Na porta do céu

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NA PORTA DO CEU ´

NA PORTA DO CEU ´

O FENÔMENO DAS JORNADAS COMPARTILHADAS

PARA A VIDA APÓS A MORTE PODE NOS ENSINAR SOBRE NOSSOS MOMENTOS FINAIS E COMO VIVER MELHOR

Tradução

Jacqueline Damásio Valpassos

Título do original: At Heaven’s Door.

Copyright © 2022 The Shared Crossing Project, LLC.

Publicado mediante acordo com a editora original Simon & Schuster, Inc.

Copyright da edição brasileira © 2023 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.

1ª edição 2023.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revista.

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Obs.: Este livro não pode ser exportado para Portugal, Angola, Moçambique, Macau, São

Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné Bissau.

Editor: Adilson Silva Ramachandra

Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz

Preparação de originais: Alessandra Miranda de Sá

Gerente de produção editorial: Indiara Faria Kayo

Editoração eletrônica: Cauê Veroneze Rosa

Revisão: Erika Alonso

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Peters, William J.

Na porta do céu : o fenômeno das jornadas compartilhadas para a vida após a morte pode nos ensinar sobre nossos momentos finais e como viver melhor / William J. Peters com Michael Kinsella ; tradução Jacqueline Damásio Valpassos. -- São Paulo : Editora Cultrix, 2023.

Título original: At heaven's door.

ISBN 978-65-5736-268-6

1. Espiritualidade 2. Mudança de comportamento 3. Reencarnação 4. Relatos pessoais 5. Vida após morte I. Kinsella, Michael. II. Valpassos, Jacqueline Damásio. III. Título. 23-165562 CDD-133.9013

Índices para catálogo sistemático:

1. Vida após a morte : Espiritualismo 133.9013

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a propriedade literária desta tradução.

Rua Dr. Mário Vicente, 368 – 04270-000 – São Paulo – SP – Fone: (11) 2066-9000

http://www.editoracultrix.com.br

E-mail: atendimento@editoracultrix.com.br

Foi feito o depósito legal.

À minha mãe, Carolyn Peters, por seu apoio inabalável nos muitos altos e baixos da minha vida. Ela demonstrava ter uma facilidade incomum em lidar com a morte e o compromisso de estar presente quando outros costumam se esquivar.

Ao meu pai, Robert Peters, por seu exemplo de disciplina e garra. Seu espírito empreendedor me inspirou a confiar em mim mesmo e a buscar o que mais importa.

O QUE O TRAZ AQUI?
UM VISLUMBRE DO CÉU
RUMO À LUZ 4. CONSOLO 5. TORNE-SE UM GUIA 6. ANJOS 7. TRAUMA E EMCs 8. A EMC EM MÚLTIPLAS FORMAS 9. PRESENTES INESPERADOS 10. DIVIDINDO A EXPERIÊNCIA DE MORTE COMPARTILHADA 11. PREPARAÇÃO PARA A MORTE EM VIDA 12. UM FIM AO SILÊNCIO EM TORNO DA EXPERIÊNCIA DE MORTE COMPARTILHADA 13. A EXPERIÊNCIA DE MORTE COMPARTILHADA ACONTECERÁ COMIGO? Apêndice I: Iniciativa de Pesquisa da Travessia Compartilhada Apêndice II: Projeto Travessia Compartilhada Agradecimentos 9 32 60 78 89 109 123 138 158 174 205 221 234 255 263 264 SUMÁRIO
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O QUE O TRAZ AQUI?

O QUE O TRAZ aqui?

Faço essa pergunta a todas as pessoas que passam pela minha porta buscando falar sobre a morte – a mais universal de todas as experiências humanas, mas a mais difícil de discutir.

Na cultura moderna, temos uma relação difícil com a morte. Nossa linguagem está repleta de frases como “medo da morte e de morrer”. Divulgadores de programas de condicionamento físico, truques de cuidados pessoais e beleza e procedimentos cosméticos alardeiam sua capacidade de nos ajudar a “retroceder o relógio”, a mensagem implícita sendo a de que podemos adiar o fim inevitável da vida.

A ciência médica moderna é ainda mais explícita: a medicina, em geral, faz de nossos maiores esforços para resistir à morte a principal

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razão para termos esperança. Procedimentos médicos agressivos que prolongam a vida humana são muitas vezes vistos como uma prova de nosso amor por outra pessoa – falamos sobre “curas milagrosas” e “chances de uma em um milhão”. Muitos de nós, incluindo um número significativo na profissão médica, sentimos culpa ao pensar em alguém que está morrendo. Nossa frase de condolências mais comum quando alguém morre é “Sinto muito por sua perda”.

E não se engane: é uma perda profunda. Deixar a vida, deixar entes queridos e amigos, é triste e assustador. Não importa quantos de nós acreditem em uma vida após a benévola morte – e pesquisas após pesquisas sugerem que a maioria, cerca de 80%, acredita –, é completamente compreensível sentir um alto grau de apreensão. Pior ainda: é a morte que nos escolhe, muitas vezes sem avisar. E, nos últimos dois anos, a morte esteve por toda parte. As perdas devastadoras da pandemia de Covid-19 trouxeram de repente tristeza a muitos de nós, mesmo àqueles que antes pensavam que tinham tempo suficiente para passar ao lado daqueles que amavam.

Mas, por mais que lutemos contra a morte, muitos lutam ainda mais com a dor. Durante anos, como cultura, tem sido rotina para várias pessoas, profissionais médicos entre elas, colocar uma espécie de cronômetro no luto. Depois de determinado período, incentivamos os enlutados a “seguir em frente” com sua vida, ou, de maneira um pouco menos educada, sugerimos que chegou o momento de apenas “superarem isso”.

Para as pessoas que me procuram, essas são respostas profundamente insatisfatórias. E o são para mim também. Gostaria de sugerir com humildade que chegou a hora de repensarmos nossa abordagem sobre a morte. Para isso, vou lhe pedir que ponha de lado tudo o que sabe ou pensa saber sobre o fim da vida.

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Por mais de vinte anos, tenho conversado com as pessoas sobre morte e o fim da vida, desde a perda de bebês recém-nascidos, passando por jovens adultos em seu auge, até pais idosos. Mortes naturais e mortes traumáticas – acidentes, overdoses, suicídios –, mortes por doença, mortes por velhice. No entanto, todas essas conversas tiveram um tema em comum: uma conexão sentida pela pessoa viva com o falecido no momento da morte ou próximo dela. Todas pessoas saudáveis e cheias de vitalidade que continuam a levar uma vida ativa. Mas, por um momento, elas estiveram ligadas a outro ser humano por ocasião de sua passagem final.

Comecei a identificar tais momentos como “travessias compartilhadas”, e o que eles nos dizem é que ninguém deixa esta Terra sozinho. Cada um de nós pode ser e será guiado nessa jornada. Como posso ter certeza disso? Porque, cada vez mais, aqueles que permanecem entre os vivos viram e sentiram isso, e alguns até se juntaram aos entes queridos em parte de sua jornada para a vida após a morte.

Esses vínculos de travessia compartilhada assumem muitos aspectos: alguns indivíduos podem visualizar a pessoa que está partindo de alguma maneira; outros com frequência têm uma variedade de sensações ou percebem a presença de outras forças energéticas, ou mesmo de entes queridos que já partiram. Podem vislumbrar uma luz brilhante e até túneis; podem sentir que fazem parte da jornada ou permanecer enraizados na terra. O que têm em comum é a força da experiência e o vigor incomum da lembrança, e muitas vezes uma sensação avassaladora de que o tempo como o conhecem parou. Muitos também relatam um profundo senso de apenas “saber”, sem ter ideia de onde vem esse conhecimento. Em um número significativo de casos, a pessoa viva não tinha ideia de que a morte

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era iminente e só soube do falecimento do ente querido ou amigo mais tarde.

Quanto mais eu conversava com indivíduos que haviam vivenciado um evento de travessia compartilhada, mais eu também notava a repetição de padrões. Uma mulher na Virgínia Ocidental e uma outra na Austrália com experiências profundamente semelhantes em torno da perda de um bebê. Uma filha que cresceu na Califórnia e uma filha que cresceu na Pensilvânia; uma mulher no Alabama e um homem na Espanha. Nenhum deles se conhecia, mas todos falavam uma língua comum. Vez após outra, fui percebendo que esse momento de conexão compartilhada que tinham vivenciado também mudou a vida deles e como escolheram vivê-la de maneiras inesperadas. Isso lhes forneceu insights. Proporcionou um desfecho. Tornou as decisões de fim de vida mais fáceis. Aliviou a dor.

Considere a história de Gail O., uma mulher adulta da Flórida:

“Estava com meu pai e comíamos sanduíches de queijo quente – ele achava que o hospital fazia os melhores sanduíches de queijo quente.” De repente, o pai dela começou a ter uma convulsão. Gail gritou por socorro e, enquanto a equipe médica se aproximava às pressas, uma enfermeira a escoltou até uma pequena sala no corredor. Dentro dela, havia uma escrivaninha e duas cadeiras. Gail se lembra de sentar e “então, inesperadamente, eu estava em dois lugares ao mesmo tempo: sentada naquela pequena sala de espera do hospital, mas também ao ar livre naquele dia tão lindo. Havia uma brisa, uma estrada rural e até pássaros cantando! Não vi ninguém, mas sabia que não estava sozinha – tinha a sensação de que viajava e escoltava alguém para algum lugar. E não importava onde a jornada terminasse, porque estava um dia muito bonito”. Gail virou em uma

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pequena curva na estrada, e “chegamos a um enorme portão. Atrás do portão, havia uma gigantesca mansão. Tive a impressão de que o lugar era como uma espécie de clube de campo ou um ponto de encontro especial. E então ouvi vozes dizendo: ‘Rápido! Rápido! Temos que nos apressar! Walter está vindo e está quase chegando!’”.

“O nome do meu pai era Walter.”

Walter era chamado de “Wally” pelos amigos e colegas de trabalho. Mas os falecidos pais, tias e tios sempre o chamavam de Walter. Enquanto Gail olhava para a mansão, “Lá estavam eles, correndo com preparativos para algo importante. As pessoas traziam flores, arrumavam mesas e estendiam toalhas sobre elas”. Ela podia até ouvir o tilintar da porcelana. “Foi uma experiência incrível e parecia que algum convidado de honra estava a caminho.”

Então, Gail relembra: “Senti uma presença passar pelo portão – era meu pai! Eu queria ir com ele, mas sabia que não era permitido. Olhei ao redor e, no mesmo instante, lá estava eu de volta àquela saleta”. Ela havia permanecido desperta e consciente por completo, simplesmente presente tanto ali como em sua jornada.

“No minuto seguinte, um médico entrou. Parecia muito triste e disse: ‘Sinto muito, ele se foi’. E eu respondi: ‘Está tudo bem. Ele foi para a festa!’. Isso mostra como aquilo estava claro para mim. O médico apenas me olhou de um modo estranho e saiu. Mas eu sabia o que tinha acontecido. Tinha acompanhado meu pai para o céu em parte do caminho.”

A experiência de Gail não é única e tem um nome. Nós a chamamos de “Experiência de Morte Compartilhada” (EMC), uma expressão popularizada pelo dr. Raymond Moody em seu livro Glimpses of Eternity (Instantes da Eternidade, 2011). Definimos como EMC quando acontece de uma pessoa morrer e um ente

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querido, familiar, amigo, cuidador ou espectador relatar que compartilhou a transição da vida para a morte ou vivenciou os estágios iniciais de entrada na vida após a morte com o moribundo. Mas essas experiências não são novas. Por milhares de anos, pessoas próximas à morte relataram uma série de visões vívidas, como enxergando uma luz benévola ou o vislumbre de entes queridos já falecidos. Estudos de pesquisa realizados desde a década de 1960 sugeriram repetidas vezes que essas experiências de fim de vida ocorrem entre mais de 50% dos moribundos. A ciência médica tentou explicar tal fenômeno especulando que é o resultado de vários colapsos físicos no cérebro, seja por privação de oxigênio, interrupções do fluxo sanguíneo, receptores de serotonina ou ativação da resposta primitiva de luta ou fuga.

Mas as EMCs são muito diferentes. Ocorrem em indivíduos que não estão de modo algum perto da morte física. E, enquanto algumas dessas experiências, como a de Gail com seu pai, acontecem em um momento de emergência médica ou quando o vivo está no quarto com o moribundo, muitas outras ocorrem quando o experimentador está distante e muitas vezes nem sabe que a morte é iminente ou que o ente querido ou amigo morreu. Na verdade, essas EMCs remotas parecem ser mais comuns do que aquelas em que os vivos e os moribundos estão lado a lado. A ciência, como a entendemos, ainda não pode elucidar ou explicar fisiologicamente as EMCs.

Então, o que pode?

Essa pergunta está no cerne deste livro. Como diretor do Projeto Travessia Compartilhada (Shared Crossing Project – SCP), tive o privilégio de poder revisar e estudar mais de oitocentos casos de EMC. Nossa pesquisa sugere que uma benévola vida após a

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morte espera por todos nós do outro lado. Mas não se sinta pressionado a aceitar minha palavra. Nestas páginas, você encontrará histórias marcantes de pessoas que compartilharam a passagem envolvendo a morte com outro ser humano. Vou explorar o que essas experiências transformadoras significam para o fim da vida, para os cuidados, para o luto e a cura. No processo, espero mudar certas formas pelas quais você passou a conceber e compreender a morte. Você pode até descobrir que você mesmo ou alguém que conhece teve uma experiência de morte compartilhada, mas possivelmente não tinha as palavras para identificar ou descrever o que ocorreu.

Acima de tudo, porém, é minha esperança que essa análise possa ajudar a guiar a todos nós quanto aos meios de nos prepararmos para uma boa morte, em qualquer estágio da vida.

Desde os primórdios da civilização humana, a morte tem sido parte integrante da vida. Muito do que sabemos sobre povos e sociedades antigas vem da escavação escrupulosa de seus túmulos e cemitérios. Sabemos o que comiam, como armazenavam vinho e alimentos, o que os artesãos fabricavam, seus mitos, vestimentas, que armas usavam para travar suas guerras.

Do reino de Ur ao antigo Egito, da China dinástica à Mesoamérica, a morte envolvia rituais elaborados e temas comuns. Cada civilização acreditava em alguma forma de vida após a morte; túmulos eram muitas vezes preenchidos com todo tipo de objetos, que acompanhavam o falecido para o próximo mundo. Em alguns casos, membros da família e servos dos ricos, e até cães, eram mortos para que pudessem acompanhar o falecido para a vida após a morte.

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