NUTRIÇÃO ANIMAL EM 2022: A LUTA PELA BUSCA DE SOLUÇÕES
Podemos definir o ano de 2022 em uma palavra: desafiador. Desafiador para todos os setores do agronegócio, sobretudo para a nutrição animal que lutou a cada dia para manter os animais nutridos, a partir de dietas economicamente viáveis enquanto enfrentava gigantes adversários.
Com o mercado ainda tentando se reerguer de uma pandemia, no início do ano uma guerra entre dois grandes produtores mundiais de grãos foi mais um baque que afetou a disponibilidade de trigo e milho para a produção de alimentos.
Ao decorrer do ano, condições climáticas contundiram lavouras em diversos países e impactaram as safras de grãos: a seca nos Estados Unidos fez produtores destruírem suas plantações e triticultores na Argentina abandonarem lotes de plantação de trigo.
No Brasil, a seca atingiu as lavouras de soja e milho do Rio Grande do Sul, um dos principais estados produtores de grãos brasileiro.
Com o mercado de grãos desfalcado e os preços cada vez maiores, o setor de nutrição animal precisou lutar e buscar alternativas e tecnologias para seguir firme e forte. Vimos no decorrer do ano a busca por grãos substitutos, ingredientes alternativos e o aumento do uso dos coprodutos nas dietas dos animais.
Além dos coprodutos mais tradicionais - utilizados a mais tempo - como a polpa cítrica e os subprodutos de caroço de algodão, o uso de coprodutos de destilarias de etanol de milho foi uma das “saídas” mais adotadas pelos nutricionistas. Tornou-se mais comum ouvirmos que o DDG, DDGS e WDGS foram incorporados à alimentação de ruminantes e monogástricos.
Mas para que a utilização desses coprodutos traga os resultados esperados na produção é importante conhecermos a fundo sobre suas características nutricionais. Nesta edição, dois artigos exclusivos abordam o processamento e a utilização de coprodutos de destilaria nas dietas.
Junto com os alimentos alternativos, outra ferramenta importantíssima para o máximo aproveitamento dos nutrientes dos grãos e das dietas são as enzimas. A utilização de enzimas em dietas auxilia na eficiência da digestão dos ingredientes, dessa forma permitindo a redução nos custos com os grãos das rações.
O ano de 2022 foi um ringue com uma luta entre grandes adversários contra o setor de nutrição animal. Contudo, mais uma vez o agronegócio conseguiu desviar de diversos golpes e se defender das investidas que recebeu. O resultado final? O setor saiu com muitas lesões e ferimentos, mas uma vez mais se provou vencedor pois, essa batalha, foi ganha.
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04
Herbert Rech, Inês Andretta
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
A arte da higiene de rações
Distillers Dried Grain with Solubles - DDGS: conhecer a produção para otimizar a aplicação 12
Michael Noonan Gerente de Desenvolvimento de Negócios - Perstorp Animal Nutrition
Importância do processamento térmico do farelo de soja para a nutrição de aves 18
Vivian I. Vieira¹; Isabella de C. Dias²; Marley C. dos Santos¹; Alex Maiorka³; Simone G. de Oliveira⁴
¹ Doutoranda em Zootecnia - Universidade Federal do Paraná
² Doutoranda em Ciências VeterináriasUniversidade Federal do Paraná
³
Professor Associado do Departamento de Zootecnia - Universidade Federal do Paraná
⁴
Professora Adjunta do Departamento de Zootecnia - Universidade Federal do Paraná
Streptococcus suis, causador da Meningite Estreptocócica, como enfrentar esse desafio? 29
Glaiton Martins
Responsável Técnico - Agronutri Adaptado de Lozano, M. E.; Murillo, J. A. M. e Fernandéz, J. L. P. (2021)
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Idael M. G. Lopes1, Marcelo D. de Lima², Bruno A. N. Silva 3
1Doutorando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia - Escola de Veterinária da UFMG.
2Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia - Escola de Veterinária da UFMG.
3Docente do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG - Bioclimatologia animal, Nutrição e Produção de suínos.
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A pecuária como agente mitigador da emissão de gases de efeito estufa
Karine P. N. Vieira¹, Alessandra S. R. Fonseca², Ana C. Costa², Farah A. Petter², Thainá P. da S. Cabral², Luciano da S. Cabral²
¹ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
² Universidade Federal de Mato Grosso
Retrospectiva 2022 e perspectivas do setor de nutrição animal em 2023 com Pedro Veiga
Pedro Veiga
Gerente Global de Tecnologia Bovinos de Corte - Cargill Animal
60 67
O planejamento e manejo como arma para eficiência nutricional na piscicultura
Lucas G. R. Pimenta1, Daniela C. de M. Hoyos2 ¹ Piscicultura Igarapé/Coordenador de Pós-Graduação em Aquacultura- FAC ² Departamento de Zootecnia - Universidade Federal de Minas Gerais
Cristina M. L. Sá-Fortes¹, Mel S. S. Marques² ¹Professora do curso de Zootecnia da UFMG ²Estudante de graduação em Zootecnia da UFMG
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Estratégias nutricionais para mitigar o estresse térmico em matrizes suínas lactantes
DISTILLERS DRIED GRAIN WITH SOLUBLES - DDGS: CONHECER A PRODUÇÃO PARA OTIMIZAR A APLICAÇÃO
Herbert Rech, Inês Andretta Universidade Federal doOs movimentos de empresas globais e governos para geração de energias limpas e renováveis é inegociável e irreversível para redução do aquecimento global, atraindo olhares da sociedade e investimentos para processos fermentativos de produção de etanol. Diversos produtos podem ser utilizados para a obtenção do etanol, entre eles a Biomassa, Cana-de-açúcar, Milho.
Os processos de produção de etanol de cana-de-açúcar são de fato considerados renováveis e sustentáveis, uma vez que o bagaço da cana é capaz de suprir toda a energia necessária para a fase industrial da produção do etanol. Produzindo cerca de sete mil litros de etanol por hectare, o milho produz apenas quatro mil litros.
No entanto, a cana-de-açúcar não pode ser armazenada para processamento no período de entressafra, o que não ocorre com o milho, que pode ser estocado ao longo do ano mantendo a produção do etanol.
O Brasil é referência mundial na produção sustentável e eficiente do etanol a base de cana-de-açúcar, diferente dos EUA que utilizam principalmente milho. Entretanto, investimentos exponenciais em novas indústrias, implementando tecnologias inovadoras com aproveitamento completo da biomassa permitem atingir produção de etanol à base de milho com:
Carbono neutro; Geração de energia elétrica; Retenção e aplicação do CO2 das fermentações e Produção de Distillers Dried Grain with Solubles (DDGS) ou Distillers Dried Grain (DDG).
Processamento do milho e preparação do amido por via úmida
O processamento convencional ou via úmida de amido para produção de etanol está bem estabelecido e com alto custo comparado à via seca. O processamento por via úmida utiliza somente o amido para a fermentação, por isso resulta em variados coprodutos, tais como: fibra, glúten e gérmen.
O gérmen é removido e o óleo de milho é extraído do gérmen. A farinha de gérmen restante é adicionada à fibra e glúten de milho. O glúten também pode ser separado para se tornar farinha de glúten de milho. O óleo é o produto de maior importância, obtendo-se um total de 34 a 38 kg para cada tonelada de milho.
O amido é a fração de maior volume utilizado principalmente na produção de bioetanol. Para promover a hidrólise do amido, a massa é aquecida a 105°C rompendo fisicamente os grânulos e abrindo a estrutura cristalina do amido para a ação das enzimas α-amilase e glucoamilase, o que aumenta a viscosidade da pasta em 20 vezes, tornando a mistura e o bombeamento difíceis.
Na etapa de hidrólise, os processos tecnológicos que utilizam cozimento do amido a temperaturas de 30 a 105°C requerem o uso de cal, soda cáustica e ácido sulfúrico para controle de pH, demandando energia e representando de 10 a 20% o preço do bioetanol.
Processamento do milho e preparação do amido por via
As indústrias brasileiras vêm, predominantemente, utilizando o processo via seca que reduz o consumo de energia com a diminuição da temperatura de processamento na conversão do amido à glicose. Por exemplo, baixando a temperatura do amido de milho para 65°C no início da gelatinização.
seca
No método de moagem a seco, nada é feito para separar o amido de milho do grão. Todo o grão de milho é moído em uma farinha grossa por meio de um moinho de martelo ou rolo, para passar por uma tela de 30 mesh, e então misturado com água para formar uma pasta.
O amido granular é insolúvel em meio aquoso, a degradação dos grânulos por enzimas ocorre na fase sólida. Estudos têm demonstrado que as enzimas primeiro são adsorvidas na superfície do grânulo de amido para iniciar a degradação. O mecanismo de equilíbrio de adsorção existente na hidrólise enzimática para a formação de glicose pode ser aplicado apenas no início da reação.
Conforme avança a hidrólise enzimática, pequenas cavidades são formadas e ocorre a difusão das enzimas nos poros e nos canais dos grânulos, permitindo a difusão de amilases.
Convencionalmente, a massa é cozida a 100°C com injeção de vapor, a mistura é bombeada para tanques de retenção e a temperatura pode cair para 80-90°C. A α-amilase adicional é incorporada à pasta liquefeita. Para melhor ação da enzima nesta etapa, o pH da mistura é ajustado para 6,0 por pelo menos 30 minutos.
A liquefação reduz bastante o tamanho do polímero de amido.
O mosto dextrinizado é então resfriado, ajustado para pH 4,5 e a enzima glucoamilase é adicionada.
A glucoamilase converte o amido liquefeito em glicose.
Processo fermentativo
Na fermentação, a glicose é transformada em álcool e dióxido de carbono pela ação da levedura Saccharomyces cerevisiae. O amido não convertido a glicose não é fermentado, permanecendo íntegro.
A diminuição do pH é importante para aumentar a atividade da glucoamilase e inibir o crescimento de bactérias contaminantes.
Plantas de moagem a seco podem reduzir a quantidade de glucoamilase adicionada por sacarificação do amido liquefeito a 65°C antes da fermentação. Muitas plantas, no entanto, utilizam a sacarificação e fermentação simultâneas pelos seguintes fatores:
Saccharomyces cerevisiae
Glicose Oxigênio
++
Dióxido de carbono Álcool
Figura 1. Componentes e produtos do processo fermentativo
Reduz a oportunidade de contaminação microbiana;
Diminui o estresse osmótico inicial da levedura, evitando uma solução concentrada de glicose;
Geralmente é mais eficiente em termos de energia;
Pode fornecer rendimentos de até 8% a mais de etanol. O mosto é resfriado a 32 °C e transferido para fermentadores, onde o fermento é adicionado. Frequentemente, sulfato de amônio ou ureia são adicionados como fonte de nitrogênio para o crescimento da levedura. Recentemente, os moinhos de etanol a seco também começaram a adicionar enzimas acessórias como proteases.
Após concluída a fermentação, o mostro é centrifugado e destilado através de colunas de destilação para ebulição do álcool. Nesta etapa é possível obter etanol a 95% e os materiais restantes separados da substância são denominados vinhaça
A fermentação requer 48-72 horas para obter uma concentração final de etanol de 10-12%. O pH do caldo diminui durante a fermentação para abaixo de pH 4,0, devido ao dióxido de carbono formado durante a fermentação do etanol.
A vinhaça contendo água, óleo, proteína e componentes do grão, juntamente com os resíduos de fermentação, são centrifugados e em alguns casos, extrusados para separação dos grãos úmidos (sólidos) e vinhaça fina.
- DDGS: conhecer a produção para otimizar a aplicação
Os solúveis são resultado da vinhaça fina após a evaporação e posteriormente serão incorporados aos grãos úmidos, formando uma mistura úmida chamada de WDGS (do inglês, Wet Distillers Grains with Solubles).
Estes produtos com alta umidade são ofertados para a bovinocultura, com limitação devido aos custos do transporte do produto e adicionalmente à validade de apenas uma semana, podendo ser ainda menor em locais com alta temperatura.
No entanto, as indústrias podem secar o WDGS à umidade de 10 a 12%, proporcionando maior viabilidade para o transporte à distâncias maiores e aumentando o prazo de validade. Enquanto isso, a adoção de tecnologias de destilação da vinhaça fina permite a extração de óleo, adicionando esse produto em seu portfólio.
Este óleo de milho destilado contém acidez oleica entre 10 e 15%, e não compondo mais os solúveis que serão adicionados ao WDGS, gera um coproduto chamado de WDGS ou DDGS, com composição reduzida em óleo.
Tecnologias em desenvolvimento aplicando proteases (alcalase, papaína e tripsina) nos solúveis condensados de destilado de milho (CCDS) para clivagem de proteínas ou frações proteicas com aplicações farmacêuticas, domésticas e para nutrição animal e humana (como a purificação de aminoácidos), ampliam a possibilidade de geração de coprodutos nas indústrias.
Solubles -
conhecer a produção para otimizar a aplicação
Variações de tecnologias de fermentação como a remoção da fração fibrosa do milho durante a moagem e adicionando solúveis a este produto, geram um material diferenciado com alta fibra, enquanto a vinhaça deste processo fermentativo não tem adição dos solúveis (DDG) e resulta em um produto com proteína superior a 40%.
Com a produção de etanol em larga escala, a exploração de DDGS e DDG como ingrediente na ração animal é uma realidade para garantir a sustentabilidade e a viabilidade da indústria do bioetanol.
A aplicação eficiente do DDGS, DDG e óleo de milho na alimentação animal é fundamental para sustentabilidade da cadeia produtiva de etanol.
Embora a indústria tenha um acréscimo no custo de energia devido ao processo de secagem para alcançar 10% de umidade, este custo é diluído com a venda do coproduto, a qual reduz o custo da produção do etanol de milho.
Perspectivas
No Brasil, não são encontradas prospecções oficiais para produção de coprodutos de destilaria. Porém, estudos indicam aumento da produção entre 115% do ano de 2021 a 2025, com volume estimado em 4,9 milhões de toneladas por ano.
Os volumes crescentes de ofertas de DDG e DDGS no Brasil, originados principalmente nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo e Paraguai, são importantes para a manutenção da oferta de insumos, para a alimentação dos animais e para redução de custo de produção de carne.
Entretanto, as matrizes nutricionais amplamente utilizadas em outros países, como Estados Unidos e Europa, não são adequadamente aplicadas nas dietas brasileiras de aves e suínos.
DDGS: conhecer a produção para otimizar a aplicação
Esta dificuldade de aplicação de matriz nutricional ao produto pode estar relacionada à ampla variação da composição do DDGS, que é resultado de diferentes processos de produção entre as indústrias, associada às dificuldades de padronização do coproduto da fermentação alcoólica em escala industrial.
Embora existam estudos abrangentes em relação à variabilidade do DDGS de milho dentro da planta com diferentes dosagens ou mesmo a remoção de produtos como óleo e solúveis, informações de impacto das variações dos produtos e entre lotes de produção sobre as características de disponibilidade de nutrientes, tais como proteínas, energia e aminoácidos, são escassos para aplicação rápida e eficaz na correção de matrizes nutricionais de aves e suínos.
A ARTE DA HIGIENE DE RAÇÕES
Uma ração segura é essencial para alimentos saudáveis – assim, é importante contar com um sistema eficiente de higiene de rações para minimizar o risco de contaminação bacteriana.
Para as empresas, o recall (recolhimento) de produtos tem alto custo e pode ser prejudicial para sua reputação. Para a fábrica de ração, implica interromper a produção e promover a descontaminação, além do descarte de rações e ingredientes.
Michael Noonan, Gerente de Desenvolvimento de Negócios Perstorp Animal NutritionQuando há risco de contaminação por bactérias patogênicas, medidas devem ser tomadas para minimizar possíveis perigos. O uso de métodos eficazes para evitar a contaminação e recontaminação das rações é importante tanto para o desempenho animal quanto para a fábrica de ração.
No passado, o formaldeído constituía uma solução muito eficaz para evitar a Salmonella em rações. Entretanto, ao ser considerado carcinogênico, foi proibido na Europa em 2018. O mundo busca novas soluções.
Atualmente, as alternativas mais eficientes para a higiene de rações são as soluções à base de ácidos orgânicos e tratamento térmico.
A Perstorp, fabricante sueca de aditivos, pesquisa há décadas a eficácia e combinações de moléculas contra patógenos em rações. Observaram que resultados ideais são obtidos ao combinar tratamento térmico moderado com aditivos otimizados que evitam a recontaminação depois do tratamento térmico. Estes dados têm comprovação científica.
CONTAMINAÇÃO BACTERIANA DA RAÇÃO
REGULAMENTAÇÃO (CE) No. 183/2005
menciona todas as normas da cadeia de rações. O consenso geral é que tanto rações quanto matérias primas não devem conter Salmonella em amostras de 25 gramas. Na UE, anualmente, entre 1,8% e 1,9% das amostras testadas são positivas para Salmonella
Embora a Salmonella seja o foco, as fábricas de ração devem pensar em contaminação por enterobactérias como um todo. Caso se concentrem em uma bactéria específica, é possível que não detectem outros patógenos que também afetam negativamente a saúde
TRATAMENTO TÉRMICO E HIGIENE DE RAÇÕES
As rações podem ser submetidas a tratamento térmico especificamente para reduzir a carga de enterobactérias. Soluções de higiene de rações baseadas em ácidos orgânicos, como fórmico, propiônico e lático são bastante comuns e algumas são aprovadas na União Europeia como promotoras de higiene de rações.
Tanto o tratamento térmico como as soluções de higiene de rações são eficazes para reduzir a carga de enterobactérias. Entretanto, quando a ração é tratada termicamente, são eliminadas também algumas espécies de bactérias benéficas. Esta destruição da flora permite mais espaço para que bactérias patogênicas recontaminem a ração.
TRATAMENTOS COMBINADOS
Quando somente o tratamento térmico é utilizado, a ração acabada pode ser facilmente recontaminada durante o resfriamento e/ ou secagem. A condensação dentro do equipamento e o ar carregado de impurezas permitem a multiplicação de bactérias como E. coli.
RESULTADOS DO ENSAIO: PROPHORCE™ SA EXCLUSIVE E TEMPERATURA ADEQUADA É A MELHOR COMBINAÇÃO
Para comprovar a eficácia dos ácidos orgânicos combinados com tratamento térmico, foi conduzido o estudo SYTTAC no Instituto Tecaliman, na França. A ração foi intencionalmente contaminada com log5 de enterobactérias para padronizar os níveis iniciais de contaminação.
ProPhorce™ SA Exclusive da Perstorp foi adicionado à ração (4 kg/T), tratada com 3 diferentes temperaturas ou não tratada termicamente. Foram medidas as cargas de enterobactérias (inicial, antes e depois do processo de resfriamento).
Os resultados foram comparados a uma amostra controle em condições de referência: sem acidificante, aquecida a 80°C durante 2 minutos.
O gráfico (Figura 1) demonstra que caso a ração não seja aquecida, a carga de enterobactérias é mantida sob controle (redução de 1/2log). Quando aquecida a 55° C, se observa uma redução de log1, suficiente, na maior parte dos casos, para garantir a higiene do processo.
Carga inicial Antes de resfriar Depois de resfriar
Figura 1 . Eficácia de ProPhorce™ SA Exclusive para reduzir a carga de enterobactérias na ração farelada, com e sem tratamentos térmicos. (Gráfico de carga de enterobactérias do estudo SYTTAC - 2012)
Assim, uma temperatura de 65°C será suficiente para inativar as enterobactérias sem destruir alguns dos frágeis nutrientes na ração (80° C - 2 min. são condições extremas para alguns nutrientes).
Em todos os casos, a adição de ProPhorce™ SA Exclusive evita que a contagem de enterobactérias se eleve após o resfriamento. Por outro lado, existe clara evidência de recontaminação por enterobactérias da amostra controle negativa, demonstrando que apenas o tratamento térmico gera uma situação de risco.
SOLUÇÕES PARA UMA ERA PÓS-FORMALDEÍDO
Na era pós-formaldeído, as fábricas de ração e os avicultores devem reconsiderar sua estratégia de higiene de rações. Os ácidos orgânicos que estão sendo utilizados para tratar as rações estão oficialmente aprovados em termos de de reduzir a carga de e evitar a recontaminação.
Nos últimos anos, a biossegurança recebeu destaque graças ao maior foco em desempenho animal e segurança de alimentos.
Uma vez que agentes microbianos podem ser introduzidos em diversas etapas da fabricação de rações, as tecnologias devem ser eficazes para reduzir os níveis bacterianos e conferir proteção contra a recontaminação.
Os produtos ProPhorce™ Feed Hygiene reduzem a contaminação por enterobactérias, inclusive Salmonella.
É importante encontrar soluções de higiene de rações de longo prazo, que possam ser integradas ao controle bacteriano em toda a cadeia de alimentos. Desta forma, as empresas estarão protegidas e os consumidores poderão confiar nos produtos que adquirem.
A Arte da Higiene de Rações BAIXAR EM PDFIMPORTÂNCIA DO PROCESSAMENTO TÉRMICO DO FARELO DE SOJA PARA A NUTRIÇÃO DE AVES
¹ Doutoranda em Zootecnia - Universidade Federal do Paraná
² Doutoranda em Ciências Veterinárias - Universidade Federal do Paraná
³ Professor Associado do Departamento de Zootecnia - Universidade Federal do Paraná
4 Professora Adjunta do Departamento de Zootecnia - Universidade Federal do Paraná
Ter conhecimento do valor nutricional dos ingredientes é um ponto indispensável na formulação de dietas para monogástricos. O farelo de soja é o ingrediente proteico de maior entrada na dieta, Rostagno et al. (2017) recomendam até 35% de inclusão do ingrediente nas formulações para frangos de corte. Sendo assim, o controle de qualidade dessa matéria prima é importante para garantir um bom desempenho dos animais a campo.
O grão de soja cru contém diversos fatores anti nutricionais, como inibidores de proteases e lectinas, e fatores alergênicos, como glicinina e beta conglicinina, que são inativados por tratamento térmico durante o processamento. Por outro lado, existem também outros compostos resistentes à ação do calor, como oligossacarídeos, polissacarídeos não amiláceos e fitato. (Medic et al., 2014)
INATIVADOS POR TRATAMENTO TÉRMICO
Inibidores de proteases e lectinas, Glicinina e Beta conglicinina
RESISTENTES À AÇÃO DOA CALOR
Oligossacarídeos, Polissacarídeos não amiláceos e Fitato
METODOLOGIAS DE ANÁLISE DE QUALIDADE DO FARELO DE SOJA
Para aferir se o processamento térmico do grão foi adequado, existem duas técnicas que são empregadas na indústria por conta da facilidade de execução e do baixo custo laboratorial, sendo a solubilidade em KOH 0,02% e o teste de atividade ureática.
Solubilidade em KOH
A solubilidade em KOH avalia a qualidade do processamento e inativação dos fatores anti nutricionais. Valores acima de 75% de solubilidade proteica indicam maior qualidade biológica da proteína e aproveitamento de aminoácidos pelo trato gastrointestinal.
Quando os valores estão abaixo do desejável isso indica que houve super processamento térmico e ocorreram reações de desnaturação proteica e complexação de aminoácidos e açúcares redutores (Reação de Maillard), consequentemente, esse produto perde qualidade nutricional por conta da menor disponibilidade de aminoácidos (Heidenreich, 2000)
do processamento térmico do farelo de soja para a nutrição de aves
Teste de atividade ureática
O teste de atividade ureática é uma medida indireta que indica, por meio da variação do pH, se houve sub processamento térmico.
Quanto maior o valor na análise, maior é a atividade da urease presente na amostra.
O grão de soja cru deve apresentar variação de pH entre 2,0 e 2,5 (Butolo, 2002), após o processamento térmico o farelo de soja tostado deve ter variação de pH na faixa de 0,05 e 0,25 de acordo com o MAPA (1993).
O fator BBK tem peso molecular variável entre 6 e 10 KDa e possui uma estrutura formada por 71 resíduos de aminoácidos (Figura 1), enquanto o fator KTI tem peso molecular de 20 KDa e é formado por 181 resíduos de aminoácidos (Figura 2), ambos são desativados quando o farelo de soja passa por processamento térmico correto.
1 2
FATORES ANTINUTRICIONAIS QUE IMPACTAM O
DESEMPENHO
E PRODUTIVIDADE
Fator de Bowman-Birk e Fator de Kunitz
Os dois compostos, fator de BowmanBirk (BBK) e fator de Kunitz (KTI), são inibidores da atividade de enzimas proteolíticas formados por aminoácidos (Liu, 1997)
Figura 1. Estrutura tridimensional do fator Bowman-Birk presente na soja. (Fonte: https://www.rcsb.org/structure/1BBI). Figura 2. Estrutura tridimensional do fator de Kunitz presente na soja. (Fonte: https://www.rcsb.org/structure/1AVU)
Aproximadamente 6% da proteína do grão de soja é representada pelos inibidores de protease (Liu, 1997), e quando presentes no farelo de soja, esses fatores anti nutricionais podem impactar de forma negativa no desempenho das aves.
Importância
processamento térmico do farelo de soja para a nutrição de aves
As principais enzimas proteolíticas produzidas no pâncreas são: tripsina e quimiotripsina. Ambas são endopeptidases que atuam rompendo ligações não terminais e específicas. A tripsina atua na hidrólise entre lisina-arginina e a quimiotripsina na hidrólise entre fenilalanina-tirosina (Rutz, 2002).
Por conta da complexação entre as enzimas proteolíticas e os fatores BBK e KTI, o pâncreas é estimulado a aumentar a secreção enzimática para compensar a falta de tripsina e quimiotripsina ativas, e a presença de substrato livre que foi ingerido e chegou no duodeno para ser metabolizado.
Como consequência desse desequilíbrio metabólico, a digestibilidade de nutrientes contidos na dieta diminui e se desencadeia uma resposta fisiológica de hiperplasia e hipertrofia pancreática (Cabrera-Orozco et al., 2013).
Rocha et al. (2014) demonstraram, por meio de exame histológico do tecido pancreático em frangos alimentados com farelo de soja cru, que houve um aumento no tamanho e no número de células exócrinas (Figura 3).
Figura 3. Parênquima pancreático normal de frangos alimentados com dieta controle (A). Aumento do número e tamanho de células pancreáticas de frangos alimentados com 15% de soja crua (B). (Fonte: Rocha et al., 2014)
A inclusão de 12% de farelo de soja crua pode levar a um aumento significativo de até 62% no peso do pâncreas (Rada et al., 2017).
No estudo De Coca-Sinova, et al. (2008) eles analisaram a digestibilidade ileal aparente de nutrientes em frangos de corte que receberam diferentes farelos de soja, e constataram que a digestibilidade de nitrogênio, energia bruta e aminoácidos foi maior quando se ofertava o farelo de soja com menor quantidade de fatores anti nutricionais em sua composição.
processamento térmico do farelo de soja para a nutrição de aves
A lectina da soja pode afetar negativamente o intestino e o sistema imune da mucosa a partir da:
Isso demonstra a importância da qualidade do processamento térmico para desativação desses fatores que prejudicam o aproveitamento de nutrientes da dieta pelos animais.
Outro fator anti nutricional sensível ao calor é a lectina, ou hemaglutinina da soja. Seu principal efeito em frangos de corte é a ruptura do epitélio intestinal, diminuição da altura das vilosidades, alteração da atividade das enzimas da borda em escova e hipersecreção de proteínas endógenas induzindo à hiperplasia de células caliciformes, consequentemente, ocorre aumento da produção de muco e diminuição na absorção de nutrientes da dieta (Grant, 1989; Liener, 1994).
Alteração da estrutura das células intestinais;
Aumento da permeabilidade intestinal por danificar as proteínas de junção;
Diminuir a resposta imunológica e bloquear a produção de IgA;
Alterar a composição da microbiota intestinal (Pan et al., 2018; Zhao et al., 2011).
Essas implicações podem reduzir de maneira expressiva a utilização de nutrientes da dieta e provocar efeitos deletérios no desempenho animal.
Os principais oligossacarídeos presentes na composição do farelo de soja e que interferem no metabolismo de frangos de corte são a estaquiose e rafinose, que, ao serem consumidos, não são hidrolisados e sim fermentados no trato gastrointestinal.
Um farelo de soja convencional apresenta em sua composição 4,61% de estaquiose e 0,93% de rafinose, por outro lado, o farelo de soja de uma cultivar modificada apresenta teores 1,38% e 0,18% de estaquiose e rafinose, respectivamente (Baker et al., 2011).
térmico do farelo de soja para a nutrição de aves
Em estudo comparando farelos de soja oriundos de cultivares modificadas e convencionais, Parsons et al. (2000) constataram que houve aumento de 7% nos valores de energia metabolizável da dieta de aves que receberam farelo convencional (2,739 Kcal/Kg de MS) em relação às que receberam farelo modificado com baixo teor de oligossacarídeos (2,931 Kcal/Kg de MS).
Além disso, o perfil e a concentração de aminoácidos essenciais (lisina, metionina e triptofano) em farelos de soja de cultivares modificadas para baixo teor de oligossacarídeos também é alterado (Baker et al., 2011).
Os mesmos autores afirmam que é possível reduzir a quantidade de farelo de soja modificado (32,60%) na dieta em comparação ao farelo convencional (38,21%) justamente pela composição de aminoácidos.
Perspectivas futuras
O valor nutritivo do farelo de soja está diretamente relacionado com a qualidade do processamento que o grão foi submetido. Quando o processamento é realizado de forma adequada, o farelo apresenta um alto teor de proteína bruta (46% a 50%), boa composição de aminoácidos e os fatores anti nutricionais são desativados de forma correta (Swick, 2009).
O farelo de soja ideal deve apresentar solubilidade proteica alta (acima de 80%) e urease baixa (abaixo de 0,15), esses são indicativos de um bom processamento térmico e de um produto de boa qualidade nutricional.
O controle de qualidade de matérias primas que chegam às fábricas de ração é uma etapa importante que irá impactar de modo direto a produtividade de animais monogástricos. Portanto, ter conhecimento de metodologias laboratoriais e saber quais os impactos negativos quando se usa um ingrediente com fatores anti nutricionais que não foram inativados de maneira correta é um diferencial.
Importância do processamento térmico do farelo de soja para a nutrição de aves BAIXAR EM PDF
processamento térmico do farelo de soja para a nutrição de aves
TABELA ENZIMAS & FITOGÊNICOS 2022 EDIÇÃO BRASIL
RECOMENDAÇÃO DE USO
Incorporação na ração
Todas espécies animais
DOSE
ATIVIDADE ENZIMÁTICA
100g/ton 50g/ton 50g/ton 50g/ton
Complexo multienzimático concentrado termoestável, composto de xilanase, β -glucanase, celulase, arabinofuranosidase e 1.000 FTU de tase.
Complexo multienzimático concentrado, composto de xilanase, β -glucanase, celulase, arabinofuranosidase e 500 FTU de tase.
Complexo multienzimático concentrado termoestável, composto de xilanase, β -glucanase, celulase e arabinofuranosidase.
Endo-1,4-xilanase ≥ 12.500 UV/g Endo-1,3(4) β -glucanase ≥ 8.600 UV/g 6-fitase ≥ 10.000FTU/g Arabinofuranosidase ≥ 46.000 ABF/g Endo-1,4 β -glucanase (celulase) ≥ 1.200 unidades DNS/g Endo-1,4-xilanase ≥ 25.000 UV/g Endo-1,3(4) β -glucanase ≥ 17.200 UV/g 6-fitase ≥ 10.000FTU/g Arabinofuranosidase ≥ 92.000 ABF/g Endo-1,4 β -glucanase (celulase) ≥ 2.400 unidades DNS/g Endo-1,4-xilanase ≥ 25.000 UV/g Endo-1,3(4) β -glucanase ≥ 17.200 UV/g Arabinofuranosidase ≥ 92.000 ABF/g Endo-1,4 β -glucanase (celulase) ≥ 2.400 unidades DNS/g
Complexo multienzimático concentrado, composto de xilanase, β -glucanase, celulase, arabinofuranosidase.
Endo-1,4-xilanase ≥ 25.000 UV/g Endo-1,3(4) β -glucanase ≥ 17.200 UV/g Arabinofuranosidase ≥ 92.000 ABF/g Endo-1,4 β -glucanase (celulase) ≥ 2.400 unidades DNS/g
PRODUTO
ESPÉCIE/S Rovabio
Rovabio Advance Phy
EMPRESA (FABRICANTE/DISTRIBUIDOR)
ENZIMAS & FITOGÊNICOS
ENZIMAS & FITOGÊNICOS
RECOMENDAÇÃO DE USO
ESPÉCIE/S
ALLZYME SSF é um aditivo multi-enzimático para alimentação animal que aumenta a digestibilidade do fosfóro e cálcio, além da disponibilidade de energia, aminóacidos e proteína das rações, auxiliando no desempenho dos animais, dimuição dos custos da ração, assim como a exibilidade da formulação da dieta.
Aves, Suínos, Peixes e Camarões
DOSE
COMPOSIÇÃO
Verificar as recomendações por espécie.
Complexo multienzimático composto por pectinase, protease, tase, betaglucanase, xilanase, celulase e amilase
ATIVIDADE ENZIMÁTICA
PRODUTO
Pectinase, Protease, Fitase, Betaglucanase, Xilanase, Celulase, Amilase
Allzyme SSF
Complexo multienzimático composto por protease e celulase
Protease e Celulase
Allzyme Vegpro
EMPRESA
(FABRICANTE/DISTRIBUIDOR)
Incluir à dieta do animal, de acordo com a recomendação do Responsável Técnico ou sugestões do fabricante.
ESPÉCIES
DOSE
COMPOSIÇÃO
ATIVIDADE FITOGÊNICA
RECOMENDAÇÃO DE USO FITOGUT
PRODUTO
EMPRESA (FABRICANTE/DISTRIBUIDOR)
Aves e suínos
Aves: 250 a 1000 g/ton de ração Suínos: 250 a 1000 g/ton de ração
Compostos terpênicos, polifenóis e flavonóides
Ação antimicrobiana, anti-inflamatória e antioxidante, proporcionando efeitospositivos na saúde e na produtividade dos animais
STREPTOCOCCUS SUIS, CAUSADOR DA MENINGITE ESTREPTOCÓCICA,
ENFRENTAR
DESAFIO?
Controle de doenças
As perspectivas para o futuro próximo não são animadoras. Com a supressão do uso de óxido de zinco como medicamento na Europa este ano, e restrições a Amoxicilina, destaca-se o S. suis como um dos patógenos mais oportunistas e adaptados.
Além disso, também é um agente zoonótico (essencialmente sorotipo 2), considerado na maioria dos países da OCDE como uma doença ocupacional dos trabalhadores de granjas suinícolas.
A complexidade desta patologia requer, portanto, uma análise multifatorial, discutida abaixo.
ETIOLOGIA
Os estreptococos são patógenos conhecidos em todas as espécies.
No suíno, o S. suis participa ativamente como agente primário, causando meningite, claudicação e morte súbita, sozinho ou acompanhado por Glasserella parasuis ou Mycoplasma hyorhinis. Também pode causar infecções dos tratos genital, urinário e mamário, bem como endocardite vegetativa.
DOENÇA
Como agente secundário, pode causar complicações, como necrose de orelhas e cauda, e pneumonia tromboembólica
De acordo com Flores et al., 1993, o mesmo suíno pode ser colonizado por diferentes sorotipos simultaneamente.
EPIDEMIOLOGIA
S. suis é um colonizador do trato respiratório superior dos suínos, invadindo as vias aéreas e amígdalas muito precocemente, através do canal do parto. O agente pode ficar aí alojado por muito tempo, sem a manifestação de sinais clínicos.
100% dos leitões são colonizados, embora nem todos por sorotipos patogênicos (Cloutier, 2003). Os maiores índices de mortalidade (frequentemente súbita) ocorrem na fase de creche e recria.
Corneto nasal Tonsila
Figura 1. O reservatório natural do Streptococcus Suis é a orofaringe dos suínos e javalis
Sorotipos como o 9 apresentam importância crescente, particularmente em alguns países da Europa Ocidental. No Brasil, em um estudo em animais de 41 a 90 dias de vida, onde foram analisadas 323 amostras, 61% pertenciam ao sorotipo 2, 19,8% eram amostras não sorotipadas e 6,8% eram do sorotipo 1. Foram encontrados também outros sorotipos, de 3 a 9 (Sobestiansky et al 2007)
Como patobionte bem adaptado, o S. suis tem duas apresentações:
A bactéria aparentemente inofensiva, cujo genoma codifica enzimas e fatores que favorecem a colonização da mucosa do trato respiratório superior;
O patógeno altamente invasivo que, devido a fatores de virulência, fatores específicos do hospedeiro (como idade), coinfecções com patógenos-chave (Mycoplasma e/ou Influenza) ou estresse ambiental, pode causar processos e infecções inflamatórias graves em suínos e humanos.
A transmissão direta pode ser horizontal, nariz a nariz (e possivelmente fecal-oral), ou vertical (intravaginal). Também pode haver transmissão indireta por equipamentos (cochos e bebedouros), e fômites, como roupas, seringas, fezes, água, poeira e outros animais (roedores e moscas).
COLONIZAÇÃO PATOBIONTE
S.
SUIS
INVASÃO
Cápsula Adesina do hospedeiro ambientais Fatores COMO PATÓGENO INVASOR
Figura 2. Os dois lados do S. suis como patobionte no trato respiratório dos suínos.
Streptococcus suis, causador da Meningite estreptocócica, como enfrentar esse desafio?
Controle de doenças
Ferrando e Schultz (2016) propõem um modelo hipotético de infecção in vitro em células epiteliais humanas e suínas, onde demonstram a translocação de cepas patogênicas do sorotipo 2 através do trato gastrointestinal. Portanto, S. suis deve ser considerado um patógeno emergente, transmitido por alimentos.
Após romper as barreiras mucosas (respiratórias, intestinais) ou cutâneas, o S. suis invade diversos órgãos e tecidos por disseminação hematogênica e/ou linfática, produzindo meningite, artrite ou outras patologias sistêmicas (como choque séptico com óbito, poliserosite e endocardite).
DIAGNÓSTICO
Durante a disseminação sistêmica, o S. suis tem diferentes mecanismos para resistir ao ataque do sistema imunológico do hospedeiro: prevenindo a fagocitose, induzindo a síntese de citocinas inflamatórias etc.
É feito com base nos sinais clínicos (febre, movimentos de pedalagem, opistótono, vocalização intensa), lesões macroscópicas (em cérebro, coração e articulações) e idade
Diagnóstico diferenciando outras doenças como Aujesky, polioencefalomielite, doença do edema, doença de Glasser, listeriose e intoxicação por cloreto de sódio, deve ser feito.
A confirmação é obtida por diagnóstico laboratorial com base no isolamento e identificação do agente infeccioso e por histopatologia dos tecidos afetados.
Tabela 1. Permanência (dias) de S. suis em diferentes meios (CliftonHadley e Enright 1984,1986).
| Streptococcus suis, causador da Meningite estreptocócica, como enfrentar esse desafio?
LEITÕES DESMAMADOS OUTRAS IDADES
HIPERAGUDO: Sem sinais clínicos
AGUDO: Meningite - Septicemia; Casos respiratórios
SUBAGUDO: Claudicação; Síndrome vestibular - otite; Epidermite
LACTANTES
Agudo: Meningite - Septicemia Subagudo: Claudicação
EM ENGORDA
Agudo: Meningite - Septicemia. Casos respiratórios, CRP Subagudo: claudicação e endocardite, síndrome vestibular - Otite Crônico: Redução no crescimento, endocardites no abatedouro e morte súbita com cardiopatias
REPRODUTORES: Endocardites
Tabela 2. Sinais clínicos de acordo com a idade.
Amostras de líquido cefalorraquidiano de animais saudáveis e não tratados devem ser coletados, a partir de 3 lotes diferentes. Swabs amigdalianos ou nasais não são recomendados, pois o S. suis é um habitante normal nesses locais e o isolamento tem sensibilidade muito baixa. A sorotipagem é importante para identificação do sorotipo predominante.
Quando o S. suis é um agente secundário ou oportunista, vários sorotipos diferentes serão recuperados do mesmo rebanho. A técnica de PCR é utilizada para a identificação da espécie (Okwumabua et al., 2003), e dos sorotipos (Smith et al., 1999b; Wisselink et al., 2002; Silva et al., 2006; Liu et al., 2013).
CONTROLE
Diante de um processo estreptocócico, devemos nos fazer duas perguntas:
O S. suis é um patógeno primário em minha granja?
Se não é, como posso controlar o que o faz aparecer?
A partir daqui, abordaremos o controle sob dois pontos de vista:
1. Prevenir o S. suis, um colonizador precoce da mucosa, que acaba se transformando em um agente altamente patogênico invasivo.
2. Minimizar o risco de zoonose, no caso do sorotipo 2.
suis, causador da Meningite estreptocócica, como enfrentar esse desafio?
Controle de doenças
Uma vez diagnosticado, o controle envolve sete pilares fundamentais:
Gestão e controle ambiental nas salas de parto
Biossegurança
• Sistema de gestão McREBEL (McCaw et al., 1996).
Controle dos principais patógenos
• Vírus ou bactérias patógenas existentes na granja.
Controle de doenças
• Ambiente limpo e temperatura correta: 18-22°C na área da porca e 28-34°C na área de descanso dos leitões;
• Evitar o excesso de umidade e poeira;
• Ventilação adequada;
• Práticas corretas de colostro (consumo mínimo por leitão de 250 g nas primeiras 24 horas de vida).
Limpeza e desinfecção
• Superfícies limpas, desinfetadas e secas; a maioria dos desinfetantes é muito e caz: hipoclorito de sódio, formaldeídos, glutaraldeídos, desinfetantes iodados, etc.
• Secagem e pré-aquecimento das salas antes da introdução das fêmeas;
• Ausência de bio lmes nas tubulações de água;
• Controle de moscas e roedores.
como enfrentar esse desafio?
Manejo e controle ambiental no desmame
• Temperaturas entre 28°C na semana após o desmame e 24°C no nal da transição
• Velocidade máxima do ar: 0,15 m/s
• Evitar poeira e gases tóxicos: NH3, CO2
• Densidade adequada: mínimo 0,2 m2 por leitão
• Evitar estresse social fornecendo material manipulável e com desenho correto das baias (áreas de comer, brincar, descansar e defecar)
• Água com qualidade.
Tratamento
Medidas preventivas
• Vacinação: vacinas comerciais e autovacinas, com resultados muito diferentes. Para o futuro, as vacinas vivas atenuadas, colostrais e de subunidades heterólogas com Opsonização Ag.
• Evitar brigas no pós-desmame para prevenir infecções transcutâneas: classi cação correta por tamanhos, gestão de materiais manipuláveis, socialização antes do desmame etc.
• Substituir o corte dos dentes (quando realizado) pelo lixamento super cial, e no nascimento realizar o corte e desinfecção do umbigo.
• Trabalhar a saúde digestiva: controlando a microbiota e a integridade da barreira intestinal.
• A antibioticoterapia em surtos agudos é indicada. Drogas como Amoxilina e cefalosporinas tem demonstrado alta e ciência no tratamento.
• O tratamento com antibióticos não elimina a condição de portador assintomático.
• Alguns especialistas defendem o uso de anti-in amatórios juntamente com antibióticos (básico na meningite).
• Utilização de piso vazado e não abrasivo na maternidade a m de evitar lesões de pele e articulações.
Streptococcus suis, causador da Meningite estreptocócica, como enfrentar esse desafio?
Controle de doençasControle de doenças
COMO A ALFA-MONOLAURINA
PODE TE AUXILIAR NO COMBATE AO S. SUIS.
Os ácidos graxos de cadeia média e seus derivados realizam a modulação da microbiota de duas maneiras:
Favorecem a proliferação de lactobacilos, produtores de ácido lático e peróxido de hidrogênio;
Inibem a colonização de E.coli, através do bloqueio de pontos de adesão na mucosa intestinal.
A α-Monolaurina tem uma ação muito maior contra Gram positivas do que o próprio ácido láurico. Este tipo de monoglicerídeo é hidrodispersível, e capaz de passar para a corrente sanguínea em sua forma original, sem ser atacado pela lipase pancreática, quando devidamente microencapsulado e não dissociado (Cos Quixal Porcinews, 2017).
Funciona dissolvendo a camada de peptidoglicano da parede celular das bactérias Gram positivas e penetrando no citoplasma, causando a lise da membrana. Uma vez no citoplasma, a α-monolaurina pode bloquear a expressão de toxinas e fatores de virulência.
Da mesma forma, pode atuar desestabilizando o capsídeo lipídico de certos vírus.
Em relação ao seu efeito imunomodulador, a α-monolaurina reduz o acúmulo de macrófagos produtores de citocinas, substâncias que induzem os hepatócitos a produzir proteínas de fase aguda.
Alfa-monoglicerídeos, e especialmente α-monolaurina (monoglicerídeo de ácido láurico), são uma ferramenta para se alcançar a produção de suínos livre de antibióticos.
Streptococcus
Além disso, pode acumular-se no colostro da porca, de modo que a suplementação desse aditivo na alimentação da porca antes do parto produz um colostro com maior concentração e percentual de gordura. Suplementado durante a lactação, proporciona um maior nível de ácido láurico no leite.
causador da Meningite estreptocócica, como enfrentar esse desafio?
CONCLUSÕES
S. suis causa perdas importantes no setor suinícola, além de zoonoses (sorotipo 2).
Até agora seu controle era baseado no uso profilático de β-lactâmicos na ração, mas devido às limitações ao uso de antimicrobianos e casos de resistência, exige soluções inovadoras, como a monolaurina.
Streptococcus suis, causador da Meningite estreptocócica, como enfrentar esse desafio?
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Como colonizador precoce e patobionte bem-sucedido, a abordagem para o controle da doença deve ser multifatorial.
O futuro nos apresenta desafios difíceis, que seremos capazes de superar, investindo em bem-estar e biossegurança, fazendo mais resistentes os nossos animais. Para isso, a saúde intestinal será fundamental. Referências sob consulta.
Estresse térmico
ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS PARA MITIGAR O ESTRESSE TÉRMICO EM MATRIZES SUÍNAS LACTANTES
1Doutorando
2Mestrando
3Docente
INTRODUÇÃO
Em países de clima tropical o desafio ambiental é constante para fêmeas suínas de alta produção. A alta produtividade torna-se um fator de relevância para o conforto térmico das matrizes em lactação, pois se faz necessário intensificar o aumento do consumo de ração nesta fase a fim de se evitar prejuízos nas fases subsequentes (Mendoza et al., 2020)
Considera-se como zona de conforto térmico para matrizes suínas temperatura entre 18 e 22 ºC e umidade relativa do ar de 40 a 70% (Silva et al., 2021).
Fatores como a radiação, corrente de ar, temperatura e umidade do ar devem ser levados em consideração ao ajustar e adequar a faixa de temperatura da zona de conforto dos animais, favorecendo assim a melhor expressão do seu potencial genético. Sabendo disto, percebe-se que em países de clima tropical é fundamental a utilização de estratégias além das relacionadas a manejo e instalações.
A ocorrência do estresse térmico por calor desfavorece o consumo de ração, pois é uma estratégia do organismo para diminuir a produção de calor endógeno, em função do incremento calórico gerado pelo alimento.
Porém, consequências negativas na mobilização das reservas corporais, produção de leite, e longevidade da matriz podem ocorrer, assim como na fertilidade reprodutiva, incluindo taxas inferiores de concepção e dias aumentados no desmame ao estro (Williams et al., 2013).
Atualmente, estratégias nutricionais como o uso de aditivos e ajustes na formulação são fundamentais para favorecer o consumo das fêmeas, diminuindo os efeitos deletérios do baixo consumo na fase de lactação, o que consequentemente melhora os índices produtivos e reprodutivos das matrizes. A seguir, serão abordadas estratégias nutricionais para mitigar o efeito do estresse térmico em matrizes suínas em fase de lactação.
nutricionais para mitigar o estresse térmico em matrizes suínas lactantes
ESTRESSE TÉRMICO EM SUÍNOS
Estresse térmico
As glândulas sudoríparas dos suínos não são tão eficientes quando comparadas a outras espécies animais e, por conta disso, a dissipação de calor ocorre por vias latentes (frequência respiratória) e sensíveis (condução, convecção e radiação).
Em adição, a eficiência de funcionamento destes mecanismos de dissipação podem ser influenciados por fatores, além da temperatura ambiente, como umidade e velocidade do ar e a área de contato com superfícies das instalações. (Bjerg et al., 2020; Brandt et al., 2022; Huang et al., 2022;).
O ambiente térmico pode modular o comportamento alimentar das matrizes, de forma que as flutuações de temperaturas influenciam diretamente no hábito alimentar, ocorrendo maior ingestão de ração em horários com temperaturas amenas (Quiniou et al., 2000; Silva et al., 2009, 2018 e 2021). Além disso, o padrão alimentar é influenciado pela temperatura ambiente e variação do fotoperíodo (Silva et al., 2021)
Choi et al. (2019) observaram maior consumo de ração de fêmeas em lactação sob estresse térmico quando alimentadas no período noturno, o que corrobora com o estudo de Silva et al., (2021), que ao analisar o desempenho de matrizes suínas lactantes em diferentes estações do ano, com média de temperatura de 26,2 vs 23,1ºC e variações de amplitudes térmicas de 16,1 a 21,0ºC, relataram maior consumo de ração e melhor desempenho das porcas e suas
As altas temperaturas influenciam em parâmetros que vão além do consumo de ração. Diversos autores relataram que há também influência sobre o desempenho reprodutivo subsequente das matrizes, assim como aumento de mortalidade de leitões por esmagamento, e menor ganho de peso dos leitões pela redução da produção de leite, teor de aminoácidos, e perfil de ácidos graxos do mesmo (Silva et al., 2017; Silva et al., 2018; Oh et al., 2022).
Liu et al. (2021), avaliando fêmeas prímiparas submetidas a estresse por calor, relataram que o estresse térmico aumentou o tempo de duração do parto, o que impacta no número de natimortos, em função do tempo de duração do parto estar associado com incidências de hipoxia nos leitões, levando a maior tempo para expulsão no momento do parto. Em adição, visando controlar a temperatura corporal, as fêmeas intensificam a frequência de mudança de posição na maternidade, o que por sua vez favorece a ocorrência de esmagamento dos leitões (Wishchner et al., 2009; He et al., 2019) .
Estresse térmicoCondições de estresse térmico por calor interferem sobre as condições de bem-estar dos animais. Logo, respostas fisiológicas são ativadas na tentativa de reverter o quadro de estresse.
Estresse térmico
ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS QUE AUXILIAM NA REDUÇÃO DO ESTRESSE TÉRMICO
As matrizes suínas atuais apresentam maiores taxas de acréscimo de tecido magro e maior capacidade reprodutiva, aumentando a produção de calor endógeno (He et al., 2019).Logo, a utilização de fibras (Oh et al., 2022), minerais (Chen et al., 2019) e aditivos (Rocha et al., 2022; Domingos et al.,2021; Silva et al., 2021) vêm sendo estudadas para buscar máxima eficiência das matrizes.
Garantir a ingestão de nutrientes necessários para mantença e produção é fundamental, sobretudo quando se pensa em desempenho eficaz de matrizes suínas criadas em condições de ambientes tropicais.
Pensando nisto, e no desempenho da leiteigada como um todo, o uso de leveduras como aditivo foi alvo de estudo de Rocha et al., (2022) e Domingos et al., (2021), buscando melhorar o aproveitamento nutricional das dietas, o estado de saúde e a produção de leite das porcas.
Rocha et al., (2022) avaliaram os efeitos da suplementação dietética com levedura (Saccharomyces Cerevisiae var. Boulardii), em diferentes épocas para porcas mestiças sobre o desempenho produtivo, composição do colostro e do leite e desempenho da leitegada, em condições climáticas tropicais úmidas, onde as temperaturas variaram de 25.9 a 31.9 °C.
Observou-se que a suplementação de 0,04 e 0,08% para porcas de ciclos maiores a partir de 90 dias de gestação até o desmame proporcionaram maior produção diária de leite e ganho de peso diário das leitegadas.
Já para fêmeas de 1º e 2º ciclo, do 90º dia de gestação até o 24º dia de lactação ou apenas durante a lactação apresentam maior teor de matéria seca e proteína no leite.
Já Domingos et al. (2021) avaliaram porcas durante final da gestação e lactação em clima tropical úmido com inclusão de levedura (Saccharomyces Cerevisiae var. Boulardii) on-top. Os autores observaram aumento no consumo diário de ração, consumo total de ração, e produção de leite nos animais que receberam a levedura quando comparados aos demais tratamentos avaliados.
A betaína foi alvo de estudo de Mendoza et al., (2020), a qual é um doador de metil e osmólito, diminuindo a demanda energética do suíno para manter adequada hidratação celular e o correto equilíbrio iônico (Andrade et al., 2016).
estresse térmico em matrizes suínas lactantes
Os autores incluiram a betaína dietética na ração durante a lactação como estratégia para redução de calor em porcas expostas ao estresse térmico.
Porém, não observou-se efeitos benéficos para a inclusão da betaína durante o período de verão. Por outro lado, efeitos da suplementação no período de lactação durante o verão, para porcas com parto 4+, aumentou o tamanho da leitegada subsequente.
O fornecimento de fibras na dieta tem sido um procedimento para estimular a ingestão de alimentos. Porém, há mudança do perfil da dieta com maior inclusão de fibras, pois atualmente está associada à melhora da integridade intestinal e mudança do perfil do colostro produzido, como o aumento do teor de gordura do colostro.
Entretanto, Silva, (2010), cita que a alta inclusão de fibra deve ser estudada, pois há um aumento da massa visceral dos animais, o que impacta no aumento da produção de calor metabólico.
Oh et al., (2022), avaliando o efeito da inclusão de fontes de fibras para matrizes suínas em estresse térmico, obtiveram como resultado que 6,5% da inclusão total de FDA durante o período de gestação foram refletidos no período de lactação, melhorando o consumo de ração, o desempenho reprodutivo e o crescimento da leiteigada.
Estresse térmico
A utilização de minerais como o selênio (Se), o qual atua no metabolismo redox, foi alvo de estudo de Chen et al., (2019), os quais avaliaram o aumento do fornecimento de Se na dieta de porcas submetidas ao estresse térmico por calor com e sem sistema de resfriamento. Nesse estudo, os autores relataram como principais resultados a melhora na sobrevivência pré-desmame dos leitões, a composição do colostro e do leite, bem como o status antioxidante e a transferência de imunoglobulina independentemente das condições climáticas.
Fatores como o aumento da densidade nutricional da ração e o ajuste na nutrição protéica podem proporcionar também efeitos benéficos, assim como o tipo de dieta fornecida. Kim et al., (2015), citam em estudo que há maior ingestão voluntária de ração de porcas alimentadas com ração líquida do que para porcas alimentadas com ração seca. Também, deve-se levar em consideração o resfriamento da água de beber das fêmeas, o que consequentemente melhora o consumo voluntário de ração.
Em pesquisa realizada por Silva et al., (2021), avaliouse o uso de palatabilizante, visando melhorar o sabor da ração e as propriedades sensoriais da dieta, e como consequência, aumentar o consumo voluntário de ração das porcas. Os autores observaram que o consumo médio diário de ração foi menor durante a estação quente, quando comparado a estação fria (5,56 vs. 6,80 kg).
Adicionalmente, observou-se maior consumo médio diário de ração para os animais que foram alimentados com dieta contendo palatabilizantes quando comparadas com as alimentadas com ração controle (6,42 vs. 5,36 kg/d). Além disso, evidenciou-se no estudo que o padrão de comportamento alimentar durante a estação quente é alterado.
Outro fator a ser levado em consideração além de aspectos nutricionais é o resfriamento do piso em baias maternidade, uma vez que promove melhores condições de bem-estar, pois contribui para redução na frequência respiratória e temperatura da superfície da pele dos animais, além de proporcionar melhor desempenho produtivo e reprodutivo (Parois et al., 2018)
Silva et al. (2006) analisaram os efeitos do resfriamento do piso sob o desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas quando mantidas sob condições de alta temperatura durante o verão. Ao fim, observou-se que fêmeas mantidas em piso resfriado obtiveram maior consumo de ração (6,47 vs. 5,61 kg/dia), promovendo maior produção de leite e melhor desempenho da leitegada, bem como redução na temperatura retal, temperatura superficial e frequência respiratória. Tais resultados também foram evidenciados por Silva et al. (2009) e Cabezón et al. (2017) ao alojarem fêmeas suínas lactantes em instalações com resfriamento do piso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, é visto a necessidade de mais estudos que busquem estratégias nutricionais para diminuir os impactos provocados pelo estresse térmico em fêmeas suínas, permitindo maximizar o potencial genético.
Assim como alterações ambientais devem ser levadas em consideração (controle ambiental das instalações), bem como o manejo adotado nas granjas, pois o fracionamento da dieta seguido de fornecimento em horários mais frescos e em momentos em que a fêmeas naturalmente tem maior predisposição inata para comer podem apresentar resultados positivos para aumentar o consumo voluntário de ração das matrizes.
Estratégias nutricionais para mitigar o estresse térmico em matrizes suínas lactantes
BAIXAR EM PDFnutriNews Brasil 4º Trimestre 2022 | Estratégias nutricionais para mitigar o estresse térmico em matrizes suínas lactantes
A PECUÁRIA COMO AGENTE MITIGADOR DA EMISSÃO DOS GASES DE EFEITO ESTUFA
Gases de efeito estufa e a produção de bovinos
Os gases do efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) são responsáveis por absorver parte da radiação solar irradiada pela superfície terrestre de forma a impedir que todo calor proveniente do sol retorne para o espaço. Essa ação é conhecido como “efeito estufa”.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a temperatura média do ar na superfície terrestre aumentou 1,53°C nos anos 2006-2015 em comparação com os anos de 1850-1900 Ainda, a organização americana constatou um aumento de 0,87°C na temperatura média global.
A pecuária é considerada por muitos uma das responsáveis pelo efeito estufa, apesar das emissões globais de GEE da atividade representarem 14,5% do total das emissões antrópicas (Gerber et al., 2013). Desse total, a emissão de metano pela pecuária contribui isoladamente com cerca de 6% das emissões (Gerber et al., 2013)
Origem do metano ruminal
O CH4 é produzido em todos os ambientes anaeróbicos (muito baixa concentração ou ausência de oxigênio), tais como em áreas alagadas (pântanos, produção de arroz irrigado), sedimentos marinhos e tubo digestivo dos animais.
Nos ambientes anaeróbicos, como o rúmen (compartimento do tubo digestivo de animais ruminantes – bovinos), os componentes da dieta (principalmente carboidratos) são digeridos a seus açúcares (principalmente glicose) fermentados a ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), CO2 e H2 pela ação de micro-organismos.
2
O processo fermentativo produz gás metano (CH ao ambiente por eructação (97%) e flatulência (3%) do animal
Digestão da forragem dependente da ação dos micro-organismos ruminais
Embora se saiba que a bovinocultura contribui para o aumento da concentração de GEE na atmosfera, a atividade pode contribuir para redução a concentração dos GEE. Isso porque o período de permanência do gás metano na atmosfera é inferior a outros gases presente nesse grupo.
A maior concentração de H2 no rúmen pode afetar de maneira negativa a ação digestiva e o crescimento da microbiota. Para reduzir o excesso de hidrogênio no meio ruminal, as Archaea metanogênicas utilizam o H2 como fonte de energia e o converte juntamente com o CO2 a metano.
Fermentação dos carboidratos fibrosos e não fibrosos pela ação dos micro-organismos ruminais. Os carboidratos são convertidos a ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), a principal fonte de energia dos ruminantes
pecuária como agente mitigador da emissão dos gases de efeitos estufa
Os organismos metanogênicos ruminais usam H2 como fonte de energia e reduzem o CO2 a CH4 contribuindo para a máxima eficiência dos eventos que ocorrem no rúmen.
Já a degradação da matéria orgânica (MO) da dieta pelas bactérias, protozoários e fungos, necessita da manutenção de baixas concentrações de H2 para produção de proteína microbiana e AGCC, os quais são a principal fonte de proteína e de energia para o animal. Embora necessária para o ecossistema ruminal, a produção de metano no rúmen representa uma perda de energia da dieta que varia de 4 a 14%. Desta forma, a redução da produção desse GEE pela atividade pecuária é fundamental para melhoria da eficiência de utilização energética da dieta pelos animais. Portanto, a redução de produção de metano no rúmen tem importância de cunho nutricional e ambiental.
Estratégias de mitigação
A produção de ruminantes (especialmente bovinos) no mundo tem papel relevante na contribuição para a mitigação dos GEE, dado o menor período de permanência do CH4 na atmosfera. Além disso, há diversas possibilidades para redução da emissão de metano ruminal, seja do ponto de vista de emissão total (g de CH4/animal/ano) ou em termos de intensidade (g CH4/EB, g CH4/kg de MS ou g CH4/kg de carne ou leite).
Para que ocorra a formação de metano no rúmen é necessário que haja produção de H2 pelos micro-organismos que degradam a matéria orgânica da dieta. A maioria das estratégias de controle de CH4 têm sido voltadas para reduzir a produção de H2.
Desta forma, considerando que a produção de acetato no rúmen gera mais H2 que a produção de propionato, várias estratégias de controle da produção de metano envolvem a redução da produção de acetato e aumento da produção de propionato no ambiente ruminal.
Adicionalmente, o estímulo ao uso do H2 para outros fins (produção de acetato e redução do nitrato e sulfato), bem como a inibição direta dos organismos metanogênicos, tem sido avaliado objetivando mitigar a produção de metano ruminal.
Neste sentido, várias estratégias de controle da produção de CH4 no rúmen se baseiam na alteração da fermentação ruminal através da redução da produção de acetato e aumento da produção de propionato por mol de glicose fermentada, consumo de H2 e da inibição direta dos organismos metanogênicos.
Tecnologias utilizadas para controlar a metanogênese:
Nas últimas décadas, a pecuária nacional passou por profundas transformações, marcadas pela adoção de tecnologias principalmente relacionadas à alimentação como:
Melhoria do manejo do pasto; Estratégias de suplementação de animais em pastejo;
Semi-confinamento e confinamento; Uso de aditivos; Dietas de alto concentrado; Suplementação lipídica; Melhoramento genético dos animais.
Esses fatores indicam que a pecuária brasileira tem potencial para contribuir para a redução da emissão dos GEE, especialmente do metano ruminal.
Algumas dessas estratégias reduzem a emissão de metano enquanto outras reduzem apenas a intensidade.
Pastagens bem manejadas possuem a capacidade de sequestrar e fixar C no solo, contribuindo para diminuir o acúmulo de C na atmosfera e também permitem redução da intensidade de emissão dos GEE através da redução da idade de abate, maior ganho de peso, maior taxa de lotação e consequentemente maior produção por área.
pecuária como agente mitigador da emissão dos gases de efeitos estufa
É necessário destacar que atenção especial deve ser dada aos aditivos que promovem redução da emissão ou intensidade da produção de metano. Isso ocorre pela queda do consumo de matéria seca ou digestão de componentes da dieta, pois a produção reduz o desempenho dos animais.
A pecuária como agente mitigador da emissão dos gases de efeitos estufa
Tabela 1 – Tecnologias utilizadas e seus impactos sobre a redução da produção do metano ruminal
Tecnologia
Emissão/intensidade da produção de metano Fonte
Aumento do consumo de MS -17%2
Arndt et al. (2022) Aumento do consumo de MS +50,5%1 (-12,4 a -37,1%)2 Congio et al. (2021)
Redução da maturidade das gramíneas/ adequado manejo do pasto -13%2 Arndt et al. (2022)
Redução da maturidade das gramíneas/ adequado manejo do pasto -13,8 a -34,8%2 Congio et al. (2021)
Melhor manejo do pasto -9 a -22%1 DeRamos et al. (2003)/Arndt et al. (2022)
Suplementação com concentrado (amido) -12 a -15%2 Congio et al. (2021)
Uso de concentrados -10 a -13%1 Aguerre et al. (2011); McGeough et al. (2010)
Lipídeos -1 a -5%1 Beauchemin et al. (2020)
Lipídeos -12%1 Arndt et al. (2022)
Lipídeos (caroço de algodão) -17,22 Congio et al. (2021)
Monensina -4 a -9%1 McGinn et al. (2004); Odongo et al. (2007)
Monensina -8,8 a -10,1%2 Congio et al. (2021)
Compostos secundários de plantas Até -20%1 Hristov et al. (2013)
Taninos -18%1 Arndt et al. (2022)
Taninos -7,4 a -29,6%2 Congio et al. (2021)
Algas -30%1 Fievez et al. (2007)
Algas vermelhas (Asparagopsis taxiformis) -80%1 Beauchemin et al. (2020)
Nitrato -12 a 16%1 Lee et al. (2017); Van Zijderveld et al. (2011)
Nitrato -12,5%1 Arndt et al. (2022)
Nitrato -20%1 (-14 a -15,3%)2 Congio et al. (2021)
Defaunação -10 a 13%1
Hegarty (1999); Morgavi et al. (2010)
3-nitroxioxipropanol -32%1 Arndt et al. (2022)
3-nitroxioxipropanol -20 a -40%1 Beauchemin et al. (2020)
1redução da emissão (g CH4/animal/dia), 2redução da intensidade (g CH4/kg de produto)
Trimestre
| A pecuária como agente mitigador da emissão dos gases de efeitos estufa
RETROSPECTIVA 2022 E PERSPECTIVAS DO SETOR DE NUTRIÇÃO ANIMAL EM 2023
Com PEDRO VEIGA
Gerente Global de Tecnologia Bovinos de Corte - Cargill Animal
O ano de 2022 foi desafiador para todos os setores da agropecuária, sobretudo na nutrição animal, que representa a maior parte dos custos dentro de todas as culturas. Com uma pandemia ainda em curso, iniciou-se uma guerra que trouxe muitos prejuízos econômicos. Pedro, você pode explicar como isso afetou o setor de nutrição animal em 2022?
Como foi colocado, um ano muito desafiador. Na verdade, todos os anos têm sido desafiadores, cada ano com as suas ocorrências e seus desafios. Tivemos a questão da pandemia e da guerra na Ucrânia, que impactou a logística global de grãos.
A gente sabe que a Ucrânia é um grande produtor de trigo e de milho, principalmente para a Europa, então isso colocou uma pressão muito grande no custo dos grãos e isso impactou de forma importante a margem dos produtores de proteína animal.
Obviamente que produtores de suínos e de aves foram mais impactados, uma vez que são espécies menos flexíveis em relação ao uso de subprodutos, com dietas mais à base de milho e de farelo de soja, com poucos alimentos substitutos podendo ser utilizados. A gente viu uma margem muito estreita e, em alguns momentos, bem negativa, com a indústria suinícola sofrendo bastante com momentos de margem negativa por suíno abatido.
Os ruminantes, bovinos de leite e bovinos de corte, conseguiram navegar um pouco melhor, uma vez que são animais que conseguem utilizar mais subprodutos da agroindústria. Viu-se principalmente em algumas regiões do Mato Grosso, o crescimento na oferta do DDG, um substituto que vem sendo bastante usado, e na região de São Paulo e de Minas Gerais muita utilização de farelo de amendoim.
Eu diria que muitas dietas vêm sendo formuladas, inclusive, sem farelo de soja. O que no animal ruminante é muito possível. Então, foi um ano de realmente colocar à prova todos os conhecimentos de nutrição animal, o momento realmente de ajustar as dietas no máximo possível, chegar no limite em relação a níveis de nutrientes e substituição por ingredientes não tradicionais
Este foi e está sendo ainda um ano realmente de muito desafio, de margem muito apertada. E a nutrição, sendo um item importante da produção animal, corresponde a grande parte do custo de produção.
Tirando o animal em si depois da reposição, dentro da bovinocultura de corte por exemplo, é a nutrição que mais impacta, e a grande vantagem de quem produz carne bovina no Brasil é a de explorar ao máximo o que a gente tem de melhor, que é o pasto.
Confinador já não tem tanta essa oportunidade, porque no confinamento os animais estão fechados, precisamos fornecer uma dieta e não tem como. Mas para quem tem oportunidade de fazer uma recria a pasto, ou mesmo engorda a pasto, foi um ano de tirar o máximo proveito do pasto, uma vez que é onde a produção é mais competitiva em termos de custo e produção pra arroba. Este seria mais ou menos o quadro geral do que a nutrição animal tem passado neste 2022.
Depois desse período conturbado, podemos esperar que a cadeia se normalize em 2023?
Este foi um ano da gente orientar os produtores de que produzir pasto em quantidade, qualidade, investir em fertilidade do solo, em treinamento de mão de obra e em manejo de pastagem é sem dúvida nenhuma uma saída, principalmente em momentos de elevação de preço de insumos como a gente viu agora.
Fazer qualquer previsão futura hoje é muito desafiador. O cenário global é extremamente dinâmico, o tal do “mundovuca” que a gente fala, é extremamente volátil e incerto, então é muito difícil fazermos qualquer previsão.
A gente vai entrar no ano de 2023 ainda nesse ambiente muito desafiador, principalmente para quem trabalha com pecuária de corte: temos visto uma redução gradativa do preço da arroba, a cada semana que passa a arroba cai mais um pouco. É um quadro realmente que requer cuidados, atenção e muita preocupação.
Parte disso é em função do aumento da oferta. A gente tem visto, de fato, um aumento no número de animais abatidos comparativamente ao ano passado. Só que aí entra em jogo, e não tem como não falar disso, a perspectiva, ou seja, o mercado de exportação.
Vai ser um cenário que realmente vai demandar do produtor muito profissionalismo na gestão, e não dá mais pra gente ter gestão amadora em alguns negócios. Principalmente na pecuária a gente ainda vê muita gestão amadora, muito amadorismo e a gente precisa avançar nesse sentido, buscar uma gestão muito mais profissional.
Inclusive, há algumas semanas tivemos o SIAL em Paris, onde vários exportadores estiveram presentes e a retórica é a mesma: o comprador pressionando muito por preço, o mundo entrando em um cenário de recessão global – e essa é a grande preocupação de todo mundo – a China renegociando contratos e colocando pressão baixista em volume e preço, junto com o mercado interno que não decola.
Precisamos ver depois das eleições qual quadro vai se desenhar, pois há muito investimento represado, parado, em função da incerteza quanto à eleição, mas vai ser um ano também que vai ser desafiador, não tenho dúvida disso.
O cenário de oferta de grãos não vai ser dos melhores. A gente tem visto uma redução da área plantada e da produtividade de milho nos Estados Unidos, que são os maiores produtores mundiais do grão, então muita coisa do que acontece lá impacta no mercado global.
Então com redução de produção, redução de área, essa questão da exportação da Ucrânia, que pareceu que ia melhorar um pouco, mas voltou a ficar mais cinzento em função das instabilidades lá na Rússia, isso vai colocar uma pressão principalmente no mercado de
É o momento, como eu disse antes, de usar e abusar dos conhecimentos em nutrição para tentar obter melhor margem. E o cenário ele é de fato desafiador, ele requer muito profissionalismo como eu disse, muita técnica, muita visão de mercado de curto, médio e longo prazo.
A gente dispõe de algumas ferramentas que podem até nos ajudar, como o mercado futuro: temos pecuaristas que negociaram a arroba do boi gordo a R$ 320,00 e R$ 325,00 no mercado futuro. Então enquanto a grande maioria está arrancando cabelo por aí desesperado, sem saber como é que vai ser, essa turma está tranquila porque mitigou o mercado, mitigou risco através de uma ferramenta que está aí pra todo mundo usar.
Acredito que 2023, resumindo a pergunta, vai continuar sendo desafiador, vai requerer muito profissionalismo na gestão, muito olho no mercado e muita técnica (agora aqui falando em nutrição) para gente poder utilizar os ingredientes disponíveis da melhor maneira possível, para tentarmos reduzir esse custo que acreditamos que ainda vai continuar alto no ano que vem.
Você disse que é muito difícil prever alguma coisa agora, mas quais desafios a gente pode dizer que aguardam a cadeia de nutrição animal em 2023?
O desafio de mercado, esse é o primeiro ponto. Como eu disse, o mundo está em um cenário de recessão global, de inflação. A Europa está convivendo com a inflação, Estados Unidos estão convivendo com a inflação e até então eles não tinham essa experiência.
Eu estive na Europa umas semanas atrás e a conversa é justamente essa porque nós brasileiros, queiramos ou não, passamos pela inflação já no passado, a gente tem um pouco no nosso DNA e na nossa história convívio com inflação, e o europeu não. Então quando a inflação estoura lá eles realmente entram em pânico, portanto vai ser um mercado difícil no ponto de vista da demanda.
Mas por outro lado, como eu disse, principalmente na pecuária, existe muita oportunidade pra gente poder tornar a gestão mais profissional, melhorar a produção de pastos. Se a gente olhar, quase todo trabalho que a gente lê sobre forragicultura geralmente a introdução cita que 50%, 60% dos pastos brasileiros são degradados. Existe uma oportunidade aí, da gente melhorar e ser mais eficientes na produção a pasto, o que vai conseguir produzir uma arroba eficiente.
E nós temos um cenário também muito favorável à reposição. Como eu disse, embora o preço do boi esteja caindo a patamares bem preocupantes, a reposição também seguiu o mesmo patamar e isso coloca pressão no pecuarista da cria, sem dúvida nenhuma. Ele vem de dois, três anos de cria valorizada e agora entra num momento de virada de ciclo, então o bezerro perdeu sustentação. Hoje a gente consegue repor de uma forma bem mais interessante.
Então acho que esse vai ser o quadro se a gente puder traçar, sem querer sair muito da linha. Como eu disse é muito difícil e muito imprevisível, mas acho que esses são os desafios que nós vamos encontrar no próximo ano.
O mercado interno também está bem enfraquecido, a gente precisa entender um pouco mais como vai ser o cenário pós-eleição, se há alguma perspectiva de crescimento econômico do país. A gente sabe que no Brasil, o nosso grande mercado é o interno, por mais que exportemos pra vários países ao redor do mundo, o mercado interno ainda é o nosso grande mercado e o brasileiro perdeu o poder de compra, isso é indiscutível. Se comparamos a inflação que a gente viu em vários setores e o salário mínimo, o salário médio não cresceu na mesma proporção, então poder de compra do brasileiro está pressionado e isso limita um pouco também questão de mercado.
Na disponibilidade de grãos, vamos ter uma disponibilidade apertada. O Brasil com esse cenário de dólar forte e demanda aquecida no mercado, vai exportar mais. O que temos é um cenário exportador: reduz a oferta no mercado interno e o preço sobe. Teremos que lidar com essas dificuldades de mercado, essa dificuldade de disponibilidade e preço de insumo.
Durante esse período, como já citado, houve a busca por ingredientes alternativos aos comumente utilizados, como DDGS, resíduo de indústria de alimentação humana, bem como substitutos para os grãos convencionais (como o sorgo substituindo o milho). Diante disso, há alimentos alternativos que tiveram tanto sucesso que vieram para ficar na nutrição animal?
Sem dúvida nenhuma! Acho que o exemplo mais clássico do Brasil recente são os subprodutos da indústria do etanol de milho e etanol de cereais, o DDGS, o WDG e a fibra do milho. Eu acho que é importante deixar claro aqui que quando a gente fala de DDGS, parece que é um alimento só, e na verdade não é.
Dependendo da tecnologia que a indústria usa para poder extrair o etanol dos grãos, os subprodutos mudam também de característica nutricional, então temos:
O DDGS clássico;
O DDB, que é a fibra do milho e
O DDG de alta proteína; Mas são todos alimentos que entraram super bem nas dietas. Tem também o WDG, que é úmido e que é um pouco mais restrito para quem está em volta das plantas de produção, mas ele também se consolidou no Brasil.
Eu acho que no início, lá atrás quando começou, quatro anos atrás, houve um certo ceticismo de produtores e de técnicos, mas mais por falta de conhecimento. Mas esse conhecimento hoje é global, os Estados Unidos, por exemplo, utilizavam e utilizam o DDG desde 2003 então tem muita informação disponível, muita literatura científica. A gente se baseou muito nisso pra acalmar os nossos clientes, principalmente, mostrando que poderiam utilizar sim e que era um ingrediente interessante. Tanto é que hoje já é utilizado no Brasil inteiro.
Um outro grão interessante que está em uma localização e utilização um pouco mais local e que eu tenho visto, é o milheto. Uma planta extremamente rústica que tem sido utilizada para recuperação e formação de pastagem principalmente na região do Mato Grosso do Sul, numa região difícil. Se pegar a região de Três Lagoas, Água Clara, Paraíso das Águas, é uma região de fertilidade solo complicada e níveis de argila baixo e muita areia.
Ele tem sido utilizado como uma forma de reforma de pastagem, com a produção interessante de grãos. Então começamos a ver o milheto sendo utilizado de uma forma um pouco mais expressiva. Tem o desafio da moagem, como é um grão muito pequenininho, o rendimento de moagem dele é mais baixo.
E a gente começa a ver coisas até inovadoras como produzir milheto reidratado, que é algo que até então na literatura, se você for buscar isso você não encontra. Inclusive é uma tendência, voltando à pergunta anterior, melhorar o processamento de grãos, principalmente pro animal ruminante no Brasil.
Nós sabemos que só a moagem não consegue extrair o máximo do amido dos grãos, então temos visto um crescimento muito grande na busca por formas mais eficientes de processamento e aqui eu destaco:
A reidratação;
O grão úmido;
A floculação, em menor intensidade por conta do custo, dificuldade de manutenção de equipamentos e tudo mais, e
E temos os mais clássicos. Embora com uma dificuldade um pouco mais alta, a polpa cítrica está em um cenário interessante de preço hoje, por mais que seja uma oferta muito sazonal em função da safra da laranja, para quem está próximo e para quem pode utilizar é interessante. Tem o desafio do armazenamento, porque a polpa cítrica, se ela umedecer, corre o risco de haver combustão e pegar fogo, isso aconteceu e acontece.
Os próprios produtos do algodão: a torta e o caroço. O gérmen de milho é uma oportunidade também interessante, a gente tem visto gérmen de milho em situações de preço bastante bons hoje. O farelo de amendoim para quem está na região de São Paulo e Minas Gerais, também.
DDGS Entrevista
O Snaplage: que é uma forma de colher o grão num ponto em que se maximiza o uso do amido.
Como eu citei, com aumento da demanda, vários projetos têm investido em estruturas de processamento mais avançadas pra gente poder extrair ao máximo o amido presente no grão,
Resíduos
da alimentação humana
cítrica
e caroço de algodão Gérmen de milho Farelo de amendoim
Poderia discorrer para gente um pouquinho mais sobre as vantagens de algum desses subprodutos?
Primeira coisa que eu diria é que a vantagem tem que ser econômica. Eu sempre falo que por mais que a gente tenha que saber e ter conhecimento técnico da utilização desses subprodutos, em relação ao seu perfil nutricional e de possíveis fatores antinutricionais, a gente precisa, antes de mais nada, ter custo-benefício com a sua utilização.
Então eu diria que a grande vantagem é diminuirmos um pouco a dependência de grãos tradicionais como o milho e o farelo de soja, termos mais flexibilidade em formulação de dietas e como eu disse antes, é o momento de a gente desafiar o status quo, o conhecimento que existe até então.
Temos visto resultados muito interessantes, dando alguns exemplos, com clientes em Goiás, que alguns técnicos tem desafiado muito a questão do gérmen de milho. É uma região onde tem um gérmen barato e vemos inclusões na dieta de gérmen de milho muito além do que seria o tradicional e com resultados muito interessantes, inclusive.
Farelo de glúten, é também um outro exemplo. Às vezes aparecem algumas recomendações que parecem que estão escritas em pedra, mas a gente precisa sempre questionar, principalmente nessa situação desafiadora como está.
Então, se há uma oportunidade econômica, por que não? Mesmo que a gente perca um pouco no desempenho zootécnico. Eu costumo falar muito que o ótimo técnico não é o ótimo econômico, então às vezes eu posso até abrir mão de perder um pouco o ganho de peso, piorar um pouco a conversão, mas se no final o custo da unidade produzida daquela proteína for mais econômico e trouxer mais dinheiro, qual o problema? Eu não vejo nenhum problema quanto a isso.
Os ruminantes são mais flexíveis quanto a isso e como eu disse, animal monogástrico bem menos. Por exemplo, o DDG ou WDG, temos situações em que se tem utilizado em 55% da matéria seca da dieta, o subproduto do etanol de milho. Ao passo que o monogástrico já não pode ter essa oportunidade, em função das diferenças fisiológicas e anatômicas.
Obviamente que a gente precisa tomar bastante cuidado em relação a alguns outros pontos, como:
Níveis de micotoxina em alguns subprodutos, principalmente no farelo de amendoim;
A logística, que muitas vezes a gente vai usar um subproduto, mas quando vemos a oferta dele é muito restrita, então você vai ter que ficar alterando a dieta com mais frequência e isso não é bom, principalmente para o boi e para a vaca, que gostam de uma dieta mais padronizada;
E riscos de entrar no mercado, obviamente um mercado interessante, e vários outros agentes entrarem junto e você perder competitividade em preço.
Então eu diria que esses são os principais cuidados e claro, algo que a gente aqui não abre mão, é conhecer profundamente sobre cada um desses alimentos em relação aos nutrientes que eles podem entregar pro seu animal. Esse conhecimento hoje é mais do que fundamental, porque como eu disse, a gente precisa extrair ao máximo o que esses alimentos têm a oferecer, uma vez que a gente está pagando um preço mais alto e a margem está apertada.
Vai ser um ano também, 2023, que a gente não pode de forma alguma aceitar desperdício. Temos que ser extremamente eficientes na alimentação dos animais.
Entrando um pouquinho na parte de processamentos, a pouco tempo tivemos casos de contaminação de lotes de alimentos para cães, que foi de grande repercussão em todo o país. Diante da gravidade de casos como estes, como as boas práticas de fabricação, as BPF’s, dentro das fábricas de ração podem impedir a contaminação dos animais de produção?
Boa prática de fabricação, é obrigação, principalmente para quem tem fábrica de alimento. A gente não pode negligenciar de forma alguma as boas práticas, elas são fundamentais, e eu estendo não só para as fábricas de produção animal, mas para as fazendas que utilizam fábrica de uso próprio.
A gente precisa garantir, antes de mais nada, segurança alimentar pro nosso cliente final. E como dito muito bem, casos como esses que aconteceram na indústria pet arranham a imagem do nosso negócio.
A produção animal já tem sido contestada por várias questões nos últimos anos: a questão ambiental principalmente, os ruminantes principalmente com a questão de emissão de metano, então a gente não pode dar brecha para sermos questionados.
BPF eu diria que é obrigação para as indústrias e para as fábricas de ração, para poder minimizar o risco de qualquer problema. Obviamente que não estamos isentos de acontecer algo como aconteceu, mas a gente precisa minimizar esse risco, mitigar ao máximo o risco para que possamos entregar antes de mais nada segurança alimentar. E segurança alimentar é inegociável.
A gente precisa de fato garantir segurança alimentar para o nosso cliente, que é o animal que vai consumir aquele alimento, no caso que vão produzir uma proteína animal pra consumo humano (animais de produção) e os nossos pets. Enfim, boa prática é obrigação e é inegociável, a gente precisa avançar nisso.
Há perspectiva de crescimento para o setor de rações no próximo ano?
É difícil prever, mas a gente acredita que sim, um crescimento talvez não tão alto como esperaríamos, mas é um mercado potencial muito grande.
Como eu disse, o mercado brasileiro sempre vai ser um mercado interessante, de grande potencial, se a gente tiver uma política econômica que garanta estabilidade ao país, que a gente possa ter crescimento econômico.
Eu sou muito favorável e positivo de que a gente vai aumentar o consumo. O consumo de carne bovina, só pra gente ter ideia, está no menor nível dos últimos vinte anos, o consumo de carne bovina no Brasil já foi de cerca de 30 a 37 Kg per capita e hoje a gente está num nível de 24 a 25 Kg per capita.
Se a gente recuperar esse nível que já tivemos, isso já vai jogar muita gente no mercado e vai fazer uma pressão de demanda, e essa pressão de demanda pode ajudar a sustentar e melhorar
Embora o mercado esteja retraindo hoje, se pegarmos por exemplo os dados da ASBRAM (Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais) de suplementação mineral, a gente vê uma retração do mercado hoje na ordem de 4 a 6%, ou seja, o mercado está caindo em função de todo esse cenário que a gente traçou.
A gente acredita que esse mercado pode recuperar. Claro, vai depender da situação de mercado, mas há uma perspectiva de crescimento, um crescimento na casa de 1 dígito só, mas é um mercado que tem potencial.
E de novo: precisamos arrumar a casa e sermos mais profissionais, para quando o mercado voltar a ser mais favorável, estarmos preparados para aproveitarmos as oportunidades que com certeza vão surgir.
Retrospectiva 2022 e perspectivas do setor de nutrição animal em 2023 BAIXAR EM PDF
O PLANEJAMENTO E MANEJO COMO ARMA PARA EFICIÊNCIA NUTRICIONAL
NA PISCICULTURA
OBrasil apresenta um grande potencial para o desenvolvimento da aquicultura. A disponibilidade de recursos hídricos, o clima extremamente favorável e a crescente demanda por pescado no mercado interno têm contribuído para impulsionar a atividade.
A piscicultura é uma atividade de produção de peixes, e como em qualquer outra atividade zootécnica, realizar um bom planejamento é de fundamental importância para se obter bons resultados produtivos e atingir o principal objetivo que é obter lucros com a atividade.
A eficiência nutricional da produção comercial começa no planejamento, uma vez que cerca de 60 a 80% dos custos da atividade aquícola se devem aos gastos com alimentação. Além disso, a nutrição e o manejo alimentar (taxa de arraçoamento e frequência alimentar) dos peixes estão diretamente associados com:
O crescimento;
A taxa de conversão alimentar;
A qualidade de água;
A saúde;
Resistência à doenças e à tolerância ao manuseio;
A qualidade da carne e o rendimento de carcaça dos animais.
Para se obter uma boa eficiência nutricional alguns fatores devem ser levados em consideração, como a espécie alvo e sua fase de desenvolvimento, o sistema de produção, e a qualidade da ração.
Manejo alimentarNo caso de reprodutores, a nutrição e alimentação impactam tanto na quantidade de ovos produzidos quanto na qualidade das larvas. Desse modo, o bom manejo alimentar e nutricional são fatores fundamentais para o sucesso na criação comercial e lucratividade na piscicultura.
As diversas espécies de peixes possuem necessidades nutricionais diferentes e informações sobre o seu hábito alimentar (se a espécie é carnívora, herbívora ou onívora); seu comportamento em cativeiro (se são animais de fundo, por exemplo); posicionamento da boca e constituição do aparelho branquial (arcos branquiais mais abertos ou fechados nos dizem se as espécies possuem capacidade de filtração) são de grande utilidade no estabelecimento de planos nutricionais e alimentares, pois evita desperdícios de alimento e descontrole com os custos da produção.
manejo como arma para eficiência nutricional na piscicultura
Manejo alimentar
Em relação à fase de desenvolvimento, peixes nas fases iniciais – alevinos e juvenis – possuem altas taxas metabólica e de crescimento, necessitando de alimentos com maiores taxas proteicas e de energia, bem como maiores taxas de arraçoamento e de frequência alimentar, quando comparados aos peixes na fase final de engorda.
Normalmente, o número de vezes que os peixes devem ser alimentados é maior nas primeiras fases de vida. Durante a larvicultura é comum o alimento ser fornecido cinco a oito vezes ao dia. Na fase de alevinagem, essa frequência cai para duas ou três vezes ao dia e na engorda para uma ou duas vezes ao dia. Peixes carnívoros, geralmente, só voltam a se alimentar depois de digerir sua refeição anterior. Por isso, fornecer alimentos duas vezes ao dia é o suficiente. Já as tilápias aceitam bem três refeições por dia.
A adoção de um manejo alimentar correto à espécie cultivada e ao tipo de sistema produtivo contribuirá diretamente para prevenir e reduzir qualquer impacto negativo, como problemas de desuniformidade do lote de peixes e piores taxas de conversão alimentar.
A produção de peixes no Brasil é realizada principalmente em sistemas semi-intensivos e intensivos. Normalmente em sistemas semiintensivos, a alimentação primária de plânctons (fito e zooplânctons) é utilizada como alimentação suplementar. Dessa forma o produtor consegue amenizar os gastos com a ração. Peixes filtradores, como as tilápias e carpas, por exemplo, são espécies que conseguem aproveitar bem essa alimentação primária suplementar. Já nos sistemas intensivos de produção, a alimentação dos peixes é feita exclusivamente com rações comerciais.
O excesso de ração, além de significar desperdício e de prejudicar a qualidade de água, poderá fazer com que aumente a quantidade de gordura do peixe e piore o seu sabor. Ou seja, alimentar em excesso significa prejuízos ao piscicultor.
Uma dica importante para que os peixes aproveitem ao máximo a ração fornecida é observar as condições de qualidade de água e condições climáticas. Baixas concentrações de oxigênio dissolvido e concentrações altas de amônia na água fazem com que os peixes tenham apetite reduzido e diminuam a capacidade de aproveitamento da ração.
Em relação às condições climáticas, como os peixes são pecilotérmicos, ou seja, não têm a capacidade de regular a temperatura corporal, quando a água esfria, seu metabolismo reduz, e quando a temperatura está alta demais, os animais entram em estresse, levando em ambas as situações, à baixa ingestão de alimentos.
Assim, sempre que a temperatura da água estiver baixa ou alta, é recomendado reduzir ou suspender o fornecimento de ração para evitar desperdícios.
A utilização de rações de boa qualidade é sempre importante para se obter uma eficiência nutricional e alcançar o melhor desempenho dos peixes, com o mínimo necessário de ração adequada para assegurar o resultado econômico, preservando a qualidade da água e o bem-estar para os peixes.
CARACTERÍSTICAS DE UMA RAÇÃO AQUÍCOLA DE BOA QUALIDADE
Estabilidade e flutuação da água
Alta digestibilidade
Níveis de nutrientes adequados às espécies cultivadas
Porcentagens adequadas de fósforo e nitrogênio
Boa Palatabilidade
Manejo alimentarO uso de rações de baixa qualidade prejudica diretamente a qualidade da água causando estresse aos peixes e redução da resistência a patógenos e à doenças.
planejamento e manejo como arma para eficiência nutricional na piscicultura
É um grande erro achar que usar alimentos baratos irá obrigatoriamente reduzir o custo de produção e aumentar os lucros do produtor. Se a ração for de má qualidade, o produtor terá que utilizar uma quantidade maior que usaria se utilizasse um produto de melhor qualidade. E, mesmo fornecendo mais ração, não há nenhuma garantia de que será possível conseguir um bom desempenho e saúde dos peixes com essas rações.
Manejo alimentar
Um bom planejamento na hora da compra da ração é sempre uma boa estratégia, pois quanto maior a compra, maiores as chances de um preço melhor. Para isso, é necessário verificar se haverá espaço suficiente para armazenamento dessa ração e para que esta não fique armazenada por um tempo muito prolongado.
Outro manejo considerado simples, mas importante na produção de peixes é o fornecimento da ração. Preferencialmente, a ração deve ser espalhada por todo o viveiro, nunca concentrada em apenas um ou dois pontos. Pois, ao espalhar a ração, o piscicultor aumenta a chance de que todos os peixes tenham acesso a ela e não apenas os dominantes e maiores, como ocorre quando a ração é colocada em poucos pontos do tanque.
A estocagem correta das rações extremamente importante para a conservação de suas características nutricionais, uma vez que umidade excessiva, incidência solar direta e contaminações por microrganismos e/ou insetos comumente levam à perdas consideráveis das propriedades de seus ingredientes. O tempo que esta ração irá permanecer armazenada também deve ser observado para que não ultrapasse 90 dias.
Os principais pontos críticos da nutrição de peixes incluem o conhecimento das exigências nutricionais, da composição dos alimentos e do consumo de ração. Assim, a utilização de alimentos adequados, em quantidade e em qualidade, é fundamental para o sucesso da piscicultura.
Um caso de sucesso é o ocorrido em uma piscicultura no Estado do Espírito Santo, onde foi alcançada uma redução de 40% na conversão alimentar (de 1.6 para 1.08) através de um bom planejamento e manejo alimentar, do sistema de produção e da qualidade de água, fazendo com que o proprietário tivesse uma boa economia no final do ciclo de produção.
Por isso, realizar um bom planejamento e ter um manejo alimentar adequado em uma piscicultura fará o produtor alcançar ótimos resultados financeiros.
O planejamento e manejo como arma para eficiência nutricional na piscicultura BAIXAR EM PDF
NUTRACÊUTICOS NA DIETA DE CÃES E GATOS
Cristina M. L. Sá-Fortes1 e Mel Suzane Santos Marques2 1Professora do curso de Zootecnia da UFMG 2Estudante de graduação em Zootecnia da UFMG
Nutrir adequadamente o cão e o gato é a base para uma vida saudável e longeva. Para atender essa premissa, os nutricionistas desenvolvem dietas a partir de dados de exigências nutricionais em aminoácidos, ácidos graxos, minerais e vitaminas, relacionados à necessidade energética nas diversas fases fisiológicas e recomendadas nas diferentes bases de dados das diretrizes nutricionais para cães e gatos, como: FEDIAF, NRC ou AAFCO.
Os nutrientes exigidos são encontrados nos ingredientes e sua disponibilidade está relacionada com a digestibilidade da matéria-prima, que pode ser influenciada por: Fatores antinutricionais; Níveis e tipos de fibras; Qualidade do processamento da dieta; Saúde intestinal e dentre outros fatores.
Nutracêuticos
O conhecimento e aplicação dessa base nutricional é essencial. No entanto, com o mapeamento genético foi possível ter acesso a novas informações relacionadas à comunicação entre os compostos dos ingredientes e os genes, surgindo a genômica nutricional, que através da nutrigenômica avalia os efeitos dos nutrientes e componentes bioativos da dieta na expressão dos genes e, a partir da nutrigenética, são estudados os efeitos da variação genética do indivíduo na resposta à dieta.
A compreensão da interação gene/ nutriente é importante para o suporte nutricional de cães e gatos, pois nutrientes e compostos bioativos e fitoquímicos podem modificar o fenótipo do animal em função da modulação da expressão gênica.
Compreender essas interações dos nutrientes de forma direta no gene ou através de relações epigenéticas permite selecionar quais componentes nutricionais são mais benéficos para a saúde do animal e com isso, transformar o modelo de desenvolvimento das dietas através do equilíbrio do indivíduo como um todo, reduzindo o risco de doenças.
Dentre as doenças, algumas serão mais beneficiadas com os estudos em nutrigenômica, como as crônicas degenerativas relacionadas ao estresse oxidativo, as inflamações crônicas e o desequilíbrio do sistema endocanabinóide e metabólico.
O padrão de vida dos cães e gatos na sociedade atual é completamente diferente de algumas poucas décadas atrás. Muitos realizam pouca ou nenhuma atividade física, ficam muitas horas sem ter o que fazer e em pequenos espaços, sofrem de ansiedade de separação e muitos tutores possuem extrema dificuldade em compreender que as necessidades comportamentais e nutricionais dos cães e gatos são diferentes dos seres humanos, tornando o ambiente em que eles vivem estressante
Alimentos funcionais são aqueles que devem apresentar compostos bioativos ou fitoquímicos, e propriedades benéficas além das nutricionais básicas, e os nutracêuticos são os compostos bioativos isolados e em uma forma concentrada, superior ao presente em alimentos.
Ambos podem gerar benefícios nas funções orgânicas do corpo do cão e do gato, reduzindo o risco de doenças e, no caso dos nutracêuticos, como adjuvante no tratamento.
Mudar a dieta por um perfil individual é promissor, mas também é necessária uma mudança no estilo de vida desses animais, pois o ambiente como um todo pode modular a expressão gênica.
O componente alimentação contribui com um grande percentual para modular a saúde do animal, fundamental quando se verifica que a expectativa de vida de cães e gatos dobrou nos últimos anos e a utilização de componentes dietéticos como alimentos funcionais e nutracêuticos podem contribuir com um envelhecimento saudável.
Historicamente, o Japão foi o responsável na década de 80 pela introdução desses conceitos de funcionalidade dos alimentos e, em 1990, foram criados os alimentos denominados Foods for Specified Health Use (FOSHU) que tinham como objetivo promover saúde para a população (Anjo, 2004)
COMPOSTOS E AÇÕES DOS NUTRACÊUTICOS ANTIOXIDANTES
Os radicais livres são produzidos no funcionamento normal do organismo nas diversas reações metabólicas e em resposta a agentes estressores químicos ou biológicos, através das ações de defesa.
As espécies reativas de oxigênio do radical livre são muito instáveis devido à forma ímpar de seus elétrons, que necessitam doar ou capturar novos para chegarem a seu equilíbrio, e nesta ação danificam as proteínas, DNA e células.
Estes precisam ser neutralizados para que não ocorra destruição ou perda da função celular e dos tecidos, e para isto, os sistemas antioxidantes estão em constante atuação. No entanto, em função do desafio e de sua constância, o sistema oxidante pode não ser suficiente e o estresse oxidativo é instalado e, como consequência, o envelhecimento precoce (Eirmann, 2017).
A suplementação de antioxidantes pode ser realizada com:
Vitaminas E e C; Carotenóides como o licopeno, astaxantina e beta-caroteno (Beynen, 2019);
Microminerais: selênio, zinco e manganês, que participam da formação de enzimas antioxidantes como superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase;
Os flavonóides que são compostos fenólicos, como a quercetina, o ácido caféico, ácido gálico, ácido elágico e curcumina, que sequestram os radicais livres e inibem a peroxidação lipídica.
A utilização de nutracêuticos antioxidantes podem auxiliar o organismo no combate aos radicais livres reduzindo os efeitos deletérios no organismo dos cães e gatos.
Importante ressaltar que muitos dos compostos citados podem desenvolver outras ações além das de antioxidantes, como efeitos protetores nos sistemas renal, cardiovascular e hepático, além de ações anti-inflamatórias e anticarcinogênicas (Dornas et. al., 2007).
ÁCIDOS GRAXOS POLIINSATURADOS E ÔMEGA 3
São encontrados em peixes marinhos de água fria e considerados nutrientes essenciais (NRC, 2006). A partir do ácido graxo alfa-linolênico e ações de enzimas dessaturase e elongase são sintetizados os ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA).
No entanto, em cães essa ação é limitada e em gatos não ocorre, havendo a necessidade de suplementação dessas moléculas para que tenhamos as ações fisiológicas de sinalização das células, fluidez e integridade de membrana celular (Calder, 2008).
PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS
São utilizados com objetivo de auxiliarem na modulação da microbiota intestinal, melhorando o perfil dos microrganismos desejáveis e controlando aqueles com potencial patogênico.
Os probióticos são os microrganismos vivos que quando suplementados contribuem para o reestabelecimento ou manutenção da eubiose da microbiota. Já os prebióticos são em sua maioria oligossacarídeos não digeríveis, mas fermentáveis pelos microrganismos desejáveis que melhoram o equilíbrio da população destes, em detrimento aos patogênicos e a produção de ácidos graxos de cadeia curta, sendo necessários para manutenção das células intestinais e servindo como substrato para o crescimento da microbiota saudável.
São diversas as ações da família ômega 3, dentre elas podemos citar:
A modulação do processo inflamatório através da síntese de citocinas antiinflamatórias (Calder, 2012);
Ações cardioprotetoras, neurológicas e nos processos alérgicos; Prevenção ao câncer; Melhora da função renal; Saúde da pele e pelagens e dentre outras.
Os principais prebióticos utilizados na suplementação de cães e gatos são os frutoligossacarídeos, mananoligossacarídeos, β-glucanos e inulina.
Nutracêuticos
A microbiota do cão e do gato é específica de cada indivíduo. Sabe-se que os filos em cães são em maiores percentuais para Firmicutes, e em seguida para Proteobacteria, Fusobacteria, Bacteroidetes, e Actinobacteria, respectivamente. Entretanto, fatores como estilo de vida, dieta, genética e fase fisiológica podem afetar as características dessas populações.
A importância do equilíbrio da microbiota está associada à manutenção da saúde pois permite a manutenção da integridade da membrana intestinal, fundamental para seletividade e para o fortalecimento do sistema imunológico (Zapatera et. al., 2015).
Com relação à modulação do sistema imune com estímulo da imunidade celular e humoral, os β-glucanos se destacam, reduzindo a resposta inflamatória e com ações antibacteriana, antitumoral e antiviral (Vannucci & Vetvicka, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de nutracêuticos em cães e gatos está em crescimento e alguns estudos demonstram benefícios à saúde quando associados à dietas bem formuladas, podendo ser utilizados como adjuvante de tratamentos ou para a prevenção de doenças.
Há, no entanto, pouca informação científica específica de espécies, tendo-se necessidade de mais esclarecimentos sobre dose e eficácia para cães e gatos.
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