Tradução
Marcelo Barbão
Título do original: Tilly in Technicolor
Copyright © 2023 Mazey Eddings.
Publicado mediante acordo com St. Martin's Press.
Copyright da edição brasileira © 2024 Editora Pensamento-Cultrix Ltda. 1a edição 2024.
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Esta é uma obra de ficção. Todos os personagens, organizações e acontecimentos retratados neste romance são produtos da imaginação do autor e usados de modo fictício.
Editor: Adilson Silva Ramachandra
Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz
Preparação de originais: Alessandra Miranda de Sá
Gerente de produção editorial: Indiara Faria Kayo
Editoração eletrônica: Cauê Veroneze Rosa
Revisão: Bárbara Parente
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Eddings, Mazey
Todas as cores de Tilly / Mazey Eddings; tradução Marcelo Barbão. -- 1. ed. -- São Paulo:
Editora Jangada, 2024.
Título original: Tilly in technicolor.
ISBN 978-65-5622-088-8
1. Ficção norte-americana I. Título.
24-204358 CDD-813
Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura norte-americana 813 Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
Jangada é um selo editorial da Pensamento-Cultrix Ltda.
Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a propriedade literária desta tradução.
Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo, SP
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E-mail: atendimento@editorajangada.com.br
Foi feito o depósito legal.
Aos meus companheiros neurodivinos que navegam por um mundo não criado para eles.
O cérebro de vocês é lindo, e fico feliz que estejam aqui.
CAPÍTULO 12
a Ver com Desejo Tilly
13
Oliver
CAPÍTULO 14 Chorando no Banheiro (Versão da Taylor Swift) Tilly
CAPÍTULO 15 Minha Versão de “Odeio Essa Viagem” Oliver
CAPÍTULO 16 E Vai Piorando... Oliver
17
18
19
20
e me Sentindo Ótimo
21
por Mil Textos Passivo-Agressivos Tilly
22
a Manteiga! Oliver
23
o Sororicídio Oliver
CAPÍTULO 24 Pássaros, Abelhas e Outras Lições de Vida Oliver
CAPÍTULO 25
Vício em Fanfic Tilly 200
CAPÍTULO 26
E Aqui a Coisa Fica Séria... e a Mágica Acontece Oliver 209
CAPÍTULO 27
Deslizando pelos Sentimentos Tilly 217
CAPÍTULO 28
Negócio Arriscado Tilly 227
CAPÍTULO 29
Morte por Tamancos Tilly 240
CAPÍTULO 30
Me Beija Logo de Uma Vez Oliver 259
CAPÍTULO 31
Alexa, Toque “Toxic” da Britney Spears Tilly 270
CAPÍTULO 32
“Evitação” e Outros Mecanismos Saudáveis de Defesa Tilly 275
CAPÍTULO 33
Ela é um Arco-Íris Oliver 284
CAPÍTULO 34 O Ajuste de Contas Tilly 293
CAPÍTULO 35
Francês e Beijos Oliver 301
CAPÍTULO 36
Trabalhar é um Saco Tilly 308
CAPÍTULO 37
Você, Eu e Nós Oliver 313
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
sua Mocinha Volúvel Tilly
40
41
Calcinhas Demais
Tilly
— Tilly, tem certeza de que tem calcinhas suficientes?
Olho para o monte de calcinhas enfiadas na minha mala. Trinta e nove são suficientes? E se eu fizer xixi e/ou cocô nas calças várias vezes ao dia durante os próximos três meses? E se destruir totalmente minhas calcinhas, rasgando todas, e a Europa de repente passar por uma escassez absurda delas?
— Nunca é demais estar preparada — digo, acenando a cabeça para minha mãe em concordância e pegando as últimas calcinhas que tenho na gaveta.
Tento enfiá-las no bolso da mala, mas não vão caber sem arrebentar as costuras, então as empilho em cima das seis caixas de absorventes internos que coloquei. Tamanho gigante, porque nada que é meu fica pela metade.
— Boa menina — diz mamãe, sorrindo para mim como se eu tivesse acabado de descobrir a cura para a fome global. — Ainda há esperança para você.
Aquele olhar e suas palavras me fazem sentir uma mistura forte de vergonha e irritação na pele, fazendo-a formigar. Viro-me, andando vagarosamente até o armário, e finjo procurar um par de tênis enquanto engulo o grito de frustração que tenta sair da minha garganta.
São momentos como esse que confirmam a necessidade de mudança em minha vida. Preciso sair dessa casa. Sair do controle da minha mãe. Dar o fora de Cleveland.
E é exatamente para isso que estou fazendo as malas: minha grande fuga.
Se é que uma viagem pela Europa financiada pelos meus pais enquanto trabalho como humilde estagiária de minha irmã pode ser chamada de fuga. Prefiro não me perder na semântica de tudo isso.
— Você programou nossas ligações no seu calendário? — mamãe pergunta, naquele tom casual bastante ensaiado que significa que ela acha que me esqueci e que vai ficar decepcionada, mas não surpresa, quando eu provar que ela está certa.
— Claro — minto. É difícil me forçar a fazer coisas que eu realmente, realmente não quero fazer, e programar ligações para meus pais enquanto estou fora estão bem no topo da minha lista.
Essa viagem é uma combinação de presente de aniversário e de formatura muito bem estruturada para que meus pais concordassem. Estão pagando minha viagem para a Europa e, em troca, vou viajar pelo continente nos próximos três meses com minha irmã, Mona, enquanto ela tenta expandir sua startup. Mamãe planeja me encontrar em Londres quando tudo acabar, para passar alguns dias lá antes de me trazer de volta para casa... provavelmente comigo chutando e aos gritos.
A viagem não se dará sem algumas pegadinhas: a primeira delas são ligações semanais para meus pais a fim de verificação, nas quais conto a eles como estou crescendo como pessoa e aprendendo muito, blá-blá-blá.
A segunda é que, tecnicamente, serei estagiária de Mona, mas acho que esse título é mais para o bem do meu pai e seu grande sonho (leia-se: pesadelo inspirado no capitalismo) de ver as duas filhas se tornarem algum tipo de magnatas do mundo dos negócios.
— Mandei Mona colocar um alarme no telefone dela para te lembrar de tomar o remédio. Vou mandar uma mensagem para você também, para que não se esqueça — diz mamãe, suas palavras beliscando um ponto sensível entre minhas costelas.
— Vou me lembrar, mãe — murmuro, as bochechas queimando. O problema é que tenho certa tendência a me esquecer de tomar as pequenas pílulas que me ajudam com tarefas básicas, como me lembrar das coisas, uma das fabulosas ironias do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Mas também não preciso que minha mãe envolva de novo minha irmã perfeita mais velha nessa situação interminável que me faz sentir tão impotente quanto uma criança de 2 anos.
— E, Tilly, por favor, lembre-se de ouvir Mona enquanto estiver fora. Sei que gosta de perambular pelos lugares e fazer suas coisas, ou se perder naquele seu laptop, mas ela saberá como andar por aí melhor do que você, e o objetivo da viagem é ganhar alguma experiência de vida. Não vai querer arranjar encrenca enquanto estiver fora.
Este é o ponto em que desligo.
Ainda de costas para ela, fecho os olhos com força, apertando as mãos em punhos cerrados e mordendo o lábio para reprimir a onda de sentimentos. Logo vou estar longe daqui.
Chega de suspiros gentis e decepcionados quando me esqueço de fazer algo. Chega de olhares de derrota e cansaço — um reconhecimento do fardo que precisam compartilhar — entre mamãe e papai quando fico nervosa e as emoções brotam com a força de uma cachoeira, mas sem nenhuma beleza. Chega de comparar meus inúmeros fracassos e deficiências com os sucessos intermináveis da perfeita Mona. Mona é cinco anos mais velha do que eu e éramos muito próximas. Grandes amigas. Mas aí ela foi para Yale fazer faculdade e nunca mais foi a mesma. Trocou sua personalidade simples e os vestidos longos e esvoaçantes por uma tonelada de terninhos e mais suéteres com cotoveleiras que alguém tem o direito de possuir.
A cada visita em casa, nas férias e feriados, ela estava um pouco mais diferente. Menos divertida. Muito mais séria.
Em vez de se empolgar comigo com Supernatural ou Doctor Who, ela começou a discutir tendências de mercado com papai. A fofocar sobre o bairro com mamãe. Mamãe diz que ela se tornou uma verdadeira habitante da Nova Inglaterra. Eu acho que ela se tornou uma chata sem graça.
Como se frequentar uma universidade da Ivy League (e concluir um programa de MBA acelerado, em nada menos que... vou tampar a boca para não falar mais nada) não fosse suficiente, ela abriu uma empresa durante a faculdade, em parceria com um outro talento dos negócios chamada Amina. A dupla desenvolveu uma marca de esmaltes chique, ecoamigável, orgânica, não tóxica, insira aqui mais alguma palavra da moda — com licença, esmalte não, mas sim lacquer de unhas de luxo... porque, aparentemente, esmalte não é elegante o suficiente.
Depois de se formar no ano passado e ganhar algum dinheiro em um concurso voltado a mulheres empresárias altamente competitivas (que passou a ser o único tópico de conversa de papai, moldando toda
a sua personalidade), Mona se mudou para Londres, onde Amina nasceu, e a dupla tem desenvolvido o negócio lá desde então.
Deram o nome de Ruhe para a empresa, uma palavra alemã que “não dá para traduzir direito” e que significa que nada ao redor pode incomodá-la. Tenho quase certeza de que Mona encontrou isso em algum artigo do BuzzFeed sobre palavras estrangeiras sofisticadas sem tradução exata. Vou tampar a boca de novo.
Mamãe e papai poderiam muito bem ter montado um altar para Mona em nossa sala de estar, para mostrar quanto adoram os sucessos dela.
— Oh, Tilly, não fique chateada. Não estou criticando você — diz mamãe, caminhando até o armário em que estou enfiada, as costas arredondadas como uma carapaça de tartaruga. Ela acaricia levemente minhas escápulas, e meus músculos se contraem. — Sabe que é o seu TDAH que causa esses problemas, não você.
Minha mãe fala sobre meu diagnóstico como se ele fosse uma entidade à parte, algum parasita horrível que absorve meu organismo e muda quem de fato eu sou.
— O dr. Alverez nos disse que isso pode causar impulsividade. Imprudência. Só precisa estar consciente dessas coisas para poder superá-las — ela continua, desenhando círculos nas minhas costas que fazem a pele ficar arrepiada e meu corpo estremecer. Não gosto de toques suaves.
Quero gritar. Quero explodir. Quero dizer: Pare, mãe. Simplesmente pare. Pare de listar todas as coisas que mudaria em mim e colocar a culpa em um diagnóstico.
O TDAH não me “mudou”, embora seja assim que minha mãe veja. Ele sou eu. É um fato inegável e simples de quem eu sou. Como meu cabelo preto ou meus olhos cinzentos, ou a protuberância na ponta
do meu nariz. Isso existe no meu DNA, provavelmente bem entre meu gene de romântica incurável e o alelo do senso de humor atrevido.
Está entrelaçado em quem eu sou. Não é uma doença que precisa de cura.
Abaixo-me e me afasto de seu toque, levantando-me e fazendo um giro bizarro enquanto com uma perna dou um chute no ar, como se fosse uma dançarina moderna. Vou gingando até a porta.
— O que está fazendo? — mamãe pergunta, sentando-se no chão, as sobrancelhas franzidas e a testa rígida enquanto me olha confusa.
— Dançando de alegria — minto. — Estou muito animada com a viagem — acrescento, caminhando para o corredor. — E preciso comer alguma coisa.
Continuo minha dança improvisada ao descer as escadas, e é bem provável que deixo minha mãe escrevendo um lembrete sobre meu comportamento errático. Ela não sabe que eu sei sobre o bloco de notas que leva ao dr. Alverez, documentando momentos que quer mencionar durante a parte das consultas em que não estou.
Odeio aquele caderno.
Mas tenho a tendência de fazer coisas estranhas como esta, às vezes. Quando os sentimentos se acumulam e me dominam, pressionando as articulações até que eu sinta que vão fraturar, faço algo explosivo com meu corpo. Apenas sinto que é... bom me mover. Para me libertar disso.
Sei que minha mãe acha isso bizarro e algum tipo de defeito de programação, mas desisti de tentar esconder isso.
Talvez, se me comportar de maneira espontânea por algum tempo, ela enfim desista de mim. E poderei ser quem sou.