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Diana L. Paxson
O MUNDO DE
ODIN
Práticas, Rituais, Runas e Magia Nórdica no Neopaganismo Germânico
Tradução Claudia Gerpe Duarte Eduardo Gerpe Duarte
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Título do original: Odin – Ecstasy, Runes & Norse Magic. Copyright © 2017 Monte Farber e Amy Zerner.
Copyright da edição brasileira © 2020 Editora Pensamento-Cultrix Ltda. 1a edição 2020.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revista. A Editora Pensamento não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados neste livro.
Editor: Adilson Silva Ramachandra
Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz
Produção editorial: Indiara Faria Kayo
Preparação de originais: Marcelo Brandão Cipolla
Editoração eletrônica: Ponto Inicial Design Gráfico Revisão: Erika Alonso
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Paxson, Diana L. Mundo de Odin : práticas, rituais, runas e magia nórdica no neopaganismo germânico / Diana L. Paxson ; tradução Claudia Gerpe Duarte, Eduardo Gerpe Duarte. -- São Paulo : Editora Pensamento Cultrix, 2020. Título original: Odin : ecstasy, runes & norse magic ISBN 978-65-87236-09-4 1. Mitologia germânica 2. Mitologia nórdica 3. Runas I. Título. 20-39547
CDD-293.13 Índices para catálogo sistemático: 1. Mitologia nórdica : Religião 293.13 Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a propriedade literária desta tradução. Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo, SP Fone: (11) 2066-9000 http://www.editorapensamento.com.br E-mail: atendimento@editorapensamento.com.br Foi feito o depósito legal.
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Dedico este livro a todos aqueles que ouviram o chamado de Odin – meus companheiros de viagem neste caminho.
“Uma palavra levou a outra, Um trabalho levou a outro...” — Hávamál 141
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Sumário AGRADECIMENTOS
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INTRODUÇÃO
11 Interlúdio: O Rei Gylfi visita a Mansão de Hár
CAPÍTULO UM
Que o Verdadeiro Odin, Por Favor, Se Levante!
27
Interlúdio: O Viajante CAPÍTULO DOIS
O Viajante
48
Interlúdio: A Segunda Fórmula Mágica de Merseburg CAPÍTULO TRÊS
O Mestre da Magia
65
Interlúdio: “Canção Rúnica” CAPÍTULO QUATRO
O Cavaleiro da Árvore
82
Interlúdio: A Formação de Bifrost CAPÍTULO CINCO
O Pai Supremo
108
Interlúdio: “Na Cama de Gunnlödh” CAPÍTULO SEIS
O Desejado
136
Interlúdio: Análise dos versos do poema de “Head-Ransom” CAPÍTULO SETE
Deus da Guerra
161
Interlúdio: Bölverk e os Servos CAPÍTULO OITO
Causador de Desgraças
186
Interlúdio: “A Caçada de Wodan”
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CAPÍTULO NOVE
O Deus dos Mortos
204
Interlúdio: No Poço de Mimir CAPÍTULO DEZ
Deus do Êxtase
230
APÊNDICE UM
Rituais
254
APÊNDICE DOIS
Música
262
BIBLIOGRAFIA
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Agradecimentos
Sou muito grata a todos aqueles que compartilharam suas experiências, sua poesia e sua música, especialmente meus colegas da Troth1 e do kindred2 Hrafnar. Quando créditos não são atribuídos a outras pessoas, os poemas, as traduções e as músicas são de minha autoria. Depois que comecei a aprender a respeito de Odin, a disponibilidade de fontes, tanto em traduções quanto no original, se tornou mil vezes maior. A erudição é sempre um trabalho em andamento, e tentei trabalhar tanto com as antigas interpretações quanto com as novas. Sou grata ao Dr. Stephan Grundy por me ajudar com os fatos, e às pessoas que fizeram a leitura preliminar do texto por me ajudar a tornar esses fatos compreensíveis. Para mais informações sobre o que estou fazendo, visite www.diana-paxson.com. Para notícias sobre o kindred Hrafnar, visite www.hrafnar.org.
1 Uma associação dedicada à revivificação da cultura pagã: https://www.thetroth.org/. (N. do R.) 2 No heathenismo, uma comunidade local dedicada ao culto e ao estudo. (N. do R.)
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Introdução - Interlúdio: O Rei Gylfi visita a Mansão de Hár -
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orre o mês de março de 2013, e minha amiga Lorrie e eu estamos sentadas na sala de estar dela assistindo ao primeiro episódio da série Vikings do History Channel, ansiosamente esperada. Em uma encosta silvestre, guerreiros combatem em uma cena que poderia fazer parte de qualquer uma das sagas. Melhor ainda: quando a batalha termina, valquírias espectrais levam embora os espíritos dos mortos. Ragnar Lothbrok, um jovem guerreiro com olhos azuis cintilantes, ergue-se vitorioso, mas ele sem dúvida está pensando que a vida não pode se resumir a batalhas intermináveis que atendem aos propósitos de outros homens. Corvos voam no céu, e depois, parcialmente visível através da névoa, vislumbramos uma figura vestida de preto com um chapéu largo e uma lança alta. Era isso que estávamos esperando. O Senhor dos Corvos desafia Ragnar a se tornar um líder e buscar um mundo mais amplo. Ele também nos desafia. Mas quem é ele?
Odin – deus das palavras e da sabedoria, das runas e da magia, fonte da fúria da guerra e da morte, porém também transformador da consciência, trickster 1, que ensina a verdade, e velho sábio – se apresenta com várias aparências e tem mais nomes do que qualquer outro deus. Seu culto foi reprimido na Idade Média, porém suas lendas perduraram nas Eddas islandesas, nome dado a duas coletâneas distintas de textos do século XIII sobre histórias referentes aos deuses e aos heróis da mitologia nórdica, uma em prosa 1 Uma figura sobrenatural que se apresenta de várias maneiras e tipicamente se envolve em atividades travessas e maliciosas. É importante no folclore e na mitologia de muitos povos primitivos. Nosso termo mais aproximado para trickster seria trapaceiro, mas o trickster tem uma característica acentuadamente travessa que não está presente no trapaceiro. (N. do R.)
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e outra em verso. No século XIX, ele reapareceu no ciclo de quatro óperas conhecido como O Anel dos Nibelungos, de Richard Wagner. No século XX, Carl Jung o culpou pela ascensão do nazismo em sua obra Aspectos do Drama Contemporâneo: Civilização em Mudança. No universo das histórias em quadrinhos da Marvel, Odin é um rei guerreiro. Podemos ver seu reflexo no mago Gandalf, de J. R. R. Tolkien, e perceber um aspecto moderno no Sr. Wednesday, um “Deus Americano”, do romance de Neil Gaiman. Odin também está entre os deuses mais populares do neopaganismo contemporâneo, e tornou-se notório por chamar espontaneamente a atenção de pessoas que podem até mesmo nunca ter ouvido falar nele. Por exemplo: Por volta do final de 1986 ou início de 1987, eu estava em baixo astral. Certa noite, sonhei que estava sendo atacada por alguma coisa e Odin apareceu. Eu não era Asatrú na ocasião, e na realidade mais de um ano se passaria até eu encontrar a palavra Asatrú, mas reconheci Odin instantaneamente e não tive nenhuma dúvida de que era ele. Isso certamente foi a chave da maneira pela qual o sonho iria me afetar ao longo dos anos. No sonho, Odin apontou Gungnir para além de mim tão vividamente que senti que poderia tocá-la. O significado estava claro. Desse ponto em diante, eu poderia lidar sozinha com meus problemas. E a partir desse momento, minha vida tomou um rumo melhor. Eu nunca soube se isso foi uma infusão de energia ou simplesmente um lembrete de que eu deveria reconhecer a força da minha alma humana e começar a agir de forma compatível. Ele fez então um aceno de cabeça para mim e a imagem se desintegrou. Acordei sobressaltada. Embora não tivéssemos trocado nenhuma palavra, compreendi o significado do aceno de cabeça. Talvez fosse telepático. Significava “siga”. (Freyburger, 2009, p. 14.)
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As pessoas que encontram Odin frequentemente constatam que a única maneira de expressar o que aconteceu é por intermédio da poesia, como no poema “Odin’s Call” [O Chamado de Odin], de autoria da minha amiga do Troth, Jennifer Lawrence. Como a aranha que tece sua teia em uma ventania, Foste persistente, batendo repetidamente Na porta do meu coração e da minha cabeça, até que escutei, Abri a porta e te deixei entrar. Eu achava que não tinha nada a ver com os deuses do Norte, Preferindo trilhar outro caminho, julgando que minha vida Já era complicada e confusa demais para justificar Seguir outras pessoas. Mas te recusaste a aceitar minha recusa, enviando Pequenos sinais e presságios: dois corvos seguindo Meu carro, um gato cinzento adotado em uma quarta-feira que vagueia E não se cala: muito parecido contigo. Que necessidades eu tinha da sua orientação? Eu era teimosa, Não queria dar os passos necessários para encontrar-te, Por saber o quanto exigirias de mim, Sem saber se eu poderia dá-lo. Depois de uma vida árdua, inclino-me a me considerar indigna Dessa atenção, e me confundiste, perseguindo-me Implacavelmente; eu preferiria pensar que apenas imaginara tudo, Por que poderias querer com alguém como eu? Não faço mais essas perguntas – ou quando as faço, eu sei Que, embora eu possa não ser capaz de responder a elas, deves
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Ter tuas razões. É melhor, portanto, que eu te sirva da melhor maneira possível, Embora os presentes que eu tenha para oferecer sejam bem pequenos. Estes versos não me conquistarão amigos. Teus seguidores são Audazes e orgulhosos, enquanto eu sempre me esforcei para ser Submissa e gentil, escondendo minhas qualidades, melhor passar desapercebida, Melhor evitar a discórdia, o sofrimento e o conflito. Mas esconder-me de ti não funcionou, de modo que estou aqui, Esperando que um dia vá compreender por que me querias, Sabendo que porque fizeste isso deve haver mais que eu possa oferecer Do que o nada que acredito ser. Nem todos os que se envolvem com Odin já se consideram pagãos. O psicoterapeuta Ralph Metzner comenta o seguinte: As antigas lendas dizem que os seguidores de Odin eram “capturados” pelo deus, e, com frequência, eu me sentia como se tivesse sido capturado ou estivesse inspirado. Pensava em Odin e obtinha percepções ou respostas às minhas perguntas, entre elas perguntas sobre o significado de certos mitos. Ou então, de repente, encontrava mitos pertinentes que antes não conhecia. Por estranho que pareça, eu teria que afirmar que grande parte do que estou relatando neste livro [The Well of Remembrance] me foi entregue diretamente por Odin. (Metzner, 1994, p. 10.)
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Introdução | 15
Tive o mesmo sentimento quando estava trabalhando nas palestras que acabaram se tornando meu livro Taking up the Runes, e sinto a presença de Odin enquanto escrevo estas linhas. Certamente, nunca previ a maneira como minha vida mudaria depois do meu primeiro contato próximo com o deus. Enquanto investigava a espiritualidade feminista na década de 1970, eu o via apenas como mais uma tempestuosa divindade patriarcal. Estava bastante satisfeita em me concentrar nas deusas até um fim de semana em agosto de 1987, quando compareci a um seminário xamânico conduzido por Michael Harner. Durante algum tempo, estivera obtendo bons resultados com as práticas do seu livro The Way of the Shaman 2. Fui ao seminário esperando melhorar o que eu estava fazendo e assimilar algumas técnicas novas, mas meu desejo de longo prazo era aprender habilidades tradicionais mágicas e espirituais do Norte da Europa. Eis o que escrevi a respeito da minha experiência dois anos depois do seminário: Caminho em uma terra cinzenta [...] um mundo de névoa que gira entre pedras poderosas. Um corvo fêmea está à minha frente, não escuro como era no Mundo Subterrâneo, e, sim, brilhante como a imagem do Sol de encontro às pálpebras fechadas, as asas brilhantes/escuras cintilando contra as pedras sombreadas. “Para onde você está me levando?”, pergunto, e tento andar mais rápido. Eu estava consciente de sons indistintos do mundo que eu deixara para trás, mas, envolvida no meu manto cinza, estava protegida dos ruídos e do frio do prédio onde o seminário estava sendo realizado. Minha longa prática ajudou-me a controlar a respiração e a mergulhar novamente no transe, entregar-me à batucada constante de Michael Harner e deixar que ela voltasse a me conduzir para a visão.
2 O Caminho do Xamã, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 1989 (fora de catálogo).
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