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Agricultura de Precisão

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Lubrificantes

Lubrificantes

Sempre é tempo de reinvenção, de inovar, de pensar e fazer diferente. O mundo nunca mudou tanto como nos últimos dois anos e a agricultura tem sentido e feito parte dessas mudanças. O futuro, porém, depende da mente humana também mudar para que realmente se possa usufruir dos benefícios desses avanços científicos, sabendo interpretar os dados gerados sem perder o foco e a responsabilidade na grande oportunidade que é garantir a qualidade ambiental.

Há 20 anos, as comunidades agronômicas e técnicas estavam começando a provar de um novo momento na agricultura mundial, o início da agricultura de precisão. A partir do início dos anos 2000, principalmente as máquinas agrícolas mudaram muito a partir da inclusão de tecnologias embarcadas como Sistemas de Posicionamento Global (GPS), sensores e atuadores.

Foi possível passar de uma simples operação agrícola para um sistema gerencial em nível de talhão com o monitoramento quase que em tempo real de vários atri-

A quinta revolução

A quinta grande revolução na agricultura virá da agricultura digital e sua capacidade em ampliar os estoques de carbono e garantir a saúde do solo

butos como direcionamento, capacidade operacional, consumo de combustível e, a oportunidade que mais impactou: possibilidade de distribuir corretivos e fertilizantes em taxa variada e de monitorar a produtividade de forma georreferenciada através de mapas temáticos.

Quando se achava que a revolução tecnológica tinha alcançado seu auge com a agricultura de precisão pela possibilidade de “enxergar” a lavoura de forma espacial, ao mundo se apresenta a agricultura digital, uma forma mais inteligente de compreender, analisar e observar fenômenos e variáveis (Figura 1). Com a inclusão de plataformas digitais com visão apurada e muito mais assertiva, o mundo pode avançar para uma gestão por ambiente de produção, elevando significativamente a caracterização da variabilidade, o entendimento das causas da variabilidade e, não menos importante, a capacidade de tomada

Charles Echer

Figura 1 - Diferentes formas de percepção e análise da qualidade química do solo

de decisão e a responsabilidade ambiental.

Nunca na história da agricultura a integração dos dados foi tão importante como nesse momento. Com a evolução tecnológica como a mecanização agrícola, a revolução verde, o advento dos produtos químicos, a transgenia, a biotecnologia e a própria agricultura de precisão, tem se demonstrado que tomar decisões baseadas em dados isolados não tem ajudado a melhorar processos e garantir altas produtividades.

Quando se pensa em altas produtividades, e é uma necessidade global produzir mais alimentos, parece algo matemático e de certa forma simples. Porém, é algo complexo e biológico, aliás, depende da química, da física e da biologia. O melhor caminho é garantir o histórico dos cultivos (Figura 2) e, baseado em dados, relacionar com atributos visando ao entendimento das causas para haver ambientes com alto potencial de produtividade e ambientes com limitações produtivas.

NENHUMA TECNOLOGIA

CORRIGE UM ERRO DE MANEJO

O sucesso nas lavouras só é possível quando medimos, avaliamos, dispomos de dados para tomar decisões e integramos, através de algoritmos, esses dados para buscar a real compreensão dos fenômenos e das causas limitantes à produtividade. A Figura 2 demonstra que existe, sim, variação de produtividade nas lavouras e esse número pode representar até 30% do total dos talhões com baixas produtividades. Porém, somente com informações pode-se saber exatamente onde e qual o tamanho desses ambientes para então realizar avaliações sobre as causas e tomar providências técnicas e medidas agronômicas de correções. No exemplo da Figura 2, há uma grande variabilidade de produtividade com estabilidade de ambientes de alto e baixo potencial. Impossível tomar uma decisão correta sem dispor de dados. Nesse caso específico, o problema eram baixos teores de fósforo tanto na cama superior (0m a 0,15m) como no perfil do solo (0,15m a 0,30m). Isso demonstra que é possível impormos um nível técnico nas lavouras com altas taxas de acerto.

Mesmo assim, apesar de toda a inovação tecnológica em máquinas e equipamentos, a planta ainda é o melhor sensor ao o ambiente em que está inserida e deve ser considerada, sempre que possível, para ampliar a visão sobre a variabilidade existente na área, bem como auxiliar no diagnóstico de razões e problemas existentes. Sob outro aspecto, o comportamento das plantas é de fundamental importância também para mensurar o sucesso ou insucesso dos manejos adotados.

Uma tomada de decisão (adotar ou não uma planta de cobertura) modifica completamente o meio e gera uma perturbação positiva ou negativa que implicará a produtividade final e a lucratividade da lavoura. Na maioria das vezes as tecnologias da agricultura de precisão e digital acabam por não entregarem os reais benefícios por questões agronômicas básicas, como falta de rotação de culturas, calagem, manejo integrado de pragas, plantas daninhas e doenças ou mesmo escolha correta de uma cultivar/híbrido ou semeadura em época adequada, ou seja, nenhuma tecnologia corrige um erro de manejo.

Por mais interessante que seja esse momento que a agricultura mundial está vivendo, não basta apenas a preocupação com a produtividade. O próprio conceito da agricultura de precisão (otimizar, maximizar e preservar o meio ambiente) busca garantir sustentabilidade, principalmente otimizando os recursos utilizados na agricultura como a grande oportunidade, através das ferramentas tecnológicas de gestão, perseguir conceitos e adotar técnicas de manejo mais sustentáveis.

Com esse olhar, a agricultura digital pode garantir um grande avanço científico e tecnológico para questões complexas, polêmicas, mas necessárias para a saúde do planeta e melhorar a vida da humanidade. Temas como sequestro, estoque, balanço de carbono, atividade enzimática do solo, melhoria da biota e qualidade da água deixam de ser apenas pontos de atenção ou discus-

sões ideológicas ou mesmo políticas. Felizmente a agricultura pode, e deve, dar passos importantes rumo à sustentabilidade.

GESTÃO POR

AMBIENTE DE

PRODUÇÃO

Através da gestão por ambiente de produção (Figura 3) abre-se um leque de possibilidades nunca antes visto na agricultura, principalmente no que se refere e alternativas e tomadas de decisões para melhorar o sistema plantio direto. Embora muitas propriedades tenham adotado boas práticas de manejo e inclusive estratégias da agricultura de precisão, ainda existem ambientes passíveis de melhorias. Pesquisas conduzidas pelo Laboratório de Agricultura de Precisão do Sul – LAPSul/UFSM demonstram que embora avançamos muito sob aspectos da fertilidade do solo, ainda muitos problemas permanecem nas lavouras, como compactação, baixa diversidade biológica e teores de matéria orgânica (carbono) muito abaixo do necessário para garantia de estabilidade produtiva e da vida no solo.

As questões de saúde do solo e créditos de carbono não são apenas temas utópicos e distantes das propriedades. Um hectare manejado no sistema plantio direto pode estocar de 0,5 até quatro toneladas de carbono e compensar a emissão de gás carbônico produzido por quatro carros. Eis algo tão importante quanto a produtividade. Algo fantástico – produzir alimento e ainda cuidar do planeta.

Nesse novo advento tecnológico e em tempos de reinvenções nunca foi tão importante poder monitorar a lavoura por meios remotos, mas com um nível de detalhamento quase impossível apenas pelos olhos humanos. A agricultura digital expande nossa capacidade gerencial. Amplia a relação olhos/hectares. Mesmo assim, é preciso superar o imediatismo nas respostas, pois a base do sistema de produção é o solo e nele há mais vida que em qualquer outro lugar dos agroecossistemas.

Mesmo com todos esses avanços é preciso lembrar que o futuro depende da capacidade humana em saber interpretar os dados, tomar decisões, integrar as variáveis,

Embora muitas propriedades tenham adotado boas práticas de manejo e inclusive estratégias da agricultura de precisão, ainda existem ambientes passíveis de melhorias fazer o básico bem feito e, principalmente, de garantir que aconteça um balanço positivo de carbono no solo, pois a roda da vida depende do carbono. Não há dúvida de que a quinta grande revolução na agricultura virá da agricultura digital e sua capacidade em ampliar os estoques de carbono e garantir a saúde do solo. .M

Antônio Luis Santi, Departamento de Ciências Agronômicas e Ambientais Luís Felipe Rossetto Gerlach Antonio Luiz Martins Gutheil Caroline Silveira de Lima Tailine Halberstadt Guilherme Rechden Lobato, FSM

Figura 2 - Monitoramento da produtividade dos cultivos ao longo do tempo - histórico de produção (acima) e sua relação com atributos do solo (abaixo) através da plataforma digital Climate FieldView

Figura 3 - Monitoramento do teor de matéria orgânica do solo e potencial de sequestro de carbono (estoque e balanço de carbono) por ambiente de produção

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