![](https://static.isu.pub/fe/default-story-images/news.jpg?width=720&quality=85%2C50)
9 minute read
Capítulo 1 - Como as Ervas Curam
Capítulo 1
Como as Ervas Curam =
Advertisement
As ervas são os nossos medicamentos primários, os mais básicos. São presentes que a natureza nos deu, que crescem da terra, nutridas pelo sol e pela lua, pela chuva e pela neve, para nos alimentar e curar, sustentando nosso corpo, nossa mente e nosso espírito. Elas nos fazem lembrar da nossa natureza e nos permitem viver como mulheres, de um modo natural. Mas de que modo as ervas da natureza se tornam medicamentos que nos curam?
A palavra “medicina” é derivada da raiz sânscrita mā, que significa “medida” ou “equilíbrio”. Os medicamentos à base de ervas restauram o equilíbrio. Eles possuem compostos específicos poderosos que operam em vários níveis, causando respostas físicas ou emocionais no nosso corpo, mente e espírito. Portanto, embora seus compostos ou “substâncias ativas” possam alterar nosso corpo físico, também podem gerar alterações energéticas ao transferirem suas energias espirituais para o nosso campo de energia eletromagnética. Algumas plantas, como as que descrevo no Capítulo 6, têm efeitos psicoativos que causam alterações na função cerebral, resultando em mudanças na percepção, no humor, na consciência, na cognição ou no comportamento. Elas são nossas aliadas, pois com elas temos novos insights, aprimoramos nossa conexão com nosso eu, com os outros e com o cosmos e, quem sabe, afirmamos o nosso propósito e o nosso lugar no mundo. Elas também podem ajudar a aliviar nossos temores enquanto nos preparamos para deixar nosso corpo nesta terra. Embora possamos ser tentadas a considerar apenas a ciência da biomedicina e afirmar que as ervas auxiliam nossa saúde devido a um certo produto ou substância química, devemos
ter cautela em relação a essa atitude, pois as plantas terapêuticas são um presente que vêm como um pacote completo. Elas combinam todos os elementos necessários para nos dar equilíbrio; mas também atenuam a ação das substâncias ativas mais potentes, que podem causar efeitos colaterais se usadas isoladamente.
Muitos dos nossos remédios comerciais bem conhecidos são derivados de plantas medicinais. Os pesquisadores geralmente identificam uma substância ativa – o que consideram a parte mais importante e útil da planta – e depois a extraem, concentram e aumentam sua potência para obter um determinado resultado. Embora esse método geralmente funcione, também pode levar a efeitos inesperados. Quando o composto ativo é removido das partes ativas da planta inteira tal como ela se encontra na natureza, ele também é separado de todos os outros constituintes que contribuem para o equilíbrio. Por exemplo, a aspirina (ácido acetilsalicílico) é derivada de plantas pertencentes ao gênero Spiraea, ricas em ácido salicílico, um analgésico (age contra a dor). Há milênios os povos indígenas usam muitas dessas plantas em tratamentos externos ou por ingestão. A casca de salgueiro-branco (Salix alba) é um bom exemplo. Embora a aspirina seja um medicamento poderoso, usado para diminuir a dor, abaixar a febre e afinar o sangue, pode ter efeitos colaterais perigosos, como sangramento descontrolado. Também é importante observar que algumas pessoas têm o que se chama de “intolerância ao salicilato” e se expostas a essa substância, podem contrair asma e urticária. A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) é outro exemplo de que o modo como extraímos a substância ativa mais poderosa da planta pode acabar levando a doenças. Quando a cana é mastigada como alimento ou remédio fitoterápico, ou quando se toma o suco fresco, o caldo extraído é rico em micronutrientes (ferro, cobre, manganês, zinco, molibdênio e boro), minerais, quantidades vestigiais de vitaminas do complexo B e fenóis anti-inflamatórios. A cana também é usada na Índia para tratar icterícia e doenças renais. Por milhares de anos, o açúcar foi extraído dessa gramínea e usado como um tempero, em pequenas quantidades; era também muito caro. Mas quando o açúcar passou a ser processado comercialmente, em grandes quantidades, convertido em adoçante granular de baixo custo, trouxe novos males como o diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Outro exemplo dos problemas resultantes da extração de compostos das plantas é a folha de coca (Erythroxylum coca). A coca é rica em cálcio, vitaminas e alcaloides e funciona como um estimulante leve. Os indígenas quíchuas mascam a folha da coca para evitar o mal da altitude e também a usam como analgésico. Quando mascada em forma de folha, a coca não é viciante. Somente quando os poderosos alcaloides são extraídos e concentrados na forma
16
do pó chamado “cocaína” e usados separadamente da planta é que os neurônios cerebrais são espezinhados e ocorre a dependência. Assim, é seguro dizer que, embora a ciência moderna tenha identificado substâncias ativas para fins medicinais, essas substâncias nem sempre funcionam bem por si mesmas; elas existem como parte da inteligência complexa de uma planta inteira. A tarefa de curarmos a nós mesmos e permitir que o mundo das plantas viva e se desenvolva depende de abandonarmos o hábito de tratar um sintoma isolado por meio de uma substância química extraída de uma planta. Em vez disso, devemos procurar usar a planta inteira, ajudando assim todo o nosso ser e restaurar nossa capacidade de equilíbrio e vitalidade. Dito isso, há momentos, porém, quando precisamos de uma resposta poderosa, confiável e bem direcionada – por exemplo, um analgésico, um antidepressivo ou um ansiolítico (inibidor de ansiedade). Queremos garantir uma resposta rápida e duradoura com base nos princípios da substância ativa, dos cofatores, da sinergia e das medidas e proporções há muito compreendidas e estudadas por pesquisadores da área da farmacologia e fitoterapia. Neste livro, examinaremos como a medicina fitoterápica é utilizada tanto por xamãs quanto por cientistas.
INTERAÇÕES ENTRE ERVAS, NUTRIENTES E MEDICAMENTOS: CONTRAINDICAÇÕES E EFEITOS COLATERAIS
Qualquer erva medicinal pode causar efeitos colaterais ou ser contraindicada. A maioria das contraindicações citadas neste livro se aplica à gravidez e à amamentação. Algumas dizem respeito a crianças ou idosos, ou porque não devem interagir com medicamentos farmacêuticos. As ervas podem intensificar a ação de outros medicamentos, ou então fazer que estes sejam excretados mais rapidamente pelo processo de desintoxicação do fígado. Alguns indivíduos têm reações diferentes de outros por motivos genéticos, sensibilidade bioquímica ou intolerância. Os efeitos colaterais podem resultar da ingestão, uso tópico ou inalação, levando a uma reação alérgica ou dermatite de contato. Se você estiver tomando medicamentos ou suplementos nutricionais em altas doses, é essencial procurar saber se a erva que você deseja usar tem alguma contraindicação, bem como seus possíveis efeitos e interações com remédios ou suplementos nutricionais que você esteja
17
tomando. Existem vários bancos de dados on-line, listados na seção “Recursos”, que permitem identificar as interações entre ervas medicinais, suplementos nutricionais e remédios (sejam de venda livre ou só com receita) que você esteja tomando. Mas leve em conta que esses bancos de dados por vezes apresentam informações contraditórias, exigindo que o leitor pesquise mais a fundo, entenda que o modo como a pesquisa é realizada pode levar a conclusões muito diferentes, e retorne à experiência empírica tradicional para poder destrinchar o caos de informações confusas. Por exemplo, em pesquisas clínicas, os extratos da raiz de ginseng (Panax ginseng) mostraram ter efeito inibitório em células cancerígenas humanas, incluindo células do câncer de mama. Contudo, há evidências conflitantes que podem indicar que o ginseng possui atividade estrogênica que faz proliferar células cancerígenas dependentes de estrogênio. Esses dados aparentemente contraditórios podem ser o resultado dos diferentes métodos (água ou álcool) usados na produção de extratos de ginseng. Esses desafios de pesquisa nos lembram da importância de trabalharmos com um herbalista ou fitoterapeuta (especialista em plantas medicinais) ou um profissional na hora de tomar decisões sobre protocolos para o tratamento fitoterápico do câncer. Também descobri que alguns bancos de dados podem ser excessivamente cautelosos em suas advertências, sobretudo quanto às interações com outras ervas, ou ao uso de ervas antes e depois de uma cirurgia. Tudo isso mostra a necessidade de buscar aconselhamento com um fitoterapeuta da sua confiança ao determinar seus próximos passos.
DEFINIÇÃO E AÇÃO DE ALGUMAS ERVAS/PLANTAS, COM EXEMPLOS
Segundo sua ação no nosso corpo e na nossa mente, as ervas/plantas podem ser divididas em categorias, que estão listadas aqui, juntamente com alguns exemplos das mais importantes de cada categoria. Ao longo do livro por vezes me refiro a uma erva segundo essas categorias; assim, a lista vai lhe ser útil durante a leitura.
ADAPTÓGENAS
Ajudam a pessoa a adaptar-se ao estresse, restaurando a capacidade de enfrentar uma situação e reagir a ela. Juntamente com seus extratos ativos, elas apoiam a função adrenal, aumentam a resistência e reduzem a fadiga. Ao apoiar a função adrenal, apoiam também a função imunológica e aumentam a resistência. Também ajudam o organismo a utilizar oxigênio e aumentam a
18
“respiração” celular. As ervas adaptogênicas mais comuns são a Ashwagandha (Withania somnifera), o eleutério (Eleutherococcus senticosus), também conhecida como ginseng-siberiano, e ainda o ginseng coreano (Panax ginseng).
ADSTRINGENTES
Ajudam a secar o excesso de umidade ou secreções no corpo. Tendem a causar contrações nos órgãos e tecidos musculares e em geral são ricas em taninos. As mais comuns são a uva-ursina (Arctostaphylos uva-ursi), o chá preto (Camellia sinensis), a casca prateada do carvalho (Quercus) e a folha de framboesa (Rubus idaeus).
ADSTRINGENTES UTERINAS
Usadas para tonificar o útero e reduzir a perda excessiva de sangue na menstruação. As mais comuns são o alquemila (Alchemilla xanthochlora), a framboesa vermelha e o milefólio.
AFRODISÍACAS
Aumentam a capacidade de excitação sexual. As mais comuns são o chocolate (Theobroma cacao), o Cordyceps (Cordyceps), a damiana (Turnera diffusa), a maca-peruana (Lepidium meyenii) e a ioimba (Pausinystalia johimbe).
ALTERATIVAS
Restauram a saúde do corpo depois de doenças crônicas ou agudas. São nutritivas, suaves para o corpo e especialmente úteis em casos de inflamação crônica e doenças autoimunes. As mais comuns são a raiz de bardana (Arctium lappa), amor-de-hortelão (Galium aparine), alho (Allium sativum) e tanchagem (Plantago major).
AMARGAS
Estimulam a digestão e o apetite. São tonificantes para o fígado e os rins e promovem a secreção de sucos gástricos. As mais comuns são a folha e a raiz do dente-de-leão e a raiz de genciana (Gentiana lutea).
19
ANODINAS / ANALGÉSICAS
São usadas topicamente ou ingeridas e diminuem a sensibilidade do sistema nervoso à dor, produzindo assim um efeito analgésico. As mais comuns são a arnica (Arnica montana) – apenas para uso tópico – o Corydalis (Corydalis yanhusuo e/ou Corydalis cava), a escutelária ou solidéu (Scutellaria lateriflora) e a casca de salgueiro-branco.
ANTICATARRAIS
Eliminam o excesso de muco; são usadas para tratar problemas das vias respiratórias superiores, como o resfriado comum ou sinusite. Os tipos mais comuns são a eufrásia (Euphrasia), alteia ou malvaísco (Althaea officinalis), o verbasco (Verbascum thapsus), o hidraste (Hydrastis canadensis), o tomilho (Thymus vulgaris) e o milefólio (Achillea millefolium).
ANTIDEPRESSIVAS
Aliviam a depressão e melhoram o humor e a capacidade de cognição. As mais comuns são a erva-cidreira (Melissa officinalis), a aveia (Avena sativa), a pulsatila (Anemone pulsatilla), o açafrão (Crocus sativus) e a erva-de-são-joão (Hypericum perforatum).
ANTIDIPSOTRÓPICAS
Reduzem ou ajudam a prevenir o abuso de álcool. As mais comuns são a aveia e o kudzu (Pueraria montana var. lobata).
ANTIEMÉTICAS
Servem para aliviar ou cessar o vômito e a náusea. Podem ser usadas em casos de enjoo no mar ou para aliviar a náusea relacionada à quimioterapia. As ervas antieméticas mais comuns são a cannabis* (Cannabis sativa), a camomila (Matricaria chamomilla e/ou Chamaemelum nobile), o gengibre (Zingiber officinale) e a hortelã-pimenta (Mentha piperita).
* O Projeto de Lei no 399/15 aprovou no dia 8 de junho de 2021 a legalização do cultivo da maconha, denominada Cannabis sativa, no Brasil, exclusivamente para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais, bem como a comercialização de medicamentos que contenham extratos, substratos ou partes da planta. (N. da P.)
20