PARA A HISTÓRIA DE CABO DELGADO COLONIAL A CONSTRUÇÃO DO FAROLIM DA MUJACA, NA ILHA DO IBO Prof. Dr. CARLOS LOPES BENTO em Monte da Caparica, 13.11.2014 - © ForEver PEMBA 2014
PARA A HISTÓRIA DE CABO DELGADO COLONIAL
A CONSTRUÇÃO DO FAROLIM DA MUJACA, NA ILHA DO IBO Carlos Lopes Bento1
Ponta da Mujaca com o seu farolim. 1971 O governador do distrito de Cabo Delgado, pelo ofício nº 99, de 1 de Julho de 1869, dirigido ao Governador-geral de Moçambique, dava conta da necessidade urgente “de se construir, na ponta da Mujaca, uma pirâmide de alvenaria com a altura suficiente para poder servir de baliza para reconhecimento das embarcações que demandam o porto do Ibo, por isso que este é de muito difícil acesso pela falta de marcas que indiquem o canal da entrada”. Para o efeito apresentou, o dito governador, um orçamento cuja despesa orçava “em cento e oitenta mil réis, sendo a pirâmide de 8 metros de altura, 2,5 1
-Antropólogo. Prof. universitário. Administrador dos concelhos dos Macondes, Ibo e Pemba, entre 1967 e 1974. Director tesoureiro da Sociedade de Geografia de Lisboa .
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metros de diâmetro, sobre uma base quadrada de 3,5 metros e com alicerces de 1,5 metros” A obra foi arrematada em 13.12.1869, sendo tomada de empreitada por Francisco Dias Santos, proprietário e residente na Vila do Ibo. No acto estiveram presentes, para além do empreiteiro: o governador de distrito João António de Sousa Júnior, Justiniano Arcanjo de Albuquerque, Roberto Camilo Ludovico Figueiredo e o escrivão João Francisco Raimundo Pereira A pirâmide a construir “será toda maciça e construída de alvenaria pintada de branco, tendo oito metros de altura, dois e meio metros de diâmetro, sobre uma base quadrada de três e meio metros, com alicerce de um e meio metro” As obras tiveram início em Junho de 1873, ficando concluídas em Dezembro do mesmo ano, sendo o seu custo total 1991$050 réis.
Na construção do pedestal do farolim tomaram parte pedreiros, carpinteiros, pedreiros,
jornaleiros/serventes(M
e
F),
marinheiros e seus “coches”.
Jornas diárias, em réis:
2
moleques,
serrador,
olheiros,
Oficiais e serventes
Salário diário, em réis
Carpinteiros- mestres
$300 $240
Carpinteiros $190 Carpinteiros $280 Pedreiros- mestres $240 Pedreiros $190 Pedreiros $300 Serradores $200 Olheiros $60 Olheiros-soldados $140 Jornaleiros/serventes $120 Jornaleiros/serventes $100 Jornaleiras
para
condução
de
materiais $100 Moleques
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Os salários praticados são menores do que aqueles se pagaram aquando da construção da Fortaleza de S. João Baptista(1789-1794): carpinteiros $500, pedreiros $400, oficiais $200 e serventes $100. Dada a natureza e situação geográfica da obra, que necessitava que a carga das embarcações, vinda do porto de cabotagem do Ibo, tivesse de ser depois transportada das ditas embarcações para o local da sua construção, foi utilizada mão-de-obra feminina, mais hábil neste género de trabalho. A construção da pirâmide teve lugar entre Junho e Dezembro, período de menor actividade agrícola e mais liberto para as mulheres se poderem ocupar em tarefas menos habituais e, raramente, desempenhadas. Material utilizado na construção:
Designação
Quantidades
Custo unitário, em réis
905 barris
$180
Pedras lavradas
100
$125
Lages para cimalha
380
$30
Tijolos
500
$10
Cal
1 Ferro
1 arroba e 12 arráteis
1$200 a arroba
48 libras
$10
Machado para pedreiro
1
$500
Coita para cortar mato
1
$400
Alcatrão
4
Caixotes para os pedreiros
4
$37,5
Alcofas
25
$40/50
Fumbas
10
$100
8 meadas
$100
16
$900
Pregos(ponta de paris)
2 libras
$200
Funil para encher barris
1
$200
12 metros
$187,5
2
$250
a varanda do pedestal
3
$227
Caniço para a palhota
-
$500
200 paus
$110
-
$530
Cairo Barris
vazios
para
transporte de água
Algodão para toalhas para limpeza farolim Pedras de pó para limpeza farolim Vigotes de mecrusse para
Macute para palhota Azeite lanterna
de
coco
para
pequena
destinada a acender luz farolim Um pedaço de sândalo para a festa a ter lugar no dia em que se assentarem as primeiras pedras do alicerce do pedestal, a
5
pedido dos operários e
-
$250
2 panjas
$250
15 garrafas
$200
-
1$900(total)
trabalhadores Milho fino para a dita festa Aguardente gratificação
para do
pessoal
que ajudou a descarregar e a levar para terra a casa de ferro Aguardente e cocos para a festa
dos
operários
e
trabalhadores a ter lugar em Agosto
Nas despesas apresentadas encontramos dois produtos, sândalo e milho fino(mapira) destinados à festa destinada a sacralizar o local, protegendo-o dos inimigos(vivos e mortos).2 É de estranhar a distribuição de aguardente, visto que, partir dos finais do século XVIII, foram postas em prática, pelas autoridades portuguesas, medidas que tinham por objecto substituir as bebidas alcoólicas, causadoras de "moléstias inflamatórias", por café e chá.
Fretes pagos no transporte marítimo de material para o Ibo e daqui para a Mujaca
2 - A mapira é dos cereais mais antigos de África e das Ilhas e por esse facto está presente nos rituais mágicoreligiosos mais significativos da comunidade mwani. A festa referenciada, de natureza mágico-religiosa, feita a pedido dos trabalhadores, dirigida por um n'kanga ou um mualimo, destinava-se a proteger a nova construção contra espíritos maléficos que poderiam pôr em causa o bom funcionamento do farolim. O sândalo tem efeito purificador,
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Quantidades
Custo unitário, em réis
-
5$000(total)
4 barcadas
5$400
13 barcadas de um
$200
Material Frete do farol, casa de ferro e escada, na barca Felix para a Vila do Ibo Frete
pagos
pelo
transporte de 635 barris de cal, Frete
coche Pagamento
a
3
tripulantes do dito coche
13 dias
$120
89 dias
$200
Frete de um coche para levar água
2 barcadas de cal Frete
2$700
Frete de uma lancha
8,5 barcadas de areia
1$350
Frete
16 barcadas de pedra
2$700
Após a conclusão da sua montagem, o farol na ponta Mujaca começou a funcionar em 8 de Dezembro de 1873. Do facto dá-nos conta o Aviso de 22.4.1874, feita à navegação: CANAL DE MOÇAMBIQUE Começou a funcionar em 8 de Dezembro de 1873 um farol na ponta Mujaca ilha do Ibo (África Oriental). O aparelho é dióptrico e de luz branca fixa, elevada 15.metros, 5 acima do nível médio do mar, visível a 14 milhas da tolda de um navio. A orientação da frente da lanterna é N. 62.° E. verdadeiro sendo a variação magnética .11.° 30' O. Eleva-se a lanterna 4.m, sobre uma guarita quadrangular de ferro de 2 metros,12 de altura e está sobre um pedestal de alvenaria de 6 metros. acima do solo. Todo o edifício é pintado de branco e jaz em 12º,19’, 30’’ de long E.G.
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No pedestal há um mastro com mastaréu aonde se arvora a bandeira Portuguesa ao aproximar-se qualquer navio. O campo luminoso do farol está compreendido entre os rumos N.45ºO. e S.9º, 30’E., verdadeiros, passando pelo N. Aqui deixo mais este trabalho de pesquisa, elaborado com base no Boletim Oficial de Moçambique.
Autor – Prof. Dr. CARLOS LOPES BENTO, Monte de Caparica, 13.11.2014 © ForEver PEMBA 2014
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