movimento as muitas coreografias do cotidiano
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editorial
A beleza do movimento, do gesto, do traço de arquitetos e artistas que nos move
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odos os dias nós acordamos, levantamos, tomamos banho, café da manhã, vamos trabalhar sem nos darmos conta da beleza e da simplicidade de cada movimento aparentemente corriqueiro, sem perceber as muitas coreografias do nosso cotidiano. Foi pensando no gesto espontâneo que brota de cada um de nós, no rabisco do arquiteto que empresta movimento ao concreto, que fizemos a pauta desta 41ª edição da revista Lindenberg. Tudo começou com o bailarino e coreógrafo Ivaldo Bertazzo, convidado para escrever o Primeira Pessoa da edição passada, e que não conseguiu entregar seu texto a tempo. Decidimos, então, que esse número teria como foco a delicadeza do movimento. E como nada é por acaso, quase que simultaneamente, nossa diretora de arte Lili Tedde chegava de Paris encantada com a exposição Danser La Vie, sucesso do museu Georges Pompidou que saiu recentemente de cartaz. Estava dado o primeiro passo. O que você verá, nesse exemplar que tem em mãos, são edifícios dançantes que se espalham pelo mundo, obras de star architects como Frank Gehry, Oscar Niemeyer, Zaha Hadid ou o jovem chinês Wang Shu, que conseguem dar vida e movimento ao frio concreto. É nossa maior bailarina Ana Botafogo falando sobre movimento e dança, retratada com exclusividade pelas lentes de Paulo Giandália. É o bailarino e coreógrafo Ivaldo Bertazzo em primeira pessoa. Um ensaio fotográfico exclusivo, assinado pelo fotógrafo Maurício Nahas (que também é nossa capa), com bailarinos no Balé da Cidade de São Paulo. É a arte cinética de Carlos Cruz-Diez que dança com a delicadeza do traço e do jogo de cores, e que está espalhada pelas paredes de um apartamento moderníssimo, localizado em um dos nossos edifícios mais antigos, e exibido na seção Personna com fotos de Romulo Fialdini. Uma breve história da dança foi traçada, de Nijinsky ao hip-hop, pela jornalista Ana Francisca Ponzio enquanto o tema de nosso turismo é a Martinica, terra do rum e do zouk, um ritmo que tomou conta do mundo. Movimento também significa pedalar, e a nova seção Roteiro fala de passeios para fazer de bike pela bela Alsácia, no norte da França, e também de atitudes que geram movimento, além de trazer benefícios para o mundo, como a reciclagem de resíduos sólidos que a Eco-X está fazendo, ou mesmo nossa São Paulo, que procurando espaço para crescer com qualidade, anda se esparramando para os lados da Chácara Santo Antonio, o novo bairro corporate da cidade. Boa leitura.
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Adolpho Lindenberg Filho e Flávio Buazar
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foto Rômulo Fialdini
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08 Notas Novidades para casa 16 Bairro Chácara Santo Antonio 24 Poéticas Urbanas Arquitetura e dança 26 Urbano Edifícios que dançam 34 Entrevista Ana Botafogo 40 História De Nijinsky ao Hip Hop: um breve olhar 48 Primeira Pessoa Ivaldo Bertazzo 50 Um outro olhar A beleza do gesto 60 Arte Carlos Ruiz-Diez 66 Personna Galeria de arte
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foto Felipe Reis
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Marketing
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Direção de arte
Lili Tedde Editora-chefe
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Adriana Brito, Ana Francisca Ponzio, Felipe Reis, Instituto Azzi, Ivaldo Bertazzo, Judite Scholz, Juliana Saad, Maria Eugênia, Marianne Piemonte, Mario Bolzan, Maurício Nahas, Patricia Favalle, Paulo Giandália, Romulo Fialdini, Rosilene Fontes
para revenda nacional acesse o site www.entreposto.com.br
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Conselho Editorial
Adolpho Lindenberg Filho, Flávio Buazar, Ricardo Jardim, Rosilene Fontes, Renata Ikeda Renata Ikeda
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é uma publicação da Construtora Adolpho Lindenberg. Ano 10, número 41, 2012
Revisor
Claudio Eduardo Nogueira Ramos Arte
Marcelo Pitel Publicidade
Cláudia Campos, tel. (11) 3041.2775 cel. (11) 9910.4427 lindenberglife@lindenberg.com.br Gráfica
74 Filosofia O que você vai ser quando crescer? 76 Qualidade de vida A alegria do movimento 78 Turismo Bienvenu a Martinica 84 Roteiro By bike 88 Artigo Dançando no dia-a-dia 90 Filantropia Reflexões sobre o ato da filantropia 92 Sustentabilidade Jovem empreendedor 94 Vendo um Lindenberg 96 Em obras
Pancrom Lindenberg & Life não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm autorização para falar em nome de Lindenberg & Life ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por pessoa que conste do expediente. Lindenberg & Life
R. Joaquim Floriano, 466, Bloco C, 2º andar, São Paulo, SP, tel. 3041-5620 www.lindenberg.com.br Jornalista Responsável
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Nossa Capa A bailarina Paula Miessa, do Balé da Cidade de São Paulo, fotografada com exclusividade por Maurício Nahas
A tiragem desta edição de 10.000 exemplares foi auditada por PwC.
fotos: Romulo Fialdini
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Maiá Mendonça (Mtb 20.225)
Avenida Cidade Jardim, 187 Jardim Europa 01453 000 São Paulo t| [11] 2189 0000 www.entreposto.com.br
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Fotografia: Sheila Oliveira
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Fogo falso A ideia é no mínimo curiosa. A Lareira Elétrica Dynasty Eletro é um aquecedor elétrico, mas simula em uma tela de tevê a visão do fogo crepitando em uma lareira. Coqueluche, tel. (11) 3741-0757
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Cama quente Novidades na tradicional Casa Almeida, que hoje se chama Casa by Buddemeyer. A vedete do inverno é o veludo de algodão, que aparece em colchas e porta-travesseiros. Uma das linhas, a Elliot, ganhou pontos tucks feitos à mão para formar o matelassê. Para combinar, confira Bonaparte e Chateau, jogos de cama de 400 e 600 fios, com plissê na vira do lençol e abas das fronhas. Casa Almeida, www.casaalmeida.com.br
Abajur de latão com base de madeira revestida em animal print crocô marrom com cúpula de linho, design Norea de Vito e Beto Galvez.
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Objeto do desejo
Talvez você não saiba, mas Ayala Serfaty é uma das designers mais festejadas do momento, e suas peças são cobiçadas all around the world. As formas orgânicas do pendente 3 Palm são resultado do formato inusitado da estrutura metálica combinado ao uso da seda natural plissada. Exclusividade da Dominici.
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Leveza, estilo e praticidade. notas
Tudo o que o seu projeto precisa para ficar perfeito.
Grandes assinaturas A Graf von Faber-Castell comemora os 250 anos da marca com a caneta-tinteiro Elemento, uma obra-prima feita à mão por artesãos alemães. Madeira de oliva polida e envernizada para realçar seus veios, ponta, clipe, tampa de platina e pena de ouro 18 quilates fazem do modelo uma joia para escrever. A tiragem é limitada, apenas 1.761 unidades, e numerada. Para o Brasil virão apenas cinco exemplares.
Fábulas de vidro Apresentada pelo designer Guto Requena na Feira de Milão, a coleção de vasos de vidro Era uma Vez guarda a magia das fábulas, repetindo as curvas das narrativas que Guto ouvia da avó quando criança. São fabricados com a técnica artesanal da moldagem do vidro por sopro. O Vento e o Sol, A Carriça e a Coruja, Festa no Céu e A Pombinha e a Formiga foram os contos que inspiraram os quatro modelos. www.gutorequena.com.br
Pé na cozinha Brasileirinho é o nome da nova coleção de luminárias do Estúdio Nada Se Leva que dão um novo uso para a convencional gamela e estão na La Lampe.
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A linha de esquadrias de alumínio Imperial 3.5, da Belmetal, combina requinte e funcionalidade. Seu design arredondado e ergonômico comporta venezianas, persianas e vidros duplos, além de exigir o mínimo esforço para abrir e fechar. O resultado é uma estética limpa e a satisfação de quem fez a melhor escolha. Conheça a linha de esquadrias de alumínio da Belmetal para projetos comerciais e residenciais.
Premiada com o Good Design Award de 2011, a luminária Keyra, assinada pelo designer Roberto Paoli, foi a estrela do evento promovido pelo Museu Chicago Athena de Arquitetura e Design e pelo Centro Europeu de Arquitetura, Arte, Design e Urbanismo. A Keyra, da marca italiana Murano Due, que combina a forma retrô à tecnologia das lâmpadas leds está sendo lançada pela Artecristallo. Tel. (11) 3081-6611, www.artecristallo.com.br
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Leve, linda e solta
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Geometria
Fabrizio Rollo, leia-se arquiteto e ex-editor de estilo de Casa Vogue, levou sua arte para a mesa a convite da 6F Decorações, importadora de móveis e objetos de decoração de alto luxo. A Tableware Collection Fabrizio Rollo foi executada pela italiana Richard Ginori, que produz peças para Missoni e Patricia Urquiola, e traz bowl, saladeira, pratos, travessas e serviço de chá e café. 6F Decorações, tel. (11) 4612-3600, www.6f.com.br
Olhar o Brasil
São as ilustrações do badalado arquiteto carioca Chicô Gouvêa que estampam a nova coleção da JRJ Tecidos. Batizada de Olhar o Brasil, as estampas são inspiradas na fauna brasileira e combinam traços de mapas, pássaros e plantas, criando inúmeras possibilidades de combinação. A nova linha foi fabricada em Lona BR 100 e algodão.
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Jardim brasileiro
Marcelo Faisal decidiu comemorar seus 50 anos com um livro. Editado pela Metalivros, o pequeno volume Fotos-Síntese traz um pouco da vida e da carreira do paisagista e arquiteto, e uma seleção de projetos que revelam seu estilo linear e sua paixão pelas plantas tropicais.
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A proposta é, com os módulos criados pela designer italiana Paola Navone fabricados pela Linteloo, montar a configuração de sofá que mais se adapte a determinado ambiente. Exclusividade Conceito Firma Casa. Tel. (11 3068-0380), www.conceitofirmacasa.com.br
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Com o prolongamento da avenida ChuCri Zaidan e uma nova ponte, a Cid idade ade Começa a se esparramar para os lados da CháCara santo antonio, região que está se transformando no novo endereço Corporate da Cidade Por ADriAnA Brito | FotoS FeLiPe reiS
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O vaivem de executivos na Avenida Chucri Zaidan Cartão-postal da zona sul, a “ponte estaiada” é um espetáculo à parte quando as luzes se acendem
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subprefeitura de Santo Amaro está numa área de 37,50 quilômetros quadrados, onde vivem 238 mil pessoas, segundo levantamento registrado pelo Censo 2010. Conhecida por abrigar os eixos de consumo das comunidades nordestinas que migraram para a cidade há algumas décadas, a região teve sua origem quando o padre José de Anchieta visitou a então aldeia de Jeribatiba, ocupada pelos índios guaianases e por famílias de portugueses, e decidiu formar ali um povoado. Tempos depois, em 1686, o bispo José de Barros elevou o povoado a freguesia – e a freguesia virou Vila de Santo Amaro após 146 anos, por intermédio do decreto de D. Pedro I.
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No correr do calendário, o lugar passou a ser chamado de Virapuera e Gerivativa, entre outras configurações, até chegar à denominação conhecida atualmente. Composto por uma estrutura administrativa autônoma, o município teve prefeito, câmara de vereadores e batalhões da Guarda Nacional. Contudo, a alguns passos dali, um movimento rascunhado na Europa serviu para alterar o perfil demográfico da província. Tudo porque, em 1827, o governo imperial trouxe um grupo de 200 imigrantes da Áustria, Suíça e Alemanha para habitar a futura Parelheiros e desenvolver uma espécie de colônia agrícola. No biênio seguinte, parte desse contingente deu início à extração de madeira, comercializada com representantes da vila lusitana. O sucesso alcançado no cultivo de hortifrutigranjeiros quase um século depois foi determinante para que os lavradores mais prósperos investissem num trecho imediato das zonas de abastecimento, dos quais os mercados municipais e os demais endereços do comércio, provocando o deslocamento de parte dos escandinavos para Santo Amaro. Como as chácaras próximas ao leito sinuoso do Rio Pinheiros estavam ocupadas, a saída foi adquirir os lotes situados no trecho elevado do terreno.
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o bairro é bike friendly com fácil acesso à ciclovia.
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Espetáculos naturais Semana de Arte Moderna de 1922 esquentando a cena cultural e desembarca no País o engenheiro Asa White Kenney Billings, gerente de construções da Canadian and General Finance, prestadora de serviços para a São Paulo Tramway, Light and Power Company. A viagem tinha como pretexto a análise do sistema elétrico que atendia os 50 mil habitantes da metrópole. Preocupado com um possível colapso, eminente se o nível do Rio Tietê diminuísse durante possíveis estiagens, como acabou acontecendo dois anos depois, ele aceitou a sugestão do geólogo F. S. Hyde de utilizar a queda de 720 metros da Serra do Mar, perto de Cubatão, para construir um novo sistema hidroelétrico que gerasse mais energia. O start do projeto começou com a montagem da Usina do Rasgão; seguido da canalização e da inversão do curso do Rio Pinheiros, da nascente até as estações elevatórias que levariam a água até as represas de Santo Amaro e Rio Grande, e que desembocaria nos canais e nas turbinas de Cubatão. E o resultado não poderia ter sido melhor, pois a produção saltou de 50 mil para 265 mil quilowatts. Para a cidade, na metade da década de 1940, isso representou a possibilidade de toda ordem de investimentos, da iluminação das ruas à ampliação do transporte público. Já para os residentes das cercanias vizinhas às margens do Rio Pinheiros, agora retilíneas, muitas novidades surgiram. Em 1938, por conta da alteração no leito, os sítios da área foram desapropriados, o que entristeceu os moradores que pescavam e nadavam no local, bem como os comerciantes que viviam de pequenas lavouras e da extração da areia. No caso da santamarense Chácara Santo Antônio, bairro suntuoso do entorno, tal como a Granja Julieta e o Alto da Boa Vista, essa intervenção abriu caminho para a criação das ruas Verbo Divino, Américo Brasiliense e Alexandre Dumas, e seus quarteirões geometricamente cortados.
na página ao lado, Avenida Chucri Zaidan, que passa entre os shoppings Market Place e Morumbi Shopping e será prolongada até a ponte João Dias
Vetor expandido A evolução da cartografia despertou o interesse das indústrias nacionais e multinacionais que se instalaram por toda a extensão, a exemplo da Monark, da Pfizer, da Bayer e da Caloi, estimuladas do mesmo modo pela composição das primeiras avenidas que formaram a Marginal Pinheiros, a SP-015, uma das rotas de acesso mais importantes de São Paulo – responsável pela conexão da banda sul da capital às zonas oeste e leste. Entre os anos de 1980 e 1990, muitos dos galpões ocupados por tais indústrias foram desativados, dando lugar aos sobrados das pequenas e médias empresas e pelos primeiros arranha-céus. Na apresentação do Plano Urbanístico do Setor Chucri Zaidan – juntas, as avenidas Águas Espraiadas, Engenheiro Luís Carlos Berrini e Chucri Zaidan estão entre as inovações recentes das redondezas –, se previu, em 2001, a formação de um bemsucedido centro terciário. “Esse crescimento imobiliário intensifica o adensamento populacional e consequentemente as demandas correspondentes, principalmente no bairro da Chácara Santo Antônio.” Em razão disso, e da necessidade de ampliar os programas de despoluição e recuperação do rio, inúmeras benfeitorias foram feitas: a criação de uma ciclovia e a recuperação dos canteiros; a inauguração da linha de trem Esmeralda, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM); e o lançamento da ponte Octávio Frias de Oliveira, a ponte Estaiada, que liga a Avenida Jornalista Roberto Marinho à Marginal Pinheiros.
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Quem lê Lindenberg & Life sempre sabe antes. E pode aproveitar mais. Negociação direta com a construtora. Oportunidade em primeira mão para você.
Povoado pós-moderno De olho nesses horizontes redescobertos, incorporadoras voltadas para o mercado de alto padrão, como a Lindencorp, têm investido em edifícios comerciais. Caso do Win Work Chácara Santo Antônio, formado por 34 escritórios-butiques, dois por andar, com 316 metros quadrados e pé-direito livre de 2,7 metros. A torre de estilo contemporâneo, projeto da construtora Adolpho Lindenberg, será erguida num terreno de quase 3 mil metros quadrados, pertinho da estação ferroviária Granja Julieta, e oferecerá inúmeros atrativos aos executivos instalados ali, a começar pelas 304 vagas de estacionamento.
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Ana Paula Vasconcellos, desenvolvedora Lindencorp, diz que o projeto incluirá ainda quatro elevadores com capacidade para 20 pessoas, gerador com tratamento acústico, infraestrutura para equipamentos split system, circuito fechado de TV nas áreas comuns, sistema de controle de acesso e flexibilidade no layout. “A concorrência produz lajes corporativas com mais de mil metros quadrados ou saletas offices, em média, com 40 metros quadrados cada. Nosso objetivo ao desenvolver essa forma de condomínio corporativo é manter a exclusividade, também na questão da metragem, por algo que ainda não foi feito na região”, completa. Diferenciais, por sinal, que não param por aí. O Win Work será arquitetado exatamente no setor de expansão da Chucri Zaidan, avaliado pela consultoria Jones Lang LaSalle como um eixo mais promissor que as avenidas Paulista e Faria Lima, de acordo com a revista Exame. “Um estudo feito pela [Imobiliária] Lopes atesta que a área poderá se tornar o maior polo de escritórios da cidade, chegando a mais de 870 mil metros quadrados construídos até 2016”, diz Ana Paula. Ótima notícia para a bem-sucedida linha de empreendimentos Win Work, que já possui unidades em Pinheiros e em Santos, no litoral paulista. Com tamanha sede de desenvolvimento, faltava mesmo fincar uma de suas bandeiras nessa terra de tantas tradições.
Estação Granja Julieta, na Marginal do Pinheiros, localização perfeita para quem frequenta a Chácara Santo Antonio
Conjuntos de 316 m2 com opção de laje corporativa de 632 m2 9 vagas por conjunto | 1 torre Informações : 30 41-2758 Incorporação:
Construção:
Material preliminar sujeito a alteração, proibida a divulgação. O empreendimento só será comercializado após o Registro de Incorporação.
poéticas urbanas
Breve lançamento
Arquitetura em movimento POR ROSILENE FONTES | ILUSTRAçÃO MARIA EUGÊNIA
“O desafio do salto de um bailarino se assemelha ao desafio do concreto que vence um grande vão.” Foi assim que o arquiteto mineiro José dos Santos Cabral comparou a arquitetura e a dança
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coreógrafa Deborah Colker criou um espetáculo de dança que se chamava “casa” e levou ao palco um diálogo entre a dança e a arquitetura. Duas artes aparentemente distintas, mas que têm em comum a interação entre o espaço e o corpo. Ela partiu da ideia simples do que se faz dentro de uma casa: sentar, comer, dormir, andar e desse movimento natural do homem dentro de um espaço nasceu um belíssimo balé contemporâneo. Penso então na cidade e nesse gigantesco espaço que nos envolve e em todas as pessoas se movimentando para lá e para cá, gesticulando, correndo, andando a passos largos, vagando por entre becos, ruas, casas e posso imaginar uma grande coreografia. Tanto a dança quanto a arquitetura lidam com o corpo e ambas lidam com o corpo em movimento no espaço. A arquitetura cria o espaço enquanto a dança ocupa o espaço. O arquiteto e professor da UFMG José dos Santos Cabral faz uma belíssima comparação: “O desafio do salto de um bailarino se assemelha ao desafio do concreto que vence um grande vão”.
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Vejo então o Masp como uma arquitetura dançante em perfeito equilíbrio, o Museu de Niterói fazendo uma pirouette. Posso imaginar balés arquitetônicos pelo mundo afora. Em Praga, por exemplo, há um edifício conhecido por “A Casa Dançante” e que foi construído em um espaço onde em 1945 um prédio havia sido bombardeado. Sua forma arquitetônica não passa despercebida e parece mesmo um casal dançando, por isso, ficou conhecido
como “Ginger e Fred”, o par de bailarinos mais famoso do cinema dos anos 1950, em referência a Fred Astaire e Ginger Rogers. Poderia ficar horas citando exemplos de edifícios com formas que sugerem movimentos ou mesmo sobre os edifícios que giram em torno do seu próprio eixo, e poderia tentar devanear com metáforas poéticas sobre balés arquitetônicos.
Perspectiva ilustrada do living
Um bom negócio para o seu mundo. E o melhor para o mundo da Vila Mariana.
Em vez disso prefiro pensar no balé “casa” e na simples ideia da relação do homem com o espaço, no simples ritual nosso de todos os dias, em cada gesto repetido de acordar, levantar, espreguiçar, escovar os dentes, tomar banho, pentear os cabelos, colocar a roupa, os sapatos, tomar café e com isso tento pensar que a cada dia eu danço. Um dia em um adágio, outros em ritmos lentos, outros como o jazz ou street dance, e assim vamos dançando pela vida.
73 m2 2 dorms. 1 suíte 2 vagas Bicicletário: exclusivo sistema Bikelin®, bicicletas disponibilizadas, personalizadas e compartilhadas pelos
Penso também na arquitetura, nesse espaço que no dia a dia vivemos, moramos e trabalhamos. Nesse espaço criado para receber nosso balé diário. E é nessa coreografia que vamos desvelando a arquitetura, vamos relacionando-nos com ela e com outros bailarinos.
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Nossos gestos, comportamentos, movimentos, nossos modos de viver, nossas relações com as pessoas e o espaço alteram as qualidades do próprio espaço e revelam a melhor arquitetura para nosso melhor espetáculo de viver. Como escreveu Nietzsche: “Cantando e dançando, o homem se funde com a unidade do ser”.
Diferenciais Lindencorp Sustentável: exclusivas soluções arquitetônicas que aproveitam a iluminação natural, reduzem gastos de energia, diminuem impactos ambientais e proporcionam maior bem-estar.
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Frank Gehry, Oscar Niemeyer e Zaha Hadid: conheça alguns dos arquitetos que transformam em fluidez a dureza do concreto por Marianne Piemonte
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Gênios e geniosos, os “starchitects”, como vêm sendo chamados, muitas vezes afrontam algumas leis da física, como a gravidade, para nos encantar com suas obras. Um dos maiores exemplos desse seleto grupo é o canadense radicado nos Estados Unidos Frank Gehry. Seus projetos têm pontas, curvas e formas nada convencionais. Eles chegam a ressaltar e a transformar completamente a paisagem, como o Museu Guggenheim, em Bilbao, Espanha. Todo revestido de titânio, ele é como uma estalagmite múltipla que brotou do chão. Apesar de totalmente estranho àquela cidade medieval, parece que o prédio sempre esteve ali, de tão familiar.
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ão é apenas na Construção de Chico Buarque que cimento, concreto e tijolos têm ritmo, alguns arquitetos pelo mundo também conseguem esse feito. As construções deles desafiam a rudeza dos materiais e os resultados são edifícios que dançam como notas em uma pauta de música aos nossos olhos.
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o documentário Sketches of Frank Gehry, imperdível mesmo para quem não gosta de arquitetura, Gehry conta ao cineasta Sydney Pollack (diretor do filme) como surgem suas criações. O senhor de 83 anos que se apaixonou por arquitetura porque costumava brincar com bloquinhos de madeira com a avó, pega uma folha de papel e amassa até a transformar numa pequena bolinha. Delicadamente, ele começa a desamassar algumas pontas e joga essa “estrutura” em cima da prancheta. Daí, surgiram, por exemplo, os primeiros desenhos das linhas da Casa Dançante, um prédio de escritórios no centro de Praga, na República Tcheca. Tamanho é o movimento de sua composição que originalmente o edifício foi chamado de Fred e Ginger, uma alusão aos atores-pés-de-valsa Fred Astaire e Ginger Rogers. Como o museu de Bilbao, o “casal” destoa completamente dos prédios neogóticos e art nouveau que se avizinham, mas se integra perfeitamente à paisagem. Depois de tantas escolas e movimentos, a arquitetura “caixa branca” tornou-se bastante reverenciada pelo mundo. Não há como negar a genialidade das linhas retas das casas do americano Frank Lloyd Wright (1867-1959), que revolucionou a arquitetura do século 20 com inovadoras concepções espaciais. Ou a genialidade do conterrâneo Richard Meir, com seu traço reto e geométrico. No Brasil, como negar a beleza da simplicidade suntuosa de Arthur Casas? No entanto, de tempos em tempos surgem arquitetos que têm seus projetos transformados em ícones de cidades e referência para gerações de design.
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Na página anterior, o Guggenheim de Bilbao, obra de Frank Gehry A Casa Dançante, em Praga, apelidada de Fred e Ginger
Um deles, sem dúvida, é o italiano Renzo Piano, 75 anos, autor do Centro Georges Pompidou, em Paris. As enciclopédias o catalogam como partidário da arquitetura high-tech, mas isso quer dizer pouco para esse criador. Em cada novo projeto Piano vê a oportunidade de aplicar formas e conceitos de arquitetura diferentes. “Uma das grandes virtudes da arquitetura radical é que cada obra pode ser vista como um novo começo de vida”, disse. Talvez esse conceito explique um portfólio de projetos tão diferenciados ao longo da vida. Piano, autor do Centro Paul Klee, em Berna, na Suíça, não faz parte daquela linhagem que pode ser reconhecida diante de uma obra.
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Nobel da genialidade Criado em 1979, pela fundação Hyatt, o Prêmio Pritzker é considerado o Nobel da arquitetura, homenageando em vida arquitetos que cumprem os princípios enunciados por Vistrúvio (arquiteto romano que viveu no século I a.C. e deixou como legado a obra De Architectura): solidez, beleza e funcionalidade.
Declaradamente fã e influenciada pela ousadia de Niemeyer, a arquiteta iraquiana radicada em Londres Zaha Hadid é uma das principais estrelas da arquitetura desconstrutivista. Estruturas nada lineares, curvas e ângulos pouco prováveis são características de seus trabalhos espalhados pelo mundo. A reverenciada pista de ski Bergisel Jump, em Innsbruck, na Áustria, está em sua lista. Em 2004, ela se tornou a primeira mulher a receber o Pritzker, pelo conjunto de sua obra.
A catedral de Brasília, assinada por Oscar Niemayer; rampa de acesso ao Museu de Arte Moderna de Niterói; e as sensuais curvas do edifício Copan Na página ao lado, Guangzhou Ópera House, obra de Zaha Hadid na China
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Além de todos os feitos do homem que desenhou Brasília, outros dois ícones o tornaram um dos principais nomes da arquitetura moderna no mundo. O clássico edifício Copan, com sua estrutura em S, que emoldura qualquer postal do Centro de São Paulo, e o Museu de Arte Moderna de Niterói, com suas curvas arredondadas suspensas. O edifício, com jeitão de casa dos Jetsons, vira e mexe é o elemento que garante movimento a editoriais de moda e cenas de cinema.
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Em 1958, pelas características acima descritas e também pelas formas pouco convencionais, o carioca Oscar Niemeyer ganhou notoriedade no mundo por receber o Pritzker. Sua obra premiada foi a Catedral de Brasília. Uma espécie de oca com dezesseis colunas de concreto, que pesam noventa toneladas, e vidro nos vãos da estrutura.
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London Aquatics Center, parque aquático feito por Zaha Hadid para as Olimpíadas de Londres
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Na página ao lado, acima o Ningbo History Museum, em Ningbo, na China, projeto premiado de Wang Shu; abaixo, a Millenium Bridge do estrelado inglês Norman Foster
Zaha diz que para criar construções em que haja integração entre espaço e curvas ela “despeja concreto em formas fluidas”. Bons exemplos desse lema são a Guangzhou Opera House, na China, o museu MAXXI, em Roma, e o London Aquatics Centre, o parque aquático das Olimpíadas de Londres. Em recente visita ao Rio de Janeiro, a arquiteta saiu com a seguinte encomenda: pensar sobre algum projeto que contemple a natureza, espaço público e seus traços. Talvez, em breve, o Brasil seja sede de alguma obra dançante dessa “starchitect”. Quem também não pode faltar a essa lista de estrelados é o inglês Normam Foster, autor da Millennium Bridge. A ponte de pedestres que liga a City of London à Tate Modern. Um projeto moderno, tanto na estrutura física quanto social. O espaço, relativamente estreito, obriga os caminhantes (que normalmente andam olhando para a ponta dos sapatos) a se olharem e, até, quem sabe, cumprimentarem-se. O famoso Gherkin, uma imensa ogiva de vidro no meio da arquitetura vitoriana londrina, também é um projeto dele.
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Hoje, o Foster and Partners, seu escritório, é conhecido mundialmente pela arquitetura arrojada e pelas obras e restaurações em prédios do governo de diversos países, utilizando sistemas inteligentes no projeto, tudo no melhor estilo “Missão Impossível”. O chinês Wang Shu é o caçula dessa lista e o mais recente a ser premiado com o Prêmio Pritzker, no ano passado. Sua arquitetura tem como base as tradições culturais, a espontaneidade e os trabalhos artesanais. Em seu estúdio, de onde projetos contemporâneos saem diariamente da prancheta, uma das preocupações é com a constante demolição da história em prol da construção de prédios modernos. Construir sem acabar com a história é a sua meta. Um ótimo exemplo desse lema é o prédio do Ningbo History Museum, em Ningbo, na China. Trata-se de um imenso diamante negro projetado em madeira. Nada tão novo e tão tradicional ao mesmo tempo. Shu, segundo os estudiosos, será, sem dúvida, mais uma das estrelas da arquitetura contemporânea responsável por nos fazer dançar com os olhos.
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Corpo e alma De Giselle a Oneguin, nossa maior estrela do balé, Ana Botafogo, transita pelas várias técnicas com igual leveza. Nessa entrevista ela fala de movimento, dança e desafios
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Por Ana Francisca Ponzio | Fotos Paulo Giandália
Ana Botafogo e Luís Arrieta ensaiando Suíte nº 2 de Bach
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equena e delicada, Ana Botafogo tem o dom de se transformar no palco. Entre as inúmeras personagens que já interpretou, ela transita com naturalidade da heroína frágil e romântica para papéis mais vigorosos, imponentes e sensuais, sempre se valendo do apuro técnico e do carisma que contribuíram para o reconhecimento conquistado no Brasil e no exterior. Carioca do bairro da Urca, Ana começou a estudar balé clássico aos 11 anos. Ao longo da carreira não lhe faltaram convites e oportunidades para viver em países com maiores atrativos para os profissionais da dança. Porém, ela preferiu ficar no Brasil, o que somou mais um diferencial à sua personalidade artística. A opção não lhe trouxe limitações, ela garante. Estrela do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro há três décadas, Ana já interpretou quase todos os principais papéis do repertório clássico – de O Lago dos Cisnes ao Quebra-Nozes. Sem preconceitos, não hesita em lançar-se em novas experiências, seja como atriz de telenovela, passista de escola de samba ou parceira de dançarinos de formação popular, como Carlinhos de Jesus.
Foto Nelson Kon
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“Ana é um caso especial”, diz sobre ela Marcia Haydée, outra bailarina brasileira consagrada, mas que sempre viveu no exterior. No prefácio do livro Magia do Palco, publicado pela editora Nova Fronteira em 1993, Marcia registrou que o talento de Ana lhe permite desempenhar qualquer papel porque ela se dá de corpo e alma a cada um deles. Segundo Marcia, Ana possui magia. Com a jovialidade e o entusiasmo de sempre, Ana continua em cena para satisfação de sua eclética legião de admiradores (sim, porque ela recebe pedidos de autógrafos até daqueles que não costumam frequentar o Theatro Municipal do Rio, hoje uma espécie de lar artístico da bailarina). É no tradicional palco carioca que ela estreará em agosto deste ano a versão completa do balé Oneguin, coreografada por John Cranko (1927-1973). “Se penso em parar? Sim, mas não sei quando. Talvez com Oneguin eu encerre minhas participações nos grandes clássicos, mas não vou deixar de atuar na
dança”, comenta, esquivando-se da desnecessária informação sobre sua idade. Com a expertise adquirida durante sua respeitável carreira, Ana Botafogo fala sobre a arte do movimento na entrevista a seguir. O que é necessário para se conquistar a qualidade e o domínio do movimento? Ana Botafogo – O treinamento tem que ser contínuo.
Uma bailarina clássica como eu precisa moldar o corpo para o balé e isso exige muito exercício. Técnica se adquire com muita prática de movimentos. Depois de alcançar esse domínio é importante manter-se aberta para todas as possibilidades de movimentação porque, afinal, somos instrumentos nas mãos dos coreógrafos, que por sua vez também se inspiram em nós. Bailarinos são feitos para interpretar as mais variadas criações e por isso temos que ser sempre receptivos às novas propostas. Embora seja bailarina clássica, você já participou de desfile de escola de samba durante o carnaval do Rio de Janeiro. Essa experiência reflete a abertura que você mencionou?
Sim, eu não poderia ficar alheia a uma festa do movimento que é o carnaval e os desfiles das escolas de samba. Não sou uma sambista mas sei improvisar passos e isso me ajudou. Estou sempre colocando minha experiência corporal à disposição do que os coreógrafos querem e não foi diferente quando dancei na avenida. Você já dançou os mais variados papéis do repertório clássico e também de obras contemporâneas, algumas delas concebidas especialmente para você. Com essa experiência acumulada, você ainda enfrenta algum tipo de insegurança antes de entrar no palco?
Os desafios existem sempre. É vencendo a insegurança, o desafio, que podemos encontrar um prazer maior. Se tudo fica confortável, deixamos de buscar essa satisfação mais plena. Como já disse, sinto-me um instrumento e o resultado final é o que vamos render no palco, ou seja, o conjunto do trabalho que o público vai enxergar. Dependendo da proposta artística que resolvo desenvolver, às vezes ainda enfrento certos receios. Quando surgem apreensões eu intensifico os ensaios, exijo mais concentração e esforço de mim mesma.
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A arte da dança não se resume à beleza aparente dos movimentos e você é reconhecida também pela capacidade de interpretação, pela densidade que transmite em cena. Como você trabalha a forma e o conteúdo dos papéis que interpreta?
Sempre priorizei balés que exigissem capacidade de interpretação, e na verdade esses são os mais importantes do repertório clássico. Acredito que o que toca o público leigo é o desempenho do intérprete e não as minúcias técnicas que levam ao mero exibicionismo. Faz somente dois anos que passei a ter aulas de teatro, inclusive porque a interpretação teatral é muito diferente do balé, que depende mais da abrangência de movimentos que o bailarino possui. Ao longo de minha carreira desenvolvi meu trabalho de interpretação mais por meio de leituras. São elas que me dão subsídios. Para dançar o espetáculo Marguerite e Armand, por exemplo, estudei muito o texto de Dama das Camélias, que inspira a obra. Foram as leituras que alimentaram suas interpretações já no início de sua carreira?
No início era tudo muito empírico para mim. Sempre gostei de me aprofundar nos papéis porque o balé como arte exige simbiose entre técnica e interpretação. Procurei unir leitura a muito treinamento. Em 1981, quando protagonizei Romeu e Julieta, eu permanecia no teatro até três horas depois do encerramento dos ensaios. Ficava sozinha, testando possibilidades. Para representar a cena final, quando Julieta toma veneno, ensaiei inúmeras vezes como deveria pegar o copo, como eu beberia aquele líquido. Me apeguei a todas as minúcias, incansavelmente. Nesse processo você acaba interiorizando o movimento?
A interiorização do movimento surge depois de muito tempo de ensaio. No início a técnica prevalece e os movimentos só atingem a naturalidade por meio da repetição, do treinamento árduo e contínuo. À medida que o movimento se torna natural, ocorre a interiorização, que leva à interpretação mais elaborada.
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Você é uma bailarina de técnica eminentemente clássica. Mas quando foi aprimorar sua formação na Europa, na década de 1970, você estudou várias linguagens de dança. Foram contatos importantes?
Sem dúvida, contribuíram para meu aperfeiçoamento. Foi na França, no Centro Internacional de Dança de Rossella Hightower, que funciona até hoje em Cannes, que entrei em contato com as mais diversas linguagens da dança moderna e contemporânea. Lá frequentei
tanto aulas do método de Martha Graham quanto de dança flamenca. Vale notar que qualquer técnica diferente também aciona musculaturas mais ou menos trabalhadas em nosso corpo. Recentemente, por exemplo, uma coreografia de Luis Arrieta exigiu que eu dançasse de sapatos de saltos altos. Enfrentei inclusive dores musculares porque esses calçados fogem ao habitual. Tive que começar os ensaios com saltos mais baixos até me sentir confortável nos mais altos. Em meio às exigências técnicas e de interpretação, o domínio do movimento gera prazer?
O prazer cresce com a maturidade. Claro, é prazeroso dançar quando somos mais jovens, mas essa sensação aumenta com o tempo. Hoje a técnica já é inerente ao meu corpo e não tenho certas angústias do passado. Acho que minhas últimas Giselles [referência à heroína do célebre balé Giselle] são melhores do que aquelas que interpretei quando era jovenzinha. Hoje já digo que a idade é vantagem para mim. Manter-se em plena forma exige cuidados especiais?
Treinamento diário é fundamental. Procuro manter uma boa alimentação, com boa quantidade de proteínas porque gasto muita energia. Meu cardápio cotidiano deveria ter mais frutas, mas em compensação quase não há frituras. Acho que como bem, não sou de ficar apenas na maçã e na folha de alface. Costumam me perguntar de onde vem toda a minha energia. Não sei dizer exatamente, mas me sinto muito bem. Tomo um complexo vitamínico todos os dias, sigo os conselhos de meu ortopedista e faço exames médicos preventivos anualmente. O tempo também nos dá uma consciência corporal mais depurada, hoje conheço a quantidade de esforço que tenho de fazer. Ano passado uma lesão no pé exigiu que você fizesse um repouso prolongado. Foi difícil diminuir o ritmo?
Sim, muito difícil. Rompi parcialmente um ligamento do pé esquerdo, foi o problema físico mais sério que já tive. Foram sete meses fora dos palcos, nunca tinha ficado sem dançar durante tanto tempo. Mas não parei de me exercitar. Fiz constantemente aulas de pilates, um condicionamento físico que trabalha o corpo todo. Além de fortalecer, também alonga a musculatura. Pilates é acessível para todos e especialmente bom para bailarino.
Agradecimentos especiais Teatro Alfa
Ana Botafogo e Luís Arrieta ensaiando, no Teatro Alfa, para o espetáculo Logos/ Diálogos, concebido pelo violoncelista Dimas Goudaroulis
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Sagração da Primavera, pelo olhar da coreógrafa Pina Bausch Na página ao lado, cartazes feitos com exclusividade para o filme Cisne Negro
De Nijinsky ao hip-hop:
um breve olhar “Dança é movimento no tempo e no espaço”. A frase, resumo do pensamento do mestre Merce Cunningham, traduz com perfeição a beleza do gesto puro, simples, visceral Por Ana Francisca Ponzio
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Dois sucessos recentes do cinema colocam em pauta a arte da dança e mostram que o público está aberto e receptivo à diversidade do tema. Cisne Negro, o filme do diretor norte-americano Darren Aronofsky, que rendeu o Oscar 2011 de melhor atriz a Natalie Portman, recorre ao mundo do balé, mais precisamente a uma obra emblemática da era romântica, O Lago dos Cisnes, para construir o drama psicológico da protagonista. Já o documentário Pina, filmado em três dimensões pelo alemão Wim Wenders e que concorreu ao Oscar de 2012, mostra a dança anticonvencional de Pina Bausch, coreógrafa que a partir da década de 1970 até 2009, quando ela morreu subitamente, produziu uma das obras artísticas mais instigantes da época contemporânea.
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s transformações da dança através dos tempos foram tantas e tão intensas quanto as mudanças que acompanharam a evolução humana. Diante de trajetória tão plena de informações, o espectador de hoje pode, com razão, encontrar dificuldades para discernir o que deu origem à dança contemporânea, tão cheia de liberdades, ou o que leva um espetáculo de balé clássico a ser ainda tão cativante nos dias atuais.
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Cartaz de 1911 para o espetáculo Le Péri estrelado por Nijinsky. Acima o bailarino em L’Après Midi d’un Faune Na página ao lado, Isadora Duncan
Historicamente, a França tornou-se referência para a dança. Foi lá, na corte de Luís XIV, o famoso Rei Sol, que o balé clássico começou a ser gerado. Amante
das artes e bailarino, o monarca assumiu o poder em 1661 e logo fundou a Academia Real de Dança. No Palácio de Versalhes, sua residência oficial, a dança tornou-se prioridade e passou a fazer parte da educação dos jovens. Ao investir na formação e desenvolvimento de músicos e coreógrafos, o Rei Sol criou condições para que a linguagem do balé ganhasse uma sistematização de passos e posições que deu origem à técnica utilizada até hoje. Outro capítulo importante da história da dança aconteceu no início do século 20 e mais uma vez a capital francesa tornou-se o palco principal. A Rússia já havia importado o balé da França, acrescentando-lhe vigor próprio. Em São Petersburgo, mais especialmente no Teatro Maryinski (que também tornou-se conhecido como Kirov), surgiu uma legião de talentos, entre eles Vaslav Nijinsky (1889-1950), o extraordinário bailarino que, como integrante dos Ballets Russes, trupe dirigida pelo empresário Serge Diaghilev, causou comoção em Paris quando lá passou a se apresentar. Dono de um virtuosismo singular, Nijinsky monopolizava plateias. Quando saltava parecia pairar no ar e tal capacidade tornou-se lendária, a ponto de surgirem estudos sobre os pés do bailarino, cuja conformação chegou a ser comparada à das aves. Deus da dança foi uma das identificações superlativas que ele ganhou.
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Com o novo calçado, que reduzia o contato do corpo com o solo, as bailarinas podiam transmitir maior sensação de leveza. Para contribuir com o clima de sonho que os balés da época passaram a transmitir, também surgiu a saia de musseline, que circundava a cintura das dançarinas como a corola das flores. Daí em diante sucederam-se os chamados “balés brancos”, que exaltavam a poesia dos gestos, a oposição entre o mundo material e o imaterial, as histórias idealizadas de amor. Entre os espetáculos que simbolizam essa fase também está Giselle, obra-prima que estreou em Paris em 1841 e que até hoje seduz plateias.
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Entre O Lago dos Cisnes e as coreografias de Pina Bausch há um vasto leque de manifestações, do qual vale pinçar algumas das mais importantes. A época em que surgiu o balé enfocado no filme de Aronofsky representa o apogeu do balé romântico. Na verdade, o Lago, que estreou em 1877 no Teatro Bolshoi de Moscou, é amostra mais evoluída do romantismo, cujo surgimento, na dança, é assinalado por Les Sylphides, espetáculo cuja primeira apresentação – em março de 1832, em Paris – também revelou Marie Taglione. Foi essa bailarina, filha de um maestro italiano, a primeira a surgir em cena com sapatilhas de ponta.
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Para completar, a atuação de Nijinsky estendeu-se à coreografia. Por meio de espetáculos como A Tarde de um Fauno (L’Après Midi d’un Faune), que estreou em 1912, e A Sagração da Primavera, lançado no ano seguinte, ambos em Paris, ele entrou para a história da dança também como um coreógrafo inovador. As duas obras causaram polêmicas na época. Em A Tarde de um Fauno, com música de Debussy, Nijinsky mostrou um solo em que ele permanecia mais fixado ao chão (para desgosto dos fãs que adoravam vê-lo saltar – ou voar). Os gestos impregnados de erotismo que utilizou renderam rótulos equivocados ao espetáculo, apontado como obsceno por alguns. Na verdade, Nijinsky começava a lançar parâmetros que depois foram mais intensamente explorados na dança moderna. Contrariando a linguagem acadêmica, ele experimentou novas possibilidades gestuais: em A Sagração da Primavera, por exemplo, os pés eram voltados para o interior do corpo (em oposição às posições abertas, como ditava o balé clássico). Os Ballets Russes de Diaghilev também fizeram da dança um foco de interesse para artistas de todas as áreas. A Sagração da Primavera já marcava essa tendência ao associar a coreografia de Nijinsky à igualmente genial e inovadora música de Igor Stravinsky. No efervescente início do século 20, nomes como Pablo Picasso, Jean Cocteau, Henri Matisse, entre vários outros, cruzaram experiências em torno da dança, expandindo os diálogos da arte.
A coreógrafa Martha Graham em Letter to the world
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Em torno de ambiente tão vibrante, já circulava a arte libertária de Isadora Duncan (1877-1927), a bailarina norte-americana que se desfez das tradições para lançar novas considerações sobre a dança. Descalça e vestindo túnicas leves e transparentes, que evocavam a cultura grega, ela conquistou reconhecimento na Europa, onde trabalhou durante boa parte de sua vida. Disposta a expressar a natureza, inspirava-se nos movimentos das folhagens ao vento, das ondas do mar, para criar coreografias livres de artifícios, dançadas com naturalidade. Fonte de inspiração para inúmeros artistas, inclusive Nijinsky, Isadora queria apenas “dançar a vida”. No decorrer do século 20, talvez o mais revolucionário da história da dança, não cessaram de surgir artistas emblemáticos e inovadores. Nos Estados Unidos, o terreno mostrou-se fértil para a modernidade. Lá surgiram nomes como Martha Graham que, já influenciada pela psicanálise, dizia que “o movimento não mente
jamais”. Nem um pouco afinada com a dança livre de Isadora Duncan, Graham preferiu resgatar a disciplina e a concentração dos dançarinos. Para seguir tal direcionamento tampouco recorreu aos postulados do balé clássico. Com sua personalidade teatral, que se refletiu em espetáculos que enfatizavam a expressão dramática do movimento, Graham criou sua própria técnica – tão bem formulada, que passou a ser adotada como recurso de treinamento da dança moderna. Na técnica de Graham, a ênfase em braços e pernas, comum ao balé clássico, foi trocada pelo foco no plexo solar. Ou seja, por meio da contração e descontração da musculatura do torso, associadas ao controle da respiração, o centro do corpo tornou-se o ponto de geração dos movimentos, proporcionando novas dinâmicas para os dançarinos. À enorme contribuição de Graham somaram-se muitas outras no decorrer do século 20. A maior de todas veio com Merce Cunningham (1919-2009), um gênio que não parou de inovar durante toda a sua trajetória. “Dança é movimento no tempo e no espaço”. Essa frase simples e sintética resumia as ideias de Cunningham, que reinventou a noção de espetáculo. Com esse norte-americano que enriqueceu sua arte ao tornar-se parceiro do compositor John Cage (1912-1992), a dança tornou-se uma expressão autossuficiente. Ou seja, deixou de depender de suportes como roteiro, personagens ou uma partitura musical. Apesar de sua estreita colaboração com músicos e artistas plásticos (entre outros Robert Rauschenberg e Andy Warhol), Cunningham criava seus espetáculos em separado. Somente na data da estreia é que juntava suas criações coreográficas à música e à cenografia previamente encomendadas aos artistas com os quais trabalhou. Para Cunningham, a relação comum entre dança, música e ambientação cênica era a simultaneidade. Ao coreografar, ele usava procedimentos do acaso, como o jogo de dados ou a cara ou coroa de uma moeda lançada ao ar, para determinar a ordem das sequências de movimentos ou se um bailarino deveria dançar de frente ou de costas para a plateia. “Albert Einstein disse que não há pontos fixos no espaço. Ao mesmo tempo, o pensamento budista ensina que cada um de nós é um centro, não importa onde estejamos”, explicava Cunningham. Tais observações, levadas para o palco, permitiram que ele abolisse a ação principal do espetáculo, fazendo com que uma multiplicidade de ações passasse a existir num mesmo período de tempo e espaço.
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Cena de 4 por 4, coreografia de Deborah Colker, executada pela bailarina Na página ao lado, o supercontemporâneo figurino para Femme Toboggan, desenhado em 1923 por Lavinia Schulz e Walter Holdt
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Em meio a tantas propostas, cabe ao espectador contemporâneo manter-se aberto e atento aos estímulos artísticos que o rodeiam. Ao ficar em cartaz em larga escala, o documentário Pina certamente revelou, para uma considerável quantidade de público, a arte da coreógrafa alemã, cujo caráter atemporal continua evidente. Quem se envolveu com o filme, certamente tentará assistir aos espetáculos que o grupo de Pina Bausch, o Tanztheater Wuppertal, continuará trazendo ao Brasil. Na trajetória da dança, o trabalho de Pina, originado no expressionismo alemão, também tem status singular. À composição coreográfica ela somou o universo de experiências humanas de seus bailarinos para desenvolver um teatro dançado, que consegue envolver plateias de todas as idades e culturas. Para criar seus
espetáculos, ela estimulava o elenco a improvisar a partir de memórias de infância, visões pessoais sobre as relações entre homens e mulheres, desejos e angústias próprios de cada um. Por meio do subjetivo, conseguiu chegar às questões universais que movem a existência e certamente sua obra continuará sensibilizando as gerações futuras. No extenso palco da dança, não faltam revelações de toda ordem, inclusive nas releituras que têm sido feitas dos grandes clássicos. Além das remontagens dos balés que atravessam séculos, vale prestar atenção nas versões que obras como Giselle e O Lago dos Cisnes vêm recebendo de coreógrafos como o sueco Mats Ek, um dos criadores contemporâneos que tornam a essência dos clássicos compatível com qualquer época. Historicamente, embora mais jovem na trajetória de evolução da dança, o Brasil já possui um percurso consistente, que hoje se manifesta com diversidade – seja nos espetáculos de grupos mais conhecidos, como o Corpo e o de Deborah Colker, seja no desempenho de bailarinos como Ana Botafogo e dos tantos que fazem sucesso no exterior, mesmo que desconhecidos no próprio país. Ou, ainda, na variedade de propostas dos criadores contemporâneos, que merecem a atenção daqueles que ainda não os descobriram. Para se render aos encantos da dança, basta olhar em volta. Do clássico ao contemporâneo, sem descartar étnicos e urbanos, vindos do flamenco ou do hip-hop, há atrações para todos nos palcos brasileiros.
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“Minha dança é como a vida. Fazemos alguma coisa e, ao mesmo tempo, temos outras acontecendo ao nosso redor, num meio ambiente e num tempo específicos”, dizia Cunningham, que exigia grande virtuosismo de seus elencos para desenvolver as complexas combinações de movimentos de suas coreografias. Eterno pesquisador, ele também inovou ao utilizar programas de computador. Um deles, o software Life Forms, desenvolvido especialmente para ele pela Universidade do Canadá, lhe permitia criar possibilidades de movimentos por meio de uma figura tridimensional, que se movia como um bailarino no monitor de vídeo.
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Propiciar esses instrumentos aos alunos é o que mais me dá prazer em minha vida profissional. E descobri isso bem depois de ter iniciado a carreira, aos 15 anos, como bailarino. Tinha o ímpeto de grandes ídolos, deuses alados como Nureyev e Baryshnikov. Esses símbolos me davam a convicção de que também conseguiria voar. Circunstâncias me levaram a dar aula, e me senti muito à vontade como professor, foi um trabalho que me completou e me levou ao campo da coreografia. O que me induziu a seguir essa trajetória foi justamente atender ao anseio daqueles que desejavam se aventurar pelo universo da dança, mas não sabiam por onde começar. Em 1976, inaugurei, então, a escola do Cidadão Dançante, voltada para brasileiros residentes em São Paulo, de pais e mães de diferentes etnias, corpos mistos de diversos desenhos tipológicos, como o meu: filho de um italiano e uma sírio-libanesa.
a arte do movimento Todo corpo humano se ordena para um movimento da mesma forma, usando os mesmos músculos, independente de suas características culturais Por Ivaldo Bertazzo
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bastante comum as pessoas me perguntarem: “É todo mundo que pode dançar?” Quando isso acontece, lembro-me que já me vi na pele delas, como estudante de pintura ou de canto. A resposta é afirmativa, mas o caminho não é fácil. Existe uma série de ferramentas a serem incorporadas para que se atinja uma autonomia nessa atividade; acredito que em outras, caso de pintar ou cantar, aconteça da mesma maneira.
Para enriquecer o repertório das oficinas que promovia, viajei pelo mundo para conhecer os movimentos de grupos étnicos variados. Essa prospecção envolveu incursões pela dança húngara, pela dança havaiana, por técnicas que busquei no Taiti, na Indonésia, na Índia. A partir da confluência dessas bases, comecei a construir uma metodologia de reeducação motora. Contudo, não precisei ir geograficamente muito longe para adicionar à minha filosofia de ensino aquele que hoje é um de seus propulsores fundamentais. Em abril de 1997, realizei, no palco do Sesc Pompeia, na capital paulista, meu primeiro projeto artístico de cunho social. “Palco, Academia e Periferia, o Penhor dessa Igualdade” objetivava a inclusão de jovens de uma parcela marginalizada da sociedade. Foi um espetáculo de música popular “erudita” brasileira, que envolveu a participação do maestro Nelson Ayres e de músicos eruditos profissionais, o instrumentista Naná Vasconcelos, dançarinos profissionais de São Paulo e os Cidadãos Dançantes de minha companhia. A eles se uniram, em um instigante roteiro musical e coreográfico, as expressões criativas mais fortes e determinantes da juventude das periferias do Brasil. Entre os músicos, cantores e dançarinos
selecionados figuravam membros de projetos sociais como Lactomia do Candeal, de Salvador, Funk’n Lata com Ivo Meirelles, a comunidade da Mangueira, do Rio, Bate Lata de Campinas, TeMA – Teatro Monte Azul e os 16 Meninos da 13 de Maio, de São Paulo. Essas apresentações aguçaram meu olhar e revolucionaram meus propósitos. Percebi ali que os corpos daqueles jovens, moldados por sua carga genética, possuíam desenhos e expressões bastante distintas em relação às características dos imigrantes europeus e orientais, por exemplo. Passei a querer trabalhar sua herança negra e cabocla, lidar com os problemas característicos de sua etnia, da cultura que os abraça em seu universo simbólico. De que cuidados aquelas compleições necessitariam? Quais seriam seus potenciais e limites? A partir dessa experiência, defini como um de meus objetivos familiarizar esse integrante de comunidades mais pobres com linguagens de gesto e de movimento a que não teve acesso no plano da educação formal. Empreender tal missão fez também com que me atentasse ainda mais a determinadas facetas do aprendizado do adolescente das classes média e alta, a questionar até que ponto ele usufruiria de toda a informação de que dispõe para desenvolver seu corpo. A soma de décadas de pesquisa sobre a psicomotricidade resultou no desenvolvimento do Método Bertazzo. Aprimorá-lo requereu uma espécie de síntese do grande leque de conhecimento que adquiri, para chegar à essência da organização dos gestos da nossa espécie. Se, a partir da mesma estrutura, ramificam-se expressões oriundas das características culturais de cada povo, todo corpo humano se ordena para um movimento da mesma forma, com os mesmos músculos, seja no Japão, seja na África. O método é universal, anterior às influências do meio. Ao editar os livros de reeducação do movimento, exponho minhas técnicas para a reconstrução dos padrões motores que definem a expressão corporal para fins diversos: a dança, o esporte, os gestos do cotidiano. É uma capacitação que alia o aprendizado postural ao social, norteada pelo princípio da igualdade. Essa confluência amplia o sentido da resposta que se dá à pergunta apresentada no começo do texto. Sim, todo mundo pode – e deve – dançar.
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a beleza do gesto A precisão do movimento e a elegância do corpo solto no ar foram capturadas, com exclusividade, pelo olhar sensível do fotógrafo Maurício Nahas Texto Ana Francisca Ponzio
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impossibilidade de apontar destaques no Balé da Cidade de São Paulo não significa qualquer demérito, ao contrário. Se tal fato ocorre é porque o padrão de excelência tornou-se traço comum de todos os bailarinos da principal companhia de dança paulistana. Com seu repertório de obras assinadas por diferentes coreógrafos, o Balé da Cidade costuma apresentar espetáculos para gostos diversos. De antemão, sabe-se contudo que o desempenho do elenco sempre proporcionará uma demonstração de talento. A conquista dessa coesão artística ocorreu ao longo de mais de quatro décadas de atividades. Fundado em 1968 como um corpo de baile que teria a função de acompanhar as óperas do Teatro Municipal, o Balé da Cidade ganhou autonomia e personalidade ao longo de sua trajetória.
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Vários diretores artísticos já deixaram marcas na história da companhia. Entre outros, Antonio Carlos Cardoso, Klauss Vianna, Luis Arrieta, Ivonice Satie, José Possi Neto, Mônica Mion. Hoje uma companhia também aplaudida em palcos internacionais, o Balé da Cidade atualmente é dirigido por Lara Pinheiro. Embora tenha o Teatro Municipal de São Paulo como palco-sede, o Balé da Cidade também atua nas periferias e já levou seu trabalho inclusive às favelas. Com seu elenco notável, os dançarinos do Balé da Cidade que aparecem nesse ensaio fotográfico comprovam que o Brasil também é um centro gerador de ótimos bailarinos.
“O movimento é a força materializadora da existência. É um continuum, imortal, onipresente.” Yasser Diaz
“A dança... É o que me move. Inexplicáveis sensações. É o meu trabalho, meu lazer, meu prazer!” Marisa Bucoff
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“Por meio do movimento exponho os meus sentimentos e abro todas as portas e canais de sensações, para que nos melhores e piores momentos da minha vida eu consiga sentir o quanto a dança faz a diferença.” Antonio Adilson Junior
“Movimento, a essência da vida que se transforma a cada momento. O corpo é movimento, que por sua vez é dança. Expressar as sensações e emoções da vida é o papel do artista bailarino.” Paula Miessa
“Através do movimento eu penso, comunico, identifico, invento histórias, relaciono, mudo, deformo, brinco, transito entre outras coisas que podem ser efêmeras. Eu me movimento para uma comunicação sem limites.” Vivian Navega Dias
Figurino criado por João Pimenta para o espetáculo Paraíso Perdido. Agradecimentos especiais ao Balé da Cidade de São Paulo
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“Dançar para mim é criar uma relação dinâmica entre o movimento, o tempo e o espaço, de forma que a coreografia crie um estado específico. E é submetendo meu corpo-mente a esse estado que os movimentos ganham alma e sentimento.” Manuel Gomes
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Alexander Calder, Palatnik e Duchamp são pioneiros da arte cinética, movimento que também dá contorno ao riscado de Carlos Cruz-Diez PoR PAt A RiciA FAvALLe At
fotos cortesia Galeria Raquel Arnaud
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Entre Entre Entre Entre aaacor acor cor cor eeeaeaaforma aforma forma forma Inducción Gabo 30, 2011 Na página ao lado, inducción Chromatique, 2011
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m dos mais importantes nomes do cinetismo, o pintor venezuelano Carlos Cruz-Diez conquistou a crítica com a porção de efeitos visuais que permeia o seu trabalho. Através de movimentos físicos e da ilusão de óptica, o artista experimenta paletas de cores e diferentes suportes para traduzir parte de sua produção, caso da série batizada de obras efêmeras, atualmente em cartaz na China e na Coreia do Sul. “Pretendo colocar em evidência circunstâncias inéditas, mas reais, da visão, com o propósito de estabelecer outra relação de conhecimento.”
Fisicromia Panam, 1973 Fisicromia, 1971 Na página ao lado, Color Aditivo Triangular Dos, 2010
A mostra Circunstâncias e Ambiguidades da Cor levou telas inéditas sacadas do acervo do virtuose diretamente para a Galeria Raquel Arnaud, em São Paulo. No andar térreo, a instalação Duchas de Indução Cromática, que transcorre os primórdios dos ensaios sobre a ideia da cor presente no espaço, fez sucesso. Eram quatro cabines dispostas como chuveiros, cercadas por tiras plásticas coloridas e transparentes, por onde correntes de amarelo, azul, vermelho e verde tingem o imaginário dos visitantes.
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Outro sucesso foram os traços bidimensionais impressos em Induções Cromáticas e Fisicromias. “Nessas obras se produz um acontecimento cromático que evolui continuamente junto com o espectador e com a mudança da luz, em aberta contradição com a natureza e os cânones do espaço pictórico tradicional”, diz. Completavam a expo os painéis sobre arquitetura e um exemplar de obras efêmeras fixado num mural de quatro metros. O que remeteria às brincadeiras infantis, daquelas em que as sombras se projetam na parede, na verdade forma um estilo próprio de expressar a comunicação que dispensa o uso das palavras. As performances tramadas pelo criativo artista lembram as reproduções realísticas de Maurits Cornelis Escher, arte-adesiva que gruda, hipnotiza e intriga, pois não se manifesta gratuitamente. E é aí que seu portfólio torna-se permanente, uma roda-viva paradoxal, que obriga o público a responder o elo fundamental que interliga as suas tramas: o que é mesmo circunstancial? Galeria Raquel Arnaud, Rua Fidalga, 125, tel. (11) 3083-6322.
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Addiciรณn de Colores I, 1970
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Fisicromia, 1988
Fisicromia Panam 5, 2010
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A reforma assinada pelo escritório de arquitetura Bernardes, Jacobsen nesse Lindenberg dos anos 1960, incrustou uma joia contemporânea em um edifício absolutamente clássico
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Por Maiá Mendonça | Fotos rôMulo Fialdini
sofás Jagger, Minotti, mesa de apoio antonio Citterio B&B italia, sobre a mesa livro-arte de Beatriz Milhazes, luminária Jean Marie Massaud, B&B italia, e escultura sotto. na parede, tela de antonio dias, Alvo, de Julio le Parc
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eche os olhos e imagine que você está em um apartamento moderníssimo, imaculadamente branco, recheado por obras de arte, em sua maioria cinética, e cercado pelas luzes da cidade aos seus pés. Esse cenário poderia estar em qualquer cidade do mundo. Mas fica em São Paulo, em um andar alto de um Lindenberg, com generosa vista para o skyline da cidade. Reformado pelo escritório de arquitetura carioca Bernardes, Jacobsen, o espaço que o hall, living, sala de tevê e sala de jantar ocupam nos 740 metros quadrados de área útil foi transformado em uma caixa repleta de boas surpresas. O painel de madeira, que se abre e fecha ao bel-prazer dos proprietários, e o jogo de espelhos que forra paredes do teto ao chão, criam a sensação de que se está dentro de um cubo mágico onde as imagens vão se refletindo infinitamente até fundirem-se com a vista.
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A primeira surpresa acontece ao abrir a porta de um elevador forrado de madeira escura com acabamentos dourados. O hall é branco, a luz é propositadamente forte e lavada, não há sinal de porta, apenas uma gigantesca fotografia de Luiza Simons. O que tem do lado de lá? Camuflada em um painel de madeira, impecável trabalho de marcenaria, fica a passagem que vai revelar o interior do que guarda essa caixa.
Esfera de François Morellet. Acima, detalhe do sofá, almofadas, mesa de espelho da coleção Minotti e Maxalto Na página ao lado, O Nascimento da Vênus de Boticelli, interpretado por Vik Muniz
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O avesso do painel do hall é igualmente branco e estica-se até uma altíssima parede de espelhos à esquerda, e até a janela do living à direita. A sensação de se estar dentro de um cubo até então é a mesma. Até que o grande painel se abre revelando uma sala de tevê e jogos confortável, enquanto que a parede de espelho se transforma na entrada da sala de jantar. Mas a grande surpresa que esse apartamento esconde não é a mágica que abre-e-fecha portas, revela passagens e transforma-se. É a coleção de obras de arte, cinética em sua maioria, que se espalha por todos os lugares. O mobiliário de tons sóbrios e a mesa de centro e mesinhas de apoio de espelho da coleção Minotti (exclusividade Atrium) do living foram escolhidos pelo tom contemporâneo e para deixarem a arte brilhar. Detalhes da obra de Ubi Bava e do sofá do living
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Na página ao lado, um olhar sobre o living com sofás Jagger e mesa de centro Quattro (Atrium); foto de Marylin Monroe by Bert Stern que fica no lavabo e a sala de tevê com poltrona Christian Liaigre (Pro Memoria), na estante, obras de Sotto e foto de Janaina Tschape
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Onde quer que se olhe há algum objeto de arte, parte de uma coleção iniciada há mais de dez anos, por puro prazer. Uma das paredes da sala de estar é ocupada por um Cruz-Diez que muda de cor dependendo do ângulo e divide espaço com o Alvo, de Julio Le Parc. A outra pertence a três Barsottis e um sensacional Antonio Dias.
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Sobre a mesa de centro, um livro-arte de Amélia Toledo, tiragem limitada a 38 volumes. Esculturas de Sotto, uma foto da Turquia de Massimo Vitale, a paisagem lunar de Janaina Tschape, uma imagem de Sophia Loren retratada por Vik Muniz, e a escultura-bola de acrílico assinada por Edvaldo Ramos estão espalhados pela estante da sala de tevê. Enquanto que na sala de jantar, forrada de espelhos, a grande vedete é a interpretação de Vik Muniz para o Nascimento da Vênus, de Botticelli.
No hall de entrada, detalhe do painel de madeira, Pêndulo de Artur Lescher e bola de acrílico de Edival Ramosa; Esfera de François Morellet e obras de Hércules Barsotti; Sofia Loren por Vik Muniz; sofá Hamilton (Atrium) e na parede foto de Massimo Vitali Na página ao lado, vista geral da sala de estar. Na parede, arte cinética de Cruz-Diez
filosofia
O que você vai ser
quando crescer? Novas profissões parecem sedutoras com a oferta de formas diferentes de viver. Será que papai concorda? Por Judite Scholz | Ilustração Maria Eugênia
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e a Internet mudou a nossa forma de viver, destruindo fronteiras e tornando o mundo mais acessível, trouxe também novidades nas formas de produção e de trabalho. Muitas profissões desapareceram e muitas outras surgiram. Jovens de várias partes do planeta escolhem desvendar experiências em lugares recônditos, trabalhando como guias de hotéis de luxo e de aventura, em vez de seguir carreiras formais. Além de conhecerem lugares lindos, desfrutam de boa qualidade de vida e conhecem pessoas de todas as partes do mundo, numa forma bem diferente de viver. Os pais, no entanto, sentem-se inseguros em apoiar tal decisão. Mas, afinal, eles estão preocupados com a felicidade dos filhos ou o dilema ainda é o mesmo de sempre, o tal preconceito com profissões ditas mal remuneradas? Felipe W. surpreendeu-se quando disse ao pai que seria professor de História. “Tudo bem, dou a maior força, mas faça também faculdade de Economia”, foi a resposta. Nesse caso, o pai não quis impor a sua
vontade, mas sua preocupação com uma carreira que paga tão mal no Brasil. Mal sabe ele, no entanto, que apenas 10% dos economistas e biólogos e 1% dos geógrafos trabalham na mesma área em que se formaram, de acordo com análise do Censo de 2000 do IBGE feita pelo Observatório Universitário, enquanto 70% dos dentistas, 75% dos médicos e 84% dos enfermeiros permanecem na profissão. O cenário mudou. Se nossos avós eram capazes de passar a vida trabalhando na mesma empresa em busca de uma carreira segura, hoje somos movidos a desafios e novas conquistas. É preciso considerar essa mudança de panorama para sermos capazes de respeitar formas diferentes de viver. Quando Paulo H. escolheu fazer Agronomia, só tinha certeza de que preferia a vida fora dos grandes centros urbanos – um equívoco inaceitável, segundo os pais. Mas, afinal, os pais estão mais permissivos e aceitam que os filhos invistam em profissões alternativas, como chef de cozinha, dançarino, marceneiro, astró-
logo, ator, personal stylist ou ainda há preconceito Se os pais puderem ajudar, dando o máximo de inforem relação a elas? “Em minha experiência pessoal e mações e até apresentando conhecidos que sigam a profissional, percebo que a atitude dos pais é variável profissão de interesse, estarão fazendo uma boa coisa de acordo com a cultura e padrões sociais familia- pelos filhos. Afinal, escolher uma profissão é tomar res, bem como da rigidez x flexibilidade da estrutura uma decisão que terá consequências fundamentais familiar”, conta Andreia Calçada, psipara a vida futura, isto é, aos 50 anos cóloga e psicoterapeuta, pós-graduada 10% dos o sujeito vai colher os frutos ou viver as em Psicopedagogia pela Universidade agruras de uma escolha feita aos 17 anos. economistas do Estado do Rio de Janeiro. “Em sua grande maioria, os pais projetam nos e biólogos “A decisão final sobre a profissão pretrabalham filhos a realização de desejos e ideais cisa ser tomada pelos filhos. Poupá-los vinculados ao padrão sociocultural no na mesma das dúvidas pode trazer uma tranquiqual estão inseridos e, quando a deci- área que lidade momentânea, mas certamente são do filho não remete ao status espenão os ajudará a amadurecer. Crescer, estudaram rado, surge o conflito. Se essa escolha entre outros aspectos, é compreender é diferente, mas “está na moda”, esse que os pais não têm respostas para toconflito é atenuado. Existe, sim, a dificuldade de al- das as perguntas e que é preciso se responsabilizar guns pais em respeitar a escolha de seus filhos por pelas próprias decisões, mesmo que isso seja difícil”, caminhos diferentes, o que pode atrapalhar – e mui- diz o psicólogo Luiz Celso Castro de Toledo, mestre to – o desenvolvimento potencial desses sujeitos em e doutor pelo Departamento de Psicologia Social da formação”, afirma. Universidade de São Paulo.
qualidade de vida
a alegria do movimento Dançar é um alimento para a alma, um alento para o espírito e uma alegria para o corpo Por Judite Scholz | ilustração Maria Eugênia
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odo movimento faz bem para a saúde. Se correr, nadar, praticar esportes, malhar nos faz produzir endorfina, substância natural que gera bem-estar e ajuda a relaxar, uma dança ou expressão corporal pode nos presentear dando alegria à alma. As duas formas são importantes e tanto uma quanto a outra fazem bem.
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Mais do que fortalecer ossos e músculos, dançar também melhora o ritmo, o equilíbrio e o humor, sem contar os ganhos para a autoestima e a sensualidade. O prazer lúdico, menos físico e mais poético, expõe um ritmo interno que se movimenta para expressar sentimentos. Ainda assim, entrar no ritmo de uma música ou na cadência da peteca altera as frequências cardíaca e respiratória. “Com certeza, uma atividade lúdica que envolve gasto calórico importante como dança, skate, peteca, bocha, etc., é melhor para o organismo do que simplesmente uma atividade física que só traga o gasto calórico, mas que não traga prazer; pois tão importante quanto gastar calorias e ativar o metabolismo é gerar prazer: endorfinas, catecolaminas, serotoninas e demais encefalinas ligadas ao bem-estar psíquico. As encefalinas geram um estado de encantamento e paixão pela vida, liberam hormônios positivos como GH, testosterona e melatonina, que restauram o sistema nervoso central, aumentam a resistência imunológica, mantêm a cabeça positiva, a coragem e a vontade de prosseguir e dar certo que são tão fundamentais para o ser humano”, afirma o endocrinologista Tércio Rocha.
A dança nasceu exatamente com o propósito de o homem pôr para fora suas emoções. Dançar, na verdade, é natural, instintivo, universal. É, em primeiro lugar, conexão com o ritmo natural do organismo, e afinação desse ritmo com os estímulos harmônicos que vêm de fora, como a música. "Dançar nos restitui os laços perdidos com nossa própria essência. Isso realmente acontece quando nos entregamos ao seu movimento como uma onda que brota espontaneamente de uma fonte que não é racional, nem esteticamente premeditada. Quando deixamos que o movimento expresse livremente algo que é único em cada um de nós. Nesse sentido, a dança espontânea se revela como sendo uma linguagem corporal subjetiva, rica de significados. Assim, a dança se abre como um caminho maravilhoso para o autoconhecimento", diz a terapeuta corporal Sônia Imenes. Para ela, dançar traz alegria – "a verdadeira alegria de reconhecer e expressar, de forma simples e direta, os anseios da alma". O filósofo Santo Agostinho já alardeava sobre os benefícios da dança nos idos dos anos 400, como sendo energia e alegria de viver. "Eu louvo a dança, pois ela liberta o ser humano do peso das coisas, une o solitário à comunidade. Eu louvo a dança, que tudo pede e tudo promove: saúde, mente clara e uma alma alada. Dança é a transformação do espaço, do tempo e do ser humano. Eu louvo a dança! Ser humano, aprenda a dançar! Senão os anjos do céu não saberão o que fazer de você."
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Bienvenue à la Martinique! O Caribe francês em sua melhor expressão é destino certo dos viajantes em busca de serenidade e de panoramas idílicos por juliana A. Saad
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cordar, abrir a porta e se deparar com um mar azul cristalino que se une ao céu ensolarado. Na pele, sentir a brisa que acompanha a temperatura média anual de 26°C -28°C. Após um café da manhã recheado de frutas tropicais ao som de conversas em francês, a onda é escolher entre praia, mergulho, golfe, canoagem ou passeio de barco. À tarde, após o almoço regado a frutos do mar com tempero creole, a pedida pode ser uma promenade no Port de France para conhecer as lojas e o mercado supercolorido da capital da Martinica – ou será que uma tarde de compras agrada mais? Programas não faltam e podem incluir uma visita à La Pagerie, casa onde nasceu Josephine, a martinicana que enlouqueceu Napoleão Bonaparte, ou a uma destilaria de rum – para saber por que a produção local é tão valorizada pelos experts. Para os que querem ver mais natureza a pedida é percorrer o Jardin de Balata e conhecer as plantas e as flores que dão fama à ilha. La Fleur des Caraïbes deixa os visitantes extasiados e ansiosos pelo próximo mergulho em suas atrações naturais pontuadas pelo charme europeu.
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Mas o segredo mais bem guardado é o mergulho. A Martinica é um dos melhores locais para mergulho em todo o Caribe, o que faz da ilha um ímã para excelentes escolas e instrutores do esporte, que se apaixonam pela abundante vida marinha da região e arrebanham adeptos no primeiro mergulho, seja de snorkel ou scuba diving. Um dos destaques é a Diamond Rock, uma imensa rocha offshore com uma profunda caverna submarina. Em terra, o Jardin de Balata permite uma experiência botânica única. Passeando pelos caminhos sombreados, os visitantes são cercados por um extraordinário cenário repleto de espécies tropicais, incluindo gengibre tocha, antúrios, begônias e orquídeas. Ali também pode-se explorar as copas das árvores ao andar com segurança em uma passarela suspensa sobre o jardim tropical. Passeio que agrada a todos e termina em uma simpática lojinha de suvenires. Outro passeio encantador tem como endereço a antiga residência da martinicana Marie-Joséphe Rose Tascher de la Pagerie. De lá ela partiu para a França e conquistou nada menos que o coração de Napoleão Bonaparte, que se casou com ela em 1796, transformando-a em imperatriz da França. No Museu La Pagerie, a história desse romance se descortina em uma bela propriedade intocada pelo tempo, que vale muito visitar. Mercado de Sante Anne, e rum Clément, a bebida símbolo da Martinica. Na página o lado, Diamond Rock, paraíso para mergulhadores e veleiros ancorados na baía azul em frente ao Museu La Pagerie
Banhada pelo Oceano Atlântico de um lado e pelo mar do Caribe do outro, a Martinica tem relevo e vegetação híbridos e uma topografia diversificada, com vales profundos e verdejantes, sendo mais montanhosa ao norte. É habitada por uma população extremamente amigável e com um padrão de vida dos mais altos da região, graças ao seu status de território ultramarino da França – o que se traduz em recursos e infraestrutura europeus em pleno Caribe.
A Martinica oferece muitos esportes e atividades que encantam adultos e crianças. De trilhas de montanha aos maravilhosos parques e praias, pode-se caminhar, cavalgar, pescar, nadar, praticar vários esportes (golfe, tênis, mountain bike, canoagem, voo, ciclismo, surfe, esqui aquático, jet ski, vela, canoagem, iatismo) ou apenas tomar sol em uma das lindas praias da ilha.
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Ao sul da ilha, uma infinidade de praias de areia branca pontua a costa pelo lado do Caribe. Os nadadores irão apreciar especialmente a sensação de isolamento das águas claras ao longo da costa sul do Atlântico, protegida por barreiras de recifes de coral. Ao norte, pode-se desfrutar da atmosfera única de praias de areia preta perto de Le Carbet e Le Prêcheur.
E, claro, quando se pensa em Martinica uma das lembranças imediatas é o rum. Para muitos a Capital Mundial do Rum, ela faz do seu “rhum agricole” uma das bebidas mais apreciadas. Eles ostentam a designação Appellation d'Origine Contrôlée (AOC), que define com precisão a área de plantio, o método de destilação e o envelhecimento. Reserve lugar na mala para as onipresentes garrafas.
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Hospedagem refinada O melhor hotel da região, Le Cap Est Lagoon Resort & Spa, leva a grife Relais & Châteaux. Com praia particular, os chalés abrigam suítes com vistas esparramadas pelo mar azul, piscina privativa, chuveiro ao ar livre e decoração que mescla influências creole, asiática e o requinte francês. Cap Est tem ainda um spa Guerlain com todo o menu de tratamentos e massagens. Durante o dia, pode-se optar pelo sossego do dolce far niente na praia e na piscina ou pela agitação dos esportes aquáticos. A isso somam-se passeios exclusivos de escuna, aventuras de 4x4 pela floresta tropical e voos de helicóptero sobre a ilha. À noite, tênis sob as estrelas ou coquetéis no bar do salão.
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Para os gastrônomos, a visita aos restaurantes La Campêche e Le Belém do Cap Est é obrigatória. A cozinha de base creole e savoir-faire francês é tocada pela dupla de jovens Jeremy Martin (chef francês com passagens pelos hotéis Vendôme e Ritz de Paris) e Fabrice Desoliviers (sous-chef paraense formado na França), utilizando produtos locais para fazer pratos como o bouillon de vieiras com curry e arroz de jasmim, o foie gras de canard com purê de tamarindo servido sobre brioche ou o salmão defumado com molho de clementines. Para arrematar, mil-folhas com creme de maracujá e piña colada.
Vista da Pointe du Marin, no Club Med
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Na página ao lado, os confortos e encantos de uma das suítes do Le Cap Est Lagoon Resort & Spa
Outras acomodações, como o Club Med Les Boucaniers, o Hotel Bakoua ou La Suite Villa também agradam em cheio. O primeiro, por sua localização privilegiada e o método all included, com animação garantida, sem, contudo, comprometer a privacidade e a tranquilidade dos hóspedes. O segundo, por sua localização e despojamento cool com vistas panorâmicas e o terceiro pelo seu charme de hotel-butique e um atraente restaurante comandado por chef francês, o Le Zandoli, empoleirado sobre o mar. Serviço: Cap Est Lagoon Relais & Chateaux, www.capest.com Bakoua Hotel www.mgallery.com/gb/hotel-0968-hotel-bakoua-martinique-mgallerycollection/presentation.shtml Restaurante Le Zandoli, La Suite Villa, www.la-suite-villa.com Barcos: Catamarã Kata Mambo, www.martinique-bonjour.com Mergulho: Acqua Sud (Le Diamant), www.acquasud.com / Espace Plongée Martinique (Trois Ilets) www.espace-plongee-martinique.com Habitation Clément Domaine de l'Acajou, www.habitation-clement.fr, www.fondationclement.org La Pagerie Museum, 97229 Trois-Ilets, Trois-Ilets, Martinique, tel. 596-68-34-55 Jardin de Balata, www.jardindebalata.com Joias Creole Jewelry: Thomas de Rogatis, tel. 0596 70 29 11 Guia/intérprete para passeios e roteiros personalizados: Marie Annick Paulin-Pyram, marie-annick.pp@hotmail.com
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roteiro
By bike Viajar de bicicleta, com todo o apoio e conforto necessários (claro!), pode ser uma experiência única e encantadora Por Marianne PieMonte
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Q
ue tal conhecer mais sobre a história da arte renascentista em Florença, com direito a jantares pela Toscana. Ou aprofundar-se na gastronomia de Puglia conhecendo cada pequeno produtor artesanal de azeite. Quem não abre mão do mar pode passear de barco pelas ilhas Dalmácia na Croácia? Há ainda a opção de uma série de concertos em Viena com direito a hospedar-se em castelos. Todos esses roteiros são, sem dúvida, viagens inesquecíveis e que podem ficar ainda mais interessantes. Como? Se forem feitas de bicicleta. Nada mais atual, não é? Parece encantador? E é. A partir desta edição traremos uma série de roteiros deliciosos e bike friendly. A ideia aqui não é para triatletas, é deixar o vento soprar no rosto e saborear bem de pertinho o perfume dos vilarejos e paisagens. Para começar, que tal a exclusiva região francesa da Alsácia?
roteiro
R OT A
1
Sélestat
Château du Haut-Koenigs
Ribeauvillé
Illhausern
ROTA
Kaysersberg
2 Ebersheim
França
Colmar
Alemanha
Wintzenheim Eguisheim
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3
ROTA
4
Rotas da Alsácia
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Rouffach
Não é preciso entrar em pânico. Todos esses roteiros têm apoio de vans durante os percursos, para pegar uma caroninha na hora da subida, oferecem jantares gastronômicos, hospedagem nos hotéis mais charmosos das regiões e outros mimos (como serviço de leva e traz de bagagens, frutas frescas durante as pedaladas e quem cuide das magrelas, quando não são usadas). •
Só by bike é possível sentir o perfume dos vinhedos da região de Rouffach e refrescar-se nas fontes de água mineral de Soultzmatt. •
Para restabelecer corpo e alma, depois de um dia de pedalada. Que tal um jantar no Auberge de L’ill, na florida cidadezinha de ruas de pedra Illhausern? •
Quem quiser testar o preparo físico poderá experimentar o circuito montanhoso até o castelo Haut Kolnigsbourg. A belíssima construção, toda murada por um forte, foi motivo de disputa de reis e imperadores desde o século 12. Quem não tiver esse pique todo vai de van e sente o ventinho bater no rosto na descida, não é uma boa dica? •
• Nesse cenário de casas de arquitetura germânica com todo o charme que a França pode ter, uma das delícias do passeio é um típico piquenique. Regado a bons vinhos e às mais deliciosas tortas que seu paladar já provou.
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• Os passeios de bicicleta pela Europa costumam ter em média sete dias e você deverá percorrer em média 180 quilômetros pedalando. • A saída costuma ser em Colmar, a capital dos vinhos da Alsácia. Aproveite para passear por seus canais e jantar nas autênticas moradias do século 17. No menu, a gastronomia tem forte influência alemã, mas tudo com a leveza do toque francês.
Viajar de bicicleta traz uma nova perspectiva da paisagem, faça a experiência. Dê uma volta no quarteirão de carro, depois faça o mesmo percurso pedalando. Outras cores e cenário se desvelarão. Além do mais, nos remete à infância, a uma época de felicidade pura e simples. Talvez por isso, o escritor britânico H.G. Wells tenha dito: “Quando vejo um adulto em uma bicicleta, não perco a esperança na humanidade”.
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as dicas de adriana A paulista Adriana Kroehne, que fez o roteiro da Alsácia, recomenda: . Reserve um lugar na bagagem para a cerâmica que irá encontrar na região. São peças lindas e muito coloridas . O Museu Interlinden, em Colmar, é imperdível para quem gosta de arte . Sobrevoar de balão os vinhedos é uma experiência para toda a vida . Não terminar o passeio sem conhecer Estrasburgo, às margens do Reno, uma cidade tão bela como Veneza e charmosa como Paris. www.bikeexpedition.com.br
artigo
de que para toda a ação física existe uma reação oposta e, nesse caso, sentiu as vibrações dando a volta naquela massa, como se fosse uma gelatina. Sua mulher, ops, ex-mulher, chamaria isso de “tremelique”, mas ele prefere nomear de “respeito”.
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dançando no Passamos todo o tempo em movimento, executando passos e gestos, em uma coreografia diária muitas vezes hilária Por Mario Bolzan | Ilustração Maria Eugênia
a dia “É
dia
hora de voltar à guerra!”, pensou lá com seus botões Rodolfo, de cueca, em frente ao espelho, no dia em que completavam três semanas do seu divórcio, casamento de sete anos. Sabe como é, a silhueta já não era a mesma se comparada com aquela que exibia aos... 21. Mais uma vez matutou, agora apalpando as gordurinhas localizadas em volta da cintura, e dois tapinhas provaram aquela lei
De qualquer forma, estava ali, com a liberdade de ir e vir, de transar nas posições mais exóticas, devassas e indecorosas, como tinha visto certa vez no Kama Sutra, em tentativa de reaquecer a união que estava fadada a acabar. Para retornar ao mercado da paquera, achou de bom-tom também voltar à academia. Já no primeiro dia, encarou a estreia que não encontrava há... deixa pra lá. Subiu na geringonça com o passo seguro, e toques firmes com o indicador fizeram a borracha preta rodar. No começo, aquecimento, passos curtos e marcha lenta. Depois, confiante, aumentou a velocidade e já estava correndo a passos largos, e as pisadas fortes e pesadas encorajaram seu pensamento de que era mesmo um homem de “respeito”. Olhou para duas gatinhas que se revezavam em uma série de exercícios para os glúteos, agachando e subindo lentamente segurando pesos coloridos. “Caminho certo!”, pensou. Mas, quando achava que já tinha corrido o equivalente a quinze longos quarteirões, constatou no painel da máquina que havia completado três, sim, três míseros minutos. Troca de plano: mudou para um exercício para os braços, pesos nas mãos (os pretos, veja bem) e começou a dobrar o braço imitando o movimento do fortão ao lado, muy discretamente. Um, dois, três e ufff. Sentiu os músculos tremerem, acabara ali a força. Lembrou-se que, nos últimos anos, o único exercício de bíceps que havia feito era para levar o garfo (e o copo, claro) do prato para a boca, da boca para o prato. Preferiu, então, seguir a loira que se dirigia apressada para uma sala, ele fingindo tatear o seu celular. Quando passou pela porta, um susto: mulherada a postos para uma aula de step. Axé Step. Estava estrategicamente posicionado no fundo da turma quando começou a trilha hedionda, que a professora guiava, aos berros: “Sobe o pé esquerdo, e desce! Sobe o pé direito, e deeesce! Esquerdo, direito, e sobe e desce, oooooi! E vira, direita, e vira, esquerda e roooda! Palmas pra cima, agacha, e oooooi!” Quanta animação, meu Deus. É verdade que aquelas calças de lycra justas à sua frente mostravam formas que muito lhe agradavam, mas era demais sua própria saia justa... Realmente, estava fora de forma. Adeus, gente neurótica. Dirigiu-se até o lugar onde estão o sexo e a vida in natura: Posto 9 e meio, em Ipanema. Mesmo não sendo um Mister Universo, tinha lá o seu charme, quem liga?
Surpreso, percebe, já no calçadão, que o “respeito” todo adquirido destoava um tantinho do resto. Mas, montado na segurança de quem procura a luxúria, tira os chinelos, se equilibrando, e segue pela areia quente, desavisado que estava. Pululando na ponta dos pés e em ritmo tão acelerado quanto o do seu coração, tum-tum-tum-tum-tum – chega, finalmente, ao rapaz que aluga cadeiras. Leva uma mão ao peito e enxuga a testa com as costas da outra. Olhou para os dois lados, virando a cabeça como quem não quer nada, para ter certeza que ninguém tinha visto tal cena: um homem saltitante chegando à praia. Sentou, tomou fôlego e estirou as pernas e braços em uma longa espreguiçada. A vida é boa, afinal. Foi quando passou aquela morena, de seios rijos, com uma cintura de curvas que devem ter inspirado a calçada de Copacabana, bumbum durinho e redondo, na medida. Caminhava em pinceladas, quanta delicadeza... Ah, isso sim! Não uma garota de Ipanema, mas uma mulher do Brasil. E a ginga? Quadris que iam pra lá e pra cá, pra lá e pra cá, movimento hipnótico. Gotinhas desciam os cachos molhados em espiral até escorrerem pela pele bronzeada, que visão! Até que a moça abraça um garotão, sarado, com uns 15 anos a menos de “respeito”. Unidos com força, bíceps e tríceps marcavam os braços do rapaz, que ainda, não bastasse, a levantou do chão, curvando as costas para trás. Droga, fim do transe. Calcula um mergulho. Com o mar gelado, vai devagarzinho, entrando aos poucos até chegar ao momento de um salto de cabeça, dá uma braçada e, quando se ergue da água, vem o desastre. Uma onda à la tsunami o leva de volta para o fundo. É, foi um senhor caldo, com pernas e pés e ombros rolando no turbilhão. Como água salgada pode ser desagradável, ainda mais se engolida aos litros. “A mesma ondinha que aquele menino zigue-zagueou com uma prancha”, humpf! Notou que, agora sim, havia uma plateia assistindo, e achou que por pouco não recebeu aplausos, como uma atração do Sea World. De joelhos em carne viva e alguns gramas de areia no short, decidiu retirar-se – não estava preparado para aquele bizarro campo de guerra, ainda. Porque, na saída (agora devidamente calçado), viu amigas aplicando uma na outra o protetor solar, um conforto depois de tudo. Quem sabe ele volte. Mas, para o momento, Rodolfo tem marcado com um amigo outra investida. Será naquele piano bar de solteiros, onde estão as pessoas de “respeito”, a luz é baixa e o ataque é certeiro.
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Essa abordagem profunda, com plena consideração da condição humana em suas áreas mais subjetivas e também uma preocupação com o impacto real, tangível, pragmático na vida das pessoas, é diretamente herdado do olhar de mundo de Marcos Amaro. A visão filosófica de Marcos fica clara na entrevista e a lógica pragmática do homem de negócios pode ser percebida não em suas palavras, mas em seus empreendimentos – como tem que ser. O empreendimento que retrata isso é a empresa social Caititi, que originou-se do projeto Trecho 2.8 como forma de rentabilizar as atividades dos participantes. Formalizou-se como uma empresa de licenciamento de imagens e divide o lucro por ela gerado com os adultos moradores de rua que retratam a cidade – por isso o “social” junto à designação de empresa. É uma empresa formal que presta serviços de fotografia, ao mesmo tempo que traz benefício social direto por intermédio de seu negócio principal. Dentro desse negócio está a Galeria da Rua, localizada na Rua Oscar Freire, e leilões das fotografias originadas no projeto.
Reflexões sobre o ato da filantropia O tema da entrevista dessa edição são reflexões bastante profundas sobre o papel do filantropo e suas motivações. O filantropo da vez é Marcos Amaro, sócio das empresas TAM, Óticas Carol e OpArt, e um dos idealizadores do Instituto Brasis, que tem projetos com moradores de rua, arte e até filosofia por Instituto Azzi
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Instituto Brasis tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento social do País, executando ações de transformação para a população. Um exemplo de ação deles é o Projeto Trecho 2.8, originado de uma parceria com o Instituto GENS. Utilizando a fotografia e a arte, a intenção é capacitar adultos em situação de rua com aulas de Fotografia Artística e Fotografia Aplicada e dessa maneira proporcionar aos participantes um olhar artístico, desenvolvendo suas habilidades, assim como técnicas de manuseio de uma câmera profissional, ajuste da luz em estúdio, técnicas usadas para fazer uma boa foto em “still”, campanha publicitária, eventos e books. E como atividade complementar aulas de Filosofia e de Pilates.
Na entrevista, Marcos fala de suas motivações, o que o inspira e como vê seu papel no mundo. Há diferentes formas de tentar mudar o mundo e certamente a filantropia não é a única solução de todos os males. Isso fica bem claro no trecho final da conversa, assim como fica claro que uma mudança pessoal, uma visão íntima de um mundo melhor, vai naturalmente levar a ações que reflitam seus pensamentos. E a filantropia será uma para cada um, criando uma diversidade de ações que só faz aumentar o valor que ela traz ao mundo. Instituto Azzi: Você pode nos contar um pouco como foi sua carreira profissional até hoje? Marcos Amaro: Foi uma odisseia. Iniciei minhas ati-
vidades no segmento ótico. Quando bem jovenzinho, representei marcas internacionais importantes no Brasil. Esse caminho me levou a adquirir a Óticas Carol, atualmente a maior rede de óticas do País. Gosto de estar envolvido em um segmento que tem a ver com a visão, pois penso que os óculos são uma mediação entre o mundo interior e mundo exterior; por esse ponto de vista funcionam como escudo para quem os utiliza – apenas uma reflexão. IA: O que o levou a realizar as suas primeiras ações na área social? MA: Sou humanista desde jovem. Acredito na arte como
meio para a transformação individual e, consequentemente, coletiva. Gosto do movimento e da música.
Aceito as mudanças e não me prendo a quaisquer burocracias. Ajudo os outros para me ajudar. Os curandeiros são pessoas doentes que na busca de sua própria cura acabam por curar outros. Gosto do conceito de ecoestética do artista Marcel Duchamp, que tem a ver com o artista contribuir para o seu entorno por meio de suas ações sociais, políticas e econômicas. Aceito a caridade e a benevolência. Todavia, procuro por meio da arte e da filosofia me tornar mais forte e menos dependente da civilização. Enfim, apenas algumas ideias... IA: Explique um pouco o que é o Instituto Brasis e como foi o processo de fundá-lo. MA: O Instituto Brasis é o desdobramento dos pensa-
mentos de um grupo de jovens inquietos e curiosos. O Brasis contribui para o fortalecimento de indivíduos por meio da arte e da criação. Consideramos uma perspectiva humanista e artística. Estudamos Filosofia e Psicanálise. Acreditamos na benevolência e na solidariedade. Evitamos os excessos. Procuramos o bom senso. Confrontamos as burocracias e os impedimentos. Procuramos a responsabilidade e a ética. Queremos mais indivíduos criadores e autônomos em nossa sociedade. Queremos mais parcerias e mais competência em nosso meio. Precisamos de sustentabilidade e de inovação. Carecemos de gente competente e honesta. Somos inquietos e dedicados. IA: Como você acha que a filantropia pode contribuir para o desenvolvimento social do Brasil? MA: Sinceramente, penso que a arte seja talvez a
única saída para uma sociedade mais forte e menos opressora. Filantropia funciona para mim como um remédio que atua no sintoma, mas não cura a doença. Considero a atual fase da civilização doente e fraca. A filantropia serve como medicamento em doses homeopáticas. Bem, por isso, ocupo-me mais com os meus estudos e com as minhas ações. Contribuindo assim para o meu entorno de modo responsável e autônomo. A mudança começa dentro de cada um, ao contrário do que muita gente pensa. A filantropia deve ser apenas uma extensão – honesta – dos pensamentos humanistas do sujeito. Se for utilizada apenas como uma vaidade pode ser autodestrutiva.
“Acredito na arte como meio para a transformação individual. Gosto do movimento e da música”
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ara onde vai o entulho das obras, aquele que é jogado nas caçambas? Para onde vão os restos de uma demolição? A resposta mais óbvia é: para os lixões. Uma verdade que está com os dias contados, uma vez que já é possível reciclar o entulho para reutilizar na indústria da construção. Para se ter uma ideia, São Paulo gera mais de 17 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, sendo metade delas composta por resíduos da construção civil. Um assunto sério, que por falta de políticas públicas, causa forte impacto ambiental, como degradação das áreas de manancial, assoreamento de rios e córregos e obstrução dos sistemas de drenagem, para citar alguns.
jovem empreendedor Giuliano Chaddoud trouxe para o Brasil um novo conceito de reciclagem: a de resíduos da construção civil
E como não é só de garrafa pet e latinhas de alumínio que se faz reciclagem, esse é o trabalho feito pela Eco-X – empresa que tem à frente o jovem empreendedor Giuliano Chaddoud –, uma usina de processamento e reciclagem de resíduos, com capacidade para processar 80 toneladas de entulho por hora, que serão transformados em areia, brita, brita 4, pedregulho e bica corrida, e reaproveitados pela própria construção civil. O resultado desse trabalho traz pelo menos três benefícios: garante o destino correto dos resíduos, evita que um grande volume de areia e pedra seja extraído da natureza, ajudando a preservar o meio ambiente e reduz o custo da obra sem alterar sua qualidade. Giuliano Chaddoud tem uma trajetória de vida interessante. Moço trabalhador, aos 20 anos abriu um estacionamento em Moema enquanto cursava Economia na Faap, depois foi fazer Hotelaria na Fiam, e terminou sua formação acadêmica com extensão em Ciências Políticas em Harvard. Trabalhou com a família até que, em 2011, decidiu trazer para o Brasil a ideia da reciclagem de resíduos da construção civil, o maquinário, e fundou a Eco-X.
Por Maiá Mendonça | fotos arquivo Pessoal
Engajado em tudo o que faz, Chaddoud foi um dos fundadores, na gestão Paulo Skaf, do Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp (CJE), que hoje é presidido por Sylvio Gomide, proprietário da escola Mater-Dei. E o que fazem esses jovens empreendedores?, alguém pode se perguntar. Reuniões com empresários do calibre de Eike Batista ou Henrique Meirelles, workshops com palestrantes que apresentam seus trabalhos e dividem suas experiências, rodadas de negócios que reúnem empreendedores afins, e trabalhos junto à comunidade, em parceria com a Central Única das Favelas (Cufa). “E como diz MV Bill, um de nossos parceiros, ‘em vez de subirmos muros é preciso construir pontes’. Nesse caso é a indústria ouvindo a voz do morro”, explica Chaddoud.
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Em parceria com a Fundação Educar, o comitê de jovens da Fiesp criou o projeto Anjos do Brasil, que reuniu cem jovens de baixa renda, sem capital para abrir um negócio, mas com uma boa ideia na cabeça. Os dez finalistas foram apresentados a uma banca de investidores “anjos”, que escolheram um projeto vencedor. “Nesse evento, muito comum fora do Brasil, o vencedor apresentou um projeto na área de saúde que cruzava dados do mundo inteiro, para ajudar a encontrar soluções para inúmeros problemas.” Com a Ong Instituto Rukha esses jovens, que deixam o CJE aos 36 anos, fizeram o projeto piloto Muda Mundo para atender a população em situação de risco na região do Capão Redondo, prestando assistência nas áreas de saúde e educação, entre outras. E estão formando um grupo, do qual a Fiesp é grande incentivadora, para acompanhar a Rio + 20. Aos 35 anos, solteiro, Giuliano Chaddoud se divide entre a paixão pelo futebol, as novas mídias, o trabalho e a Fiesp. E, no que depender dele, as próximas gerações terão melhores condições de vida, educação, saúde e oportunidades do que a atual.
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