1969 1972 Álbum Etnohistorico das ilhas de Querimba, Ibo e Matemo
Carlos Lopes Bento
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ALBUM ETNOHISTÓRICO DAS ILHAS MOÇAMBICANAS DO IBO, QUERIMBA E MATEMO (1969-1972)
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2022 AGRADECIMENTOS Ao meu Ilustre amigo Jaime Gabão pela publicação no seu BLOG ForEver PEMBA de inúmeros trabalhos da minha investigação sobre as Ilhas de Cabo Delgado. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho, com muita gratidão e amor, aos meus saudosos Pais Elisa e David e á minha adorada Esposa Maria Augusta, que Deus chamou a Si. INDICE ABREVIATURAS
Adm - Administrador Com - Comandante Gov - Governador Prof - Professor INTRODUÇÃO 1 - SITUAÇÃO GEOGRÁFICA 2 - RESENHA HISTÓRICA DAS ILHAS 3 - ILHA DO IBO 3.1 - VISTAS PANORÂMICAS 3.2 - PAISAGEM NATURAL 3.3 - PAISAGEM HUMANA: a população multiétnica e pluricultural 3.4 - ATIVIDADES ECONÓMICAS: agricultura, pecuária, pesca, caça, artes e ofícios 3.5 - A VILA DO IBO 3.5.1 - PATRIMÓNIO EDIFICADO: habitações, fortificações, edifícios públicos, templos religiosos e ruínas 3.5.2 - PORTO DO IBO: atividades marítimas e tipos embarcações 3.6 0 - O BAIRRO RURURBANO 3.6.1 - VISTAS PANORÂMICAS 3.6.2 - PAISAGEM HUMANA 3.6.3 - PATRIMÓNIO EDIFICADO: habitações e quintais 3.6.4 - TRANSFORMAÇÃO DOS CAMINHOS PEDONAIS CORÁLICOS EM ARRUAMENTOS, entre 1969 e 1972 4 - ILHA DE QUERIMBA
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4.1 - VISTAS PANORÂMICAS 4.2 - PAISAGEM NATURAL 4.3 - PAISAGEM HUMANA 4.4 - PATRIMÓNIO EDIFICADO: edifícios públicos, templos religiosos, habitações 4.5 - ATIVIDADES ECONÓMICAS: agrícola, piscatória e artesanal 5 - ILHA DE MATEMO 5.1 - VISTAS PANORÂMICAS 5.2 - PAISAGEM HUMANA 5.3 - ATIVIDADES ECONÓMICAS: agrícola, piscatória e artesanal
PALAVRAS FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Utilizou-se neste trabalho a antiga ortografia
INTRODUÇÃO Da informação recolhida durante o trabalho de campo socio antropológico, por nós realizado em Moçambique, durante a ocupação colonial, no concelho do Ibo, - ilhas do Ibo, Querimba e Matemo -, entre 1969 e 1974, fazem parte centenas de registos fotográficos que retratam uma realidade objetiva e afirmam “o que realmente foi” sendo provas irrefutáveis da sua identidade e do seu passado socioétnico, económico e político. Por entender que a fotografia, como fonte auxiliar da História e registo referencial, é um documento que nos fornece tanto as múltiplas informações e significados dos lugares, da vida das populações e da ecologia que lhes serve de suporte, como também permite um contato direto com um contexto histórico e um momento cultural que já não existe, resolvemos divulgar uma parte da nossa colecção de imagens, inserindo-a num Álbum Etno Histórico. Este Álbum, como documentário etnoantropológico, topográfico e toponímico do espaço geográfico considerado, permite-nos não só conhecer alguns dos traços da identidade cultural dos lugares, gentes e acontecimentos do concelho do Ibo, como também avaliar a sua evolução social. Todas as fotografias do Álbum, agrupadas por ilhas, que abordam variadas temáticas da realidade humana, sociocultural e económica das ilhas do concelho do Ibo, existente nas datas supras, são comentadas, não só com a ajuda de informação recolhida durante o trabalho de campo, como também com dados, de fontes primárias, resultantes da pesquisa histórica realizada em várias bibliotecas: Arquivo Histórico Ultramarino, Arquivo Histórico de Moçambique, Sociedade de Geografia de Lisboa, Marinha, Academia das Ciências. Na sua organização incorpora-se, abaixo de cada imagem, com 4
títulos curtos e objetivos, informação, tanto pessoal, como também a obtida através da pesquisa bibliográfica. Trata-se de um Álbum com as suas imagens legendadas e comentadas que ajudarão a conhecer e desvendar muitos aspetos da situação colonial extinta em 1975, atualmente, menos conhecidos e esclarecidos e contribuirá para construir a Nova Historiografia de Moçambique, que, ao mesmo tempo, também é de Portugal. Moçambicanos e Portugueses viveram juntos, quase 500 anos e por isso, com base nos factos da vida do dia-a-dia, da vida em comum, moldada à custa de situações de cooperação, competição e conflito, construíram uma indesmentível realidade histórica e social, que é preciso levar ao conhecimento das catuais e futuras gerações. Negar e esquecer esse passado comum, nem sempre pacífico e cooperante, é falsear o presente e limitar os horizontes do futuro. Agradecimentos a meu amigo Carlos Ladeira, que, com mágoa nossa, já nos deixou, pela informação e conselhos que nos forneceu e ao meu neto André Filipe Bento de Oliveira pelo paciente trabalho que realizou, tendo em vista a melhoria da qualidade das fotografias constantes do Álbum. Este trabalho ganhou relevância com a destruição, no distrito, antigo concelho, do Ibo de grande parte do seu património imaterial e material, causada, em abril de 2019. pelo ciclone Kenneth.
Fig. 1 - Trabalho de campo, na vila do Ibo. O autor entrevista Valentim Mujaca
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1 - SITUAÇÃO GEOGRÁFICA DAS ILHAS DE QUERIMBA
Fig. 2 - A situação geográfica
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Parte integrante do território moçambicano, as ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado, estão situadas no litoral mais setentrional de Moçambique e no canal do mesmo nome, entre o rio Rovuma (11° 20' Lat. e 38° 36' Long.) e a baía de Pemba (13° 05' Lat. e 42° 32' Long.) Distando cerca de 60 léguas da ilha de Moçambique e com uma extensão aproximada de 40, as ilhas do arquipélago, em número de 3 dezenas (28 para uns autores, 32 para outros), não contando com os ilhéus, estão dispostas em forma de rosário, formando de Cabo Delgado para sul um longo e temeroso paredão, paralelo às terras firmes, estando destas afastadas, em média, cerca de 10 milhas. Próximas umas das outras - menos de uma dezena de milhas - e de pequena superfície – orograficamente, as ilhas são caracterizadas por pequenas altitudes que oscilam entre os 4 e 30 metros. Mas a maioria delas não ultrapassa a cota da dezena de metros. Nelas não existe qualquer curso de água e nas terras firmes adjacentes, com algum significado, apenas temos dois rios: o Messalo e o Montepuez. O clima pode classificar-se, de grosso modo, como um clima tropical subhúmido, sujeito ao regime das monções, responsável, em longa medida, pelas duas estações anuais distintas - a das chuvas que vai de novembro a março e a seca que corresponde aos meses de abril a outubro caracterizadas por uma distribuição pluviométrica desigual e irregular ao longo do ano (aproximadamente 700 mm/ano). Os solos das ilhas são constituídos, essencialmente, por rochas corálicas, areia e algum húmus resultante da fraca vegetação arbórea que as cobre. A natureza dos solos, conjugada com o regime das chuvas, tornaram as terras insulares pouco propícias para a agricultura. Exceção feita a parte da ilha de Querimba, em que predominam alguns solos de qualidade para aquela atividade.
2 - RESENHA HISTÓRICA DAS ILHAS DE QUERIMBA Fazendo parte de um sistema geológico mais vasto que integra o conjunto das ilhas situadas na Costa Oriental de Africa, a leste e norte de Moçambique, as Ilhas de Querimba pelos seus múltiplos fatores eco geográficos, desempenharam um papel estratégico de relevo nos intensos movimentos comerciais, religiosos e piráticos encetados, desde o sec. VIII DC, por povos de proveniência diversa (..., árabes, persas, suaílis, indianos, chineses, portugueses, franceses, wasakalava, ingleses,...), constituindo um território privilegiado, fértil em contactos, choques e interpenetrações de culturas, um espaço de cooperação, competição e de conflito, um local propício a transformações biológicas e socioculturais. Conquistadas pelos Portugueses, em 1523, foram palco, entre o último quartel do século XVIII e o primeiro do seguinte, de agressões violentas e conflitos armados perpetrados por comerciantes e marinheiros chegados do exterior, por via marítima: os comerciantes ajojo e mulale vindos do norte e leste de Cabo Delgado; os franceses e seus corsários, sediados nas ilhas de França e Reunião; e os sakalava marinheiros dedicados à pirataria, provenientes de Madagáscar. 7
Segundo frei João dos Santos, “todas estas ilhas são muito sadias e muito bons ares, particularmente Querimba, a ilha de Cabo Delgado e das Cabras.”. Há em todas elas” muitas criações de vacas, muito mansas, (…) Grandes criações de porcos e cabras fertilíssimas, muitas criações de galinhas e pombas mansas, (…) tem muitos palmares que muito vinho e cocos, (…) …, algumas hortas e quintais com romeiras, laranjeiras, limeiras e figueiras da India, … há muita erva de que se faz o anil. Este é o anil de que os mouros fazem as suas tintas para tingir o fiado de algodão e seda, de que em todas estas ilhas fazem os ricos panos para se vestirem as mulheres, assim portuguesa, com mouras e também os mouros graves. Estes panos tecem os mouros, que nestas ilhas há grandes tecelões, aos quais chamam tecelões de Miluane, cujos panos são muito estimados dos reis Cafres de Sofala e Rios de Cuama”.1. Em 1972, das 20 ilhas povoadas no século XVI e parte do XVII, apenas as de Matemo, Ibo, Querimba e M'funvo eram habitadas. Há vestígios do seu povoamento anterior em Amisa, Macaloé e Quisiwa.
3 – A ILHA DO IBO A ilha do Ibo, uma das ilhas que integram o arquipélago das Querimbas ou de Cabo Delgado, faz parte do território litorálico norte de Moçambique e é a 4ª ilha em superfície, com apenas 15 Km² (5x3). Situada a sul da ilha de Matemo e a norte da ilha de Querimba, possui um riquíssimo património humano e histórico resultante dos intensos movimentos comerciais e religiosos já referenciados. Capital dos governos subalternos e de distrito, entre 1764 e 1929, com porto de cabotagem e alfândega, a partir de 1787, a ilha do Ibo foi uma realidade sociocultural complexa, constituída "biologicamente pela miscigenação, economicamente pela técnica escravocrata de produção e, sociologicamente, pela interpenetração de culturas”, tendo sido no litoral norte de Moçambique, o principal bastião da presença colonial portuguesa e a atestá-lo estão a fortaleza de São João Baptista (1789-94), que defendeu a ilha dos ataques dos franceses (1796) e que livrou a população da ilha dos ataques dos sakalava, povo malgaxe-(1800-1817), e os fortes de São José (1764) e de Santo António (1818) e a igreja de São João Baptista. A economia das Ilhas teve, até aos finais do século XVII, como suporte básico dois tipos distintos de atividade. De um lado, a agricultura, criação de animais, caça, coleta e recoleta de várias espécies aquáticas e a produção de algumas manufaturas. Doutro, as trocas comerciais com a ilha de Moçambique, Índia, costa de Zanzibar e suas ilhas e terras firmes, próximas e longínquas. Contudo, o trabalho da terra, começaria muito cedo a ser ultrapassado pela atividade comercial. Em 1745, já o tráfico esclavagista era considerado vital para a sobrevivência das Ilhas, que aos moradores servia "de muito remédio porque é este contrato entre eles e a cafraria o mais frequente e quotidiano".
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- Etiópia Oriental, Publicações Alfa, vol. I vol. I, 1989, p.p.153 e segts.
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Os franceses das ilhas índicas Reunião e Maurícia, durante cerca de 80 anos (1742-1821) terão feito rumar para os portos daquelas Ilhas mais de 300 embarcações que, através dos circuitos comerciais oficial e clandestino, poderão ter carregado mais de 70 000 escravos. Se a este quantitativo aproximado, se acrescentar as cargas transportadas por comerciantes mouros da costa, árabes e moradores das Ilhas, no mesmo período de tempo, poderíamos pensar que, nas décadas referenciadas, poderiam ter saído, através das Ilhas qualquer coisa como 100 000 escravos, ou seja, uma média de 1250 por ano. Nos últimos anos da governação colonial, a economia das Ilhas tinha como base alguma agricultura, a criação de gado, a caça, a pesca, a navegação e o comércio, fixo e ambulante.
3.1 - VISTAS PANORÂMICAS
Fig. 3 - Vista parcial da vila do Ibo.
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Fig. 4 - Vista da ilha habitada: vila e bairro rururbano.
Fig. 5 - A vila do Ibo com o seu porto de cabotagem.
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Fig. 6 - Bairro rururbano com machambas. A norte, na linha do horizonte, visualiza-se, do lado esquerdo, a ilha de Querimba. Pelas condições eco geográficas adversas, a fixação humana, apenas, teve lugar num terço do seu território, que abrange uma parte urbana, constituída pela vila do Ibo e pelo bairro rururbano e terrenos contíguos de cultura, espaços bem diferenciados pelas suas edificações e estilos de vida.
3. 2 - A PAISAGEM NATURAL
Fig. 7 - Costa NO da ilha do Ibo, perto do farol da Mujaca. Bem visível, o agressivo coral, minado pela ação milenar da ondulação marítima. 11
Fig. 8 - Solos lodosos na parte NW da ilha, na baixa-mar, muito frequentados por bandos de flamingos.
Fig. 9 - Pequena praia da ilha do Ibo, rodeada de densa vegetação marítima.
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Fig. 10 - A rocha coralina bem visível.
Fig. 11 - A paisagem natural, onde sobressai a rocha coralina. Belezas naturais da ilha, importantes fatores de atracão turística.
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Fig. 12 - Flora marítima abundante.
Fig. 13 - Formação de mangal. Entre os densos mangais que envolvem parte da ilha, foi instalada uma linha telefónica unifilar de cobre, que ligava a Ilha do Ibo à povoação da Quissanga, no continente ou terras firmes, que, ainda, funcionava nos meados do século XX.
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Fig. 14 - Um dos muitos canais ladeados de denso mangal.
Fig. 15 - Canal de Quipira, aberto por escravos, que liga a ilha do Ibo à ilha de Querimba. Mais informação, mais adiante, em Navegação (fig. 151). É riquíssima e de uma beleza extraordinária, a flora marítima do arquipélago das Querimbas. Desta, há a salientar as formações de mangal, cuja madeira têm enorme importância na edificação das habitações e na vedação de seus quintais anexos, na construção embarcações e no fabrico de cal e as folhas e as cascas, na indústria. Os povoamentos vegetais designados por 15
mangais, sempre verdes e de tonalidades variadas, ocupam as costas abrigadas, as margens dos estuários, e algumas reentrâncias de águas tranquilas, estendendo-se até onde chegam as águas salgadas das maiores preamares. As variedades de mangal (m’tundo/vi) são múltiplas, atingindo algumas, como a Rhiphófora Mucronata, a Avicena marina e a Sonneratia alba, um porte arbóreo, enquanto que outras, sejam a Heritiera litorallis e a Laguncularia racemosa, não passam de arbustos. Para norte da baía de Pemba até ao rio Rovuma, quase toda a costa é bordejada por estas formações de mangal, muitas delas impenetráveis, que acompanham todas as suas reentrâncias, desenvolvendo-se nas bocas dos rios, esteiros, lânguas e, por vezes, nos canais entre as ilhas, algumas das quais envolve. Como exemplo apresenta-se o caso do espaço que separa a ilha de Querimba da do Ibo e desta própria ilha, onde o mangal surge em abundância.
3.3 - PAISAGEM HUMANA: a população multiétnica e pluricultural
Fig. 16 - A população multiétnica e religiosa, no centro da Vila, em dia festivo, local sombreado por duas grandes figueiras da Índia e onde eram recebidos os visitantes.
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O SOLENE IÇAR DA BANDEIRA, que tinha lugar aos Domingos e Feriados
Fig. 17 - Solene içar da Bandeira, com pompa e circunstância, em frente do edifício do Município, com larga assistência da população feminina, do bairro rururbano.
Fig. 18 - Solene içar da Bandeira com larga assistência feminina, frente à residência do administrador do concelho e também presidente da Municipalidade. 17
Fig. 19 - Solene içar da Bandeira com larga assistência feminina, junto das duas figueiras da Índia. Mulheres mwani, com os seus garridos trajes típicos: quimão, capulana e lenço.
Fig. 20 - Os históricos três bancos, chamados a “má língua” situados sob as ditas figueiras, ocupados pelos enfermeiro Grispos, dr. Calejo e adm. Bento.
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Fig. 21 - Festa religiosa do IDE (Eid al-Fitre), dia em que população maometana saúda a população da Vila.
Fig. 22 - A população, na rua da República, acompanha visitantes à ilha do Ibo.
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Fig. 23 - A diversidade fenotípica, multiétnica e cultural, uma realidade incontestada, sentida e vivida na ilha do Ibo e demais ilhas habitadas, do arquipélago das Querimbas.
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Fig. 24 - Grupo de jovens, da zona urbana, em dia festivo.
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Fig. 25 - Jovens no altar da Igreja de S. João Baptista, no dia da 1ª Comunhão, em 1.11.1962.
Fig. 26 - Jovens no dia da sua 1ª comunhão, em procissão, com o vigário, padre Francisco Gerhard a caminho da igreja,
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Fig. 27 – Jovens, na ilha do Ibo, no acampamento, durante o rito de passagem da circuncisão (kumbi). Esta cerimónia tem lugar no mato, próximo da água, em local isolado situado a alguma distância da povoação, normalmente, após as colheitas e nos meses compreendidos entre Julho e Setembro, estação seca, sem dúvida mais propícia para quem tem de viver ao ar livre. Também pode realizar-se num quintal sempre que o número de rapazes a circuncidar - que ronda pelas duas dezenas- é de dois ou três. O cerimonial, de natureza mágico-religiosa, constitui um complexo processo social integrado por ritos de entrada, principal e de saída, em que encontramos um período de marginalização e um período de reintegração a vida da aldeia.
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Fig. 28 - Alunos da Escola Primária Afonso de Albuquerque, na hora do recreio.
Fig. 29 - Alunos à entrada da dita Escola, com visitantes e professores.
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Fig.30 - Alunos da Escola Primária, acompanhados da sua prof. Maria Augusta, recebem visitante., dr Pinheira da Silva, Inspector Superior do Ministério da Educação
Fig.31 - Alunos da escola islâmica (madrassa), na aprendizagem da escrita árabe.
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Fig.32 - Autoridades civis e militares, de Porto Amélia e locais, assistem, com a população, ao solene içar da Bandeira Nacional.
Fig.33 - Juventude escolar do Ibo saúda o novo governador do distrito de Cabo Delgado, Comandante Santos Prado.
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Fig.34 - Jogos da juventude, em dia festivo, com larga assistência.
Fig. 35 - Visitantes escutam, reconhecida e atentamente, canções de um grupo coral de jovens (tufo).
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Fig. 36 - O mais alto magistrado de Moçambique, Eng.º Arantes e Oliveira, na sua visita ao Ibo, em 1.1.1971.
Fig. 37 - Calorosa recepção, no campo de aviação, à miss Moçambique e de Portugal, a jovem e encantadora Iris Maria, com raízes familiares na ilha do Ibo, que visita a ilha, em 1972, sendo, calorosamente, recebida pela população e autoridades.
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Fig. 38 - Miss Moçambique e de Portugal com a população, grupos de tufo, professora Maria Augusta e administrador Carlos Bento.
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Fig. 39 - A recepção a Iris Maria, no centro da vila do Ibo. Visivel a ilustre poetisa Glória de Santana.
Fig. 40 - A miss Iris Maria e as suas acompanhantes.
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Fig. 41 - Recepção em honra da visitante Iris Maria, no Clube Desportivo do Ibo.
JOVENS ESTUDANTES DE PORTO AMÉLIA, EM FÉRIAS, NA ILHA DO IBO.
. Fig. 42 - Grupo de estudantes de Porto Amélia/Pemba da Mocidade Portuguesa (MP), de visita, em 1972, a ilha do Ibo.
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Fig. 43 - Assistência a espectáculo nocturno oferecido pelos alunos visitantes.
Fig. 44 - Grupo de alunos com o padre Carminho Rodrigues
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Fig. 45 - Dia de festa. Baile no Clube Desportivo do Ibo.
FESTA DE DESPEDIDA DO ADMINISTRADOR CONCELHO, CARLOS BENTO (1972)
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Fig. 46 - Festa de despedida, no Clube Desportivo do Ibo, feita ao administrador do concelho. O comerciante Mussa Magaga a discursar.
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Fig. 47- O regedor do Ibo, Ali Ame, no uso da palavra.
Fig. 48 - O adm. do concelho e presidente da Municipalidade Carlos Bento a agradecer a festa de despedida e as palavras honrosas que lhe foram dirigidas, bem como à sua esposa Maria Augusta Bento, prof, primária. Na recolha de som, José Ferreira.
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3.4 - ATIVIDADES ECONÓMICAS: agricultura, pecuária, pesca, caça, artes e ofícios e manufaturas AGRICULTURA Segundo o testemunho de frei João dos Santos, pároco da ilha de Querimba em 1592, “todas estas ilhas são muito sadias e muito bons ares, particularmente Quirimba, a ilha de Cabo Delgado e das Cabras.” … I, 153. ´´ Há em todas elas muitas criações de vacas, muito mansas, (…) Grandes criações de porcos e cabras fertilíssimas, muitas criações de galinhas e pombas mansas, (…) tem muitos palmares que muito vinho e cocos, (…) …, alguns hortas e quintais com romeiras, laranjeiras, limeiras e figueiras da India, … há muita erva de que se faz o anil. Este é o anil de que os mouros fazem as suas tintas para tingir o fiado de algodão e seda, de que em todas estas ilhas fazem os ricos panos para se vestirem as mulheres, assim portuguesa, com mouras e também os mouros graves. Estes panos tecem os mouros, que nestas ilhas há grandes tecelões, aos quais chamam tecelões de Miluane, cujos panos são muito estimados dos reis cafres de Sofala e Rios de Cuama ”.2. Em 1798, o governador Álvares da Silva escrevia. “nas Ilhas de Querimba, umas mais pedregosas do que outras, em si pouco frutíferas, cultivavam-se palmeiras, cajueiros e algum milho, e a muana, para norte a partir da ilha do Ibo. Nalgumas delas, apenas, viviam um número reduzido de escravos para guardarem as plantações e colherem os seus frutos. Naquela ilha, a grande densidade populacional levou ao aproveitamento intensivo dos quintais e a uma grande parte dos seus habitantes a cultivarem nas terras firmes. Estas, sempre que os habitantes residiam mais tempo junto das suas machambas, produziam, em mais abundância, milho, arroz e gergelim.”3 Em 1880, mencionavam-se: “mandioca, café, milho fino e grosso, arroz, carrapeteira ou rícino (ambone), coco, goma copal, borracha, urzela, feijão, tabaco, amendoim (ginguba), gergelim, meixoeira, jugo, maná, algodão, anil, pau preto (espécie inferior de ébano), boas madeiras de construção, frutas indígenas e algumas exóticas e hortaliças. Mas muitos desses produtos em diminuta quantidade e alguns, até espontâneos jazem int eiramente, incultos como o anil, o algodão, a maior parte do café ambone… Produz também cera, marfim, tartaruga, ponta de abada, dentes de hipopótamo, e cauril.”4 Dada a natureza dos seus solos e a irregularidade das chuvas, a agricultura na ilha do Ibo foi, sempre, praticada em pequena escala. Contudo, face ao crescente aumento da sua população, os seus moradores passaram a cultivar, em pequenas machambas, mandioca, feijão, milho, mapira, abóboras e pepinos, tanto nos seus quintais vedados a laca-laca, onde plantam 2 3
- Etiópia Oriental, Publicações Alfa, vol. I,, 1989, p155 e 156, -Relação População de 1798
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- In RDC. José C. Almeida. 20.7.1880. BOM. 8, de 18.2.1882, p. 77-85
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papaeiras, goiabeiras, bananeiras e ateiras, como também nos terrenos aforados em estado de abandono fora da povoação. A palmeira/coqueiro, o cafezeiro silvestre e a mangueira são plantas que crescem em toda a ilha.
Palmeiras/coqueiros
Fig. 49 - Palmeiras num largo da Vila.
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Fig. 50 - Palmeiras, em machamba abandonada.
Fig. 51 - Palmeiras na vila do Ibo.
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Fig. 52 - Pequeno palmar junto ao canal do Ibo, perto da Fortaleza de São João Baptista. A ilha, ainda no século XIX, estava densamente povoada de palmeiras. A planta cotada da Vila do Ibo, de 1884-85 elaborada pela Expedição Científica Pinheiro Chagas confirma a sua existência. A palmeira (Cocos nucífera, L), mnasi em kimwane, é uma planta de extraordinária importância, de aproveitamento total, que merece a veneração de toda a população. São múltiplas as suas aplicações: vigamento, tabuado, lenha, cobertura de casas, velas de canoas, cabos de cairo, vedações de quintais, fabrico de esteiras e chapéus de sol, fornecendo, ainda, fermento para o pão, excelente água, óleo, amêndoa, … O coco e o seu óleo são elementos básicos na cozinha do povo mwani - do dia-a-dia, festiva e sagrada - e desempenha um papel fundamental na cosmética feminina.
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O CAFEZEIRO
Fig. 53 - Cafezeiro entre palmeiras.
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Fig. 54 - Excelente imagem: Cafezeiro, em flor, cresce no meio do mato.
Fig.55 - A beleza do cafezeiro em flor. O cafézeiro do Ibo (Coffea Ibo Frohner), introduzido pelos Árabes nas Ilhas de Querimba, é uma planta que cresce, espontaneamente, na ilha do Ibo, mesmo no coral. A fama do café do Ibo, de apurado sabor e pela sua excelente qualidade, há muito que ultrapassou as fronteiras de Cabo Delgado e de Moçambique. Em 1906, ganhou, na Sociedade de Geografia de Lisboa, a medalha de ouro. 40
Tamarindeiro
Fig. 56 - Tamarindeiro, planta da família das leguminosas, que fornece madeira e frutos, tamarindos (nkuajo), que são utilizados na cozinha mwani.
Mangueira
Fig. 57 - Mangueiras. Com seus saborosos frutos também se confecionam o achar e o doce de manga.
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Maçaniqueira
Fig. 58 - Maçaniqueiras. Árvores de grande porte muito apreciadas pelos seus deliciosos frutos.
Embondeiro
Fig. 59 - Machamba vedada a laca-laca, onde cresce embondeiro (nlamba).
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Fig. 60 - Machamba abandonada, com mangueiras, palmeiras e embondeiro (Adansonia digitata). Esta planta, que exige pouca água, vegeta em áreas com precipitações abaixo dos 600 mm/ano.
Sândalo
Fig. 61 - Planta de sândalo de grande utilidade, denominada em kimwani “m´sumbuti,” cujos ramos, depois de moídos, e misturados com óleo de coco servem para o fabrico artesanal do nsiro, produto cosmético usado pelas populações femininas, tanto no dia-a-dia, como em certos períodos de sua vida.
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Morro de Muchém
Fig. 62 - Morro de muchém (uswa) de grande dimensão.
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Fig. 63 - Morro de muchém envolvido pela vegetação.
Os morros/ninhos de muchém da formiga termita, atingem mais 2 metros de altura. Na época da reprodução a formiga torna-se alada (sungu) e sai do ninho. Nessa altura, à noite, com a ajuda de uma luz, capturam-se milhares que, depois de preparadas, constituem um excelente alimento.
Poço com nora
Fig.64 - O único poço com nora existente na ilha do Ibo. Este engenho de elevar água não estava vulgarizado em Moçambique. Situa-se numa propriedade privada pertencente a uma família goesa.
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PECUÁRIA Toda a área do concelho do Ibo é favorável à criação de gado caprino e bovino. No passado existiram milhares de bovinos, que em 1972, estavam reduzidos a 500 exemplares. Existem milhares de cabeças de gado caprino, a maioria destinada às múltiplas cerimónias religiosas e profanas realizadas durante o ano.
PESCA Sobre esta actividade, o governador de distrito José Cristiano de Almeida, em 1880, escreveu: “A pesca, posto que haja muita variedade de peixe, é em escala muito pequena, apenas mal satisfaz ao consumo do país. A da tartaruga, que abunda nestas paragens, se houvesse o cuidado e vigilância que requer, seria uma indústria muito lucrativa e daria certamente ao distrito um importante ramo de comércio. Ninguém ignora, que as côdeas ósseas do corpo deste anfíbio são de subido valor no mercado, pelas variadas aplicações que destes despojos se faz a diferentes usos. Exactamente, a espécie conhecida pelo nome de carrete, mais estimada pela grossura e qualidade da concha, é a que se encontra nestes mares em maior cópia. A pesca do marisco que encerra a pérola e o aljôfar, igualmente, me parece que poderá tomar proporções muito maiores, devendo tirar-se duma exploração, em larga escala, bons resultados”.5 Dada a sua posição geográfica, os mares das ilhas que constituem o concelho do Ibo são ricos em peixe, crustáceos e moluscos, dedicando-se muita da população do bairro rururbano a esta actividade. Utilizam como aparelhos de pesca: as linhas com anzol, de superfície e de fundo, as gamboas, as gaiolas, redes de arrastar, emalhar e de cerco e ponteiros de ferro e de madeira. Neles capturam-se ✓ Peixe: garoupa, peixe-papagaio, charéu, peixe-pedra, cação, salmonete, pargo-melado e encarnado, pescada, atum, sardinha, carapau. • Moluscos: polvo, lulas e chocos. ✓ Crustáceos: Camarão e lagosta.
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- In RDC. José C. Almeida. 20.7.1880. BOM. 8, de 18.2.1882, p. 77-85
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Fig. 65 - Marema, gaiola, nassa ou covo, feita de filamentos de palmeira ou bambu é uma armadilha de pesca, que depois de iscada, atrai o pescado ao seu interior. Em 1971 estavam registadas no concelho do Ibo 219 maremas, 90 gamboas, 61 redes de emalhar e 25 redes de arrastar.
MANUFACTURAS
Fig. 66 - Família, preparando, no quintal, uma refeição, com a ajuda de vários utensílios artesanais
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Fig. 67 - No quintal, em estado de abandono, o pilão (nkindu), a peneira (kissero) e o ralador (m´busi).
Fig. 68 - Ralador(m’busi), de grande utilidade na cozinha mwani. 48
Fig. 69 - Panela grande de barro (mivulo), para guardar água vinda de vários poços existentes nas ilhas.
Fig. 70 - Colher de casca de coco (lupata).
49
Fig. 71 - Ourives no seu labor. Manufacturam, em cobre, prata e ouro, pulseiras, gargantilhas, fios e outros objetos, de grande beleza.
Fig. 72 - Barbearia ao ar livre. Corte da cabelo com lâmina de barbear.
50
Fig. 73 - Marinheiros reparam vela(triangular) da sua embarcação.
Fig. 74 - Tamancos em madeira de umbila utilizados, no passado, pelos idosos, no tempo de oração.
51
Sobre as actividades económicas das Ilhas de Querimba, escreveu, no Relatório anual, relativo ao ano 1880-1881, o governador do distrito José Cristiano d´Almeida: “Sobre a indústria manufactora, infelizmente, há pouco a dizer porque na verdade é insignificantíssima. Apenas se fabricam esteiras de variegadas cores, alcofas, quissapos, supos, chapéus, e charuteiras, tudo da mesma palha, cordas de cairo, cal de pedra e pequenas embarcações para a navegação de cabotagem e pesca, a que chamam pangaios, lanchas, botes, canoas e coches, para as quais há no país boas madeiras. A indústria da caça ao elefante, hipopótamo e abada é exercida nos sertões, exclusivamente, por indígenas. Não afluem, porém, ao nosso mercado os despojos daqueles animais na quantidade que seria de desejar, em virtude da nossa incúria e fraqueza, deixando que estranhos nos tomem o passo, tanto em Tungue como na região do lago do Niassa, onde por falta de ocupação da nossa parte, prepondera a sua influência que faz derivar para fora do distrito aqueles ricos produtos. Das indústrias extractivas, sem falar na borracha, que se exporta em sofrível quantidade, apenas se contam as seguintes: destilação de aguardente de caju e extracção de óleo de coco, de gergelim e purgueira, mas quase só para consumo local.6 Entre os operários de artes e ofícios, existiam na ilha do Ibo em 1971: 101 carpinteiros, 47 pedreiros, 22 ourives, 3 barbeiros, 12 calafates, 124 alfaiates, 8 latoeiros, 5 ferreiros e 27 cozinheiros.
6
- In RDC. José R. Palma Velho, 8.8.1886. BOM 35, de 28.8.1886 p.438-441.
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3.5 – A VILA DO IBO
Fig. 75 - Planta cotada da vila do Ibo elaborada, em 1885, por Serpa Pinto quando da sua estadia na capital do distrito de Cabo Delgado.7
7
- SERPA PINTO e CARDOSO, Augusto - Expedição Científica Pinheiro Chagas - 1884-85. nº 1 Matibane, nº 2 Porto Bocage, nº 3 Porto Andrieta, nº 4 Fernando Veloso, Memba - Samuco, nº 5 Terras de Luli, nº 6 à volta de Pemba, nº 7 Ibo e terras vizinhas, nº 8 Ilha do Ibo, nº 9 Planta cotada do Ibo. 9 mapas manuscritos, coloridos, a papel vegetal (S.G.L.).
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Fig. 76 - Uma das marginais da Vila, com candeeiros típicos, que a liga ao campo de aviação, com porto de cabotagem bem visível. Em 1761, a povoação do Ibo foi erigida em Vila, mas, apenas, em 1764, foi instalada a Câmara Municipal. A nova Vila, que passou a designar-se Vila de S. João Baptista do Ibo, sendo nela levantado um pelourinho. Ela, segundo Serpa Pinto, “assenta a NO da ilha e consta de dois bairros: o europeu e o indígena. O bairro europeu compõe-se de duas ruas principais, a rua de El-Rei e a rua Maria Pia, que correm proximamente E/O(…) É nesta parte da vila que residem europeus, baneanes, mouros da Índia e as principais famílias de crioulos da ilha. O bairro indígena fica a E do bairro europeu e é formado por muitas palhotas entre palmares. Neste bairro há também duas ruas principais, a de Sá da Bandeira e a de 27 deJulho. …” Posteriormente, houve mudança da toponímia com a implantação da República Portuguesa (1910) e, depois, da República Popular de Moçambique (1975). Teve iluminação pública a petróleo, no ano de 1884, com candeeiros adquiridos em Bombaim.
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Fig. 77 - Estandarte da vila do Ibo, com a imagem do seu padroeiro, São João Baptista
Fig. 78 - Centro da vila com duas grandes figueiras da India, local onde se concentra a população para assistir ao solene içar da bandeira, receber visitantes e conviver em datas festivas, 55
3.5.1 – PATRIMÓNIO EDIFICADO: habitações, fortificações, edifícios públicos, templos religiosos, … HABITAÇÕES
Fig. 79 - Jardim principal da Vila. Ao fundo a Repartição de Finanças, os Correios e o Hospital (com 1º andar).
Fig. 80 - Repartições públicas: Hospital, Correios e Finanças. Ao fundo, Igrej de S. João Baptista, Câmara Municipal e residência do seu presidente. No porto embarcações em seco, na maré vazia. 56
Fig. 81 - A vila e o seu porto. Observam-se algumas casas comerciais com saída directa para o porto de cabotagem, facto que facilitava o comércio clandestino, designadamente, o de escravos, ainda praticado no 3º quartel do século XIX.
Fig. 82 - Edifício da Municipalidade, com a sua porta típica. À esquerda pequena torre onde funcionou, a partir dos finais do sec. XIX, o Posto Meteorológico do distrito de Cabo Delgado.
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Fig. 83 - A influência árabe e indiana, especialmente, de Goa, Damão e Diu, em terras de Moçambique. Trata-se de uma porta com almofadas de madeira de umbila, esculpidas com motivos suaíli e da Índia, com a particularidade de ter duas aberturas laterais independentes.
Fig. 84 - A principal rua da vila do Ibo: A Rua da República com seus candeeiros públicos e suas acácias rubras.
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Fig. 85 - A linda acácia rubra em plena floração.
Fig. 86 - Marginal da vila, com candeeiro.
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Fig. 87 - Rua Maria Pia: População muçulmana descansa, numa sextafeira, depois da ida à mesquita.
FORTIFICAÇÕES O FORTIM DE S. JOSÉ
Fig. 88 - Entrada do fortim.
60
Fig. 89 - Com pedra talhada à vista.
Fig. 90 - O fortim de S. José visto do porto de cabotagem. Situado a SW da ilha do Ibo, junto ao porto de cabotagem, o fortim de S. José surgiu, em 1764, no mesmo ano em que foi instalada a Vila do Ibo e o Governo distrital das Ilhas passou, da ilha de Querimba para a do Ibo. Tinha por missão ajudar a limitar e a fiscalizar o tráfico de escravos e o comércio clandestino, a ele ligado, praticado, especialmente, por mercadores franceses e suaílis (mouros da costa) Construído com pedra talhada e cal de fabrico local, teve, até 1809, a designação de Forte de Santa Bárbara, e, a partir daquela data, a ter o nome de Forte de S. José. 61
Em 1788, encontrava-se em mau estado de conservação e, em vias, de ser abandonado. Contudo, os ataques dos Sakalava, no início do século XIX e o mau estado da Fortaleza de São João Baptista, levaram à sua reparação, com algumas alterações na planta original. Serviu de cadeia civil no século XIX. Em 1972, encontrava-se bem conservado, sendo, então, um atractivo, que muito cativava os turistas que visitavam a ilha do Ibo.
A FORTALEZA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
Fig. 91 - Fortaleza de São João Baptista. A vista aérea da Fortaleza mostra-nos a sua forma pentagonal. Foi erigida junto ao canal que estabelece ligação com porto de cabotagem, de modo a poder vigiar a entrada e saída de embarcações para e do porto interior e defender a ilha de ataques inimigos, vindos do mar. Coube ao Governador das Ilhas, António José Teixeira Tigre, a escolha do local, o desenho da sua planta e a proposta da construção de uma fortaleza em forma de pentágono regular. Esta figura geométrica era não só a que melhor se adaptava ao terreno, ficava menos dispendiosa e defendia os edifícios a construir no seu interior, como também permitia uma posterior ampliação e protegia a Vila de qualquer ataque, vindo das terras firmes ou do mar, para além de poder contribuir para recuperar o comércio, nas mãos dos comerciantes franceses e suaílis. As obras tiveram início em 25.5.1789 e estavam concluídas nos finais de 1794. Trabalharam nas obras oficiais, cabouqueiros e serventes, vindos da 62
ilha de Moçambique e serventes e gente de picareta: soldados, adimos (gente forra) e escravos dos moradores e do governador. A Fortaleza foi construída com pedra talhada - técnica há muito utilizada na costa índica africana, difundida por imigrantes persas e shirazianosextraída, localmente, por artesãos especializados. Na construção dos seus terraços foram também utilizados materiais da terra: barrotes de mangal e laca-laca, vindos da Arimba, a cal fabricada, com coral e conchas, na ilha do Ibo. Esta obra militar teve, durante os vários ataques dos Sakalava, ao Ibo, papel importante na defesa das populações da ilha. Serviu de prisão política nos últimos anos da administração portuguesa.
Fig. 92 - Porta de armas da Fortaleza.
63
. Fig. 93 - A porta de armas da Fortaleza com uma réplica de uma lápide indicativa do responsável pela construção e respectiva data e com os símbolos Portugueses.
Fig. 94 - A capela da Fortaleza. No interior da fortaleza foi erigida uma capela militar. Em 1795, foi nela colocada a imagem de São João Baptista e os seguintes ornamentos: 1 crucifixo; 1 cálice de prata dourada com pé de estanho; 1 colherinha de prata; 1 patena de prata dourada; 1 missal dourado; 1 pedra d'ara; 2 castiçais de latão, pequenos; 1 caldeirinha com o seu hisopo de cobre branco; 2 frontais de damasceno branco e encarnado; entre outros.
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Fig. 95 - O terraço da Fortaleza com símbolo cristão.
FORTIM DE SANTO ANTÓNIO
Fig. 96 - Entrada do fortim.
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Fig. 97 - A entrada do reduto de Santo António. Na sua frente flores naturais (beijos de mulata). Este reduto (rituto em kimwani) ou fortim de Santo António situa-se a SSE da Vila do Ibo, numa das suas extremidades e perto da praia e está assente em pedra corálica. Na sua construção, da responsabilidade do governador José António Caldas, começada em Outubro de 1818 e concluída nos meados de 1819, utilizou-se pedra talhada, proveniente da antiga cadeia e cal fabricada, localmente. As despesas gastas para o efeito foram custeadas pela população da ilha do Ibo. De forma quase quadrada, mede 16,75 metros de frente e 17,35 de fundo. No centro eleva-se um baluarte com a altura de 3,5 metros e 7,58 metros de frente e 7,64 metros de fundo. Deste local, onde estava um mastro para içar a bandeira real, avistavam-se as embarcações a grande distância e transmitiam-se as ocorrências, através de sinais, para a residência do Governador. A principal razão que levou ao seu levantamento foi a defesa da ilha do Ibo, que, nesta altura, esperava novo ataque dos Sakalava, que, em, 1808, já nela, tinham feito muitos estragos. Na frente do dito baluarte, uma lápide indica, mas, erradamente, 1847, como data da sua construção e o nome do governador por ela responsável. Nesta data sofreu, apenas, grandes reparações.
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O HOSPITAL DA VILA DO IBO
Fig. 98 - Hospital da Vila construído nos finais do século XIX.
O MERCADO DA VILA DO IBO
Fig. 99 - O bazar da Vila. Com mais de um século de existência, este Mercado Municipal, também conhecido por Bazar, abastecia a população dos principais produtos alimentares de que necessitava, tanto os provenientes da agricultura como da pesca. 67
CAMPO DE AVIAÇÃO
Fig. 100 - Campo de aviação. Avião a levantar. A pista com 900X80 metros, assenta em solo corálico, coberto com terra. Fica a 2600 metros do centro da Vila. Em 1971, com 4 carreiras regulares semanais, foi utilizado por 496 aeronaves, com 398 embarques e 484 desembarques.
Fig. 101 – Administrador do concelho com a esposa recebem a visita do governador Carmo Ferreira.
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Fig. 102 - Campo de aviação. Autoridades do Concelho e população recebem visitantes.
FAROL DA MUJACA
Fig. 103 - Farol da Mujaca. De modo a orientar as embarcações que demandavam o seu porto foi, em 1869, autorizada a construção de um farol, na ponta da Mujaca da ilha do Ibo. As despesas, com construção da respetiva pirâmide, com 8 metros de altura e 2,5 de diâmetro, custaram ao erário público 1:791$050 réis, O dito farol entrou em funcionamento no dia 8.12.1873. 69
IGREJAS, CAPELAS E OUTROS ESPAÇOS SAGRADOS IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
Fig. 104 - A igreja de São João Baptista
Fig. 105 - A Igreja de São João Baptista, com cemitério lateral. O primeiro governador e capitão-mor das Ilhas, Alberto Caetano Júdice, mandou construir, em 1764, na novíssima Vila do Ibo, a Capela de São João Baptista. Seria de paredes baixas e coberta a macute ou a capim. Há notícias de que, em 1631, existiria na ilha do Ibo uma capela e um frade. 70
A nova Capela também funcionava como capela militar, servindo de apoio à guarnição militar até à construção da fortaleza de São João Baptista (17891794). Entre 1796 e 1798 foram, nela, feitos vários enterramentos debaixo do coro, junto aos bancos, de acordo com o status social que cada defunto tivera enquanto vivo. Um forte abalo de terra, em 22.8.1879, fez grandes estragos no edifício. Em 1801, uma ordem régia proíbe enterramentos nas igrejas e templos. Em 1846, foi construído, ao lado desta Igreja, um pequeno cemitério, cuja porta de entrada é bem visível na imagem. Dadas as suas limitadas dimensões e por questões de natureza sanitária, foi encerrado por volta de 1883 e, em 1889, um novo cemitério foi construído, em Munawa. Em 21 de Outubro de 1816, com o ataque dos Sakalava, a capela do Ibo ficou reduzida a cinzas Depois desta data foi aumentada e coberta a telha marselha, passando a designar-se por Igreja de São João Baptista. No interior desta Igreja encontram-se mais de uma dezena de epitáfios, com datas compreendidas entre 1850 e 1897.
Fig. 106 - O riquíssimo interior da Igreja onde é notória a influência de Goa.
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Fig. 107 - Púlpito artisticamente trabalhado, estilo indo-português.
MESQUITA
Fig. 108 - Igreja islâmica(mesquita) sedeada na Vila do Ibo
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Fig. 109 - Na mesquita, o muadine, convida fiéis à oração.
EDIFICAÇÕES EM RUÍNAS
Fig. 110 - Ruinas de uma antiga habitação.
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Fig. 111 - Colunas que restam de antiga habitação.
Fig. 112 - Habitação em ruínas, com restos de portas e janelas de madeira
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Fig. 113 - Ruina de antiga habitação recuperada para instalação de museu.
Fig. 114 - Habitação recuperada. Edifício construído em 1972/1973, destinado a instalar os serviços do Município, as oficinas de ourives e um museu etnográfico, mantendo-se a traça do edifício em ruínas.Após a extinção do desumano tráfico de escravos e a transferência da capital do distrito, do Ibo para Porto Amélia/Pemba, em 1829, a vila do Ibo entrou em franca decadência.
75
CEMITÉRIOS
Fig. 115 - Campa ancestral localizada ao lado do cemitério de Munawa.
Fig. 116 - Campa estilo oriental localizada ao lado do cemitério de Munawa
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Fig. 117 - Campas antigas, junto ao cemitério de Munawa
CEMITÉRIOS CRISTÃOS
Fig. 118 - Ruinas de capela de família, construída em Munawa, área não habitada, com campas no seu interior.
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Fig. 119 - Campas nas ruínas de capela de família, construída em Munawa,
Fig. 120 - Cemitério de família (1)
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Fig. 121 - Cemitério de família com lápide em mármore, no seu interior (1)
Fig. 122 - Capela de família entre palmeiras, com lápide (2)
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Fig. 123 - Lápide (2)
Fig. 124 - Cemitério de família ao abandono
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Fig. 125 - Cemitério de família em ruínas Os cemitérios de família, cerca de meia dúzia, foram construídos, pelas famílias do Ibo, possuidoras de um status social mais elevado, no espaço de tempo que mediou entre o encerramento do pequeno cemitério anexo à Igreja de São João Baptista (foto 101) e a construção do cemitério de Munawa.
CEMITÉRIO DE MUNAWA
Fig. 126 - Entrada do cemitério de Munawa. Este cemitério foi construído, em 1889, a SW da Vila do Ibo, a cerca de dois quilómetros, do seu centro, no lugar de Munawa. Com um comprimento de 65 metros e uma largura de 55, foi dividido em duas partes: uma, destinada a cristãos, na qual foi edificada uma Capela e a outra, a não cristãos de religião tradicional. 81
Fig. 127 - O interior do cemitério de Munawa com pedras tumulares, jazigos e capela. Esta capela, edificada no interior do cemitério, foi benzida em 20 de janeiro de 1892, com a imagem do Santo Africano Benedito, pintado de preto. Um caso típico de sincretismo religioso.
Fig. 128 - Objetos existentes do interior da Capela, em 1970.
82
Fig. 129 - Imagem de São Benedito resguardada, em 1970, na Municipalidade do Ibo. São Benedito, descendente de escravos provenientes da Etiópia, nasceu em Itália, em 1562 e foi um grande defensor dos oprimidos e escravizados. É um Santo muito querido e popular no Brasil, entre as populações mais desfavorecidas.
Fig. 130 - Interior do cemitério com vários jazigos e pedras tumulares, sinal da existência de um estrato da população social e economicamente favorecida.
83
CEMITÉRIOS MAOMETANOS
Fig. 131 - Cemitério maometano, não vedado (kunakabure), onde são enterrados os maometanos da população que vive no bairro dos subúrbios da Vila do Ibo. O decreto nº 54, de 29.3.1860 autorizou, num terreno inculto, a construção na Vila do Ibo, de um “cemitério de mouros, escravos e outros indivíduos não cristãos”.
Fig.132 - Cemitério maometano vedado (kabustare), onde são enterrados os habitantes de uma classe social mais elevada, normalmente, os comerciantes maometanos da Vila.
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Fig. 133 - Cemitério maometano com pedras tumulares em mármore.
CREMATÓRIO HINDU
Fig.134 - Crematório em ruínas. Este cemitério serviu de crematório dos residentes Hindus, que se dedicavam ao comércio. Em 1972, encontrava-se abandonado e afuncional.
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3.5.2 - PORTO DO IBO: Atividades marítimas e tipos embarcações
Fig. 135 - Planta do porto do Ibo
Fig136 - As águas do porto de cabotagem a beijar a Vila
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Fig. 137 - O porto de cabotagem na praia-mar, com o forte de S. José à vista.
Fig. 138 - Grandes e pequenas embarcações ancoradas do porto do Ibo. As de maior tonelagem são lanchas de cabotagem que transportam as mercadorias até ao local onde atracam os vapores. (Fig 143).
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Fig. 139 - O porto do Ibo, em dia de grande movimento. O grande número de embarcações, ancoradas, quase todas elas à vela, mostra bem a importância da navegação na vida das populações insulares. Neste porto interior do Ibo, todas estas embarcações ficavam em seco, nas marés vazias. Em 1971, estavam registados no Ibo 151 marinheiros, 11 lanchas grandes e 38 lanchas pequenas.
Fig. 140 - Lanchas encalhadas, na maré vazia.
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Fig.141 - Embarcações a motor encalhadas na baixa-mar.
Fig. 142 - Embarcações de pesca ancoradas no lado norte da ilha do Ibo, mais agreste e de difícil acesso.
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Fig. 143 - Transbordo de mercadorias à entrada do canal do Ibo.
Fig. 144 - Carregadores transportam, à cabeça, diversas mercadorias, para lancha.
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Fig. 145 - Lancha, navegando, com a sua vela triangular. Esta embarcação, à vela, também denominada “coche” é utilizada nas Ilhas de Querimba, tanto no transporte de pessoas, como de mercadorias. A sua vela latina permitelhe, navegar contra o vento, fazendo “kubisho” ou navegação em ziguezague.
Fig.146 - Coche com vento favorável navega com a vila do Ibo à vista
91
Fig .147 - Ntumbwi, com balanceiros e vela, no interior do porto do Ibo. Tratase de uma pequena embarcação- casquinha- construída a partir de um tronco de árvore. Para maior equilíbrio tem um balanceiro de cada lado. A sua vela latina era, no passado, de casca de árvore. Destina-se ao serviço da pesca e pode transportar uma ou duas pessoas. Em 1971, estavam registados, no Ibo, 167 pescadores e 181 casquinhas.
Fig. 148 - Embarcação de passageiros, da Câmara Municipal, à chegada de Tandanhangue.
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Fig. 149 - A Cimitarra no porto do Ibo.
Fig. 150 - A Cimitarra junto ao fortim de São José, no momento da descarga de materiais de construção: cimento, ferro, tintas.
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Fig. 151 - Marinheiro na sua labuta diária, no canal de Kipira, entre densos mangais. Este canal de Quipenho, Quipinho ou Kipira, destinado a ligar as ilhas do Ibo e de Querimba, foi construído, em 1794, com mão-de-obra escrava entre densos mangais, escavando-se o coral. Permite, nas baixamar ser percorrido a pé, em 3 horas. Depois desse período só pode ser atravessado de barco, a motor, à vela ou a remo.
Fig.152 - Marinheiro mwani (mungalawa) transportando, numa pequena embarcação, movida com vara, paus de mangal. Navega por um dos múltiplos canais existentes, em redor de uma parte da ilha do Ibo, bordejados por densos e impenetráveis mangais. 94
3.6 - O BAIRRO RURURBANO A população do bairro rururbano vivia, em 1972, em 1211 habitações de 3 tipos de construção: de pedra e cal; de matope; e de pau-a-pique. Em anexo, a cada habitação, há, quase sempre, um quintal, vedado a laca a laca, no qual, para além de árvores de fruto como bananeiras, papaeiras, ateiras, abacateiros, podia existir uma cozinha, um choero (casa de banho simples), uma capoeira e curral para animais domésticos e um poço aberto no coral. 3.6.1 - VISTAS PANORÂMICAS
Fig.153 - A imagem mostra a distribuição geográfica do povoamento da Ilha do Ibo, verificando-se que o bairro rururbano ocupa uma superfície mais extensa do que o da vila. As imagens seguintes reportar-se-ão ao dito espaço.
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Fig.154 - Bairro rururbano com as suas habitações. 3.6.2 - PAISAGEM HUMANA
Fig.155 - Banja dirigida pelo administrador do concelho Carlos Bento
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Fig.156 - Autoridades responsáveis pelo Bairro: regedor e filho e capitãesmores .
Fig.157- Grupo de homens mwani.com vestimentas variadas. O do meio é o João Macassar, cabo de cipaios.
97
Fig.158 - Grupo de mulheres mwani com os seus diversificados trajes garridos: quimão, capulana e lenço.
Fig.159 - Jovens irmãos.
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Fig.160 - Jovem mãe, com n’siro e filha.
Fig.161- Mãe com filhas no seu quintal, vedado a laca-laca.
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Fig.162 - Jovens irmãos no quintal, cultivado, de sua casa .
Fig.163 -Jovens raparigas mwani no seu quintal, uma com quimão e capulana, a outra com vestido.
100
Fig.164 - Duas jovens mwani de saia e quimão.
101
Fig.165 - Casal mwani. 102
Fig.166 - Jovem mwani
103
Fig.167 - Jovem mwani de fenótipo diferente.
104
Fig.168 - Jovem mwani deambula pelo coral, calçando grandes botins de borracha.
Fig.169 - O sorriso de uma jovem mwani.
105
Fig.170 - Jovem rapariga vestida à europeia.
Fig.171 - Jovem rapariga vestida à moda da terra.
106
Fig.172 - Rapariga em tempo de reclusão social.
Fig.173 - Mulher mwani de extrema beleza.
107
Fig.174 - Mulher mwani com máscara de n´siro.
Fig.175 - Rapariga com máscara de n’siro, no seu quintal. Visíveis alguns utensílios de cozinha.
108
Fig.176 - Rapariga, no seu quintal, vedado a laca-laca, com máscara de n’siro. O n’siro é um produto cosmético, usado pelas populações femininas wamwani, tanto no dia-a-dia, como em certos períodos de sua vida, designadamente, no rito de passagem riga. Obtido da planta m´sumbuti,(fotomsumbuti)(Fig. 61)cujos ramos são moídos numa pedra e o produto misturado com água e óleo de coco.
Fig.177 - Uma respeitável geronta, no seu quintal.
109
Fig.178 - Mulheres a tirar água de poço (nrimbu) por processos simples, mas eficazes.
3.6.3 - PATRIMÓNIO EDIFICADO: habitações e quintais
Fig.179 - Habitação de pau a pique, maticada e cobertura a macute.
110
Fig.180 - Habitação em construção, de pedra talhada e matope .
Fig.181 - Homens procedem à cobertura de habitação com macute (folhas de palmeira entrelaçadas). Ao lado uma ateira com frutos.
111
Fig.182 - Habitação, pintada de várias cores, com uma porta lateral de entrada e para o quintal.
Fig.183 - Habitação de matriz suaíli, de quatro águas, coberta a macute.
112
Fig.184 - Habitação de matriz suaíli com anexos laterais
Fig.185 - Habitação coberta a zinco. Junto dela poste elétrico.
113
Fig.186 - Habitação com várias influências culturais.
3.6.4. MELHORIA DOS CAMINHOS PEDONAIS CORÁLICOS, ENTRE 1969 e 1972. CAMINHOS DO BAIRRO, EM 1969.
Fig.187 - Caminhos pedonais difíceis de percorrer devido ao, por vezes, cortante coral. 114
Fig.188 - Caminhos de piso corálico que impossibilitava a circulação de viaturas.
Fig.189 - Caminho pedonal entre quintais e habitações. No bairro suburbano, os caminhos, devido à natureza corálica e ao seu piso rugoso e muito irregular, não só eram difíceis de percorrer a pé, dando incomodidades e pouca segurança aos seus moradores, como também impossibilitavam a circulação de viaturas automóveis. 115
TRABALHOS DA POPULAÇÃO NA MELHORIA DOS SEUS CAMINHOS PEDONAIS.
Fig.190 - Homens a partir o coral.
Fig.191 – Mulheres transportando terra argilosa para os novos arruamentos.
116
A população, de ambos os sexos, participou num programa de Desenvolvimento Comunitário (DC), contribuindo, voluntariamente, no arranjo caminhos pedonais da sua comunidade. EM 1972: OS NOVOS ARRUAMENTOS NO FIM DO PROGRAMA DE D.C.
Fig.192 - Novo arruamento que permite circulação pessoas e viatura, sem problemas.
Foto 193 - Habitantes caminham em novo arruamento 117
Fig.194 - Traços dos novos arruamentos
Fig.195 - Arruamento da povoação do Rituto, com iluminação pública, em poste de mangal.
118
4 - ILHA DE QUERIMBA Tem esta ilha o nome do arquipélago de que faz parte. Situa-se a sul da ilha do Ibo. Sobre ela, o dominicano frei João dos Santos, de que foi seu pároco em 1592-93, deixou-nos a seguinte notícia: “A ilha de Querimba está sessenta léguas de Moçambique, ao longo da costa, da banda da India. È uma ilha de mais de uma légua de comprido e meia de largo, terra muito chã, sem outeiro algum, quase toda semeada de milho e outros legumes, que na ilha se dão fertilissimamente”.” Antes da sua conquista, em 1523, aos ”mouros” pelos portugueses seria uma grande povoação suaíli. Pela sua projecção económica e social foi, esta ilha, sede de capital do governo subalterno de Cabo Delgado, que, a partir de 1760, passou a constituir uma capitania mor. O seu 1º capitão e governador foi o sargento mor Caetano Alberto Judice, que em 1764 deixou esta ilha para ir instalar a Vila do Ibo. Foi sepultado na igreja de N.S do Rosário.
4.1 - VISTAS PANORÂMICAS
Fig.196 - Vista parcial da Ilha com palmar.
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Fig. 197 - Parte norte da ilha, habitada e com palmar.
Fig. 198 - A ilha e os densos mangais em direção à ilha do Ibo.
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4.2 – PAISAGEM HUMANA
Fig. 199 - Mulher mwani de Querimba com quimão e garrido lenço.
Fig. 200 - Dia de banja, com o administrador do concelho Carlos Bento.
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Fig. 201 - Grupo cultural (tufo), feminino, vestido a rigor.
Fig. 202 - Mulheres com trajes garridos, de cor variada: lenço, quimão e capulana.
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Foto 203 - Jovens transportam água, utilizando múltiplos e diferenciados recipientes.
Fig.204 - Grupo do Ibo e Pemba de visita à ilha de Querimba. O Padre Carminho, o jovem Fernando Bento, o dentista Falcão Machado, o adm. Carlos Bento, o Dr Jorge Calejo, o comerciante Jacob Mamudo e o delegado do MP.
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4.3 - PATRIMÓNIO EDIFICADO: edifícios públicos, templos religiosos, habitações, De acordo com a informação que nos deixou Frei João dos Santos, a ilha de Querimba: “tem uma fortaleza cercada, em que mora o senhor da ilha e dono da mesma fortaleza, e que é português. Ao longo da praia desta ilha, da parte do norte, está uma formosa igreja que é dos religiosos de São Domingos, a qual serve de freguesia, assim desta ilha com das mais que estão nesta costa até Cabo Delgado.(…), Esta igreja se chama Nossa Senhora do Rosário, a qual edificou Diogo Rodrigues Correia, primeiro senhor desta ilha e a deu aos religiosos de S. Domingos, com terras e palmares que tem ao redor … “.
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
Fig. 205 - Ruinas de uma das paredes laterais
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Fig. 206- Entrada da Igreja.
Fig. 207- O casal alemão recebe, no interior em ruinas, visitas do Ibo: Brandão e esposa, jovem Fernando Bento, Joaquim Gessner e Esposa D. Linda, enfermeiro Guerra (?) e professora. Maria Augusta.
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Fig. 208 - O interior da Igreja, com sepulturas
Fig. 209 - Interior da igreja e sepulturas vistas de outro ângulo
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. Fig. 210 - Sepultura do capitão-mor e governador Caetano Alberto Júdice, responsável pela instalação, em 1764, da Vila na ilha do Ibo. A igreja de Nossa Senhora do Rosário foi mandada construir pelo senhorio da ilha, Diogo Rodrigues Correia, cerca de 1530, e oferecida aos padres dominicanos. Era a Igreja Matriz e Paroquial, e os seus vigários de "Vara e Forâneos", cabeça de todos os outros templos levantados nas Ilhas. Esta igreja reparada, em 1780, estava nesta data "quase comida pelo mar que lhe batia na porta principal", inconveniente que se poderia resolver com uma estacada de paus, a serem cortados pelos escravos dos moradores. Em 1793, do inventário da fábrica da igreja de Nossa Senhora do Rosário constavam, para além de alguns de prata e de cobre, objectos em madeira, entre os quais duas imagens grandes, uma de Santo António e outra de São Domingos. Além destes objectos existiam livros novos e antigos, de registo de testamentos, de baptizados, casamentos e enterros. No ano 1796 há a indicação de estarem enterrados, nesta Igreja, vários defuntos, em locais diferenciados - junto dos bancos, cruzeiro, coro, debaixo do coro, no altar e em cova - consoante a sua posição social Foi destruída, pelos Sakalava, 1 de Setembro de 1808 e despojada de ornamentos, vasos e imagens sagradas e vários objectos de prata. Até 6 de Dezembro 1816, esta igreja serviu, várias vezes, como base daqueles 127
piratas do mar. Voltou depois a ser restaurada, mas no fim do século viria a ser substituída por uma nova igreja dedicada a São Luís Gonzaga. Desta igreja paroquial chegaram aos nossos dias algumas das suas paredes e sepulturas, tanto no seu interior, como exterior, entre as quais se destaca a do 1º Governador e Capitão-Mor Caetano Alberto. Nesta paróquia funcionou, durante quase dois séculos, a confraria de Nossa Senhora do Rosário. CAPELA DE SANTO ANTÓNIO
Fig. 211 - Apenas restam as paredes mestras da Capela.
Fig. 212 - Outra perspetiva da Capela. 128
Fig. 213 - Outra vista da Capela. Esta capela, levantada junto ao mar, a menos de 2 quilómetros da igreja de Nossa Senhora do Rosário, foi mandada construir, em 1593, por Frei João dos Santos, autor da histórica obra Etiópia Oriental. Dela ainda se encontravam, em 1974, algumas paredes de pé, embora em franca ruina.
IGREJA DE SÃO LUÍS GONZAGA
Fig. 214 - Edifício da igreja desativada por falta de fiéis, em estado de degradação, rodeada de machambas.
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Fig. 215- Frente e porta principal da Igreja.
Fig. 216 - Estado de degradação do edifício, em 1969
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. Fig. 217 - O edifício depois de recuperado foi utilizado como escola primária. De acordo com informações fornecidas pelo padre Constantino Gerards coube a D. António Barroso restaurar, em 1892, a paróquia da ilha de Querimba, sob o título São Luís Gonzaga. Construída à custa dos moradores católicos da ilha do Ibo, a sua primeira pedra foi lançada em 16 de Fevereiro de 1893 e, a nova igreja, benzida em 21 de Junho de 1896. Esta segunda paróquia de Querimba não alcançou os frutos desejados, por falta de fiéis. Em 1969, o edifício da antiga paróquia que encontrava em mau estado, foi recuperado e utlizado como escola. 4.4- ATIVIDADES ECONÓMICAS
Fig. 218 - Casa de habitação em construção. 131
AS PALMEIRAS Sobre as palmeiras, seus frutos e utilidades escreveu o já citado frei João dos Santos: “Em todas estas terras da Etiópia Oriental há muitos palmares, muito estimados pelo proveito e vários frutos deles se colhem. (…O fruto natural de deles se colhe são os cocos, ao quais nascem no alto da palmeira em cachos e há cachos que tem 60 cocos ou mais e muitas palmeiras que tem 10 e 12 cachos”. Das palmeiras tiravam-se as seguintes utilidades: Dos lanhos água para beber; do miolo do coco, quando fresco, o leite de coco, quando seco e avelado a copra donde se extrai óleo; das inflorescência líquido denominado sura doce de que se faziam 3 espécies de vinho e açúcar; das folhas tecidas coberturas para casas que duravam 4 ou 5 anos; das cascas de fora o cairo para redes; e dos troncos velhos e duros, tabuado para embarcações.
Fig. 219 - Palmar entre habitações.
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Fig. 220 - Palmar com cerca de 60 000 plantas, propriedade privada de dois casais alemães,
Fig. 221 - Cocos e copra do dito palmar.
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Fig. 222 - O gado caprino é uma das principais riquezas da população desta ilha e das outras povoadas e também das gentes das terras firmes litorálicas.
ARTES E OFÍCIOS
Fig. 223- Construção naval artesanal com base em madeira local.
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Fig. 224 - Construção naval artesanal. Colocação de cavernas Existiam em 1971 na ilha de Querimba: 100 pescadores, 35 marinheiros, 2 cozinheiros, 13 alfaiates, 9 carpinteiros, 4 negociantes, 5 ourives, 1 barbeiro, 1 pedreiro, 1 pintor, 61 trabalhadores indiferenciados, 2 mainatos e 4 moleques. “por cada costa e da crueldade de que usavam com os naturais da terra que não queiram paz e amizade com eles, os quais executavam tão grande castigo que a nenhum perdoavam a morte, nem ainda a mulheres e meninos. Desta ilha era então senhor Lourenço Vaz de Carvalho, português.” A população da ilha de Matemo, em 1798, era de 486 habitantes, dos quais 172 escravos. Da população livre, 55% professava a religião católica e 45% a islâmica. Segundo o censo de 1971 habitavam esta ilha 631 pessoas, das quais apenas 1% era católica..
5- ILHA DE MATEMO A ilha de Matemo com de 8 800 metros de comprimento e 2 500 de largura, situa-se a norte da ilha do Ibo, sendo o N, NE e E a parte mais habitada. Os solos arenosos e de coral e a escassez de água limitam o desenvolvimento agrícola, mas permitem a cultura da palmeira. Sobre este e a ilha de Matemo escreveu Frei João dos Santos: a três léguas da ilha do Ibo, “ está uma grande ilha, que á a quinta, chamada Matemo, onde antigamente houve uma grande povoação de mouros, cujas ruínas o mostram ainda hoje, porque tem os portais e janelas de muitas casas guarnecidas de colunas bem lavradas, o que tudo destruíram os portugueses quando foram conquistando e tomando estas terras aos mouros, tendo muitas brigas com os moradores destas ilhas, nas quais, ainda no tempo em
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que eu lá estive, havia mouros que se lembravam dos primeiros portugueses que passavam.
Fig. 225 - Praia, do lado norte. Na linha do horizonte visualiza-se a ilha das Rolas, despovoada, onde, anualmente, nidificam milhares de rolas provenientes das terras firmes, onde causam graves prejuízos nas culturas de mapira, meixoeira e milho fino.
Fig. 226 - Praia do lado leste da ilha a servir de pista a um motociclista
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. Fig. 227 - Praia do lado oeste.
5.2 - PAISAGEM HUMANA
Fig. 228 - Dia de recenseamento populacional, entre palmeiras.
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Fig. 229 - Mulheres tiram água de poço, um bem escasso na ilha, com a ajuda de processos rudimentares: lata e corda.
Fig. 230 - Grupo de homens e rapazes em dia de recenseamento da população.
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Fig. 231 - Grupo de homens e rapazes. É bem visível a influência islâmica na maneira de trajar
. Fig. 232 - População e autoridades locais recebem visita da autoridade do distrito, Comandante Santos Prado e do Concelho Carlos Bento-
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Fig. 233 - População e autoridades locais, civis e religiosas, recebem administrador do concelho Carlos Bento. A ilha estava dotada de um campo de aviação que permitia a aterragem de pequenos aviões.
Fig. 234 - O regedor FaqueIja e sua Esposa 140
5.3 - ATIVIDADES ECONÓMICAS: agrícola, piscatória e artesanal
235 - Jovens palmeiras junto de habitação, de quatro águas, coberta a macute.
Fig. 236 - Habitações entre palmeiras. 141
Fig. 237 - Jovem palmeira em plena produção.
Fig. 238 - Pequena produção em solos coralinos. Artes e ofícios Em 1971, existiam em Matemo: 63 pescadores, 73 marinheiros, 15 carpinteiros, 6 alfaiates, 1 ourives, 1 pedreiro e 1 ferreiro e 61 trabalhadores indiferenciados.
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Fig. 239 - Calafate no desempenho de sua arte .
Fig. 240 - O que existia do património do passado: Restos de um templo islâmico ou católico?
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PALAVRAS FINAIS A publicação deste Álbum constituirá mais uma achega, não só para um mais profundo conhecimento da verdadeira história do concelho do Ibo e de suas três ilhas, como também de Cabo Delgado e de Moçambique, tanta vez desacreditada seja por falta de informação fidedigna ou por motivos ideológicos, ao mesmo tempo que ajudará fortalecer a memória histórica dos laços entre Portugal e a Lusofonia com um passado comum na construção de uma identidade colectiva de todos esses países.
REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS - Cartografia manuscrita do AHU Nº 513 - Plano e perfil da Fortaleza que o IIImº e Exmo. Snr. Governador, Capitão General de Mossambique, António Manuel de Melo e Castro, mandou fazer na Ilha do Ibo, Capital das de Cabo Delgado, que dezenhou por ordem do mesmo Snr. o Cappitão da Primeira Companhia de Granadeiros da Praça de Mossambique António José Teixeira Tigre (c. 1791). Nas 524-525 - Planta do forte velho da Ilha do Oybo, Capital das de Cabo Delgado/Planta A (tem legenda, c. 1791). Nº 566 - Planta da Fortaleza de São João do Ibo das Ilhas de Cabo Delgado, tirada em 6 de Julho de 1831/oferecida a correcção do IIImº e Exmo. Snr. José Miguel de Brito Governador e Capitão General/da Capitania de Moçambique. Petipé de 32 paços, de 24 polegadas cada hum"; D. 450x388 mm; MS; Av. Nº 513 - Plano e perfil da Fortaleza que o IIImº e Exmo. Snr. Governador, Capitão General de Mossambique, António Manuel de Melo e Castro, mandou fazer na Ilha do Ibo, Capital das de Cabo Delgado, que dezenhou por ordem do mesmo Snr. o Cappitão da Primeira Companhia de Granadeiros da Praça de Mossambique António José Teixeira Tigre (c. 1791). Nas 524-525 - Planta do forte velho da Ilha do Oybo, Capital das de Cabo Delgado/Planta A (tem legenda, c. 1791). *** - ALMEIDA, José C., “Relatório do Distrito de Cabo Delgado, de 20.7.1880” in. BO 8, de 18.2.1882, pp 77-85 - BENTO, Carlos Lopes, As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Situação Colonial, Resistências e Mudanças. 1993, 2 vols( Tese de doutoramento) - A Administração Colonial Portuguesa em Moçambique: Um Comando Militar em Mogincual entre 1886 e 1902", in Actas da III Reunião Internacional de História de África- África e a Instalação do Sistema Colonial( c.1885c.1930).Lisboa, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga do I.I.C.T., 2000, pp- 273-293. - "Situação Colonial nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Senhorios, Mercadores e Escravos"in Estudos de Desenvolvimento- África em Transição. 144
CESA, ISEG., 2000, p.p 15-37. - “Contactos de Cultura Pós- Gâmica na Costa Oriental de África. O Estudo de um Caso Concreto”, in Revista de Estudos Políticos e Sociais, ISCSP, Lisboa, 2000, p. 119-126. - “Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba- Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar” in Boletim da S.G.L., Série 119ª- Nºs 1-12, Janeiro-Dezembro-2001, p.p 83-121. -“A Ilha do Ibo: Gentes e Culturas-Ritos de passagem” in Separata de Estudos Políticos e Sociais, ISCSP, 2001, Vol. XXIII, nºs 1-4, Lisboa, 2001, p. 121167. - “Os Sakalava de Madagascar em Moçambique. Ataques às Ilhas de Querimba e Terras Firmes Adjacentes e Suas Implicações, entre 1800-1817”. Conferência apresentada na Academia de Marinha, em 2.11.2010. - “As condições de trabalho em Moçambique, depois da abolição da escravatura. Direitos e deveres dos serviçais e colonos e dos patrões, em 1880, na Província de Moçambique”. Conferência proferida, na Comissão Africana da SGL em 3.3.2011, no Auditório Adriano Moreira. - “A Mestiçagem Biocultural nas Ilhas de Querimba/Moçambique e suas Implicações na Administração Colonial Portuguesa. Achegas para o seu Estudo”. Comunicação apresentada, no dia 17.10.2011, na Sessão de homenagem à memória dos Prof. Mendes Correia e António de Almeida e drª Maria Emilia Castro de Almeida, organizada pelas Seções de Antropologia e Etnografia da SGLisboa. - “Sabores gastronómicos entre os wamwani da ilha do Ibo/Cabo Delgado. Achegas para seu estudo”. Comunicação apresentada no Colóquio Artes Culinárias na Lusofonia – Objectos e Práticas, promovido pela Secção de Antropologia, pelo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Cultural e Centro das Artes Culinárias que teve lugar na S.G. de Lisboa, no dia 26 de Junho de 2014; - “Ambiente, tráfico esclavagista e domínio colonial. O caso concreto do litoral moçambicano entre os rios Infusse e Kinga”. ( c.1880-1900 ). Conferência apresentada na Comissão Africana da S.G.Lisboa, em 11.12.2014. -“ A Governação das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado: População, Fragilidades, Violências e Rebeldias.(séculos 18º e 19º), SGL, 2017, pp. 288. -“Relatórios Anuais dos Governadores de Distrito. A situação Socioeconómica e Politica de Cabo Delgado(1850.1894), Memórias 23 da SGL, 2022, pp.204 - EICHARD, S. - "Carte des Iles Kerimba (Côte Orientale de Africa) - 1902. In Bulletin de la Societé de Geographie de Lille, 1904, Tomme 41, nº 6 (S.G.L.). - PALMA VELHO, José R., “Relatório do Distrito de Cabo Delgado, de 8.8.1886” in. BO 35, de 28.8..1886, pp 438-441. - PLANO HIDROGRÁFICO do porto do Ibo. Levantado pela Missão Hidrográfica da Colónia de Moçambique. 1939. Escala: 1:40.000 (B.N.). - Relação Geral dos Habitantes das Ilhas e Povoações e Terras Firmes dos seus Distritos, de 31/12/1798. A.H.U., Doc. Av. Moç., Cx. 82, Doc. 11, fls. 40. - SANTOS, Frei João dos - Etiópia Oriental, Publicações Alfa, vol. I,, 1989, p155 e 156, - SERPA PINTO, A. e CARDOSO, Augusto - Diário da Expedição Científica Pinheiro Chagas - Do Ibo ao Nyassa. Lisboa, S.G.L., Manuscrito Reservado de 10 fls. (146-B-27), 1885 e Boletim Oficial de Moçambique, nº 42, de 17/10/1885, p.p. 335-342.
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- SERPA PINTO e CARDOSO, Augusto - Expedição Científica Pinheiro Chagas - 1884-85. nº 1 Matibane, nº 2 Porto Bocage, nº 3 Porto Andrieta, nº 4 Fernando Veloso, Memba - Samuco, nº 5 Terras de Luli, nº 6 à volta de Pemba, nº 7 Ibo e terras vizinhas, nº 8 Ilha do Ibo, nº 9 Planta cotada do Ibo. 9 mapas manuscritos, coloridos, a papel vegetal (S.G.L.).
NOTAS PESSOAIS
O adm. Carlos Bento no exercício das suas funções burocráticas
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Louvor, concedido ao adm. Carlos Bento pelos serviços distintos e relevantes, prestados nos concelhos dos Macondes e do Ibo
Condecoração em 10.6.1973 Colocação medalha de prata de dedicação e mérito pelo intendente Fernando Marques 147
COMPLEMENTO PARA A HISTÓRIA DE CABO DELGADO NA VILA DO IBO, ASSOCIADOS DO CLUB RECREATIVO IBOENSE EM MAUS LENÇÓIS. (1920) Carlos Lopes Bento8
Centro Histórico da Vila do Ibo. CB.1971 A vila do Ibo, capital política, económica e cultural de Cabo Delgado, durante mais de 200 anos, com uma intensa vida social, foi uma das vilas mais famosas e relevantes de Moçambique. Teve dois Jornais (O Nyassa e o Echo do Nyassa), um Teatro (Almeida Garret), vários Consulados, dois clubes recreativos (Club 5 d’Outubro e Club Recreativo Iboense), duas bandas musicais9 e uma escola de música.
Nos finais de 1912, foi fundado o Club 5 de Outubro, cujos Estatutos foram aprovados pela Ordem nº 1743, de 12 de Março de 1913 (Boletim da Companhia do Nyassa, n´º 181, de 12 de Março, p.p 1666-1667).
8
- Administrador dos concelhos dos Macondes, Ibo e Pemba, entre 1967 e 1974. Antropólogo. Director Tesoureiro da Sociedade de Geografia de Lisboa. 9 - Ver: https://issuu.com/gotael/docs/para_a_hist_ria_da_m_sica_em_mo_ambique
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Foi a primeira sociedade de instrução, recreio e beneficência a aparecer na Vila do Ibo. Funcionou, regularmente, sem sobressaltos até 1918, data em foi presidente o farmacêutico João Alves Brandão de Carvalho que passou a receber críticas permanentes e sistemáticas do médico Rodolfo Fernandes do Amaral, que não via com bons olhos um subordinado seu em tal desempenho, tratando de envenenar os outros sócios, que “cativos pela sua lábia o fizeram eleger”. Em vez de corrigir os defeitos que vinha apontando à gerência anterior apenas contribui para a desorganização total do Club que teve de encerrar portas.
Meses depois, um grupo de ex-sócios daquele Club promoveu a fundação de uma nova sociedade com os objectivos do extinto, o Club Recreativo Iboense, cujos Estatutos foram aprovados pela Ordem nº 2273, de 6 de Abril de 1920, publicados no Boletim da Companhia do Nyassa, de 30 de Abril, p.p 2537-2541. Com o argumento de “que a ideia da fundação no novo clube partira de filhos das terra e traduzia o seu ódio ao europeu- quando o certo é que alguns dos seus fundadores são europeus e descendentes de europeus, … -, propôs-se o dr. Fernandes Amaral reorganizar o antigo Club 5 d´Outubro, para combater um inimigo fantástico - ódio de raça - que, evidentemente, não pode existir de europeu para europeu, nem deste para descendente de europeu e vice-versa”.
Reaberto o Club 5 d´Outubro, que funcionou sob a direcção do dr. Amílcar José Ribeiro, conservador do registo predial da Comarca da Cabo Delgado e juiz da mesma, que foi quem ordenara a prisão, na noite de 6 de Abril de 1920, de 26 indivíduos que estavam no Club Recreativo Iboense, numa pequena festa em honra do advogado Domingos Barreira Diogo, a quem havia sido cassada a licença de advogar, agora ganha em recurso, sob o pretexto de que nela se estava fazendo uma manifestação pública ofensiva ao poder judicial.
O relato dos acontecimentos segundo o quinzenário Eco do Nyassa: “…Reabriu, pois o Club 5 d´Outubro, que funciona agora sob a direcção do snr dr. Amílcar José Ribeiro, conservador do registo predial desta Comarca, servindo de juiz da mesma, que foi quem ordenou a prisão acima referida efectuada na noite de 6 do mês passado, no Club Recreativo Iboense, sobre o estranho pretexto de que nele se estava fazendo um manifestação pública ofensiva do poder judicial-depois de muito instigado por 3 ou 4 sócios do club que dirige segundo informação que temos por segura e sobre participação do agente do Ministério Público em que o snr. dr. Artur
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Águedo, que também é membro da mesma sociedade, lhe apresentou, como crime averiguado, um facto que de criminoso só poderia ter aquilo que na sua imaginação que quisesse adicionar quem andasse meditando um plano de perseguição de morte à sociedade em cujo seio o facto se deu, e que aqui vamos relatar tal qual se passou, com todas as circunstâncias que o precederam, para bem evidenciarmos, como convém, a ilegalidade do procedimento que ele determinou da parte da justiça local e que se acha compreendido no título deste artigo. Relatemos, pois, o caso sem mais preâmbulos. Contra o advogado provisionário desta comarca, Domingos Barreira Diogo, que vive aqui há 20 anos, exercendo há 8 a advocacia, foi pelo substituto legal do juiz de direito, o snr dr. Amílcar José Ribeiro, que chegou a esta vila há apenas 6 meses, instaurado, em janeiro, um processo disciplinar de cassação da licença de advogar, que teve a sua origem na pessoa do dr. Rodolfo Fernandes Amaral, na sua dupla qualidade de substituto do juiz de direito e de chefe do concelho. Do despacho lançado no processo cassando-lhe a licença interpôs o advogado Barreira o competente recurso, obtendo provimento. Ao terem conhecimento da boa noticia por ele recebida, em telegrama de Lourenço Marques, na manhã de 6 do mês passado, os sócios do Club Recreativo Iboense, de que ele também faz parte, quiseram, como seus velhos e bons amigos, significar ao referido advogado que participavam da satisfação que ele devia estar cheio naquele dia, e, para isso, fizeram à noite, no seu club, uma pequena festa em sua honra, sendo ele presente, é claro. Estando assim reunidos em festa íntima, aí pelas 22 horas, mais ou menos, entrou no club o senhor Rui Leitão, intendente do Governo da República, nesta vila, com 6 polícias, deixando postado o grosso da força que levava em frente da porta de entrada e da do quintal e à ordem do snr juiz prendeu todas as pessoas que lá encontrou, com excepção de 2 sócios estrangeiros (um inglês e um suisso) e de umas senhoras e duns menores de 10 anos, família de sócios que com estes lá estavam também. Os presos foram 26, havendo entre eles, alguns menores de 18 e 14 anos. Quase todos membros da banda de música da vila, que agora só o club mantem e que ali estavam tocando, como tocam todos os dias em que não haja qualquer impedimento da parte dos elementos que a compõem. Antes de efectuar a prisão foi um dos sócios presentes chamado à Intendência, onde se achavam reunidos, como que em conciliábulo, em que ela houvesse de ser deliberada, quase todos os sócios do Club 5 d´Outubro - talvez para não ser
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envolvido na rêde - por isso não deveria convir ao senhor intendente, visto tratar-se do seu secretário. E, como não estava na reunião da intendência certo sócio do Club 5 d´Outubro bem relacionado com todos os do Club Recreativo Iboense, e agora já sócio, tratou-se de saber se estaria lá na festa, para se proceder para com ele como se procedeu com o secretário da Intendência, talvez por, além da qualidade já referida, reunir em si também a de director dos serviços aduaneiros do Territórios. Levada a efeito a prisão, foram os presos conduzidos directamente à cadeia apesar de terem desde logo, reclamado a sua apresentação ao senhor doutor juiz, afim de prestarem caução e serem postos em liberdade. Chegados à cadeia, onde os esperava o senhor doutor Artur Águedo, como representante do Ministério Público, para ter a satisfação de nela os encerrar, insistiram os presos em reclamar a sua apresentação ao senhor doutor juiz, sendo levados â Intendência, onde se prontificaram a prestar caução por meio de deposito da quantia que lhe fosse arbitrada, mas debalde, porque sua excelência o senhor juiz, sendo então atendidos, não sem certo custo, que tinha ainda junto de si todas ou quase todas as criaturas que o rodeavam, quando ordenara a prisão nem sequer lhes quis aparecer, dizendo lá dentro, em voz tonante, ao senhor Intendente, por intermédio de quem lhe a apresentaram a sua pretenção, que fossem para a cadeia e de lá requeressem então para prestarem a caução que se ofereciam a prestar. Em vista de uma atitude assim em tão flagrante colisão com a Constituição que, há nove anos, vem regendo a Nação Portuguesa, os presos reconheceram que havia, da parte da justiça local, o propósito firme de os vexar até á sua entrada para a cadeia e consequente inscrição dos seus nomes nos registos da mesma, pelo que, para não ser acusados de rebeldes, como seriam, de certo, se usassem do direito de resistência à ordem do seu encareçamento, apesar de tão evidentemente ilegal, que até leva a supor que o seu autor possa ter por divisa o Oderint dum metuant (Que me detestem, contanto que me temam), citado por Cícero, resolveram-se a dar entrada na prisão, para de lá pediram, em acto contínuo, como pediram, estando presente o representante do Ministério Público, que lhes fosse arbitrada a importância da caução que desejavam prestar e se lhes desse a liberdade. Apresentado o requerimento ao juiz substituto legal, dr Amílcar José Ribeiro, declarou-se ele impedido, passando por isso, a resolução do assunto a pertencer ao juiz substituto de nomeação, dr Rodolfo Fernandes do Amaral. Este, por sua vez, mandou dar vista dos autos do incidente ao Ministério Público o snr dr. Artur Águedo, que, com tanto interesse, havia acompanhado até então o desenrolar do estranho acontecimento, eclipsara-se precisamente na altura em que
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o seu zelo de magistrado era chamado ao caso, para não mais aparecer nessa noite, apesar de se empregarem os melhores esforços para o encontrar. Devido ao desaparecimento do agente do Ministério Público ficou o assunto da caução para o dia seguinte e lá tiveram os presos, atirados ao páteo da cadeia com toda a sem cerimónia, que acomodar-se o melhor que puderam, dormindo quase todos ao relento por acharem isso menos prejudicial ao físico, do que amontoaremse numa única pocilga que estava vaga e que, mesmo assim, nem sequer lhe fôra oferecida. El relíquia. No dia seguinte lá lhes foi emfim arbitrada a importância da caução de 300$00 poe cabeça, mas a sua soltura só foi ordenada cerca das 20 horas, porque se tratou primeiro de os submeter a perguntas, começando o serviço aí pelas 16 horas para se interromper, depois do terceiro interrogatório, à hora referida, devido à reclamação verbal dum dos interrogados, apresentada pelo advogado que tratava da caução ao juiz autor da prisão, que a deu favoravelmente, e a fez valer junto do juiz que tão irregularmente vinha organizando o processo. E assim desenvolvido o assunto do nosso tema, fecharemos perguntando: onde estará o verdadeiro motivo de tanta arbitrariedade, visto a sua razão aparente ter um desmentido formal na flagrante incoerência em que se exceptuaram da prisão os 2 sócios estrangeiros, as senhoras e o secretário da Intendência- por a festa, em todos tomavam parte, não poder ser ofensiva e não ofensiva, ao mesmo tempo? Pedro Diniz.”10 Estamos perante um caso flagrante de discriminação e de injustiça praticadas por altas individualidades administrativas e judiciais, responsáveis pela administração colonial, em que foram presas, alegadamente, por prática de manifestação pública ofensiva ao poder judicial, entre menores e maiores de idade, mais de duas dezenas de cidadãos, por estarem reunidos, no seu Club, numa festa íntima realizada em honra de um amigo que havia tido provimento de um recurso que apresentara. Na origem, não terão existido, no presente caso, factos de outra natureza, como o preconceito e discriminação social e racial, que levariam à prisão de tão elevado número de moradores da Vila? Quais os motivos que teriam levado à cassação da licença para advogar a Domingos Barreira Diogo?
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- Trabalho baseado no artigo” JUSTÇA LOCAL. Cúmulo da arbitrariedade- Prisão de 26 indivíduos em festa intima num Club “ inserido no Quinzenário Eco do Nyassa, nº 20, de 15.5.1920 p. 1 e 2, da autoria Pedro Diniz e Boletins da Companhia do Nyassa. Grafia segundo o original.
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As respostas a estas duas questões só uma investigação sistemática ao processo disciplinar instaurado a poderá fornecer.
Pesquisa e texto de Carlos Lopes Bento.
CURRICULUM VITAE – SINTESE
DADOS PESSOAIS Carlos Lopes Bento, nasceu no ano de l933, em Mouriscas, concelho de Abrantes e reside no Monte de Caparica, concelho de Almada FORMAÇÃO ACADÉMICA ✓ Doutorado em Ciências Sociais –Especialidade: História dos Factos Sociais, em 1994, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa ✓ Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo mesmo Instituto e Diplomado com o Curso Superior de Administração Ultramarina pelo antigo Instituto Superior de Estudos Ultramarinos. ATIVIDADE PROFISSIONAL E CIENTÍFICA ✓ Em Moçambique, por motivos profissionais, de 1961 até 1974, onde desempenhou funções de chefia e realizou trabalho de campo entre os povos makhwa de Murrupula e Mogincual, makonde de Mueda e mwani das Ilhas de Querimba e Porto Amélia (Pemba) ✓ Em 1994, defendeu, publicamente, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas, da Universidade Técnica de Lisboa, a tese de doutoramento “As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado, Situação Colonial, Resistências e Mudança -1742-1822. 153
✓ Docente universitário, desde 1980, nas Universidades Livre e Internacional e no Instituto Superior Politécnico Internacional ✓ Para além da orientação de vários trabalhos finais de licenciatura, leccionou “Introdução às Ciências Sociais, Metodologia da Investigação, Antropologia Cultural e Comportamento Organizacional” nas licenciaturas de Gestão Turística e Hoteleira e de Gestão Bancária e Seguradora, do Instituto Superior Politécnico Internacional (ISPI). ✓ Foi director do Centro de Investigação Aplicada em Gestão Hoteleira e Turística, tendo coordenado o Projecto de I&D sobre “Culinária tradicional num processo de mudança, na zona do Pinhal” ✓ Presidiu aos Conselhos Pedagógico e Científico do ISPI. ✓ Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde exerceu cargos de direcção, nas secções de Etnografia, Antropologia e História. ✓ Fez parte da Direcção da mesma, e de vários centros de investigação ligados a África, onde tem apresentado dezenas de Comunicações ✓ Investigador em vários projectos de natureza sócio-politíca e de desenvolvimento em todo o Continente e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, designadamente, "A Reconversão da Pesca Artesanal, entre os rios Tejo e Sado - Aspectos Humanos", comparticipado pela JNICT ✓ Participação em muitas dezenas de eventos científicos ligados à temática africana e do turismo. ÁREAS CIENTÍFICAS DE INTERESSE Continua a interessar-se pela Antropologia Africana- governação colonial, ritos de passagem, alimentação e contactos de cultura- pela cultura alimentar tradicional, pela cultura organizacional e pelos problemas humanos relacionados com a mudança em comunidades rurais e piscatórias e em organizações empresariais, particularmente, turísticas e hoteleiras.
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AUTOR Professor Dr. Carlos Lopes Bento OUTUBRO 2022 © J L Gabão/BR ForEverPEMBA
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