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Carta às professoras e aos professores
O Grupo Contrafilé reúne artistas que acreditam na educação como ambiente fundamental de criação e inspiração, na medida em que contribui para a transformação da sensibilidade coletiva. Tendo acumulado longa experiência com museus, o grupo passou a criar espaços de intimidade e troca para falar de urgências — daquilo que pede passagem, que já é vivido como real, mas não encontra representação na realidade —, passando a traduzir os afetos em obras. A partir desses exercícios de criação, notamos que é possível inventar, coletivamente, diferentes formas de se estar no mundo, de pensar, de nos relacionar. E que os dizeres, performances, intervenções, publicações etc. que criamos, não são apenas imagens instaladas nas ruas ou em um espaço expositivo qualquer, mas toda a potencialidade que cada ação é capaz de mobilizar, isto é, o grau de desestabilização disparado em nós e sua influência em outros corpos.
Essa prática, impulso micropolítico, poético, ético e (auto) educativo, foi o que nos interessou significar e alargar no encontro com a educação em museus, com exposições e obras de outros/as artistas e educadoresartistas, a fim de responder às perguntas: qual a matériaprima do artista?; o que o interessa no mundo?; em que contexto políticoinstitucional a exposição está inserida?; como ela reflete questões, urgências e contradições de seu tempo histórico, e o que dela se expande para o mundo?
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Um exemplo de atividade que desenvolvemos para tentar responder a essas perguntas foi a criação de trajetos pela rua, que tinham por objetivo reconhecer, em um primeiro momento, os corpos ali presentes e suas relações e conflitos com a cidade, como foi o caso da atividade 1: Cadeira-corpo (pp. 67), para em um segundo momento, ao entrar nas mostras, os estudantes poderem reconhecer
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tudo aquilo que foi visto também ali, nas obras expostas. Isso permite experimentar a arte como um saber e um fazer que extrapola circuitos específicos, e ainda, reconhecer os conflitos sociais e urbanos como dimensões da vida que atravessam qualquer espaço, inclusive espaços teoricamente assépticos como aqueles da arte. Temos, portanto, a convicção cada vez maior de que o museu, as exposições e a arte fazem parte dos fluxos do mundo, e de que neles, todos os conflitos, visibilidades e invisibilidades, violências, opressões e desigualdades estão completamente presentes.
Essas são, assim, algumas das premissas, questionamentos e reflexões que constantemente nos acompanham ao nos depararmos com exposições das quais participamos como artistas, educadoras ou público. E por isso, não à toa, começamos esta carta afirmando que uma mostra nunca está isolada. Ao contrário, ao estudar uma exposição é importante, em primeiro lugar, saber que ela aciona diversos campos de forças, e que, precisamente por isso, as obras não devem ser vistas de modo fragmentado. Além disso, uma exposição é uma obra realizada por muitas mãos, que comporta um “pensamento curatorial”: o curador ou curadora é aquele ou aquela que define uma ideia ou um campo de ideias a partir do qual trabalhar, de acordo com escolhas políticas, conceituais, problemáticas do tempo presente, formulando hipóteses a respeito da vida — do passado, do presente ou do futuro —, das relações humanas e com a natureza, e também a respeito da arte e da história da arte. Esse campo de ideias acionado pelo pensamento curatorial pode partir de muitos lados: por exemplo, ele pode ser provocado pelo percurso ou obra de uma artista; ou, pode surgir de uma inquietação ou pesquisa pessoal da curadoria; pode ainda partir de um recorte histórico ou espacial — construir formas de ver, sentir, ouvir, falar a partir de trabalhos produzidos num determinado espaço e/ou tempo.
Compreender esse pensamento, para promover conexões entre as obras, é, para nós, o primeiro movimento para explorar o território efêmero inaugurado por cada exposição. Primeiro porque nessa metodologia pressupõese que a arte não está isolada do mundo, mas faz parte de urgências pessoais, históricas, sociais e poéticas. Isso nos leva ao segundo motivo para compreender o pensamento curatorial: ao “olhar o olhar do outro” acabamos também por “olhar o nosso próprio olhar”, e então somos mais capazes de desenvolver um percurso criador. E o saberfazer na arte tem muito a ver com isso: com uma urgência que vai se desenvolvendo e tomando forma de um