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Mariana Ximenes: a elegância do

MARIANA XIMENES

A ELEGÂNCIA DO EQUILÍBRIO

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Uma das carreiras mais consistentes da televisão brasileira, construída de maneira efetiva e incessante, consolida a atriz e suas múltiplas virtudes

Por Marcella Oliveira Fotos Giselle Dias

"Respeito muito minhas lágrimas… Mas ainda mais minha risada… Inscrevo, assim, minhas palavras". É citando os versos de Vaca Profana, letra de Caetano Veloso eternizada na voz de Gal Costa, que a atriz Mariana Ximenes descreve como se sente aos 41 anos. "De alma lavada". Demonstra ter encontrado o equilíbrio. Especialmente nas pausas na vida atribulada. "Para entendermos onde estamos e para termos clareza em como seguir a jornada".

Depois de emendar as gravações da novela Nos Tempos do Imperador com seu programa, Happy Hour com Mariana Ximenes, e com a série da Turma da Mônica, a atriz ficou fora por alguns meses. "Viajei, visitei amigos, revisitei lugares que amava, conheci outros, trabalhei também. Esse tempo – os silêncios, as aventuras, o novo – trouxe uma conexão maior comigo mesma, aguçou meus instintos e me deixou ainda mais pronta para este novo ciclo que começou ano passado", revela, referindo-se a passagem dos quarenta anos.

"Sou cuidadosa e gosto de cultivar minhas amizades"

Envelhecer não é um medo para a atriz. "Quero envelhecer com lucidez, com boas decisões, rodeada por afetos, colecionando histórias e amigos, tendo consciência do que é meu desejo e do que talvez seja algo que eu esteja fazendo para atender uma expectativa alheia. Assim posso ser cada vez mais fiel a mim. O passar dos anos é transformador. Quero continuar seguindo inteira, amadurecendo, experimentando, mostrando que a idade não é barreira para nada", declara, citando mulheres que admira, como Fernanda Montenegro, Meryl Streep, Jane Fonda, Angela Davis, Clarice Lispector e Viola Davis.

Equilíbrio também sempre foi preciso em relação às cobranças externas. "Nós, mulheres, somos muito cobradas desde que nascemos. Nos desvencilharmos disso é muito difícil", diz. E complementa: "Falamos tanto sobre a mulher ter liberdade para fazer escolhas, estamos avançando neste aspecto. Mas, ao mesmo tempo, ainda querem que nós tenhamos aquela família tradicional: casar, ter filhos, criar os filhos… Eu não tenho nada contra, mas há mulheres que não vêem nisso o ápice da felicidade. Eu quero sim ter filhos, mas ainda não aconteceu".

No caso de Mariana, a cobrança externa veio com o agravante de ser uma pessoa pública e ter vivido todos os desafios que o amadurecimento traz sob os holofotes. "Mas acho que também tentava colocar isso em perspectiva para não ficar refém dessa cobrança e desse olhar. Esse é o ônus, se é que eu posso colocar assim, de ganhar a vida fazendo o que eu amo. Sempre me preservei muito também, o que fez com que o público e a imprensa respeitassem esse espaço mais privado", analisa.

Equilíbrio também busca nos cuidados com mente, corpo e alma. A alimentação é balanceada, mas de vez em quando escuta seus desejos. Faz musculação e ioga. Cuida da pele e não vê problema em se render a alguns tratamentos corporais. "Precisamos ajudar a genética (risos)". Meditação está na rotina diária. E, claro, o respiro para a mente: "visito exposições, tiro um tempo para deitar numa rede e ler um livro, vejo filmes, séries, vou ao teatro, adoro curtir um show. Procuro me nutrir de tudo que me instiga, que alimenta a minha alma também".

Foi em busca do equilíbrio que sobreviveu à pandemia. "Ela foi muito dura. Mexeu muito comigo pessoalmente e profissionalmente." Perdeu pessoas próximas e queridas, sofreu com a distância da natureza e por não poder reunir os amigos. "Fiquei sem mar durante sete meses. Quando fui ao Rio trabalhar, e a Roberta Sá me levou para dar um mergulho, eu chorei. Foi uma emoção ter contato de novo com água salgada, o cheiro, a sensação".

Sensível ao falar da natureza, vem à tona no papo como a causa ambiental a toca. "No meu dia a dia, procuro marcas sustentáveis, evito o consumo desenfreado, adoro moda de brechós, por exemplo. Assim vamos mudando a mente das pessoas, mostrando que dá para fazer diferente", acredita. Por duas vezes, fez a campanha Não Esqueça Mariana, para cobrar os responsáveis pela tragédia com a barragem em Minas Gerais. Em 2022, participou do Ato pela Terra, que cobrava que os projetos conhecidos como Pacote da Destruição fossem barrados. "O que estamos deixando para as próximas gerações? Não podemos usufruir de tudo sem nos preocuparmos com o todo, sem nos preocuparmos com a finitude dos recursos naturais. Precisamos usufruir do que a natureza oferece com responsabilidade, de maneira mais pacífica e sustentável", defende.

Em ação

Mocinha, vilã, engraçada, sensual, de época. Ana Francisca, Clara, Bionda, Tancinha, Condessa de Barral. Quantas Marianas temos conhecido ao longo dos seus mais de vinte anos de carreira. Em 2022, foi possível, em determinado período, assistir três versões dela no ar: em Ilha de Ferro, A Favorita e Chocolate com Pimenta. "Para mim, é muito bom olhar para esses trabalhos e me ver de maneiras tão diferentes. Para o ator, isso é um desafio maravilhoso", confessa.

"Procuro marcas sustentáveis, evito o consumo desenfreado"

Mais do que sua beleza física – e as mudanças de visual que muitas vezes uma trama exige –, Mariana entrega às suas personagens também suas emoções. "Gosto de traçar um perfil psicológico de cada personagem e quem trabalha isso comigo é a Kátia Achcar, que é psicanalista e vai encontrando os caminhos para aquela pessoa vir à tona. Porque é isso: cada uma é a pessoa com quem vou conviver por alguns meses", conta.

Enquanto colhe os frutos de 2022, Mariana analisa projetos para 2023. "Estou estudando algumas propostas e muito animada com a possibilidade de voltar a atuar, seja na tevê, no cinema ou no streaming", diz, sem adiantar muito.

Paralelo ao trabalho de atriz, Mariana também transita pela moda. "Moda é expressão, é comportamento. Não é apenas uma roupa, é o que a gente comunica ou quer comunicar com aquilo que está vestindo. É o que os estilistas e as marcas almejam ao criarem uma coleção. A moda é também um reflexo do seu tempo, como toda manifestação artística", analisa.

Em novembro, esteve na primeira fileira no desfile da Dior na Semana de Alta-Costura de Paris. "Pude conhecer a Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da Dior, no fim do desfile. Acho ela uma mulher muito forte, com ideias na moda bastante progressistas, que fala sobre feminismo, sobre a força da mulher. Viver aquele momento foi mágico", relembra. "Temos coisas lindas sendo feitas no Brasil também. São Paulo é uma cidade que me permite viver essa relação com a moda, o design, a arquitetura, com a arte de uma maneira geral de maneira bem próxima", afirma.

Prazer, Mariana

Em 2022, mais do que seu talento para viver personagens, conhecemos melhor a Mariana pessoa. Elegante e clássica, doce e carinhosa, inteligente e sagaz. Divertida e dona de uma risada gostosa, seus papos na série Happy Hour, da GNT, aproximaram-nos dela. "Foi a primeira vez que o público me viu em uma posição em que eu não estava interpretando uma personagem. Foi uma experiência bem diferente para mim".

Foi uma oportunidade de reencontro com amigos após a pandemia. Ainda mais para um drink. O seu preferido? "Depende da ocasião", diz, aos risos. "Eu adoro o Martini e suas versões. Acho um charme a maneira como ele é servido, sem contar que é um drink que aparece muito no cinema e na literatura. Mas também o Manhattan, que eu aprendi com o programa e ele entra numa cena antológica da Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon em um dos filmes que eu mais gosto na vida: Quanto Mais Quente Melhor", revela.

Aliás, seu jeito extrovertido e carinhoso com os convidados do programa revela como Mariana é. "Sou cuidadosa e gosto de cultivar minhas amizades, meus laços afetivos. Adoro receber em casa, por exemplo, promover encontros, agregar pessoas em volta de uma boa mesa", conta.

Esse carinho se reflete em suas redes sociais. Quem acompanha vê como ela enaltece os amigos. E, claro, é uma forma de ela se conectar com seus fãs. "Minha relação com as redes sociais está cada vez mais natural. Eu gosto de estar ali, de ter essa relação mais direta com o público", confessa, sobre as postagens em que mostra seu dia a dia, suas viagens, o que gosta de ver, ler, assistir e ouvir. "Procuro criar lugar para discussões que eu acho importantes. Para mim, a rede social é um espaço de diálogo, de troca", define.

A busca do equilíbrio envolve também seu habitat. "Eu me divido entre São Paulo e Rio de Janeiro. Agora estou vivendo mais a minha raiz paulistana", revela. Faz da sua casa seu refúgio. Vive entre livros, arte, plantas e memórias. "Crio meus lares de acordo com minhas vivências, tenho objetos de todos os lugares que já visitei, 'bugigangas afetivas' (risos)", conta. E, claro, quando está no Rio, não deixa dar um mergulho no mar, ir a uma cachoeira ou fazer uma trilha. "E encontrar um lugar ao ar livre para fazer yoga".

Com o equilíbrio entre tranquilidade e energia, calmaria e agito, Mariana vai vivendo a vida. Seu lema? A poesia de Gilberto Gil: "andar com fé". Entre a disciplina do trabalho e a leveza que permeia seu dia a dia por meio da arte, Mariana gosta de dançar. E, num equilíbrio entre o que se tem controle e o que não se tem, Mariana dança conforme a música, como repete no verso de seu amigo Zeca Pagodinho: "eu deixo a vida me levar…"

"Eu deixo a vida me levar…"

2022

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