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Especial Cesb - Os campeões

Produtividade desafiada

Vencedor do concurso do Cesb obteve 118,82 sacas de soja por hectare, no Paraná, mais que o dobro da média nacional. Segundo colocado, em Minas Gerais, produziu 118,63 sacas em uma edição em que todos os participantes bateram a marca de 100 sacas por hectare

Omais novo vencedor do Desafio de Máxima Produtividade do Comitê Estratégico Soja (Cesb) é do estado do Paraná. O produtor Laercio Dalla Vechia colheu 118,82 sacas da oleaginosa por hectare em um talhão de 10,6 hectares, dos quais pouco mais de 2,5 hectares foram destinados ao concurso. A marca, atingida em um ano marcado por desafios climáticos, supera o dobro da média brasileira, estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 54,5 sacas por hectare. Descendente de italianos e apaixonado por agricultura, Dalla Vechia cultiva 100 hectares de soja, no município de Mangueirinha, no Sudoeste do Paraná. “Separei um pequeno pedaço para o concurso, mas o objetivo era transpor a experiência para a área total”, conta o agricultor, que participa pela quinta vez do concurso e tinha como meta anterior alcançar 100 sacas de soja por hectare.

Dalla Vechia faz parte da quarta geração da família, na atividade agrícola desde 1980. “Sou filho e neto de produtor rural”, orgulha-se. Na propriedade de 250 hectares destina 200 hectares a culturas que incluem, além da soja, trigo, milho, cevada, azevém, ervilha e feijão. O restante da terra é utilizado para reflorestamento.

Fazer o básico bem feito é lema na propriedade de Dalla Vechia. “Preciso caprichar. É meu ganha-pão, o que vou deixar de herança para meus filhos e netos”, explica. O agricultor conta que passa o ano planejando a produção e que para plantar em setembro, ao colher a soja lá por fevereiro ou março já começa o preparo da terra, análise de solo, correção de calcário, gesso, cama de aviária...

O manejo integrado, tanto para pragas como doenças, é palavra de ordem para o produtor, bem como rotação de culturas e monitoramento criterioso da área. Conhecimento e assistência técnica embasam as decisões quando o assunto é controle químico. “Aplico quando realmente precisa”, conta o produtor, que nesta safra não precisou realizar nenhuma pulverização de inseticida.

O custo para a área do concurso foi de aproximadamente R$ 1 mil por hectare, com retorno de R$ 2,80 para cada real investido. O pesquisador Ricardo Balardin, que acompanhou de perto o case, atribui o resultado obtido por Dalla Vechia a um conjunto de medidas, o que inclui, por exemplo, o porte mais baixo das plantas, capaz de facilitar que a luz e a fotossíntese ocorressem e funcionassem adequadamente. O clima também foi um grande aliado do produtor na safra.

Balardin explica que na região a alta temperatura não chegou a alcançar o limite que causa danos à soja. “Colaboraram a altitude (919m) e a boa distribuição das chuvas, que não ocorreram em grande volume, mas foram bem distribuídas”, detalha o pesquisador.

“A condição climática foi muito boa. Nossa microrregião é abençoada. Foi um ano espetacular, onde a ferrugem chegou mais tarde”, lembra o agricultor, que conta com um coletor de esporos para monitorar a doença. Manchas foliares também não foram um grande problema para Dalla Vechia na safra. PRODUZIR COM

SUSTENTABILIDADE

Entusiasta do monitoramento da área de cultivo e do manejo integrado, Dalla Vechia não poupa elogios. “É possível fazer em grandes áreas, preservar o potencial dos produtos químicos e é muito lucrativo. Sinto muito orgulho de não aplicar produto químico sem necessidade, de ter responsabilidade ambiental.”

Dalla Vechia lembra que é indispensável, neste caso, ter equipamento disponível para fazer as aplicações quando precisa. “Produto químico é ferramenta excelente, mas que tem que ser usada quando preciso e no momento correto. Se tiver assistência técnica de qualidade, equipamento bem dimensionado, vai ter sucesso”, opina.

Balardin lembra que além do manejo integrado, a época de semeadura, o clima e outros fatores contribuíram para os índices de produtividade alcançados por Dalla Vechia. “O resultado não é extrapolável para o País inteiro”, alerta.

COMO PRODUZIR MAIS

A receita para produzir mais, de acordo com Dalla Vechia, passa sempre por atenção ao básico. “Nós produtores precisamos caprichar mais, fazer com amor, bem feito. Usar corretamente o plantio direto, plantas de cobertura, rotação. Nem sempre é gastar mais, mas fazer com capricho”, ensina, do alto dos longos anos de experiência com agricultura e mais de 118 sacas por hectare colhidas.

Balardin lembra que metas em agricultura são alcançadas através de investimento de longo prazo, que implica antes de mais nada conhecer o ambiente em que se está inserido. “A produtividade é construída ao longo dos anos, com conhecimento, sabedoria. Se dá com informações e distribuição dessas informações. Não é algo eventual, mas construído”, comenta.

“Esse índice alcançado pelo campeão do Desafio é uma amostra do potencial que a produção brasileira de soja possui, o que vem fazendo com que o País cresça no setor e se firme como o principal produtor e exportador de soja do mundo”, avalia o presidente do Cesb, Leonardo Sologuren.

Nesta safra os produtores de soja enfrentaram algumas dificuldades. Análises feitas pelo sistema de precisão meteorológica Agrymax, levantadas pelo Cesb, demonstraram que os sojicultores tiveram quebras de produtividade de até 63%. “Porém vemos o ótimo trabalho que os produtores tiveram para contornar essa situação, alcançando altos níveis de produtividade. Nessa safra tivemos 284 sojicultores chegando a resultados acima de 90sc/ha”, comemora Sologuren.

CAMPEÕES REGIONAIS

O segundo maior patamar de produtividade foi registrado pelo produtor Antonio Quedes de Oliveira Neto, de Patrocínio, Minas Gerais, com o índice de 118,63sc/ha,

Fotos Cesb

Diversos aspectos influenciam na produtividade da soja e precisam ser observados com atenção para que o manejo correto permita a obtenção de melhores resultados

Tratamentos fitossanitários utilizados pelo campeão nacional do Desafio de Máxima Produtividade do Cesb

campeão da região Sudeste. “O que me levou a chegar a essa produtividade foi a aplicação da tecnologia no campo, agregando conhecimento, e também a ajuda dos nossos consultores”, relata Neto.

Além disso, o sojicultor destaca a questão da criação do perfil de solo. “Tivemos um trabalho muito forte na agricultura de precisão, chegando a uma excelente estrutura de solo para plantar, o que fez a diferença”, ressaltou.

Já o produtor Eliseu José Schaedler, de Boa Vista das Missões, Rio Grande do Sul, conseguiu a produção de 111,93 sacas por hectare e sagrou-se campeão da categoria irrigada e do Sul. “Há 11 anos

estamos trabalhando na construção de um solo saudável e unificado. Tivemos bastante trabalho, mas buscamos informação e respaldo na tecnologia para atingir o nosso objetivo de elevar a produtividade”, informa.

Schaedler destaca os problemas com o clima nessa safra, em que houve bastante seca na região. “Porém, sempre procuramos usar as tecnologias disponíveis, em todas as áreas, análise de solo, plantio, pulverização, colheita e monitoramento da lavoura, para contornar essa situação”, explica.

No Centro-Oeste, quem se destacou foi o produtor Elton Zanella, de Campos

Mesmo com os obstáculos que ocorreram durante a safra, produtividade dos participantes foi elevada de Júlio, Mato Grosso. Em sua fazenda foram produzidas 103,19 sacas de soja por hectare, garantindo o prêmio naquela região.

O que mais o ajudou a chegar a esse resultado foram a construção do perfil de solo em profundidade, o manejo de nematoides com planos de cobertura para auxiliar no combate a pragas e a escolha de uma semente com alto potencial produtivo. “Ganhar o Desafio veio para efetivar o trabalho de toda a equipe, que está sempre engajada no propósito de bater recordes de produtividade. Descobrimos muitos aprendizados que são aplicados em outros talhões da fazenda, para alcançarmos altas produtividades como um todo”, declarou.

Completando o time de campeões do Desafio Cesb está o condomínio Milla, administrado pelos produtores Ernest e Robert Milla, de Baixa Grande do Ribeiro, Piauí, com a marca de 101,79 sc/ha, campeão do Norte/Nordeste.

Os produtores contam que enfrentaram irregularidades com as chuvas nessa safra, mas conseguiram contornar o empecilho com um bom manejo químico e físico do solo. “É uma área que estamos trabalhando há 15 anos e vemos que deu resultado. A equipe está engajada em atingir esses altos níveis, por isso conquistar esse prêmio é muito gratificante”, avaliou Ernest.

ALTOS ÍNDICES

Todos os resultados são auditados de forma independente. Nessa edição do Desafio, o Cesb registrou um número recorde de auditorias realizadas, chegando

OS CAMPEÕES

GRANDE CAMPEÃO 19/20 – Sul Nacional

Mangueirinha - Paraná Produtor: Laercio Dalla Vechia Consultor: Jose Ricardo Pedron Romani Produtividade: 118,82 sc/ha

CAMPEÃO 19/20 Categoria Irrigado

Boa Vista das Missões Rio Grande do Sul Produtor: Eliseu Jose Schaedler Consultor: Felipe Arthur Baron Produtividade: 111,93 sc/ha CAMPEÃO 19/20 Centro-Oeste – Categoria Sequeiro

Campos de Julio Mato Grosso Produtor: Elton Zanella Consultor: Alfeu Volf Jr. Produtividade: 103,19 sc/ha

CAMPEÃO 19/20 – Sudeste – Categoria Sequeiro

Patrocínio – Minas Gerais Produtor: Antônio Guedes de Oliveira Neto Consultor: Clovis Ney da Silva Produtividade: 118,63 sc/ha CAMPEÃO 19/20 – Norte/Nordeste – Categoria Sequeiro

Baixa Grande do Ribeiro – Piauí Produtor: Condomínio Milla Consultor: Luis Gabriel de Moraes Jr. Produtividade: 101,79 sc/ha

a 909 propriedades de sojicultores visitadas pela equipe técnica em todo o Brasil.

O diretor executivo do Cesb, Luiz Antonio da Silva, ressalta os altos índices de produtividade que os sojicultores vêm apresentando ao longo dos anos no Desafio. Nesta safra de 2019/2020, a média de produtividade alcançada pelos participantes do concurso foi de 83,1 sc/ha, enquanto a nacional, de acordo com a Conab, foi de 54,5 sc/ha. Na safra passada (2018/2019), o comitê registrou a média de 80 sc/ha, e a nacional foi de 53 sc/ha. Já na safra de 2017/2018, o Cesb registrou média de 83 sacas/ha e a nacional foi de 53 sacas/ hectare.

“Nesta edição do Desafio vemos que todos os campeões bateram a marca de 100 sacas por hectare, o que é algo a ser comemorado, diante de tantos obstáculos que apareceram. Portanto, seguimos com o objetivo de compartilhar informações, para que o Brasil continue se destacando ainda mais, mundialmente no cultivo de soja”, conclui.

Lições do desafio

O que aprender com os campeões do Cesb da safra 2019/20 quanto à eficiência climática x eficiência agrícola no aumento da produtividade da soja

Após mais uma safra de soja brasileira, o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) divulgou os campeões do Desafio Nacional de Máxima Produtividade. Todos, mais uma vez, superaram a marca de 100 sacas por hectare (Tabela 1), sendo a média dos campeões da ordem de 110,9 sacas por hectare, praticamente o dobro da produtividade média nacional, de 54,5 sacas por hectare, divulgada no último Boletim da Safra de Grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de julho de 2020. Ainda considerando-se as produtividades de soja do levantamento da Conab, os dados mostram que nesta última safra os valores alcançados pelo produtores brasileiros superaram as expectativas em muitos estados. Tomando-se como referência os estados dos campeões do Cesb, no Paraná a média estadual atingiu 63 sacas por hectare, enquanto no estado de Minas Gerais a média foi de 61 sacas por hectare e no Mato Grosso aproximadamente 59 sacas por hectare. Já no Piauí, de onde saiu o campeão da região Nordeste, a produtividade média ficou ligeiramente abaixo da média nacional, com 52 sacas por hectare, ao passo que no estado do Rio Grande do Sul, onde as chuvas ao longo da safra foram de baixo volume e muito irregulares, a produtividade média ficou por volta de 31 sacas por hectare, porém havendo expressivas variações entre as regiões produtoras, sendo as mais afetadas pela estiagem as regiões da Campanha, Missões e Planalto Médio, ao passo que no extremo Noroeste do estado a situação foi menos crítica.

Apesar dos campeões do Cesb estarem mostrando ano após ano que é possível se atingir produtividades de soja elevadas, havendo muitos produtores que já estão alcançando patamares de produtividade média de 70 sacas por hectare a 90 sacas por hectare em suas propriedades, as médias nacionais nas últimas safras continuam oscilando entre as 50 sacas por hectare e 55 sacas por hectare, o que se tornou um paradigma para a sojicultura brasileira. Diante disso, surgem muitas questões e especulações. Uma delas é: quais são os fatores efetivamente responsáveis por esse patamar nacional de produtividade da soja? São as condições climáticas que as lavouras enfrentam nas diferentes regiões brasileiras e épocas de semeadura ou as ações de manejo empregadas pelos agricultores? Somente é possível responder essa questão ao se lançar mão de análises das produtividades por meio do emprego de modelos de simulação de culturas. Esses modelos são um conjunto de algoritmos que simulam o funcionamento das plantas de uma cultura, ou seja, como se desenvolvem, crescem e produzem, sob os efeitos das condições de solo, clima e manejo, neste último caso associadas à cultivar empregada (grupo de maturação), à data de semeadura e ao sistema de cultivos (sequeiro ou irrigado). Com esses modelos, desde que bem calibrados para a realidade local, pode-se estimar os valores das produtividades potencial (PP) e atingível (PA). A PP representa o máximo que uma cultura poderia produzir quando influenciada apenas pela interação entre o genótipo e as condições energéticas do ambiente (radiação solar, fotoperíodo

Lições do desafio

Fotos Cesb

e temperatura do ar), considerando-se que não há efeitos depreciadores da produtividade causados pelo déficit hídrico ou pela ocorrência de pragas, doenças, plantas daninhas ou manejo nutricional inadequado. Assim, a PP varia entre locais de produção, entre as diferentes safras e, também, entre as épocas de semeadura. Já a PA é aquela influenciada pelos mesmos fatores que afetam a PP, porém considerando-se também o efeito dos déficits hídricos que ocorrem ao longo do ciclo da cultura, decorrentes do balanço entre as chuvas e a evapotranspiração. Neste caso, a PA irá variar entre locais, safras e épocas de semeadura, mas também com as características do solo e seu perfil. Neste caso, lavouras com solos de textura mais arenosa e/ou com perfil raso estarão mais sujeitas aos déficits hídricos que aquelas em solos de textura argilosa e/ ou com perfil profundo, nos quais as raízes crescem abundantemente explorando um volume maior de solo e, portanto, de água. Para a PA também se consideram condições ótimas de manejo. Uma vez definidos, para uma dada safra, o local de cultivo, a época de semeadura, o genótipo e a condição do solo da área, estimam-se os valores de PP e PA e com eles é possível determinar a perda de

Eficiências climáticas e agrícolas foram avaliadas durante o concurso

produtividade (yield gap) por déficit hídrico, dada pela diferença entre PP e PA, e a eficiência climática, que consiste na relação entre PA e PP, expressa em porcentagem. Uma vez que se conheça, ao final do ciclo da cultura, a produtividade real (PR), seja de sequeiro ou irrigada, a qual, além dos fatores listados para PP e PA, também é afetada pelas condições de manejo agrícola, determinam-se a perda de produtividade (yield gap) por déficit manejo, dada pela diferença entre PA e PR, e a eficiência agrícola, fruto da relação entre PR e PA, expressa em porcentagem.

Os dados apresentados na Tabela 2, provenientes do Cesb, da Conab e do Sistema Agrymax, da empresa Agrymet, permitem avaliar o que ocorreu nesta última safra em termos das eficiências climática e agrícola nas áreas campeãs e nos seus respectivos estados. Observa- -se que para as áreas campeãs as ECs foram sempre superiores a 70%, o que indica que o ambiente, juntamente com a irrigação no caso do campeão irrigado em Boa Vista das Missões, Rio Grande do Sul, proporcionou pelo menos 70% do que a cultura necessitou ao longo do ciclo. A pior situação em termos da EC

Dados foram observados nas diversas regiões onde os participantes do Desafio cultivam suas áreas de soja

Cesb

foi em Baixa Grande do Ribeiro, Piauí, com EC = 71,4%, enquanto a situação mais favorável ocorreu em Patrocínio, Minas Gerais, onde a EC atingiu mais de 96%, indicando que, nessa região, a cultura da soja praticamente não sofreu com déficit hídrico. Na área do campeão irrigado, a EC foi da ordem de 84%, o que se deveu aos 129mm de água fornecidos ao longo do ciclo, o que resultou em ganho de aproximadamente 4,5kg/ha de soja por milímetro de água aplicada. No caso das EAs, todas as regiões apresentaram elevados valores, acima de 66%, o que indica condições de manejo muito boas, já que é muito difícil se atingir uma EC de 100% em condições operacionais. A maior EA (91,2%) foi observada na região de Baixa Grande do Ribeiro, Piauí, seguida do campeão nacional em Mangueirinha, Paraná, com 89,8%, e do campeão do Centro-Oeste, em Campos de Júlio, Mato Grosso, clui-se que a realidade nacional ainda é bascampeãs apresentam uma EA de aproximadamente 82%, a média dos produtores brasileiros, representados pelos estados do Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Piauí não chega a 45%. Isso representa uma diferença da ordem de 57,8 sacas por hectare.

Mesmo que apenas parte dessa diferença possa ser obtida com a melhoria do manejo das lavouras de soja, isso indicaria um ganho de quase 29 sacas por hectare, elevando a média nacional a aproximadamente 82 sacas por hectare. Como isso poderia ser alcançado? Observando-se os manejos adotados pelos agricultores das áreas campeãs. Ao se analisar os dados do Cesb observa-se que todos os campeões de produtividade, não apenas deste ano, mas de todos os demais, foram aqueles que investiram em perfil de solo, alicerçando-o nos aspectos químicos, físicos e biológicos mais adequados, ajustando o

genótipo e o manejo nutricional de acordo com os ambientes de produção (clima e solo), empregando insumos (sementes, adubos e defensivos) de qualidade garantida e posicionando-os, no caso dos herbicidas, inseticidas e fungicidas, nos momentos mais adequados e quando necessário. Assim, as lições que os resultados do Desafio de Máxima Produtividade do Cesb da safra 2019/20 deixam são de que apenas fazer o básico não trará resultados diferentes daqueles já observados no cenário nacional, mantendo as EAs em torno de 40%. É preciso ir além disso, quebrar o paradigma da média nacional ficar nas 50-55 sacas por hectare. É necessário entender os ambientes de produção e adequar-se de modo a extrairmos o que proporcionam. cional a campeã mundial de produtividade.

com 88,1%. Nas áreas dos campeões das regiões Sul e Sudeste, Paulo Cesar Sentelhas as EAs foram um pouco menores, respectivamente, 66,8% e 73%. Esalq/USP – Agrometeorologia

Quando se analisam os dados provenientes da Conab, conMembro Efetivo do Cesb É preciso se desafiar a cada safra para fazer da sojicultura natante diferente do que se observa para os Tabela 1 - Dados das áreas campeãs do Desafio Nacional de Máxima Produtividade do Cesb e campeões do Cesb. As maiores diferenças estão nos valores das EAs, com exceção para Local e Estado Data semeadura Data colheita produtividades médias estaduais de acordo com o relatório da Conab de julho de 2020 Ciclo (dias) Prod. CESB (sc/ha) Prod. Estadual (sc/ha) o estado do Rio Grande do Sul, onde a esMangueirinha, PR 14/10/2019 21/02/2020 130 118,82 62,91 tiagem ocorrida neste ano afetou também Patrocínio, MG 28/11/2019 06/04/2020 130 118,63 60,57 os valores de EC. Na Tabela 2, observa-se B.V. das Missões, RS* 19/10/2019 13/03/2020 146 111,93 30,65 que as EAs dos estados em que se enconCampos de Júlio, MT 25/10/2019 18/02/2020 116 103,19 59,03 tram as áreas campeãs são bem menores B. G. do Ribeiro, PI 18/11/2019 17/03/2020 120 101,79 52,15 que os valores obtidos pelos agricultores Médias - - - 110,87 53,06 campeões, considerando-se que no estado * Essa localidade corresponde à área do Campeão irrigado. haja condições similares de clima e solo. Tabela 2 - Produtividades potencial (PP), atingível (PA) e real (PR) para os campeões do Desafio Mesmo sabendo-se das limitações dessa Nacional de Máxima Produtividade do Cesb e para seus respectivos estados, com PR proveniente do análise mais generalizada, pode-se ver que relatório da Conab de julho de 2020, e as eficiências climática (EC) e agrícola (EA) para cada situação as EAs médias dos estados oscilam entre CESB ESTADO 34% e 51%, muito aquém do observado Local e Estado PP2 PA2 PR EC EA PA2 PR EC EC nas áreas campeãs, entre 66% e 91%. Isso Sacas/ha % Sacas/ha % indica que dentre as variáveis que afetam Mangueirinha, PR 176,2 132,3 118,8 75,1 89,8 132,3 62,9 75,1 75,1 a produtividade da soja nas diferentes regiPatrocínio, MG 168,8 162,4 118,6 96,3 73,0 162,4 60,6 96,3 96,3 ões brasileiras, o manejo agrícola vem senB.V. das Missões, RS 199,1 167,6 111,9 84,2 66,8 90,0 30,7 45,2 45,2 do aquele que mais tem limitado a cultura, Campos de Júlio, MT B. G. do Ribeiro, PI 130,8 156,2 117,1 111,6 103,2 101,8 89,6 71,4 88,1 91,2 117,1 111,6 59,0 52,1 89,6 71,4 89,6 71,4 dadas as grandes diferenças apresentadas 1 Os valores de PP e a PA estaduais foram admitidos como sendo iguais aos obtidos nas áreas campeãs, com exceção do estado do Rio Grande do Sul, na Tabela 2. Enquanto, na média, as áreas onde a estiagem reduziu a PA em grande parte do estado. 2 Os valores de PP e PA foram obtidos do Sistema Agrymax da empresa Agrymet.

Resultado sustentável

Para ser campeão não basta produzir, tem que ser sustentável. Análises do Desafio Cesb mostram que vencedores diminuíram o impacto ambiental e aumentaram a sua rentabilidade

Em julho passado, durante o Fórum Nacional de Máxima Produtividade de Soja realizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) foram apresentados os campeões regionais e o campeão nacional de produtividade de soja, da safra 2019/20. As condições de inscrição no Desafio Cesb sempre exigiram do produtor o compromisso de respeito à legislação ambiental e trabalhista. De outra parte, a importância da sustentabilidade financeira sempre foi um mote importante e um estímulo para todo o participante do Desafio.

Anualmente, junto com a descrição do sistema de produção dos campeões, o Cesb apresenta a taxa de retorno financeiro, representada pela relação entre renda líquida e custo de produção. Para facilitar a compreensão, o índice é expresso em reais retornados para cada real investido. Este número sempre foi positivo, elevado e superior ao retorno confrontado com um comparador, que pode ser o restante da propriedade do agricultor ou o retorno de um produtor representativo da região. Para tanto, o Cesb conta com o apoio do Cepea/Esalq/USP. A partir deste ano o Cesb contará com mais uma ferramenta, para aquilatar a sustentabilidade dos campeões de produtividade de soja. Trata-se do índice de ecoeficiência, que leva em consideração a temática ambiental - baseada em 11 critérios - e a sustentabilidade econômica, utilizando o índice de retorno sobre o capital investido na lavoura.

OS CAMPEÕES

Entendemos que a produtividade obtida em campo é o resultado do potencial genético da cultivar de soja, descontados os efeitos dos estresses bióticos e abióticos, otimizando-se o sistema de produção para cada caso.

Obter um pico de produtividade exige uma conjunção de fatores agronômicos e climáticos. Além de um sistema de produção adequado - que se fundamenta em seguir, rigorosamente, as recomendações técnicas - é necessário contar com a conjunção de temperatura adequada e chuva suficiente e bem distribuída. Por óbvio, o produtor não pode moldar o clima às suas necessidades, mas pode utilizar tecnologias que eliminem ou mitiguem os efeitos adversos. Um caso típico é o cultivo em um perfil de solo profundo, sem compactação, com fertilidade e acidez adequadas, com bom teor de matéria orgânica, arejado e com alta capacidade de retenção de água. Isto permite suportar diver

sos dias de estiagem, valendo-se do suprimento de água do solo.

Mas, são os detalhes e os cuidados do sistema de produção que fazem a diferença. Solos com perfil profundo, sem compactação, sem problemas de acidez ou fertilidade, arejados, com bom teor de matéria orgânica. O plantio direto é fundamental. Seguir, rigorosamente, as recomendações técnicas, utilizar os insumos na quantidade adequada e no momento correto, selecionar a cultivar apropriada ao local, valendo-se de semente de alta qualidade, semeando-a no período recomendado, com espaçamento e densidade compatíveis. Segue-se um bom manejo da cultura, em especial cuidados com o manejo fitossanitário – nem falta nem excesso – até a colheita, onde evitar as perdas é a recomendação final.

ALTA PRODUTIVIDADE

É ESFORÇO CONJUNTO

O Desafio Cesb é uma construção conjunta, que envolve produtores, consultores, pesquisadores e demais profissionais que pugnam por um incremento na produtividade sustentável da soja, no Brasil. Houve um avanço enorme neste tema durante os 12 anos de existência do Cesb. A comprovação dos avanços é verificável por números. Lá no início, na safra 2008/09, a maior produtividade obti

Tabela 1 - Resultados do Desafio Cesb de Máxima Produtividade - 2019/20

Produtor

Laércio Dalla Vechia Antônio de Oliveira Neto Elizeu José Schaedler Elton Zanella Condomínio Milla Região

S SE S* CO N-NE Produtividade kg/ha 7.129 7.118 6.716 6.191 6.107 Média 1,50:1 1,80:1 1,20:1 1,40:1 1,40:1

Retorno Campeão Econômica 2,80:1 46% 2,70:1 31% 2,10:1 41% 1,80:1 10% 3,20:1 58% Ambiental 24% 48% 22% -94% 55%

da foi de 4.968kg/ha. Neste ano foram 7.129kg/ha e o recorde nacional é de 8.946kg/ha. Considerados os dez produtores com produtividade mais alta, a média passou de 4.668kg/ha (2008/09) para 7.116kg/ha (2018/19).

Porém, é interessante confrontar os números obtidos pelos participantes do desafio com a média brasileira, aferida pela Conab. Considerada a média dos primeiros colocados no Desafio, ao longo de 12 anos, ela se situa 133% acima da média brasileira do período. Mas, ser campeão de produtividade é um evento que exige conjugação de diversos fatores. Então consideremos os dez melhores participantes: ao longo de 12 anos, eles produziram, em média, 107% acima da média brasileira. Podemos até considerar que estes dez produtores sejam uma elite, então olhemos para a média dos 100 primeiros colocados, ao longo das edições do Desafio: eles produziram 75% acima da média brasileira.

Permitimo-nos concluir que, se esta centena de produtores conseguiu repetir anualmente o feito, utilizando tecnologia comercial disponível a todos. Qualquer produtor brasileiro pode ambicionar o mesmo fato. Se não forem os 75%, que seja metade disto, 37,5% já nos confeririam um índice de sustentabilidade ímpar no mundo. E sustentabilidade é sinônimo de passaporte para a abertura de novos mercados e de consolidação dos já existentes.

DIFERENCIAIS

Não existe bala de prata que permita obter altas produtividades. Nas palavras dos próprios campeões, manejo do solo, rotação de culturas, plantio direto, calcário e gesso, características adequadas do solo fizeram a diferença. Esta é a opinião do campeão do Sul, o Laércio Dalla Vechia, um entusiasta de tecnologias adequadas e sustentáveis. Para a mesma região, porém na soja irrigada, o Elizeu José Schaedler chama a atenção para todos esses fatores, mais a plantabilidade e o capricho na execução das práticas agrícolas.

Na região Sudeste, o Antonio de Oliveira Neto lembra de todos os fatores anteriores, mas destaca que, além da tecnologia, o clima adequado é fundamental, se faltar água na quantidade adequada e na hora certa, a soja sofre. No caso do Centro-Oeste, o Elton Zanella lembra também da qualidade das sementes (vigor e poder germinativo), além do que os outros campeões mencionaram. E o campeão do Nordeste, lá do Piauí, reconhece todas as questões colocadas pelos anteriores, lembrando que a prática contínua e o aprendizado acumulado a cada ano ajudam a construir um sistema de produção de soja de alta produtividade.

Em conclusão, mais do que os números frios da produtividade, o que nos entusiasma nos resultados do Desafio são os ganhos de ecoeficiência, pois as análises mostram que os campeões diminuem o impacto ambiental e aumentam a sua rentabilidade. Isto é o que denominamos de incremento sustentável da produtividade, absolutamente em linha com as demandas do mercado. Ou seja, para ser um campeão não basta ter alta produtividade, é preciso ser sustentável.

Décio Luiz Gazzoni Embrapa Membro fundador do Cesb

Divulgação

Índice de ecoeficiência passou a ser medido pelo Cesb a partir deste ano Gazzoni chama a atenção para a importância da sustentabilidade ambiental e econômica na produção de soja

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