longevidade A NOVA CIÊNCIA DA
longevidade A NOVA CIÊNCIA DA
VIVA MUITO E COM SAÚDE
FAZENDO MUDANÇAS SIMPLES EM SUA ROTINA
Tradução
Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro
Título do original: Age Proof – The New Science of Living a Longer and Healthier Life .
Copyright © 2022 Rose Anne Kenny.
Publicado originalmente em inglês em UK por Lagom, um selo da Bonnier Books UK Ltd.
Copyright da edição brasileira © 2023 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.
1a edição 2023.
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Editor: Adilson Silva Ramachandra
Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz
Preparação de originais: Alessandra Miranda de Sá
Gerente de produção
editorial: Indiara Faria Kayo
Editoração eletrônica: Ponto Inicial Design Gráfico
Revisão: Claudete Agua de Melo
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Kenny, Rose Anne
A nova ciência da longevidade : viva muito e com saúde fazendo mudanças simples em sua rotina / Rose Anne Kenny ; tradução Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro. – 1. ed. – São Paulo : Editora Cultrix, 2023.
Título original: Age proof: the new science of living a longer and healthier life
Bibliografia.
ISBN 978-65-5736-246-4
1. Autocuidados de saúde 2. Bem-estar 3. Envelhecimento 4. Gerontologia
5. Vida saudável
I. Título.
23-149582
Índices para catálogo sistemático:
1. Longevidade: Envelhecimento: Aspectos sociais : Sociologia 305.26
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a propriedade literária desta tradução.
CDD-305.26
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Foi feito o depósito legal.
Dedico este livro à memória de meus pais –Kay e Billy Kenny.
Prefácio
Emjaneiro de 2018, em uma noite escura e chuvosa, percorri uma estrada alagada que conduzia a uma cidade localizada na parte central da Irlanda. Ia dar uma palestra sobre envelhecimento e saúde. Durante aquele terrível trajeto, achei que seria impossível atrair o público com um tempo tão ruim. A palestra seria realizada em um hotel gelado que costumava ser utilizado para funerais e casamentos, e foi anunciada como a “primeira de uma série de palestras a serem realizadas em toda a Irlanda para falar sobre uma nova pesquisa de uma docente do Trinity College”. O salão era grande e frio, e estava vazio; o pequeno atril, voltado para várias cadeiras douradas e vazias, parecia deslocado e solitário. O retroprojetor era antigo demais para ser compatível com o sistema PowerPoint; então, minha assistente saiu em busca de outra tecnologia. Dizendo para mim mesma que eu devia estar maluca, encontrei o tímido gerente do hotel, que reforçou minha apreensão ao se desculpar por um evento simultâneo que ocorria do outro lado da rua, a “Missão”. Há muito tempo não ouvia esse termo. Missão é uma antiga tradição irlandesa, um evento anual em que a Igreja Católica local reúne pregadores de ordens religiosas visitantes. Fiquei desanimada: no interior da Irlanda, a Missão era uma concorrência desleal.
LONGEVIDADE
Porém, pouco a pouco, o salão começou a encher. Chegaram pessoas de todas as idades: mães de 30 e poucos anos com os filhos, homens e mulheres na faixa dos 50, 60 e 70 anos de idade, dois ônibus repletos de moradores dos arredores e de vilarejos próximos, e residentes de uma instituição de longa permanência, gentilmente transportados por um voluntário, um policial uniformizado. O clima começou a ficar mais caloroso com o burburinho, as risadas e o tilintar de louça. O clube de futebol da Associação Atlética Gaélica (GAA) servia chá, café e bolo, e exibia os dois troféus esportivos mais cobiçados da Irlanda: das Copas de Sam Maguire e de Liam McCarthy, resultando em fotos e comentários animados da multidão crescente. Uma banda de música infantil ajustou os instrumentos, a plateia tomou seus assentos e, ao ritmo animado de música irlandesa, entrei em cena para dar início à primeira de uma série de palestras.
Mais tarde, conversei com os participantes, que me bombardearam com perguntas e comentários. Fiquei surpresa quando alguém disse que nunca tinha ido a uma palestra antes, “fora o sermão do padre na missa de domingo” (o que era irônico, tendo em vista o evento da Missão do outro lado da rua a que haviam faltado). Foi comovente. Muita gente perguntou se eu tinha por escrito o conteúdo da palestra e se havia um livro com as informações fornecidas. Essa foi a semente para a criação deste livro, que contém um apanhado das minhas palestras e representa um tributo à alegria que senti ao compartilhar todo o conhecimento e experiência que acumulei ao longo da vida.
Meus pacientes, colegas de trabalho e amigos sempre dizem que odeiam a ideia de envelhecer. Quem está na casa dos 40 ou 50 anos diz que tenta não pensar nisso, pois acha que tem uma conotação muito negativa. No entanto, a ciência que estuda o envelhecimento é vasta e caminha a passos largos. Quando eu era uma jovem médica, a gerontologia era praticamente inexistente, mas nos últimos vinte anos sofreu uma explosão. E continua a evoluir, fornecendo boas evidências de que a “volta final”, como diz um dos meus pacientes, pode
ser o período mais tranquilo, proveitoso e prazeroso da vida – sobretudo se nos prepararmos para ele.
Parte dessa preparação consiste em compreender quais são os fatores que determinam o envelhecimento e o que podemos fazer a respeito no momento oportuno. Você já parou para pensar sobre por que estamos vivendo mais? Uma menina nascida hoje viverá, em média, três meses a mais que sua irmãzinha que nasceu há um ano. Em 1800, a expectativa de vida era de 40 anos; duzentos anos depois, essa expectativa mais que dobrou, passando para 85 anos ou mais. No início da minha carreira, um paciente hospitalizado de 100 anos ou mais era algo inusitado, e corríamos para ver essa raridade; hoje isso não é mais um fato extraordinário.
Fui atraída pela gerontologia quando fazia residência médica, e a razão pela qual envelhecemos ainda incita minha curiosidade e norteia minhas pesquisas. Tanto naquela época como agora, interagir com os pacientes e aprender com suas histórias de vida produzem respostas e soluções, pois levanta a pergunta óbvia: o que faz algumas pessoas parecerem resistentes ao envelhecimento, enquanto outras “envelhecem cedo”?
As Zonas Azuis contêm muitos dos segredos que podem ajudar a responder a essa pergunta. Trata-se de cinco lugares no mundo que têm a maior proporção de centenários de todo o planeta. São eles: Sardenha (Itália), Okinawa (Japão), Península de Nicoya (Costa Rica), Loma Linda (Estados Unidos) e Icária (Grécia), todos locais litorâneos. Os habitantes das Zonas Azuis não apenas vivem mais como também têm mais saúde e menos tendência a adoecerem na velhice. Além disso, têm mais probabilidade de serem fisicamente ativos e saudáveis após os 100 anos de idade.
Neste livro, utilizo os conhecimentos adquiridos com o estudo das Zonas Azuis para transmitir os últimos avanços da ciência que constituem o alicerce de um envelhecimento bem-sucedido. A base da longevidade saudável abrange vários fatores prazerosos: um propósito de vida; inclinação à curiosidade; bastante variedade, muitas risadas e amizades; senso de pertencimento; e fortes vínculos com
amigos e familiares, com os quais compartilhar refeições, vinho e muito mais. Desde a descoberta dessas zonas e dos fatores que determinam a longevidade saudável de seus habitantes, inúmeras pesquisas tentam descobrir por que eles afetam o envelhecimento e quais são as razões biológicas para que as pessoas das Zonas Azuis vivam tanto e tão bem. Como o fato de ter um propósito de vida pode nos afetar biologicamente, tornando mais lento o envelhecimento celular? E como chegamos à conclusão de que precisamos ter um objetivo para sobreviver? Se encontrarmos essas respostas, o que poderemos fazer para manter vivo esse propósito? Essas são algumas das perguntas que tentarei responder nestas páginas.
Este livro é uma compilação do que aprendi em minha experiência como médica e pesquisadora dessa área. O que torna esta obra singular é a apresentação das informações mais recentes fornecidas por um dos estudos multidimensionais mais abrangentes do mundo (que liderei), aliadas a mais de trinta e cinco anos de experiência clínica em gerontologia, exemplificadas com histórias interessantes de pacientes que reuni ao longo dos anos.
Tive o privilégio de criar e dirigir um estudo revolucionário sobre envelhecimento, que acompanhou quase 9 mil adultos a partir de 50 anos de idade. Desde 2009, o Estudo Longitudinal Irlandês sobre Envelhecimento (Tilda – The Irish Longitudinal Study on Ageing) gerou mais de quatrocentos artigos científicos. Ele abrange todos os aspectos da vida, como atividade sexual, alimentação, saúde física e mental, genética, experiências na infância, expectativas, amizades, finanças e muito mais, para formar o complexo panorama que explica por que e como envelhecemos. Nenhum aspecto isolado leva ao envelhecimento; trata-se de uma combinação de fatores, muitos dos quais podemos manipular.
Valendo-me do Tilda e de vários outros estudos correlatos, tive o cuidado de assegurar que as informações apresentadas neste livro fossem rigorosamente baseadas em evidências – e não em fake news. Procuro deixar bem clara a força das evidências que dão base às informações e evitar qualquer tipo de conjectura. Faço questão
de enfatizar isso, porque uma amiga norte-americana me enviou um livro “excepcional” (best-seller) sobre saúde e bem-estar. A intenção dela era boa; ela achava que poderia ser uma fonte de “inspiração” para mim. Comecei a ler o livro, mas não consegui terminar, pois muitas das afirmações do autor se baseavam em suposições, e não em evidências. Perguntei-me como uma mulher culta como minha amiga podia ser tão ingênua.
Outro motivo que me levou a escrever este livro é que, durante meus anos como médica e pesquisadora, testemunhei uma mudança bem-vinda nas expectativas e na curiosidade dos pacientes. As pessoas estão muito mais bem informadas e, em decorrência, mais engajadas nos processos de diagnóstico e tratamento. Pouco a pouco, médicos e pacientes tomam decisões compartilhadas e se tornam mais conscientes de uma abordagem holística à saúde e ao envelhecimento. A medicina tem incorporado cada vez mais a qualidade de vida e fatores de bem-estar geral às discussões com os pacientes. A disciplina saiu aos poucos do seu silo tradicional e passou a levar em conta experiências de vida mais amplas que contribuem para o desenvolvimento de doenças e processos relacionados à idade. No início de minha carreira, a medicina era muito mais didática: o médico “dizia ao paciente o que fazer”. A mudança nessa cultura se deve, em parte, ao compartilhamento de um conhecimento mais amplo de todos os componentes que levam a uma boa resposta ao tratamento, incluindo estilo de vida, relacionamentos e atitudes.
Lembro-me de um episódio que ocorreu durante minha formação médica. Era hora da tradicional sessão clínica matinal na enfermaria. O médico responsável, um enfermeiro, três residentes e dois internos estavam reunidos em torno do leito de uma paciente em uma ala de dezesseis leitos sem divisórias – uma visão assustadora para qualquer paciente. Todas as atenções estavam voltadas para o médico, que, postado ao lado da cabeceira do leito e de costas para a paciente em questão, explicava com entusiasmo que “aquela paciente”, que havia sofrido um AVC (acidente vascular cerebral), estava com o lado esquerdo do corpo paralisado (braço e perna); que dificilmente ela
se recuperaria; e que suas faculdades mentais também tinham sido afetadas devido à extensão da lesão. Ele tinha chegado a essas conclusões com base na interpretação de sua tomografia cerebral. O médico foi além, afirmando que ela não teria condições de ter uma vida independente e que era bem provável seu encaminhamento a uma instituição de longa permanência para idosos. Naquele momento, a paciente sentou-se na cama e repreendeu o médico: “Eu estou aqui debaixo do seu nariz, ouvindo tudo o que o senhor diz. Portanto, faça o favor de se dirigir diretamente a mim. Ontem, comecei a mexer a mão e o braço direitos, e dei alguns passos com a ajuda de uma enfermeira. Tenho uma família grande que me dá todo o apoio possível e pretendo ir para a minha casa. Eles já estão providenciando algumas mudanças no meu lar. Sou uma artista de sucesso e vou voltar a pintar”.
Fico exultante quando me lembro da energia e determinação daquela paciente. Hoje em dia é normal que os pacientes participem de todas as etapas do tratamento, o que é facilitado pela disponibilidade de informações na internet. Os médicos também aprenderam a se comunicar melhor. Quando apresentamos opções e fornecemos todas as informações aos pacientes, podemos conhecê-los melhor, saber o que é importante para eles e por quê, quais são suas expectativas, as experiências de vida que influenciaram seus sintomas e decisões, e, desse modo, fazer uma abordagem conjunta. Cada vez mais, os pacientes querem saber por que determinada doença surge, entender o que deu errado com seu corpo e usar essas informações para tomar decisões. Por esse motivo, neste livro falo sobre como uma doença surge à medida que envelhecemos, bem como sobre os fundamentos biológicos que levam a essas mudanças.
Nunca pergunto a idade de um paciente. Tomo minhas decisões com base na avaliação de sua idade biológica, feita após exame físico e anamnese. Não existem duas pessoas de 83 anos iguais: uma consegue correr uma maratona, enquanto outra é uma frágil residente de uma instituição para idosos. O tratamento clínico das duas é muito diferente e não se relaciona a um mero número. Nossas experiências e
circunstâncias na infância influenciam nossa biologia na meia-idade e na velhice.
De fato, o envelhecimento biológico começa bem cedo – na terceira década de vida já se estabeleceu nas células. Ao ler este livro, você vai descobrir a amplitude do envelhecimento biológico e como ele difere da idade cronológica. Um estudo demonstrou uma diferença de vinte anos no relógio biológico do envelhecimento em adultos de apenas 38 anos. Portanto, a idade não é um número: o que conta são as mudanças biológicas, e a boa notícia é que podemos mudar e melhorar a maioria dos fatores que alteram nosso relógio – controlamos 80% de nosso envelhecimento biológico. Ao final do livro, incluí alguns dos testes que usamos no estudo Tilda, bem como os resultados esperados para sua idade e sexo, para que possa verificar seu desempenho em medidas que influenciam reconhecidamente o ritmo do envelhecimento.
Este livro analisa em detalhes a busca secular da humanidade pelo elixir da juventude e da vida. Fico feliz em apresentar sólidas evidências científicas para convencê-lo de que você tem a idade que sente ter, de que existem inúmeras maneiras de tornar a “volta final” mais prazerosa e garantir satisfação, curiosidade e alegria por toda a vida.
Capítulo 1
Você Tem a Idade Que Sente Ter – Idade Não é Um Número
Durante
toda a minha vida profissional, sempre fiquei fascinada com o modo como a atitude das pessoas influencia não apenas seu envelhecimento, mas também sua saúde. Há pouco tempo, atendi uma paciente de 85 anos com leve infecção respiratória e que estava ansiosa para se curar logo, porque todos os dias ela cuidava, segundo suas palavras, de uma “vizinha idosa”. A vizinha tinha 74 anos, mas era frágil e dependia da minha paciente, que se sentia muito bem em prestar essa assistência. Achei engraçado ouvir a paciente descrever alguém onze anos mais nova como idosa, sem se dar conta de que ela também o era. É comum isso acontecer com pessoas que não sentem a própria idade, que acreditam ser mais jovens do que são, mais jovens do que sua “idade cronológica”. Para elas, o ditado popular de que os 70 anos de hoje são os 60 de ontem é a mais pura verdade, e essa atitude está bastante alinhada com a ciência atual.
Eileen Ash é outro ótimo exemplo disso. No momento em que escrevo este livro, ela é uma das mulheres mais velhas da Grã-Bretanha
LONGEVIDADE
e, aos 105 anos, ainda dirige, tendo obtido sua carteira de habilitação há oitenta anos. Quando li a respeito de Eileen, fiquei impressionada com sua atitude positiva e o fato de sempre ter tido uma vida ativa e variada, e de continuar assim até hoje. Apesar de ter mais de um século de idade, Eileen continua a fazer caminhadas diárias em ritmo acelerado e a praticar yoga, atividade que iniciou aos 90 anos, quando a maioria das pessoas opta por diminuir o ritmo de vida. Ela comenta: “Tem dias que eu faço a postura do gato. Em outros, faço a postura do gato e do cachorro. O yoga faz muito bem ao meu corpo. Mantém meus músculos em funcionamento”. Ela demonstra uma atitude positiva, otimista, repleta de coragem e autoconfiança, o que lhe permite enfrentar novos desafios em cada fase da vida sem se inibir pela idade. Eileen não age “de acordo com sua idade”, apenas continua com entusiasmo a levar uma vida plena; sua idade cronológica não interfere em suas ambições nem em seu modo de vida.
Ela é um exemplo vivo de como a atitude de alguém em relação à idade afeta o ritmo do envelhecimento biológico. A ciência mostra que a atitude dela ajuda a retardar tanto o envelhecimento físico quanto o cognitivo. Meu grupo de pesquisa fez alguns trabalhos interessantes nessa área e mostrou que a maneira como a pessoa se sente em relação à própria idade, mais jovem ou mais velha, na verdade influencia a rapidez com que ela envelhece. Em outras palavras, os processos celulares que caracterizam o envelhecimento podem ser controlados pela atitude e por percepções.
De uma praticante de yoga de 105 anos a alguém de 40 anos que se esforça para correr 1 quilômetro, todos nós conhecemos pessoas que parecem surpreendentemente jovens ou velhas para sua idade. Podemos distinguir duas formas de idade que ajudam a explicar essa discrepância: a idade cronológica, contada a partir do nascimento até determinada data; e a idade biológica ou fisiológica, que considera o grau de funcionamento do organismo em relação à idade cronológica.
Nascemos com um número fixo de genes, nosso DNA, mas alguns dos genes podem ser ativados ou inativados por fatores como alimentação, exercício, abordagem psicológica e atitude. Essa
ativação ou inativação dos genes é chamada de epigenética. O envelhecimento biológico é definido pela epigenética, que ocorre em todas as idades, e essas alterações na função gênica aceleram ou retardam o envelhecimento celular. A epigenética explica as diferenças entre o envelhecimento biológico e o cronológico, e por que Eileen, aos 105 anos, não apenas parece mais jovem como também tem um comportamento mais jovial do que outras pessoas mais jovens em termos cronológicos. Graças à sua atitude positiva e ao fato de não ter deixado de se exercitar ao longo da vida, Eileen ativou genes protetores que diminuem o ritmo do envelhecimento celular. A epigenética também explica por que gêmeos idênticos, que têm os mesmos genes, porém diferentes experiências de vida e hábitos de saúde distintos, envelhecem em ritmos diferentes. As células tornam-se mais vulneráveis ou mais protegidas dependendo dos genes que são ativados ou inativados.
Podemos analisar a epigenética com base em amostras de sangue e usar os resultados para compreender melhor por que algumas pessoas, como Eileen, vivem mais com saúde. Por exemplo, nosso estudo mostrou que experiências adversas na infância, como alcoolismo parental ou pobreza; problemas de saúde mental, como depressão; má alimentação; e baixo nível de escolaridade aparecem em nossos genes e estão ligados a problemas de saúde na velhice. A análise da epigenética significa poder ver que as alterações nos genes são causadas por fatores modificáveis – fatores que, tanto como indivíduos quanto como sociedade, podemos influenciar para controlar o envelhecimento biológico e, portanto, o tempo de vida. Em outras palavras, a epigenética explica a relação entre a atitude de um indivíduo a respeito da idade e o real envelhecimento celular. Para explorar com mais profundidade a ciência que está por trás disso e descobrir alguns dos segredos do envelhecimento bem-sucedido, vamos analisar a princípio uma das conquistas científicas mais importantes do mundo: o genoma humano.