Casa Real 2014 - Arte Contemporânea

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entre a Fazenda Se a arte moderna brasileira, surgida no início do século XX, foi movida em grande parte pelo capital gerado nas Fazendas (os discursos do modernismo paulista, por exemplo, evidenciam esse vínculo rural), o conceito da mostra Entre a Fazenda e o Arranha-Céu propõe percurso inverso: artistas contemporâne­ os da cidade (restritos, no caso deste projeto piloto, ao Rio de Janeiro) retornam à fazenda para uma releitura atual (e urba­ na) de nosso passado. O começo da Arte Moderna no Brasil, há cerca de 100 anos, foi marcado não somente pelo confron­ to entre a nova tendência artística e a arte acadêmica legada pelo Império, como também pelas restrições à sua própria expansão, impostas por uma realidade sócio-econômica pa­ radoxal: se por um lado as grandes cidades – sobretudo o Rio de Janeiro, à época capital Federal, e São Paulo –, viviam um cotidiano moderno, propiciado pela industrialização nascente cujo símbolo era então o arranha-céu, por outro a articulação orgânica dessas metrópoles com uma econo­mia então predominantemente agro-exportadora, socialmente retrógrada e da qual dependiam, cujo núcleo era a fazenda, conspirava contra a implantação generalizada do capitalismo que nelas se anunciava. Na Europa a modernidade surgiu do triunfo da cidade industrial (burguesia) contra os pro­ prietários rurais (nobreza). O marco histórico-social dessa ruptura foi a Revolução Francesa de 1789. Mesmo assim foram necessários quase oitenta anos para o surgimento do


e o Arranha-céu Impressionismo (primeira manifestação da arte moderna francesa). No Brasil houve um processo inverso: foi o boom da economia cafeeira (somado ao da exportação de açúcar, borracha, fumo etc.) que permitiu que fazendeiros desvias­ sem parte de seus capitais para o início da industrialização no país. Portanto, o modernismo brasileiro não nasceu da ruptura, mas da atualização dos interesses agro-exportadores nas poucas cidades modernas de que o campo necessitava para o negócio e a exportação de produtos agrícolas. Para os primeiros artistas modernos do Brasil, surgidos no co­ meço do século XX, em lugar da proposta de ruptura (como ocorrera no velho continente), foi necessária a concilia­ ção com o atraso rural, causado por séculos de escravidão. Entre a Fazenda e o Arranha-Céu é embrião de uma série de mostras concebidas em torno da relação cidade-campo (cujas pendências históricas ainda se fazem sentir negativamente na vida social brasileira) que irá se integrar ao evento Casa Real, apresentado anualmente na Fazenda São Luiz da Boa Sorte, em Vassouras, Rio de Janeiro. Participam dessa versão piloto os artistas Afonso Tostes, Ana Vitória Mussi, Anna Bella Gei­ ger, Franz Manata & Saulo Laudares, Jarbas Lopes, Mario Band’s, Marta Jourdan, Neno del Castillo, Ronald Duarte, Sonia Andrade, Suzana Queiroga e Xico Chaves, cujas in­ tervenções e instalações estão montadas no entorno da casa grande, sede da fazenda. fernando cocchiarale curador


Afonso Tostes 窶「 MONTテグ 2014 窶、 terr a, gr ama, pedr as


Ana Vitória Mussi • Bang

2012 ․ Instal ação com quatro projeções simultâneas e trilha sonor a


Anna bella geiger • CIRCA MMXI / MMXIV

2014 ․ Vídeo Ambiente: ar eia, terr a, pedr a, tijolo, maquetes foto da obr a “circa 1 11”, apr esentada No OI futuro, rio de janeiro, 2004


Franz Manata & Saulo Laudares • AFTER: NATURE

2014 ․ Instal ação Sonor a: t wetters, cabos, trilha sonor a e deck de madeir a


Jarbas Lopes • O BEM E O MAL-ENTENDIDO 2006 ․ montagem com fuscas pr eto e br anco


Mario Band’s • O futuro dialogando com o passado 2014 ․ Pintur a Mur al (spr ay e PVA)


marta jourdan • AQUANTUM

2014 ․ tr ês bombas d’água, com sistema eletrônico foto da obr a “zona de l ançamento”, apr esentada NA FUNDAÇÃO EVA KL ABIN, rio de janeiro, 2007


Quantas terras e mares, quantas tormentas, perseguições, mortes e sofrimento... Quanto mais esforços suportar para outros tantos? Quanto? Onde? Como? Quem? Além? Além.

Neno del Castillo • NEGRO CELESTE

2014 ․ Intervenção Sonor a (audio design, R enato Bar atcho)


Sonia Andrade • sem título 2001 ․ VideoInstal ação: projeção sobr e 200 kg. de pontas de cristal rocha


SUzana queiroga • Tropeços em Paradoxos 2002/2014 ․ conjunto de escultur as Infl áveis


Ronald Duarte • Nimbo Oxalá 2004/2014 ․ Vinte extintor es de CO²


Xico Chaves • Órbita – Poética 2011 ․ Poesia Objeto: projeções sobr e par ede


Afonso Tostes  vive e trabalha no Rio de República Tcheca, e na Mostra Latino-Americana Janeiro. Estudou na Escola Visual do Parque Lage, e expôs suas obras, coletiva e individualmente, no Centro Cultural de São Paulo e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Participou da V Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, entre outras. “Uma estrutura em que as pessoas possam subir e cruzar o olhar no mesmo plano de quem estiver na varanda da casa. É como se o piso se elevasse e as pe­ dras no alto, formando um calçamento, dialogassem com algo semelhante a um altar. Um altar subjetivo.

de Arte Contemporânea, em Curitiba. “Pequenos alto falantes, posicionados na copa de uma árvore à beira do lago, reproduzem a trilha sonora composta de cantos de pássaros, sons de animais, ruídos e vestígios. Em um mundo com excesso de informações, onde cultuamos a falta de tempo e o fato de estarmos sempre ocupados, After Nature abre, na paisagem, uma “trilha” que nos convida a desacelerar...”

de 1969 já participou de diversas exposições coletivas e também teve mostras individuais. Em destaque: “Arquivo Geral”, no Centro de Arte Hélio Oitici­ ca, no Rio de Janeiro, e “Brasiliank Serigrafisk”, no Centro de Arte Gammelgaard, na Dinamarca. “Minha investigação é sobre os modos de exposição e visibilidade da guerra, do homem em situações­ limite. Na exibição da superioridade, no fundo, tentamos superar nossa angustiante fragilidade. A semelhança entre o salto do atleta olímpico e o voo do avião de combate desvela a absoluta falta de chão da existência.”

Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Suas obras fizeram parte de várias exposições, como: “Off the Grid”, na Galeria Lehmann Maupin, em Nova York, e a Bienal de Havana, em Cuba. “Sm. Qualidade atribuída a ações e obras humanas que lhes confere um caráter moral. / Virtude. / Felici­ dade, ventura. / Benefício. / Proveito. / Pessoa muito amada. / Conveniente, com saúde, com perfeição. / Bem econômico. Econ. Bem que é objeto de compra e venda. / Bem Livre. Econ. Bem disponível sem custo, como o ar que respiramos. Sm. Aquilo que prejudica, fere, ofende, que se opõe à virtude, à mo­ ral, ao direito, à justiça. / Dano, prejuízo, malefício. / Achaque, doença. / Calamidade, desgraça. / Dor, tormento, aflição. / Estado mórbido. // Cortar o mal pela raiz. // Há males que vêm para bem, certas coi­ sas ou fatos, aparentemente danosos, acabam tendo consequências benéficas. // Estar, ficar, trocar de mal (com alguém), cortar relações, estar brigado com…”

Jarbas Lopes  mora e trabalha em Maricá, no Rio Ana Vitória Mussi  vive no Rio de Janeiro. Des­ de Janeiro. O artista é bacharel em Escultura pela

Anna Bella Geiger  vive e trabalha no Rio de

Janeiro. Estudou na National Faculty of Philosophy History and Sociology of Art, em Nova York. Entre as exposições da artista estão: “Video Vintage”, no Centre Georges Pompidou, em Paris e “Projections XXI”, no Museu de Arte Moderna de Nova York. “Circa é uma maneira objetiva de lidar com a “imprecisão” do tempo, que é subjetivo em sua percepção, mas duro e objetivamente implacável (preciso) na marcação dos corpos. Circa é uma instância ou uma configuração paradoxal em que realidade e irrealidade se aproximam, fazendo com que uma duvide da outra ao mesmo tempo em que uma confirma a outra.”

Franz Manata & Saulo Laudares  vivem e

trabalham no Rio de Janeiro. Eles formaram o duo em 1996. Já expuseram suas obras dentro e fora do Brasil, como na II Bienal Internacional de Praga, na

Mario Band’s  é um artista urbano. Estudante

da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, ele faz trabalhos culturais com grafite desde 2000. Expôs suas obras no Arquivo Nacional e no Museu da República do Rio de Janeiro, além de já ter reali­ zado diversas intervenções em espaços públicos. “O futuro dialogando com o passado, em uma fragmentação de tempos. Utilizando formas geo­ métricas, gerei novas formas e também pintei novas formas. O muro existente ganhou uma escada viva, que pode ser usada, dando forma à parede lisa. Na escada, o desenho de um muro. O objetivo é


contar a história desse espaço, que tem em torno de duzentos anos, de um outro ponto de vista.”

Marta Jourdan  estudou na Ècole Jacques Le

Coq, em Paris. Nos últimos sete anos participou de muitas exposições coletivas, além de ter reali­ zado individuais. Entre elas destacam-se: “Super”, na Christopher Grimes Gallery, em Los Angeles, e “Projeto Coleções”, no Instituto Inhotim, em Belo Horizonte. “Meu trabalho expõe objetos que con­ figuram experiências sutis como condensações, fu­ sões, evaporações e desintegrações. Ao intensificar um dos aspectos dessas experiências somos levados ao interior, à poética de tais eventos. Estas experi­ ências são cíclicas, dando-nos a ver a diversidade de cada acontecimento, singularizando o múltiplo.”

Suzana Queiroga  nasceu e trabalha no Rio

de Janeiro. Estudou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Participou de exposições nacionais e internacionais, como a Bienal de São Paulo e a Feira Internacional de Arte Contemporânea/ARCO de Madri. “Tropeços em Paradoxos – AR, 2002” é particular­ mente centrado no questionamento do atributo da bidimensionalidade do suporte da pintura, procurando incorporar a esta o espaço. Porém, o que mais interessa à artista é o projeto de au­ sência de uma fixidez na forma, ou seja, uma pintura sem forma fixa. Não há um esquema final de montagem, mas possibilidades múltiplas de articulação de fragmentos em um diálogo inten­ so com o local.”

Neno Del CastilLo  é doutorando em Lin­ Ronald Duarte  vive e trabalha no Rio de guagens Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Desde os anos 80 suas obras são expostas em mostras coletivas e em exposições in­ dividuais em museus e galerias, tais como: Caelum Gallery, em Nova York, e Kunstwerk, em Köln, na Alemanha. “Negro celeste é uma homenagem à nação negra escrava, que fincou nessas terras suas estórias, crenças e transcendências para além de qualquer dominação.”

Sonia Andrade  mora no Rio de Janeiro. A

artista já teve obras expostas no Museu do Louvre e no Centre George Pompidou, em Paris, assim como no Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles. E fez exposições individuais no Museu de Arte Moderna e de Belas Artes, no Rio de Janeiro, entre outros. “A artista não busca a gênese do real ou da ima­ gem artística e eletrônica, mas a passagem entre ‘devires-imagens’. Tem como pressuposto o caráter irresoluto entre o real e seus reflexos: a diferença entre estes, se existe, há muito se encontra trans­ tornada. O que existe só existe enquanto imagem: imagens apaixonantes e enigmáticas.” Trecho do texto O fascínio da pedra especular, de Marisa Fló­ rido Cesar, publicado no catálogo Sonia Andrade, vídeos 2005-1974.

Janeiro. É mestre em História da Arte pela Uni­ versidade Federal do Rio de Janeiro. Nos últimos 20 anos, participou de grandes exposições como AFRO MODERN, na Tate Gallery de Liverpool, no Reino Unido, e da Art Basel, de Miami. “Suas ações pela cidade (e pelo mundo) sempre suscitam o dúbio sentimento de celebração e indignidade. Em geral, expõem a violência endêmi­ ca e o descalabro social que assolam as metrópoles.” Trecho do texto de Marisa Flórido sobre a arte de Ronaldo Duarte.

Xico chaves  mora no Rio de Janeiro. O artista

tem o título de Notório Saber em Artes Visuais pela Universidade de Brasília. Ele tem no currículo di­ versas exposições individuais em espaços culturais, como a Galeria Debret, em Paris, a Casa Cultural de Los Angeles e a Casa do Brasil, em Madri. “Os objetos movimentavam-se, vertical e horizon­ talmente, em diversas velocidades, assim como os textos que, por meio de computação gráfica, fracionam-se, dilatam-se, fundem-se, multipli­ cam-se e expandem-se de forma semi-aleatória, formando composições e adquirindo diversos sentidos sobre o espaço cósmico “multiverso”, dando a impressão de infinitude nas combinações e sucessivas leituras.”


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casa real contemporânea A ideia de trazer a Arte Contemporânea para dentro da Fazenda é um sonho que meu marido Nestor Rocha, Presidente do Preservale, e eu partilhamos há muitos anos o qual, sinceramente, achávamos muito difícil realizar. Montá-lo foi uma grande aventura, permeada por muitos altos e baixos, idas e vindas, até encontrarmos a rota de nosso caminho. A exposição representa para nós a possibilidade e a responsabilidade de formar uma nova plateia de Cultura: a da Arte Contemporânea. Agradeço a todos os que nos ajudaram, em especial à Escola de Artes Visuais do Parque Laje, que nos abriu suas portas e sinalizou-nos o caminho. Liliana Rodriguez Rocha Mostra Casa Real realização Rosa Real • coordenadoria geral Liliana Rodriguez e Jacyra Lucas • coordena­ dor executivo Julio Rocha • coordenadora executiva Carla Nagel • curadoria de arte e mobiliário Martha Burle • curadoria de design de interiores Claudio Lobato • assessoria de imprensa Bruno Chateubriand • identidade visual Jair de Souza, Rita Sepulveda de Faria, Rodrigo Barja e Natali Nabekura • produção Andréa Cardoso, Eduarda Lima, Jaqueline Cunha e Nathalia Rosental • seguro de obras de arte LR Corretora de Seguros. entre a fazenda e o arranha-céu Curadoria Fernando Cocchiarale • Coordenação de Produção Nelson Ricardo Martins (Fase 10) • Arquitetura/Montagem Ivan Pascarelli • Assistente e Montagem Marcelo Camargo • Produtor Breno Augusto Araújo • Assistente de produção Nino Adler • Consultoria de Imagem Novamídia • Iluminação Widimar Ligeiro • projeto gráfico Jair de Souza Design • texto Juliana Aquino • Fotografias 1 Afonso Tostes,

2 Ana Vitória Mussi, 3 Rubber Seabra, 4 Saulo Laudares, 5 Rosa de Luca, 6 Allan Lucas, 7 Vicente de Mello, 8 Neno Del Castillo, 9 Claudia Laborne, 10 Wilton Montenegro, 11 Gabriel Amorim e 12 Wilton Montenegro • produção gráfica Verly Costa • revisão Sigrid Ribeiro • gráfica Sol Gráfica.



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