NOVA COLUNA Desmistificando o “ECA”
GABRIEL SALOMÃO Falando de Amor sobre os Filhos
Oi gente tudo bem? É com muita alegria que divulgamos a nossa segunda edição da Revista “Criança em Foco”, e estou muito animada com este projeto. Como eu já falei para vocês, o intuito desta revista é ver a criança como um todo, afinal, ela não é um ser fragmentado. Vamos falar dos Direitos da Criança, e agora com a novidade do “Desmistificando o ECA”, que será coluna fixa por aqui, o respeito à infância nos move porque sabemos que esta infância é a base e que trará a solidez para o pré adolescente, adolescente e adulto, imagina que demais poder viver num mundo onde todos se respeitam? A nossa meta? Plantar esta sementinha e semear com muito carinho, pois tudo o que é feito com carinho germina, floresce! Queremos muito um feedback de vocês, e até mesmo ideias para temas que vocês gostariam de ver aqui, para que assim possamos abranger cada vez mais o nosso conhecimento e aprendizagem sobre este universo tão maravilhoso das crianças. Ajude a divulgar nosso trabalho, compartilhar conhecimento faz com que uma grande rede de apoio se forme e consequentemente todos se beneficiam dela . Vou ficando por aqui, cheia de felicidade e muita gratidão, espero que goste desta edição, foi gerada com muito, muito e muito amor!
A
Razão de ser da Proteção Integral ou do Direito da Criança e do Adolescente.
Beijos da Psico aqui
Monique Gonçalves psicopedagoga.monique@gmail.com
C rianças
As
V ocê Ama
C onheça-te a
Obedientes é Sinal de boa Educação?
Contribuições das Neurociências para a Compreensão do Desenvolvimen to da Criança.
seu Filho? Mas você o entende?
ti mesmo: Somos todos Educadores
DESMISTIFICANDO O “ECA”
Ana Christina Brito Lopes em
Ana Christina é Professora, Consultora e Pesquisadora em Direito da Criança e do Adolescente. Pós-doutorado em Direito (UFPR). Doutora Sociologia (UFPR), Mestre em Ciências Penais (UCAM) e avó de 3 lindas crianças que estão na primeira infância, E-mail: anachristinablopes@gmail.com
Recentemente, entrou em vigor uma nova lei identificada como “Lei da Primeira Infância” (Lei 13.257 de 08 de março de 2016). O objetivo dela foi focar especificamente nas necessidades da chamada primeira infância que, de acordo com a lei, diz respeito às crianças de zero a seis anos. A Lei da Primeira Infância busca proteger mais especificamente essa faixa etária, que é sem dúvidas uma etapa da vida marcada por muitos riscos e vulnerabilidade em relação às violências de todas as espécies, inclusive dentro da própria família natural, indo até a ausência de políticas por parte do poder público. Ao conversar com você por meio desse artigo, minha intenção é contribuir com o estabelecido na Lei da Primeira Infância e por meio desta revista digital, Criança em Foco, ir ao encontro do estabelecido no artigo 265-A do ECA, incluído a partir desta lei, que é suprir possíveis carências do poder público em atender ampla divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos meios de comunicação social, apresentando alguns aspectos ainda não conhecidos por alguns, além de buscar a conscientização e sensibilização para uma cultura de solidariedade em prol da Proteção Integral de crianças, em especial, na primeira infância. Desde 1990 já há uma lei em vigor específica para as crianças, conhecida pela maioria das pessoas simplesmente como “ECA”, cuja semente para sua existência foi plantada a partir da promulgação da Constituição Federal brasileira de 1988. O que muitas pessoas não sabem é que a Lei 8.069 de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), popularizada na sociedade brasileira pelas três letrinhas (ECA), não protege os direitos de crianças e adolescentes sozinha. Há um conjunto de normas nacionais e internacionais que se reúnem para este objetivo consagrado pela expressão “Proteção Integral a
Crianças e Adolescentes”. Dentre os instrumentos internacionais de Proteção Integral a Crianças e Adolescentes, destaca-se a Convenção dos Direitos da Criança da ONU. Também pode ser usadas outras leis nacionais como o Código Civil e o Código Penal, por exemplo, dependendo do caso, sem contar que se deve sempre levar em conta a Constituição Federal do Brasil de 1988. O texto original da lei (ECA), que passou a vigorar em 1990, já foi modificado algumas vezes diante de necessidades que foram sendo observadas no decorrer do tempo. E este foi também o caso das modificações ocorridas a partir da nova lei para a primeira infância.
Antes de falar um pouco dela, entretanto, vale refletir sobre a vulnerabilidade presente na primeira infância. Crianças têm direito de ser protegidas desde sua concepção quando já têm vida no útero materno. Neste período, dependem da saúde da mãe e de seus cuidados no pré-natal. Por isso, a lei cuida da gestação e, na sequência, da amamentação e também da, muitas vezes esquecida, saúde bucal, além da educação infantil, que são direitos fundamentais já garantidos pelo ECA a serem prioridades nas ações de políticas públicas. Entretanto, a lei também se preocupa com outras condutas que podem incidir no âmbito doméstico e na necessidade de intervenção da Rede de Atendimento e de políticas para o enfrentamento às possíveis violências sofridas por crianças muito vulneráveis nesta faixa etária.
É evidente a dificuldade - ou seria a impossibilidade - que um feto, um bebê que não sabe sequer falar ou mesmo uma criança pequena enfrentam de sair em busca de seus direitos e defenderem-se de abusos e violências físicas ou psicológicas. De fazer valer o direito que possuem de serem cuidadas, tomar remédios quando necessários, serem alimentadas nos horários certos, não passarem por diferentes formas de abandono ou de interromperem práticas condizentes com maus-tratos por si só. Isso simplesmente porque não têm voz e nem tampouco discernimento de que estejam sendo vítimas de seus próprios pais ou de guardadores ou cuidadores, mesmo que por um pequeno período. Fora “pequenas” violações de lesões físicas ainda tão comumente aceitas e ainda praticadas contra as crianças, até outras bem graves como espancamentos, queimaduras, abusos sexuais e inomináveis barbaridades contra esses pequenos, que não têm como se defenderem de seus agressores. Somando a isso o fato de que qualquer violência física, inegavelmente, também representará uma outra de ordem psicológica. Essa cultura que legitima a hostilidade, a grosseria, o destrato e as mais variadas formas de violência contra a criança justifica o motivo do Direito da Criança e do Adolescente estabelecer que TODOS são responsáveis por proteger a criança, mesmo que isto signifique interferir no poder familiar (contrariando as vontades e ações de pais e mães até então com direitos de fazer o que bem desejavam com seus filhos, sem limites expressos). As crianças têm direitos fundamentais, como à vida e à saúde, à educação, cultura, esporte e lazer; ao trabalho e profissionalização precoce; à convivência familiar e comunitária, mas especialmente o direito de serem tratadas com o mesmo nível de respeito, de dignidade e da autonomia condizente ao seu desenvolvimento, com o qual tratamos os adultos. Este é um dos pontos polêmicos do Direito daqueles abaixo dos 18 anos porque muitos pais acham que ninguém deve se intrometer na educação que entendem correta. Por exemplo, punir, castigar, bater como forma de educar. De acordo com o Direito de Crianças e Adolescentes, qualquer pessoa deve interferir e levar o caso ao conhecimento da Rede de Proteção de seu Município, como o Conselho Tutelar, quando perceber que os pais estão exagerando e chegando aos maus-tratos com seus filhos, pelo simples fato de não terem discernimento sobre o que estão passando e por não terem como fazer nada para se protegerem pela idade que se apresentam. Além de, algumas vezes, viverem violações de direitos dentro da própria família, as crianças também podem sofrer prejuízos vindos do poder público. Seja por falta de vagas na educação infantil ou pela precariedade ou ausência de atendimentos hospitalares ou na prevenção de epidemias. Esses são alguns fatos de diferentes origens que acarretam prejuízos ao
desenvolvimento de crianças. Com base nesta vulnerabilidade e em carências observadas no cotidiano, surgiu a ainda recente lei que também se refletiu em reforma de alguns artigos do Estatuto - a Lei 13.257 de 08 de março de 2016, destinada a dispor sobre políticas públicas para a primeira infância, por isso ficando conhecida por “Lei da Primeira Infância” . Vale a pena destacar, entretanto, que o próprio ECA já daria conta de proteger bem as crianças nesta faixa etária, juntamente com as outras leis existentes. Entretanto, a atual lei procura dar ainda maior foco a essa faixa etária. Nosso desejo é de que tenha efetividade e isso passa pela conscientização, ação, envolvimento e olhar atento de cada um de nós, cidadãos que convivem com nossos pequenos - seja como pais, mães, tios, avós, educadores, profissionais da saúde, ou que simplesmente convive com alguma criança na vizinhança. Abaixo, alguns destaques dentre as novidades estabelecidas para proteger os primeiros 6 anos completos ou 72 meses de vida da criança:
Atender ao interesse superior da criança e à sua condição de sujeito de direitos e de cidadã (art. 3o, I);
Incentivar aX participação da criança na definição de ações que lhe digam respeito (...), artigo 3o, II;
Promover a formação da cultura de proteção e promoção da criança com o apoio dos meios de comunicação social (art. 3o, IX) e ter a participação da criança na formulação de políticas e das ações através de profissionais qualificados em processos de escuta adequados às diferentes formas de expressão infantil (art. 3o, parágrafo único);
Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas para a primeira infância: a saúde, a alimentação e a nutrição, a educação infantil, ..., bem como a proteção contra toda forma de violência e de pressão consumista (...) – artigo 5o; O próprio texto do ECA foi reformado a partir da Lei da Primeira Infância, a exemplo do artigo 13 que teve o acréscimo de um parágrafo (2o), para impor prioridade máxima de atendimento para vítimas de violência nesta faixa etária com suspeita ou confirmação de violência de qualquer natureza em todos os setores envolvidos com a proteção da criança, incluindo possível acompanhamento domiciliar se preciso for, além da intervenção em rede. No artigo 14 do ECA, houve o acréscimo também de parágrafos referentes a uma maior atenção à saúde bucal na primeira infância.
O artigo 21 foi modificado e estabeleceu garantia de acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde, tais como atendimento sem discriminação ou segregação aos portadores de deficiência; fornecimento gratuito de medicamentos, órteses, próteses e outras tecnologias assistivas; bem como exigência de formação específica e permanente para a detecção de sinais de risco para o desenvolvimento psíquico pelos profissionais que atuem no cuidado diário ou frequente de crianças na primeira infância.
Chamou a atenção a importância dada pela Lei sobre a formação específica de profissionais que lidam diretamente com os cuidados de crianças na primeira infância. Esta foi incluída também nos artigos 88 e 92 do ECA. No último, inclusive destacado como atendimento às necessidades básicas o afeto como uma das prioritárias. Independentemente do nosso conhecimento das leis, ou da nossa formação, o que todos devemos ter em mente é que esta parcela da sociedade, as crianças de 0 a 6 anos, em qualquer comunidade, Município, Estado ou Nação, precisa muito de todos nós. Simplesmente por, apesar de terem direitos, não terem como cobrá-los ou colocá-los em prática, pela condição peculiar e característica de pessoas em início de desenvolvimento que carecem do cuidado gentil e amoroso do adulto. Lamentavelmente, nem sempre, aqueles mais próximos dos bebês e das crianças pequenas e com o dever natural e humano de protegê-los e cuidá-los, promovendo segurança, bem estar, afetividade, correspondem ao seu papel, mas fazem exatamente o contrário - ainda que sem perceber ou com sutis violações - e é esse mais um motivo para a necessidade de crianças na primeira infância terem seus direitos garantidos. Sem a atuação de adultos sensíveis, atentos às violações e solidários para intervir e ajudá-los a ficar à salvo de toda e qualquer manifestação de violência ou ausência do dever de cuidado que lhes é devido e garantido por lei, não poderão alcançar a proteção e o atendimento necessários para desenvolverem-se física e psicologicamente de forma adequada. Esse é mais um desafio cultural que caminha paralelamente à ausência de prioridade nas ações de políticas públicas, objetivo maior da lei que se procurou aqui refletir. Assim, fica aqui o meu convite urgente para que você some forças no desenvolvimento de uma inovadora cultura de solidariedade em prol da efetiva garantia da proteção integral de crianças e adolescentes, a partir do reconhecimento, por parte do mundo adulto, de que crianças também precisam de seus direitos específicos conquistados para a vivência cotidiana da cidadania infantil. Vamos juntos? *Outras leis também sofreram mudanças a partir da Lei da Primeira Infância, além do ECA: o Código de Processo Penal, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a Lei 11.770, de 9 de setembro de 2008 e a Lei 12.662, de 05 de junho de 2012.
Rubiana Pereira Burg
Mãe da Aimeé (3 anos) e do Gabriel (1 ano). Formada em Letras, atuou como professora, revisora, escritora, apresentadora de TV e outras coisas mais que a vida lhe presenteou. Como Nutrir O Relacionamento, Desenvolver O Caráter E Fortalecer Os Valores Familiares. No momento, ama cozinhar para a família e receber os amigos ao redor de uma mesa bem ornada. Luta pela dignidade das crianças e de mulheres e, também por causa disso, está de mudança para África esse ano. E-mail: rubiana.brasil@gmail.com
Recentemente, fiz uma enquete no meu Instagram, com a pergunta que dá título a esse artigo. Quase 70% das pessoas que participaram, acreditam que criança bem educada é aquela que obedece. Será mesmo? Vamos conversar sobre isso? Primeiramente, acredito que vale analisarmos juntos o conceito de “educada”. Todos temos crenças que são fruto das nossas vivências. Quando se trata de lida com as crianças, geralmente, essas crenças partem da nossa própria infância, do modo como fomos tratados e vivenciamos as crianças ao nosso redor serem tratadas - na nossa família, nas nossas relações sociais. Assim, construímos uma crença coletiva, um modo socialmente padrão de crenças, que chamamos de crença popular, baseada na tradição e não em pesquisas, amostragem, ou dados. Infelizmente, a história social da criança mostra que a tradição é vermos a criança de uma forma desprestigiada, menor. Na Roma antiga, por exemplo, um pai poderia até mesmo matar um filho sem que isso fosse considerado crime. Já que, o nascimento de uma criança não dependia apenas de um fato biológico, mas também da aceitação paterna. Para isso, o pai elevava a criança do chão, significando que estava aceitando criála, sendo esse um ato de adoção. Durante este período da história, a contracepção, o aborto, o abandono e morte de crianças eram atitudes corriqueiras e consideradas legítimas, sendo que os abandonados raramente sobreviviam. Em um período anterior, até o século XII, não havia um conceito de infância, esse era um período da vida desconhecido e ignorado. Assim, na época medieval, a partir do momento em que a criança passava a agir sem depender da sua mãe, ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais desses. Vem daí a concepção de que crianças são adultos em
A criança olha para esse adulto e pensa: “Ele é sábio. Ele me vê por dentro. Se eu seguir o que ele pede, posso me tornar alguém assim”, e a criança obedece não porque ela é menor e nós maiores, mas porque nós somos fascinantes e ela deseja se transformar em um adulto fascinante também.
Lar Montessori
miniatura, sendo vestidas e expostas aos mesmos costumes dos adultos. Não havia para elas um tratamento ou um olhar diferenciado, nem sequer o sentimento de infância. É no século XVIII que esse sentimento surge, por influência da igreja católica que, na figura do menino Jesus, difunde o valor do laço de sangue. As crianças passam, então, a terem tratamento particularizado do ponto de vista biológico e a serem percebidas na sua singularidade como detentoras de sentimentos próprios.
A própria palavra “infância” tem sua origem no latim fari – falar, dizer, e fans. A criança é in-fans, ou seja, aquele que não fala, aquele que não tem voz, aquele cujo discurso é ilegítimo. Assim, se compreende crenças de que “A criança não sabe nada”, “A criança é um pote vazio”, “Criança não tem querer”, dentre outras.
Ora, se vemos a criança dessa forma, apenas nos cabe fazê-la atender bem o seu lugar, que, nessa concepção, é a de subserviência ao adulto, é a obediência irrestrita e inquestionável. É a do “cala boca, menino/a, porque eu já falei.” É somente no período moderno, século XXI, que os estudos de psicologia e educação passam a se debruçar atentamente sobre esta fase do desenvolvimento humano que denominamos infância. Dentre os estudiosos, destaca-se a médica italiana Maria Montessori, que dedicou 50 anos de pesquisa, convívio, observação e registros de crianças de diferentes culturas. Em seu clássico Mente Absorvente, Montessori afirma: “as crianças são dotadas de uma natureza psíquica toda delas e isto indica um novo caminho para a educação; uma forma diferente, que diz respeito à toda humanidade e que, até agora, nunca foi levada em consideração.” Seus estudos contribuíram, dentre inúmeras outras coisas, para a compreensão que temos atualmente da importância dos 3 primeiros anos de vida da criança, bem retratado pelo documentário “O começão da Vida”, e que serviu de base para as políticas públicas dos países desenvolvidos.
emocionais entre os membros da família passam a ser a base da transmissão de valores e da formação de pessoas corretas. A criança se comporta de acordo com padrões familiares, porque seu coração lhe diz que o bom comportamento é o que se espera; que quem pertence ao clã tem de viver de acordo com determinados padrões.” Portanto, crianças bem educadas são aquelas EMOCIONALMENTE INTELIGENTES, que sabem se AUTORREGULAR, que exercem, dentre outras habilidades, DOMÍNIO PRÓPRIO e sabem fazer escolhas a partir dos seus valores INTERNOS e não motivadas pelo medo ou pela aceitação ou prêmios ou qualquer outro fator EXTERNO.
O conceito de que criança deve obediência ao adulto parte de um olhar, de uma forma de entender a criança, como incapaz, como um ser servil, que necessitam de adultos que se impõem por meio de métodos controladores e punitivos. No entanto, estudos e vivências como as propostas por Jane Nelsen, autora do clássico “Disciplina Positiva”, psicóloga e mãe de sete filhos, “Adultos conquistam as crianças quando as tratam com DIGNIDADE e RESPEITO (gentileza e firmeza ao mesmo tempo) e confiam em suas habilidades para COOPERAR e CONTRIBUIR. Por que retomei brevemente à história da infância para Impor-se às crianças as torna perdedoras, e perder falarmos sobre obediência? Para entendermos de torna as crianças revoltadas ou cegamente onde vem nossas crenças sobre a infância e, submissas.” Revoltada ou cegamente portanto, sobre o valor/espaço que o submissa é ser educado? São A preparação que nosso método exige do adulto obedecer ocupa nessa relação, no essas características é o autoexame, a renúncia à tirania. Deve expenosso jeito de olhar a criança. desejáveis? lir do coração a ira e o orgulho, deve saber huAtualmente, com as Educar vem do latim milhar-se e revestir-se de caridade. Estas são as contribuições também da educare e significa “trazer disposições que seu espírito deve adquirir, a neurociência, é possível à tona”. “Muitos adultos base da balança, o indispensável ponto de apoio olharmos as crianças com suas tentam “empurrar goela para seu equilíbrio. Nisso consiste a preparação peculiaridades, abaixo” em vez de trazer à compreendermos suas interior, o ponto de partida e a meta. tona, e depois ficam se necessidades, sua forma única de perguntando por que as desenvolvimento. Bem como, crianças não aprendem.” (Jane reconhecê-las como sujeitos que Nelsen) possuem voz, ou seja, detentoras de cuidados especiais e de direitos: Art. 4º É dever Desse modo, a criança da família, da comunidade, da sociedade em geral e do verdadeiramente educada é aquela que traz à poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação tona seus valores. Que age seguindo o conjunto de crenças que dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, revelam, acima de tudo, boa autoestima para responder ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, assertivamente às relações sociais. Que respeita limites, que se ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária conecta de forma sadia consigo, com outros e com o meio, e (Estatuto da Criança e do Adolescente, 13/07/1990). comunica seus sentimentos, desejos e intenções de forma assertiva. Uau! Que ser humano incrível há dentro de cada Ao conhecermos como as crianças “funcionam”, é criança! inquestionável reconhecer que as crianças “padrão” de bem educadas são moralmente saudáveis, rejeitam o autoritarismo e, outras. nas palavras de Daniel Goleman, autor de Inteligência Emocional, “Aceitação, obediência e responsabilidade vêm do amor e da ligação que a criança sente em sua família. Assim, as interações
Criança não obediente não significa ser criança sem limites Crianças que agem somente a partir da obediência a um adulto que a ameaça, ou oferece trocas ou favores para obter determinado comportamento, por medo e punição, aprendem a dissimular, a mentir (para se safarem do castigo). Aprendem que não são valiosas, portanto, têm uma autoestima comprometida, aprendem a somente fazer e cumprir o desejo dos outros ao invés de olharem para dentro de si, se conhecerem, se amarem e se respeitarem e, assim, respeitarem as relações do seu entorno. Certa vez, em um desabafo, uma conhecida me confidenciou acerca de crianças da sua família: “Quando estão perto dos pais são exemplares. Porém, longe deles, são insuportáveis.” Crianças verdadeiramente obedientes possuem comportamento coerente, independente se os pais estão perto ou não, porque aprenderam a obedecer aos seus valores internalizados. Em uma educação punitiva, as crianças aprendem basicamente a como agir para não serem punidas. Em uma educação respeitosa, que comunica limites de forma generosa, que foca em causa e consequência e em protagonizar a criança, ela aprende a se dar as ordens certas, aprende autodisciplina. São crianças de fato livres no hemisfério mais sombrio de todos nós: no íntimo de suas almas. Se dimensionarmos isso para o Homem/Mulher que essa criança forma, podemos nos lembrar das reflexões filosóficas de Foucault e de Hannah Arendt, na voz do contemporâneo filósofo francês Frédéric Gros: “Hannah Arendt fala da 'banalidade do mal' . Ela procura saber se a efetividade de massacres não pode se alimentar também de disposições éticas como a docilidade e a obediência. De fato, os carrascos de ontem e os torturadores de hoje se apresentam diante dos tribunais dos homens, e talvez até diante de sua própria consciência, declarando que, afinal, não fizeram outra coisa senão obedecer a ordens. Tudo se passa como se o fato de obedecer desresponsabilizasse totalmente os atores, e que, sem ser particularmente cruel ou movido por ódio, qualquer um pode fazer sofrer a seu próximo coisas atrozes simplesmente ao obedecer.” Claro que viver em sociedade exige sabermos respeitar e seguir ordens e regras. Não estou aqui defendendo que a criança deve ser “largada à própria sorte”. Não é isso. A base da boa educação é relacionamento: conexão, comunicação e limites. O que os dados mostram é que as crianças criadas para terem consciência das suas atitudes assumem com verdade e consistência um conjunto de valores que as tornam efetivamente hábeis em todos os ambientes e relações sociais, assumem, assim, autorresponsabilidade.
Essa é a criança/adolescente que não sofrerá, por exemplo, bullying, pois, como não é movida pela aceitação externa, simplesmente se guiará pelos seus valores internos. É o adolescente que dificilmente cederá à pressão do grupo para experimentar álcool, sexo irresponsável, delitos ou uso de outras drogas. É, portanto, o adulto bem sucedido, pois só é capaz de controlar seu comportamento quem é capaz de controlar seus estados internos. Então, a questão da obediência é: obedecer a quem? Obedecer a quê?
A palestrante e coach parental Isa Minatel é contundente, “Não quero filhos obedientes. Não existe empreendedor obediente, inovador obediente, pessoas de destaque, de sucesso, que são obedientes. Os obedientes são os que obedecem totalmente o que o outro fala e que provavelmente irão se ocupar das posições mais baixas da pirâmide da vida.” Pessoas conectadas com seus valores internos são, sim, questionadoras, pois são criativas, pensantes, inovadoras, aprendizes, líderes de si mesmas, inspiradoras e tendem a assumir os riscos de suas escolhas de forma consciente e responsável.
se emocionalmente amparada, em uma atmosfera de respeito. O sentimento por trás do que fazemos ou dizemos é mais importante do que o que fazemos ou dizemos de fato. Tenha para com a criança um comportamento elegante, cuidadoso, amoroso e firme, que a ajude a conquistar a própria independência e que respeita sua necessidade de trabalhar sozinha sem ser interrompida.
Por fim, crianças são serem sociais. Comportamento é determinado dentro de um contexto social. As crianças tomam decisões sobre si mesmas e sobre como se comportar baseadas em como elas veem a si mesmas em relação aos outros e em como elas pensam que os outros se sentem em relação a elas. Se nosso olhar para com elas é de que são dignas de respeito e de voz, elas acreditarão em si mesmas e em seus próximos. Tornando-se, portanto, pessoas capazes de uma obediência com alegria e rapidez, profundamente disciplinadas e senhoras de si. Aí, nas palavras de Gabriel Salomão, “muito mais que a obediência, brota a autodisciplina. A capacidade de seguir, sobretudo, aquilo que sabemos ser correto.” A Humanidade agradece!
1º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul ISSN 2175-5302 284 Rev. Técnico Científica (IFSC), v. 3, n. 1 (2012). CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA. Mariane
Rocha Niehues1; Marli de Oliveira Costa2
Como criar uma atmosfera na qual as crianças se sentem prontas a ouvir e a cooperar? Uni abaixo informações do site Lar Montessori e da Jane Nelsen, para listar algumas dicas práticas de como ser um adulto admirável que conquista a cooperação da criança.
A criança obedece a quem elas admiram, portanto, procure compreender as necessidades dela. Expresse compreensão pelos sentimentos da criança. Certifiquese de confirmar com a criança para saber se você está certo. Mostre empatia sem mostrar concordância. Empatia não significa que você concorda ou permita. Significa apenas que você compreende a percepção da criança. Compartilhe as vezes que você tenha se sentido ou se comportado de forma semelhante. Compartilhe seus sentimentos e percepções. Se os dois passos anteriores foram feitos de uma maneira sincera e amigável, a criança se sentirá pronta a ouvi-lo/a. Convide a criança a pensar em uma solução. Pergunte se ela tem alguma ideia sobre o que fazer no futuro para evitar esse problema. Se ela não souber, ofereça algumas sugestões até que vocês cheguem a um consenso. Organize para a criança um excelente ambiente, que ela possa explorar, mexer, conhecer, livremente interagir com ele, e sentir-
Raquel Rabelo
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Psicopedagogia pela UniChristus. Especialização em Neuroeducação. Mestranda em Ciências da Educação pela UFP (Portugal). Fundadora e diretora pedagógica do Aprenda Mais - Centro de Desenvolvimento Pedagógico. Psicopedagoga Clínica no consultório Raquel Rabelo. Assessora Educacional para formação de professor es na rede pública e privada no Ceará. @raquelrabelooficial
É crescente o interesse na sociedade atual sobre as contribuições das Neurociências para o desenvolvimento humano, com enfoque intenso no desenvolvimento infantil. O debate e reflexão sobre o investimento em educação na primeira infância alcança interesses, inclusive no meio econômico, quando o ganhador do prêmio Nobel de Economia James Heckman tece sobre a relevância das primeiras experiências infantis, em caráter de riqueza de estímulos neuronais para amparar a formação em massa de cidadãos com um potencial muito maior. Esse ser humano com melhor educação, será capaz de trazer retornos sociais, pesquisando sobre soluções de problemas que afetam nossa vida, sobre questões como sustentabilidade e economia solidária. Bom, agora você entende porque tanto se fala de Neurociência, Neuroeducação. Há um enorme investimento em centros de pesquisas nas maiores universidades do mundo com especialistas estudando o cérebro e suas funções mais complexas, dentre elas as Funções Executivas. As FE podem ser compreendidas como um conjunto de habilidades neurocognitivas de ordem complexa que permitem que as pessoas sejam capazes de executar as atividades mais simples até as mais sofisticadas. As Funções Executivas elaboram, projetam e monitoram todo o curso de uma atividade, regulando todo o processo com o objetivo de concluir com o êxito e eficiência. Quando a Ciência nos aponta com suas principais pesquisas que os estímulos na primeira infância podem garantir uma construção de base sólida para o comportamento adaptativo humano, temos que pensar em relacionar esse conhecimento com os processos de aprendizagem, não somente na escola, mas com as famílias exercendo um papel ativo na estimulação dos filhos através de brincadeiras e estímulos sensoriais. O Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade de Harvard em 2011 definiu os principais pontos que fomentam o pleno desenvolvimento das Funções Executivas, são eles: São essenciais para o desenvolvimento das capacidades cognitivas e sociais iniciais; Crianças entre 3 e 5 anos estão em plena janela de oportunidade para o estímulo das FE; A partir dos 3 anos, as crianças são capazes de cumprir duas regras e direcionar a atenção para atividades simples; Aos 5 anos, as crianças já conseguem alternar entre uma regra e outra, indicando flexibilidade cognitiva;
Aos 7 anos as estruturas cerebrais subjacentes são mais próximas as do adulto com capacidade para planejar, manter regras, focar atenção, controlar os impulsos; As Funções Executivas, embora tenham certo declínio com o tempo, podem ser estimuladas com vigor até o início da fase adulta. Em uma simples brincadeira de esconde-esconde, a criança é convocada a compreender a estrutura simbólica do jogo, as regras, terá que pensar estrategicamente onde deve se esconder, deverá calcular o tempo até chegar ao esconderijo antes que o colega termine a contagem, deverá controlar movimentos bruscos para não ser descoberta. Tudo isso remete a um estímulo das Funções Executivas, ou seja, a criança terá que planejar e executar cada momento da brincadeira, criando um planejamento mental elaborado e refinado. É importante destacar a ressalva de indicadores das pesquisas que apontam que fatores como medo e estresse influenciam negativamente a arquitetura cerebral, implicando diretamente no desenvolvimento e neuroplasticidade do indivíduo. Logo, faz-se condição notável que os adultos proporcionem um ambiente com estímulos, mas não com superestímulos, gerando fadiga mental e física. As pesquisas também indicam que situações de violência e privação são completamente prejudiciais ao pleno desenvolvimento. O ideal é que a criança tenha oportunidade de viver uma infância feliz, com muitas experiências (qualidade), que seja oportunizada a exercer seu potencial como ser pensante, com vontades e desejos desenvolvimento da autonomia). Ouvir, permitir que a criança expresse suas opiniões, indicar regras, manter um ambiente com disciplina e organização são fundamentais para o desenvolvimento global.
Gabriel Salomão
2011, começou o Lar Montessori, que é a maior plataforma sobre Montessori em língua portuguesa. Desde 2013, realiza cursos sobre o Método Montessori a milhares de famílias, educadores e profissionais da infância, no Brasil e no exterior. Hoje, é Pesquisador da Comissão Científica da Organização Montessori do Brasil, e faz parte do grupo de docentes do Curso de Formação em Montessori do Centro de Educação Montessori de São Paulo, o único centro brasileiro com certificação internacional.
Entender é a essência de amar. Nós achamos que amamos as crianças, mas raramente as compreendemos. Montessori uma vez escreveu:
propunha Montessori, desenvolver a habilidade de fazer sozinho. A criança busca a independência física desde quando nasce. O adulto que entende essa criança deixa de cometer três erros graves: interrompe demais (com elogios, sorrisos, chamados), impede demais (“não faça isso”, “aqui não”, “assim não”) e ajuda demais (por uma compaixão errada, sem compreensão das necessidades verdadeiras da criança).
Ordem e Previsibilidade
Mais do que amar a criança é necessário amar e compreender como as coisas funcionam no mundo. Isso nos levará a compreender como a criança funciona, e essa compreensão abrirá caminho para o amor verdadeiro. O título de um dos melhores livros de Maria Montessori é O Segredo da Infância. Na tradução para o português, A Criança. Mas o título original é precioso, porque neste livro, Montessori expõe e explica os segredos mais bem guardados da psicologia infantil. Entre os segredos que Montessori descobre e comunica estão três, que nos parecem os mais importantes para a compreensão amorosa que devemos desenvolver para com nossos filhos:
Atividade Espontânea A criança precisa poder escolher o que fazer. Ela não pode passar a vida seguindo nossas ordens e, ao mesmo tempo, ser feliz. Quando uma criança encontra uma gaveta e começa a abrir e fechar, repetidamente, ela está em uma atividade espontânea. A mesma coisa é verdade quando uma criança abre e fecha a torneira dezenas de vezes seguidas. Nós nunca devemos interromper a criança em atividades espontâneas. A atividade espontânea é a chave para um desenvolvimento saudável, tanto do ponto de vista motor quanto nos aspectos psicológico e emocional. A criança que age espontaneamente e com liberdade tem uma chance muito maior de ser feliz. O adulto que compreende isso ama a criança melhor.
Independência Física O objetivo mais importante da vida de uma criança de 0 a 6 anos de idade é a conquista da independência física, ou, como
A criança pequena é uma recém-chegada no mundo. Para ela tudo é tão novo quanto seria para você se amanhã você acordasse em uma estação espacial, com gravidade zero e tudo. Por isso, ela precisa que as coisas se repitam e que haja estabilidade na vida. Só assim ela consegue entender o mundo e desenvolver coragem para perseguir seu desenvolvimento independente. Para a criança é importante viver em um ambiente organizado, com as coisas sempre no mesmo lugar. Também é bom que as tarefas de seu dia a dia sejam feitas em sequências iguais ou muito parecidas diariamente. Finalmente, é fundamental que o adulto seja coerente em seu comportamento e só coloque para a criança os limites que precisam ser colocados – e que, ao mesmo tempo, nunca falhe em colocar esses limites.
Uma tarefa nada pequena… Montessori disse que uma educação capaz de salvar a humanidade não é uma tarefa pequena. E não é mesmo. Atividade, Independência e Ordem podem parecer princípios simples, mas são a semente de um amor revolucionário. Entender a criança nos torna capazes de amá-la muito melhor. Nosso amor se torna muito mais verdadeiro. Compreender é o primeiro passo para amar de verdade, e nossas crianças merecem o amor mais genuíno possível.
Link da Matéria no Site Lar Montessori
Rosangela Pereira
Nasceu em São Bernando do Campo/SP. É formada em Letras pela UFPR e pós-graduada em Ensino de Línguas Estrangeiras Moderas pela UTFPR e estudante de Pedago gia Waldorf. Quando tinha 7 anos acompanhou a Eco 92 pela TV Cultura. E-mail:sourosangela@gmail.com
Minha irmã mais velha foi minha primeira professora. Lembro-me quando, antes mesmo que eu fosse alfabetizada, ela me mostrou as cores do semáforo e seus significados. Lembro-me, quando me mostrou que era um comportamento corriqueiro do adolescente a decepção de olhar o guarda-roupa cheio e achar que não tinha o que vestir. Lembro-me quando me ensinou as horas em inglês, língua com a qual, posteriormente, eu iria ganhar a vida. Ambas somos professoras. Ela de língua portuguesa e literatura, eu de língua inglesa. Hoje, ela não atua mais em sala de aula. É mãe de dois e estuda a pedagogia de Maria Montessori. Eu não sou mãe de ninguém e estudo a pedagogia Waldorf, de Rudolf Steiner. Minha irmã mais velha, que é desde sempre educadora, disse que eu deveria escrever um texto sobre o caminho de desenvolvimento pessoal do professor. Eu duvidei, achei que não teria conteúdo para um texto completo em uma revista. Ela insistiu. Eu me intriguei: ser mulher na sociedade em que vivemos é sempre ser forçada a acreditar que não somos tão capazes assim, ou produzir o dobro para acreditar(em) que somos. Mas se minha irmã, minha primeira professora, de alguma forma viu que eu já sabia esse conteúdo a ponto de expressá-lo no papel, poderia aceitar o desafio. Comecei a dar aulas de inglês logo no segundo ano da faculdade. Não sabia nem a língua ou a metodologia de ensino tão bem assim, mas de alguma forma fui contratada para ensinar uma turma de nível básico. Suava bicas a cada aula. Percebi que a primeira coisa que eu precisava, era controlar meu nervosismo. A segunda, estudar o conteúdo. A terceira, fazer com que os alunos se movimentassem e interagissem durante a aula. Logo peguei o jeito, mas todo início de semestre sofria com o nervosismo de encarar
uma nova turma. Sou tímida, mesmo assim, hoje em dia, me sinto capaz de me expor às situações mais “ridículas” em sala de aula, se eu tiver a certeza de que isso auxiliará no processo de aprendizagem do meu aluno. Assim são muitos professores. Todos já fomos tocados pelo desprendimento e altruísmo de bons professores que passaram pelo nosso caminho. Recentemente, com minha primeira professora, aprendi sobre Maria Montessori. Aprendi que, diante da criança, o adulto sofre com três grandes defeitos: o orgulho, a ira e a tirania. Ora, não seriam esses também os defeitos de todos os maus professores? Ao refletir sobre isso, entendi o motivo da minha irmã me convidar a escrever este texto: por meio dos desafios da minha profissão, desenvolvi habilidades que me tornariam não apenas uma professora melhor, mas habilidades que me tornaram uma pessoa melhor. Como disse acima, sou tímida, e, como muitos tímidos, procuro refúgio numa vida interior, protegida de todos os espinho e tormentas que a vida real pode oferecer. Assim como Peter, O Sonhador de Ian McEwan, sou capaz de explorar possibilidades imaginárias por horas a fio (se ao menos eu tivesse horas a fio). Essa habilidade, se bem direcionada, pode ser benéfica no processo de autoconhecimento, e para mim foi. A verdade é que todos possuímos essa vida interior. Conseguir acessá-la é essencial para nosso auto-desenvolvimento. Para os que não estão tão habituados a isso, recomendo atividades artísticas de desenho, pintura e modelagem em argila, música clássica ou instrumental (dessas que abrem espaço na nossa alma), práticas meditativas e contemplação da natureza.
Estamos tão intoxicados por informações imediatas em nossos celulares, telas com luzes piscantes, sons repetitivos e conversas para preencher lacunas de interação, que esquecemos da possibilidade de ficar em silêncio e apenas estar presente, cultivando toda a riqueza que existe em nós mesmos. Uma das minhas frases preferidas de Rudolf Steiner diz: "A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e direção para suas vidas." Também tenho minha preferida de Maria Montessori: "É necessário que o adulto encontre em si mesmo o erro ignorado que o impede de ver a criança." Gosto muito como esses dois pensamentos se cruzam e formam o ponto comum das duas pedagogias: o si mesmo. Acredito que o grande desafio de cada ser humano na atualidade é ocupar seu lugar no mundo de forma autêntica e, assim, receber de forma verdadeiramente acolhedora os novos seres humanos que aqui estão e aqui chegam. Como sociedade evoluímos até sermos capazes de modificar o mundo a nossa volta e gerar tudo o que precisamos. Porém, nosso modo de vida degrada o meio ambiente, nossa saúde e tem destruído tudo o que é vivo. Como indivíduos, com a consciência que conquistamos nessa era, devemos decidir se continuaremos por esse caminho ou geraremos a mudança que nossos rios, mares, ar, ecossistemas, cidades e crianças precisam para que exista um futuro harmônico na Terra. Ter a profissão de professora me levou a tomar as decisões de vida que me conduziram a ser a pessoa que sou hoje: precisei fortalecer minha vida interior. Reconhecer quem eu sou, para que a vergonha e o medo não me dominem. Conhecer meus sentimentos, para fazer florir o afeto que me vincula com o outro, meu aluno, para que eu pudesse me comunicar com ele de uma forma clara e saudável. Isso transbordou da sala de aula, afetou todo o tipo de relação que eu tenho, inclusive comigo mesma. Minha profissão me tornou uma pessoa melhor. No entanto, isso não veio naturalmente. Tive de tomar consciência do meio em que habito, de minhas limitações e características - negativas e positivas. Tive de recolher meus erros e abrir mão do meu orgulho, ira e tirania. Além disso, tenho buscado coerência entre o que penso, sinto e pratico.
Uma das mais célebres frases de Rudolf Steiner é, "Não
há, basicamente, em nenhum nível, uma educação que não seja a autoeducação. [...] Toda educação é autoeducação e nós, como professores e educadores, somos, em realidade, apenas o ambiente da criança educando-se a si própria. Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança eduque-se junto a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu
destino interior." O quão bem autoeducado estamos para criar o ambiente propício de educação ao nosso redor? Quando eu nasci, minha irmã não sabia que um dia ela seria professora, mas mesmo sendo, na época, ela mesma uma criança, já era educadora. Assim somos todos nós quando passamos pelo caminho de um ser humano em desenvolvimento. Pode acreditar, estamos todos em desenvolvimento. Permita-se se conhecer. Afinal, somos todos educadores. Isso significa que temos o compromisso em educar, ainda que seja apenas a nós mesmos.
*Sugestão bibliográfica: A filosofia da Liberdade: elementos de uma cosmovisão moderna / Rudolf Steiner; tradução de Alcides Grandisoli - São Paulo: Ed. Antroposófica, 1983. A metodologia de ensino e as condições de vida do educador / Rudolf Steiner; tradução Christa Glass. - 2. Ed. - São Paulo: Antroposófica: Federação das Escolas Waldorf do Brasil, 2014. A Criança / Maria Montessori - Círculo do Livro, 1990
A PSICO
Por Monique Gonçalves
Livros
O que é o método Montessori de educação? Por que adotá-lo? O conjunto revolucionário de teorias, práticas e materiais didáticos criados pela renomada pedagoga Maria Montessori continua relevante para o mundo atual? Esta é reconhecidamente a melhor obra para pais, professores, estudantes e profissionais de pedagogia e educação em busca de respostas a essas perguntas.
Este bestseller sobre o Método Montessori abrange o extraordinário período de crescimento e desenvolvimento intelectual das crianças desde o nascimento até os 6 anos de idade, incluindo evidências neurocientíficas para uma abordagem que ajuda as crianças a desenvolver independência, concentração e curiosidade em relação ao seu mundo.
O diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus deu origem à este livro, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. A linguagem simples, mas contundente, comove o leitor pelo realismo e pelo olhar sensível na hora de contar o que viu, viveu e sentiu nos anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com três filhos.
Filmes Data de Lançamento: 14 de agosto de 2014 (2h 00min) Direção: Justin Chadwick Elenco: Oliver Litondo, Naomie Harris, Tony Kgoroge mais Nacionalidade: Reino Unido
SINOPSE No Brasil com o título como “O Aluno” baseado em fatos reais, o filme conta a história de Kimani Maruge (Oliver Litondo), um queniano de 84 anos que está determinado a aproveitar sua última chance de ir à escola. Desta forma, para aprender a ler e escrever, ele terá que se juntar a crianças de seis anos de idade.
“
” Maria Montessori
Direção-Geral: Monique Gonçalves Revisão: Rubi Burg Realização: Grupo Camminus Design e Diagramação: Daniel Gonçalves Imagens: https://br.freepik.com