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Coluna ANPII

Foco em bioinsumos

Mapa cria programa nacional com objetivo de ampliar e fortalecer o uso de insumos para promoção de desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira

Já escrevemos em artigos anteriores que a agricultura do século 21 caminha para ter a linha de produtos biológicos como um de seus vetores mais importantes. Uma série de fatores, já listados em dezenas de trabalhos, leva irreversivelmente a produção agrícola para este caminho. Tanto no que tange à fixação biológica de nitrogênio, como em organismos promotores de crescimento e de controle biológico, o leque de produtos à base ou oriundos de micro- -organismos vem tendo cada vez mais aceitação por parte do agricultor brasileiro.

Dentro da tarefa de ordenar a política agrícola brasileira, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) criou o Programa Nacional de Bioinsumos “que tem por objetivo ampliar e fortalecer o uso de insumos para promoção de desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira”.

Na década de 70 do século passado, um dos grandes marcos da soja no Brasil foi a criação pelo então Ministério da Agricultura, da Comissão Nacional da Soja, da qual fiz parte durante um período e com a presença do professor Jardim Freire e da cientista Johanna Dobereiner. Esta comissão delineou a fixação biológica do nitrogênio (FBN), como a fonte preferencial de fornecimento de nitrogênio para soja. Isto foi um marco na cultura da oleaginosa no Brasil e o passo inicial para todo o sistema que foi montado a partir daí, levando o País a ser o que mais e melhor utiliza o nitrogênio via biológica no mundo.

Assim, iniciativas para organizar e incrementar atividades que tragam maior produtividade para o agricultor e ganhos para a o sociedade como um todo, podem, se bem implementadas, mudar os rumos da agricultura e trazer um significativo aumento na oferta de alimentos para o Brasil e o mundo. Esperamos que esta nova iniciativa da atual gestão do Mapa venha a frutificar com a mesma força como ocorreu há 50 anos.

O Projeto abrange diversos pontos e sinaliza várias ações que poderão trazer diretrizes para o desenvolvimento da atividade no País de uma forma integrada, juntando as competências da área de gestão do Mapa, de pesquisa da Embrapa e de universidades e institutos com as empresas privadas de produção de insumos biológicos.

As portarias para a implantação do plano estão em consulta pública, permitindo que a sociedade se manifeste sobre a legislação proposta, com o objetivo de adequá-la às reais necessidades da agricultura brasileira.

Um dos pontos que chamam mais a atenção dos produtores de inoculantes é o que se refere à produção do produto biológico na própria fazenda (on farm). Esta prática vem se disseminando em algumas fazendas e já foi objeto de outros artigos nossos, mostrando que a produção de inoculantes à base de Rhizobium, Bradyrhizobium e Azospirillum necessita de um elevado respaldo em conhecimentos e procedimentos microbiológicos, o que redunda em altos investimentos, que inviabilizam sua produção de forma econômica, pois somente a alta escala traz rendimento a este tipo de produção. São necessárias condições de elevado padrão tecnológico, com

todas as técnicas de microbiologia industrial para que se obtenha um produto eficaz. A FBN é uma tecnologia fundamental para a competitividade da soja no Brasil, respondendo por significativos

A FBN é uma tecnologia fundamental para a competitividade da soja no Brasil, respondendo por significativos ganhos para o agricultor, para o País e para o ambiente

ganhos para o agricultor, para o País e para o ambiente, com a redução das emissões de carbono para a atmosfera. Como apresenta esta elevada importância, deve ser tratado com o máximo de cuidado para que não se perca ou mesmo diminua a produtividade, este recurso que o Brasil tem utilizado de forma tão eficiente. Uma produção de inoculante de baixa qualidade, sem dúvida, afetará o aporte de nitrogênio na cultura da soja e trará diminuição na produtividade ou exigirá o aporte de fertilizantes nitrogenados, com todas as desvantagens que estes produtos têm na cultura da soja, embora sejam essenciais em outras culturas. Mas temos certeza de que a nova legislação levará tudo isto em conta e irá fazer exigências para que a

produção que, eventualmente, vier a ser realizada em fazendas, levará em consideração a importância da FBN e a necessidade de que venha a ser feita dentro das boas práticas de fabricação para que o agricultor e a sociedade continuem a desfrutar dos benefícios do fornecimento de nitrogênio via biológica.

Solon Araújo, Consultor da ANPII

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