de 1957 é colocado na Secretaria Distrital da Administração Civil de M a n i c a e Sofala. No ano seguinte inicia as funções de Encarregado do Governo de M a n i c a e Sofala, cargo que desempenhou até M a r ç o de 1959. Em 1960 foi para T e t e , tendo sido nomeado Governador Interino do Distrito. No ano seguinte foi promovido a Inspector A d m i n i s t r a t i v o e colocado em A n g o l a , tendo continuado, porém, a exercer o cargo de Governador do Distrito de T e t e , onde a sua acção lhe grangeou muitas amizades. — 292 —


Escola Pnmária

Baptista Coelho

O Inspector A N T Ó N I O CARLOS CRAVEIRO LOPES foi numerosas vezes louvado e condecorado. Recebeu a Medalha de Prata e Medalha de Ouro de assiduidade de serviço no Ultramar tm Junho de 1949 foi louvado pela acção desenvolvida na Angónia «por ter demonstrado uma rara actividade, grande espírito de discipline e aprumo moral, inexcedível competência e grande patriotismo demonstrado na forma como se houve na preparação para a realização da integração completa da nossa Administração dos territórios que vão'desde M'Phati a o ' m o n t e C a p n u t a e desde este à balsa com a Circunscrição da Macanga». Um dos últimos louvores recebidos foi em 1961 «pela competência, zelo e dedicação inteligência e bom senso notáveis e perfeita lealdade com que tem exercido o carqo de Governador do Distrito de Tete». A acção notável que o Inspector CRAVEIRO LOPES desenvolveu em prol de Tete e do seu Distrito foi vibrantemente a f i r m a d a pela gente de Tete, que o homenageou significativamente quando em 1965 se despediu, abandonando a chefia do seu cargo para passar à reforma

Palácio do Governo

Sucedeu-lhe na chefia do d i s t r i t o , o Coronel CECÍLIO GONÇALVES, que, tal como o seu antecessor, t e m despendido valiosa acção para o progresso do distrito, que se encontra numa fase de grande desenvolvimento, a que veio juntar-se a obra grandiosa de Cabora-Bassa.

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PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE TETE E ADMINISTRADOR DO CONCELHO

FERNANDO DE SOUSA LADEIRA f o i , simultaneamente, o Presidente da Câmara M u n i c i pal de Tete e o Administrador do Concelho. É natural de Lisboa, tendo vindo para Moçambique com seus pais, aos 10 anos. Em 1942 ingressou no Quadro A d m i n i s t r a t i v o de Moçambique, sendo colocado na V i l a da M a n h i ç a como aspirante.

Presidente da Câmara Municipal

Em 1959 foi promovido a administrador, servindo, seguidamente, vários Postos da Província. De 1957 a 1959, foi Secretário do Governador de M a n i c a e Sofala, o então Coronel Macedo Pinto. Em 1960 foi colocado como A d m i n i s t r a d o r de M o r r u m b a l a , onde permaneceu até 1962, a l t u r a em que foi ocupar o lugar de A d m i n i s t r a d o r de Concelho da cidade de Tete. Desde Julho de 1964, a pedido do Governador do Distrito Inspector A n t ó n i o Carlos Craveiro Lopes, passou a exercer t a m b é m o cargo de Presidente da Câmara de Tete. No presente é Administrador do Concelho da M a n h i ç a . — 294 —


HISTÓRIA DO DISTRITO DE TETE

O Distrito de Tete tem a capital na cidade do mesmo nome e é limitado ao norte pela Rodésia do Norte e M a l a w i ; a este pelo Malawi e pelo rio Chire; a sul pelos rios Zambeze e Luenha; a oeste pela Z â m b i a e pela Rodésia. O relevo do distrito é acentuado, tendo regiões saudáveis e planálticas a mais de 1500 metros acima do nível do mar. São as seguintes as divisões administrativas do Distrito : Tete, A n g ó n i a , Macanga, Mágoè, M a r á v i a , M o a t i z e , M u tarara e Z u m b o . A penetração destas regiões pelos portugueses data do começo do século X V I . Em meados desse século, assinala-se a presença de missionários que acompanham as expedições de Francisco Barreto. No século X V I I , Tete era o centro da penetração comercial para o interior. O Distrito de Tete, que estava integrado na antiga província da Z a m b é z i a , f o i , por decreto de A b r i l de 1942, incorporado em Manica e Sofala. Em Outubro de 1954, um decreto restituiu o distrito à sua anterior posição, com governo próprio.

Um aspecto parcial da cidade

Pelo censo de 1960, a população do distrito era de 4 7 4 0 2 4 indivíduos, predominando os seguintes grupos étnicos e suas subdivisões : M u n g u n o ou Angone, Tonga, Ansenga e Nhúngué. O d i s t r i t o conta com 2 8 6 4 quilómetros de estradas. O caminho de ferro que liga Moatize a M u t a r a r a deu impulso económico à região e possibilitou, em grande parte, o transporte do carvão das minas de M o a t i z e a t é ao litoral. Pelo arrolamento de 1962, a existência pecuária era a seguinte : gado bovino, 125 2 2 4 ; caprino, 79 8 5 6 ; suíno, 14 0 3 8 . A agricultura empresarial é m u i t o reduzida, mas na agricultura tradicional salientam-se os seguintes números referentes a produção comprados durante 1962 : algodão em caroço, 6 1 0 0 t o n . ; milho, 5 8 0 0 t o n . —295 —


A potencialidade enorme de recursos da bacia do rio Zambeze levou o Governo a encarar, com prioridade, o estudo do plano de desenvolvimento regional da zona, designada genericamente por «Vale do Zambeze». Em 1957 foi criada a Missão de Fomento e Povoamento do Zambeze para proceder ao reconhecimento e inventariação dos recursos existentes com vista à programação do desenvolvimento da região. Já se procedeu ao levantamento topográfico de todo o vale, por métodos aerofotogrométricos e estudou-se a região no seu aspecto pedológico; paralelamente efectuou-se o estudo climático, encontrando-se concluídos os reconhecimentos dos recursos silvícolas e pecuários. Foram iniciadas as bacias hidrográficas e os locais para eventual construção de barragens e seleccionados zonas que se apresentam como mais propícias à existência de jazigos mineiros. O aproveitamento hidroeléctrico do Zambeze permitirá uma produção total de energia eléctrica da ordem dos 30 a 35 X IO9 Kwh anuais. Nos recursos do Zambeze há a destacar os do escalão de Cabora-Bassa, que só por si permitirá a produção anual de 1 5 X IO9 Kwh a custo extremamente baixo. Localizaram-se ocorrência.-; de carvão, considerando-se de primordial importância a bacia carbonífera que se estende entre a Chicoa e o Z u m b o e que deixa prever a existência de enormes reservas. Localizaram-se também jazigos de titano-magnetites na zona de Machédua-Massamba e um promissor jazigo de ferro em Muende, além da existência de ferro verificada na região de Messeca-Fingoé. Existem também jazigos de cobre em Massamba-Chidué e reconheceu-se a presença de fluorite e de jazigos de manganês, níquel, crómio e asbestos. A área em estudo abrange, além da bacia hidrográfica portuguesa do Zambeze, várias zonas co-interessadas que, com a primeira, t o t a l i z a m mais de 182 000 km 2 , ou seja, um quarto da superfície de Moçambique ou duas vezes Portugal M e t r o p o l i t a n o , beneficiando deste projecto todo o Distrito de Tete e parte dos Distritos da Zambézia e de Manica e Sofala. O esquema de arranque por investimento público totalizará 5 350 0 0 0 contos.

Museu Biblioteca Municipal Franco Rodrigues

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T e t e , capital do distrito do mesmo nome, fica situada na margem direita do rio Zambeze e foi elevada à categoria de cidade pela portaria de 21 de M a r ç o de 1959. Estabelecida sobre solo agreste e penhascoso, Tete apresenta hoje um aspecto bem diferente daquele de há uns anos atrás e que lhe grangeou reputação pouco invejável, em especial entre aqueles que por força de serviço, para lá eram transferidos. Pelo esforço dos seus habitantes, Tete é hoje uma cidade de agradável aspecto, estendendo-se até aos areais do Z a m b e z e , asseada e arrumada. É centro de uma região mineira de f u t u r o m u i t o prometedor e dispõe de um bom h o t e l , excelente local de repouso ou de escala para quem efectua o percurso entre a Niassalândia e a Rodésia, consideravelmente encurtado através do território de Moçambique. A região possui atractivos que lhe conferem um interesse turístico apreciável : as ruínas de Sena e curiosos monumentos, como o forte de D. Luís I, a Praça de S. Tiago M a i o r , etc. A população do concelho, pelo censo oficial de 1960, era de 66 700 almas. A cidade dispõe de um aeródromo servido por carreiras regulares da DETA. Estão em actividade as seguintes associações : Associação de Comércio e Indústria de T e t e , Clube de T e t e , Grupo Desportivo de T e t e , Associação I n d o - M a o m e t a n a , Centro A f r i c a n o de Tete e Aero-Clube de T e t e , fundado pela população da cidade.

Lar da Criança

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Rio Zambeze — Local onde será construída a Barragem de «CABORA BASSA»

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VICENTE RIBEIRO DE CASTRO

O pioneiro Comendador VICENTE RIBEIRO E CASTRO nasceu na Metrópole, em Vila Nova de Famalicão, risonha vila m i n h o t a . M u i t o jovem a i n d a , resolveu tomar o rumo de Moçambique, onde chegou em 1928. Iniciou a sua vida de trabalho, nesta Província, como comerciante em Lourenço Marques. Aí permaneceu até 1932. conservou durante cinco anos, para o Distrito de Tete. Era o ouro, que explorou durante 10 possuiu 5 estabelecimentos, no

Depois foi para a cidade sul-africana de Joanesburgo, onde se para depois se voltar a fixar em Moçambique. Desta vez foi ano de 1937. Nessa rica região, possuiu minas de urânio e anos, desistindo da sua exploração por f a l t a de apoio. Também m a t o , que mais tarde vendeu.

V I C E N T E RIBEIRO E CASTRO, homem de iniciativa e poder combativo, aliado a um carácter bondoso, ocupou vários lugares de carácter o f i c i a l .

VICENTE RIBEIRO E CASTRO e sua Esposa

Foi presidente do Clube de Tete — agremiação cultural das mais antigas da cidade —, vogal da Câmara M u n i c i p a l de Tete e seu vereador de 1961 a 1962. Em 1958 era Governador do d i s t r i t o Franco Rodrigues — d e quem se a f i r m a m u i t o ter contribuído para o progresso daquele d i s t r i t o — , que foi grande amigo e admirador da obra construtiva de V I C E N T E RIBEIRO E CASTRO. — 299 —


Tete, nesse ano de 1958, ainda não possuía um hotel condigno, que pudesse receber convenientemente quem visitasse a cidade. Era necessário que alguém, de iniciativa, tomasse sobre si tal encargo. O Governador Franco Rodrigues, conhecendo bem o seu amigo Ribeiro e Castro, sabendo do que ele era capaz, pediu-lhe que fosse ele a construir o hotel, de que t a n t o necessitavam. O pedido foi aceite — conforme o Governador já esperava —, iniciando-se a sua construção. Chamar-se-ia HOTEL Z A M B E Z E . A obra era grande e, por isso, teria de ser f e i t a em várias fases.

Hotel

Zambeze

A morte veio surpreender o grande pioneiro, em 1962, sem ter podido ver concluída a sua obra. Mas alguém ficou para a continuar, prestigiando a sua memória. VICENTE RIBEIRO E CASTRO casou com uma senhora de nacionalidade austríaca, que viera para Moçambique em 1922, ainda m u i t o jovem, fixando-se na capital de Moçambique. Aí se conheceram e se enamoraram. O casal teve três filhos : dois rapazes e uma rapariga. A senhora D. W i l h e l m i n a Castro foi uma companheira dedicadíssima, passando ao lado de seu marido as horas boas e más. É esta senhora a continuadora da obra iniciada pelo marido, tendo j u n t o dela um dos seus filhos, que quis seguir as pisadas de seu pai, devotando-se ao engrandecimento da terra onde nasceu. E assim, com muitas lutas e canseiras, o HOTEL Z A M B E Z E foi concluído nos fins de 1965, valorizando a fisionomia da cidade, com o seu traçado moderno, e passou a contribuir para o progresso turístico do distrito. À viúva de VICENTE RIBEIRO E CASTRO prestemos, t a m b é m , a nossa homenagem, nela englobando o seu filho. É que a senhora D. W i l h e l m i n a podia ter regressado à sua terra natal — país bem conhecido pelas suas belezas n a t u r c i s , a Áustria — e descansar das lutas já sofridas! Mas tal não aconteceu, preferindo lutar e sofrer mais, se t a n t o fosse necessário, para concluir a obra que fora iniciada — sonho de dois homens combativos e bons : seu marido e o Governador Franco Rodrigues, também falecido quase ao mesmo tempo que o seu amigo. Estamos certos que a gente de Tete lhe está grata pela conclusão do HOTEL Z A M B E Z E , que ficará a perpetuá-los e a uni-los pelos tempos f o r a ! Resta ainda dizer que, quando o Presidente Craveiro Lopes esteve em T e t e , na viagem que efectuou pela Província em 1956, agraciou VICENTE RIBEIRO E CASTRO com a Comenda de M é r i t o Industrial. — 300 —


AGOSTINHO LOPES REGO

O pioneiro Comendador A G O S T I N H O LOPES REGO é natural de V i l a Nova de Gaia, vindo para Moçambique em 1926 e fixando-se em Lourenço Marques, onde esteve a t é 1930. Nesse ano empreendeu nova jornada, passando algum tempo no Distrito de Manica e Sofala. Porém, o seu espírito irrequieto fê-lo ir mais além, e, assim, ainda no ano de 1930, foi fixar-se no Furancungo, sede da Circunscrição da hAacanga, no Distrito de Tete, iniciando nessa a l t u r a , naquela localidade, a sua vida comercial, abrindo um estabelecimento com o nome de F U R A N C U N G O COMERCIAL, LDA. Desenvolvendo continuamente grande actividade, a b r i u , mais tarde, três outros estabelecimentos na área da M a c a n g a . No ano de 1947 foi fixar-se na A n g ó n i a , na povoação de Entaca, fazendo aí a sede da sua vasta rede comercial. Espalhadas por essa área, a b r i u , tempos depois, oito estabelecimentos, mantendo em Entaca a sede até 1 9 6 1 . Nesse ano, deixou aquela região para se ir fixar na cidade de Tete. A í , construiu um prédio no centro da cidade, onde passou a ser a nova sede de toda a sua grande organização comercial. No rés-do-chão desse imóvel situam-se o estabelecimento comercial e escritórios. O primeiro e segundo pisos são constituídos por apartamentos para habitação. A l a r g a n d o sempre o círculo das suas actividades, o Comendador A G O S T I N H O LOPES REGO construiu um edifício na V i l a de Caldas Xayier, onde possui um estabelecimento de comércio geral com loja e armazéns.

Agostinho Lopes a ser condecorado pelo General Craveiro Lopes

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Em Tete, além do estabelecimento de comércio geral, também possui um outro dedicado somente a artigos eléctricos. A i n d a em Tete possui outro estabelecimento de panificação, que construiu. Em 1962 passaram a fazer parte da f i r m a os seus quatro filhos. Quando o General Craveiro Lopes, na qualidade de Presidente da República, visitou o f i c i a l mente a Província de Moçambique, em 1956, muitos pioneiros foram agraciados pelo mais a l t o Magistrado da Nação pela grande obra de progresso e civilização por eles efectuada, como obreiros intrépidos e desbravadores da selva moçambicana! A G O S T I N H O LOPES REGO foi um dos agraciados, sendo concedida a Comenda de M é r i t o Industrial. Justo prémio a çambicana!

quem

deu

valiosa

contribuição para o desenvolvimento da terra mo-

Foram, e são, estes homens de vontade inquebrantável, de rija têmpera, que, como A G O S T I N H O LOPES REGO, tornaram possível o desenvolvimento e civilização da rica e bela Província de M o ç a m b i q u e !

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EMÍLIO MENDES CEREJO

O pioneiro Comendador E M Í L I O MENDES CEREJO nasceu na Metrópole, na cidade de Santarém, tendo vindo para Moçambique em M a r ç o de 1920, como m i l i t a r , integrado numa comissão de serviço na Província, durante dois anos, tendo sido colocado em Tete. Mais tarde passou para o Quadro A d m i n i s t r a t i v o , sendo colocado na antiga Intendência de Báruè, como Chefe de Posto. Daí transitou para a Circunscrição da Chicôa, no Posto de Mágoè. Em 1927 pediu a exoneração do seu cargo, vindo a iniciar a sua vida de comerciante em princípios de 1928. Em 1930 abriu a sua casa comercial, em Tete, que ainda hoje existe no mesmo local do seu início, estabelecimento esse que é dedicado ao comércio geral. E M Í L I O MENDES CEREJO t e m exercido vários cargos o f i c i a i s : foi Vogal da Câmara M u n i cipal, por várias vezes; foi por duas vezes Presidente da Câmara M u n i c i p a l , efectivo; Vice-Presidente e Presidente da União N a c i o n a l , de 1957 a 1964; 1.° Vogal eleito pelo Distrito de Tete e reeleito para a 2. a Legislatura. Também fez parte do Conselho Ultramarino para estudo das alterações à Carta Orgânica das Províncias Ultramarinas. Presentemente é Vogal eleito da Junta Distrital de Tete. E M Í L I O MENDES CEREJO foi agraciado pelo Presidente Craveiro Lopes, quando visitou Moçambique, em 1956, com a Comenda de M é r i t o Industrial, premiando a acção notável por ele desenvolvida.

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GOVERNADOR

DO

DISTRITO

DE

MOÇAMBIQUE

Quando visitámos o d i s t r i t o , era seu Governador o Inspector JOÃO GRANJO PIRES, que nasceu na cidade de Bragança, na freguesia da Sé. Foi em 1930 que iniciou a sua carreira administrativa na Província de Moçambique, como aspirante interino, lugar que ocupou durante quatro anos. Em 1935 foi-lhe concedida uma licença para estudos, tendo ido para a Metrópole frequentar a Escola Superior Colonial, concluindo o curso em 1939. Ao mesmo tempo que frequentava aquele estabelecimento de Ensino Superior, e durante os últimos anos de curso, foi também professor auxiliar daquela escola. Ao Governador GRANJO PIRES foi ainda concedida uma bolsa de estudo pelo British Council e pelo I n s t i t u t o para a A l t a C u l t u r a , permanecendo em Inglaterra de 1939 até Junho de 1940. Em Setembro do mesmo ano regressou a Moçambique, retomando o seu lugar de aspirante até novo concurso para promoção. Em Julho de 1942 foi promovido a Chefe de Posto Estagiário, tendo sido colocado no Posto de Uanetze, na Província do Sul do Save. Sempre em ascensional carreira a d m i n i s t r a t i v a , em Março de 1943 foi nomeado secretário interino e promovido, d e f i n i t i v a m e n t e , em Agosto do mesmo ano.

Hospital EGAS M O N I Z , em Nampula

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A i n d a em 1943, entrou de licença ilimitado para se dedicar a uma actividade de carácter particular. Em Agosto de 1945, o Governador GRANJO PIRES voltou ao Quadro Administrativo, ocupando o posto de Secretário em Inhaminga. Depois, em fins de 1947, é nomeado Administrador, interino, da circunscrição de Sena, lugar que ocupou até 1948, data em que foi promovido a Administrador e colocado na circunscrição da M a c a n g a , no Distrito de Tete. Em M a r ç o de 1950 participa na Conferência do Trabalho, em Elisabettville, como delegado representante da então Colónia de Moçambique. Em M a i o de 1951 é nomeado para a Comissão de Rectificação de Fronteiras com a Niassalândia, hoje M a l a w i , e ainda chamado a Lisboa para participar nas Conversações sobre a Rectificação da mesma f r o n t e i r a , em M a r ç o de 1953, a l t u r a em que é promovido a a d m i nistrador de 2. a classe, tendo sido transferido para a circunscrição de Marracuene, em Julho de 1954. O Governador GRANJO PIRES tomou parte, t a m b é m , na Conferência Inter-Africana de Trabalho, na cidade da Beira, em 1955, e foi nomeado 1.° Assistente do Centro de Estudos Políticos e Sociais das Juntas das Missões do U l t r a m a r , para proceder ao estudo do Absentismo e Assiduidade ao Trabalho. Em Novembro de 1958, o Governador GRANJO PIRES foi nomeado administrador de 1 .* classe. Entre outros, fez parte do concurso para Chefes de Posto, Secretários e Administradores de Circunscrição, nos anos de 1957, 1958 e 1960. É nomeado Administrador do Concelho de Lourenço Marques no ano de 1960. Foi louvado pelos Governadores de M a n i c a s Sofala e Lourenço Marques, em 1954 e 1959, respectivamente. É promovido a Intendente em Setembro de 1 9 6 1 , e nomeado Inspector da Acção Psico-Social em 29 de Dezembro de 1 9 6 1 . A 26 de Setembro de 1962 é nomeado Governador do Distrito de Moçambique, em comissão, tomando posse d e f i n i t i v a a 14 de Dezembro de 1962. Durante o período em que dirigiu os destinos do seu d i s t r i t o , o Governador GRANJO PIRES desenvolveu grande acção contra a nudez e o pé descalço. Só numa campanha, venderam-se, numa circunscrição a do E r á t i — mais de oitenta e seis mil pares de sapatos! Esta é uma forma de levar os nativos a trabalhar, criando-lhes necessidades.

Palácio do Governo

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Igualmente a sua acção se fez sentir noutros sectores do seu distrito, no campo da indúst r i a , do desenvolvimento rodoviário, na construção de edifícios escolares, etc. Promoveu a construção de cento e dez pontes e passagens de água, feitas com os recursos do distrito, assim como dedicou a sua melhor atenção às obras do novo hospital de Nampula, que foram iniciadas em 1 9 6 1 , e com a sua conclusão, ficou a ser um dos melhores hospitais da Província. Igualmente se procedeu à construção de casas para régulos.

Murrupula — Residência

do

Regedor

NAMPUIO

N a m p u l a possui uma Escola Técnica moderna, concluída em 1962, com uma população escolar de oitocentos alunos, em 1965; um Liceu, com ensino até ao 5.° ano; dois colégios-liceus, para cada sexo, onde são ministradas aulas nocturnas, g r a t u i t a m e n t e , e três escolas primárias, com dezasseis salas de aula.

Escola Técnica

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A L G U M A S NOTAS SOBRE O DISTRITO

N a m p u l a é a primeira cidade do interior dei Província. O Distrito de Moçambique é aquele onde o municipalismo está mais desenvolvido, tendo três câmaras municipais, oito comissões municipais e dezasseis juntas locais. Este distrito t e m quatro núcleos populacionais grandes : N a m p u l a , capital do d i s t r i t o ; Vila de A n t ó n i o Enes; a V i l a de N a c a l a ; e a cidade de Moçambique, que deu o nome à Província e foi sua capital até 1898. N a m p u l a possui um Museu Etnográfico, único na Província, denominado FERREIRA DE ALMEIDA.

Museu FERREIRA DE ALMEIDA

A capital do distrito t i n h a , em 1965, cerca de doze m i l habitantes, e a cidade de M o çambique cerca de dez m i l , quase constituída por nativos, havendo várias misturas de raças. Este d i s t r i t o é essencialmente agrícola, sendo o principal produtor de toda a Província de : sisal, algodão, castanha de c a j u , amendoim e mandioca. É igualmente rico em minérios, havendo grandes esperanças, num f u t u r o próximo, de riquezas minerais, na área do Eráti, onde existe um jazigo de ferro, calculado em mais de dez milhões de toneladas, assim como da possibilidade da existência de cobre e mercúrio. Existem, t a m b é m , algumas pegmatites de berilo, bem como pedras semi-preciosas, m u i t o prometedoras. O porto de Nacala será, num f u t u r o próximo, uma fonte de riqueza, saindo daquela cidade e porto de mar, num troço de caminho de ferro, que se estende de Nacala até à fronteira da antiga Niassalândia — hoje Estado do M a l a w i — e que uma vez concluído irá fomentar o tráfego e o escoamento de mercadorias e produtos moçambicanos, bem como o tráfego entre a nossa Província e o M a l a w i , fomentando de forma considerável o intercâmbio comercial entre a nossa Província e os países vizinhos. É ainda no Distrito de Moçambique que mais largamente se encontra representado o passado, presente e f u t u r o , pois t e m a cidade de M o ç a m b i q u e , que é vasto repositório das relíquias históricas, assim como no seu aspecto humano. Camões, de passagem para a índia, permaneceu algum tempo na maravilhosa Ilha, cujas românticas paisagens lhe inspiraram alguns dos seus Sonetos. Também o brasileiro Tomás A n t ó n i o Gonzaga, que pertencia ao grupo dos «Inconfidentes», por lá passou. — 307 —


Junto da vetusta Fortaleza — p r e s e n ç a permanente do nosso passado na época das Descobertas — e x i s t e uma capelinha, situada entre o mar e a fortaleza, denominada NOSSA SENHORA DO BALUARTE, no estilo manuelino, que foi construída pelos primeiros navegadores, companheiros de Vasco da Gama. Na Ilha existem ourives, que confeccionam as pulseiras-talismã, m u i t o usadas pelas n a t i vas, sendo tradicional usarem sete pulseiras num só braço, assim como sete anéis num só dedo.

Aspecto da Fortaleza e Capela de NOSSA SENHORA DO BALUARTE

Também é à volta da Ilha que são apanhados os belos búzios, com os quais se confeccionam os famosos camafeus, que artífices italianos t r a b a l h a m , transformando os pedaços de búzio em verdadeiras jóias artísticas, apreciadas em todo o mundo, e constituindo o seu comércio uma fonte de riqueza. É de mencionar uma excepção curiosa que se verifica na Ilha de Moçambique : em toda a Á f r i c a o homem domina a mulher, sendo esta que cultiva a t e r r a , trabalhando para o marido. Na Ilha, as mulheres é que dominam o homem, que têm de trabalhar para elas, que vivem para usar as mais bonitas «toilettes» e jóias, entre elas, as sete pulseiras, os sete anéis e os colares confeccionados com libras de ouro. Em traços largos falamos do Distrito de Moçambique, e em síntese, traçamos a carreira administrativa do homem que presidiu aos destinos daquele distrito —o Governador GRANJO P I R E S — que ao seu engrandecimento e progresso se devotou, e que é o mais populoso de todo o mundo português, contando mais de um milhão e meio de habitantes. — 308 —


Palácio de S. Paulo e estátua de Vasco da Gama

Em contraste com as modernas cidades da Província — sempre em crescimento — a de Moçambique — que foi antiga capital — permanece com uma fisionomia m u i t o própria, que nos transporta aos tempos idos dos grandes navegadores da época de Quinhentos. A l i , na Ilha de Moçambique, pressente-se em tudo que olhamos e nos rodeia, as vozes do passado . . . e no ar, perpassam nas brisas acariciantes os versos de Camões, que pelo entardecer afagam a velha cidade. Cidade típica, que nos transporta a um passado longínquo, onde o «Riquexó» põe uma nota oriental e romântica, nesta bonita parcela da terra moçambicana!

O "Riquexó", transporte típico da Ilha

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Vista aérea da Ilha de Moçambique

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PEDRO BAESSA PRESIDENTE

DA

CÂMARA

MUNICIPAL

DE

NAMPULA

Foi Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Nampula PEDRO BAESSA, natural de Lourenço Marques, onde nasceu a 18 de Junho de 1903. Frequentou o Liceu Sá de M i r a n d a , da ci dade de Braga, de 1915 a 1922. Seu pai era natural da Ilha de Santiago, do Arquipélago de Cabo Verde, onde foi companheiro e amigo do grande m i l i t a r M a j o r Neutel de A b r e u , pacificador do Niassa. PEDRO BAESSA foi eleito vogal da Câmara M u n i c i p a l de N a m p u l a em Fevereiro de 1962. A partir de M a r ç o do mesmo ano, PEDRO BAESSA, em virtude de ser o vogal mais velho em exercício, ficou a desempenhar as funções de substituto do Presidente da Câmara, na ausência deste, em férias graciosas, na Metrópole. Em 1964, PEDRO BAESSA foi nomeado Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Nampula, e em 1965 visitou oficialmente o M a l a w i , a convite do M i n i s t r o do Interior daquele país, seu amigo pessoal. A i n d a em 1965, PEDRO BAESSA foi um dos representantes dos municípios do Distrito de Moçambique no Colégio que elegeu o Senhor Presidente da República. PEDRO BAESSA ocupa ainda o cargo de vogal do Conselho Económico e Social da Província, e de membro da Junta Distrital de Moçambique. Em 1964 recebeu uma a l t a condecoração do Governo Espanhol, tendo sido condecorado pelo Generalíssimo Franco com a Comenda da Ordem do M é r i t o Civil. — 311 —


APONTAMENTO Escrito pelo

HISTÓRICO

SOBRE

Inspector Administrativo

NEUTEL João

DE

Barros

ABREU Peralta

NEUTEL M A R T I N S SIMÕES DE ABREU, f i l h o legítimo de Domingos A n t ó n i o Simões e de D. M a r i a das Dores Ferreira de A b r e u , nasceu no lugar de Várzea Redonda, Concelho de Figueiró dos Vinhos, a 3 de Dezembro de 1 8 7 1 , e alistou-se como voluntário na A r m a de I n f a n taria contava apenas 17 anos de idade. Concluída a instrução m i l i t a r , seguiu para a Província de M a c a u em 1890 e d a l i , por motivos de saúde, para a de A n g o l a , no ano imediato, onde foi contemporâneo de A r t u r de Paiva, Paiva Couceiro, Silva Porto, Lourenço Justiniano Padrel e Trigo Teixeira, e dos feitos do Bié, Humbe e Moxico, factos que não podiam ter deixado de influenciar profundamente a sua formação de soldado. Volvidos quatro anos regressa à terra n a t a l , mas a saudade arrasta-o de novo a Angola. Com 25 anos e o posto de sargento, conquistado nas fileiras degrau em degrau, NEUTEL pediu e obteve a transferência de Angola pare S. Tomé, e aí veio a adoecer gravemente, o que originou o seu repatriamento. Em 1898, estando em serviço no Ministério da M a r i n h a e U l t r a m a r , oferece-se-lhe a oportunidade de vir servir em Moçambique, e para aqui embarca nesse ano, mas uma biliosa impôs-Ihe, pouco depois, o retorno à Mãe-Pátria. De novo voltou a esta Província em 1899, desta vez para ficar e prestar-lhe altos e relevantes serviços. A braços com os problemas da ocupação e pacificação do imenso território, Moçambique vivia nessa época um dos períodos mais agitados da sua história. No sul, M o u z i n h o , após o feito heróico de Macontene, resgatara para Portugal o rico Distrito de Gaza, até então teatro de lutas sangrentas. No norte e centro, não obstante o sucesso das expedições, era precário ainda o exercício da nossa soberania. Mercê de auxílio vindo do estrangeiro, mormente da nossa principal aliada, tribos insubmissas m a n t i n h a m a sua tradicional autonomia no interior do sertão, praticando atrocidades, reduzindo à escravidão povos indefesos. Desde os descobrimentos que a Ilha de Moçambique se tornara a capital da jovem colónia, mas o continente fronteiro, as «terras firmes» como ao tempo se dizia, não obedeciam às leis do Governo de Lisboa. Namarrais e Macuas, há séculos girando na órbita da política árabe, opunham-se de azagaia em punho a que os portugueses avançassem da costa para o interior. Certo é que afoitos negreiros e comerciantes, zelosos missionários e destemidos aventureiros percorriam a corta-mato o lendário país da M a c u a n a , contactando superficialmente com os seus naturais. Todavia, foram infrutíferas durante consecutivos anos as tentativas que se fizeram para atingir o ubérrimo «hinterland» dos actuais Distritos de Moçambique, Niassa e Cabo Delgado. A primeira dessas tentativas deve-se a M o u z i n h o , que em 1897 instalava, por meios pacíficos, o posto militar de Itoculo, a 25 quilómetros do l i t o r a l , e que por bastante tempo foi o mais avançado baluarte de Portugal no norte de Moçambique, como que uma seta apontada a N a m p u l a , coração da M a c u a n a . Em 1904 já se falava das capitanias do Mossuril e da M a c u a n a , esta ú l t i m a com sede no Itoculo, mas só dois anos mais tarde é que se reconhecia a necessidade de tornar positiva a nossa autoridade para além das estreitas zonas de influência que ocupávamos, graças aos postos militares instalados ao longo das linhas de penetração, quase todos numa tímida faixa da zona costeira. N u m desses postos —o do Mongincual — vamos encontrar NEUTEL DE ABREU em meados de 1900, como comandante, e comandante exemplar foi ele que logo no f i m desse ano era galardoado com um louvor por importantes serviços prestados. Com efeito, o jovem comandante do posto m i l i t a r do Mongincual em menos de seis meses, conseguia ligar entre si, por meio de estradas, diversas povoações do interior, todas de inegável interesse estratégico, o que em m u i t o viria f a c i l i t a r futuras operações. No ano imediato ascende ao posto de alferes, — 312 —


e no seguinte novos e honrosos louvores ilustram a sua folha de serviço, o ú l t i m o dos quais alude ao bom e enérgico procedimento no comando de uma pequena força em terras de Napipe, onde se conduziu de «forma a fazer respeitar a nossa soberania e aumentar o exercício do nosso domínio». Nas operações de M a t a d a n e , em que participou como comandante do comboio e chefe dos serviços administrativos, houve-se por forma que o Comandante Eduardo Lupi escrevesse no seu relatório : «Nunca vi homem que o excedesse em desembaraço, actividade, disciplina e serena coragem». Em Macucha, no comando dos auxiliares, NEUTEL distingue-se u m a vez mais contribuindo por forma decisiva para a derrota das forças de Farelay, o insubmisso agitador do Parapato e grande «inimigo da gente portuguesa». Referindo-se a este acontecimento, e ao comportamento do brioso oficial, diz no seu relatório o Governador Forjaz : «Distinguiu-se, pela sua m u i t a coragem, energia e impassibilidade, sendo por isso —a meu v e r — digno da Medalha de Valor M i l i t a r , o alferes do quadro acidental NEUTEL M A R T I N S SIMÕES DE ABREU, oficial do maior prestígio no M o n g i n c u a l , a quem o Governo deve já o exercício da nossa autoridade em toda a região de Namuco e Quinga, que comanda — h á uns 4 anos — com m u i t a sensatez, com diligência exemplar e com honradez inatacável, oficial este, adjunto do comando de auxiliares, m u i t o concorreu para o bom resultado das operações e movimentos de combate de Macuana pela sua reconhecida coragem, intrepidez e valentia, t e n d o — a meu v e r — jus à Medalha de Valor M i l i t a r » . A ordem do Distrito de Moçambique, de 3 - 5 - 1 9 0 4 , louva NEUTEL «pelo seu m u i t o valor e coragem, energia e intrepidez como se portou sempre debaixo de fogo vivíssimo do inimigo na coluna organizada para reconstituir a coluna de operações na M a t i b a n e . . .». A 25 de Julho desse mesmo ano foi promovido a tenente e colocado em A n g o l a , mas m a n t i d o em Moçambique por conveniência de serviço, pois, de novo, no Posto M i l i t a r de M o n g i n c u a l , revelou-se um administrador de grandes recursos, trabalhador i n cansável e estudioso apaixonado dos usos e costumes dos negros, predicados que em breve haviam de fazer dele um dos maiores sertanejos do seu tempo. Em 1905 recebe dois novos louvores da C a p i t a n i a - M o r do Mossuril a que estava subordinado, altamente elogiosos, e é distinguido com a nomeação para comandante m i l i t a r do M o n g i n c u a l , que tantos e tão importantes melhoramentos lhe devia já. O nome de NEUTEL torna-se conhecido, admirado e respeitado em toda a colónia, e os pretos, pasmados do seu comportamento em combate e da sua extraordinária capacidade de realizador, começaram a tecer em sua volta uma teia de lendas, em que geralmente aparecia como herói. A l c u n h a r a m - n o , então, de M a h o n , e foi com o prestígio deste nome gentílico que montou sem dificuldades, os postos militares de Ligúria, entre o M o n g i n c u a l e Liúpo, e Corrane. A q u i , entregando-se voluntariamente a um rito tradicional, celebrou com Mucapera uma valiosa aliança, que t a n t o havia de f a c i l i t a r a ocupação e pacificação do norte da Província. O velho sonho de M o u z i n h o , esboçado em 1897, de conquistar a Macuana pelo sistema da ocupação por zonas sucessivas de irradiação, vai ter finalmente continuidade 9 anos depois, mas obedecendo a um novo plano : o das linhas de penetração paralelas, levadas no sentido da profundidade. Formaram-se, assim, três linhas : a do N o r t e , a do Centro e a do Sul, que seguiriam, respectivamente, estes rumos : Itoculo-Rainho-lmala; Mossuril-Jagaia-Meconta-Otitane e M o n gincual-Liúpo-Corrane-Nampula, ao mesmo tempo que se criava a Capitania-Mor de M e m b a , encurtando a do Mossuril. As linhas do Norte e Centro, apesar de vitoriosas, são detidas uma em Imala, outra em O t i t a n e , onde m o n t a m postos militares, ao passo que a do Sul, comandada pelo Capitão NEUTEL DE ABREU, mercê das suas notáveis qualidades, em que sobressaem a habilidade e serena energia, realizou a conquista pacífica de um vasto território em que passou desde logo a exercer benéfica influência. A ocupação de N a m p u l a , pouco depois centro da expansão política irradiando até Ribáuè e M u r r u p u l a , proporcionou o avanço de 1912 para as regiões ignoradas do norte e oeste, os golpes mortais inflingidos em potentados como o N a p a u a , Nacavala, Cobula e Xeque de Sangage, temíveis mentores da resistência ao avanço das nossas forças. Mucapera e o salutar exemplo de obediência da sua gente contribuíram decerto para aplanar muitas dificuldades que NEUTEL enfrentou ao instalar-se em N a m p u l a e empreender a ocupação efectiva do território circunvizinho. — 313 —


Já como Capitão-Mor da Macuana e nesse ano de 1912 partiu o destemido oficial para Malerna, onde fundou um posto m i l i t a r , que distava já 390 quilómetros do litoral e 108 do posto de Ribáuè. No ano imediato montou o posto do M u t u á l i . Governador Duarte Ferreira das operações contra Imala, responsável pelo desassossego na Capitania de valentia, de ferocidade sanguinária, desde que capitão José Augusto da Cunha.

Regressando do norte, foi encarregado pelo o Régulo Napaua, senhor do Mucubúri e de M e m b a , gozando de uma fama lendária detivera em Rainho e Imala a coluna do

Esse rebelde foi destroçado no primeiro combate que ofereceu a NEUTEL e veio a morrer quando, pouco depois em fuga para os territórios da Companhia do Niassa, tentava atravessar o rio Lúrio. No seu trajecto para Imala, a coluna de NEUTEL DE ABREU ainda submeteu os régulos Chapala, A m p u a i a e Nácar, parceiros do Napaua na sua obstinada resistência à ocupação portuguesa, e fundou o posto de M u c u b ú r i . Louvado pela submissão do Régulo T u t u a e montagem do posto de Ribáuè, em 1908, no ano seguinte recebe a Medalha M i l i t a r de Pratc da classe de comportamento exemplar. Massano de A m o r i m propôs-lhe a Comenda da Torre e Espada, em 1910, pela sua acção decisiva na guerra contra o Farelay e seus apaniguados de Angoche e Mogovolas. Nesse mesmo ano foram-lhe atribuídas as medalhas de prata da Rainha D. A m é l i a , comemorativa da ocupação de Angoche, e da classe de assiduidade de serviço no Ultramar. Em Agosto é promovido a Capitão. No impedimento do Capitão Cunha, ausente na Metrópole, NEUTEL exerceu interinamente as funções de Capitão-Mor do Mossuril, em 1915, mas um ano depois voltava à Macuana. Novos louvores enriquecem a sua já brilhante folha de serviço, e uma nova condecoração vem constelar o seu peito : a medalha de ouro da classe de serviços distintos ou relevantes no Ultramar. No ano de 1917, NEUTEL DE ABREU, comandando um contingente de auxiliares macuas, seguiu para Mocímboa da Praia, incumbido de abrir uma estrada de 143 quilómetros através do território Maconde, povoado de gente altiva e aguerrida, que bravamente havia resistido a outras tentativas do género. O trabalho g r a t u i t o e o pagamento de impostos repugnavam ao sentimento de independência que caracteriza esse povo de artistas, facto que tornou sobremaneira espinhosa a missão do famoso Capitão-Mor da Macuana. M u i t o s e renhidos foram com efeito os combates travados entre os auxiliares Macuas e os guerreiros Macondes, diversas as dificuldades a vencer, mas a boa estrela de NEUTEL mais uma vez t r i u n f o u de todas as vicissitudes, e ao f i m e ao cabo os Macondes estavam submetidos. Isso lhe valeu a nomeação para comandante militar da M a c u a n a , a dispensa do tirocínio para o posto de M a j o r e mais um honroso louvor em que as suas excelsas qualidades foram destacadas com o merecido relevo. A sua brilhantíssima carreira termina praticamente com a promoção a M a j o r , o que se deu em Agosto de 1918, contava 47 anos de idade e 30 de intensa vida nas fileiras. Novas e altas condecorações lhe foram concedidas, nomeadamente a Comenda da Torre e Espada, de valor, lealdade e mérito, a Medalha da V i t ó r i a , a Medalha M i l i t a r de Ouro da classe de comportamento exemplar. Dois anos depois, a Junta de Saúde julgava o herói incapaz de todo o serviço. Aposentado, recebeu o grau de Comendador da Ordem M i l i t a r de A v i z , e foi fixar-se no Mongincual, onde arrastou vida difícil como agricultor. A 8 de Dezembro de 1945, numa pequena casa de Figueiró dos Vinhos, NEUTEL DE ABREU morria tão modesto como t i n h a nascido.

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MAJOR NEUTEL DE ABREU

7 de Fevereiro é o dia festivo da cidade de N a m p u l a , por ali ter chegado, nessa d a t a , em 1907, NEUTEL DE ABREU Daquele matagal inóspito, sem condições de sobrevivência, nasceu uma das mais bonitas cidades de M o ç a m b i q u e !

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ANTÓNIO MARQUES

A N T Ó N I O MARQUES é natural de Lisboa, nascido na freguesia dos Anjos, vindo para Moçambique em 1949. Foi na cidade da Beira que primeiro se f i x o u , empregando-se na Companhia de Moçambique, na secção do contencioso da f i r m a . Mais tarde, foi convidado para a gerência do Hotel Lumbo, que pertence aos Caminhos de Ferro de Moçambique, lugar que aceitou, vindo depois a ser o concessionário da exploração do hotel. Alguns anos depois, tornou-se o proprietário da Pousada M o u r a , em Nampula. Em 1960 inaugurou-se em Nampula um grande hotel, a que foi dado o nome de Hotel Portugal, cu ; a total direcção e concessão de exploração foi dada a A N T Ó N I O MARQUES, e em 1961 tornou-se, t a m b é m , o concessionário da Pousada de Moçambique, na Ilha de M o çambique.

Pousada da Ilha de Moçambique

Em 1962 torna-se concessionário de mais um hotel, o Hotel de mesmo nome.

Nacala, no porto do

Na progressiva cidade de N a m p u l a , construiu em 1962, na parte nova da cidade, na Praça do Infante D. Henrique, um café-restaurante, com salas de bilhares, a que deu o nome de Infante D. Henrique. — 316 —


Hotel Portugal, em Nampula

Hotel do Lumbo

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JOÃO FERREIRA DOS SANTOS O O

MAIOR

CRIADOR

DE

PIONEIRO UMA

DO

NIASSA

(MOÇAMBIQUE)

OBRA — ORGULHO

PARA

PORTUGAL

A história de um pioneiro, a sua obra, é fácil de ser contada em palavras breves, quando ela já ultrapassou há muito a fase das dificuldades, da luta heróica, dos sacrifícios, de toda o sorte de obstáculos que venceu de punhos cerrados, mas coração generoso, mesmo quando os outros, a família até, lhe suplicavam que desistisse, pois dedicava a sua mocidade a uma obra por demais gigantesca. Mas JOÃO FERREIRA DOS SANTOS —é dele que se t r a t a — sabia que estava a fazer história, história autêntica e tão diferente da que hoje se faz por toda a Á f r i c a ! Sim, é f á c i l , depois da vitória, sorrir e registar factos . . . mas quão difícil é relatá-la com os termos próprios, mencionar os desgostos, os desenganos, as arrelias, as injustiças; falar da vitória incerta, do caminhar lento, da desesperança e, especialmente, quando esse pioneiro conseguiu sê-lo da maneira mais arrojada, mais digna, mas «espectacular», num «pontinho» de Á f r i c a , «pontinho» que ele ajudou a ser conhecido, a ser grande, a ser respeitado, a ser português, quando para isso, largou a vida, talvez f á c i l , cómoda por certo, dos prazeres garantidos de Lisboa, rumando direito a uma Á f r i c a desconhecida. E na data em que o fez decorria o ano de 1897. O que era Á f r i c a então? M u i t o diferente daquilo que qualquer cidadão hoje poderá pensar, ou sequer imaginar!

Prédio das Organizações João Ferreira dos Santos — António Enes

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Foi aí, na Á f r i c a , no seu coração negro,impiedoso, selvagem, virgem, por desbravar, que as mãos, o pensamento e o coração de um português, se entregaram de corpo e alma. Os anos passaram e as iniciais JFS ficaram de todos conhecidas como símbolo de tenacidade, coragem e patriotismo. Mesmo aqueles que anos depois, até à sua morte, nunca com ele tiveram o prazer de contactar, sabiam, como se sabe ainda hoje, que o seu nome era, e é, preservado para todo o sempre, o exemplo vivo de uma vontade férrea, de uma inteligência brilhante, de uma coragem sem limites e de uma persistência que era como uma obstinação. JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, um nome que é uma lenda em Moçambique e fora desta Província Portuguesa, desde m u i t o novo ambicionava sair da sua terra natal para conhecer África. E ele, que nascera no Bombarral a 7 de Julho de 1877, a 17 de Dezembro de 1896 saiu de Lisboa a bordo do « Z a i r e » , tendo chegado a Moçambique em 24 de Janeiro de 1897. Realizava assim, aos 19 anos, o seu sonho, a sua ambição, numa idade em que hoje, tanto como o n t e m , os jovens desejam divertir-se sem preocupações, esquecendo o curso da História, os seus problemas, as suas obrigações e responsabilidades para com a nação que os serve. Filho de gente humilde, JOÃO FERREIRA DOS SANTOS não p a r t i u , evidentemente, com capital a estabelecer-se nesta Província. A única importância que trazia consigo eram vinte mil réis. E a comprová-lo, foi durante algum tempo, após a sua chegada, empregado de comércio. Depois, tomou de trespasse o próprio negócio que o empregara. Depois, JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, numa luta férrea, mas pacífica, a lutar sempre pelo progresso, mas nunca empregando armas para vencer, pois tratava-se de uma batalha ordeira, de príncipos sãos, de orgulho, tenacidade e honradez, viu satisfeito parte do seu desejo bem patriótico : o alargamento e povoamento do norte de Moçambique. É a conquista da terra inexplorada e contra as armas traiçoeiras dos indígenas, contra as febres e tantas outras doenças tropicais, era uma empresa deveras d i f í c i l , f a t i g a n t e e perigosa. Bastará dizer que na a l t u r a , M o u z i n h o de Albuquerque, mudava a sua atenção para as vastas terras do Niassa. Portanto, empresa arriscada essa, em que se jogava a vida dia a dia no comerciar com os nativos. As primeiras encomendas da Metrópole começaram por chegar e cada vez em maior volume. Ao progredir o seu negócio, progredia paralelamente o desenvolvimento das terras do Niassa, pois JOÃO FERREIRA DOS SANTOS não se importava em amealhar dinheiro para regressar rapidamente à Metrópole e gastá-lo em prazeres, ou numa velhice assegurada, que ninguém, aliás, poderia negar que ele o merecesse, depois da luta travada e da almejada conquista. Pelo contrário, a sua visão e inteligência fomentavam novos ramos de actividade. Era uma força imparável de saber querer. Por isso, quando os anos rolaram, sobre a sua grande obra de pioneiro e um dia a cidade de Moçambique recebeu a visita do Governador-Geral da Província — comandante Gabriel Teixeira — proferiu as seguintes palavras, frente a JOÃO FERREIRA DOS SANTOS : «Neste momento estou a falar com prazer, porque falo perante um homem diante do qual o Governador-Geral se curva respeitoso : um português daqueles que têm lutado como uns bravos, daqueles que fizeram um I m p é r i o » ! Já em 1939, o então Presidente da República, Marechal A n t ó n i o Óscar de Fragoso Carmona, ao visitar Moçambique, consagrou os seui altos serviços, agraciando-o com a Comenda de M é r i t o Agrícola e Industrial. Durante a cerimónia, que teve lugar no salão nore dos Paços do Concelho, escutou JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, publicamente, e da boca dessa veneranda figura do Estado, as mais homenageantes palavras, pela magnitude das suas qualidades, pelo inteligente e denodado esforço que sempre dedicou a esta parcela do Império, numa época sobretudo em que a emigração portuguesa prevalecia para as ricas terras do Brasil. M u i t a s foram as homenagens públicas que em vida recebeu, e m u i t o justamente mereceu JOÃO FERREIRA DOS SANTOS. Uma delas aconteceu em 24 de Janeiro de 1947, dia da passagem do cinquentenário da sua chegada a Moçambique. A l é m de homenagens públicas, e várias f o r a m , entre elas, a que lhe foi prestada pelas forças vivas de Moçambique, dando a Câmara — 319 —


O Presidente da República, Marechal Carmona, condecorando João Ferreira dos Santos, em 1 9 3 9

M u n i c i p a l dessa cidade o seu nome a uma das ruas da Ilha, e considerou-o cidadão honorário da cidade de Moçambique. JOÃO FERREIRA DOS SANTOS ocupou t a m b é m , em Moçambique, lugares da maior projecção, tendo sido, por largos anos, membro do Conselho do Governo. T i n h a completado o seu sonho, um sonho grandioso, feito de persistência, coragem e honradez, aquele rapazinho de 19 anos, que um dia deixara Lisboa, embarcando para Moçambique. Um sonho que teve sempre a ocupar-lhe o espírito moço e tenaz até à própria morte, ocorrida em 1957, porque ele não morreu jamais! Como um símbolo daquilo que um homem pode chegar, ficará como uma legenda e um exemplo bem vivos para os que vieram depois dele usufruir os benefícios da sua própria luta. Hoje as organizações JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, directamente administradas pelos seus filhos — D r s . João Domingues Ferreira dos Santos e José Luís Ferreira dos Santos — dignos continuadores da obra de seu p a i , exercem a sua actividade nos mais diversos ramos de comércio, da indústria e da a g r i c u l t u r a , em toda a região do Niassa. M a n t é m a sua sede na cidade de Moçambique e possuem sucursais importantes em Porto A m é l i a , Nacala, Nampula c A n t ó n i o Enes, todas em edifícios próprios das organizações. Merecem especial referência, na a g r i c u l t u r a , as enormes plantações de sisal, em Geba e M u c h e l i a , e as plantações de coqueiros e cajueiros de Saua-Saua, M e z a , M u c h e l i a , N a m e t i l , Geba, Napela e M e l u l i . Foram concessionários de zonas algodoeiras e orizícolas das importantes zonas algodoeiras de Geba e Saua-Saua, que compreendem as áreas das circunscrições de M e m b a , Nacala, Mossuril, Mogincual e hoje são importantes industriais de descaroçamento de algodão e descasque de caju. — 320 —


As zonas orizícolas são, talvez, as que marcam o lugar de maior destaque, compreendendo as áreas do concelho de N a m p u l a , das circunscrições de M e c o n t a , M u c u b ú r i , Mossuril, Nacala e Memba. Nos centros de cada zona orizícola possuem fábricas de descasque e polimento de arroz.

Prédio de Nacala

Entre outras indústrias dedicam-se, t a m b é m , aos ramos de padaria, tabacos, cordoaria, e t c , sendo agentes de variadíssimas e importantes companhias, t a n t o nacionais como estrangeiras, exercendo igualmente cargos de agentes distribuidores e tendo, englobadas nas suas organizações, muitas outras fortes empresas moçambicanas. As organizações JOÃO FERREIRA DOS SANTOS nunca abandonaram o amparo e promoção social dos seus empregados, quer europeus quer nativos, contribuindo com bairros, residências, escolas, hospitais, farmácias, laboratórios, parques infantis e campos para a prática de jogos desportivos, entre outras iniciativas de vulto.

Oficinas e Estação de Serviço FORD — Nampula

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Em vida, JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, não esqueceu nunca os pobres. Para além de todas as dádivas, sempre generosas e volumosas, antes de falecer legou dezoito mil contos a uma instituição de beneficência em Lourenço Marques, que tem o seu nome. A Associação Beneficiente João Ferreira dos Santos mantém bolsas de Estudo para cursos superiores, subsídios de invalidez, viuvez e doença. A muitos dos seus empregados e colaboradores, deixou-lhes um legado, pelo que estes c imortalizaram com a colocação de um busto em bronze de Mestre Leopoldo de A l m e i d a , na sede das organizações, j u n t o à secretaria onde t a n t o trabalhou para engrandecimento da sua tão bela obra! Uma das descrições mais comoventes e mais sinceras e ternas, elucidativas sobre a figura de JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, deu-a seu f i l h o , o Dr. João Ferreira dos Santos, ao descerrar, em 26 de A b r i l de 1956, o retrato de seu pai e fundador da organização nos escritórios da sede, em Moçambique. Foram palavras de um elogio recto, preito de um homem a outro d outro homem, e através dela se avalia, conscientemente, o seu perfil. «Convidámos a reunirem-se connosco os empregados que se encontram ao serviço desta f i r m a , em Moçambique, com a finalidade de assistirem à colocação, numa das paredes desta sala de trabalho, do retrato de meu pai, pintado por Henrique Medina. Nesta m u i t o simples homenagem, procurarei apenas focar algumas das facetas que mais marcadamente se encont r a m na sua invulgar personalidade e que devem servir de exemplo a todos nós. A lição que este homem nos deixou, deve ser frequentemente lembrada por todos aqueles que o conheceram na pujança das suas faculdades. Útil será, t a m b é m , que os nossos filhos a oiçam, e, ao recordarmos a sua vida, j u n t o destes, teremos sempre alguma coisa de novo a aproveitar, pela m u i t a grandeza de todo o seu trabalho repleto e cheio de sacrifícios. Este homem que ali vedes, nasceu pobre, partiu do nada e fez-se inteiramente por si próprio. Como instrução, teve apenas o 2.° g r a u , tirado numa escola de ensino g r a t u i t o . Tendo sido, por coincidência, número um da p a u t a , foi também o número um na classificação f i n a l . A l u n o distinto, assim continuou quando, como mestre, nos ensinou, com o seu exemplo, e no permanente trabalho do dia a dia a engrandecermos a vida e a projectá-la, f i r m e m e n t e , para além da linha do horizonte. Homens como o meu pai jamais morrerão, pois mesmo quando a sua presença física desaparecer da terra, sentiremos que a sua vida exemplar não se perdeu, e ela continuará a acompanhar-nos, tal como aquelas estrelas que, mesmo após o seu desaparecimento, continuam ainda a iluminar. João Ferreira dos Santos, quando embarcou para a Á f r i c a , não procurava grandeza nem f o r t u n a . Esta, foi a consequência natural das suas faculdades de inteligência, de seriedade e de trabalho que jamais conheceu fronteiras ou cansaços. Posso dizer que ao embarcar para esta Província, apenas desejava encontrar trabalho onde exercer a sua actividade. Após a sua chegada à Ilha de Moçambique foi colocado num pequeno bar que possuía um bilhar. O movimento era m u i t o pequeno, limitando-se a uma meia dúzia de fregueses por dia — à s vezes nem t a n t o s ! — que tomavam qualquer bebida ou pediam que lhes estendessem as bolas no bilhar. Aborrecido da forçada inactividade durante uma grande parte das horas de cada d i a , resolveu demitir-se, justamente sob o pretexto da f a l t a de movimento. 0 patrão disse-lhe : « — S e queres mais trabalho, então, porque também tenho um talho, poderás t r a t a r dele, mas, para isso, terás de levantar-te às quatro horas da madrugada e porque o bar encerra tarde as suas portas, poucas horas dormirás por noite». «A sua ânsia de trabalho ú t i l não conhecia limites. A c e i t o u de bom grado sobrecarregar-se com mais aquele serviço. Espírito extremamente económico, a pouco e pouco criou as condições para se estabelecer com uma pequena casa de negócio. E, para isso, foi ainda a u x i liado monetariamente com um empréstimo que contraiu. Assim se estabeleceu a ponte no começo da luta pela realização das suas aspirações. Envolvido sempre em trabalho que mais o entusiasmava quanto mais dificuldades houvessem a vencer, assim fez ele toda a sua vida. João Ferreira dos Santos, posso dizê-lo, nasceu sob o signo da vitória. Pertenceu a um raro grupo de eleitos, eu ia a dizer sacrificados, que nasceram para fazer uma OBRA e, com ela, dar um exemplo brilhante de uma vida recta, que devemos conservar permanentemente em nosso espírito e nos nossos corações. A l é m das virtudes e qualidades, evidenciou, permanentemente, um elevado espírito h u m a n i t á r i o e de solidariedade para com os outros. Nunca n i n guém lhe pediu trabalho que ele negasse, mesmo que não tivesse necessidade de mais empregados. Através das suas tremendas crises económicas, e muitas foram elas, jamais recorreu à solução de reduzir o pessoal nos seus quadros. Conservou sempre o maior respeito por todos — 322 —


os que desejavam ganhar honestamente o pão de cada dia. Posso afirmar que, João Ferreira dos Santos não foi um homem de sorte. A sorte que teve, se tivéssemos que fazer a sua vida de permanente renúncia e sacrifício, certamente que a não desejaríamos para nós. Apesar de tudo, foi sem dúvida um homem feliz, na medida em que cumpriu largamente a sua missão. Foram muitas as preocupações e os problemas que teve de resolver, mas eu posso assegurar-vos que estes nunca foram problemas de consciência. Desejo dizer-vos, t a m b é m , que o dinheiro nunca o serviu a ele, na satisfação dos prazeres materiais da vida, antes pelo contrário, ele é que serviu o dinheiro, fazendo-o com seriedade e dignidade, na medida em que o lançou à terra, fomentando riqueza, contribuindo para a melhoria das condições sociais, e formando uma f i r m a que emprega algumas centenas de europeus e milhares de indígenas. Entre todos os que trabalharam no dia a dia com João Ferreira dos Santos, estou certo não ter havido ninguém que tivesse sentido o mesquinho sentimento de inveja pela f o r t u n a que ele possuía. Encontramos, através da história do capitalismo, que os inimigos deste foram sempre de dois tipos : ou por egoísmo, levados unicamente pela má compreensão da prosperidade alheia, ou então —e para estes existe, da minha parte, larga c o m p r e e n s ã o — por culpa apenas daqueles que, possuindo os meios de f o r t u n a , os não sabem utilizar. João Ferreira dos Santos simbolizou, no mais elevado g r a u , as virtudes do capitalismo. Este é, em traços rápidos, o retrato do homem que fundou esta f i r m a e viveu essa obra durante decénios. Os alicerces são fortes porque foram constantemente envolvidos com o seu sangue, suor e lágrimas. Perante a extraordinária grandeza do homem que foi João Ferreira dos Santos, que Deus nos ajude, a todos nós, seus colaboradores, não estarmos à a l t u r a dele ou ao seu nível, porque isso seria imodéstia e representaria o desconhecimento das suas qualidades e da grandeza de que a sua vida se revestiu, mas a mantermos, sempre, através de todo o nosso trabalho e colaboração, o permanente respeito à sua memória. Será isto exigir demais? Eu penso que não.» JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, por tudo quanto atrás fica expresso, foi um dos maiores pioneiros de Moçambique, cujo nome ficará gravado a letras de oiro nas páginas da sua História!

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JOÃO RIBEIRO DE PAIVA

Não sabemos ao certo a data exacta em que JOÃO RIBEIRO DE P A I V A chegou a Moçam bique, mas sabemos que em 191 1 residia em Lourenço Marques, de onde foi expulso por m o t i vos políticos e mandado para outro ponto da Província. JOÃO RIBEIRO DE P A I V A — um perseguido p o l í t i c o — foi desterrado para Tete, onde se conservou, exercendo as funções de aspirante dos Correios e Telégrafos, até Março de 1912, data em que pôde regressar a Lourenço Marques, sendo nomeado, por portaria do Governador-Geral, Dr. A l f r e d o Magalhães, amanuense da circunscrição civil de Zavala, lugar de que não quis tomar posse. JOÃO RIBEIRO DE P A I V A , politicamente foi sempre um avançado, um republicano de gema, e antes da implantação da República já pertencia ao Centro Republicano Dr. Couceiro da Costa, de que era secretário quando foi expulso. Em Lourenço Marques, foi director do jornal «A Voz do Caixeiro»; em Tete do «Radical» — que ele e um seu companheiro de infortúnio tiveram necessidade de compor, por f a l t a de pessoal e s p e c i a l i z a d o — ; e em Moçambique foi director de «O N o r t e » . Devido ao seu esforço, à sua inteligência e ao seu incontestado dinamismo, aliados a uma inigualável força de vontade, JOÃO RIBEIRO DE P A I V A chegou a ser um dos maiores comerciantes e industriais do Distrito de Moçambique, onde teve 32 lojas comerciais. Interessou-se também bastante pela a g r i c u l t u r a , tendo criado na área de Angoche a bela propriedade de N a m a p i z a , onde, além das esplêndidas habitações que nela construiu, plantou para cima de 100 0 0 0 pclmeiras e 50 0 0 0 cajueiros, hoje em plena produção. Em determinada a l t u r a , porém, a sorte abandonou-o e devido a circunstâncias alheias à sua acção e à sua vontade, tudo perdeu! M a s , apesar de todas as ingratas contrariedades, JOÃO RIBEIRO DE P A I V A não esmoreceu e a sua dinâmica força de vontade não encontra barreiras, continuando insanamente na luta de recuperar o perdido! A primeira fábrica de tabacos que se montou na cidade de Moçambique — s e u s a n t i gos s o n h o s — foi JOÃO RIBEIRO DE P A I V A que a estabeleceu. Foi ele, t a m b é m , quem primeiramente empreendeu no Distrito de Moçambique o descasque e preparação da castanha de caju. Finalizamos a sua biografia com as afirmações de E. Pinto Soares, insertas num artigo dedicado ao pioneiro, publicado num jornal da Província : «João Ribeiro de Paiva foi um homem às direitas e que merece, mais que recordado, ser imitado em suas atitudes de exemplar patriota.»

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"SOCAJU"

A SOCAJU foi a primeira organização a instalar em Nacala uma unidade fabril de grande envergadura e projecção económica para laboração de castanha de caju e extracção de óleo. A primeira fábrica montada pela SOCAJU, iniciou a sua laboração em Março de 1968. É, p o r t a n t o , recente, mas por ser a primeira no seu género, em Nacala, justifica a sua inclusão neste livro. A SOCAJU tem um capital social de 120 mil contos, sendo constituída somente por accionistas portugueses. Inicialmente, esta unidade fabril tem uma capacidade de laboração para 15 mil toneladas anuais de castanha de caju, devido à utilização de uma máquina que foi concebida e desenvolvida por técnicos portugueses. Essa máquina encontra-se patenteada pela f i r m a portuguesa Sodescal, e o seu desenvolvimento, para entrar em nível de produção industrial, só foi possível mercê do apoio financeiro do Banco Nacional U l t r a m a r i n o , que desde o primeiro momento lhe dispensou o maior interesse, bem como o Centro de Investigação da Cuf, que lhe deu assistência técnica. Esta fábrica foi totalmente concebida e feita por técnicos portugueses, e paralelamente com o descasque da castanha, dispondo de instalações adequadas para a extracção do óleo (C.N.S.L.) da mesma. As suas infra-estruturas estão já dimensionadas para uma imediata duplicação da capacidade f a b r i l , para o que dispõe de uma área de terreno própria para o efeito. O vajor anual da SOCAJU, nesta primeira fase, ultrapassará os cem mil contos, empregando, entre funcionários e operários, um número superior a mil e quinhentos. Este empreendimento industrial m u i t o veio contribuir para o desenvolvimento económico e- social de Nacala, que se encontra numa fase de grande desenvolvimento, e cujo magnífico porto de mar virá a fazer da vila uma grande e moderna urbe! A SOCAJU, fomentando a indústria, veio contribuir de forma notável para o engrandecimento desta região e da Província.

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Aspecto da unidade fabril «Socaju»

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GOVERNADOR DO DISTRITO DO NIASSA Governou durante vários anos, político, o vasto Distrito do Niassa, nosso Exército, natural da Província de M a t o s exerceu, de 1907 a 1940, nha do Niassa durante a I Grande

com invulgar capacidade de inteligência e apurado tacto o M a j o r CARLOS DA COSTA M A T O S , oficial distinto do de M o ç a m b i q u e , onde o seu pai, Capitão Rodrigo Albano funções militares e civis, tendo-se distinguido na CampaGuerra.

O Major Costa Matos no seu gabinete de trabalho

O M a j o r COSTA M A T O S — como mais afectuosamente é conhecido pela população que governou — iniciou os seus estudos em Lourenço Marques — onde nasceu — na antiga Escola 1.° de Janeiro, tendo f e i t o o curso secundário no Colégio M i l i t a r , onde foi aluno distinto. T i r o u ainda os preparatórios na Universidade de Coimbra, mas, atraído pela carreira das A r m a s , que seu pai servira com t a n t a distinção, ingressou na Escola do Exército. Da sua brilhante folha de serviços constam 12 Louvores (dos quais 7 que lhe foram conferidos por Oficiais-Generais e 5 por Comandantes de Unidades onde serviu). É condecorado com a Ordem M i l i t a r de A v i z , M e dalha de M é r i t o M i l i t a r e Medalha Comemorativa da Expedição à índia, onde serviu nos anos mais cruciantes da agitação anti-portuguesa, lançada pela União Indiana, ou seja de 1948 a 1952. Durante esse período percorreu, em missões delicadas de serviço, todo o território de Goa, que conhece de ponta a ponta, tendo estudado cuidadosamente os seus problemas. Frequentou, posteriormente, o Curso do Estado M a i o r , exercendo funções de Subchefe do Estado Maior no Comando M i l i t a r dos Açores. Integrado em missões de Estado M a i o r , visitou os estabelecimentos militares na Alemanha e na Bélgica. Fez ainda parte da Missão M i l i t a r portuguesa que se deslocou à Argélia em observação, tendo frequentado o Curso de Pacificação e de Contra-Guerrilha. Teve, deste modo, ensejo de familiarizar-se com os métodos de guerra subversiva e no combate à subversão. Esta síntese biográfica do homem que esteve alguns anos à frente dos destinos do Distrito do Niassa, dos mais expostos de Moçambique a possíveis infiltrações de agentes inimigos que nos incomodam em Á f r i c a , tomou-se necessária para se aquilatar da verdadeira estatura militar e política do M a j o r COSTA M A T O S , que se m u l t i p l i c o u em actividades em benefício do progresso do d i s t r i t o que lhe esteve confiado e segurança das populações, que nele inteiramente confiaram.

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É difícil — c o n f e s s a m o s — fazer-se o cômputo perfeito dos anos de governo do incansável Governador COSTA M A T O S , tão vasta é a sua obra, nos mais diversos campos de acção. Sob a sua superior orientação fez-se o estudo do reajustamento administrativo do vasto distrito, para uma mais efectiva ocupação administrativa. Fez-se o estudo e implantação da rede de Radiocomunicações. Cada Posto A d m i n i s t r a t i v o dispõe de tractores para a manutenção e conservação das estradas e outros serviços. Electrificaram-se todos os Postos Administrativos. Fez-se a distribuição e fixação em condições próprias, de colonos, que vieram para trabalhar a terra, com o esforço produtivo do seu braço. Construíram-se aeródromos, estradas, pontes completadas.

Palácio do Governo

Foram iniciadas as obras de abastecimento de água a M a r r u p a . Com verdadeiros «milagres» de boa vontade do dinâmico Governador, sempre a t e n t o aos problemas prementes do d i s t r i t o e sempre presente em locais onde a sua pessoa se tornava necessária, realizaram-se no vasto campo de acção social e educativa, trabalhos de alto sentido de oportunidade, que f i z e r a m ainda mais respeitado o seu nome e o de sua esposa, senhora D. Isabel Costa Matos, que da cepa das antigas damas portuguesas, que j u n t o de seus maridos realizavam obra salutar em benefício das populações, ela também se dedicou, com sacrifício do seu bem-estar, a obras de promoção social e de benemerência para elevação do nível de vida e de civilização das populações mais atrasadas. Ela soube ser, deste modo, um digno prolongamento da acção governativa de seu marido e seu verdadeiro amparo nas horas difíceis de governação. Não há dúvida de que com o M a j o r COSTA M A T O S , o grande Distrito do Niassa veio a conhecer um novo surto de progresso em todos os ramos de actividade humana, estabelecendo, pelo seu bom critério, sentido de oportunidade, inteligência e f i r m e z a de decisão, em ocasiões que tal se torna cessário, um exemplo a seguir. Pelo que observamos, directamente, sob o seu governo austero e justo, as populações viviam confiantes e tranquilas, prontas a encarar o f u t u r o com determinação f i r m e , que lhes soube inspirar o Chefe do Distrito. N ã o queremos terminar estas linhas, com as quais pretendemos prestar o t r i b u t o de justiça que é devido ao M a j o r COSTA M A T O S , a quem admiramos, desde que, directamente observamos a obra extraordinária de valorização do Niassa, que realizou com acerto e elevado sentido de patriotismo, sem uma referência especial. Ela reflecte a sua preocupação honesta de acertar e honrar a distinção que mereceu, de vir governar um distrito de uma Província onde nasceu e que, por isso mesmo, mais pesadas se t o r n a m as suas responsabilidades, pois sobre si incidiram as atenções, não só dos que — 327 —


dirigem o Governo da Nação e da Província, como os milhões de naturais de Moçambique, para quem foi grata homenagem poder contar com o primeiro Governador do Distrito, natural de Moçambique. Essa afirmação sua encontramo-la em declcrações que fez, então, para a Imprensa moçambicana, nas quais sintetizou, desta maneira, as suas preocupações governativas : «A situação actual do Niassa, no sempre delicado ccmpo das relações humanas é francamente boa, não só pelos sentimentos que a n i m a m toda a população como também pela recta e isenta política social, que se está traçando e ainda pela intensa actividade de contactos que se têm estabelecido entre todos os sectores das populações. Isto é bem visível a quem visite o Niassa como já o têm f e i t o entidades estrangeiras que me têm abertamente transmitido as suas agradáveis impressões por t u d o que t ê m visto. Esta situação m u i t o contribui, portanto, para que se processe nas melhores condições o progresso de uma terra, que tudo dará, desde que homens de boa vontade a ela se dediquem afincadamente, como está sucedendo.» Numerosos melhoramentos caracterizaram o governo do M A J O R COSTA M A T O S , de que destacamos : a elevação à categoria de cidade V i l a Cabral, capital do Distrito do Niassa; criação da Escola Técnica Elementar; renovação total da electrificação da capital, cujas ruas foram asfaltadas durante o ano de 1965. Promoveu à criação da praia de Porto A r r o i o , nas margens do Lago Niassa, local m u i t o apreciado por moçambicanos e rodesianos; à urbanização de M e tangula, e à criação da Diocese de V i l a Cabral. M u i t o teríamos ainda a dizer da obra extraordinária de valorização e progresso realizada por este Governador, que, amando entranhadamente a terra onde nasceu, com o pensamento fixo na Pátria, realizou uma tarefa por todos compreendida e aplaudida. O Niassa, essa região maravilhosa de Moçambique, esteve por m u i t o tempo votada ao esquecimento. Graças à acção desenvolvida pelo Governador COSTA M A T O S , ela encontra-se em franco desenvolvimento, vindo, assim, contribuir para a valorização económica da Província e do próprio Niassa. Tudo quanto nos foi dado ver e apreciar nos deixou as melhores impressões.

1963 — 1 . ' Exposiçãa-Feira de Vila Cabral

Sucedeu-lhe na chefia do distrito, o coronel Nuno de Melo Egídio, que igualmente tem dado o melhor do seu saber e esforço, continuando e valorizando a obra de ressurgimento i n i ciada pelo seu antecessor. — 328 —


HISTÓRIA

DO

DISTRITO

DO

NIASSA

Os territórios do Niassa, que estavam sob a administração da Companhia do Niassa, foram reintegrados na administração directa do Estado, e separados em dois distritos, em Setembro de 1929. Assim ficaram constituídos os Distritos de Cabo Delgado e do Niassa. V i l a Cabral, capital do Distrito do Niassa, está situada a cerca de 1300 metros de altitude e a meia centena de quilómetros do Lago Niassa O atraente e progressivo centro dos nossos dias teve a sua origem na antiga povoação de Lichinga, pertencente à Circunscrição de M e t o nia. Em 17 de Novembro de 1945, recebeu o f i c i a l m e n t e a designação de Vila Cabral, numa homenagem ao antigo Governador-Geral, Coronel José Ricardo Pereira Cabral. Por portaria de 23 de Setembro de 1962 foi elevada à categoria de cidade, em reconhecimento do progresso verificado e da tenacidade de todos os que, com a sua presença e trabalho perseverante, contribuíram para o desenvolvimento da capital do distrito.

Hospital de Vila Cabral

V i l a Cabral, pelo clima ameno e pela sua situação geográfica, mereceu a distinção que lhe foi conferida. O arranque de desenvolvimento posto em execução pelo Governo tem justificado as esperanças postas nestes distritos, geográfica e economicamente importante. O Estado tem ali erguido várias construções, sendo de destacar o Palácio das Repartições, a Escola Técnica e a Aerogare; por sua vez, a iniciativa particular tem colaborado com entusiasmo. Com a extensão do caminho de ferro de Catur até à capital do distrito, mais um passo decisivo foi dado para a valorização da jovem cidade e do Concelho, cuja população era, pelo censo oficial de 1962, de 81 763 indivíduos. De Vila Cabral irradiam as estradas que a ligam com M e t a n g u l a e M a n i a m b a e que entroncam na estrada que segue para Port Johnson, no M a l a w i . De V i l a Cabral, as estradas estabelecem t a m b é m ligação para Nova Freixo, N a m p u l a e l i t o r a l , que fica a cerca de 800 q u i lómetros de distância. Pode dizer-se, do Distrito do Niassa, que é «uma terra nova que se encontra na fase do arranque para o progresso». O distrito é receptivo às mais variadas actividades agrícolas : do algodão, em Omaramba e M a r r u p a , ao t r i g o nos planaltos, ao café, tabaco, leguminosas e fruteiras, estando a ser efectuados ensaios com sojas, trigos e milhos. Dentro deste plano de arranque, foram já projectados os seguintes trabalhos : estudo do reajustamento a d m i n i s t r a t i v o do d i s t r i t o ; estudo e ampliação da rede Radiocomunicações; electrificação dos Postos A d m i n i s t r a t i v o s ; compra de tractores e alfaias para auxílio da assistência técnica ao agricultor. Está a ser encorajada, dadas as condições favoráveis de que se reveste, a instalação de pequenas indústrias : enlatados de f r u t a , salsicharia e lacticínios. Neste campo, prevê-se o aproveitamento industrial do Lago Niassa, em especial com a criação duma indústria de pesca que — 329 —


Praia c!e Porto Arroio — Lago Niassa

terá os seus pontos de apoio em M e t a n g u l a e Porto A r r o i o , respectivamente a 120 e 160 quilómetros de V i l a Cabral. Está a ser incentivada em grande escala a construção de escolas e postos sanitários em vários pontos do distrito e foram instalados nc sede delegações do Instituto dos Cereais, da Junta de Comércio Externo e dos Serviços de A g r i c u l t u r a .

Barcos na Base Naval de Metangula

M e t a n g u l a , no Lago Niassa, possui hoje uma Capitania de Portos com boas instalações, oficinas, plano inclinado, etc. Entretanto, procura-se desenvolver Porto A r r o i o (também nas margens do Lago) principalmente sob o ponto de vista turístico. Desenvolve-se na região conhecida por Nova Madeira um colonato formado por famílias madeirenses. Coda agricultor tem a sua casa sendo tecnicamente auxiliado pelos organismos do Estado. — 330 —


ABÍLIO DE SOUSA CRISTINA

A B Í L I O DE SOUSA C R I S T I N A é natural de Loulé, província do Algarve. Iniciou a sua vida no U l t r a m a r , em Comissão de Serviço, como m i l i t a r , em M a c a u , com a patente de 1.° Sargento, onde se manteve durante seis anos, após o que voltou à Metrópole. Em nova Comissão de Serviço, veio para Moçambique, onde esteve durante seis anos, reformando-se nessa a l t u r a , em 1946. A B Í L I O DE SOUSA C R I S T I N A , conhecedor do Niassa, vendo que havia grandes possibilidades de fixação, resolveu fixar-se em V i l a Cabral, dedicando-se à profissão de caçador. Mais tarde, em virtude da região ser fecunda em caça, vieram muitos outros caçadores. SOUSA C R I S T I N A deu por finda a sua vida de caçador.

Estabelecimento de Sousa Cristina

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Como nessa época não existiam lojas no mato, a não ser nas povoações grandes, e como espírito de iniciativa não lhe f a l t a v a , resolveu montar, com o que dispunha, construindo casas de «pau-a-pique» — g é n e r o de construção p r i m i t i v a — montando, assim, quatro lojas em diversos pontos da região do A l t o Niassa, em pleno mato. Anos antes de A B Í L I O DE SOUSA C R I S T I N A ter tomado esta iniciativa, havia saído uma lei que favorecia a abertura dessas lojas, lei com que o Estado procurava ajudar a fixação dos colonos. Iniciou a sua actividade comercial em 1947, adquirindo, para poder vigiar o seu negócio, um automóvel usado, marca «Ford», que nessa época lhe custou sete mil e quinhentos escudos, e com ele percorria, através de «picadas», as distâncias que mediavam entre as suas várias lojas. Sempre prosperando, acabou por possuir doze lojas, todas dispersas pelo mato. A B Í L I O DE SOUSA C R I S T I N A possui, a c t u a l m e n t e , sete lojas no mato e duas em Vila Cabral, sendo a maior a sede «do seu comércio. Votou-se de alma e coração à terra virgem mas fecunda, desta bela região do A l t o Niassa, que ama mais do que a sua província natal do Algarve. SOUSA C R I S T I N A é um pioneiro convicto e feliz. Nada mais desejando do que continuar a sua vida de comerciante, e de verificar com os seus próprios olhos, numa romagem de saudade, o progresso do Algarve, e regressar, depois, às terras do Niassa, que passaram a ser parte integrante dele próprio, que ama, e ajudou com o seu esforço, a civilizar e a progredir.

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VALIMAMADE JAMAL

V A L I M A M A D E J A M A L é filho de pais paquistaneses, que se f i x a r a m próximo da Ilha de M o ç a m b i q u e , numa área do Mossuril, chamada M o t o m o n h o , tendo-lhe sido dada por seus pais a nacionalidade portuguesa. Nasceu a 15 de Agosto de 1927. Seus pais são comerciantes. V A L I M A M A D E J A M A L quis seguir a vida de comerciante, estabelecendo-se em V i l a Cab r a l , no ano de 1953, no comércio geral e a retalho.

Caso Comercial de Valimamade Jamal

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Iniciou a sua vida de comerciante com um estabelecimento. Presentemente possui três. U m , é dedicado ao comércio para indígenas; outro a artigos orientais e para indígenas; e o terceiro a armazéns por atacado. V A L I M A M A D E J A M A L trabalhou, procurando economizar para se poder estabelecer, o que fez pelos seus próprios meios, sem a ajuda dos pais.

Casa Jamal

Em 1953, casou com uma portuguesa da região do lapala, no Distrito de Moçambique. T e m , a c t u a l m e n t e , três filhos. V A L I M A M A D E J A M A L é um espírito progressivo, homem trabalhador, que pretende continuar a aumentar a sua vida comercial, sentindo-se satisfeito por se ter fixado nesta região do A l t o Niassa, que atravessa um período de grande desenvolvimento. A esposa de V A L I M A M A D E J A M A L colabora com seu marido, encontrando-se à frente de um dos seus estabelecimentos, a atender a clientela. O prédio onde se encontram os armazéns por atacado é sua propriedade, e foi concluído em Janeiro de 1964, contribuindo com o seu esforço e perseverança para o progresso da c i dade de V i l a Cabral.

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JOSÉ ALVES COTRIM DA SILVA GARCEZ

JOSÉ ALVES C O T R I M DA SILVA GARCEZ nasceu na Metrópole, na freguesia de Rio Cimeiro, concelho de Ferreira do Zêzere. Veio para Moçambique com 25 anos de idade, empregando-se nas Obras Públicas, como assalariado, em N a m a p a , Distrito de Moçambique. Após um ano de trabalho nas Obras Públicas, colocou-se numa f i r m a comercial, em M a lema, onde se manteve durante nove anos. De M a l e m a veio para V i l a Cabral, onde comprou uma quota numa f i r m a existente, tornando-se por esta forma sócio dessa f i r m a . Sete anos volvidos, JOSÉ GARCEZ comprava as restantes quotas, ficando a pertencer-lhe c firma. As suas actividades comerciais não ficaram por aí, dividindo-se por vários sectores, dedicando-se ao comércio geral, vendas a retalho para europeus e indígenas. Possui, também, um talho e uma padaria. Igualmente se dedica à pecuária, possuindo mais de quatrocentas cabeças. JOSÉ GARCEZ é casado com uma metropolitana, nascida na mesma freguesia de Rio Cimeiro, tendo cinco filhos. Para este pioneiro das terras do Niassa, Moçambique é a sua terra, a quem vota um amor de f i l h o , que tudo tem feito para o seu progresso e desenvolvimento, sonhando sempre em vê-la cada vez mais engrandecida. É um homem que tem dado tudo por tudo, e revela, constantemente, esse amor à terra moçambicana, que ele adoptou como sua, dela falando com entusiasmo e carinho.

Casa Comercial de José Garcez

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Não é homem de letras, mas exprime nas suas palavras simples e claras, que sabe dizer o que sente e o que quer. É um homem rude mas de alma sensível, manifestando de forma inequívoca o seu portuguesismo. Tem sido com homens da têmpera de JOSÉ GARCEZ, de espírito empreendedor, de sacrifício e amor pátrio, de autênticos pioneiros, que as nossas Províncias Ultramarinas se construíram e ergueram, e serão pelos tempos fora um padrão imortal da gente lusa! JOSÉ GARCEZ construiu um prédio para habitação, comércio e indústria, empreendimento com o qual m u i t o valorizou a cidade de V i l a Cabral.

Prédio Garcez

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MANUEL BRAZ DA COSTA M A N U E L BRAZ DA COSTA nasceu na província do A l e n t e j o , em Santo A n t ó n i o das Areias, no concelho de Marvão. Veio de Lisboa para Moçambique. Estivera empregado na capital e tinha então 23 anos. Fixou-se na cidade da Beira, colocando-se na serração de um tio. Volvidos seis meses, BRAZ DA COSTA estabeleceu-se, passando a trabalhar por sua conta, comerciando em madeiras que eram vendidas para as Rodésias. Nove anos depois, veio fixar-se no Niassa, na intenção de continuar o comércio de madeiras, mas em virtude das dificuldades que então existiam, sobretudo nas comunicações, e t a m bém as grandes distâncias existentes, passou a dedicar-se à caça. Assim, foi caçador profissional durante nove anos.

Propriedade Agrícola Braz da Costa

Foi em Dezembro de 1958 que obteve uma concessão de trezentos hectares para fomento agrícola. M A N U E L BRAZ DA COSTA cultiva : milho, feijão e trigo. Igualmente se dedica à pecuária, possuindo cento e t r i n t a cabeças de gado bovino, bem como lanígero, com sessenta cabeças. BRAZ DA COSTA tem sido um verdadeiro pioneiro do Niassa, m u i t o contribuindo com a sua actividade para o desenvolvimento agrícola e económico deste distrito.

1963 — l. ; i

Exposição-Feira

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de Vila

Cabral


ÁLVARO PASSOS PORTUGAL

O pioneiro Á L V A R O PASSOS PORTUGAL nasceu na freguesia de Avelar, Distrito de Leiria. Em 1931 foi em comissão militar para a Ilha de Fernando Pó, onde se manteve até regressar à Metrópole, em 1936. Foi em M a i o desse ano que se veio fixar na Província de Moçambique, empregando-se na Companhia dos Algodões, que nesse tempo era uma empresa luso-luxemburguesa, onde trabalhou durante quatro anos. Depois, colocou-se noutra f i r m a , como gerente, que se dedicava à serração de madeiras, aí se mantendo durante cinco anos.

Estação de Serviço de Passos Portugal

Foi no ano de 1945 que veio para o Niasso, Vila Cabral, onde se estabeleceu com comércio geral e uma plantação de tabaco, em regime de sociedade. Á L V A R O PASSOS PORTUGAL, actualmente possui duas lojas de comércio geral e uma garagem com estação de serviço e oficinas. Durante estes anos que tem permanecido em Moçambique, apenas foi uma vez à M e t r ó pole, no ano de 1959. Casou em 1940, tendo duas filhas; a mais velha, já casada, fixou-se em Moçambique, e a mais nova é estudante. A f i r m a de Á L V A R O PASSOS PORTUGAL tem a designação de «Queiroz & Portugal, Lda.». Este é um dos homens que igualmente t e m contribuído com o seu esforço para o progresso da Província, e, nomeadamente, no Distrito do Niassa, na cidade de V i l a Cabral, onde se fixou há mais de duas dezenas de anos.

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JOAQUIM ROBALO SALVADO

J O A Q U I M ROBALO S A L V A D O é natural da freguesia de M e d e l i m , concelho de Idanha-a-Nova. Veio para V i l a Cabral em Março de 1953, com a idade de 24 anos. A sua primeira colocação foi como empregado comercial na f i r m a de Álvaro Cruxinho, em V i l a Cabral, onde se manteve durante seis anos, ao f i m dos quais se estabeleceu sozinho, no comércio geral. Iniciou a sua vida comercial com um estabelecimento que arrendou, desdobrando, sucessivamente, com mais três estabelecimentos, sendo u m , dedicado exclusivamente a material eléctrico. Faz parte do seu comércio, uma casa de modas, uma mercearia e papelaria, uma de ferragens e materiais de construção. É agente de : Sonap de M o ç a m b i q u e ; Companhia de Segundos «A M u n d i a l » ; máquinas de costura Singer; pneus «Mabor» e relógios «Omega» e Tissot». É distribuidor de : rádios «Philips» e frigoríficos «Electrolux». Tem a trabalhar, como seu colaborador, um irmão, além de sete empregados europeus J O A Q U I M ROBALO S A L V A D O é casado, tendo dois filhos. I gualmente pertence ao Conselho Legislativo de V i l a Cabral.

Fachada do Estabelecimento de Robalo Salvado

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MANUEL FRANÇA DE LIMA

M A N U E L F R A N Ç A DE L I M A nasceu na Ilha da M a d e i r a , em 1922. Veio para M o ç a m b i que em 1950. É casado, tendo quatro filhos nascidos na Província. 0 primeiro lugar que teve, quando chegou a Moçambique, foi como feitor agrícola, durante dois anos, no Distrito de Lourenço Marques. O seu sonho, no e n t a n t o , era tornar-se agricultor por conta própria. Procurando melhor oportunidade, partiu para a Z a m b é z i a , onde trabalhou durante cinco anos, procurando economizar durante esse tempo o necessário para poder realizar os seus sonhos. Em 1957, ouvindo falar nas possibilidades do planalto de V i l a Cabral, deixou a Zambézia com destino ao Niassa, onde se fixou na propriedade da f i r m a Socigel, passando, alguns meses depois, para uma concessão que pedira, e assim se estabeleceu como agricultor, seu desejo de sempre.

Propriedade Agrícola de França de Lima

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Os três primeiros anos foram m u i t o duros, de grandes lutas. Após seis meses de iniciados os trabalhos agrícolas, já F R A N Ç A DE L I M A t i n h a esgotado as suas economias, que eram quarenta e seis contos. Esta quantia t i n h a sido gasta só nos trabalhos de derruba e capinagem dos terrenos. Devido à sua enorme persistência e grande força de vontade, auxiliado por uns e encorajado por outros, conseguiu vencer todas as grandes dificuldades que se lhe depararam, passando, após negros anos de lutas, que a muitos quebraria o ânimo e desejo de prosseguir, a tirar, f i n a l m e n t e , os frutos da sua propriedade e do seu labor. A princípio trabalhou a terra à enxada, depois, a lavrá-la com uma j u n t a de bois, o que tornava as culturas bastante oneradas, com o pouco rendimento desse sistema. Hoje, com um tractor e respectivas alfaias, cultiva 100 hectares,: com culturas de trigo, milho, grão, batata e outros.

1." Exposição Feira de Vila Cabral, em 1963

Há dois anos antes, o rendimento da propriedade, não ia além de oitenta contos. A c t u a l mente, possui, t a m b é m , um estabelecimento comercial e tem uma moagem de milho e respectivos armazéns. M A N U E L F R A N Ç A DE L I M A foi um homem m u i t o trabalhador e honesto, considerado no meio agrícola do Niassa, não só pelos europeus como pelos nativos. Foi um verdadeiro pioneiro das terras do Niassa, que mercê do seu espírito empreendedor, conseguiu vencer todas as dificuldades que se lhe depararam, trazendo com o seu esforço, o progresso e o desenvolvimento agrícola a esta região da Província de Moçambique, onde sucumb i u , por grave desastre, já depois de escrita a sua biografia.

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PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO AMÉLIA O tenente T I T O X A V I E R , actual Presidente da Câmara Municipal de Porto A m é l i a , é um jovem oficial nascido na Metrópole, que ao vir para Moçambique em 1957, cumprir o serviço m i l i t a r , se enamorou da terra moçambicana.

0 Presidente da Câmara Municipal de Porto Amélia, Tenr. Tiro Xavier quando assinava um contrato com o Banco de Fomento

O tenente T I T O X A V I E R cursou o Colégio M i l i t a r , e com a patente de alferes foi mandado para N a m p u l a , onde esteve a prestar serviço durante oito meses, sendo em seguida transferido para Porto A m é l i a , onde permaneceu quatro anos, após o que regressou à Metrópole, em virtude de ter terminado a sua comissão. Porém, Á f r i c a ficara-lhe no coração e m u i t o p r i n cipalmente Porto A m é l i a , cujas belezas naturais t a n t o o cativaram. Assim, pouco tempo se deteve na Metrópole, desejoso de voltar a Moçambique, de que, rapidamente, ficou saudoso. Pouco depois é nomeado A d j u n t o M i l i t a r do Governador, bem como Comandante da O.P.V., em Cabo Delgado, e é com esses novos cargos que volta à Província. A c t u a l m e n t e , o tenente T I T O X A V I E R , além de Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Porto A m é l i a , é o comandante da Guarda Fiscal e comandante da F.A.V. 3 0 4 , pois possui o «brevet» de piloto. Em A b r i l de 1968 é convidado para Presidente da Câmara M u n i c i p a l , lugar que aceita e pouco depois assume, o qual t e m desempenhado com o maior zelo e devoção. Quando o tenente T I T O X A V I E R voltou a Porto A m é l i a , o terrorismo tinha começado a deflagrar no norte da Província, e desde logo se viu ligado, por força das circunstâncias, aos variados problemas surgidos por tal facto. De então para cá, tem desenvolvido acção notável em todos os sectores a que se encontra ligado, c que tem merecido justos elogios. Ele nos a f i r m o u : — «Desde que assumi a presidência na Câmara, tudo tenho feito para que a população viva, sinta e concorra nos problemas da sua terra. Não quero uma Câmara isolada mas a viver no meio das pessoas. Graças a Deus, tenho sido correspondido e a cidade vai andando lenta mas segura». Todos são unânimes em a f i r m a r que, sob a égide do seu mandato, a cidade de Porto A m é l i a m u i t o tem progredido. É, ainda, o dinâmico e jovem Presidente da Câmara quem nos a f i r m a : — «Tenho dois filhos aqui nascidos e o pai quer que tenham uma cidade m u i t o mais maravilhosa do que ele conheceu». Não pomos dúvida de que assim venha a suceder, tal qual como não duvidamos, t a m bém, de que ele será mais um metropolitano cujo nome e obra de progresso vão ficar, para sempre, ligados à obra civilizadora de todos quantos t ê m , de qualquer maneira, contribuído para o seu engrandecimento! — 342 —


HISTÓRIA

DO

DISTRITO

DE CABO

DELGADO

E SUA CAPITAL — PORTO

AMÉLIA

Vista aérea do porto e da cidade

Na História de Porto A m é l i a f i g u r a , com primacial relevo, o Tenente da Armada Portuguesa Jerónimo Romero, que iniciou a ocupação da Baía de Pemba — s e u nome primitivo — a 8 de Dezembro de 1857, desembarcando da escuna «Angra» e hasteando a bandeira portuguesa no lugar de M e t u g e , j u n t o à foz do rio Muagide. Com Jerónimo Romero desembarcaram sessenta colonos, de ambos os sexos, que vinham da Metrópole na escuna « A n g r a » , tendo sido a instâncias suas que foi publicada a portaria de 7 de Fevereiro de 1857, pelo M i n i s t r o da M a r i n h a e U l t r a m a r , que era, então, o Visconde de Sá da Bandeira. Depois de escolhido o local, os colonos estabeleceram-se na margem ocidental da baía para se dedicarem à a g r i c u l t u r a , local esse chamado Paquitequete, que era de mais fácil acesso. Nos princípios de 1858, Jerónimo Romero construía, à entrada da baía, um forte, para sua defesa, que ficou a ser conhecido pelo «Forte Romero» e que, em 1943, foi considerado M o n u m e n t o Nacional. Construídos alguns barracões para acomodação dos colonos e guarda dos materiais, inaugurou-se a ocupação nesse dia 8 de Dezembro de 1857 — d i a da Padroeira de P o r t u g a l — , ficando, por esse f a c t o , a denominar-se o «8 de Dezembro». Depois, a escuna «Angra» continuou ali para proteger os colonos, por ordem do Governo da Província, seguindo para a Ilha do Ibo, um pouco mais para cima da Baía de Porto A m é l i a , Jerónimo Romero. — 343 —


Palácio do Governo

O Distrito de Cabo Delgado tem uma área de 78 374 quilómetros quadrados. É limitado : ao norte, pelo rio Rovuma (fronteira com o Tanganhica); ao sul, o rio Lúrio, que serve de fronteira com o Distrito de Moçambique; a leste o Oceano Índico (canal de Moçambique); a oeste, os rios Lugenda, Lucinge e Munguaca. As divisões administrativas do distrito compreendem : Porto A m é l i a , Ibo, Mocímboa da Praia, Montepuez, M a c o m i a , Macondes, M e c ú f i , Palma e Quissanga. A população do distrito era, pelo censo oficial de 1960, de 546 648 indivíduos, pertencentes aos ramos macua, maconde, suáhili, agáua, muage, chaca, medo, maravi, maca e andonde. Parte do distrito esteve sob a administração da Companhia do Niassa desde 1 8 9 1 , voltando à administração directa do Estado em 27 de Outubro de 1929. Nessa a l t u r a , o Governo dividiu a região do Niassa em dois distritos : Cabo Delgado e Niassa, dando-lhes governo comum, governo que foi separado um ano depois. O distrito conta com cerca de 3100 quilómetros de estradas. Existem campos de aviação servidos por carreiras regulares (Porto A m é l i a e Mocímboa de Praia), além de outros campos servidos por aeronaves de menor envergadura. A agricultura tem vindo a desenvolver-se lentamente. O Distrito de Cabo Delgado é m u i t o pobre em pecuária, em grande parte devido à incidência da mosca tsé-tsé, que tem vindo a ser combatida peia Missão de Combate às Tripanossomíases, com uma divisão de trabalhos instalados em diversos pontos da região. No campo de etnografia e do folclore, destaca-se, no Distrito de Cabo Delgado, o povo maconde, cuja escultura em madeira constitui um dos índices mais interessantes de arte a f r i cana em todo o Continente. No distrito cultiva-se o sisal, arroz, algodão, gergelim, mandioca, amendoim e castanha de caju. Porto A m é l i a — h o j e capital do Distrito de Cabo D e l g a d o — , cuja cidade vai crescendo alindada por bonitos bairros residenciais, a mirar-se nas águas azuis de uma das mais belas baías do m u n d o ! — tem-se desenvolvido com m u i t a lentidão. Assim, só em 1934 —a 19 de D e z e m b r o — passou a ser uma v i l a , e a cidade em 18 de Outubro de 1958. Foi com a criação do Governo do Distrito, em 1956, que Porto Amélia se começou a desenvolver, sofrendo, de então para cá, um grande surto de progresso e desenvolvimento. — 344 —


Porque deixou a Baía de Pemba de ser designada pelo seu nome nativo? Foi a Companhia do Niassa — uma Companhia Majestática — que quis prestar homenagem às altas virtudes de Sua Majestade a Rainha D. A m é l i a , pedindo que fosse autorizado a chamar àquela povoação PORTO A M É L I A , o que foi concedido por assinatura, no Paço de Lisboa, a 22 de Novembro de 1899. Porto A m é l i a tem condições excepcionais de beleza, fazendo lembrar as famosas Ilhas do Haway, pois a l i , a natureza é rica de cores e amena de clima. Se se fomentar o turismo, Porto A m é l i a poderá tomar-se numa cidade de linhas modernas, maravilhosa, aproveitando-se as suas condições magníficas e naturais que possui e a circund a m , fazendo, ou podendo fazer-se, de Porto A m é l i a um «paraíso» de férias! A sua beleza deslumbra a quem lá vai. A i n d a sobre o turismo nesta região, queremos aqui deixar expresso algumas notas acerca de um artigo publicado em 1965, no jornal de Salisbúria, o «The Rhodesie Herald», que se referia com destaque, ao facto de Porto Amélia ir ter em breve uma pousada, o que a poderia transformar num dos mais aprazíveis locais de turismo da costa oriental africana. Referindo-se ainda à grandiosidade da Baía de Pemba —a terceira do M u n d o — aquele jornal rodesiano termina a f i r m a n d o «que Porto A m é l i a , devido à sua magnífica praia do Imbe, tem condições para vir a ser um dos mais importantes centros do turismo de Á f r i c a » .

¥;l:

Aspecto da Praia

No Ibo, a Comissão M u n i c i p a l daquela histórica para quantos se deslocam a Porto A m é l i a possam ir gem e apreciar as relíquias-monumento que atestam naquelas paragens. Em toda aquela região as águas tica da pesca submarina.

v i l a , pretende construir ali uma pousada às Quirimbas gozar a maravilhosa paisaos primeiros passos da nossa colonização são cristalinas, sendo óptimas para a prá-

Estamos crentes que Porto A m é l i a vai continuar a progredir, não só para chamar a si os turistas e enriquecer a sua economia, como também para engrandecimento e progresso da Província de Moçambique, cuja orla marítima é um manancial inesgotável de belezas!

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SOCIEDADE AGRÍCOLA ALGODOEIRA — SAGAL

A SOCIEDADE AGRÍCOLA ALGODOEIRA — S A G A L — foi constituída em 15 de Dezembro de 1933, tendo a sua sede em Porto A m é l i a , capital do Distrito de Cabo Delgado, com o capital social de t r i n t a mil contos. De acordo com os seus estatutos, a SAGAL tem por objectivo a exploração agrícola e industrial do algodão ou de quaisquer outras culturas nas Províncias Ultramarinas, podendo, igualmente, subscrever com capital ou participar, por qualquer forma, noutras empresas.

Aspecto da edifício da Sede da «SAGAL» em Porta Amélia

A SAGAL possui fábricas de descaroçamento e prensagem em Montepuez e M a a t e . Tem plantações de sumaúma em N a m a r a , Meloco, Balama, Mesa e Namuno. Em 31 de Outubro de 1963, a SAGAL desistiu da sua actividade como concessionária de zonas algodoeiras, passando a ser produtora a u t ó n o m a ; comerciante e industrial de descaroçamento e prensagem de algodão, nos termos da nova legislação que, então, foi posta em vigor quanto ao sector algodoeiro da Província de Moçambique. É larga a projecção económica da SAGAL, em Cabo Delgado, onde a produção algodoeira constitui a mais importante cultura de rendimento do distrito e o seu mais elevado valor de exportação. A l é m da sua actividade no sector algodoeiro, a SAGAL é também produtora-exportadora de sumaúma e Agente comercial e representante de empresas nacionais e estrangeiras, como por exemplo, de : combustíveis e lubrificantes « C a l t e x » ; Companhia de Seguros «Lusitana»; Companhia Colonial de Navegação; pneus e câmaras-de-ar «Mabor». A SOCIEDADE A G R Í C O L A ALGODOEIRA é uma das mais importantes do Distrito de Cabo Delgado, que m u i t o contribui para o progresso económico da Província.

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A PIONEIRA MAIS ANTIGA DE MOÇAMBIQUE

D. MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES

Fomos encontrar em Porto A m é l i a , a pioneira senhora D. M A R f A DA CONCEIÇÃO NEVES, simpática senhora de 86 anos de idade — porventura a mais antiga residente moçambicana nascida na Metrópole, de onde veio em 1907, ano em que chegou a Lourenço Marques, vindo acompanhada de seu marido, que era m i l i t a r , e vinha para Moçambique em missão de serviço, para a Companhia do Niassa, que mais tarde passou para o Estado. A senhora D. M A R I A DA CONCEIÇÃO 1909, exercendo o mister de professora, na panhia de uma f i l h a , que é também viúva, CONCEIÇÃO tem vários netos e bisnetos. Faculdade de Letras de Lisboa.

NEVES chegou a Porto A m é l i a em 9 de Abril de Companhia do Niassa. A c t u a l m e n t e vive na comcom 63 anos de idade. A senhora D. M A R I A DA Ume sua bisneta —a mais v e l h a — é aluna da

A senhora D. M A R I A DA CONCEIÇÃO NEVES, que nasceu a 8 de Dezembro, conserva perfeita lucidez, falando-nos de factos antigos que se passaram no distrito e em Porto Amélia, onde já reside há 66 anos! Esta senhora é uma das muitas portuguesas que, valentes e resolutas, vieram com sua presença acompanhar e ajudar os seus maridos na tarefa de civilizar! Mulheres a quem foi necessária m u i t a coragem e sacrifício, de que as gerações modernas são, no presente, as beneficiárias e as continuadoras da sua obra! A q u i prestamos homenagem a esta senhora, uma pioneira da terra moçambicana. A senhora D. M A R I A DA CONCEIÇÃO NEVES faleceu em fins de Junho de 1969, quando esta obra se encontrava no prelo. — 347 —


CLUBES

DESPORTIVOS

DE

DE

PORTO

PORTO

AMÉLIA

E

GRUPO

CÉNICO

AMÉLIA

Porto A m é l i a possui alguns clubes desportivos. O Clube Desportivo de Porto A m é l i a , onde se pratica Futebol, Futebol de Salão, Basquete feminino, Voleibol e Ténis. O Clube Vasco da Gama tem duas equipas de futebol e patinagem da classe i n f a n t i l . A Associação Desportiva de Pemba, que se dedica ao futebol e possui um rinque de p a t i nagem. Existe, ainda, o Estádio M u n i c i p a l . O Grupo Cénico de Porto A m é l i a estreou-se a 9 de Fevereiro de 1963. A criação deste grupo cultural deve-se a José Silvestre Cortez e a Rafael de Bulhão Pato — descendente do célebre escritor português, Bulhão Pato.

Revista

«PÓ, CALOR . . .

E MARESIA»

Deram também a sua valiosa colaboração as senhoras D. M a r i a Helena Lago Ferreira e Fernanda Soares Guilherme, que representaram. Igualmente fazem parte do Grupo Cénico, dois médicos : Dr. Manuel Simões Coelho e Dr. Camilo de A r a ú j o . A c t u a r a m na direcção musical do primeiro espectáculo e, ainda, um como autor e outro como encenador. A primeira peça chamava-se «O Doido e a M o r t e » , de Raul Brandão, e a revista de sabor local «Pó, Calor . . . e Maresia». No segundo espectáculo, o Grupo apresentou a peça «O Urso», de A n t o n Tchekov, e a revista de sabor local «Atracou o Troça N o v a » , que se efectuou em M a r ç o de 1964. 0 terceiro espectáculo foi dado em Agosto de 1964. — 348 —


Pescador desportivo exibindo o belo exemplar

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pescado


ÍNDICE DISTRITO

DE

LOURENÇO

MARQUES

A razão por que se fez este livro Um A g r a d e c i m e n t o África Governador-Geral Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques Vice-Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Lourenço Marques Lourenço Marques Estudos Gerais Universitários Sociedade de Estudos de Moçambique Rodrigues Júnior Conchita Breton Poetas d e M o ç a m b i q u e . . . . . . . . . Historiador, Escritor e Jornalista A l f r e d o Pereira de L i m a Marrabenta Rádio Clube de M o ç a m b i q u e Associação dos Velhos Colonos Grupo Desportivo 1.° de M a i o Clube Ferroviário de M o ç a m b i q u e Clube Naval de Lourenço Marques Clube de Golfe da Polana Sporting Clube de Lourenço Marques Clube de Pesca Desportiva de Lourenço Marques Clube M a r í t i m o de Desportos A n t ó n i o M e l o Pereira João T e r r a m o t o M a n u e l Augusto Rodrigues Capitão M a n u e l Simões V a z Transportes de M o ç a m b i q u e Banco Nacional U l t r a m a r i n o . . . . . . . . Empresa Pecuária do Sul do Save, Lda Abel Acácio de Azevedo Breyner & W i r t h Firma M a r t h a da Cruz e Tavares Companhia de Seguros Nauticus Lar M o d e r n o Os Pioneiros da Indústria Cervejeira em M o ç a m b i q u e Companhia Industrial da M a t o l a Casa Coimbra Filipe Dicca Sociedade Agrícola de Tabacos, Lda Vassilis Gianouris Pendray & Sousa Giuseppe Buffa Buccelatto Sorabjee Ginwala M i n e r v a Central Protal Júlio Gomes Ferreira Empresa das Águas d e M o n t e m o r . . . . . . A n t ó n i o A u g u s t o Gemelgo M a n u e l Nunes Fábrica Nacional de M o a g e m e Massas Alimentícias, Lda

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«SIPAQ» — S o c i e d a d e Industrial de Produtos Alimentícios Químicos, Lda Justo Menezes Hotel Polana Aida Sorgentini Cooperativa dos Criadores de Gado FACOBOL — Fábrica Colonial de Borracha Laurentino Borges Casa Eduardo Silva Um Casal de Pioneiros Reserva de Elefantes do M a p u t o A Coutada de Chicualacuala A visita do Presidente do Conseího DISTRITO DE G A Z A

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M o u z i n h o de A l b u q u e r q u e Governador do Distrito de Gaza Hélder Flores O Colonato do Vale do Limpopo

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DISTRITO

DE

INHAMBANE

Governador d o Distrito d e Inhambane A l f r e d o Lopes Tomé Joaquim Alves . . . . . . .

DISTRITO

DE

MAN1CA

E

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DA

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SOFALA

Governador d e M a n i c a e Sofalg . . . . . Imagens da Beira Associação Comercial da Beira Biografia dos Irmãos Lopes Lusalite de M o ç a m b i q u e José e M a n u e l Lopes Bulha Celmoque M a n u e l Xavier da Gama Lobo Salema Caetano Lopes Saul Brandão Companhia de Seguros — «A M u n d i a l de Moçambique» Companhia T ê x t i l do Púngoè Sami Coen A « I P M A L » — Indústria Portuguesa de Madeiras, Lda Eng.° João Meneses Caiado Cabral Carlos Ferrão A r m a n d o Dias M o n t e i r o A e r o - C l u b e da Beira M a n u e l Rodrigues Pinho José Pádua Centro de C u l t u r a e A r t e da Beira Rádio Pax M o t e l Estoril A Cinegética no Distrito de M a n i c a e Sofala Sociedade de Safaris, Lda O Parque Nacional da Gorongosa Companhia do Búzi V i l a Pery Hidro-Eléctrica do Revuè Zembe Plantations Edmundian Investments, Ltd Textáfrica

DISTRITO

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ZAMBÉZIA

Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Quelimane História de Quelimane História do D i s t r i t o do Z a m b é z i a Sociedade Agrícola do M a d a l Pioneiro d a Indústria Açucareira e m M o ç a m b i q u e — John Empresa M i n e i r a do A l t o Ligonha Grémio dos Plantadores d o Distrito d a Z a m b é z i a . . Manuel Saraiva Junqueiro José Farinha M i g u e l

Peter .

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Hornung .

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Cooperativa Agrícola do Gúruè O Presidente da Cooperativa do Gúruè Os Colonatos de Alverca e M a m b o n e A l b e r t o Pinto Carneiro Clube do Gúrué Pioneiros da Indústria do Chá em M o ç a m b i q u e

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DISTRITO DE TETE Governador do Distrito de T e t e Presidente da Câmara M u n i c i p a l História do Distrito de T e t e Vicente Ribeiro de Castro Agostinho Lopes Rêgo Emílio Mendes Cerejo

DISTRITO

DE

de

MOÇAMBIQUE

Governador do Distrito de M o ç a m b i q u e Algumas Notas sobre o Distrito Pedro Baessa A p o n t a m e n t o Histórico sobre N e u t e l de A n t ó n i o Marques João Ferreira dos Santos João Ribeiro de Paiva « SOCAJU »

DISTRITO

DO

DE

Abreu . .

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NIASSA

Governador do Distrito do Niassa História do D i s t r i t o do Niassa V a l i m a m a d e Jamal José C o t r i m da Silva Garcez M a n u e l Braz da Costa Á l v a r o Passos Portugal Joaquim Robalo Salvado M a n u e l França de L i m a

DISTRITO

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Tete

CABO

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DELGADO

Presidente da Câmara M u n i c i p a l de Porto A m é l i a História do D i s t r i t o de Cabo Delgado e sua Capital SAGAL . D. M a r i a da Conceição Neves Clubes Desportivos e Grupo Cénico

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