Reflexos do mundo: Na Luta

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REFLEXOS DO MUNDO

NA LUTA

tradução Scheibe & Castro

Toulmé
Fabien

Seja a mudança que você quer ver no mundo.

Prefácio

A história em quadrinhos que você está prestes a ler (a menos que a feche imediatamente após a leitura destas poucas linhas, o que seria uma pena e me entristeceria profundamente!) nasceu da minha vontade de fazer reportagem de campo, para ver como as pessoas vivem nos quatro cantos do planeta, para ouvir suas histórias, entender o que as impulsiona e, por extensão, talvez, o que constitui o nosso mundo.

Porque este é o cerne deste livro e, de certa forma, a magia desses encontros: falando de casos particulares, apesar das especificidades próprias de cada indivíduo e de cada país, chegamos a entender algo mais global e, assim, a nos compreender melhor a nós mesmos.

Para esta primeira coletânea (que certamente terá continuações, sobre outros temas), me interessei pelas lutas: lutas cidadãs, aquelas travadas pelos povos, bairros, indivíduos, tendo como ponto comum a reivindicação de mais direitos e a resistência militante a diversas formas de opressão.

A escolha dessa temática resulta tanto do contexto quanto do acaso (é, muitas vezes, assim que ocorrem os encontros mais interessantes, dizem).

No que diz respeito ao contexto, a nossa época é atravessada há alguns anos por uma onda de revoltas populares que fez com que eu me interrogasse sobre o “porquê”, o “como” e o “quem”.

E quanto ao acaso, me vi, sem ter previsto isto, no Líbano no início da “Thawra” (a revolução). O destino provavelmente estava me dizendo: “Aí está, Fabien, no que você vai trabalhar nos próximos meses!”.

Aceitei a “missão” e me empenhei nela.

Você verá: como muitas vezes na vida, nem tudo aconteceu como planejado. Descobertas e encontros guiaram a forma como construí este álbum. Sem falar de uma pandemia que veio perturbar um pouco meus planos (você deve ter ouvido falar dela).

O que não mudou, porém, em relação à ideia que eu tinha dessa história, é a forma como eu queria contar as coisas, a sinceridade do assunto e a fidelidade ao que vi e ouvi.

Dito isso, desejo-lhe uma boa leitura.

12 de novembro de 2019.

Esta história poderia ter se resumido a uma crônica banal sobre uma feira do livro e um festival de quadrinhos.

Mas, se fosse assim, eu não a teria contado a vocês.

Sobretudo porque a tal feira do livro acabou não acontecendo, e o festival de quadrinhos estava apenas em preparação.

Portanto, não haveria realmente nada para contar.

Em vez disso, houve a Thawra...

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Thawra: a revolução libanesa

No momento, estou num avião cerca de 11.000 metros acima da Turquia...

é complexo.

Comigo estão Mathieu

Diez, diretor do festival de quadrinhos de Lyon.

sSim, complicado.

ROOONC!

Estamos tentando entender o que está acontecendo neste momento em Beirute, nosso destino.

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E Nicolas Wild, quadrinista. fFoi mal, tô com fome.
ROONC !

Manifestações agitam o Líbano há quase um mês.

O país está completamente paralisado, e a feira do livro de que devíamos participar foi cancelada há apenas alguns dias.

Apesar de tudo, mantivemos nossa viagem tanto para a preparação de um próximo festival de HQ em Beirute (especialmente o Mathieu) quanto para entender o que está acontecendo lá neste momento.

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Como vou ter tempo livre, me ocorreu que eu poderia aproveitar para contar isso de uma perspectiva humana.

Lembro que, no colégio, eu tinha um professor de Geografia e História apaixonado por seu trabalho.

é preciso entender, meus jovens, que naquela época a alemanha estava literalmente dividida em duas! os alemães do oeste não podiam ir para o leste, e vice-versa!

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Prof. Guilledou.

Ele viajava aos quatro cantos do globo para viver os acontecimentos históricos e poder ensiná-los de maneira palpável aos seus alunos.

em 1989, quando o muro de berlim caiu, foi incrível. havia cenas de alegria, um bocado de emoção também.

Ainda não sei se o que está acontecendo no Líbano pode ser qualificado de acontecimento histórico, o futuro nos dirá.

dava pra sentir um vento de liberdade e de esperança que invadia todo um país.

festas espontâneas aconteceram um pouco em toda parte, o violoncelista mstislav rostropovitch deu um recital diante do muro...

Essa me parece ser a melhor forma de sentir e reconstituir as coisas.

O que é certo é que isso parece estar longe de ser apenas episódico.

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Vista a partir da França e depois com a leitura do

jornal, foi isso o que entendi da situação libanesa:

As manifestações começaram em 17 de outubro de 2019, após o anúncio pelo governo da instauração de uma taxa a ser cobrada sobre as ligações efetuadas via WhatsApp para repor os fundos do Estado.

Para além dessa “taxa do Whatsapp”, essa insurreição parece ser, sobretudo, a consequência de uma irritação geral dos libaneses com a classe dominante.

Gangrenada pela corrupção, esta é incapaz de reerguer o país atolado numa crise econômica persistente.

*128 deputados que não passam de um bando de ladrões.

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Vi, nas mídias francesas, muitas imagens e comentários que descreviam essas manifestações como sendo bemcomportadas.

Em que canções infantis eram entoadas nas marchas.

Em que manifestantes tiravam selfies com os militares...

Mas também tive parentes e amigos que ficaram preocupados em me ver partir para o Líbano neste momento.

imagina se o exército começa a atirar na multidão, como na síria.

nunca se sabe o que pode acontecer.

Como sempre, as coisas devem ter muito mais nuances do que a gente imagina (ou do que nos dizem).

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Esta história em quadrinhos não poderia ter vindo à luz sem a intervenção, a ajuda e a presença de todas essas pessoas a que faço questão de agradecer vivamente:

Yannick Lejeune, meu editor, assim como as equipes das Edições Delcourt (sobretudo Guillaume Hujda).

Philippe e Miguel, que me ajudaram com as cores. Olivier Fillieule, por sua inestimável contribuição sobre a questão das lutas. Marie Bardiaux Va ï ente por sua releitura do álbum.

Da reportagem no Líbano: Nidal, Thierry, Mathieu, o Instituto Francês de Beirute (em especial Alban e Herminée) e Lena.

Da reportagem no Brasil: Vant, Izzah, Rossana, Rayssa, Odacy, Seu Lagoa e Dona Suely.

Da reportagem no Benim: Chanceline e sua família, Mo ï se, Charbel, Océane, Louis e a ONG Equipop, Emilien, Fenu, os alunos da escola de Avrankou.

Mas igualmente, e nas três reportagens, as pessoas encontradas, entrevistadas ou não, que participaram de uma forma ou de outra do nascimento destas histórias e que não aparecem nelas.

Para finalizar, um último obrigado a você, leitor, por ter me acompanhado nestas aventuras.

Fabien Toulmé O editor agradece a Marie Bardiaux Vaï ente por sua cuidadosa releitura.

Publicado originalmente em língua francesa com o seguinte título: Les Reflets du monde, volume 1, En lutte by Fabien Toulmé

© Editions Delcourt, 2022

Todos os direitos reservados à Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

direção editorial

Arnaud Vin

editor responsável

Eduardo Soares

assistente editorial

Alex Gruba

revisão

Eduardo Soares

adaptação de capa e miolo

Viviana Mara

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Toulmé, Fabien

Na luta / Fabien Toulmé ; tradução Fernando Scheibe , Bruno Ferreira Castro. -- 1. ed. -- São Paulo : Nemo, 2023. -- (Reflexos do mundo ; 1).

Título original: Les reflets du monde : En lutte

ISBN 978-85-8286-577-4

1. Histórias em quadrinhos 2. Militância 3. Movimentos sociais I. Título II. Série.

22-139105

Índices para catálogo sistemático:

1. Histórias em quadrinhos 741.5

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

CDD-741.5

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