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JARDIM DE POEMAS
RESENHA
LUIZ CARLOS AMORIM
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JARDIM DE POEMAS
Acabo de ler o livro de poemas "Canteiros", antologia dos poetas de São Bento do Sul que participaram da Oficina da Palavra, uma oficina literária sobre poesia, promovida pela Fundação Cultural daquela cidade. A Oficina tinha o propósito de descobrir poetas na cidade, dar-lhes orientação, estimular a sua produção, reuni-los para troca e aquisição de experiência e consciência poética e motivá-los a conquistar seu espaço. O livro é bom: os quarenta poetas que terminaram o "curso" de poesia, como ficou conhecida a Oficina da Palavra, fizeram uma seleção da grande produção alcançada no período de estudo, juntaram recursos de cada um e publicaram a antologia. Há muita gente boa em "Canteiros", esforçada e batalhadora, com vontade de fazer boa poesia. • 67 •
Gente que dá mostras, pelo que apresenta neste livro, de nos brindar com uma obra consistente e madura, no futuro, se continuar produzindo. É o caso de Nathanael, Jean, Andréa, Raquel, Samanta, Sarah, Lu, Vera, Andrea Cristine, Sheila, Chirle, Luiz, Rosina e Simone. Não que os outros não tenham futuro, mas estes apresentaram um resultado melhor. O que esses poetas deixam transparecer, nos dois poemas de cada um que há no livro, é a necessidade de se libertar da linha diretiva do orientador, fazer valer sua própria personalidade e criar seu estilo próprio. Os poemas contidos na antologia são muito uniformes, as construções são parecidas, as figuras e os temas também, dá até a impressão de que o autor é um só. A influência do "professor" da
Oficina é muito frequente em todos os trabalhos. As mesmas palavras chave são claramente perceptíveis em mais de um poema: sonho, cristal, anjo, diamante, jardim, epifania, vento, arco-íris, azul, pedra, areia, jasmins, rosas, catavento, puro, sinfonia, lua, plenilúnio e outras. Exercitar a criatividade, a capacidade de provocar a inspiração : isso era o objetivo da oficina. E foi feito muito bem. Só que publicar uma seleção de poemas onde facilmente se percebe que todos os poetas construíram poemas partindo de uma mesma palavra é, talvez, um pouco cansativo para o leitor, sujeito à variações sobre os mesmos temas. As palavras não usuais, que permeiam o livro também refletem uma tendência adquirida pouco recomendável, que terá que ser repensada por quase todos os poetas. Simplicidade é ser entendido pelo leitor, é promover a eficácia da comunicação. E se usarmos palavras difíceis, que não são empregados no dia-a-dia do leitor mais erudito, palavras que tem que ser pesquisadas no dicionário, essa comunicação, tão importante para expressar sentimentos e emoções, estará seriamente prejudicada. A poesia não será recriada e poesia que não é lida, não é recriada e, consequentemente, não existe. Falo de palavras como "esqualo", "bafári", "caburé", "plenilúnio", "alamanda", "agapanto", "galra", dentre outras. São palavras que podem soar bem, mas não são usadas comumente e prejudicam a compreensão do poema e aí a magia da emoção se perde. Conversei com alguns poetas presentes na antologia e pude constatar que eles continuam estudando e produzindo, construindo um estilo próprio, cuidando para não lançar mão de clichês e procurando imprimir ritmo aos seus poemas, ao invés de enveredar pelo perigoso uso da rima. Aliás, vale lembrar que soneto não é simplesmente colocar um texto na forma de um soneto, ou seja, dois quartetos e dois tercetos: o soneto é uma composição de forma fixa, com métrica, rima, ritmo, encadeamento, cadência, musicalidade. Estão lendo bastante, também, o que os ajudará no seu crescimento poético. O “canteiro” está plantado. Agora é preciso regar e cuidar, ou seja, ler muito e escrever sempre, para que a produção adquira consistência.