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DIANA

CONTO

LUIZ CARLOS AMORIM

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DIANA

Encontrei Diana ainda bebê, cambaleando nos trilhos da estrada de ferro, perto de casa. Pequenina, branca e abandonada, talvez a tivessem deixado ali para morrer sob o trem que passaria logo em seguida. Sem saber exatamente o que fazer, levei-a comigo. Mamãe também gostou dela, mas quando verificou que tratava-se de uma menina, mudou de ideia: - Acho bom não ficar com ela, filho. Enquanto for pequena, não haverá problemas. Mas é só crescer e teremos toda a cachorrada da vizinhança fazendo algazarra por aqui. Leve-a de volta ao lugar onde a encontrou. - Mãe, ela não vai crescer. Eu cuido dela – insisti, pois já tinha adotado Diana. Já lhe tinha dado até nome... Acabei convencendo mamãe e pude ficar com ela. Passaram-se quatro meses e Diana não crescera realmente quase nada. Ela deveria ser de alguma raça pequena, eu não sabia qual, mas não tinha importância. Ela era linda. Transformou-se na mascote da casa. Todos a amavam como se fizesse parte da família. Era tão pequena que ficava sentada na palma da minha mão. E minha mão era pequena, naqueles bons tempos de menino. Seu pelo branco e macio convidava a lhe fazer um carinho. Manchando o branco, o preto cobria metade da sua cabeça, tornando-a ainda mais bonita. Era muito viva e

em pouco tempo aprendera a andar em duas patinhas, como se fora gente de verdade. Seus latidos alegravam a casa e era o primeiro som que eu ouvia, entrando pelo portão, ao voltar da escola. Era uma festa ambulante vindo em minha direção. Aos poucos, toda a vizinhança ficou conhecendo Diana, pela sua beleza, pelo seu tamanho diminuto e pela singeleza com que conquistou a nós e a todos que a viam. - Garoto, você não quer vender a cadelinha? – várias pessoas perguntavam. E insistiam. - Não – eu respondia sempre, categoricamente. Jamais a venderia. Como vender alguém que a gente ama? Um dia – sempre há um dia – ao voltar da escola, não ouvi o latido alegre quando entrava em casa e ela não veio ao meu encontro. Pensei que estivesse dormindo em algum lugar e a procurei por toda a casa. Estava ficando preocupado, quando a localizei embaixo de um armário. - Ah, você está aí... – puxei-a para fora e fiquei desesperado ao ver Diana contorcer-se em espasmos, a boca espumando. - Mamãe, Diana está doente! – saí gritando pela casa, à procura de minha mãe. - Leve-a depressa ao veterinário e cuide para não encostar em sua boca – só mais tarde entendi: mamãe decerto temia que Diana tivesse contraído raiva. Levei-a ao veterinário, mas não havia nada a fazer. Diana fora envenenada. Alguém que a queria, quem sabe, em não podendo tê-la, dera-lhe veneno. Por vingança, por maldade, sei lá... Lembro-me ainda, como se fosse hoje, de que a coloquei dentro de uma pequena caixa de sapatos e fui até o rio, não muito longe de casa, as lágrimas pingando no pelo macio de Diana, para soltá-la na correnteza...

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