A Mente do Fotógrafo: Pensamento Criativo para Fotografias Digitais Incríveis

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Exposição perfeita: Guia profissional para fotografias digitais incríveis Michael Freeman

SAIBA MAIS Formato: 23,6x25,5cm Páginas: 192 ISBN: 9788540701311 Ano: 2012 Sobre a obra: Busca desvendar o mistério por trás da criação de uma imagem, explicando o que torna uma fotografia incrível e explorando como e por que os grandes fotógrafos conseguem fazer isso todas as vezes que fotografam.

Conheça também os outros títulos da série


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Tradução técnica: Gustavo Razzera Fotógrafo e Artista Gráfico Bacharel em Filosofia pela UFRGS Obra originalmente publicada sob o título The Photographer´s Mind: Creative Thinking for Better Digital Photos ISBN 978-1-905814-97-8 / 1905814-97-8 First published in the UK in 2010 by ILEX Copyright©2010 The Ilex Press Limited Capa: Rogério Grilho, arte sobre capa original Leitura final: Antenor Savoldi Jr. Gerente editorial – CESA: Arysinha Jacques Affonso Editora responsável por esta obra: Mariana Belloli Editoração eletrônica: Techbooks

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Freeman, Michael. A mente do fotógrafo : pensamento criativo para fotografias digitais incríveis / Michael Freeman ; [tradução técnica: Gustavo Razzera]. – Porto Alegre : Bookman, 2012. 192 p. : il. color. ; 23,5 x 25,5. ISBN 978-85-407-0148-9 1. Fotografia. 2. Fotografia digital. I. Título. CDU 77

Catalogação na publicação: Fernanda B. Handke dos Santos – CRB 10/2107

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à BOOKMAN EDITORA LTDA, uma empresa do GRUPO A EDUÇÃO S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana 90040-340 – Porto Alegre – RS Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. Unidade São Paulo Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 – Pavilhão 5 – Cond. Espace Center Vila Anastácio – 05095-035 – São Paulo – SP Fone: (11) 3665-1100 Fax: (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 – www.grupoa.com.br IMPRESSO NA CHINA PRINTED IN CHINA

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SUMÁRIO 8

CAPÍTULO 1: INTENÇÃO

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Camadas de assunto

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Boa aparência

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Outra beleza

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Monstros mortos

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Clichê e ironia

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Elevando o mundano

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O revelar

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CAPÍTULO 2: ESTILO

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A extensão da expressão

90

Equilíbrio clássico

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Harmonia

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Conduzindo o olhar

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Oposição

124

Estilo pouco gráfico

128

Minimalismo

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Estilo muito gráfico

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Desordem projetada

148 CAPÍTULO 3: PROCESSO

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Modelos de imagem

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Composição interativa

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Tempo e movimento

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O visual

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Hiper-realista

176

Enriquecido

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Lavado

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Luminoso

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Índice Agradecimentos, créditos das imagens e bibliografia

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INTRODUÇÃO: FOTOGRAFIA DEMOCRÁTICA “Ela é toda automática. Tudo que tenho a fazer é apertar este botão. É uma câmera que qualquer amador compra. [pausa, aponta para sua cabeça] está tudo aqui.” riou-se uma tradição em fotografia de que os textos e comentários sérios têm como alvo um público não engajado – pessoas que, por elas mesmas, provavelmente não vão pensar em todas as questões por trás da fotografia. Quando Susan Sontag escreveu Sobre Fotografia, não acho que ela estivesse esperando que seus leitores fossem entrar na briga, tirando fotografias. Ela começa com a pressuposição de que os leitores estariam olhando para fotos já feitas: “...educados por fotografias... antologia de imagens... Colecionar fotografias é colecionar o mundo.” Quando ela discute sobre a fotografia feita por pessoas comuns, a discussão é sobre um fenômeno social: “...a fotografia não é praticada pela maioria como uma arte. Ela é principalmente um rito social...” Isto faz parte de uma tradição mais ampla de comentários de arte e crítica. Críticos e historiadores da arte como John Ruskin, Bernard Berenson e Clement Greenberg não tentavam agradar aspirantes a pintor. Mesmo assim, por mais compreensível que isso possa ser para a maior parte das artes, a fotografia é diferente. Eu diria recentemente diferente, porque a combinação do digital com a banda-larga, associada a uma mudança de status e propósito da arte, marcou a entrada da era da fotografia democrática. O próprio público da fotografia também tira fotos! Ai, ai, ai... Artistas raramente ficam à vontade com esse tipo de coisa, mas a evolução da fotografia foi assim, e acho que é uma boa hora para juntar o ato de ler fotografias com o ato de fazer fotografias. Além disso, o comentário sobre artes nem sempre foi desengajado. Quando Cícero escreveu

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HELMUT NEWTON

Sobre a Invenção no primeiro século A.C., e posteriormente o filósofo grego Dionísio Longino escreveu seu tratado sobre poesia e retórica Sobre o Sublime, eles estavam dando instruções práticas. Considerava-se que as artes da oratória e da escrita certamente seriam adentradas por quem quer que fosse educado. Bem, agora temos todo um universo da fotografia no qual milhões de pessoas estão engajadas, e uma quantidade significativa delas está usando a fotografia para fins de expressão criativa. Aprender a ler melhor uma fotografia pode, e provavelmente irá, levar você a fazer fotografias melhores. De qualquer forma, esta é minha premissa aqui. A pergunta que vale um milhão, é claro, é o que faz uma fotografia ser boa? É a pergunta que recebo com maior frequência em palestras e entrevistas. Esta pergunta é famosa por ser tão vaga. Eu poderia ter dito “bem composta” ou qualquer uma de uma série de qualidades mais específicas, mas isso limitaria a resposta. Se nos distanciarmos um pouco para ter uma visão mais abrangente, na verdade não fica tão difícil listar as qualidades das boas imagens. Para mim são seis. Você pode querer acrescentar algumas, mas eu diria que elas funcionariam como um subconjunto dessas seis. Nem todas as boas fotografias satisfazem todas as condições a seguir, mas a maioria: 1. Compreende o que geralmente satisfaz. Mesmo que uma imagem transgrida fundamentos técnicos e estéticos, ela ainda assim precisa conhecê-los. 2. Estimula e provoca. Se uma fotografia não empolga ou chama a atenção, então ela é meramente competente, nada mais.

3. Tem múltiplas camadas. Uma imagem que opera em mais de um nível, grafismos na superfície, por exemplo, acrescidos de significado mais profundo, funciona melhor. Enquanto espectadores, nós gostamos de descobrir. 4. Adequa-se ao contexto cultural. A fotografia participa tanto da dieta visual diária de cada um que ela é contemporânea por natureza. A maioria das pessoas a aprecia assim, quando ela trata do aqui e agora. 5. Contém uma ideia. Qualquer trabalho de arte tem em si certa profundidade de pensamento em sua realização. Uma imagem tem que prender a imaginação do espectador além de simplesmente atrair o olhar. 6. É fiel ao meio. Esta é uma posição sustentada em crítica de arte há um bom tempo, a de que cada meio deve explorar e tirar proveito daquilo em que é melhor, e não imitar outras formas de arte, pelo menos não sem ironia.

INTRODUÇÃO

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CAPÍTULO 1 INTENÇÃO Livro_Freeman_Mente.indb 8

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fotografia é extremamente boa em

A

exatamente o que uma fotografia de

ir direto ao ponto. Talvez boa até

jornal, por exemplo, precisa – clareza e

demais. Alguma coisa está em frente

eficiência –, mas o que é certo para uma

à câmera? Dispare que você terá uma

fotografia em um contexto pode agir

imagem dela, com ou sem nenhum

contra ela se ela for apresentada com

pensamento. Fazendo isso com certa

propósito diferente, como nas paredes

frequência, pode-se produzir algumas

de uma galeria. Clareza é uma virtude

pérolas, mas pensar primeiro certamente

apenas se o trabalho é comunicar, e não

trará melhores resultados.

contemplar. Se você quer que as pessoas

Muito do que se ensina sobre

prestem atenção à sua fotografia e a

fotografia está relacionado a como ser

apreciem, tem que dar a elas uma razão

claro e evidente – pela identificação

para ficar olhando por mais do que um

do assunto, escolha de lentes, ângulo

breve instante. A primeira seção deste

e enquadramento que comunicarão o

livro, portanto, é mais sobre o porquê do

assunto ao espectador de modo mais

que sobre o como.

imediato e com maior eficiência. Isso é INTENÇÃO

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CAMADAS DE ASSUNTO sar uma câmera é tão prático, tão direto, que qualquer dúvida a respeito de qual seja o assunto parece supérflua à primeira vista. Você aponta para um cavalo, então o cavalo é o assunto; para um prédio, uma pessoa, um carro, então eles são o assunto. Bem, isso é verdade até certo ponto, mas nem todos os assuntos são o que inicialmente parecem ser. Ou então, o assunto mais imediato e evidente pode muito bem ser parte de algo maior, ou parte de uma ideia. Isso é importante porque escolher o que fotografar é o primeiro passo para todos nós. É aqui que começa a intenção, e ela influencia tudo o que se segue, da fotografia ao processamento. Mas isso não é apenas uma questão de estilo? Se o objeto é o assunto, então, os fotógrafos só não o tratam de modo diferente? Isso não é só complicar o que é óbvio? A resposta está na intenção – no que você está se propondo a fazer. Se fosse só uma questão de encontrar uma cena ou objeto e reagir a ele de seu próprio jeito, então sim, isso seria uma questão de estilo, que é o foco da segunda seção deste livro. Mas se a escolha de seu assunto faz parte de outra coisa – um projeto, ou uma fotografia com um objetivo maior – então aqui é o lugar dela, na intenção. E o que você se propuser a mostrar definirá o tratamento que você vai dar a ela. Falar simplesmente sobre “assunto” cria uma sensação de que estamos falando sobre objetos individuais, definíveis, independentes, como o cavalo, a pessoa, o prédio ou o carro que mencionei no início. Porém muitos assuntos não são assim tão evidentes e definíveis. Aquele objeto físico, tridimensional em frente à câmera pode ser simplesmente parte de um assunto maior, apenas um aspecto daquilo que o fotógrafo está tentando capturar. Em muitas imagens, na verdade, há camadas de assunto. A de nível um pode ser o óbvio, o objeto individual que domina a composição, mas subindo um nível, ele tornase parte de uma outra coisa – algo maior e mais abrangente. Qual é, por exemplo, o assunto da fotografia principal desta página? A resposta óbvia diz que são duas crianças levando uma cabra morro acima. Elas são nômades Khampa no oeste tibetano de Sichuan, China, encarregadas de

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vigiar os rebanhos de iaques, cavalos e cabras. Mas a razão de eu ter feito esta fotografia delas, em primeiro lugar, a razão pela qual parei o carro, foi que eu estava procurando algo que contribuísse com o tema “a vida nômade nas pastagens altas.” Esta seria uma seção diferente dentro do projeto de um livro no qual eu trabalhava na época, sobre a Antiga Rota do Chá, do sudoeste da China ao Tibete. Por si só, este já era um assunto, além de ser um ensaio fotográfico pertinente ao livro, então, para mim os temas estruturadores do ensaio fotográfico eram o assunto mais presente em minha mente – não propriamente a cena diante de mim. Isso explica em parte a composição e a escolha de lentes, com os garotos saindo de quadro para manter a atenção do espectador ao menos parcialmente voltada para a paisagem ao redor. Eu poderia ter usado uma distância focal mais longa e amarrado a composição de modo a dar mais atenção aos garotos e suas ações, mas, em vez disso, eu precisava mostrar onde eles estavam e o que estava atrás e em torno deles. Eu cheguei mesmo a experimentar enquadramentos diferentes, mas este foi o que teve o equilíbrio certo e que funcionou melhor para mim.

PARTE DE UM ASSUNTO MAIS ABRANGENTE Garotos nômades no oeste de Sichuan: tanto eles quanto a cabra são o assunto imediato, mas o assunto maior, que foi a motivação para a fotografia, foi a vida dos nômades em geral. As outras fotografias mostradas aqui continuam o ensaio e quase o concluem.

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INTENÇÃO

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Em outro exemplo, temos o repórter fotográfico italiano Romano Cagnoni, que passou grande parte de sua vida e carreira em zonas de guerra, desde Biafra até o Vietnã, os Bálcãs e a Chechênia. Porém, suas preocupações são mais profundas que o relato de conflitos imediatos. As imagens que para ele têm mais valor são aquelas com significado universal, que vão além da reportagem de uma determinada situação. Isso também faz parte da busca pelo assunto mais abrangente. Como Cagnoni explicou, “Outro fotógrafo próximo à minha geração que definiu seu trabalho de um modo interessante foi Abbas, que disse, ‘o fotojornalismo enxerga para além de si mesmo, não para dentro de si mesmo, e, ao fazê-lo, ele não fica sendo prisioneiro da realidade – ele a transcende’”. As imagens também podem servir a mais de um propósito, de modo que o assunto mais abrangente pode depender de quem as escolhe e de suas razões. Na foto das duas garotas, pertencentes a uma minoria étnica do sudeste da Ásia, há duas coisas acontecendo. Uma é a vida e também os trajes deste grupo, chamado de os Akha, a outra é o sistema aquífero no momento em que uma delas enche uma cabaça em um aqueduto de bambu. Os assuntos disputam a atenção: a garota usando seu cocar (bastante elaborado para uma criança) e a água jorrando. O assunto de fato é ambíguo e dependeria do contexto em que fosse mostrado. Um close-up da mesma cena, mostrando uma folha caída estrategicamente utilizada para desviar o curso da água que corre pelo cano de bambu, é mais simples. Ao ver os dois juntos fica estabelecido que estamos, de fato, olhando para a água enquanto assunto. Na verdade, aquilo que motiva o fotógrafo a erguer a câmera pode ser completamente insubstancial, algo que permeia a cena. Neste caso, estou pensando especificamente na luz, e a maioria de nós em algum momento simplesmente acha as condições de luz tão atraentes ou interessantes que queremos fotografá-la, interagindo com alguma coisa, qualquer coisa. Exatamente o que a luz estará atingindo acaba sendo menos importante que a qualidade da luz. Na fotografia de uma peça de mobiliário contemporâneo, mostrada na página ao lado, está claro que o assunto é a própria luz. A cor também chama a atenção de alguns fotógrafos enquanto assunto válido por si só. A cor, ainda mais que a luz, possibilita composições abstratas onde 12

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as combinações de cores em si têm apelo, não importando a qual objeto físico elas pertençam. O espaço dentro do quadro não é muito diferente do caso das cores – o espaço tratado como massa abstrata. Na fotografia do mar, acima, com um barco pesqueiro pequenino e quase irreconhecível na base do quadro, o assunto não é nem tanto o barco, mas o espaço de mar e céu abertos. A gradação vertical de tons é uma forma de abstração, o que ajuda a fazer com que a imagem funcione simplesmente por seu efeito gráfico. Há muitas outras imagens neste livro que apresentam um “assunto” pequeno contra um plano de fundo muito maior, e em algumas dessas a intenção bem diferente – a figura (ou objeto) menor é de fato o assunto, não o espaço ao seu redor, mas por uma ou outra razão ele deve ser visto em tamanho reduzido. A razão pode ser a introdução de um atraso na percepção que o espectador tem dele, ou pode ser o estabelecimento da importância do cenário. Portanto, a intenção pode nem sempre ficar evidente logo num primeiro olhar de relance para a imagem.

O ESPAÇO COMO ASSUNTO Esta é uma de várias fotografias tiradas de um barco pesqueiro no golfo da Tailândia ao nascer do dia. Esta imagem tira a atenção do barco e a conduz ao cenário a sua volta – a esta hora do dia, todo o interesse está no degradê de cores do céu, refletindo sobre o mar excepcionalmente calmo. Tendo isso em mente, a foto foi composta com uma lente 20mm, usando o barco para dar uma noção de escala. Para concentrar a atenção nas cores, o ponto de vista foi deslocado de modo a fazer com que o barco encobrisse o sol, reduzindo o alcance dinâmico. Finalmente, o horizonte foi situado mais baixo no quadro, concentrando a atenção no céu, deixando apenas uma quantidade suficiente de mar exposta para mostrar que ele o está refletindo.

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ESCOLHA DE ASSUNTO Como foi descrito no texto, há dois assuntos entrelaçados nesta fotografia de duas garotas de uma minoria étnica Akha na fronteira entre a Tailândia e Birmânia: a garota em seu traje típico e a água do aqueduto de bambu.

A LUZ COMO ASSUNTO Uma peça de mobiliário contemporâneo em madeira e acrílico lança sombras bem definidas e cores refratadas sobre o piso. Esses efeitos de luz são o assunto da imagem, e sua composição foi feita pensando neles.

A COR COMO ASSUNTO Um arranjo ocasional de vidros vertidos encontrado sobre uma mesa de luz, no estúdio do artista em vidro Danny Lane. As formas abstratas, a intensidade do matiz que vem da retroiluminação e o corte fechado da imagem focam a atenção apenas nas cores.

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Mas vamos ir ainda mais além do evidente e distinto – luz, cor e relações espaciais. Conceitos abstratos podem ser assuntos e, em alguns tipos de fotografia publicitária e de capa de editoriais, pode-se usar a imagem para que ela comunique uma mensagem abstrata. Basta considerar os seguintes exemplos como assuntos, e como pautas reais dadas a fotógrafos ou ilustradores: a foto de capa de uma revista bancária sobre o surgimento de uma ameaça aos modos tradicionais (a solução, mostrada aqui, foi um banqueiro à moda antiga em frente ao Bank of England, registrado em transparência com o filme fisicamente queimado de um lado); a promoção da perda de peso por meio de uma dieta à base de frutas (solução, uma maçã acinturada envolta por uma fita métrica); a capa do livro Pontos de Fuga de Graham Greene (solução, um par de sapatos apontando na direção oposta ao espectador). A lista pode continuar indefinidamente; com a fotografia usada para ilustrar conceitos, usando metáforas, justaposição, sugestionamento e alusões de um tipo ou outro. Também há a classe de assuntos que deliberadamente não é o que parece ser. Esta é uma tradição interessante que começa como uma reação a um dos principais problemas para a fotografia enquanto arte – o fato de que, por natureza, ela é simplesmente mundana. Por mundana eu quero dizer que a câmera produz com muita facilidade reproduções impecáveis de coisas reais (que por séculos os pintores e escultores batalharam para conseguir), por isso não há surpresa e nenhum crédito por simplesmente produzir um símile decente de alguma coisa. Começando na Alemanha nos anos 1920, e particularmente na Bauhaus com László MoholyNagy e seus fotogramas, fotógrafos como Otto Steinert, Andreas Feininger e até, ocasionalmente, Brett Weston, buscaram maneiras de fazer imagens que confundissem e intrigassem o espectador. Moholy-Nagy, que lecionou na Bauhaus até 1928, defendeu uma abordagem radical da fotografia e seus temas, listando “oito variedades de visão fotográfica,” que começavam com o fotograma – o registro da silhueta e dos traços

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O CONCEITO COMO ASSUNTO 1 Para a capa de uma revista bancária, o briefing pedia que fosse ilustrado o conceito de novas ideias ameaçando antigos modelos. A solução mostrada aqui foi fotografar dois ícones do estilo bancário antigo, o Bank of England e um corretor de cartola, e depois simplesmente queimar a transparência.

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O CONCEITO COMO ASSUNTO 2 Não é uma ideia profunda, porém é simples e eficaz: o conceito tinha a ver com dietas e perda de peso. Não é preciso explicar muito mais.

O CONCEITO COMO ASSUNTO 3 Aqui o conceito era agressão e ataque, mas dentro de um contexto abstrato de instituições financeiras, não sociais. Uma piranha com os dentes à mostra foi a solução.

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O CONCEITO COMO ASSUNTO 4 Um conceito um pouco complicado, porém proposto pelo músico para quem a imagem serviria de capa de disco. O álbum chamava-se Southpaw (canhoto), por ele ser canhoto – e ele escreveu sua música tão bem quanto a executou. A ideia, vinda de um diretor de arte, foi uma paródia de Magritte, e realizada em uma época, pré-digital, em que tais efeitos especiais eram difíceis e chamativos. O retoque foi feito cuidadosamente sobre uma impressão dye transfer (transferência de pigmento) a partir de duas fotografias: uma com e outra sem a luva.

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FOTOGRAMA Uma das primeiras formas de representação direta de um objeto foi deixar que ele projetasse sua própria sombra sobre algum material sensível. Nesta versão ligeiramente diferente, um relógio com mostrador luminoso foi colocado voltado para baixo sobre uma folha não exposta de filme Polaroid SX-70 e ali deixado para que fizesse sua estranha exposição.

PESQUISA NA WEB FOTOGRAFIA COM SCANNER

• Romano Cagnoni • Abbas Attar • Fotogramas de László Moholy-Nagy • Otto Steinert • Andreas Feininger • Brett Weston • Blue Eyes de Thomas Ruff

de objetos colocados diretamente sobre papel fotográfico ou filme, sem o uso de uma câmera ou lentes. Ele também antecipou a maneira como as imagens científicas viriam a fazer parte deste tipo de imagens com aquilo que ele chamou de “visão intensificada” e “visão penetradora,” as quais abrangiam a fotomicrografia e a produção de imagens a partir de comprimentos de onda além do espectro visível. Depois da Segunda Guerra Mundial, Steinert fundou o Fotoform, um grupo dedicado à abstração, apesar deste ter durado apenas uns poucos anos, na medida em que a ideia que antes fora radical acabou virando presa de uma mera fórmula a ser seguida. De fato, a fotografia abstrata rapidamente declinou, tornando-se um clichê de fotoclube. A influente revista Suíça, Camera (1922–1981), cuidadosamente defendeu a fotografia abstrata em uma introdução, dizendo que embora “trate-se de fotografias que guardam certa semelhança com a realidade... a conexão com o objeto ou assunto é tão pouco explícita ao ponto de ser irreconhecível”. Apesar disso, “isso dificilmente importa quando a descoberta de uma nova faceta do objeto ou assunto resulta em

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O fotograma atualizado: objetos colocados diretamente sobre um scanner de mesa recebem um tipo único de luz frontal, com resultados que não são completamente previsíveis.

um tipo de perplexidade que seduz tanto a mente quanto os olhos.” O gênero fotográfico do tipo “parece com alguma outra coisa” persistiu, e até ganhou uso prático. Como previu Moholy-Nagy, ela foi abastecida pelas imagens de origem científica. Nos anos 1970, houve uma nova leva de interesse por novas técnicas de produção de imagens, com a popularização da microscopia eletrônica, da ultrasonografia e da astrofotografia de regiões do espaço profundo, com livros como Worlds Within Worlds (1977) celebrando a tecnologia. Desde então, o público ficou mais blasé por causa da familiaridade, isso sem falar no que hoje todos nós sabemos poder ser feito digitalmente. E onde é que a fotografia fine-art contemporânea entra nisso tudo? A resposta inútil é: dispersa por sobre tudo isso que vínhamos falamos, com uma tendência à não obviedade. A fotografia contemporânea concebida como arte está mais ou menos no mesmo estado de mudança e incerteza em que se encontra o ainda mais abrangente mercado de arte contemporânea – onde a fotografia agora participa como membro de pleno direito. Um tanto afastada das questões

de tratamento, estilo, imaginação, originalidade e assim por diante, a questão do assunto para a arte agora está completamente em aberto. A arte começou a rebelar-se com mais força com Marcel Duchamp, os Dadaístas e os Surrealistas nos anos 1920, e continua a fazê-lo. Ora, desafiar as preconcepções do público quanto a do que a arte deva tratar é um assunto de peso por si só, tornando o desafio conceitual uma força motriz dentro da fotografia de arte contemporânea, e isso abre o leque de assuntos possíveis infinitamente. Um exemplo é a série Blue Eyes de Thomas Ruff, da escola de Düsseldorf. Trata-se de uma sucessão de retratos despretensiosos, de iluminação chapada, porém os olhos naturais foram substituídos digitalmente por olhos azuis, “minando assim a veracidade da fotografia enquanto registro,” segundo notas do Victoria & Albert Museum. A fotografia sobre a fotografia pode não ser do agrado de qualquer um, porém ela agora tem um lugar estabelecido dentro do mundo da arte – ou seja, se você decidir seguir esse caminho, então qualquer assunto é válido, contanto que você possa justificar o conceito.

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APAGANDO AS PISTAS Uma versão do estilo “o que é isto?” de fotografia, desta vez usando uma macro que deliberadamente elimina características reconhecíveis, aqui presente para criar uma paisagem cintilante e opalina com a boca da concha de uma vieira. O foco foi utilizado para introduzir a profundidade de campo normalmente associada a cenas de maior escala, obscurecendo ainda mais o verdadeiro assunto.

IMAGENS CIENTÍFICAS Certas técnicas e dispositivos têm um apelo semicientífico. Nestes casos, fibras artificiais trazidas à vida com cintilâncias em uma composição abstrata usando luz polarizada cruzada – uma película polarizadora sobre a superfície retroiluminada e um polarizador circular sobre a lente ajustado para máximo escurecimento da fonte de luz; e um retrato tirado com equipamento de termoimagem, que registra as emissões de calor infravermelho.

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O QUE É ISSO? Seguindo a tradição da Bauhaus já discutida no texto, o assunto aqui (o filamento de uma lâmpada) foi deliberadamente representado de modo menos evidente por meio de movimento de câmera em close-up extremo durante a exposição e por manipulação de cor.

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BOA APARÊNCIA azer as coisas terem “boa” aparência é um objetivo tão fundamental que muitos fotógrafos nem o questionam e, por isso, deliberadamente procuram assuntos que por si sós tenham boa aparência. Mesmo assim, a beleza na arte e na fotografia contemporâneas não é mais a questão simples que um dia já foi. Antes mesmo de começar a ver como alcançá-la, precisamos primeiro decidir se vamos querer a beleza em uma fotografia. Dependendo do tipo de fotografia ao qual você se alinhe, esta pode ser uma questão estranha de se considerar. A maioria dos fotógrafos vê como parte de seu trabalho a tarefa de revelar, realçar ou até manufaturar beleza em suas imagens. Se você trabalha comercialmente (isso inclui moda, retrato, casamento e fotografia de produto), até que ponto você consegue criar uma imagem bela a partir de um assunto que não necessariamente o é, normalmente vai determinar o quão bem sucedido você é. Porém, para fotojornalistas, a beleza pode ter uma prioridade bem baixa e, para temas que sejam questões sérias, tais como conflitos, pobreza e desastres, pode-se esperar que a beleza seja deliberadamente indesejada. Na fotografia concebida como arte, a questão é ainda mais complexa. A fotografia está mais completamente absorvida agora no mundo da arte contemporânea de ponta, e a beleza em grande parte desapareceu das questões importantes nessa área. Até o início do século XX, a busca pela beleza foi central para a arte, e mesmo assuntos que eram inerentemente repugnantes, como o martírio e a crucificação, foram tratados de modo refinado e atraente. Com algumas exceções, tais como Albrecht Dürer, Hieronymus Bosch e Francisco de Goya, a arte em geral busca satisfazer nossa paixão pela beleza. Como escreveu o historiador da arte Ernst Gombrich, “A maioria das pessoas gosta de ver imagens que elas gostariam de ver também na

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realidade. Essa é uma preferência bem natural. Todos nós gostamos da beleza na natureza”. Sim, gostamos, e entender por que é crucial para quem quer que vá criá-la ou revelá-la. Uma vez que a maior parte da fotografia pelo mundo afora tem o embelezamento como uma de suas preocupações, este precisa seriamente receber alguma atenção. É disso que trata a estética, mas como este é um livro prático, não um livro acadêmico, prefiro manter a terminologia em nível simples. Um exemplo singular, difícil (e que ainda por cima tem uma importância especial para a fotografia) são nossos sentimentos com relação ao pôr do sol. Por que gostamos dos sóis poentes? Afinal de contas, eles ocorrem todos os dias, contanto que o céu não esteja encoberto, e ainda assim eles parecem ser um imã para as câmeras. Neste momento, ao longo da zona limítrofe entre o dia e noite ao redor do planeta, há uma quantidade enorme de pessoas em posição, normalmente em lugares elevados, apontando suas câmeras para o sol poente. Caso você ache que estou sendo cínico, eu também gosto de sóis poentes, especialmente se estou em algum lugar pitoresco. Noves fora, veremos que as pessoas gostam do pôr do sol porque elas acham bonito. Até aí, sem surpresas. Um pôr do sol é um exemplo universal de uma vista com a qual todos geralmente estão de acordo em dizer que incorpora beleza. Angelina Jolie é um outro exemplo (e Elizabeth Taylor e Ava Gardner, se você quiser retraçar toda a história do cinema). Assim também como uma lua cheia pairando baixa no céu. Um cisne vindo para terra. Talvez a Pepper*, 1930, de George Weston. Ah! e eu ia esquecendo, uma rosa. O que une todos esses exemplos é nosso consenso geral sobre o que seja belo, algo que vem sendo discutido pelo menos desde Platão. Contudo, deve haver um consenso sobre o que tem boa aparência, de outro modo seria inútil. Apesar disso, apenas mencione beleza e a frase que vem à cabeça de quase todo mundo é

* N. de T.: Pepper, 1930, são fotografias de pimentas (pepper, em inglês) que integram uma série de fotografias de estudos naturais, feitas por Edward Weston. A Pepper mais conhecida é a de número 30.

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“A beleza está nos olhos de quem vê”. Isso atingiu status de clichê, ao ponto de que poucos de nós nem sequer chegamos a pensar em o quanto isso está obviamente errado. Seria sem sentido se uma pessoa – um dos que veem – achasse uma peça de arte bonita enquanto todos os demais a desmerecessem. A beleza precisa de um consenso, ou ao menos a possibilidade de um consenso. Sempre que achamos que estamos fotografando algo bonito, ou buscamos a beleza, inevitavelmente, bem lá no fundo, sentimos que outras pessoas também deverão gostar do resultado. Se elas não gostarem, no que diz respeito à imagem, isso significa que o gosto do fotógrafo não está se mesclando ao gosto do público. Isso acontece com frequência, e pode estar relacionado ao fracasso (o fotógrafo simplesmente não é suficientemente habilidoso) ou pode ter a ver com a foto ter sido orientada ao público errado. Da última vez que visitei a Feira Anual de Arte de Frieze em Londres, a maioria das fotografias em exposição definitivamente não serviriam ao público da revista Popular Photography & Imaging, mas adequavam-se perfeitamente ao contexto do mercado de arte contemporânea. Importante notar, contudo, que apenas uma minoria da fotografia fine-art contemporânea reclama beleza para si.

O QUE A MAIORIA DAS PESSOAS TENDE A GOSTAR VISUALMENTE Esta pode não ser uma lista inspiradora, e não surpreende que tenha tendência conservadora, mas ela determina os denominadores comuns. Fazer algo ter uma boa aparência em uma fotografia não significa satisfazer cada um destes itens, mas vale a pena considerar todos eles. • O que é familiar • Cores ricas • Brilho • Contraste • Harmonia • Nitidez e claridade • Beleza

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TOKYO TOWER A hora mais movimentada na plataforma de observação da Tokyo Tower é previsivelmente logo antes do pôr do sol, quando espectadores reunemse para serem surpreendidos mais uma vez por um evento diário.

A GRAÇA COMO A VEMOS Certos assuntos são vistos como graciosos, elegantes e belos por natureza – cisnes estão entre eles. Contudo, esse é apenas o método natural de os cisnes se locomoverem, assim como a andar ligeiro das baratas, mas essa sensação vem de nossas ideias de natureza e forma, não de algo intrínseco.

RICO SOL POENTE E NASCENTE Poucas pessoas negariam que cenas como estas, tratadas segundo este modo convencional, rico em cores, tem apelo geral. Elas são difíceis de desgostar e fazem soar todas as sinetas visuais e emocionais dentro da maioria de nós, ainda que, criativamente, não tenham muito a oferecer.

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A PREFERÊNCIA PELO CLARO E COLORIDO Várias pesquisas sobre a psicologia da percepção confirmam o que a industria da imagem vem seguindo instintivamente por anos – que a maioria das pessoas preferem cores ricas a cores empalidecidas, imagens claras a imagens escuras e alto em vez de baixo-contraste. Isso pode ser normalmente resumido pelo termo Cores Vivas. Em algum lugar há um limite para o que seja aceitável, mas os diversos públicos toleram bem os extremos. Esta imagem, exibida abaixo em seu formado RAW padrão, recebe um aumento de 33% nos três valores, que são então combinados no resultado à extrema direita – a maioria dos espectadores preferiria instintivamente esta versão em vez da original.

+33% DE SATURAÇÃO

+33% de brilho

+33% de contraste

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A CONTRIBUIÇÃO DOS FABRICANTES DE FILME Uma das razões para o sucesso do filme Velvia da Fuji, quando ele foi lançado em 1990, foi sua saturação de cores. Um efeito disso era o exagero dos céus azuis “de brigadeiro” e outro eram os verdes distintos, em vez de turvos. Aqui, a mesma cena fotografada com Velvia e com Kodachrome demonstra a diferença.

CORES SEM SOFISTICAÇÃO Em mercados relativamente novos no uso de imagens e que tiveram pouco tempo para julgar e discriminar, extremos de saturação de cor, brilho e contraste são normais em propagandas e publicações para o mercado de massa. Estes pôsteres de Shanghai são típicos – o arquivo de imagem digital mostrado aqui não foi exagerado durante o processamento.

KODACHROME

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VELVIA

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Quer ela tenha ou não tenha um papel dentro de sua fotografia, devemos conhecer os fatos básicos acerca da beleza e da boa aparência. Platão considerava que a beleza estava relacionada à proporção, harmonia e unidade, enquanto Aristóteles acreditava que ela dizia respeito à ordem, simetria e delimitação. Todas estas são ideias às quais a maioria das pessoas ainda daria sua aprovação, mas foi o filósofo alemão do século XVIII, Imannuel Kant, que definiu o caminho para o estudo da beleza e da arte. Em particular, a beleza é um valor, e sempre um valor positivo. É algo que apreciamos por si mesmo, em vez de pelo que poderíamos fazer com ele, ou o que ele possa fazer por nós. Em sua Crítica do Juízo, Kant chamou-a de “Desinteressada” por esta razão. Vivenciar a beleza, em outras palavras, é sua própria recompensa. Estamos dispostos a despender tempo dedicado às nossas vidas cotidianas para vivenciar a beleza, porque isso nos dá prazer, de vários modos misturados, que podem incluir o emocional, sensorial e intelectual. Ainda assim há uma distinção importante entre a beleza do assunto e a beleza do tratamento. Assuntos e cenas que são geralmente considerados bonitos são vistos como que existindo independentemente do modo que são fotografados, mas é claro que é por meio da habilidade fotográfica que sua beleza inerente é trazida à tona. Em última instância, como veremos, em toda fotografia que busca ser bonita, é difícil fazer uma distinção clara entre o assunto e o modo como ele é composto, iluminado e fotografado. Essa distinção, contudo, sugere algumas possibilidades criativas interessantes, tais como tornar belas coisas que não o são, e chegaremos a alguns exemplos disso mais adiante neste capítulo. Fazer com que cenas, pessoas e objetos tenham a melhor aparência possível é uma habilidade básica em vários tipos de fotografia, particularmente na comercial. Isso é em grande parte aquilo pelo que os clientes estão pagando. Na fotografia de casamento e retratos isso é ainda mais evidente; o subtexto é “Faça-me parecer o melhor possível”. Claramente, então, a solução é ter um bom conhecimento do que seja considerado belo pela maioria das pessoas – quer estejamos falando de um rosto, um corpo inteiro, uma paisagem ou o que for. O que vai distinguir certos fotógrafos de outros é não só o grau de habilidade, mas também o nível de inspiração 22

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para criar imagens que transcendem a média geral, e que ainda assim sejam consideradas belas. A beleza na natureza, que inclui nosso famoso pôr do sol, bem como paisagens vastas e vividas, mares azuis, praias brancas e mais, é uma categoria com a qual a maioria está de acordo – ao menos dentro da cultura de cada um. Placas indicando pontos turísticos e vistas bonitas baseiam-se nessa premissa. Os ideais de Platão de proporção, harmonia e unidade (isto é, que tudo parece se encaixar) são componentes básicos de uma paisagem bela, e se você já leu O Olho do Fotógrafo, que lida em grande parte com a composição para a fotografia, vai reconhecer que estas são qualidades da imagem tanto quanto do assunto. Isso é porque a paisagem é uma ideia que temos acerca do terreno – é como nós vivenciamos a geografia do local. Uma das habilidades essenciais na fotografia de paisagem consiste em encontrar o ângulo exato e em ajustá-lo à lente e ao enquadramento, mas a suposição é de que tal vista exista, e de que a paisagem já está de alguma forma em boas proporções, harmonizada e unificada. Em boas proporções significa que os componentes – sejam montanhas, lagos, campos, matas ou o que for – ajustam-se em uma relação de tamanhos que a maioria das pessoas considera satisfatória. Harmonizada significa uma coexistência entre tudo que está dentro da paisagem, sem perturbações tais como uma hidrelétrica. Unificada significa que aquilo para o que estamos olhando parece ter uma completude, como se ela fosse destinada a ser uma unidade, com tudo ajustando-se perfeitamente. Aliado a essa “unidade” está um sentido de economia de meios – a beleza no modo como o fotógrafo ou o artista trata um assunto muitas vezes envolve a elegância de ter usado não mais que o necessário para alcançar tal resultado. A sobre-elaboração e a confusão são erros comuns, mas como essas três qualidades pertencem principalmente à composição, tratarei delas em maior detalhe no capítulo seguinte. Porém devemos acrescentar outras qualidades. Uma delas é uma preocupação peculiarmente moderna, a de correção natural e ausência de poluição e despojos. Completamente natural é bom, assim como nossas ideias sobre a ocupação tradicional de terras, isto é, campos com cercas vivas, parques com jardins projetados,

UM ESFORÇO CONJUNTO EM BUSCA DA BELEZA Uma apresentação da Dança das Mil Mãos envolve beleza no assunto (a forma humana, feminina, escolhida e vestida para ser atraente) e no tratamento, com luz cuidadosamente planejada que acentua ao mesmo tempo em que não deixa sombras.

cidadezinhas aninhadas entre vales e assim por diante, não importando quaisquer questões sociológicas ou ecológicas que elas possam esconder. O que não é bom é uma vegetação doente, aridez caso preceba-se que ela foi causada recentemente, sinais de engenho humano, lixo e pilhas de despojos. Que esses últimos elementos sejam cada vez mais comuns apenas aumenta o valor dado às vistas “desobstruidas”, ao mesmo tempo em que as preocupações com relação a isso tenham ajudado a criar a escola, seca e sem romantismo, da fotografia de paisagem militante, encabeçada por Robert Adams – em grande parte uma rejeição à beleza enquanto finalidade. A MENTE DO FOTÓ GRAFO

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BELEZA NA ARQUITETURA Um trabalho recente de I. M. Pei, o Museu de Suzhou, é tratado aqui de uma maneira que todos os fotógrafos de arquitetura achariam lisonjeira e opulenta. O ângulo foi delicadamente escolhido, mas o apelo visual, bem calculado, vem do equilíbrio preciso entre o crepúsculo e a luz interna, com os reflexos acrescentando seus previsíveis atrativos próprios. Como uma paisagem de pôr do sol bem feita, este tratamento volta-se precisamente ao objetivo de apelar às massas, de parecer convidativo.

VERIFICANDO TODOS OS REQUISITOS PARA UMA PAISAGEM ATRAENTE Ainda que a vista exata não seja bem conhecida, a localização geral é – o renomado Vale de Yorkshire. Fotografar contra o sol, a certa hora e clima com luz atraente, dá textura e atmosfera para a cena, acentuada ainda mais pelos reflexos cintilantes no riacho correndo pela paisagem. Ela foi composta com uma lente grande-angular (20mm) para acentuar o alcance de profundidade da cena, do primeiro ao último plano, e isso atrai a atenção do espectador para dentro do quadro, dando uma sensação palpável de estar lá (um tratamento com teleobjetiva de um ponto mais afastado seria menos envolvente). Compare esta com a pintura de Turner, na página 116, que é típica das pinturas de paisagem dos séculos XVIII e XIX, com suas vistas profundas partindo de árvores silhuetadas rumando a um sol expressivo e enaltecedor que quase toca o horizonte.

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Essa ideia de correção ou justiça estende-se para a noção de ideal, que tem parte em todos os tipos de beleza, incluindo a beleza humana. O assunto e seu tratamento em uma imagem sempre vão se beneficiar por serem intactos e perfeitos – nenhum carro abandonado lá naquele campo e nenhuma espinha na pele da modelo. Não é de se admirar que a tentação de retocar uma fotografia seja tão difícil de resistir para certos fotógrafos e editores, quer seja a National Geographic deslocando digitalmente as Pirâmides em sua capa de 1982, ou a já universal suavização da pele em pós-produção nos comerciais de cosméticos e revistas de alta-moda. Outra qualidade que desempenha um papel em nossa apreciação da beleza na natureza são as “memórias agradáveis”. Esta é uma qualidade mais funcional que as anteriores, e tem a ver com a imagem evocar experiências. Geralmente preferimos o sol em vez da falta dele, gostamos de tempo quente, céu azul e praias de areia branca e pura (ao menos quando estamos de férias), e fotos de paisagens que tocam essas memórias

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geralmente sobem alto na escala da “boa aparência”. Em sentido mais amplo, isso tem a ver com o espectador ser ajudado a projetar-se para dentro da cena. Finalmente, no repertório do embelezamento há também o poder da boa iluminação. A luz, pode-se dizer, é a arma mais poderosa da fotografia para manipular seus assuntos. Em termos de estúdio, a luz envolvente que suaviza as sombras e mostra formas arredondadas é o tipo de pau para toda obra para beleza que é bastante previsível, quer seja para um automóvel, uma pessoa, um rosto ou uma natureza-morta. Esta é uma generalização grosseira, é claro, mas é o que sombrinhas, softboxes e iluminadores tem em comum. Às vezes a luz axial de um flash circular pode embelezar também, se a forma e superfície do assunto permitir que a luz se espalhe uniformemente sobre ele. De fato, grande parte do sucesso que tem a luz aberta, mas direcionada, deve-se ao seu tratamento da superfície, é por isso que o brilho suave em corpo nú (realçado por óleo) ou o brilho disperso em objetos cintilantes

ou molhados tende a fazer com que eles sejam atraentes e/ou desejáveis. Isso desencadeia uma resposta no espectador que o faz sentir-se conectado à cena – capaz de tocá-la, por assim dizer. Essa abordagem táctil, sensual com relação à luz, funciona em particular para tudo que os espectadores possam ter a vontade de vivenciar fisicamente, seja um corpo nu atraente, uma bebida refrescante ou comida apetitosa. A PAISAGEM DEVASTADA Hoje mais do que nunca, com nossa nova consciência ecológica, cenas da Terra sendo depredada pelo homem para ganhos comerciais têm status de antipaisagem. A feiura do que está acontecendo tornou-se uma nova razão para desfrutar imagens. Uma possível crítica desta cena de minas de cobre na ilha de Nova Guiné é que o tratamento dado à composição e à luz seja muito atraente e enfraqueça a tristeza do assunto. Mas em defesa, eu diria que o efeito “embelezante” do formato widescreen, a relação entre primeiro e último plano e a luz salpicada simplesmente destacam o contraste.

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AH, SE ESTIVÉSSEMOS AQUI Projetar o espectador para dentro de uma cena e apertar o botão do embelezamento é essencial no trabalho comercial. Aqui, as técnicas incluem um ângulo do tipo “você está sentado aqui”, locação à beira da piscina cuidadosamente arrumada e o momento certo do pôr do sol. O que não fica evidente é a composição de exposições de alto alcance dinâmico necessária para que todos os tons fossem confortavelmente reproduzidos.

COLOCANDO O ESPECTADOR EM FRENTE AO PRATO Como ocorre com a fotografia com fins comerciais, um objetivo importante na fotografia de alimentos é fazer o espectador sentir como se o prato estivesse em sua frente e pronto para ser degustado. Isso resultou em um dos estilos mais utilizados: ângulo baixo, ao nível da mesa, profundidade de campo muito curta para fazer o prato parecer estar próximo e luz para textura.

LUZ APETITOSA Boa parte da fotografia de alimentos não apenas tem por objetivo atrair mas também traduzir uma sensação, um sabor, em um visual que é completamente diferente. À parte a composição bem torneada de costume, a luz desempenha um enorme papel. A iluminação de alimentos lentamente vai seguindo a iluminação de moda, e existem técnicas testadas e aprovadas para ser atraente. Aqui, a claridade, o brilho e o contraste de cor e tom são os objetivos. Estes são atingidos pela mistura de um flash softlight de tamanho grande montado acima do assunto e ligeiramente recuado para aumentar os reflexos na prataria, com um spotlight rasteiro de tungstênio de tom quente.

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Repare que, no final das contas, a beleza diz respeito à expectativa, à conformidade com aquilo que a maioria das pessoas aprendeu a gostar. Isso não parece muito original, e de fato não é. A beleza implica não ter muitas surpresas, e isso se aplica à beleza em um rosto humano tanto quanto na natureza. Mas a beleza humana é um caso especial? Possivelmente sim. Lembre que a beleza na natureza é uma qualidade “desinteressada”, o que significa que desfrutamos dela por ela mesma e não porque ganhamos alguma coisa com isso. Desfrutar da beleza não é útil, só é prazeroso. A beleza nas pessoas, contudo, certamente é útil. Ela ajuda a encontrar parceiros, e assim a evolução deu a ela uma grande ajuda. Quase universalmente as pessoas que são consideradas atraentes ao olhar são também consideradas mais inteligentes, exitosas, interessantes e assim por diante. Como a industria da beleza – dos cosméticos às cirurgias plásticas – é enorme, há muita pesquisa sobre o assunto, tanto que os elementos da beleza foram analisados e quantificados. Se você está procurando modelos para fotografar e precisa que ele ou ela seja atraente, simplesmente

acompanhe as listas que se seguem. Um projeto de grande importância para a fotografia foi conduzido pelas universidades de Regensburg e Rostock, na Alemanha, sob o título de Beauty Check (Verificação de Beleza), usando software de morphing para mesclar diversos rostos em rostos compostos. Diferentes composições foram feitas com proporções que variavam, e estas foram apresentadas aos sujeitos experimentais que então julgavam as imagens quanto à sua atratividade. O resultado mostrou que a beleza tende à medianidade, que há menos diferenças entre a beleza masculina e a feminina do que você poderia esperar, que a textura da pele é extremamente importante e que olhos grandes e bem espaçados encabeçam a lista das características individuais. Foram feitas muitas tentativas de modelar isso por computador e a maioria delas, incluindo a que foi feita pelo cirurgião estadunidense Dr. Stephen Marquardt, envolviam o emprego da Razão Áurea nas proporções entre certas medidas (tais como a dos olhos à boca comparada com a dos olhos ao queixo).

UMA RECEITA PARA A BOA APARÊNCIA • Proporções agradáveis: por experiência, certas proporções – do assunto, do quadro e a composição – são sabidamente agradáveis para a maioria das pessoas. Siga-as em vez de desafiá-las. Elas incluem a Razão Áurea, outras proporções relacionadas integralmente, simetria radial e bilateral. A escolha de lentes e do ângulo é geralmente importante; por exemplo, usar uma lente mais longa para representar as proporções do rosto humano de modo mais agradável. • Harmonia: quanto à cor, tom e textura, relações entre áreas que equilibram umas as outras segundo a percepção da maioria. • Unidade: enquadramento, iluminação e dispositivos para composição que amarram a cena. Um exemplo seria uma curva ou combinação de linhas dos olhos que atraem o olhar do espectador para dentro. • Adequação e economia: a máxima “menos é mais” pode muito bem ser um clichê, mas funciona mais sim do que não. Cenas, assuntos e imagens carregadas e sobretrabalhadas tendem a ser vistas como menos atraentes. A palavra japonesa shibui é útil, pois significa ser bonito despretensiosamente, sem elaboração. • Correção: ajusta-se à ideia da maioria das pessoas quanto a como as coisas devem ser e devem parecer. Em outras palavras, ajusta-se conforme o propósito. A beleza costuma ser convencional e portanto requer muita habilidade, mas não muitas surpresas. • Ideal e intocado: se o assunto não o é, pelo menos aprimore o que há de melhor e suprima o pior. Isso implica ser capaz de analisar qualquer assunto em termos de sua beleza potencial, seja uma paisagem, um objeto ou um rosto. • Memória agradável: transmitir beleza implica relacionar-se com a experiência do espectador, especialmente no caso da beleza na natureza. Quanto mais o espectador tem a sensação de estar lá, normalmente mais eficiente será. • Iluminação sensual e tátil: em situações em que a luz pode ser controlada ou criada, certas técnicas, conforme descrito, sabidamente dão resultados embelezadores quando aplicadas a certos assuntos.

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BELEZA MENSURÁVEL? Foi usada manipulação digital no rosto desta modelo segundo a teoria convencional dos técnicos em beleza sobre as proporções ideais de “beleza”. Estas incluem o aumento dos olhos e da boca e a suavização da pele. A modelo já se enquadra nos ideais ocidentais básicos de beleza facial, e estes três procedimentos aproximam o retrato ainda mais do estereótipo ideal.

OS INGREDIENTES DA BELEZA FACIAL Este é um resumo dos resultados publicados pelo Beauty Check: • Estereótipos fortes com os quais a maioria está de acordo. • Textura de pele suave, sem marcas e rugas. • Tendência para a média. • Simétrica (mas isso é apenas uma influência fraca). • “Cara de bebê” nas mulheres – olhos grandes e arredondados, testa relativamente grande, nariz e queixo relativamente pequenos. • Tanto para homens como para mulheres, proporções conforme as seguintes: olhos bem espaçados, maçãs do rosto elevadas, pele mais bronzeada (para rostos caucasianos), rosto mais fino, lábios mais cheios, nariz mais fino, sobrancelhas mais escuras. Para mulheres acrescenta-se: cílios longos e mais escuros. Para os homens acrescenta-se: queixo mais proeminente.

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OLHOS AUMENTADOS

SUAVIZAÇÃO LEVE DA PELE

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OLHOS E BOCA AUMENTADOS

SUAVIZAÇÃO PESADA DA PELE

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O Dr. Stephen Marquardt conduziu uma extensa pesquisa sobre proporções faciais e atratividade, e ainda levou isso adiante. Sua pesquisa chamada Facial Imaging Research (Pesquisa de Imagens Faciais) quantificou a atratividade geometricamente e produziu um modelo computacional na forma de uma máscara ou grade em proporções ideais. Um elementochave na construção dessa grade ideal é a Razão Áurea ou Proporção – 1:1,618. Razões numéricas também desempenham um papel fundamental na avaliação de um corpo atraente. Para mulheres, o Índice Cintura-Quadril (ICQ ou WHR, “waist-to-hip ratio”) – circunferência da cintura dividida pela circunferência do quadril – é uma das medidas mais importantes. A professora de psicologia Devendra Singh mostrou que o ICQ de mulheres consideradas atraentes (vencedoras do Miss América num intervalo de 60 anos e modelos da Playboy) não saía muito da faixa de 0,7. Apesar disso, mais do que para rostos, os ideais para um corpo atraente mudaram ao longo do tempo. O ideal moderno é mais esguio (os nus de Rubens são geralmente citados como evidência da existência de diferentes gostos através da história), e o tamanho dos seios relativamente grande (ao passo que, na Idade Média na Europa, os seios menores eram considerados ideais). O que parece ter permanecido constante, contudo, são as proporções verticais, e provavelmente não será surpresa descobrir que a Razão Áurea pode ser encontrada aqui se você procurá-la.

O HOMEM VITRUVIANO No famoso Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, a posição do umbigo está neste ponto verticalmente, ou seja, as proporções da cabeça ao umbigo e do umbigo aos pés é 1:1,618

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UM MODELO DE PROPORÇÕES IDEAIS? Como muitas outras, esta grade deriva de uma mistura de proporções harmoniosas e medidas reais. A posição dos olhos e seu espaçamento horizontal, nariz e boca são particularmente importantes para o que a maioria das pessoas consideraria proporções “ideais”. Repare, porém, que isso reflete gostos ocidentais, em que a maior parte da pesquisa foi feita. As três barras coloridas mostram a divisão segundo a razão áurea para as seguintes medidas: a) dos olhos à boca/da boca ao queixo; b) do olho externo ao olho interno/do olho externo ao osso do nariz; c) dos olhos ao queixo/do topo da testa ao queixo.

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A FOTO DE CALENDÁRIO O corpo feminino nu em proporções idealizadas (seios proeminentes, cintura esbelta, pernas longas, por exemplo) sempre desencadeou respostas masculinas previsíveis.

IDEAIS MODERNOS DE CORPO • Para mulheres: esbelta (baixa gordura corporal), ICQ 0,7, seios grandes porém firmes (altos), pernas relativamente longas. • Para homens: baixa gordura corporal, ombros largos, cintura e quadril estreitos, pernas relativamente longas.

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Então, como ocorre com outros tipos de beleza, se você quer atingir o máximo de concordância entre um público o mais amplo possível, estas são as convenções a seguir. Mas, repetindo mais uma vez, buscar a beleza convencional (e a beleza é sempre convencional) não é o objetivo de todo fotógrafo. Enquanto a fotografia para o mercado de massa, em revistas e nas propagandas, continua a seguir as convenções e a refinar suas técnicas, em outros lugares existem ideias diferentes. Nos limites do gosto quanto à beleza há experimentos tentando expandir fronteiras. Isso acontece particularmente na arte, em que ideias contemporâneas sobre o assunto foram problematizadas pela necessidade atual de estar constantemente desafiando as preconcepções do público. Já nos idos anos 70, Susan Sontag, em Sobre a Fotografia, pode ver que “Em uma aparente repulsa ao Belo, gerações recentes de fotógrafos preferem mostrar a desordem.” A situação agora tornou-se ainda mais polarizada, entre a grande maioria que continua a buscar a beleza na vida e a minoria (alguns muito

estimados dentro do mundo da crítica) que ou não querem ter relação alguma com ela, ou gostariam de desafiá-la. Uma maneira de provocar é dizer, “isso não é bonito, mas você deve olhar para isso por outros motivos”, ou “se você colocar seus preconceitos de lado, conseguirá ver isso como bonito”. O truque, se ele existe, consiste em, de alguma maneira, persuadir o espectador a olhar por um tempo maior que o de costume, e isso normalmente implica colocar a imagem em um lugar ou de um jeito normalmente reservado às coisas atraentes: as paredes de uma galeria ou uma página de uma revista de alta-moda, por exemplo. A série de nus não ortodoxos Earthly Bodiesv de Irving Penn, feita entre 1949-1950, é um exemplo bem conhecido. Mais extremas são as fotografias de animais mortos encontrados no deserto por Frederick Sommer (1905-1999), e ainda mais sua natureza-morta de um pé humano amputado em um acidente. Uma variação disso é a aplicação de tratamento dado a temas de beleza a assuntos

nojentos ou repugnantes. Não é surpresa que a arena principal para esse tipo de tratamento tenha sido o estúdio, onde fotógrafos podem exercitar o controle ao máximo. Técnicas de beleza, conforme listadas, são tamanha contradição para temas como os fetos de bezerro mostrados abaixo que elas precisam ser aplicadas com rigor para que funcionem.

PESQUISA NA WEB • Edward Weston Pepper, 1930 • saturação Velvia • Robert Adams • capa Pirâmides National Geographic • iluminador softbox • flash circular • shibui • Beauty Check Regensburg • Marquardt beleza facial • Homem Vitruviano Razão Áurea • Devendra Singh WHR ou ICQ • nus Irving Penn • animais mortos Frederick Sommer

LUZ BOA, PENA DO ASSUNTO Fetos de bezerro à venda em um mercado no norte da Tailândia. Só a ideia do tema já causa repulsa à maioria das pessoas, particularmente quando elas ficam sabendo que eles são para cozinhar. Mas enquanto objetos, eles têm um brilho cintilante que chama a atenção (talvez dado a eles para causar pena, talvez não). A iluminação é o elemento inesperado – uma softbox de 1x0,5m montada em um flash de estúdio para suavizar as sombras e provocar reflexos de luz abertos que passem cada nuance da textura.

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BONITO, ATÉ VOCÊ FICAR SABENDO Enquanto a imagem dos bezerros ao lado provoca repulsa imediatamente à maioria das pessoas, esta parece ser apenas uma cena bem composta e bem iluminada de uma imagem de ciências naturais. Na verdade, ela foi para um destaque sobre comida e medicina asiática, e mostra vários úteros secos de sapo, o que torna o layout menos inocente.

ESTÉTICA NA DESORDEM Uma demolição em larga escala em Hong Kong não é, nem com muita imaginação, um assunto bonito, mas pode se tornar atraente por meio da aplicação de composição estritamente formal, contanto que o espectador esteja preparado para olhar para ela pela experiência gráfica formal.

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Exposição perfeita: Guia profissional para fotografias digitais incríveis Michael Freeman

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