Revista nutriNews Brasil 2° Trimestre - 2023

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A REVOLUÇÃO NA NUTRIÇÃO ANIMAL

O ano começou com uma crescente para diversas áreas da produção animal, o abate de suínos, bovinos e frangos teve um aumento no comparativo com o mesmo período do ano passado. No caso da produção de suínos, o primeiro trimestre fechou com uma alta de 3,5% no abate, e também o peso acumulado das carcaças teve um aumento expressivo, resultado sempre da nutrição e incansáveis pesquisas para a eficiência dos animais. O doutor Jansller e equipe nos mostra como dietas com baixo teor de proteína bruta podem impactar a nutrição desses animais.

A Gripe Aviária chegou ao país mas com a preparação e esforços de toda a cadeia os poucos casos confirmados são de aves migratórias. É claro que mesmo sem atingir os plantéis comerciais há preocupação no mercado internacional e isso traz um pouco de volatilidade aos preços dos insumos, como milho e soja.

Sobre a produção de milho no país, esta vem em uma crescente e mantendo a expectativa de superar a safra 21-22. Neste ano a produção já supera em 11% a anterior, mas este aumento também traz consigo uma queda no valor já que a disponibilidade do producto está alta. O milho responde como grande parte da matéria prima para a nutrição animal, principalmente na nutrição de animais não ruminantes, e a sua composição nutricional também é importante, a equipe da Univerisidade Federal do Paraná preparou um material sobre esse assunto.

Nesta edição temos a atualização da Tabela de prebióticos, probióticos e simbióticos 2023 com os principais produtos disponíveis no mercado.

Essa gama de substâncias é responsável pela melhora da saúde intestinal dos indivíduos que a recebem, e dessa forma são aliados no aumento da eficiência alimentar.

E por falar em saúde intestinal, a entrevista da revista nutriNews desse trimestre traz um assunto mais do que atual! Você já ouviu falar em como o estudo e manipulação da microbiota podem auxiliar na nutrição animal?! Em uma conversa com o PhD Natanael Leitão, abordamos esse assunto e como a nutrição animal pode ser transformada com a manipulação da microbiota e uso de inteligência artificial.

Também não há como esquecer de uma das produções mais promissoras do momento. A piscicultura de água doce, e aqui no Brasil seu principal representante a tilápia. O mercado da nutrição para peixes está aquecido, e pesquisas envolvendo genética e nutrição não param de ser produzidas para aumentar a eficiência dos peixes. vamos conhecer um pouco mais sobre produtos alternativos para a nutrição de peixes no artigo sobre hidrolisado proteico.

Não importa o nicho e nem a espécie, bovinos, ovinos, suinos, aves, tendências na nutrição de pets, fato é que a busca pela nutrição eficiente é diária, e os esforços para atender a demanda crescente por proteína animal são infindáveis, por isso estar atualizado dentro das principais tecnologias e tendências que podem revolucionar a produção de alimentos para os animais é indispensável.

Boa leitura!

Equipe nutriNews Brasil.

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A
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1 nutriNews Brasil 2o Trimestre 2023

CONTEÚDOS

04

A fundamental importância das vitaminas para a avicultura moderna

Sérgio Gonçalves Mota1 , Geovana Rocha Placido2

1Discente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos do IF Goiano - Campus Rio Verde

2Docente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos do IF Goiano - Campus Rio Verde

11 20

Avanços, implicações e limitações de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos

Maykelly da Silva Gomes, Jansller Luiz Genova, Gabriel Cipriano Rocha Universidade Federal de Viçosa

Uso de enzimas exógenas na alimentação de ruminantes: aplicações e benefícios

Laís Santana Celestino Mantovani

Doutora, docente da UniFatecie

Eletrolítico: ferramenta essencial no combate a diarreias 24

Luciano Prímola de Melo Consultor de serviços técnicos de bovinos leiteiros na Agroceres Multimix

2 nutriNews Brasil 2o Trimestre 2023
ELA 2 0 32
32 Tabela Prebióticos, Probióticos e Simbióticos Edição Brasil
TA B

Tecnologias e estratégias que visam a melhoria da eficiência da digestão da fibra em ruminantes

Bruna Calvo Agostinho PhD em produção animal

Tecnologia natural e modificada (MYCOSID) de base mineral no combate às micotoxinas

Débora Merediane Kochepka1, Felipe Augusto Corbellini de Souza2, Bruna Brocardo Ferreira3, Henrique Cislagui da Silva2, Denise Cazella4

1Doutora em Química pela UFPR

2Mestre em Eng. de Materiais pela UFSC

3Mestre em Química pela UFPR

4Pós-graduada em Zootecnia pela UNOESC

O estudo do microbioma como transformador da nutrição animal

Nutrinews Br e Natanael Leitão Biológio, Consultor, PhD em imunologia

Fatores que alteram a palatabilidade em alimentos para gatos

Ingrid Caroline da Silva

Universidade Estadual de Maringá

Composição nutricional do milho na nutrição de frangos de corte

Ana Carolina Britto Doi1, Isabella de Camargo Dias2, Suzete Paes de Melo Neta1, Alex Maiorka3

1Graduanda de Zootecnia, Universidade Federal do Paraná;

2Doutoranda em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Paraná;

3Professor Associado, Universidade Federal do Paraná

Hidrolisado proteico: uma alternativa para a nutrição de peixes

Luiz Fernando de Souza Alves Doutor em produção animal

nutrinews.com

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56 62 68 3 nutriNews Brasil 2o Trimestre 2023

A FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA DAS VITAMINAS PARA A AVICULTURA MODERNA

Sérgio Gonçalves Mota1, Geovana Rocha Placido2

1Discente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos do IF Goiano - Campus Rio Verde

2Docente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos do IF Goiano - Campus Rio Verde

As vitaminas são compostos orgânicos não sintetizados pelas aves, o que demanda que sejam incorporadas através da dieta. Elas são essenciais para o funcionamento de importantes processos bioquímicos, especialmente funcionando como catalisadoras de reações químicas. Existem ainda as pró-vitaminas, substâncias a partir das quais o organismo é capaz de sintetizar vitaminas. Por exemplo: carotenos (pró-vitamina A) e esteróis (pró-vitamina D).

4 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | A Fundamental Importância das Vitaminas para a Avicultura Moderna Vitaminas

Conforme a sua solubilidade, as vitaminas são classificadas em:

Lipossolúveis:

aquelas solúveis em gordura, o que é uma característica importante, pois permite seu armazenamento orgânico. Fazem parte deste grupo as vitaminas A, D, E e K.

Vitaminas Lipossolúveis:

Vitamina A (Retinol/Beta-Caroteno)

Crescimento e desenvolvimento dos tecidos ação antioxidante funções reprodutivas integridade dos epitélios importante para o desenvolvimento da visão

Vitamina K

KImportante função de catalisar a síntese dos fatores de coagulação do sangue, o que ocorre no fígado.

Ela atua na produção de protrombina, que combinada com o cálcio, tem efeito coagulant Ademais, é necessária na manutenção da saúde dos ossos.

Hidrossolúveis:

São as vitaminas do complexo B e a vitamina C, solúveis em água. Já estas não podem ser armazenadas no organismo, sendo absorvidas e excretadas rapidamente.

AVitamina D

Participa na absorção de cálcio e fósforo. Atua no desenvolvimento, promovendo a resistência dos ossos, músculos e nervos

Vitamina E (também chamada de Tocoferol)

EAção antioxidante, protege as células dos danos provocados pelos radicais livres.

D5 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | A Fundamental Importância das Vitaminas para a Avicultura Moderna
Vitaminas

Vitaminas Hidrossolúveis:

Vitamina C

CTem ação antioxidante, cicatrizante e atua no desenvolvimento e manutenção dos tecidos, incluindo matriz óssea, cartilagem, colágeno e tecido conjuntivo.

As vitaminas do complexo B compreendem oito vitaminas, são elas:

Tiamina (B1)

Responsável pela liberação de energia dos carboidratos, gorduras e álcool. Fundamental ação neuroprotetora.

Piridoxina

Desempenha papel importante no sistema nervoso central, participa no metabolismo dos lipídios, na estrutura da fosforilase e no transporte de aminoácidos através da membrana celular.

B1 B6 B2 B8

Biotina (B8)

Ribo avina (B2)

Disponibiliza a energia dos alimentos, crescimento em aves jovens, restauração e manutenção dos tecidos.

Niacina (B3)

Necessária para a produção de energia nas células.

Desempenha papel nas ações das enzimas no metabolismo dos ácidos graxos, respiração dos tecidos e eliminação de toxinas.

Tem participação no Ciclo de Krebs, produzindo energia através dos alimentos, síntese de gorduras e excreção dos resíduos de proteínas.

B3 B9

Ácido Pantotênico (B5)

Atua como coenzima no metabolismo dos carboidratos, mantém a função do sistema imunológico, juntamente com a vitamina B12, está presente na síntese de DNA e RNA, além de participar na formação e maturação de células sanguíneas.

Cobalamina (B12)

B12 B5

Transformação da energia de gorduras, proteínas e carboidratos em substâncias essenciais como hormônios e ácidos graxos.

Atua como coenzima no metabolismo dos aminoácidos e na formação da porção heme da hemoglobina; essencial para a síntese de DNA e RNA; participa na formação de células vermelhas do sangue.

Folato (B9) Ácido Fólico (B6)
6 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | A Fundamental Importância das Vitaminas para a Avicultura Moderna Vitaminas

APLICAÇÕES DAS VITAMINAS FRENTE AOS MODERNOS DESAFIOS DA AVICULTURA

Um dos principais desafios para a avicultura nos trópicos é o controle de temperatura dos aviários. Situações relacionadas a alta temperatura ambiente durante as fases de crescimento Universidade Federal de Viçosa e engorda desencadeiam uma série de reações denominadas por estresse calórico.

Existem diferentes mecanismos biológicos que reduzem o estresse térmico, por exemplo: respiração ofegante, sudorese e vasodilatação. Sob condições de estresse calórico, o consumo de ração e a atividade das aves são reduzidos (Figura 1).

Digestibilidade dos nutrientes

Figura 1: Efeitos do estresse por calor na produção avícola

Consumo de ração

Prejudica a síntese muscular

Excreção de minerais importantes para o organismo

Elas passam mais tempo bebendo água, descansando e ofegando. A capacidade de controle térmico das aves é reduzida, sobretudo pelo fato de possuirem alta temperatura corporal (entre 41 e 42 ºC) e não disporem do mecanismo da sudorese, presente em outras espécies animais.

do consumo de água

da atividade

Diminui a concentração de vitaminas

Também pode induzir alcalose respiratória e suprimir a função imunológica dos lotes de frangos de corte. Mas o que tudo isso tem haver com vitaminas?

Esse mesmo estresse térmico promove a redução da concentração corporal de vitaminas antioxidantes, como as vitaminas C, A e E. Também atua elevando a excreção de minerais fundamenteais para a composição do plasma e a formação dos tecidos, levando a danos nas membranas celulares.

7 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | A Fundamental Importância das Vitaminas para a Avicultura Moderna
O estresse térmico também pode reduzir a digestibilidade de nutrientes, gordura e deposição de carne, reduzindo também a formação muscular das aves.
Vitaminas

A Vitamina C, também chamada de ácido L-ascórbico, é um potente antioxidante, que geralmente é sintetizada no fígado e rins das aves.

Há um série de recomendações em literatura indicando sua suplementação para aliviar os efeitos do estresse calórico, assumindo que durante o estresse calórico as necessidades dessa vitamina podem ultrapassar a sua capacidade de síntese orgânica.

A atuação da vitamina C está relacionada à síntese de glóbulos brancos e, portanto, responde positivamente pela condição das aves.

Segundo diversos autores,

a inclusão do ácido ascórbico na dieta pode melhorar as características da carcaça, garantir a formação de componentes do sangue e, sobretudo aliviar o impacto negativo no crescimento dos frangos criados sob estresse térmico.

Pesquisas demostraram que a adição da vitamina C à dieta melhoram o consumo de ração, o ganho de peso médio diário e a conversão alimentar.

Como um importante antioxidante lipossolúvel, a vitamina E revela exercer proteção contra o estresse oxidativo.

Um fator importante a ser observado é que ela não pode ser sintetizada pelas aves, e depende exclusivamente da suplementação alimentar. Segundo o NRC (1994), a recomendação de vitamina E na dieta para matrizes de corte é de 6 mg/kg.

Além de atuar como antioxidade, tem importantes papeis na produtividade de matrizes de corte, na qualidade do ovos, na eclosão e, principalmente, na qualidade dos pintinhos nascidos.

A vitamina E atua reduzindo o envelhecimento ovariano causado pelo estresse oxidativo, que é responsável pela diminuição da produtividade de matrizes poedeiras idosas.

8 Vitaminas nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | A Fundamental Importância das Vitaminas para a Avicultura Moderna

Pesquisas demonstram que a suplementação dietética em matrizes tem efeitos positivos no aumento da capacidade antioxidante das gemas, bem como no aumento do desenvolvimento do embrião e dos pintos nascidos.

Para estes pintinhos, que têm capacidade limitada de ingestão pela ração, a suplementação de vitamina E demonstra ser particularmente importante no crescimento, aumentando a taxa de ganho de peso inicial.

Outra ação importante desta vitamina está relacionada à proteção embrionária dos ovos na fase de pré incubação.

Sendo a vitamina E um forte protetor antioxidante, as posturas de aves suplementadas com ela demonstram melhor eclosão quando comparadas à controles sem suplementação. Isso tem um forte impacto na viabilidade de produção de pintos.

As vitaminas têm diversos papeis fundamentais à concepção e permanência da vida. Atuam de maneira complementar aos alimentos estruturais, favorecendo reações extremamente necessárias ao funcionamento orgânico.

A ciência tem avançado no sentido de promover aplicações concentradas, prevenindo ou corrigindo desvios e, sobretudo, elevando a produtividade dos plantéis.

Estes, por sua vez, frutos do desenvolvimento genético avançado, requerem cada vez mais dietas elaboradas para que possam expressar todo o seu potencial produtivo, características próprias de uma avicultura competitiva e sustentável.

9 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | A Fundamental Importância das Vitaminas para a Avicultura Moderna Vitaminas
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AVANÇOS, IMPLICAÇÕES E LIMITAÇÕES DE DIETAS COM BAIXO

TEOR DE PROTEÍNA BRUTA NA

PRODUÇÃO DE SUÍNOS

Introdução

Os programas de alimentação para suínos “de produção” são divididos nas fases de creche, crescimento e terminação (Rostagno et al., 2017). Nesse sentido, o fornecimento dietético total de proteína bruta (PB) deve ser suficiente para atender as exigências de aminoácidos essenciais para cada fase, bem como o nitrogênio (N) necessário para garantir a síntese de aminoácidos não essenciais (van Milgen e Dourmad, 2015).

Maykelly da Silva Gomes, Jansller Luiz Genova, Gabriel Cipriano Rocha Universidade Federal de Viçosa
11 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Avanços, implicações e limitações de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos
Aminoácidos

Assim, é geralmente aceito que as exigências são baseadas na ingestão de um grupo completo de aminoácidos em vez de PB (Millet et al., 2018).

Experimentalmente, níveis ainda menores de PB podem ser alcançados pela suplementação de aminoácidos como His, Leu e Phe.

Atualmente, cinco aminoácidos essenciais (Lisina, Metionina, Treonina, Triptofano e Valina) têm sido utilizados na nutrição de suínos, permitindo a formulação de dietas com baixo teor de PB.

Além disso, o aminoácido Ile também pode ser utilizado em dietas, dependendo do seu valor econômico e do programa de alimentação em questão.

Contudo, níveis muito baixos de PB podem prejudicar o desempenho dos suínos devido ao menor conteúdo de aminoácido não essencial da dieta, além da redução da proteína intacta e de compostos bioativos, como os peptídeos e as isoflavonas.

De fato, a redução do nível de PB da dieta, mesmo com a manutenção das relações ideais de aminoácidos essenciais com a Lis, tem mostrado efeitos contraditórios no desempenho de suínos.

Assim, o foco da presente revisão foi entender melhor os avanços e implicações da redução de PB em dietas balanceadas para todos os aminoácidos essenciais e seus efeitos no desempenho de suínos.

12 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Avanços, implicações e limitações
de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos Aminoácidos

Benefícios e limitações do uso de dietas com baixo teor de PB

Com relação às perspectivas zootécnicas:

A eficiência econômica de dietas com baixo teor de PB pode variar com o preço dos ingredientes e a resposta de desempenho dos suínos.

Os benefícios para o meio ambiente devido à menor excreção de N estão bem estabelecidos.

Dietas com baixo teor de PB balanceadas com aminoácidos essenciais têm sido usadas como parte de uma estratégia para melhorar a saúde intestinal em suínos.

Dietas com baixo teor de PB, devido a menor quantidade de farelo de soja possuem menores quantidades de carboidratos indigeríveis (estaquiose e rafinose) e proteínas antigênicas (glicinina e β-conglicinina), que são considerados fatores antinutricionais.

Dietas com baixo teor de PB, podem reduzir a proliferação de bactérias patogênicas e suas toxinas para o trato gastrointestinal, como amônia e poliaminas.

Apesar disso, alguns estudos relataram piora no desempenho de suínos ao diminuir o nível de PB na dieta, mesmo quando as dietas foram balanceadas para os aminoácidos essenciais.

Considerando que nesses estudos todos os aminoácidos essenciais foram adequadamente fornecidos, há algumas explicações na literatura para os efeitos negativos no desempenho de suínos quando fornecidas dietas com baixo teor de PB.

13 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Avanços, implicações e limitações de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos
Aminoácidos

A síntese de aminoácidos não essenciais a partir dos essenciais pode se tornar um fator limitante no desempenho de suínos alimentados com dietas de baixo teor de PB (Peng et al., 2016).

Leitões alimentados com uma dieta com baixo teor de PB apresentaram uma redução na concentração sanguínea de aminoácidos não essenciais, em particular, Arg, Gln, Glu e Pro (Zhang et al., 2013).

Assim, alguns dos aminoácidos não essenciais podem se tornar funcionalmente essenciais e, portanto, deficientes em dietas com baixo teor de PB.

Neste caso, a suplementação destes aminoácidos não essenciais pode ser necessária para manter a saúde e o crescimento dos suínos.

Metanálise

Devido à divergência na literatura e à importância e implicações para estratégias práticas de formulação na suinocultura, uma metanálise foi conduzida para estimar o nível mínimo de PB que não comprometesse o desempenho de crescimento dos suínos.

Além disso, a suplementação com aminoácidos industriais permite uma redução nas fontes proteicas, como o farelo de soja. Este contêm compostos biologicamente ativos, como as isoflavonas, as saponinas e os peptídeos bioativos, que também são importantes para manter o desempenho (Rochell et al., 2015).

Em adição, foi sugerido que os peptídeos bioativos possuem atividades antimicrobianas, antioxidantes e imunomoduladoras (Hou et al., 2017)

Diante disso, dietas com baixo teor de PB devem ser formuladas assumindo um nível mínimo de PB para evitar a

Um banco de dados foi construído a partir de 46 publicações (totalizando 60 experimentos). Os principais critérios para a seleção dos artigos foram:

Avaliaram diferentes níveis de PB;

Tiveram Lis digestível ileal estandardizada (DIE) e energia metabolizável (EM) semelhantes entre os tratamentos controle vs baixo teor de PB;

Tiveram todos os aminoácidos essenciais da dieta atendendo ou excedendo a relação ideal com a Lis (NRC, 2012);

Respostas de desempenho claramente relatadas.

14 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Avanços, implicações e limitações de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos
Aminoácidos

As análises referentes ao estudo de metanálise foram realizadas pelo procedimento NLIMIXED do SAS (SAS. Inc., Cary, NC, EUA), usando um modelo estatístico não linear.

Fase de creche

De acordo com o NRC (2012) e as Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017), uma dieta à base de milho e farelo de soja para suínos de 7 kg de peso corporal contém cerca de 20,5% de PB.

Com base na presente metanálise, foi estimado 18,4% de PB como o ponto de quebra abaixo do qual o GPD seria reduzido. Considerando a eficiência alimentar, o nível estimado foi de 18,3% PB.

O nível mínimo de PB proposto para dietas de leitões em fase de creche está abaixo do nível apresentado no NRC (2012) e nas Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017), indicando que níveis de PB inferiores do que os propostos nas Tabelas podem ser usados para formular dietas nesta fase.

Além disso, também estimamos os níveis mais altos de lisina industrial que poderiam ser suplementados sem comprometer o GPD e a eficiência alimentar, que foram 0,42% e 0,43% de L-lisina, respectivamente.

Isso é equivalente a 0,54% de L-lisina HCl (78,8% de pureza) ou 0,71% de L-lisina sulfato (60,0% de pureza).

O uso da relação Lis DIE:PB também pode ser um bom estimador de até que ponto a PB pode ser reduzida (Millet et al., 2018; Liu et al., 2019).

Considerando a relação Lis DIE:PB, obteve-se que 6,6% é o ponto máximo acima do qual o GPD e eficiência alimentar estariam comprometidos.

1 15 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Avanços, implicações e limitações de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos Aminoácidos

Fase de crescimento

Em comparação com a fase de creche, as dietas da fase de crescimento são formuladas com um nível de PB mais baixo.

Com base no modelo estatístico da presente metanálise:

Para uma fase semelhante, o NRC (2012) e as Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017) sugerem 15,7% e 18,9% de PB, respectivamente. O resultado encontrado no presente trabalho se encontra entre esses intervalos de PB.

O conteúdo de PB “na fase de crescimento” pode ser reduzido até o nível de 16,1% e 16,3% sem comprometer o GPD e a eficiência alimentar, respectivamente.

Para a fase de crescimento, não foi possível estimar um ponto para a suplementação de L-lisina e nem para a relação Lis DIE:PB no desempenho. No entanto, o nível máximo médio de suplementação de L-lisina na fase de crescimento foi de 0,42 que equivale a 0,53% de L-lisina HCl ou 0,70% de L-lisina sulfato.

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Lisina

Fase de terminação

A proteína é um nutriente caro e devido ao aumento do consumo de ração na fase de terminação, a eficiência do uso de nutrientes impacta diretamente nos custos do sistema de produção.

Segundo as Tabelas (NRC, 2012; Rostagno et al., 2017), uma dieta para a primeira fase de terminação (70 a 100 kg) pode ser formulada com ≅ 12,3% de PB, enquanto uma dieta para a segunda fase de terminação (100 kg até o abate) com ≅ 11,0% de PB, mantendo a concentração de aminoácidos essenciais recomendada.

Esses níveis estão entre os níveis sugeridos no NRC (2012) para suínos na primeira (12,1% de PB) e segunda (10,5% de PB) fase de terminação, provavelmente porque consideramos ambas as fases juntas em nosso modelo.

Por outro lado, os níveis propostos estão abaixo das recomendações das Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017) para suínos na fase de terminação.

Assim, níveis de PB inferiores das recomendações das Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017) podem ser utilizados sem comprometer o desempenho zootécnico.

Em concordância, o modelo estatístico sugeriu que o nível de PB pode ser reduzido em até 11,6% e 11,4% sem comprometer o GPD e a eficiência alimentar, respectivamente.

Considerando o GPD, é possível suplementar até 0,24% de L-lisina, que equivale à suplementação de 0,30% de L-lisina HCl ou 0,40% de L-lisina sulfato.

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Avanços, implicações e limitações de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos Aminoácidos

Avanços, implicações e limitações de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos

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Conclusões

Em conclusão, há um nível mínimo de PB que compromete o desempenho dos suínos, mesmo que as dietas sejam balanceadas para todos os aminoácidos essenciais.

Aparentemente, existe um nível mínimo de PB a partir do qual aminoácidos não essenciais, compostos bioativos e outros nutrientes se tornam limitantes.

Com base na metanálise, considerando o GPD e a eficiência alimentar, os níveis mínimos de PB foram estimados em:

18,4% e 18,3% para suínos em fase de creche;

16,1% e 16,3% para crescimento e,

11,6% e 11,4% para terminação, respectivamente.

Além disso, estimou-se que os maiores níveis de L-lisina (100% de pureza) a serem suplementados sem comprometer o desempenho foram de 0,42% na fase de creche e 0,24% na fase de terminação. Em adição, um nível de suplementação máximo de L-lisina de 0,42% é sugerido para suínos em crescimento.

Por fim, obteve-se que 6,6% de Lis DIE:PB é a razão acima da qual o GPD e a eficiência alimentar de leitões em fase de creche são comprometidos.

Este report tem como base o artigo “Rocha, G. C., Duarte, M. E., & Kim, S. W. (2022). Advances, Implications, and Limitations of Low-CrudeProtein Diets in Pig Production. Animals, 12(24), 3478.”

18 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Avanços, implicações e limitações de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos Aminoácidos

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USO DE ENZIMAS EXÓGENAS NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES: APLICAÇÕES E BENEFÍCIOS

Os ruminantes são excepcionalmente capazes de transformar matéria vegetal em carne, e este feito é de grande interesse para a produção de proteína de origem animal e para a segurança alimentar. Esse interesse vem fomentando, nas últimas décadas, diversos estudos aplicados em melhorias tecnológicas, tanto nos alimentos destinados à nutrição dos ruminantes quanto em melhoramento genético e de manejo, resultando em elevados índices de produção de proteína animal de origem bovina.

No que diz respeito aos alimentos para ruminantes, deve-se pontuar que eles são vastamente variáveis e influenciados de acordo com os objetivos zootécnicos da cadeia produtiva animal, bem como por fatores regionais relacionados a questões mercadológicas de insumos e produto final.

Esta complexidade de variáveis resulta em constante desafio aos produtores, em termos de tomada de decisão, viabilidade e lucratividade na etapa de produção, tendo que, muitas vezes efetuar possíveis alterações na composição da dieta dos animais, fazendo com que estes precisem adaptar sua fauna fermentação ruminal a cada mudança.

20 Enzima nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Uso de enzimas exógenas na alimentação de ruminantes: aplicações e benefícios
Laís Santana Celestino Mantovani Doutora, docente da UniFatecie

Desde 1995, houve o desenvolvimento tecnológico de enzimas exógenas para uso na bovinocultura. O uso de enzimas exógenas pode trazer benefícios para a eficiência alimentar dos animais, oferecer uma melhor conversão alimentar e melhorar o desempenho produtivo.

Além disso, a adição de enzimas exógenas na dieta animal também pode reduzir a produção de gases, pois a digestão mais eficiente dos nutrientes reduz significativamente a quantidade de metano produzido pelos animais.

As enzimas podem ser adicionadas à dieta na forma de suplementos comerciais, que são misturadas com a ração ou silagem dos animais. A adição de enzimas pode melhorar a digestibilidade de nutrientes específicos, como amido, proteína e fibra, o que pode levar a um melhor desempenho animal, aumento da produção de leite e redução dos custos de alimentação.

Deste modo, é necessário que o uso das enzimas esteja estritamente alinhado com a composição nutricional da dieta dos animais. À medida que os estudos foram evoluindo, a compreensão de como utilizar esse aliado tecnológico de maneira mais eficiente tem ganhado força entre os bovinocultores.

As enzimas são amplamente utilizadas na nutrição de bovinos para melhorar a digestibilidade e a utilização dos nutrientes presentes na dieta. Elas são proteínas que catalisam reações químicas específicas no trato digestivo, quebrando os nutrientes complexos em unidades menores e mais facilmente absorvíveis pelo animal.

Existem várias enzimas que podem ser adicionadas à dieta de bovinos, incluindo as amilases, proteases, lipases e celulases. Cada enzima tem uma função específica no processo de digestão e absorção de nutrientes.

As enzimas fibrolíticas, como celulases e hemicelulases, são usadas na alimentação de bovinos para melhorar a digestibilidade das fibras presentes na dieta, como as fibras de celulose e hemicelulose encontradas em alimentos como o feno e a silagem.

Elas ajudam a quebrar as fibras em menores partículas, facilitando a ação dos microorganismos ruminais e a absorção dos nutrientes pelo trato digestivo do animal.

21 Enzima nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Uso de enzimas exógenas na alimentação de ruminantes: aplicações e benefícios

Esse efeito ocorre pelo auxilio das enzimas na proliferação e atividade fermentativa de microrganismos relacionados com a produção de ácidos graxos voláteis, principalmente de ácido propiônico e ácido acético, fontes de energia para o ruminante.

Estudos apontam que a adição de enzimas exógenas em dietas para ruminantes promove melhora em ganho de peso (em até 15%), assim como em melhoria da eficiência alimentar (em até 14%).

Esses benefícios se traduzem em significativo aumento na lucratividade da atividade pecuária de corte, e também vêm mostrando resultados promissores na redução de impacto ambiental da produção, uma vez que há significativa diminuição de perdas de nutrientes nas excretas e, sobretudo, na quantidade de dejetos despejados no ambiente.

Portanto, é possível aumentar a eficiência alimentar dos bovinos e reduzir os custos com alimentação, já que é possível reduzir a quantidade de alimento necessário para manter os animais saudáveis e com bom desempenho produtivo.

Além disso, as enzimas fibrolíticas também ajudam a reduzir a produção de metano pelos bovinos, o que contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa na pecuária, que segue sendo uma pauta importante dentro da produção animal.

As proteinases, também conhecidas como proteases, são enzimas que podem ser utilizadas na alimentação de bovinos para melhorar a digestibilidade das proteínas presentes na dieta, como as proteínas encontradas em alimentos como o farelo de soja, o milho e a alfafa, por exemplo.

Essas enzimas ajudam a quebrar as proteínas menores, facilitando a absorção dos aminoácidos pelo trato digestivo do animal.

No entanto, é importante lembrar a importância do acompanhamento nutricional por um profissional, pois o excesso de proteínas na dieta dos bovinos pode causar problemas metabólicos, como o acúmulo de amônia no organismo, o que pode levar a problemas controlados e até mesmo a óbito dos animais, além de aumentar a excreção de nitrogênio, causando perdas importantes.

As amilases são enzimas utilizadas com eficiência na alimentação de bovinos em sistema intensivo para melhorar a digestibilidade dos carboidratos presentes na dieta, como os amidos encontrados em alimentos como o milho e a cevada.

22 Enzima nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Uso de enzimas exógenas na alimentação
e
de ruminantes: aplicações
benefícios

A amilase realiza a hidrólise do amido no ambiente ruminal, transformando-o em oligossacarídeos, que é estável no rúmen (pH e temperatura) e não causa redução no pH ruminal, o que beneficia o controle da acidose e melhora todo o metabolismo energético do bovino confinado.

Os oligossacarídeos podem ser usados como fonte de energia eficiente pelos microrganismos que degradam fibras – o que também é conhecido por “alimentação cruzada”.

O tempo para que a fibra seja digerida pode ser reduzido quando há mais energia disponível para os microrganismos fibrolíticos, assim, a digestibilidade geral da ração é melhorada.

Já as lipases são enzimas que atuam na digestão de lipídeos e tem participação importante no metabolismo de vitaminas lipossolúveis, sendo amplamente utilizadas na alimentação de bovinos para melhorar a absorção de energia e das vitaminas presentes na dieta.

As lipases microbianas também podem ser utilizadas como aditivos em alimentos para modificar e realçar as propriedades organolépticas, atuando como precursor de palatabilidade.

Pudemos ao longo desta leitura, identificar vários benefícios no uso de enzimas. No entanto, é importante lembrar que a adição de enzimas na dieta de bovinos deve ser feita com cautela e sob orientação de um profissional qualificado, zootecnista ou médico veterinário especializado em nutrição, levando em consideração fatores como a composição da dieta, a idade e a saúde dos animais.

Além disso, é importante garantir que as enzimas utilizadas sejam seguras para os animais e não apresentem riscos à saúde ou ao meio ambiente.

23 Enzima nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Uso
de
enzimas exógenas na alimentação de ruminantes: aplicações e benefícios Uso de enzimas exógenas na alimentação de ruminantes: aplicações e benefícios BAIXAR EM PDF

ELETROLÍTICO: FERRAMENTA ESSENCIAL NO COMBATE A DIARREIAS

Acriação de bezerras é uma fase de grande importância na atividade leiteira, pois o sucesso ou insucesso impactará diretamente na disponibilidade de animais de reposição. Também é uma fase de grandes desafios, e dentre eles a sanidade tem grande relevância, com grande impacto em desempenho e mortalidade.

Apesar de assustador, taxas de mortalidade superiores a 10% em bezerras em aleitamento ocorrem com frequência, embora não devessem.

Com a mortalidade, além da perda econômica direta do que já foi investido na bezerra, há uma perda econômica indireta, de impacto financeiro muito maior em razão de, no futuro, não haver uma novilha disponível para comercialização, ou uma vaca em lactação para ocupar uma estrutura ociosa.

24 Eletrolítico nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Eletrolítico: ferramenta essencial no combate a diarreias
Luciano Prímola de Melo Consultor de serviços técnicos de bovinos leiteiros na Agroceres Multimix

Ao adentrarmos na questão sanitária das bezerras em aleitamento e analisarmos as causas de morbidade e mortalidade, encontramos como grande vilã a diarreia. Esse rótulo a ela é dado pois é a doença de maior incidência, correspondendo a aproximadamente 40% das doenças que ocorrem nessa fase, representando mais de 30% das mortes (Urie et al., 2018).

Impactos da diarreia

As diarreias são causadas principalmente por patógenos, havendo uma grande variedade de espécies de vírus, bactérias e protozoários. Uma característica muito importante é que, independentemente da causa e do mecanismo de ação, há dois fatos muito importantes:

A membrana das células intestinais será afetada, comprometendo os mecanismos de controle da entrada e saída de eletrólitos, glicose, bicarbonato e água.

Como ferramenta de tratamento, o fornecimento de solução eletrolítica oral, também conhecida como eletrolítico, propicia grandes benefícios.

Os impactos diretos da diarreia no organismo da bezerra são vários, podendo ser destacados:

Menor absorção e consequente maior perda de eletrólitos, principalmente Na+, K+ e Cl-

Balanço energético negativo

A disfunção da absorção compromete o aproveitamento de alimentos e, consequentemente, a bezerra não estará bem nutrida, o que resulta em menor desempenho, além de favorecer o estresse oxidativo, comprometendo o sistema imune e aumentando a mortalidade.

A associação das alterações e suas consequências resultará em menor desempenho e aumento de mortalidade.

25 Eletrolítico nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Eletrolítico: ferramenta essencial no combate a diarreias
Maior perda de bicarbonato Ocorrência de acidose metabólica Menor absorção de glicose Maior perda de água Desidratação Inapetência

Eletrolítico

Os eletrolíticos surgem justamente como recurso para corrigir os desequilíbrios causados pela diarreia. Isso se dá, pois:

São fonte de eletrólitos que repõem o déficit gerado pela maior perda e menor absorção;

Fornecem agente alcalinizante para correção da acidose metabólica;

Disponibilizam energia para suprir o déficit energético causado pela menor absorção de glicose, menor consumo e menor digestão;

Potencialmente possibilitam a maior ingestão de água, melhorando a hidratação.

Apesar da recomendação de utilização ser quase unânime, a grande questão é o que avaliar na composição de um eletrolítico. Vários fatores são considerados, como:

Concentração de Na+, K+ e Cl-

Teor de energia;

Razão entre Na+ e glicose;

Osmolaridade e

Diferença de íons fortes (SID) e agente alcalinizante.

Independentemente do que está sendo avaliado, o ditado “a diferença entre o remédio e o veneno está na dose” (ou seja, na concentração) é extremamente válido, pois em eletrolítico não existe “quanto mais melhor”, mas sim “o ponto chave é o equilíbrio”.

Variáveis de composição

Como exemplos das variáveis de composição correlacionadas ao equilíbrio, temos:

- Concentração de Na+ baixa não atende ao déficit. Por outro lado, se fornecida em quantidade excessiva, grande volume de água pode ser atraído para o lúmen intestinal, agravando um quadro de diarreia;

Em função disso, o seu uso é amplamente recomendado.

26 Eletrolítico nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Eletrolítico: ferramenta essencial no combate a diarreias

- Baixa concentração de energia não supre o déficit energético. Porém, se a concentração for muito alta, a osmolaridade ultrapassa o limite superior, aumentando o risco de empanzinamento, além de impossibilitar o fornecimento junto ao leite. O fornecimento de alta quantidade de Cl- irá reduzir o SID, comprometendo o controle da acidose metabólica.

As matérias primas utilizadas também são de grande importância. Além possuir alta qualidade, para não comprometer o equilíbrio devem apresentar constância na composição. Quando possibilitam o fornecimento junto ao leite ou sucedâneo, não restringindo apenas à água, tornam o uso mais amplo. Além disso, ocorre interação entre os componentes com impacto na absorção.

O eletrolítico preparado em água resultou em maior volume plasmático, já o preparado em leite melhorou a osmolaridade plasmática e foi efetivo em corrigir a acidose metabólica. Ambas as formas de administração foram efetivas em aumentar a concentração sanguínea de Na+.

Quando fornecido junto ao leite também foi efetivo em corrigir a acidemia através da elevação do pH sanguíneo.

Alta quantidade de Cl- reduz o SID, comprometendo o controle da acidose metabólica.

Estudos: uso de eletrolíticos em bezerras com diarreia

Wenge-Dangschat et al. (2020) avaliaram o uso de eletrolíticos em bezerras com diarreia. Foi avaliado o fornecimento:

De apenas leite;

Leite com eletrolítico preparado em água, ou

Eletrolítico preparado em leite.

Doré et al. (2019) comparam o uso de eletrolítico oral e fluidoterapia intravenosa e subcutânea. O eletrolítico apresentou maior eficiência na correção da acidose metabólica e no aumento da concentração de glicose no sangue.

Os resultados encontrados reforçam os benefícios do uso de eletrolíticos.

27 Eletrolítico nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Eletrolítico: ferramenta essencial no combate a diarreias

Eletrolítico em leite

Mesmo sendo claro o nível de impacto negativo da diarreia na saúde das bezerras e o quanto o eletrolítico tem papel fundamental na recuperação dos animais, muitas vezes o eletrolítico não é utilizado por dificuldades de adequação ao manejo e à mão de obra da fazenda.

Isso ocorre, principalmente, quando o eletrolítico requer exclusivamente a diluição em água, o que obriga a oferta do produto entre duas e seis horas após o fornecimento do leite.

Apesar de diluição em água proporcionar maior hidratação, a utilização de um eletrolítico que também possa ser fornecido junto ao leite, ou sucedâneo, tem como vantagem a maior aplicabilidade e flexibilidade de uso, garantindo:

Reposição de eletrólitos;

Correção da acidose metabólica e Fornecimento de energia a um maior número de bezerras.

Além do papel preventivo, o uso de um eletrolítico que seja flexível para atender às particularidades de manejo de cada fazenda, possibilita seu emprego em ampla escala.

Também permite que seja equilibrado e produzido com adequados ingredientes. E, quando associado à detecção e ação precoce nos quadros de diarreia, certamente refletirá em superação dos desafios com maior sucesso.

Como resultado, obteremos bezerras com maior desempenho, menor taxa de mortalidade, contribuindo para o sucesso econômico da fazenda.

Eletrolítico: ferramenta essencial no combate a diarreias BAIXAR EM PDF

28 Eletrolítico nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Eletrolítico:
ferramenta essencial no combate a diarreias

TABELA PREBIÓTICOS, PROBIÓTICOS E SIMBIÓTICOS 2023 EDIÇÃO

BRASIL

Tabela PREBIÓTICOS, PROBIÓTICOS E SIMBIÓTICOS 2023

1 Primeiro probiótico do mercado com germinação intestinal comprovada in vivo .

2 Probiótico resistente à peletização e ao pH gástrico com germinação precisa no intestino das aves.

3 Ação na modulação da microbiota intestinal, inclusive favorecendo o controle de patógenos como E. coli, Clostridium perfringens e Salmonella spp..

4 Favorece a integridade intestinal e possui ação anti-inflamatória promovendo um maior equilibrio da saúde intestinal, diminuindo disbiose e proporcionando aumento dos ganhos zootécnicos.

5 Produto com compatibilidade comprovada com os principais promotores e anticoccidianos do mercado.

10 g/ton de ração preparada.

Produto para incorporação em premixes que serão utilizados para produção de rações para frangos de corte, perus, matrizes e aves de postura comercial.

10 UFC/g prod

1x10

Bacillus subtilis 29784

ALTERION NE

500 g/ton de ração preparada.

Produto para incorporação direta em rações de frangos de corte, perus, matrizes e aves de postura comercial.

8 UFC/g prod

2x10

Bacillus subtilis 29784

ALTERION NE 50

33 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Tabelas de Prebióticos, Probióticos e Simbióticos 2023
2023
INGREDIENTES ATIVOS CONCENTRAÇÃO
TIPO DE USO DOSE INFORMAÇÃO ADICIONAL
EMPRESA NOME DO PRODUTO
(UFC/G PROD.)

Tabela

INFORMAÇÃO ADICIONAL

colonização intestinal, modulação da microbiota, redução da proliferação de enterobactérias patogênicas (foco em sanidade).

Indicado para

Misturar de 50 a 150 gramas por tonelada de ração, de acordo com a fase de criação e/ou idade das aves.

Indicado para uso na ração de frangos de corte, poedeiras e aves reprodutoras em todas as fases.

UFC/grama

≥ 10 10

Lactobacillus reuteri, Lactobacillus salivarius, Lactobacillus acidophillus, Lactobacillus delbrueckii, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus rhamnosus, Bacillus subtilis, Bacillus licheniformis, Pediococcus acidilactici, Enterococcus faecium.

Constituído de bacilos melhoradores de desempenho que auxiliam no controle de enterobactérias patogênicas competindo por nutrientes no intestino e melhoram a qualidade da cama.

100 a 150 gramas por tonelada de ração, de acordo com a fase de criação e/ou idade das aves.

Indicado para uso na ração de frangos de corte, poedeiras e aves reprodutoras em todas as fases.

UFC/grama

≥ 10 9

2 cepas de Bacillus subtilis, 1 cepa de Bacillus licheniformis.

GVF-MIX RF

Produzido por: Distribuido por:

GVF-BAC RP

34 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Tabelas de Prebióticos, Probióticos e Simbióticos 2023
2023
PREBIÓTICOS, PROBIÓTICOS E SIMBIÓTICOS 2023
DE USO DOSE
EMPRESA NOME DO PRODUTO INGREDIENTES ATIVOS CONCENTRAÇÃO (UFC/G PROD.) TIPO

Tabela PREBIÓTICOS, PROBIÓTICOS E SIMBIÓTICOS 2023

Favorece o desempenho produtivo da ave, auxiliando na digestão e absorção de nutrientes, além de contribuir para o desenvolvimento da microbiota intestinal.

Adicionar de 750 g a 250g/ ton de ração de acordo com a fase.

Produto indicado para frangos de corte, matrizes pesadas e poedeiras em todas as fases.

Lactose (mín) 255g/kg, Matéria Mineral (máx) 100g/kg, Cálcio (mín) 10g/ kg, Zinco (mín) 700mg/ kg,Manganês (mín) 520mg/ kg, Proteína Bruta(mín) 40g/ kg, Extrato etéreo (mín) 3mg/kg, Fibra bruta (máx) 2,4mg/kg, MOS (mín) 12g/ kg, Betaglucanos (mín) 21g/ kg, Glucomananos (mín) 38g/kg, Aditivos Probióticos (mín) 2x10 9 .

Lactose, Diatomita, Parede Celular de Levedura, Levedura e derivados da fermentação, Sulfato de Zinco, Sulfato de Manganês, Lactobacillus reuteri, Bacillus subtillis, Bacillus licheniformis, Lactobacillus salivarius, Lactobacillus acidophillus, Lactobacillus delbrueckii, Lactobacillus plantarum, Pediococcus acidilactici, Lactobacillus rhamnosus e Enterococcus faecium.

SIMBIUM MAIS

Indicado para auxílio no controle de quadros entéricos em suínos e para melhor desempenho, em todas as fases de criação.

Misturar 5kg/ton em ração maternidade e pré inicial, de 2 a 5kg/ton para ração inicial, de 0,5 a 1kg/ton para ração crescimento e terminação, 2kg/ton para ração reprodução e lactação.

Produto indicado para suínos em todas as fases.

Matéria Mineral (máx) 920g/kg, Cálcio (mín) 160g/kg, Zinco (mín) 350mg/kg, Manganês (mín) 260mg/kg, Bacillus subtilis (mín) 6,5X10 7 UFC/g, Lactobacillus acidophillus (mín) 1,0X10 8 UFC/g, Lactobacillus casei (mín) 7,5X10 7 UFC/g, Enterococcus faecium (mín) 1,0X10 8 UFC/g, Lactobacillus lactis (mín) 8,0X10 7 UFC/g, Bifidobacterium bifidum (mín) 7,0x10 7 UFC/g.

Diatomita, Sulfato de Zinco, Sulfato de Manganês, Aditivos Probióticos (Bacillus subtilis, Lactobacillus acidophillus, Lactobacillus lactis, Lactobacillus casei, Enterococcus faecium, Bifidobacterium bifidum)

CINERMAX SUIS

35 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Tabelas de Prebióticos, Probióticos e Simbióticos 2023
2023
EMPRESA NOME DO PRODUTO INGREDIENTES ATIVOS E OUTROS INGREDIENTE/S COMPOSIÇÃO TIPO DE USO DOSE
ADICIONAL
INFORMAÇÃO

Tabela

Os nutrientes e as bactérias probióticas da sua composição contribuem para a saúde intestinal estimulando rápida regeneração das células intestinais, ativando a recomposição da microbiota do trato digestório, promovendo a eubiose e auxiliando na prevenção de infecções bacterianas como as salmonelas.

Misturar 100g para cada 1.000l de água de bebida.

Indicado para uso na água de bebida de frangos de corte do primeiro dia ao pré-abate, poedeiras e aves reprodutoras em qualquer fase da vida, ou no período de estresse.

Reduz de 90 a 95% a infestação de ovos no ambiente; Reduz o uso de anti-helmínticos químicos; Não deixa resíduos em ovos; Melhora o desempenho produtivo do plantel.

Disponibilizar 100 g para cada tonelada de ração. Uso contínuo por no mínimo 90 dias.

Indicado para poedeiras comerciais nos sistema cage free e free range e matrizes de frango de corte.

Lactose (mín) 75g/100g, Aditivos probióticos (mín) 10 9 UFC/100g

Lactose, Diatomita, LGlutamina, Cloreto de Sódio (Eletrólitos), Lactobacillus reuteri, Lactobacillus salivarius, Lactobacillus acidophillus, Lactobacillus delbrueckii, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus rhamnosus, Pediococcus acidilactici, Enterococcus faecium.

GVF-AQUA NUTRI

Produzido por: Distribuido por:

Duddingtonia flagrans ≥ 10 5 unidades/g

Duddingtonia flagrans

BIOVERM®

* Produtos formulados, que em sua composição contêm aditivos prebióticos e probióticos, além de outros ingredientes. EMPRESA

36 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Tabelas de Prebióticos, Probióticos e Simbióticos 2023
2023
PREBIÓTICOS, PROBIÓTICOS E SIMBIÓTICOS 2023
E
TIPO DE USO DOSE
ADICIONAL
NOME DO PRODUTO INGREDIENTES ATIVOS
OUTROS INGREDIENTE/S COMPOSIÇÃO
INFORMAÇÃO
Tel.: +34 91 725 08 00 www.liptosa.com liptosa@liptosa.com ...the green way of life Melhora a digestibilidade da ração Suporta secreções pancreáticas, biliares Reduz os custos de produção Melhoria do desempenho zootécnico Fa S t S perdice energía !!

TECNOLOGIAS E ESTRATÉGIAS

QUE VISAM A MELHORIA DA EFICIÊNCIA DE DIGESTÃO DA FIBRA EM RUMINANTES

Fibra é um dos principais nutrientes na dieta de ruminantes, e é oriunda principalmente de forragens, tais como, pastagem, silagem, feno, ou subprodutos da indústria agrícola.

A fibra desempenha dois papeis essenciais na nutrição. Um deles é de fornecer capacidade física, estimulando a salivação do animal, vital para o funcionamento do rúmen e saúde do animal.

O segundo papel, o que possui suma importância, é a capacidade de ser degradada no rúmen pelos microrganismos, gerando composto denominando ácidos graxos voláteis, a principal fonte de energia para ruminantes.

38 Fibra dietética nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Tecnologias e estratégias que
a
da eficiência de digestão da fibra em ruminantes
visam
melhoria
Bruna Calvo Agustinho PhD em produção animal

Entretanto, a capacidade de degradação da fibra tem grande variação entre os nutrientes da dieta, e um dos principais fatores que influencia isso é a organização e composição dessa fração. Para melhor entender esse aspecto da capacidade de degradação da fibra é primordial entender o que é a fibra na planta.

Fibra, também conhecida como parede celular, é uma estrutura complexa e vital para plantas de modo geral. É responsável por prover estrutura, integridade, flexibilidade, e proteção contra patógenos e estresse, como uma barreira física. A fibra é constituída predominantemente por três compostos: celulose, hemicelulose e lignina.

Enquanto parte da celulose e hemicelulose é capaz de ser degradada no rúmen formando os previamente mencionados ácidos graxos voláteis, lignina funciona como uma barreira influenciando negativamente na degradação dos demais.

Isso acontece porque para um nutriente ser degradado no rúmen, é necessário a síntese da enzima que desempenha esse papel, e a síntese de enzimas que degradam lignina no rúmen é praticamente insignificante.

Pesquisas ao longo de décadas vem mostrando que aumentar degradação da fibra está fortemente relacionada com

Intensificação na produtividade;

Lucros;

Menor impacto ambiental, tanto na cadeia leiteira quanto de corte.

39 Fibra dietética nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Tecnologias e estratégias que visam a melhoria da eficiência de digestão da fibra em ruminantes

Desta forma, tecnologias e estratégias vêm sendo estudadas e desenvolvidas com o intuito de aumentar sua degradação.

Essas tecnologias e estratégias são divididas em: processamento mecânico, melhoramento genético, tratamento químico, e tratamento enzimático.

PROCESSAMENTO MECÂNICO

O processamento mecânico tem um efeito positivo na degradação da fibra, efetivo da fibra.

O tamanho de partícula é importante para estimular a mastigação e salivação, então deve haver na redução do tamanho de partícula com moderação. Por outro lado, partículas longas podem reduzir o consumo devido a redução da taxa de passagem e aumento da sensação de saciedade atribuída ao enchimento.

Desta forma, o aumento da digestão relacionado a redução do tamanho de partícula é relacionado ao aumento da superfície de contato e consequentemente aumento da velocidade de degradação no rúmen, intensificando a ingestão do animal. Dentre essas tecnologias, picagem, trituração e peletização são as mais populares.

UTILIZAÇÃO DE HÍBRIDOS

O segundo tipo de estratégia para aumentar a digestão da fibra vem da utilização de híbridos com uma concentração reduzida de lignina comparada com a planta convencional. Um exemplo muito difundido desta tecnologia são os híbridos BMR. Do inglês, BMR significa Brown-Midrib, que se traduz para nervura marrom.

O nome vem da característica do híbrido, uma vez que o gene confere a presença da nervura central das folhas na coloração marrom. Ferraretto e Shaver reportaram em um estudo de meta-analise o aumento da digestibilidade da fibra, ingestão de matéria seca, e produção de leite em vacas alimentadas com silagem de milho BMR vs. silagem de milho tradicional.

40 Fibra dietética nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Tecnologias e estratégias que visam a melhoria da eficiência de digestão da fibra em ruminantes

Entretanto, o custo da utilização de silagem de milho BMR deve ser ponderada comparada a silagem de milho convencional, e geralmente é uma ferramenta extraordinária em casos de animais que apresentam um reduzido consumo e exigência aumentada, como vacas no período de transição.

Similar ao milho, pesquisas também tem demonstrado que o sorgo BMR apresenta um aumento da digestão da fibra, ingestão, e produção de leite comparado ao sorgo tradicional. Além do milho e do sorgo, tecnologias de melhoramento vêm sendo aplicadas também para aumentar a digestão da alfafa.

TRATAMENTOS QUÍMICOS

Outro tipo utilizado de estratégias para aumentar a digestão da fibra são os tratamentos químicos. Os tratamentos químicos consistem na utilização de produtos, tais como amônia, hidróxido de sódio, hidróxido de cálcio.

O intuito destes tratamentos é quebrar a ligação entre hemicelulose e lignina, e rompendo a cristalização da celulose, aumentando assim a disponibilidade de ambos os carboidratos fibroso: hemicelulose e celulose.

Com o aumento da disponibilidade destes carboidratos, maior é o acesso das bactérias a essas frações no rúmen, consequentemente aumentando as suas degradações.

Entretanto, tratamentos químicos como esses devem ser utilizados com cautela, pois podem causar intoxicações, além de ser corrosivo para o maquinário agrícola.

Tratamento químicos são muito eficientes em aumentar a digestão da fibra, principalmente de ingredientes com baixa digestão, como resíduos da agroindústria, favorecendo a utilização desses resíduos para substituir ingredientes tradicionais e reduzir o custo de produção.

TRATAMENTO ENZIMÁTICO

Na mesma direção, enzimas fibrolíticas também tem demonstrado melhora na digestão da fibra, aumento do consumo e produção animal quando usada para tratar ingredientes usados na nutrição de ruminantes. O efeito das enzimas fibroliticas são divididos em três partes, o efeito pré-ingestivo, ruminal e pós-ruminal.

Fibra dietética nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Tecnologias e estratégias que visam a melhoria da eficiência de digestão da fibra em ruminantes 41

O efeito pre-ingestivo consiste em haver uma melhora na composição do ingrediente antes do fornecimento ao animal, como redução da celulose e hemicelulose que são hidrolisadas (vulgarmente dizendo, quebrados) em tipos de carboidratos que são mais acessíveis para microrganismos.

A cada ano novas tecnologias e estratégias associadas com enzimas vem sendo desenvolvidas. Um exemplo pouco explorado de enzimas com futuro potencial são enzimas capazes de hidrolisar lignina. Existe um tipo de fungo, conhecido popularmente como fungo da podridão branca, que sintetiza inúmeras enzimas que hidrolisam lignina.

Neste segundo plano, o efeito ruminal toma seu posto, onde os carboidratos oriundos das hidrolises da celulose e hemicelulose são fermentados mais rapidamente e eficientemente pelas bactérias ruminais, resultando em uma maior degradação ruminal e aumento na capacidade de ingestão do animal, devido a um aumento da taxa de passagem.

O terceiro e último efeito, que é o pós-ruminal, é relacionado a redução da viscosidade no intestino que interfere negativamente na absorção de outros nutrientes. Como alguns tipos de hemicelulose, tem o aspecto viscoso, hemicelulose que chega intacta ao intestino delgado pode interferir negativamente no aproveitamento da dieta, pois forma uma barreira.

A utilização de enzimas que degradam hemicelulose antes de fornecer ao animal pode evitar esse tipo de condição.

Trabalhos recentes desenvolvidos na Universidade Estadual de Maringá, sob orientação da professora Dra. Lucia Zeoula, em parceria com a professora Dr. Paula Pintro demonstrou que enzimas sintetizas por um fungo da podridão branca foi capaz de reduzir a concentração de lignina, celulose e hemicelulose na silagem de milho, além de aumentar a digestão in vitro da fibra do material tratado.

42 Fibra dietética nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Tecnologias
e
estratégias que visam a melhoria da eficiência de digestão da fibra em ruminantes

Resultados semelhantes no aumento da digestão da fibra de cabras em lactação também foi observado por Agustinho et al. (2021) quando resíduo do cultivo de cogumelo foi usado como fonte enzimática para tratar silagem de milho durante a ensilagem.

Entretanto, o resultado não foi consistente quando usado para tratar silagem de milho em condições com uma menor concentração de lignina, em trabalho desenvolvido nos Estados Unidos, em parceria entre grupos de pesquisa da Universidade Estadual de Maringá e Universidade da Florida (sob orientação do professor Dr. Antonio Faciola).

Desta forma, é importante mencionar que existem inúmeras tecnologias para melhorar a digestibilidade da fibra em ruminantes e que novas tecnologias vêm sendo testadas e colocadas no mercado nos últimos anos. Cabe ao profissional envolvido ponderar qual mais se adequa as condições e avaliar o custo-benefícios de sua aplicação.

Tecnologias e estratégias que visam a melhoria da eficiência de digestão da fibra em ruminantes

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43 Fibra dietética nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 |
Tecnologias
e estratégias que visam a melhoria da eficiência de digestão da fibra em ruminantes

TECNOLOGIA NATURAL

E MODIFICADA (MYCOSID) DE BASE MINERAL

NO COMBATE ÀS MICOTOXINAS

1Débora Merediane Kochepka, 2Felipe Augusto Corbellini de Souza, 3Bruna Brocardo Ferreira, 2Henrique Cislagui da Silva, 4Denise Cazella

1Doutora em Química pela UFPR

2Mestre em Eng. de Materiais pela UFSC

3Mestre em Química pela UFPR

4Pós-graduada em Zootecnia pela UNOESC

Micotoxinas são metabólitos secundários gerados por fungos durante o armazenamento de grãos e cereais. Ao serem ingeridas por animais ou por seres humanos, essas toxinas podem gerar diversos problemas como de reprodução, cardíacos, hepáticos ou, ainda, apresentar efeitos carcinogênicos.

Essas toxinas também afetam a adsorção de nutrientes de rações, fazendo com que os animais apresentem uma queda no desempenho – principalmente dos machos, que possuem uma taxa de utilização de nutrientes maior que as fêmeas.

Em média, os animais possuem uma queda de desempenho de 17% quando são expostos à uma micotoxina e essa queda pode chegar a 45% quando há associação de múltiplas micotoxinas.

As micotoxinas também são prejudiciais à saúde humana, podendo causar vômitos, náuseas, problemas no fígado, no cérebro e nos rins. A intoxicação pode acontecer com a ingestão de grãos contaminados, como o trigo ou ainda, de forma indireta a partir do consumo de derivados.

O consumo de leite e derivados contaminados com micotoxinas também vem se mostrando um desafio desde a década de 60, conforme apontado por artigos científicos publicados na revista Nature. Em especial, a Aflatoxina B1, quando ingerida e metabolizada por animais, gera a Aflatoxina M1, que é excretada no leite – sendo esse metabólito classificado como cancerígeno também para seres humanos.

44 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Tecnologia natural e modificada (Mycosid) de base mineral no combate às micotoxinas Micotoxinas

Em uma pesquisa feita pela DSM em 2021, foi observada a presença de Fumonisina em 66% das amostras analisadas e de Aflatoxina em 40%. Esses dados apontam um alto risco de contaminação por micotoxinas no país e indicam a necessidade de soluções para esse problema.

No desenvolvimento de produtos altamente efetivos para controle de micotoxinas, deve-se levar em consideração:

As propriedades e comportamento químico das micotoxinas de interesse;

A e cácia em todo o sistema gastrointestinal do animal;

A baixa taxa de incorporação para um ótimo controle e equilíbrio econômico;

A compatibilidade do produto com critérios regulatórios de aditivos para nutrição animal e as garantias de qualidade do produto.

Assim, a especificidade de cada produto antimicotoxina deve levar em conta as particularidades da micotoxina-alvo e o conhecimento profundo do seu mecanismo de interação.

Nesse sentido, os produtos que possuem à base tecnológica argilomineral, como aqueles à base do minério bentonita, já são bem estabelecidos como controladores de micotoxinas polares no alimento contaminado e agem através da adsorção dessas moléculas indesejadas.

Assim, a interação efetiva entre micotoxinaproduto permite que essas não sejam absorvidas pelo organismo do animal e, portanto, sejam eliminadas através da excreção do aditivo junto com o argilomineral.

Composta por camadas estruturais constituídas por duas folhas tetraédricas de sílica e uma folha central octaédrica de alumina, unidas entre si por átomos de oxigênio comum a ambas as folhas (denominadas de lamelas), a montmorilonita apresenta no espaço interlamelar alguns cátions como sódio, cálcio e magnésio, os quais estão coordenados à moléculas de água.

Devido a sua composição majoritária de montmorilonita, o adsorvente de origem mineral à base de bentonita é um material que quimicamente consegue interagir através de sítios de sorção polares presentes na região interlamelar do argilomineral com micotoxinas que também são polares, como ocorre para o mecanismo da Aflatoxina B1 (Figura 1 e Figura 2)

Adsorvente de micotoxinas de origem mineral à base de bentonita policatiônica altamente eficiente na adsorção de aflatoxinas

Figura 1. Estrutura química e propriedades da Aflatoxina B1. Figura 2: Ilustração da interação entre o adsorvente de origem mineral à base de bentonita e a Aflatoxina.
45 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Tecnologia natural e modificada (Mycosid) de base mineral no combate às micotoxinas Micotoxinas

Assim, a tecnologia que envolve o uso de montmorilonita é reconhecida por sua ótima performance no combate à Aflatoxina B1, sendo que o Mycosid A é produto da T-minas resultante da melhor preparação e seleção de propriedades físicas e químicas do mineral, as quais têm relação direta com sua aplicação-alvo.

Adsorç ão de A atoxina B1

Entretanto, as micotoxinas que possuem características químicas distintas da aflatoxina, como por exemplo a polaridade, entre outras, exigem a aplicação de tecnologias distintas e especialmente customizadas à tais propriedades químicas.

Sendo este o foco deste trabalho, o qual demonstra tecnologias especialmente desenvolvidas para cada tipo de micotoxina quando classificadas por critérios químicos.

Molécula hidrofóbica - Baixa polaridade; Interações entre micotoxina e o material modificante; Variações de estrutura que dependem do pH do meio; Massa molar: 318.18 g/mol

Desta forma, para combater micotoxinas com estruturas químicas menos polares, como a Zearalenona (Figura 4) e a Fumonisina (Figura 5), são feitas modificações na estrutura química da bentonita para se customizar a interação que se busca atingir e se obter produtos de elevada ação específica, necessitando obrigatoriamente adequar a solução tecnológica à micotoxina de interesse.

Assim como para outras micotoxinas, entender as propriedades químicas da Fumonisina e da Zearalenona auxiliam no design de materiais adsorventes mais adequados para cada uma delas.

Molécula parcialmente polar; Interações entre partes polares do aluminossilicato (com superfície polar) e com estruturas hidrofóbicas obtidas da modificação do material com estruturas orgânicas; Variações de estrutura que dependem do pH do meio; Massa molar: 721.83 g/mol

Por ter um comportamento em meio aquoso diferenciado e ser parcialmente polar, a Fumonisina requer um material que é capaz de adsorvê-la eficientemente em todo trato gastrointestinal porque pode interagir diferentemente conforme a variação de pH do meio.

Figura 3. Curva resposta para adsorção de Aflatoxina. Figura 4. Estruturas químicas da Zearalenona. Figura 5: Estrutura química e propriedades da Fumonisina.
Adsorç ã o percentual Taxa de inclusão 3.0 6.5 120 100 80 60 40 20 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Tecnologia natural e modificada (Mycosid) de base mineral no combate às micotoxinas 46
Micotoxinas

A Zearalenona é uma molécula de baixa polaridade, ou seja, possui pouca afinidade por água e apresenta interações mais efetivas com compostos apolares.

A partir de estudos e pesquisas relacionados à química das micotoxinas e à modificação de argilas, tecnologia de modificação de bentonita devidamente patenteada pela T-minas, emprega um método para organofilização de bentonita com a utilização de um agente modificante orgânico (Figura 6)

Com essa tecnologia, foi possível criar produtos voltados para o combate à Aflatoxina, Zearalenona e Fumonisina, de forma específica ou combinada (amplo espectro).

É muito comum que alimentos relacionados à nutrição animal contenham a presença de mais do que uma micotoxina na sua composição, sendo que em relatórios técnicos da área, vários ingredientes para nutrição animal se mostraram contaminados com pelo menos duas micotoxinas, e em muitos casos, até três micotoxinas simultaneamente.

Assim, a necessidade de se ter produtos que combatem simultaneamente as múltiplas contaminações de micotoxinas vem aumentando.

Figura 6. Modificação na bentonita com tecnologia Mycosid. Bentonita Estrutura Lamelar Fumosina Zearalenona Aflatoxina
47 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Tecnologia natural e modificada (Mycosid) de base mineral no combate às micotoxinas Micotoxinas
Atuação de Amplo Espectro Tecnologia Mycosid T-minas

Por isso, a adequação de produtos com diferentes pontos de interação não reversíveis e de alta eficiência se faz cada vez mais presente no dia a dia. Resultados do Mycosid AE estão apresentados no gráfico da Figura 7, no qual estão contidas as porcentagens de adsorção de aflatoxina, Zearalenona e Fumonisina em pH 3,0 e 6,5.

Os resultados apresentados demonstraram uma elevada especificidade do produto no combate às três micotoxinas estudadas, o que demonstra a necessidade de utilização de apenas um produto para controle da contaminação, o qual deve ser obrigatoriamente composto por ingredientes customizados para cada tipo de micotoxina.

Além de todos os fatores que foram descritos ao longo do artigo para desenvolver materiais de alta eficiência, é importante também ter em mente a necessidade de garantir a qualidade do produto, isto porque, a adição de materiais que não tenham segurança e qualidade comprovada no início da cadeia, podem repercutir em problemas para todo o restante da produção.

A eficiência dos produtos da linha Mycosid é comprovada através de laudos e todos possuem garantias de qualidade exigidas pelo MAPA para assegurar a ausência de contaminantes tóxicos.

Assim, a partir dos riscos pontuados neste artigo, o combate às micotoxinas é um ponto importante no setor de nutrição animal, de forma a evitar a queda de desempenho na produção animal e, também, possíveis danos à saúde humana que podem surgir com a ingestão de alimentos contaminados.

Ainda, a escolha de produtos com eficácia comprovada no combate às micotoxinas é um fator chave para entregar soluções efetivas e garantir a saúde animal.

Tecnologia natural e modificada (Mycosid) de base mineral no combate às micotoxinas BAIXAR

Mycosid AE (0.5%) Redução de bioacessibilidade (%) pH 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 3,0 94.5 90.6 97.3 97.6 100 100 Dados da empresa, 2023 6,5 Fumosina Zearalenona A atoxina
Figura 7. Redução de bioacessibilidade de Fumonisina, Zearalenona e Aflatoxina com o uso de Mycosid AE.
EM PDF 48 nutriNews Brasil 2° Trimestre 2023 | Tecnologia natural e modificada (Mycosid) de base mineral no combate às micotoxinas Micotoxinas

O ESTUDO MICROBIOMA TRANSFORMADOR NUTRIÇÃO ANIMAL

“O futuro é tecnológico”. É com essa frase que abrimos e encerramos a entrevista dessa edição. Para nos explicar como o estudo da microbiota e a inteligência artificial o biólogo, PhD em Microbiologia e Imunologia, Natanael Leitão nos explica sobre como as transformações a nível digital e celular dos animais, possibilitarão que a demanda por alimentos, que tende a crescer 50% nos próximos 30 anos pode ser suprida com eficiência.

Ainda pouco explorada e para muitas pessoas ainda pouco esclarecida, Natanael explica de forma prática o que seria o estudo da microbiota

“Para contextualizar, quando falamos de microbiota, nos referimos à população de microrganismos que convivem em harmonia sobre a pele e no interior do sistema digestivo dos animais.

Para cada célula que esse animal possui, existe entre 1-3 células de bactérias em seu corpo.

Assim que o animal ingere um alimento, os nutrientes entram em contato primeiramente com as bactérias presentes no intestino, e só depois eles atingem as células intestinais.

50 Entrevista nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | O estudo do microbiomta como transformador
da nutrição animal
Equipe nutriNews Br e Natanael Leitão

As bactérias exercem papel na digestão e absorção desses nutrientes. Conhecer a microbiota do intestino pode ajudar a formular dietas mais precisamente, melhorar a eficiência digestiva e otimizar o crescimento animal.

Pensando na produção de alimentos e nos custos de criação, temos o “link” com a sustentabilidade, hoje muito difundida pelos indicadores de ESG, os impactos da produção, os dejetos gerados são desafios a serem contornados. Mas a IA também é responsável pela melhora dos indicadores de ESG:

Caso tenha a produção de alimentos de forma personalizada com o resultado do plantel, explicar como isso é benéfico para o animal e produtor.

A nutrição de precisão é o próximo passo da criação animal. Quando você oferece uma dieta personalizada para o plantel, os benefícios podem ser diversos.

Vou focar na vertical de sustentabilidade da ESG, que tem um impacto direto na criação dos animais.

Quando pensamos em sustentabilidade, não estamos falando apenas de gases de efeito estufa, mas em uso de terra, contaminação de efluentes ou utilização de antibióticos como aditivos.

Para o animal, você gera benefícios no sistema imunológico, ganho de saúde intestinal e promoção da criação dentro de parâmetros desejáveis de bem-estar e desenvolvimento.

Já para o produtor, existe a redução de problemas de biosseguridade, como incidência de Salmonella sp. ou Clostridium sp.; redução de gastos com medicamentos e aditivos, além do ganho de eficiência alimentar.

A IA irá nos ajudar não apenas na formulação de uma dieta, visando eliminar o uso de antibióticos na avicultura ou reduzir a liberação de metano em bovinos, mas a promover o manejo integrado dessas verticais da sustentabilidade.

Temos que lembrar que a dieta responde por 70% dos custos da criação, qualquer ganho gerado com otimização da dieta tem impacto direto no bolso do produtor.

51 Entrevista nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | O estudo do microbioma como transformador da nutrição animal

Com uma ferramenta de AI, será possível fazer o cálculo correto da pegada de carbono de cada unidade de produção, permitindo ao produtor fazer compensação proporcional ou receber os créditos gerados pela sua propriedade.

Será importante para identificar maus produtores e premiar os que fazem um bom trabalho.

Explicar como as ferramentas biotecnológicas podem ajudar na eficiência da nutrição animal? Existe alguma espécie que ainda seja mais complexa nesse assunto?

A biotecnologia leva vantagem sobre as outras ferramentas, porque através dela conseguimos “escutar” diretamente os animais.

O que eu quero dizer com isso: Os sistemas de monitoramento com sensores de galpão tomam dados indiretos da criação.

Ou seja, você só percebe que o animal está doente ou precisando de cuidados quando ele começa a manifestar sinais clínicos.

Com a biotecnologia, você pode tomar ações preventivas, porque as análises biológicas são muito sensíveis e conseguem fornecer informações subclínicas, ou seja, antes do animal manifestar os sintomas.

Por exemplo, é possível diagnosticar falta de vitamina ou de fibras na dieta através da ausência de algumas bactérias na microbiota do intestino.

Apesar de muitas ferramentas e do estudo de todas as espécies de produção, há também as que sejam mais complexas, nesse caso os ruminantes: “Os ruminantes são animais mais complexos, justamente pela existência da câmara ruminal. O que entra pela boca, é muito diferente do que chega ao intestino, porque as bactérias ruminais fazem o processo digestivo inicial.

Mas essa complexidade esconde também um enorme potencial de ganhos para atacar problemas relacionados à nutrição e sustentabilidade.

52 Entrevista nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | O estudo do
microbiomta como transformador da nutrição animal

A grande preocupação do sistema produtivo, de maneira geral, é abastecer a cadeia mundial de alimentos, visto que teremos que produzir 50% a mais de alimentos para suprir a população. De que forma a IA pode ajudar nesse processo?

Natanael: A inteligência artificial será uma grande aliada da produção animal, porque ela lida com sistemas complexos melhor do que a inteligência humana.

Quanto mais informações oferecemos para os algoritmos, mais fácil será para determinar fatores que podem melhorar ou piorar o desempenho dos animais. Tenho um exemplo bastante prático:

Já ouviu falar sobre a tecnologia de gêmeos digitais?

Essa tecnologia permite que a AI simule um aviário dentro do computador.

Funciona da seguinte maneira: o produtor fornece dados da unidade de produção, como: a localidade, período do ano, raça dos animais, dieta, idade, sexo e outras informações. Então criamos uma granja virtual para ele.

Lá, ele pode simular mudanças na dieta, uso de aditivos ou vacinas e projetar os possíveis impactos sobre essa mudança na terminação do lote.

53 Entrevista nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | O estudo do microbioma como transformador da nutrição animal

Estamos trabalhando nisso na Ylive. A inteligência artificial vai propiciar testar um produto novo, sem nenhuma mudança na dieta ou manejo. É revolucionário!

Com o advento dessas tecnologias, também há o pensamento que permeia muitos consultores e profissionais do agro sobre a inclusão de tecnologia no campo, com a possível substituição da mão de obra humana, pelo digital. Mas para Natanael essa questão é muito natural e essa substituição não há de acontecer.

“Nossa sociedade vive uma transformação tecnológica, assim como foi nos tempos das revoluções industriais. É natural que indústrias e produtores deem atenção às tecnologias, porque elas trazem eficiência e assertividade para a produção.

Mas o consultor não precisa ficar preocupado, porque a tecnologia não vem para substituí-lo, mas para trazer eficiência ao seu trabalho.

O consultor se tornará um operador de tecnologias. Ele utilizará alguns pacotes tecnológicos para amparar a tomada de decisões em cada cliente. Essas ferramentas permitirão que ele faça a gestão personalizada das fazendas e compare a efetividade das medidas recomendadas.

54 Entrevista nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | O
estudo do microbiomta como transformador da nutrição animal

Assim ele terá dados para fazer a tomada de decisões e justificar as medidas aos seus clientes. No final, todos ganham.

Para encerrar, temos a visão de Natanael quanto ao futuro da nutrição animal. Perguntamos a ele qual a principal transformação que a produção animal passará nos próximos anos e que impactará a forma como vemos a produção hoje?

Nos últimos 50 anos a produção cresceu baseado em seleção genética, dieta e manejo.

Ainda assim, as decisões permaneceram empíricas. O produtor decide baseado no que o vizinho está fazendo, não na necessidade dos animais.

Não vai ter mais espaço para empirismo.

No médio prazo, biosensores serão financeiramente viáveis para serem implantados em todo os animais do plantel, permitindo pela primeira vez um monitoramento em tempo real de verdade.

Por isso, aditivo comercializado no Sul do Brasil, acaba sendo recomendado no Nordeste, cujas condições de nutrição, ambiência e manejo são completamente distintas. Isso vai acabar.

No futuro próximo, seremos impactados pela digitalização intensiva e eficiência na produção. Como você mesmo disse, a demanda por alimentos vai crescer 50%, mas a tendência do preço da carne não é de crescer proporcionalmente.

A suplementação também irá mudar. Ao invés dezenas de aditivos nas dietas e troca de fornecedores a cada problema, os animais terão em seu intestino bactérias geneticamente modificadas com capacidade de produzirem todo tipo de aditivo. Bastando o produtor ativá-las ou desativá-las, conforme a necessidade dos animais indicadas pelos sensores.

São vários possíveis futuros, todos eles serão tecnológicos.

55 Entrevista nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | O estudo do microbioma como transformador da nutrição animal
O estudo do microbioma como transformador da nutrição animal BAIXAR EM PDF

FATORES QUE AFETAM A PALATABILIDADE EM ALIMENTOS PARA GATOS

Uma dieta balanceada deve atender todos os nutrientes necessários, especialmente os essenciais e também possuir sabores que possam estimular a alimentação. Sem palatabilidade, uma dieta mesmo que completa e balanceada não é suficiente para proporcionar um ótimo consumo.

Desta maneira, a palatabilidade da dieta, pode ser aumentada através do uso de aditivos, como sabores ou ingredientes naturais (Pekel et al., 2020).

56 Palatabilidade nutriNews Brasil 2º Trimestre
2023
| Fatores que afetam a palatabilidade em alimentos para gatos Ingrid Caroline da Silva Programa de Pós Graduação em Zootecnia - Universidade Estadual de Maringá

A palatabilidade da dieta desempenha um papel importante na otimização de energia e ingestão de nutrientes em gatos domésticos através da garantia da ingestão suficiente de alimento.

Desta forma, os gatos compensam a sua capacidade relativamente baixa de saborear os alimentos devido ao baixo número de papilas gustativas, usando seu sistema olfativo muito mais desenvolvido.

Odor, sabor, textura e tamanho de partícula são fatores adicionais que desempenham um papel importante nas preferências de ingestão de alimentos por gatos (Hullar et al. 2001; Small e Prescott 2005).

Um alimento, para ser palatável precisa de ingredientes de qualidade, processamento adequado que contribuía com aspectos sensoriais do produto acabado, aplicação de palatabilizante e gordura uniformes, textura, formato do Kibble, pH, sabor e aroma atrativos.

A palatabilidade de qualquer alimento para gatos está fortemente relacionada aos seus atributos de sabor, odor, forma, textura, e sensação de paladar (Small e Prescott 2005).

A percepção do odor é muito importante para os gatos e desempenha um papel fundamental na escolha e ingestão de um alimento. Gatos utilizam o odor para definir quais alimentos são apropriados para sua necessidade nutricional e também para percepção de substâncias tóxicas.

Gatos, são facilmente atraídos por um alimento, inicialmente, pelo odor. Sendo assim, os realçadores de sabor afetam a palatabilidade dos alimentos de duas maneiras diferentes:

A primeira, denominada sabores que afetam a 'primeira escolha', que é o primeiro item alimentar provado pelos gatos em testes de preferência, e esses sabores afetam principalmente a percepção olfativa dos gatos, melhorando a atratividade.

E segundo, "efeito de escolha contínua" quando recebem o mesmo alimento e sabor novamente e reflete a aceitação real de um alimento a longo prazo (Tobie et al. 2015). Na escolha contínua, o sabor, a sensação na boca, a textura, entre outros fatores, tem maior contribuição à palatabilidade do que o apenas o odor do alimento.

57 Palatabilidade nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 |
a
Fatores que afetam
palatabilidade em alimentos para gatos

Embora o paladar dos gatos os ajude a avaliar os nutrientes de um alimento, também os protege de ingerir substâncias tóxicas, ingredientes nocivos ou indigeríveis.

influencia na aceitabilidade de um alimento, é a idade, pois quanto mais avançada, resulta na diminuição significativa dos receptores olfativos, reduzindo assim o olfato. Sobretudo, a idade também tem sido associada a uma perda concomitante de (Boyce e Shone 2006).

Existe ainda os fatores da dieta que afetam a palatabilidade. Embora os gatos possam consumir alimentos secos ou semi-úmidos, existe a preferência principalmente por alimentos úmidos ou enlatados, devido ao nível de umidade dos alimentos ser muito próxima à da carne (70-85%) (Zaghini e Biagi 2005).

No entanto, gatos apresentam uma quantidade relativamente pequena de papilas gustativas, isso faz com que gatos usem sentidos complementares para perceber o sabor dos alimentos. Entre os sentidos alternativos, destacase o odor, sendo 14 vezes melhor que em humanos (Padodara e Jacob 2014).

É conhecido também, que o estado fisiológico de fome afeta o comportamento alimentar dos gatos (Peachey e Harper 2002).

Em relação ao conteúdo proteico, há uma forte correlação positiva entre o nível de proteína e a palatabilidade, principalmente quando são utilizadas fontes de proteína animal (Zaghini e Biagi 2005).

Outro fato bastante conhecido é de que a palatabilidade dos alimentos aumenta proporcionalmente medida que o teor de gordura aumenta.

Um estudo, revelou que os gatos preferem comer alimentos mais palatáveis independentemente do seu nível de fome. No entanto, também verificou-se que os gatos podem consumir a dieta menos palatável, conforme o nível de fome (Van den Bos et al., 2000).

Uma dieta rica em gordura pode ajudar a atender às necessidades de energia dos gatos com uma maior palatabilidade, mesmo seu consumo de alimentos sendo menor do que esperado

58 Palatabilidade nutriNews Brasil 2º Trimestre
2023
| Fatores que afetam a palatabilidade em alimentos para gatos

Vários compostos podem ser incorporados em alimentos para gatos, com propósito nutricional, funcional e também de palatabilidade.

Além de contribuir com o aumento na palatabilidade, os aditivos alimentares podem também ser usados para fins como limpeza dentária (por exemplo, fosfatos), dar cor à comida ou refrescar o hálito de gatos ou mesmo mascarando odor desagradável para humanos em dietas de gatos (ex. cheiro de baunilha).

O aumento da palatabilidade, com a adição de levedura tem sido atribuído a sua alta concentração de ácido glutâmico que dá o umami ou aroma de carne (Nagodawithana 1992).

Embora, gatos são conhecidos por não possuírem apetite por sal, a adição de cloreto de colina a 0,3%, foi relatado por ter um sabor semelhante ao sal em outros animais, sendo útil no aumento da palatabilidade e consumo de alimentos de uma ração seca para gatos (Lin et al.,1997)

No entanto, o mecanismo fisiológico por trás disso relação não está elucidada.

O plasma animal seco por pulverização é rotineiramente adicionado especialmente em alimentos enlatados para animais de estimação devido à sua alta capacidade de retenção de água e, portanto, melhor gelificação, e propriedades emulsificantes (Rodríguez et al. 2016). Além disso, há relatos de melhora da palatabilidade em dietas contendo plasma seco por pulverização do que dieta contendo glúten de trigo (Polo et al., 2005).

Por fim, o uso de respostas comportamentais durante a ingestão alimentar em combinação com os dados de preferência e consumo podem ser benéficos para fornecer dados mais abrangentes sobre a determinação da palatabilidade em pet food, além do desenvolvimento de novos produtos realçadores de sabor e intensificadores de palatabilidade, que poderão melhorar a aceitabilidade de certos ingredientes que ainda são rejeitados por gatos.

A levedura seca, um subproduto da indústria do etanol, e a levedura de cervejeira, também são usados como intensificador da palatabilidade na indústria de alimentos para animais de estimação.

Fatores que afetam a palatabilidade em alimentos para gatos BAIXAR EM PDF

60 Palatabilidade nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Fatores
que afetam a palatabilidade em alimentos para gatos

COMPOSIÇÃO DO MILHO NA NUTRIÇÃO DE FRANGOS DE CORTE

Ana Carolina Britto Doi1, Isabella de Camargo Dias2, Suzete Paes de Melo Neta1, Alex Maiorka3 1Graduanda de Zootecnia, Universidade Federal do Paraná; 2Doutoranda em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Paraná; 3Professor Associado, Universidade Federal do Paraná.

Cerca de 70% do milho produzido no mundo é destinado a alimentação

animal (EMBRAPA, 2006). O mesmo é o componente energético mais importante na alimentação de frangos de corte, sendo um dos ingredientes com maior inclusão nas dietas, contribuindo com cerca de 65% de energia metabolizável e 20% de proteína bruta (Cowieson, 2004)

Quanto à morfologia, o grão de milho se divide em:

Endosperma, gérmen (embrião);

Pericarpo (casca) e ponta, que se diferem em composição química e na organização dentro do grão.

O milho é composto em base seca, em média, por 72% de amido, 9,5% de proteína, 9% de fibra e 4% de óleo (EMBRAPA, 2006), podendo estas proporções serem variáveis.

A região do endosperma, vítreo e farináceo, representa a fração de amido e algumas proteínas de armazenamento e corresponde a cerca de 80% do grão.

Nutrição 62 nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Composição do milho na nutrição de frangos de corte

O endosperma vítreo possui matriz proteica densa e compactada, o que dificulta sua quebra (Wang e Eckohoff, 2000), nesse tipo de endosperma os grânulos de amido estão mais organizados (Figura 2a)

Já o endosperma farináceo apresenta matriz menos espessa e de menor densidade com os grânulos de amido organizados de forma mais dispersa, o que pode facilitar o acesso de enzimas (Huntington, 1997) (Figura 2b)

63 Nutrição nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Composição do milho na nutrição de frangos de corte
Figura 1. Representação da estrutura física do grão de milho e suas frações (Encyclopaedia Britannica, 1996). Figura 2a. Endosperma vítreo. Fontes: Holding, D. R., 2014; Sementes biomatrix

Tanto a digestibilidade do amido quanto da proteína, podem ser comprometidas pelo difícil acesso aos grânulos de amido. A diferença estrutural entre o endosperma farináceo e vítreo, caracterizado principalmente pelo perfil da matriz proteica pode ter um impacto no valor nutricional do grão (Tamagno et al., 2016), sendo que o teor de proteína é maior no endosperma vítreo (Gayral et al., 2015)

Amido

O amido é um polissacarídeo formado por unidades de glicose, das quais se organizam dentro do grânulo como estruturas denominadas de amilose e amilopectina (Weurding et al., 2003; Isaksen et al., 2011). No milho, a amilose representa aproximadamente 25% do amido, a mesma apresenta cadeia linear de glicose ligadas por ligações do tipo alfa-1-4.

A amilopectina também possui a mesma composição da amilose, porém, seu diferencial são as estruturas com ramificações de ligações alfa-1-6, compondo 70 a 80% do amido restante.

Devido a características estruturais e de ligações, o acesso de enzimas a amilopectina é mais facilitado em comparação a amilose, tornando-a mais digestível (Svihus et al., 2005).

O amido é classificado conforme sua susceptibilidade à hidrólise enzimática em amido rapidamente digestível (ARD), amido lentamente digestível (ALD) e amido resistente (AR).

Etapas do processamento de grãos como a secagem, podem afetar a solubilidade das proteínas (Peplinski et al.,1994), e na peletização de rações, na qual um dos objetivos é a gelatinização do amido, pode ocorrer a formação de amido retrogradado e reação de Maillard, respostas indesejáveis no processo.

64 Nutrição nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Composição do milho na nutrição de frangos de corte
Figura 2b. Endosperma farináceo. Fontes: Holding, D. R., 2014; Sementes biomatrix

Digestibilidade do amido

O ARD é caracterizado por ser prontamente disponível à absorção e é hidrolisado após 20 minutos, o ALD é a fração que sofre hidrólise enzimática no intervalo de 20 a 120 minutos após ingestão, e o AR resiste a digestão enzimática no intestino delgado sendo fermentado pelas bactérias das frações finais do intestino (Englyst & Hudson, 1996; Yue e Waring, 1998).

O AR por sua vez, pode ser dividido em outras categorias:

AR tipo 1 representa o grânulo fisicamente inacessível a enzimas digestivas, apresentando proteínas ou polissacarídeos não amiláceos compondo a parede celular dificultando o acesso à digestão, essa é uma característica da forma física do alimento;

O nível de digestibilidade do amido é controverso, alguns autores encontraram o valor de aproximadamente 85% (Garcia et al., 2003) e outros chegam a 95% (Soto-Salanova et al., 1996). Essa variação pode ocorrer devido a fatores como: variedade cultivar, condições de cultivo da planta e arranjo espacial dos polímeros de amido (Penz Jr., 1998). Contudo, essa diferença dos valores pode ser atribuída a metodologia utilizada.

A digestibilidade do grão de milho pode ser afetada pela relação amilose:amilopectina, devido ao tipo de processamento, a gelatinização e a retrogradação do amido (Bjorck et al.,1994)

AR tipo 2 representa os grânulos de amido nativo que naturalmente apresentam um grau de resistência à hidrólise por conta de características intrínsecas do próprio grânulo;

AR tipo 3, ou amido retrogradado, se forma após o resfriamento no processo de secagem de grãos ou peletização da ração, onde desencadeia um rearranjo de pontes de hidrogênio das cadeias de amilose formando duplas helicoidais (Bello-Pérez et al.,2006; Zaefarian et al., 2015).

Segundo Carré (2004), o milho possui baixa concentração de fatores antinutricionais, como fitato e polissacarídeos não amiláceos (PNAs), e a sua digestibilidade pode ser influenciada pelo tamanho da partícula após a moagem e pela variação estrutural do grânulo. Já Hauschild et al. (2006) mostra que a digestibilidade e absorção dos nutrientes é alterada por micotoxinas, prejudicando o desempenho animal.

65 Nutrição nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Composição do milho na nutrição de frangos de corte

Estudos demonstram que animais de crescimento rápido são menos eficientes em digerir o amido, isso porque, a voracidade das aves faz com que a digestão e a absorção de nutrientes sejam influenciadas pela taxa de passagem ao longo do trato gastrointestinal (Duke, 1986; Rougière et al., 2009).

Nos estudos de Svihus (2011), o autor afirma que o consumo de ração é inversamente proporcional à digestibilidade, logo quanto maior o consumo de ração, menor será a digestibilidade do amido. Isso se explica por questões fisiológicas na relação entre a quantidade de substrato ingerido pelo animal e o aporte enzimático endógeno insuficiente para hidrólise.

Outro fator que limita a digestão do amido por animais é a quantidade de enzima endógena necessária para um aproveitamento adequado do amido pelo animal, e uma vez que isso não ocorre de maneira eficiente a ave não consegue expressar seu potencial de aproveitamento da energia proveniente da hidrólise do amido (Sklan et al., 2003).

Nas fases finais, a amilase pancreática aumenta cerca de 95% e a ingestão de amido em 200% (Noy e Skan, 1995), podendo gerar uma deficiência nas fases finais, onde se tem muito substrato e pouca enzima endógena. Sakomoto (2009) relatou que a secreção de amilase pancreática pode ser limitada nas fases iniciais e finais, podendo ocorrer déficit na digestibilidade do amido.

Dessa forma os fatores que interferem no aproveitamento do amido são a secreção de amilase e a quantidade de alimentos ingeridos.

Qualidade do milho

A qualidade do milho é importante na formulação para as dietas de frangos de corte pois, além de ser considerado o componente energético de maior destaque nas rações, sua baixa qualidade pode comprometer os índices zootécnicos dos animais.

A cadeia produtiva, o processamento do grão e a sua origem podem influenciar na composição química do grão de milho e seu perfil nutritivo (Mazzuco et al., 2002).

Resultados apresentados por Leeson et al. (1993) mostraram que há variação no conteúdo energético de diferentes partículas de milho de uma mesma safra. Soto-Salanova et al. (1996) demonstraram que podem ocorrer variações de nutrientes de diferentes lotes de milho.

66 Nutrição nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Composição do milho na nutrição de frangos de corte

Segundo estudos de Rodrigues et al. (2003), a digestibilidade dos nutrientes e os valores energéticos das rações variaram de acordo com a composição dos milhos utilizados na formulação em dietas para frangos de corte.

Leal (2012) avaliou as características químicas e físicas do milho com diferentes níveis de contaminação fúngica (fermentados/ardidos) e de grãos íntegros, além dos efeitos do uso destes grãos em dietas para frangos de corte.

Foi observado uma piora na infestação por fungos, no desempenho zootécnico dos animais e os valores de coeficiente de metabolizabilidade de matéria seca e energia metabolizável aparente da dieta foram prejudicados.

A qualidade física do milho, assim como o seu grau de umidade, presença de micotoxinas, percentual de grãos quebrados, ardidos, podres, impurezas, entre outros, pode alterar a composição nutricional do milho e, consequentemente, afetar a qualidade das rações fornecidas aos frangos de corte causando uma diminuição no desempenho destes animais (Silva, et al., 2008).

O uso de milho de má qualidade pode influenciar no final do período produtivo das aves, gerando prejuízos. Stringhini et al. (2000) observou que milhos com diferentes infestações por insetos ou fungos aumentaram a incidência de problemas metabólicos nas aves, causando maior condenação das carcaças no frigorífico.

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67 Nutrição nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Composição do milho na nutrição de frangos de
corte
Composição do milho na nutrição de frangos de corte

HIDROLISADO PROTEICO:

UMA ALTERNATIVA PARA A NUTRIÇÃO DE PEIXES

Aaquicultura no Brasil possui um grande destaque na produção de peixes devido ao seu grande potencial aquícola, tendo uma extensa área territorial e possuindo a maior bacia hidrográfica do mundo, além dos grandes reservatórios e faixa litorânea.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção de peixes de cultivo atingiu 558,9 mil toneladas em 2021, um aumento de 0,92% em relação ao ano anterior.

Contudo, apesar desse discreto aumento na quantidade, a produção teve uma avaliação de R$ 4,7 bilhões, o que representa um acréscimo de 15,8% em relação ao ano precedente.

Em se tratando da produção de peixes no Brasil houve um aumento nos últimos anos, impulsionada pelo aumento da demanda por proteína animal de qualidade e pelo desenvolvimento da aquicultura no país.

Todo esse sucesso na produção, se dá devido ao manejo empregado durante todo o ciclo produtivo.

68 Piscicultura nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Hidrolisado proteico: uma alternativa para a nutrição de peixes
Luiz Fernando de Souza Alves Doutor em Produção Animal

Podemos destacar principalmente o manejo nutricional, uma vez que a alimentação adequada é fundamental para o crescimento, desenvolvimento e saúde dos peixes, além de influenciar na qualidade da carne e na eficiência do sistema produtivo como um todo.

A nutrição é um fator fundamental na produção de peixes, pois influencia diretamente no crescimento, saúde e qualidade dos animais. Uma dieta balanceada e adequada às necessidades nutricionais é essencial para garantir um bom desempenho e rentabilidade na produção.

Além disso, pode aumentar a taxa de crescimento, reduzir a mortalidade, melhorar a conversão alimentar e reduzir o tempo necessário para o peixe atingir o peso de mercado.

Ademais, uma nutrição adequada pode melhorar a saúde e a resistência dos peixes a doenças e estresses ambientais.

Aumento na taxa de crescimento

Melhoria na conversão alimentar

Sabemos que a alimentação possui o mais alto custo da produção. Quando tratamos da piscicultura, este custo chega ser de 70% do total da produção. Com isso, é importante conhecermos e verificar as possibilidades de nutrientes alternativos, os quais possam reduzir estes custos e atender as necessidades nutricionais.

Os peixes são animais ectotérmicos, o que significa que sua temperatura corporal é regulada pelo ambiente.

Eles têm uma alta taxa metabólica, o que requer uma alimentação adequada para suprir suas necessidades nutricionais e promover um crescimento saudável.

Redução de tempo para atingir o peso de abate

rentabilidade

69 Piscicultura nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Hidrolisado proteico: uma alternativa para a nutrição de peixes
Melhora na saúde Auxilia na imunidade Aumenta a

As proteínas são nutrientes essenciais para esses animais, fornecendo os aminoácidos necessários para o crescimento e manutenção de tecidos, desenvolvimento de órgãos e sistemas, e reprodução.

A proteína é um dos nutrientes mais importantes na nutrição de peixes, pois é essencial para o crescimento, desenvolvimento e reparação de tecidos do corpo dos animais.

A proteína é composta de aminoácidos, que são os blocos de construção das proteínas e são necessários para a síntese de enzimas, hormônios, anticorpos e outros compostos importantes para o organismo dos peixes.

Peixes em diferentes estágios de desenvolvimento requerem diferentes quantidades e tipos de proteína em suas dietas.

Larvas e alevinos precisam de uma maior proporção de proteína para o crescimento e desenvolvimento, enquanto peixes de engorda precisam de uma quantidade adequada de proteína para manutenção e reparação do tecido corporal.

A qualidade da proteína também é importante, pois proteínas de baixa qualidade podem afetar negativamente o crescimento e a saúde dos peixes. Fontes de proteína de alta qualidade, são frequentemente utilizadas em rações para peixes devido à sua digestibilidade e perfil de aminoácidos.

Além disso, a quantidade e qualidade da proteína na dieta também podem afetar a qualidade da água em sistemas de cultivo de peixes. A alimentação excessiva de proteína pode levar ao acúmulo de resíduos nitrogenados no sistema, aumentando a concentração de amônia e nitrito, que são tóxicos para esses animais.

Quando falamos em proteínas, temos que pensar em um assunto que está em alta atualmente, que é o reaproveitamento de produtos que são gerados na indústria.

70 Piscicultura nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Hidrolisado proteico: uma alternativa para a nutrição de peixes

E pensando na indústria animal, são diversos os resíduos produzidos, os quais podem tornar coproduto e serem utilizados na alimentação de peixes. E grande parte desses coprodutos são ricos em proteínas, as quais podem atender as necessidades nutricionais dos animais.

No entanto, a utilização de coprodutos proteicos na alimentação animal requer cuidados com a qualidade e segurança alimentar, além de serem necessárias regulamentações e controles sanitários rigorosos para garantir a ausência de patógenos e toxinas nos ingredientes.

Além disso, o uso de coprodutos proteicos na alimentação animal é importante para a sustentabilidade do setor, pois ajuda a minimizar o desperdício de alimentos e reduzir a pressão sobre as fontes de proteína vegetal, como a soja, que é uma importante commodity agrícola no Brasil e no mundo.

Hoje, na indústria do pescado, existem muitas alternativas para a nutrição de espécies aquícolas, principalmente para os peixes. Umas dessas alternativas e fonte rica em proteína, é o hidrolisado proteico.

A utilização de hidrolisados proteicos na nutrição de peixes é uma prática comum na aquicultura. Hidrolisados proteicos são produtos obtidos pela hidrólise enzimática de proteínas, resultando em um produto com menor tamanho molecular e, consequentemente, maior digestibilidade pelos peixes.

A digestibilidade é uma característica importante dos alimentos utilizados na nutrição, uma vez que uma alta digestibilidade pode resultar em uma melhor utilização dos nutrientes e, consequentemente, em um melhor desempenho dos animais.

Além disso, os hidrolisados proteicos também podem ser utilizados para melhorar a palatabilidade das rações e aumentar a atratividade dos alimentos para os peixes.

71 Piscicultura nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Hidrolisado proteico: uma alternativa para a nutrição de peixes

Os hidrolisados proteicos podem ser produzidos a partir de diferentes fontes de proteínas, como peixes, crustáceos, aves, suínos, bovinos, entre outros, o que permite uma diversificação das fontes de proteína nas rações, contribuindo para a sustentabilidade e redução da dependência de fontes proteicas tradicionais, como a farinha de peixe.

No entanto, é importante ressaltar que a qualidade do hidrolisado proteico pode variar de acordo com o processo de hidrólise utilizado e a fonte proteica utilizada.

Portanto, é essencial que a qualidade do hidrolisado proteico seja avaliada, considerando fatores como composição nutricional, digestibilidade, perfil de aminoácidos, presença de contaminantes e propriedades funcionais.

O processo de produção do hidrolisado proteico começa com a seleção e aquisição da matéria-prima proteica, em seguida, a matéria-prima é submetida à hidrólise enzimática, que é um processo controlado de quebra das proteínas em peptídeos e aminoácidos menores, utilizando enzimas específicas.

O processo pode ser feito em diferentes etapas e com diferentes enzimas, dependendo da matériaprima e do objetivo final do produto. Após a hidrólise, o produto é submetido a um processo de filtração para separar os peptídeos e aminoácidos menores daqueles que não foram hidrolisados, como gorduras e carboidratos.

O produto final é um hidrolisado proteico solúvel e altamente digerível que será utilizado na nutrição dos animais.

A utilização de hidrolisado oferece várias vantagens.

Em primeiro lugar, a hidrólise das proteínas torna os peptídeos e aminoácidos mais disponíveis e facilmente digeríveis pelos peixes, o que pode levar a uma maior taxa de absorção de nutrientes e, consequentemente, um melhor aproveitamento dos nutrientes ingeridos.

Além disso, os peptídeos e aminoácidos presentes no hidrolisado proteico podem ter propriedades bioativas, como: a capacidade de estimular o sistema imunológico, melhorar a saúde intestinal e promover a resistência a doenças.

72 Piscicultura nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Hidrolisado proteico: uma alternativa para a nutrição de peixes

Alguns estudos mostram a eficácia da utilização de hidrolisado proteico na nutrição de peixes. Decarli et al. (2016), em um estudo com jundiá (Rhamdia ) observaram que os animais alimentados com dietas contendo hidrolisado de fígado suíno e de sardinha nas dietas melhorou o ganho em peso, e não afetou os índices de colesterol, triglicerídeos e a composição química da carcaça dos peixes.

avaliou o hidrolisado proteico de frango para larvas de tilápia do Nilo, onde pode observar uma melhora no peso final, comprimento final, ganho em peso e taxa de crescimento específico.

Além disso, Rocha (2018) no mesmo estudo observou resultados positivos para alevinos no peso final, ganho em peso, taxa de crescimento específico, conversão alimentar aparente e taxa de eficiência proteica.

Em resumo, o uso de hidrolisado proteico na nutrição de peixes pode ser uma opção promissora, proporcionando benefícios como alta digestibilidade, melhor aproveitamento dos nutrientes, propriedades bioativas e diversificação das fontes proteicas nas rações. No entanto, é fundamental garantir a qualidade do hidrolisado proteico utilizado, por meio de uma avaliação criteriosa, para assegurar uma nutrição adequada e saudável aos peixes.

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73 Piscicultura nutriNews Brasil 2º Trimestre 2023 | Hidrolisado
proteico: uma alternativa para a nutrição de peixes

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