Revista ESCRITORES DO BRASIL, edição 4, maio de 2019

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LITERATURA BRASILEIRA PARA O MUNDO Florianópolis, SC – Maio/2019 – Número 04 – Edições A ILHA – Ano 01

NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA O VISIONÁRIO GUIDO WILMAR SASSI

A POESIA E O TEMPO EM DRUMMOND Entrevistas: ELOÍ ELISABETE BOCHECO e LUIZ CARLOS AMORIM


SUMÁRIO EDITORIAL.................................. 3

SE EU MORRESSE AMANHÃ.... 24

NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA.. 4

DRUMONDIANA........................ 25

QUANDO...................................... 5

PENETRAÇÃO DO POEMA

A OBRA DE GILBERTO AMADO. 6 TRISTE VANGLÓRIA................... 7 CHÃO............................................ 8

DAS SETE CHAVES................... 26 VELHAS TRISTEZAS................. 27 O CINEMA E O OFÍCIO DO VERSO,
SEGUNDO BORGES..... 28

À PROCURA DOS SONS PERDIDOS.................................... 9 DESTINOS.................................. 11

EM TEUS OLHOS!...................... 30 O VISIONÁRIO GUIDO WILMAR SASSI......................... 32

SEREIA....................................... 12 BLUES AO NASCER DO SOL..... 35 CAMINHOS................................ 13 A MÚSICA NA POESIA EXPECTATIVAS........................ 14 MEIO COPO................................ 16 A POESIA E O TEMPO EM

DE PESSOA............................... 36 HÁ ALGUM TEMPO.................. 37 OUTONAL.................................. 38

DRUMMOND.............................. 17 A RAZÃO.................................... 39 AS SEM-RAZÕES DO AMOR...... 19 ELOÍ: O DOM DA LITERATURA SÓ PARA TI................................ 20 PEREGRINO DAS LETRAS........ 21

PARA CRIANÇAS....................... 40 NA TUA FORMA DE QUERER... 47

ASSOMBROS.............................. 23

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EXPEDIENTE Literatura brasileira para o mundo Edição número 04 – Maio/2019 Publicação das Edições A ILHA Grupo Literário A ILHA Florianópolis, SC Editor: Luiz Carlos Amorim Contato: lcaescritor@gmail.com lcaeditor@bol.com.br Grupo Literário A ILHA na Internet: http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br Todos os textos são de inteira responsabilidade dos autores que os assinam. Contate com a redação pelos endereços: lcaescritor@gmail.com lcaeditor@bol.com.br Veja a página do GRUPO LITERÁRIO A ILHA – ESCRITORES DO BRASIL no Facebook, com textos literários, informações literárias e culturais e poemas e a edição on line, em e-book, desta revista.

EDITORIAL LITERATURA PARA O MUNDO A edição da revista mudou para Portugal, mas os escritores continuam sendo do Brasil e o destino, o objetivo é sempre o mesmo: o leitores em todo o mundo. Mais uma edição da revista ESCRITORES DO BRASIL chega aos leitores, nos quatro cantos do planeta, um espaço que se abriu recentemente, como extensão da revista SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, que já estava ficando pequena. E alcançou um sucesso inesperado, com milhares de acessos a cada edição. Nesta edição, assuntos como: Nossa Língua Portuguesa, A Obra de Gilberto Amado, A Poesia e o Tempo em Drummond, Grandes Poetas Brasileiros: Affonso Romano de Sant´Anna, Álvares de Azevedo, Alice Ruiz, Elisa Lucinda, Cruz e Sousa; O Cinema e o Ofício do Verso, Segundo Borges; O Visionário Guido Wilmar Sassi; A Música na Poesia de Pessoa; Entrevistas com Eloí E. Bocheco e com o editor da revista. A revista ESCRITORES DO BRASIL comemora, também, com esta edição, o trigésimo nono aniversário da sua co-irmã, SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, e do Grupo Literário A ILHA, grupo que publica as duas revistas. Em junho deste ano de 2019, completamos 39 anos de existência e resistência, de literatura e de apoio à leitura. O Editor

Visite o Portal do Grupo Literário A ILHA:

PROSA, POESIA & CIA

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CRÔNICA

LUIZ CARLOS AMORIM NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 39 anos de literatura neste ano de 2019. Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. http://www.prosapoesiaecia. xpg.uol.com.br – http://lcamorim.blogspot.com.br

avozinho.

O português falado e escrito no Brasil, que veio com os colonizadores portugueses, recebeu a influência e a contribuição de diversas outras línguas, especialmente do tupi falado pela maioria das nações indígenas espalhadas pelo país, antes da chegada do colonizador, bem como Dia 5 de maio é o Dia do idioma ioruba dos povos da Língua Portuguesa. africanos que para cá foram Esta data celebra a importância cultural e histórica da língua portuguesa para toda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Se pensarmos na beleza e na importância da nossa língua portuguesa, temos tudo a comemorar. O português é falado por mais de 280 milhões de pessoas trazidos como escravos. no mundo. É a quinta língua Foi um longo processo que mais falada no mundo, a ter- se estendeu ao longo de ceira mais falada no hemis- quase quatro séculos. Mas fério ocidental e a mais não foram só as influências falada no hemisfério sul africanas e indígenas que da Terra. E é a língua que ajudaram a moldar o portutem a palavra “saudade”, guês do Brasil. No século nascida em Portugal, nosso 19, nossa língua também foi

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influenciada pelo francês, falado pela elite do país. Já no início do século 20, vieram as contribuições dos imigrantes, como dos italianos, que se estabeleceram nas regiões Sudeste e Sul. Daí as diferenças que existem entre o português falado no Brasil e o português falado em Portugal. Mas é a influência do inglês que se faz sentir mais nas últimas décadas. A língua portuguesa originouse do latim, o idioma que o Império Romano difundiu por todo o continente europeu por volta do século 3 a.C. E o latim já havia sofrido influência do grego. Então, comemoramos a nossa língua portuguesa, nosso maior patrimônio. Mas nós também a comemoramos no dia 21 de maio, consagrado como o Dia da Língua Nacional ou da Língua Mãe, que no nosso caso é o português. E viva a Língua Portuguesa! Temos orgulho da sua sonoridade e dos seus significados.


POESIA

MARIA APARECIDA ROMAIS QUANDO Quando o silêncio conquistado de madrugada se extinguir e o mundo saracotear manhãs sob os pés da vida; Quando as linhas pensadas do infinito acharem o seu ponto de encontro e as almas estiverem saciadas dos sentimentos de si mesmas; Quando, no vazio contíguo ao teu, esparramares a seiva de que precisas e cultivares esperança nos corações empedernidos; Quando, antes de dormires, acordares sensações de ser e tocares a presença do inatingível, Quando isso acontecer, os átomos estarão pregando por toda parte, a parte do todo que ainda existe e estarás, sem que o saibas, sendo maior – se amar insistes!

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RESENHA

ENÉAS ATHANÁZIO A OBRA DE GILBERTO AMADO Com o desaparecimento do escritor Nelson Salasar Marques, reduziram-se as chances de surgir um novo biógrafo de Gilberto Amado (1887/1969). Ele foi um dedicado estudioso e intérprete da obra de Gilberto, conhecedor seguro de todas as fases de sua existência, sobre quem publicou admiráveis ensaios que nunca foram reunidos em livro, o que é uma pena. Estava preparado como ninguém para empreender a grande biografia que Gilberto Amado merece, uma vez que todos os livros e ensaios sobre ele existentes são fracionários e incompletos. Não existe, a rigor, uma verdadeira biografia. A chamada “fase internacional” do escritor, desde seu ingresso na diplomacia, está ainda por ser levantada e traria, sem dúvida, informações interessantes. Essas observações me ocorreram após a mensagem de um amigo paulistano, admirador de Gilberto, informando desolado que não

encontrou um só livro dele ou sobre ele na Bienal do Livro. É um fato lamentável porque a obra gilbertiana integra o patrimônio cultural brasileiro e seus ensaios e discursos formam entre as mais sérias interpretações do Brasil e de sua gente. Alguns de seus pronunciamentos, embora feitos há muitos anos, ecoam até hoje porque apontavam questões que ainda perduram, imunes ao passar dos tempos. Romancista, crítico literário, ensaísta, poeta e, acima de tudo, memorialista, Gilberto Amado foi também professor e jurista dedicado ao Direito Internacional, tendo chefiado a delegação brasileira junto à Comissão de Direito Internacional da ONU, da qual foi seguidas vezes presidente. Na área da ficção produziu “Os Interesses da Companhia” e “Inocentes e Culpados”, romances que nunca mereceram análises criteriosas e que acabaram mais ou menos esquecidos, mesmo sendo muito bem escritos

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e desvendem tramas intrigantes. No ensaio, entre outros, escreveu “A Dança sobre o Abismo” e “A Chave de Salomão”, este último o mais célebre, o mais citado e o mais lido, considerado modelar no gênero. Não pode ser esquecido, nessa área, o volume admirável que é “Dias e Horas de Vibração”, no qual o cidadão do mundo lança agudo olhar sobre o Planeta e faz previsões que nunca erraram o alvo. Seu conteúdo foi diluído em outros volumes. Como poeta, produziu “A Suave Ascensão” e “Poesias”, este último cons-


tituindo-se numa coletânea selecionada pelo próprio autor. Surgem, então, as memórias, em cinco alentados volumes, começando pela célebre “História de Minha Infância.” Tal foi a receptividade que o restante da obra, por injusto que fosse, caiu no ostracismo, e o autor galgou a condição de maior memorialista de nossas letras, ombreando-se apenas com Pedro Nava.

A ternura, a poesia, o sentimento humano, as lições de vida e o amor à natureza que emanam dessas páginas encantou a todos e encheu os corações de várias gerações de leitores. A história singular do menino pobre, nordestino e feio que tudo supera e se torna um cidadão do mundo através do trabalho e do estudo se tornou, ela própria, um marco de nossas letras. Um poema de Gilberto Amado:

TRISTE VANGLÓRIA Fazer versos, amigos, é meu fado. Nunca me canso nem sequer conheço Esse embaraço triste, esse tropeço Que a rima sempre opõe ao mais ousado.

Vou deixando caírem no papel À toa, desconexos e revoltos, Os verbos e adjetivos a granel. Mas na minha alma há tanta dor bradando

Às vezes, certos dias, amanheço Do destino das cousas alheado; Viro as palavras todas pelo avesso. Quero dizer: - escrevo sem cuidado.

Que os versos saem por ai mesmos soltos Como pedaços dela soluçando.

REVISÃO DE TEXTOS E EDIÇÃO DE LIVROS Da revisão até a entrega dos arquivos prontos para imprimir. Contato: revisaolca@gmail.com •7•


POESIA

FÁBIO MALLON CHÃO Nas ruas de meu destino a iluminação é pouca, escura. Retrato de meus filhos espalhados e tuas imagens na sacada do meu saber. Ando pelos becos abertos sem te encontrar. Mas nas esquinas ouvi dizer que teu rumo agora são os caminhos de chão, com a sola na terra e saudade no coração.

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CRÔNICA

HARRY WIESE À PROCURA DOS SONS PERDIDOS Entre tantas coisas que procuro estão os sons dos tempos idos, extraordinários e inusitados sons. Onde se escondem que não os ouço? Contudo, ainda existem os velhos vinis, autênticos, com ruídos e estalos e fitas envelhecidas, rasgadas, quase sem serventia; ouço-os com saudade. Também existem os sons das almas, silenciados e adormecidos. Os sons daqueles tempos são ausências e melancolia. Na solidão e silêncio regrido no tempo e sintome criança novamente e ouço as canções de ninar dedilhados no velho violão: minha mãe. Delicio-me com os miados de gatos, os latidos de cães e os grunhidos dos porcos nas

longas noites frias. Ouço as batidas de martelos nas enxadas nos tempos de plantar, para afiar o corte para a capina. Extraordinários e únicos são os solos de guitarra do Conjunto M u s i c a l T h e Vi k i n g s , nos bailes e nas tardes de domingos dançantes. Àquela música se juntam as cantorias matinais: galos, sabiás, bem-te-vis, joõesde-barro, quero-queros e saracuras. Às tardes e à noite, retumbam trovões assustadores e águas correndo pelos caminhos das roças. Bugios fortes rugem na mata ainda virgem. Ouço o vento soprando nos cantos da casa, que produzem a cantoria triste nos ganchos das janelas. Ouço as badaladas do grande relógio de parede, relíquia perdida e

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permutada por um corte de tecido. Tantos sons distantes minha mente projeta na alma inquieta e desperta a tristeza pela perdição. Hoje, tanto tempo depois, tudo é diferente, tudo está repleto de manias e tecnologias; coisas nunca pensadas antes. Ouvem-se até os sons das estrelas no longínquo cosmo sideral. As estrelas, por incrível que pareça, são instrumentos musicais. Podemos ouvi-las pelas frequências acústicas através de variações de brilho que vêm da superfície delas. Hoje se ouve tudo o tempo todo, poluição de sons, harmonia de sons: motores, gritos, gemidos, explosões, bombas, rojões, súplicas, estrelas, acordes e lirismo da poética de menestréis. Os poetas são intelectuais clássicos incompreensíveis, onipresentes e oniscientes, mas, que pena, não podem trazer meus sons de outrora de volta. Decepção? Não me parece, instigam-me a procurá-los, nas veredas de mim.


Encontro-os na vitrola. Estão ao meu alcance, iguais, com ruídos e estalos. O u ç o B i l l y Va u g h a n , Lawrence Welk, Frank Pourcel, Nini Rosso e tantas outras orquestras clássicas universais. Os sons dos The Vikings, da guitarra mágica, são irrecuperáveis. Só existem ainda em algumas poucas mentes. Havia, ainda, a cantoria de cigarras de dia e de anfíbios, rãs, sapos, pererecas, à noite, nos ribeirões e matagais. Hoje não cantam mais como naqueles tempos. Ouviamse os gritos ameaçadores dos gaviões, à espreita de pintinhos no terreiro, sob vigilância constante das mães-chocas, santas protetoras incontestáveis,

fazendo das asas a proteção segura. Hoje não existem mais chocas com pintinhos e os gaviões, se ainda existem, gritam em outras paragens. Agora somente me restam duas coisas: ou vou à procura dos sons nos lugares onde aconteceram e podem estar, com parcas chances de sucesso de encontrá-los; ou identifico-os, mesmo que de forma artificial, na mistura sonora do dia a dia. Vez ou outra, algum som me lembra o som daqueles tempos. A mente ainda é privilégio ímpar. O melhor momento é no silêncio da noite, quando a alma se recolhe e os pensamentos fluem. Estão ali e podem

ser percebidos e isto me encanta e satisfaz, bem à maneira de José Saramago, que questiona, “Dirão, em som, as coisas que, calados, no silêncio dos olhos confessamos?” Tenho certeza que sim!

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Em http://lcamorim.blogspot.com.br Literatura, arte, cultura, cotidiano, poesia. Todo dia um novo texto: um conto, uma crônica, um artigo, um poema. Leia e comente. Sua opinião é importante para que possamos melhorar o conteúdo. • 10 •


POESIA

LUIZ CARLOS AMORIM DESTINOS O tempo nos chama para escrever a história de nossos destinos. A vida é poeira que o vento carrega e o céu nos intima a tornar-nos estrelas - ou anjos? – para desvelarmos o futuro. Nossa humanidade, entanto, tropeça em nossos erros. Astros, estrelas, anjos? Nossas asas nos pesam, somos apenas mortais neste planeta antigo, que não sabemos guardar. Quando chegar o amanhã, o destino se adiará, o futuro estará lá, o infinito nos guiará?

Poema da antologia POETAS DA ILHA, do Grupo Literário A ILHA, publicado em 2018 pelas Edições A ILHA e Editora Dialogar.

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CRÔNICA

URDA ALICE KLUEGER SEREIA Chegou uma sereia a esta Enseada. Não se sabe bem como chegou, como se desgarrou das outras sereias que viviam em grupo em águas tépidas de um longínquo mar meio verde, meio azul – decerto foi a febre que a desnorteou e fê-la perder-se dentre as correntes marinhas, a tal ponto que já não sabia mais dar conta de si e se deixou levar pelas águas batendo queixo, com tremuras de frio, até tão longe que já não sabia mais aonde estava. Talvez tivesse morrido, pois sereias também morrem, caso não tivesse encalhado aqui nesta Enseada. Marolinhas de nada fizeram com que sentisse que ali era um mar com fundo raso, e ela se ajudou um pouco e encalhou na praia, noite fechada, sem fazer ideia de onde estava. Reconheceu a forma de uma canoa e se escondeu dentro dela, encolhida e infeliz, a febre alta a devorá-la, espasmos de tosse a não lhe permitirem o descanso.

Foi o dono da canoa quem viu aquela sereia encolhidinha ali e alertou ao moço bonito, que veio com cuidado, sentiu a temperatura dela, ouviu a tosse, pensou nos chás que ela deveria tomar e acabou por toma-la nos braços com o cuidado e a ternura com que se carregam filhotes peludos. Levou-a para a sua casa, aquela casa que há muito

sua própria cama, fez-lhe os chás, diminuiu-lhe a febre, aprontou um prato com a boa comida que os moços bonitos sabem fazer, e no outro dia ele a tinha devolvido à vida. Eu a conheci ontem, a essa sereia de sobrancelhas cerradas como as que vivem ao norte do Oceânico Índico, longos cabelos de pura seda que devem ondular muito lindo dentro da água, mas que também são tão bonitos assim na secura do ar – usava uma camiseta do moço bonito, pois aqui é terra de gente que usa roupa, e a luz da tarde rebrilhava calidamente nas escamas do seu longilíneo rabo em tons de negro e prata, como são os de tantas sereias. Estava sem febre e se deliciava comendo algumas frutas. Achei que ela irá ficar morando aqui fora do mar e que no futuro nascerão sereiazinhas na casa do moço bonito. Oxalá!

ele preparava com requinte à espera de uma sereia, toda arrumada e ajeitada por dentro e por fora, pois quem espera sereias é muito cuidadoso em todos os (Sertão da Enseada de Brito, detalhes. Deitou a sereia na 23 de março de 2019)

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POESIA

EDLTRAUD ZIMMERMANN FONSECA CAMINHOS Luz iluminando meus caminhos. Mãos amigas segurando-me forte. - És linda!, dizia-me diante de minha deformidade física Vê que longa escadaria tens a vencer? Vá com calma, um a um galgue os estreitos degraus. Nos patamares, descanse! Nos corrimãos, ampara-te! Não te aflijas com os que por ti passarem. O caminho é só teu! Faça dele JORNADA DE AMOR! Tia Lolita, luz que me conduziu; Mãos que me ampararam; lágrimas de ternura, Tristeza, dúvida e medos derramados! Foram tantos Anos vencidos Hoje, no outono de nossas vidas Colhemos alegrias!

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CRÔNICA

MARIA TERESA FREIRE EXPECTATIVAS O que tanto esperas? O dia amanhecer? Esvair-se até chegar a noite? E aí esperas que te chegue alguma novidade? O inusitado? Ou o simplesmente diferente? Na realidade, estás sempre esperando que algo inesperado te aconteça. Nasces, és uma criança buliçosa que aguarda a hora da brincadeira; se fazes alguma traquinagem ficas nervosa, sabendo que ralharão contigo. E qual será o castigo, te questionas; se, ao contrário, ganhas boas notas e te comportas adequadamente, ansiosa contas com a recompensa, que às vezes vem de acordo com tua expectativa, outras nem tanto. Ao cresceres, buscas o espelho para que te confirme o quanto bonita és. Assim, conseguirás um namorado, um amor e talvez um marido. Desejas a popularidade como a adolescente faceira que és. Segues, sempre consciente

de poderes alcançar uma vitória, depois de tanto empenho pela conquista. Vais em frente e te transformas em uma mulher adulta, instruída e esclarecida para que possas decidir sobre tua vida. Então, aguardas para receber teu diploma, em grande festividade, que te dará condições de conseguires um emprego, um trabalho.

Se trabalhas, dedicas-te com afinco para que reconheçam teu esforço e assim alcances uma promoção bem merecida, com aumento salarial e benefícios. Mas nem sempre

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é assim. Tuas expectativas nem sempre acompanham a realidade que tu não podes modificar. Se tu casas, aguarda com inusitada ansiedade o dia que iniciará tua feliz jornada, ao lado do amor escolhido, nutrido e guardado no teu carinhoso coração. Como natural consequência, tu esperas teus filhos durante meses, imaginando como será o rebento por quem tens um amor fervoroso, poderoso e inigualável. Aguardas também a compra da tua casa, do carro maior para caber a família toda; o marido que chega do trabalho e beija-a feliz em te ver. Ou o marido que não chega por estar em outro local que tu nem queres imaginar. Esperas tudo isso? Mais um pouco? E o telefone que nunca toca e aguardas ansiosa? A mensagem que nunca entrou no celular? As


pequenas situações que lhe provocaram ansiedade, dor de cabeça, longa espera e desilusão? Algumas esperas foram compensadoras, alegres, afetivas, festivas, quiçá amorosas, carinhosas, escandalosas, maravilhosas. Ainda... O cumprimento que não chegou a ti? O sorriso que não te deram? O abraço que faltou? O beijo que nem aconteceu? A presença que nunca se fez presente? O amor que não se firmou?

Ah! Se tu fores contar sobre todas as recompensas que tua paciente espera alcançou, o espaço não seria amplo o suficiente para contê-las.

temos expectativas que são correspondidas, outras não. Que não se deve esperar além da conta. Não fantasies tua espera. Simplesmente, deixe que o tempo presente aconteça como Ao final, tu podes mencionar deve ser. que, sempre, todos nós

Todavia... Quantas esperas foram agradavelmente correspondidas? O amor que floresceu forte e ardoroso? O beijo que te bambeou as pernas? O abraço que te aconchegou? O elogio que te incentivou? A risada que aqueceu teu coração? A amizade que embalou tua alma?

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POESIA

JACQUELINE AISENMAN MEIO COPO Há uma parede entre a vida e eu? Um muro? Uma separação estranha? Mas a parede não seria parte da vida? O muro não seria parte da vida? Separações fazem parte da vida… Se paredes existem, melhor enxergá-las como o espaço para a decoração Os muros, um meio de sustentação O reencontro grato à separação… Meio copo d’água cheio ou vazio? Encontrar-se na linha do horizonte entender o que contrabalança os pesos inebriar-se da harmonia do universo… Meio copo cheio ou vazio? Não se deixe desestabilizar pelos sentidos enganosos… Equilíbrio é tudo!

Jacqueline é catarinense de Laguna, mas vive há bastante tempo em Genebra, na Suiça, e é embaixadora dos escritores brasileiros na Europa. Publicou a revista VARAL DO BRASIL e varias antologias divulgando a literatura brasileira.

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ARTIGO

FERNANDO B. FRANCO A POESIA E O TEMPO EM DRUMMOND A obra literária não é composta apenas de sugstões significantes: a ela se agregam leituras as mais diversas. Na construção e na reconstrução permanentes dos significados literários, a fortuna crítica também contribui decisivamente e tanto mais rica a obra quanto mais acirrados os debates qe ela suscitar.

de Andrade constrói um sistema simbólico tão denso que é capaz de, ao mesmo tempo, denunciar aspectos problemáticos do governo ditatorial de Getúlio Vargas, por exemplo, e de mergulhar no universo introspectivo da memória individual, sem se restringir, contudo, à mera enunciação panfletária de princípios políticos, ou então ao confessionalismo lacrimoso. Consciência linguística e consciência histórica entrelaçam-se num mesmo projeto artístico, de tal modo que “história” e “poesia”, denunciadas como conceitos unívocos e antinômicos, logram tornar-se polissêmicos – e integrar-se.

A obra drummondiana é um daqueles momentos literários decisivos, históricos não porque documentam o seu contexto imediato de escrita e recepção, mas porque ainda que impregnados intencionalmente de sua época, compreendem-na como possibilidades múltiplas, abrindo-a a outros e São 55 poemas, escritos variados períodos, signifi- entre 1943 e 1945 e reucâncias e embates. nidos em livro com a derrocada do Estado Novo Em A Rosa do Povo, por (muitos dos quais circuexemplo, mais do que se laram clandestinamente, de referir a eventos objetivos mão em mão, em cópias de um momento confli- datilografadas, antes de tuoso (1943-1945) e, mais publicados). Descrever do que projetar sobre essa suas características é tarefa crise seus desejos e con- fadada ao fracasso, quando vicções, Carlos Drummond se perde de vista que sua

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paradoxal coerência é a multiplicidade temáticoformal. A Segunda Guerra Mundial, a Resistência ao III Reich e às ditaduras fascistas, o avanço do capitalismo industrial e do American way of life, o Internacionalismo Socialista, as vanguardas artísticas e a cultura popular de massa, o Modernismo e a morte de Mário de Andrade, o processo de modernização conservadora, o passado patriarcal, as questões da existência individual cotidiana: o trabalho, o descanso, os desejos, os medos, o envelhecimento, a morte, a memória, a infância, a


reificação, a consciência de classe, a luta de classes, a transcendência, o mito, a dor, as perdas, a maturidade, o sexo; todos esses temas, tratados sem hierarquia ou contradições (exceto como denúncia), dispõe-se , segundo uma consciência formal poderosa: um verdadeiro pensamento poético, para o qual o plano semântico não se faz mais ou menos importante que outros níveis de significação (que o fônico ou o sintático, por exemplo).

textual. O absurdo da guerra impregna a obra de metáforas da mutilação, ou de formas sintáticas ininterruptas, mas a mediação da linguagem, por sob as figuras, logra operar uma transfiguração. Se os muitos e múltiplos cinquenta e cinco poemas de A Rosa do Povo não encontram nenhuma coerência entre si que não a pluralidade de temas e formas, irredutíveis a hie-

Cabe reiterar que a coerência do livro é a multiplicidade temático-formal. O pensamento poético, maior que o nível do enunciado, consegue integrar, no texto, aspectos percebidos como apartados naquele contexto, como o plano dos “fatos históricos” e o do “indivíduo”, ou o da “linguagem poética”. Em muitos poemas, a figura da poesia enuncia-se precária, diante do momento histórico imediato; mas uma leitura atenta logo percebe que há níveis mais ricos de significado por sob o nível da enunciação imediata.

rarquias ou a classificações estanques, o fator da coesão da coletânea se encontra numa espécie de escala, ela própria plural, mas capaz de integrar a multiplicidade da representação artística segundo uma escala expressiva: trata-se do lirismo drummondiano. Sob a experiência paradoxalmente múltipla do indivíduo lírico, o embate entre eu e O enunciado, muitas, vezes, mundo logra denunciar o contamina a própria forma objetivismo dos fatos e dos

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sistemas impessoais, bem como a armadilhla dos subjetivismos narcísicos. As personagens, quando exprimem a impotência do eu perante o mundo, ou quando exprimem o desejo de interferir no curso dos acontecimentos, ou ainda quando exprimem a recusa pessoal diante dos eventos externos, em todos esses casos aquelas personagens servem-se duma experiência marcada no tempo presente do cotidiano urbano-industrial, enriquecido pela memória, pelo desejo, pela introspecção, pela projeção e pela multiplicidade de eventos subjetivos, em diferentes formas de contato com os eventos objetivos e sempre sob a mediação da linguagem. O lirismo torna-se metalírico e o “canto” figura a si próprio como ato social: como relações de interlocução entre eu, tu, meio e obra. Ao figurar a si própria em múltiplas personagens, a poesia historiciza-se. Na figura plural do canto, cabe a interlocução, não apenas entre falantes e ouvintes de um contexto cotidiano, mas também entre passado e presente, já que nem história, nem poesia são construções ou significados prontos, mas


sim têm muitos significados. Portanto, é no ato da figuração poética da história e não no plano aparentemente imediato das suas figuras, que se encontra a riqueza do pensamento artístico drummondiano. Drummond envolveu-se no cenário artístico-intelectual do Modernismo já a partir

dos anos 20. Foi contemporâneo de esforços fundadores, como os de Gilberto Freyre, Caio P r a d o J ú n i o r, Oswald e Mário de Andrade, entre muitos outros artistas e intelectuais que, ao fim, terminaram por problematizar a ideia de nação, não mais como algo monolítico, mas como pluralidade e como resultado de debate e confronto. É certo que esta afirmação soará estranha aos que lembrarem haver sido Drummond chefe de gabinete de Gustavo Capanema durante a ditadura

filo-fascista do Estado Novo, momento oportuno para anotar que entre as dimensões variadas da existência, individual e/ou coletiva, existem mesmo contradições, muitas vezes bem-vindas, mesmo porque são a matéria-prima da vida – e de suas mais agudas representações. Com o pensamento poético drummondiano, os diálogos e as representações daqueles momentos críticos do nascente século XX enriqueceram-se de maneira crucial; riqueza da qual fazem parte indissociável as novas concepções de poesia e de história, agora intencionalmente refinadas .

AS SEM-RAZÕES DO AMOR Drummond Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga.

Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.

Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.

Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.

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POESIA

MAURA SOARES SÓ PARA TI Só para ti os mais belos poemas de amor Foi para ti as mais belas canções com ritmos dolentes para te embalar Só para ti eu dizia as mais belas palavras ditadas do coração Só para ti meus pensamentos diários No entanto, não soubeste entender que meu olhar só olhava em tua direção Partiste... Ficaram as palavras soltas ao vento O som das notas musicais não mais existe Meu violão ficou mudo; não toca mais. (22.9.2017 - 5.47h madrugada)

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ENTREVISTA

LUIZ CARLOS AMORIM PEREGRINO DAS LETRAS Nesta edição, entrevista telegráfica com o editor da revista ESCRITORES DO BRASIL e da revista SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, Presidente e fundador do Grupo Literário A ILHA, cadeira 19 na Academia Sulbrasileira de Letras, elaborada pelo portal Cá Estamos Nós, de Portugal. Luiz Carlos Amorim é escritor, jornalista, editor, revisor e professor, com mais de trinta livros publicados no Brasil e no exterior, em mais de cinco línguas. Atualmente mora em Lisboa, mas é catarinense de Corupá e seu endereço no Brasil é na Grande Florianópolis.

na Europa, então agora que 8º - Sabem o que mais quero ... estou morando em Lisboa ? Viajar, viajar muito, conhecer fica mais fácil. o mundo e aprender tudo o que for possível. 4º - Antes tenho que ...? visitar o norte e o nordeste brasileiros.
 9º - Foi sempre o que .... ? desejei e também sempre o 5º - Já fui ...? menos egoísta, que fiz, escrever. Mas fica cada eu acho. Mais crente, também. vez mais difícil publicar. No entanto, continuarei a ler e a escrever. E viajar.

Mas já estive em vários países diferentes e aprendi novos 1º- Gosto muito de .... ? costumes e novas culturas. Isso natureza, animais, música e ajuda muito a amadurecer.
 literatura..
 6º - E estou a preparar-me 2º - Quando ...? eu puder , para ...? participar da Feira do vou visitar Grécia, Egito, Livro de Lisboa. Itália, França, Suiça, Bélgica e outros países da Europa. Já 7º - Talvez um dia ... ? este conheço alguns destes países, meu país, o Brasil, melhore, se acabar a corrupção e roubamas quero voltar! lheira que há. Aí eu fico por lá 3º - Mas para lá chegar ...? mesmo, pois gosto muito do seria melhor que eu estivesse meu país.

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10º - E para o conseguir ... ? só preciso ter tempo e dinheiro. O primeiro, tenho muito, graças a Deus. Já o segundo… Mas tenho conseguido publicar, até aqui, nestes mais de quarenta anos de “carreira”, tanto por edição própria, através das Edições A ILHA, como por editoras como a Hemisfério, Lunardeli, IWA, Dialogar, Cepec e Editora AAFBB. E tenho divulgado a minha literatura e a literatura catarinense em eventos como o Salão Internacional do Livro de Genebra, Feira do Livro de Lisboa e outros. 11º - Mas daqui até ... ? conseguir mais dinheiro ou que a nossa moeda valorize, vou ser avô, que nasceu meu primeiro


neto em Lisboa. Vou publicando meus artigos, crônicas, poemas e contos em jornais, revistas literárias e na internet: no portal do Grupo Literário A ILHA, do qual sou fundador e coordenador, no meu blog, em antologias e em outros sítios. 12º - Sou bem capaz de ... ? sacrificar o rico dinheirinho poupado com sacrifício, destinado a outra coisa, para continuar viajando, conhecendo o mundo e participando de salões e feiras literários. 13º - Para isso já tenho uns planos ... ? como este que estou colocando em prática agora, de morar uns tempos em Portugal. 14º - Mas às vezes ... ? Dá vontade de desistir. Ainda bem que sou teimoso. 
 15º - O meu desejo seria ... Não precisar de tanto dinheiro para poder publicar o próprio trabalho.

16º - Mas nunca .... vou desistir. ESCRITORES DO BRASIL, para ampliar o espaço para a 17º - Para poder ser ... ? um literatura dos novos escritores. escritor lido, tento fazer chegar Aproveitarei a Feira do Livro o que escrevo a mais e mais de Lisboa para divulgar nossas leitores. revistas e fazer chegar ao leitor português a nossa lavra.
 18º - Olhe, se eu tivesse ... ? condições, compraria uma 21º - Os meus colegas ... ? editora, para publicar o meu os escritores mais dedicados, trabalho e o trabalho daqueles têm-se esforçado para juntar-se que precisam um espaço para a mim neste objetivo. mostrar o seu valor. 22º - Neste momento sinto von19 – Talvez fosse ... ? utopia, tade de ... estar no Salão Intermas escrever e criar espaços nacional do Livro de Genebra, para divulgar a poesia e a que começou no dia primeiro literatura dos nossos escritores de maio. Gostaria de participar é o objetivo que perseguirei novamente, com meu livro de poemas A COR DO SOL, ou sempre. LA COULEUR DU SOLEIL, 20º - Mas esforço-me por ... ? ou THE COLOUR OF THE manter este objetivo e colo- SUN, em cinco idiomas: porcá-lo em prática continuamente. tuguês, inglês, italiano, francês O Grupo Literário A ILHA e espanhol. Mas meu neto publica a revista SUPLE- recém-chegado é mais imporMENTO LITERÁRIO A ILHA tante e haverão outras oportuhá 39 anos e recentemente, há nidades. coisa de um ano, lançamos uma nova revista literária, a 23º - No Verão . ? gosto de passear na praia, nadar e caminhar no pôr do sol. 24º - No Outono ... ? gosto de ler e escrever e viajar.
 25º - No Inverno ... ? gosto de ficar em casa, ler, assistir bons filmes, reunir amigos. 26º - Mas na Primavera ... ? prefiro sair e ver a natureza, que ela nos dá muita inspiração.

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GRANDES POETAS BRASILEIROS

AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA ASSOMBROS Às vezes, pequenos grandes terremotos ocorrem do lado esquerdo do meu peito. Fora, não se dão conta os desatentos. Entre a aorta e a omoplata rolam alquebrados sentimentos. Entre as vértebras e as costelas há vários esmagamentos. Os mais íntimos já me viram remexendo escombros. Em mim há algo imóvel e soterrado em permanente assombro.

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GRANDES POETAS BRASILEIROS

ÁLVARES DE AZEVEDO SE EU MORRESSE AMANHÃ Se eu morresse amanhã, viria ao menos Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã! Quanta glória pressinto em meu futuro! Que aurora de porvir e que manhã! Eu perdera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã! Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva Acorda a natureza mais louçã! Não me batera tanto amor no peito Se eu morresse amanhã! Mas essa dor da vida que devora A ânsia de glória, o dolorido afã… A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã!

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GRANDES POETISAS BRASILEIRAS

ALICE RUIZ DRUMONDIANA (Paródia do poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade.) e agora Maria? o amor acabou a filha casou o filho mudou teu homem foi pra vida que tudo cria a fantasia que você sonhou apagou à luz do dia e agora Maria? vai com as outras vai viver com a hipocondria

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GRANDES POETISAS BRASILEIRAS

ELISA LUCINDA PENETRAÇÃO DO POEMA DAS SETE CHAVES (A Carlos Drumond de Andrade)

Ele entrou em mim sem cerimônias Meu amigo seu poema em mim se estabeleceu Na primeira fala eu já falava como se fosse meu O poema só existe quando pode ser do outro Quando cabe na vida do outro Sem serventia não há poesia não há poeta não há nada Há apenas frases e desabafos pessoais Me ouça, Carlos, choro toda vez que minha boca diz A letra que eu sei que você escreveu com lágrimas Te amo porque nunca nos vimos E me impressiono com o estupendo conhecimento Que temos um do outro Carlos, me escuta Você que dizem ter morrido Me ressuscitou ontem à tarde A mim a quem chamam viva Meu coração volta a ser uma remington disposta Aprendi outra vez com você A ouvir o barulho das montanhas A perceber o silêncio dos carros Ontem decorei um poema seu Em cinco minutos Agora dorme, Carlos.

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GRANDES POETAS BRASILEIROS

CRUZ E SOUSA VELHAS TRISTEZAS Diluências de luz, velhas tristezas das almas que morreram para a luta! Sois as sombras amadas de belezas hoje mais frias do que a pedra bruta. Murmúrios incógnitos de gruta onde o Mar canta os salmos e as rudezas de obscuras religiões — voz impoluta de todas as titânicas grandezas. Passai, lembrando as sensações antigas, paixões que foram já dóceis amigas, na luz de eternos sóis glorificadas. Alegrias de há tempos! E hoje e agora, velhas tristezas que se vão embora no poente da Saudade amortalhadas! …

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RESENHA

HAROLDO SEREZA O CINEMA E O OFÍCIO DO VERSO,
SEGUNDO BORGES A publicação no Brasil de dois livros, além de um deleite para os admiradores do poeta argentino, oferece chaves para decifrar o que Jorge Luis Borges (18991986) entendia por literatura e - especialmente - o que pretendia com ela. 
Borges em e sobre Cinema, do cineasta e escritor argentino Edgardo Cozarinsky, reúne uma seleção de textos de Borges sobre cinema e, também, análises de Cozarinsky sobre obras do mito adaptadas para as telas. Já Esse Ofício do Verso, do próprio Jorge Luis Borges, inclui seis conferências feitas por dele entre outubro de 1967 e abril de 1968, na Universidade Harvard. Proferidas em inglês, sem o auxílio de notas (Borges estava praticamente cego), as Norton Lectures só foram publicadas nesse ano nos Estados Unidos. A obra chega às livrarias do Brasil no início de dezembro. 
Boa parte do que está nesses dois livros não é novidade:

muitas das idéias fazem parte de outros textos de Borges ou de escritos sobre ele (uma das conferências, inclusive, chama-se "A Metáfora", o mesmo título de um dos textos de História da Eternidade). Mas a graça

das duas obras está em apresentar o argentino em perspectivas pouco usuais: a do espectador cinematográfico e a do simpático conferencista. (Publicadas pela editora Globo, as Obras Completas do argentino, cujo primeiro

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número vendeu 10 mil exemplares, trazem apenas dois textos agrupados no subtítulo "Borges, Oral".) "Borges se impressionava com a capacidade que o cinema tem de contar histórias complexas e de apresentar paisagens humanas intrincadas em um breve período de tempo", afirmou Cozarinsky, por telefone, de Paris, onde mora. 
Para alguém que viveu queixando-se do fato de a literatura ter perdido a capacidade de enveredar pela épica, o cinema oferecia, com o western e seus gângsteres, uma alternativa à perda de uma tradição. "De certo modo, as pessoas estão famintas e sedentas de épica. Sinto que a épica é uma das coisas de que os homens precisam. Mais que todo outro lugar (e isso talvez soe como uma espécie de anticlímax), foi Hollywood que abasteceu o mundo de épica. Por todo o globo, quando as pessoas assistem a um


faroeste - observando a mitologia de um cavaleiro, e o deserto, e a justiça, e o xerife, e os tiroteios etc. -, imagino que resgatem o sentimento épico", disse Borges na conferência "O Narrar uma História", publicada em Esse Ofício do Verso. 
A elipse, a figura que permite a um escritor - mas principalmente a um cineasta - desconsiderar pontos secundários da narrativa para concentrar-se nos principais, teria sido uma, apenas uma, das influências cinematográficas de Borges. Ele próprio, na sua primeira conferência em Harvard, "O Enigma da Poesia", ao comentar um soneto de Rossetti, afirma que esses versos ficaram "talvez mais vívidos agora do que quando foram escritos (...) porque o cinema nos ensinou a seguir as rápidas seqüências de imagens visuais." 
O livro de Cozarinsky traz um total de 16 textos de Borges sobre o cinema, a maior parte deles publicada pela revista literária portenha Sur. O poeta foi o introdutor do assunto na publicação, que, até então, ignorava o cinema. 
Como não havia uma preocupação de orientar o consumo do leitor, Cozarinsky evita classificar os textos como resenhas ou críticas - prefere

chamá-los de comentários. Neles, Borges passeia por nomes clássicos do cinema, como Charles Chaplin, Sergei Eisenstein e Alfred Hitchcock (leia ao lado o que ele escreveu sobre Cidadão Kane, de Orson Welles). Os comentários têm sempre um tom impressionista, muitas vezes preferindo deter-se sob algum aspecto dos filmes, sem se preocupar em analisar a obra como um todo.

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Nos anos 60 e 70, Borges escreveria, com o amigo Alfredo Bioy Casares, os roteiros dos filmes Invasión e Les Autres, ambos do cineasta Hugo Santiago (ele também co-autor do roteiro do último filme). Como já não enxergava (o lento processo de perda da visão iniciara-se cerca de 30 anos antes), Borges escrevia roteiros relembrando-se do cinema que vira. Isso significava, portanto, um modo de pensar um filme totalmente anacrônico, que não combinava com os gostos e técnicas do momento. O melhor deles, na visão de Cozarinsky, é o primeiro. Apesar da cegueira, Borges não deixou de freqüentar as salas, agora ainda mais escuras. Seguia os diálogos - e pedia a quem o acompanhasse para explicar o que ocorria em cena.


POESIA

LORENA ZAGO EM TEUS OLHOS! Em teus olhos, vi a luz do amanhecer, Em teu semblante, li a sublimidade do amor, Em teu Ser, encontrei o caminho que leva ao encontro da paz. Em teu querer, sensibilizei-me ao deleite da entrega. E não esqueço, um dia sequer, Das vibrações de ternura e querer Que nos unem e nos fazem, em um só, estremecer. Oh, candura de emoções que afloram eloquentes. Tão amáveis e afáveis se confundem em nós. Ora são os meus sentidos que emergem latentes, Ora são os teus que tomam conta dos meus. E não mais sabemos de quem são os anseios.

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Que se mesclam em volúpias, Mensagens e devaneios, De um amor que ao infinito traduz, Intangíveis manifestos de loucos clamores. Inebriados de encantos e encantos sem fim. E assim, em teus olhos eu vi a luz do amanhecer, E o Sol apontou-nos o calor de seus dias, Que, em luz radiante, seriam para sempre, Incrustados e lembrados em nossas essências. Em teus olhos eu li um mundo de ternura. Li e reli um mundo de esperança, E assim, te aguardo em silêncio, silenciado. Até o infinito! E, com a firmeza Que só o amor é capaz de abarcar!

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ESCRITOR CATARINENSE

GUIDO WILMAR SASSI O VISIONÁRIO GUIDO WILMAR SASSI Guido Wilmar Sassi nasceu em Lages, SC, em 1922. Passou sua infância e juventude em Campos Novos. Em sua convivência com o povo dessas duas cidades, colheu parte do material das histórias que iria escrever mais tarde.

pinheiro em particular, e a exploração da madeira, em geral, tornaram-se, por algum tempo, o tema principal de sua literatura. Na década de 50, participou do Grupo Sul (editora e grupo de escritores novos), de Florianópolis. Graças ao incentivo de Salim Miguel Autodidata, não terminou veio a publicar, pela Edio curso ginasial. Aos doze ções Sul, seus principais anos de idade, já costumava volumes de contos: “Piá” e ler tudo quanto lhe caía à mãos – a Bíblia, Cervantes no original espanhol, histórias de fadas e ficção científica (Júlio Verne), romances policiais (Edgar Wallace e Conan Doyle), os contos de Hoffmann, Machado de Assis e Monteiro Lobato, peças de teatro e dicionários. Escreve desde que se entende por gente. Colaborou na imprensa de sua cidade natal. Um conto, que tem como personagem central um pinheiro, marcou sua estreia lite- “Amigo Velho”. Publicou rária na Revista Globo, de uma revista de novos Porto Alegre, em 49. Esse escritores que só durou conto, “Amigo Velho”, anos três números. Morou na depois serviria de título capital paulista em duas a um dos seus livros. O ocasiões. Lá, publicou “São

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Miguel”, romance vencedor de importante concurso literário. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde viveu até em 1963, e lá publicou outros livros, como “Geração do Deserto”, 1964 e “Os Sete Mistérios da Casa Queimada”, 1989. O livro “Geração do Deserto” virou filme em 1971, com o título de “A Guerra dos Pelados”. Neste romance, Guido Wilmar Sassi conseguiu fixar com agudeza admirável o que foi a Guerra do Contestado, havida há mais de meio século entre os Estados de Santa Catarina e Paraná. Lá estão os coronéis da pecuária, donos da vida dos homens e da honra das mulheres; a luta dos camponeses, pequenos industriais, peões e trabalhadores, na tentativa de reconquistar seus direitos; as explosivas e violentas revoltas dos fanáticos e jagunços, conduzidos por guias “iluminados”, por heróis místicos e messiânicos, que fizeram da Guerra do Contestado uma


réplica sulina de Canudos. Um romance epopéico que retrata corajosamente uma realidade brasileira só então transposta para a ficção com tanto vigor e verdade. E não pense, quem não leu, que se trata de narrativa apenas, um livro de história, simplesmente. O autor conseguiu fazer de um fato histórico, a Guerra do Contestado, um romance dinâmico, cheio de ação, prendendo o leitor do princípio ao fim.

O PRIMEIRO LIVRO “PIÁ”, primeiro livro de Guido, lançado em 53 pelas Edições Sul, foi um sucesso. Relativo, como ele mesmo disse, mas um sucesso. De repente, eis que surgia aquele escritor de Lages, trazendo um trabalho denso, doloroso, que reunia uma série de histórias de garotos desprotegidos, escritas numa linguagem linear, direta, sem qualquer modismo ou veleidade experimental. O autor se filia à corrente de um Tchecov, de um Gorki e, com economia de recursos e um vocabulário que evita de propósito as grandes palavras, faz com que Piá, Vina, Zico, Mélica e tantos mais peguem nossas mãos com suas mãozinhas sujas e nos acompanhem pela vida

em fora. Duas características claras, evidentes, vinculadas uma à outra, que podem ser observadas no trabalho de Guido Wilmar Sassi: a linguagem despojada, direta, e uma fidelidade aos seus referenciais literários, ou seja, às obras de outros autores que pareciam compor o que se poderia chamar de “a sua família literária”

LINGUAGEM

dade cabível dentro de uma obra de ficção, um setor da nossa realidade. A mesma objetividade caracteriza a linguagem, tanto na fala das personagens quanto na ausência, da parte do autor, de todo elemento apenas ornamental, de qualquer verbalismo. Neste estilo enxuto, vigoroso em sua simplicidade, as palavras ganham relevo e peso.”

CONTRUÇÃO DE HISTÓRIAS

Quanto à linguagem, Paulo Outras duas caracterísRonai faz uma correta ticas básicas da maneira do criador Guido Wilmar Sassi, principalmente nos romances, que também se vinculam uma à outra, parecem ser a construção da história através de blocos ou quadros ou “takes”, em torno de um motivo central e, dentro disso, para justificar a palavra “takes”, a influência de visão exercida pelo cinema. O motivo central seria o “assunto” do livro. A galeria de personagens nas principais obras de Guido está condicionada, ou melhor dizendo, é a síntese no seu prefácio ao expressão de um “assunto” romance SÃO MIGUEL: “ e v i d e n t e e e x p l í c i t o : Avesso ao impressionismo crianças injuriadas por uma e à improvisação, o escritor sociedade cruel em PIÁ; procede com a gravidade e o pinheiro, em AMIGO o método de quem busca a VELHO; o transporte de reproduzir, com toda fideli- madeira pelo rio Uruguai,

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um assunto, o transporte de madeira através do Rio Uruguai, de São Miguel aos portos argentinos. Daí não haver uma personagem principal: a predominância é do tema, que envolve a luta do homem primitivo com os elementos”.

em SÃO MIGUEL; o conflito épico-econômico-religioso do Contestado em GERAÇÃO DO DESERTO; os mergulhadores de plataformas de petróleo, em O CALENDÁRIO DA ETERNIDADE. Segundo Paulo Ronai, “a tendência de coordenar episódios em redor de um motivo central, de perceber o rumo paralelo de vidas aparentemente diversas, havia de levar o nosso autor para o romance. Os leitores que se embrenharem pelos atalhos de SÃO MIGUEL verão como todos eles convergem para

mesmo tempo, o desenvolvimento da região serrana catarinense, impulsionado pela extração da madeira; os perigos que correm os homens que trabalham para as serrarias e a vida miserável dos velhos, doentes e crianças que sobrevivem dos “frutos saborosos” do OS CONTOS pinheiro. O primeiro conto do livro “Amigo Velho” é O visionário Guido Wilmar uma espécie de janela que Sassi no legou histórias o autor abre para mostrar o curtas que mostram, ao panorama de progresso de um lado e de decadência e miséria de outro. O pequeno agricultor, aos poucos, vê-se obrigado a abandonar a “rocinha” para aliar-se ao “monstro” materializado nas serrarias, nos caminhões de transporte de madeira, no trem que transporta tábuas para várias cidades do país. A serra, por onde passa, corta dezenas de árvores e ceifa a vida de muitas pessoas.

REVISÃO DE TEXTOS E EDIÇÃO DE LIVROS Da revisão até a entrega dos arquivos prontos para imprimir. Contato: revisaolca@gmail.com • 34 •


POESIA

ROBERTO MALOPER BLUES AO NASCER DO SOL Depois trabalhar Vagar Tocar Harmônica companheira Sonhar meu amor me queira Fantasmas aparecem Poemas nascem Blues ao nascer do sol Preciso descansar Harmônica repousar Brota girassol Voa rouxinol Leva recado ao meu amor Para onde ela for A todo instante Flor Distante Queima a chama Que me ama.

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RESENHA

LUIZ CARLOS AMORIM A MÚSICA NA POESIA DE PESSOA Garimpando pelos meus guardados, mais exatamente meus aposentados discos de vinil - não há lugar em apartamentos para se guardar qualquer coisa - achei mais uma relíquia. Primeiro foi "O Menino Poeta", vocês se lembram? Poesia de grandes poetas cantada e declamada para crianças desde a mais tenra idade. Agora foi a vez um LP (que coisa antiga, não é?) com músicas cujas letras são poemas de Fernando Pessoa e seus heterônimos. O disco tem o título de "A música em Pessoa" e traz quatorze poemas musicados por Tom Jobim, Sueli Costa, Francis Hime, Ritchie, Milton Nascimento, Edu Lobo, Olívia Byington, Arrigo Barnabé, Dori Caymmi e Nando Carneiro. Os poemas do grande poeta português são "O rio da minha aldeia", assinado por Alberto Caieiro, "Segue o seu destino", assinado por Ricardo Reis, "Glosa", "Meantime", "Emissário de

Francis e Olívia Hime, Ritchie, Eugênia Melo e Castro, Marco Nanini, Edu Lobo, Olívia Byington, Arrigo Barnabé, Dori Caymmi, Vânia Bastos e Jô Soares. um rei desconhecido", "Meus pensamentos de mágoa", "Saudade dada", "Na ribeira deste rio", "Cavaleiro Monge", "O menino de sua mãe", "Quem bate a minha porta", assinados por Fernando Pessoa, "Passagem das horas", "Cruzou por mim, veio ter comigo numa rua

É poesia cantada e declamada, uma seleção de grandes poemas do grande Fernando Pessoa e interpretações deliciosas de grandes cantores da Música Popular Brasileira e grandes atores, também. Um disco eterno, para se ouvir e sentir. Sempre. Poderse-ia dizer que é um livro sonoro, que nos possibilita apreciar a poesia universal de Pessoa e ao mesmo tempo a boa música de bons compositores. Um casamento perfeito. O disco é de 1985, mas será sempre um disco novo, uma obra-prima que mais amantes da poesia e apreciadores da boa música devem ter a oportunidade de conhecer.

baixa", assinados Álvaro de Campos, "Livro do desassos- Recomendo que ouçam. Prosego", assinado por Bernardo curem, porque deve estar na Soares e interpretados por internet, deve existir em CD. Tom Jobim, Nana Caymmy,

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POESIA

MAYSA S. OLIVEIRA HÁ ALGUM TEMPO Há algum tempo não vejo o brilho dos seus olhos, não sinto suas mãos aquecendo as minhas, nem seus lábios procurando os meus. Há algum tempo não sinto seu aroma presente, nem a melodia quente, pensando que você já me esqueceu. Há algum tempo não ouço você falar de seus sonhos, mas meu coração ainda bate forte, quando penso que isso tudo poderia novamente acontecer. Ah, muito tempo vai passar muita coisa vai mudar antes que eu deixe de te amar.

Poema constante da antologia FIM DE NOITE - A Antologia do Fazer, organizada pelo poeta e radialista Sólon Schil, publicada pelas Edições A ILHA.

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POESIA

FÁTIMA SCHWEITZER OUTONAL Cai uma folha, depois outra… E mais uma se vai ao vento. Muda tudo todo o temo e voa longe o meu pensamento. Vai vagando além-mar com medo de muito sonhar e nesse sonho distante temendo não lhe encontrar. E a folha se vai ao vento parecendo o tempo levar deixando meu pensamento livre, solto a levitar.

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POESIA

LUÍS LAÉRCIO GERÔNIMO PEREIRA A RAZÃO Um silêncio em minha alma, um tempo de reflexão, A luz do alto me acalma, atenuando minha aflição, O livre arbítrio em mim fala, diante de minha vontade se cala, Aumentando minha tentação. Tento ignorar os sentidos, reduzindo as sensações, Praticando o ascetismo, rejeitando as emoções; Agarrando-me ao niilismo e todo seu pragmatismo, Vou vivendo de ilusões. Recebi informações a cerca de um paraíso, Porém existem dois gideões, Apolo e Dionísio, Um ensina amor externo, ser justiceiro e fraterno; O outro, a ser Narciso. Peguei-me em devaneios, ao fantasiar os amores, É que deles tenho receios, talvez, por sofrer dissabores, Mas há quem vê neles delírios, felicidades e suspiros, E morte com menos dores. Recolho-me ao meu espaço pineal, um cantinho, num embrião Por muitas vezes e por descaso, deixam a mim e preferem a emoção Porém, quem me busca eu sempre abraço, Juntos, desatamos os laços, Prazer, me chamo razão!

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ENTREVISTA

ELOÍ ELISABETE BOCHECO ELOÍ: O DOM DA LITERATURA PARA CRIANÇAS 1. Quem é Eloí Bocheco? ELOÍ - Uma professora de língua e literatura, aposentada, que escreve literatura para crianças e jovens e a quem interessar possa. 2. Já recebeu diversos prêmios literários. Qual a importância desses prêmios em sua vida, e de que forma um prêmio pode influenciar na carreira de um autor? ELOÍ - No meu caso, os prêmios abriram caminho para a publicação de alguns livros, como Beatriz em trânsito ( CCMQ), e Batata cozida, mingau de cará (Literatura para Todos/ MEC), cujas premiações incluíram a edição e distribuição da obra. 3) Seu livro POMAR DE BRINQUEDO é encantado. E você demonstra vivenciar com doçura a vida da criança. Como é essa sua relação com o pequeno leitor? ELOÍ - Foi, desde sempre,

esse acontecimento influenciou na edificação da poeta. ELOÍ - Durante algum tempo alfabetizei crianças que repetiam a primeira série há anos, sem aprenderem a ler e escrever. O modo que encontrei para criar nelas o encantamento pela palavra, e motivá-las a querer aprender, já que chegavam enfastiadas de repetir anos a fio a mesma série, foi uma relação de muito afeto, envolvê-las com a poesia., mediada pela literatura. Em especialmente, a poesia classe, na biblioteca, ou infantil de Cecília Meireles. como escritora, interajo com as crianças tendo livros De tal modo ficavam encanpor perto. E livros apro- tadas com os textos poéticos, ximam, criam laços, puxam que se empenhavam ao rodas de conversas, favo- máximo para dominar o recem o convívio amoroso, código e ler por conta os provocam o desejo de com- textos apresentados, que as partilhamento das impres- fascinavam. sões de leitura e dos efeitos dessas leituras na vida dos O envolvimento lúdico com pequenos leitores. a palavra reavivou naquelas crianças o gosto de aprender, 4) Atuou a vida toda como que tiveram ao entrarem , professora, até a sua apo- pela primeira vez, na escola, sentadoria. Conte-nos, por mas perderam ao longo dos favor, da presença do tra- anos de insucesso. Via-se, balho como alfabetizadora nos olhos delas, a surpresa em sua vida e de que forma com o modo de ser das

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palavras dentro do poema. “Bola”, “jogo”, “bela” passadas pelo crivo mágico de Cecília Meireles soavam diferentes, criavam sentidos, encantavam. O brilho nos olhos e o pedido para ler de novo, e de novo, o mesmo poema, até sabê-lo de cor, de tanto ouvir , elevou a mil graus minha crença nos poderes mágicos da poesia. Essa experiência foi marcante e influenciou tanto a decisão de escrever poesia infantil, como o cuidado que tenho com as palavras ao compor um poema, o trabalho exaustivo para que o poema “pirilampeie” e possa ser agradável aos ouvidos dos pequenos leitores. E, se possível, possa despertar gosto por mais leitura.

acesso.

dialogar com os educadores de nosso Estado, SC, sobre as questões ligadas ao livro e à leitura, com ênfase na Literatura infantil e Juvenil, pela importância deste gênero na iniciação literária e na criação de uma cultura de leitura.

Contamos sempre com a colaboração de escritores, ilustradores, especialistas, educadores, que gentilmente cediam um pouco de seu tempo para auxiliar o projeto. As matérias, entrevistas, depoimentos tiveram grande repercussão e ainda têm, pois muitas professores continuam incluindo O Balainho em seus trabalhos pedagógicos com alunos dos cursos de Letras e Pedagogia. No retorno que tivemos, destaco os depoimentos de educadores que contaram que, com o auxílio do Balainho, mudaram seu modo de ver e tratar a literatura no espaço escolar, tornando-se, eles próprios, leitores de literatura.

O jornal surgiu em agosto de 1999, com a ajuda de pequenos patrocínios. A repercussão foi muito boa, recebemos muitas mensagens de apoio, e foi, então, que a professora Zenilde Durli apresentou o projeto para a UNOESC. O Jornal foi aprovado e, a partir daí, a Instituição assumiu a publicação e distribuição.

6. - É difícil falar de um livro em especial, pois todos são importantes, e merecem nosso carinho, mas poderia nos falar de um que muita alegria tenha causado a você?

O professor Peter O’Sagae, ELOÍ - O Balainho cir- que acompanhou e apoiou culou durante dez anos pelo o Balainho desde o início, Estado de SC e pelo país. abrigou o Jornal na Revista Eletrônica Dobras da LeiNasceu de um sonho meu e tura, e isto ampliou as posda Profa. Zenilde Durli de sibilidades de visibilidade e

ELOÍ - O Batata cozida, mingau de cará será sempre um livro especial para mim. Surgiu de um desejo de recriar a experiência literária oral da infância, que foi uma experiência rica e

5. Fale aos leitores da sua trajetória e das alegrias e frutos como coordenadora, idealizadora e editora do jornal de literatura infantil e juvenil O BALAINHO. Aproveite e conte o que é esse projeto que já vai por década.

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inesquecível. O repertório oral era o alimento literário das crianças do campo, nos anos de 1960, pois livros eram uma raridade. Escrevê-lo foi uma espécie de revivência daqueles reptos lúdico-amorosos que me encantaram naqueles dias. As imagens, as situações, as cenas são outras, mas o procedimento poético adotado é oriundo desse repertório e desse modo de celebrar a vida em versos. Este livro, que recebeu o I Literatura Para Todos, em tradição oral, e seria, inicialmente, pela proposta do concurso, um livro para os neoleitores do EJA, encontra leitores de todas as idades, inclusive, faz muito sucesso entre crianças das creches. E isto se deve à linguagem do folclore, que é uma linguagem de sempre, de todos, marcada pela afetividade e por ecos líricos

que atravessam o tempo e o ELOÍ - Na verdade, não espaço. recolhi, recriei aquilo que já estava ( está) gravado No dia da premiação desta na memória, guardado e obra, em Brasília, um agri- decantado pelo passagem cultor de 65 anos, neoleitor do tempo. O estudioso do EJA, foi ao palco e leu o Jesualdo diz que “a oralipoema “Cutia” que faz parte dade possui uma expressido livro. Foram homens vidade única: pinta, esculpe e mulheres como aquele e até grava a fogo, e está agricultor que, sem saber pontilhada de espécies e ler e escrever, criaram o essências”, palavras que manancial do folclore, no acolho inteiramente. qual fui buscar a inspiração para compor o livro. Marcas O folclore é uma referência assim ficam para sempre fundamental para mim. Foi impressas na história de lei- através desse repertório que turas de um livro. entrei em contato com a palavra criadora, inventiva, 7. Recolher as histórias que mágica, lúdica, onde não ouviu e as recontar num faltam humor e nonsense. livro deve ser uma fasci- Recriar, reinventar, tendo nante experiência. Conte, como base esse manancial, por gentileza, aos nossos é um prazer que me põe em leitores essa experiência e sintonia com os sons que as suas gratificações. me embalaram na infância e deram a noção de que a palavra podia encantar, podia ser como o barro na mão do oleiro. 8. Meninas e meninos encenando seus poemas, murais de poesia, saraus, sala de leitura: saberia ou conseguiria viver longe da escola? ELOÍ - Procuro estar sempre em contato com as crianças. Gostaria de ir mais às escolas , porém, hoje em dia, os problemas de saúde me impõem certos limites.

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Mas, quando consigo ir, é dá para sentir a diferença uma alegria muito grande. no trabalho dos professores que tiveram, no currículo, 9- Poderia dizer porque subsídios para desenvolver cresceu e se instalou no trabalhos com leituras literátrabalho educativo a utili- rias em classe. zação da Poesia Infantil , e de modo geral, da Literatura Infantil, para 'ilustrar" a lição didática? ELOÍ - Na origem, a literatura infantil está ligada à pedagogia, e não à arte. Creio que essa marca permanece forte, embora a LIJ tenha conquistado há muito tempo seu estatuto de arte. Os poemas, os textos não são chamados pelo seu valor literário, mas porque, de algum modo, “fazem par” com a lição. 10. Seu texto tem "o ligeiro brilho dos insetos que piriÉ uma atitude pragmática lampejam". Um de seus que passa longe das possi- livros conta a história de bilidades de encantamento uma bruxinha que encontra e envolvimento de um texto. uma chave mágica, e abre Talvez tenha que mudar a três portas, encontra uma própria relação do mediador chave mágica que abre três de leitura, no caso da escola, do educador, com a literatura. É preciso liberdade para que os textos voem, encantem, emocionem, sensibilizem, criem laços e intimidade com o leitor. Os cursos de capacitação deveriam cuidar mais da formação literária dos educadores. Há Instituições que oferecem essa formação e

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portas encantadas no Vale dos Jacarandás. Crianças adoram chaves mágicas que abrem portas encantadas, há sempre um mundo de magia a nos espreitar, esperando por nós. Fale-nos desse livro. Conte-nos dessa personagem. ELOÍ - A personagem é uma bruxinha, filha da terra, da mata, entendida em todos os segredos da floresta. Faz suas mágicas usando as próprios elementos mágicos da natureza, e mais os objetos que ela guarda num baú que foi de sua bisavó. São quatro os livros com esta bruxinha: O pacote que tava no pote Contra feitiço, feitiço e meio A chave que o vaga-lume alumiou Gaitainha tocou, bicharada dançou No livro A chave que o vaga-lume alumiou, a chave, que abre três portas no vale dos Jacarandás, foi encontrada pela bruxinha durante a brincadeira com os vaga-lumes. Ela sai para procurar as portas. Depois de cada porta há um risco, um perigo, uma ameaça, um


conflito, que ela tem que resolver: “ quem entra aqui nunca mais sai, a não ser que.........”

balaio repleto de poesia que vive em você deve lhe causar muita felicidade. O que diria da incessante busca da felicidade que Ela não se desespera porque, move os humanos? como filha da floresta, sabe os sinais, sabe o compasso, ELOÍ - Em uma crônica conhece a música da terra, o belíssima , A Arte de ser canto mágico dos pássaros, Feliz, Cecília Meireles a força das águas, o brilho conta sobre as coisas que vê dos pirilampos, os rumos de sua janela e que a fazem dos voos no céu, e invoca feliz. Coisas simples, cenas esses conhecimentos para do cotidiano, tocadas pela formular as soluções até o poesia. A mesma autora, desenlace final. em um poema, refere-se a “estas vastas nuvens que Esta coleção da bruxinha, os homens buscam”. Como em muitas escolas, é levada alcançá-las? E por que, uma ao palco e encenada pelas vez alcançadas, tão rápido crianças com muito gosto. se dissolvem? 11. Há um interesse explícito e intenso de você pelas coisas da natureza, que ao mesmo tempo, são as coisas da infância, que por outro lado nos remete à ternura da poesia infantil, da sonoridade, do encanto que traduz a beleza e a doçura da simplicidade. Certamente, esse

Cada um sabe de suas buscas e do modo, e onde e como buscar contentamento e ventura. Creio que a busca vale a pena quando gera mais vida e humaniza. Aposto muito nas coisas simples, na arte, na literatura, na poesia como fontes permanentes de

felicidade. Essas moradas ajudam a entrar em sintonia com valores que a traça e a ferrugem não corroem, por mais que “mudem-se os tempos, mudem-se as vontades”. Os novos tempos programam, direcionam, criam vontades e desejos, interferem nessa busca o tempo todo. Comprar, trocar e jogar fora os objetos , como se faz na maneira consumista de ser feliz , é um modelo de felicidade não sustentável, que gera destruição e morte. 12. Sua poética nos remete de imediato aos tesouros e achados da oralidade, das tradições populares, da poesia oral, das rodas da infância. Como foi a sua infância? ELOÍ - Passei a infância numa pequena localidade do interior de SC. Era uma época em que as crianças andavam soltas, em bandos, pelas estradas de chão batido, ou trepadas nas pitangueiras e araçás, com as bocas lambuzadas de frutas, pés cascudos, cabelos chamuscados de sol. Cresci num tempo e num mundo em que a vida era feita à mão, no ritmo em que crescem as plantas

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ou correm as águas dos lajeados. As crianças nasciam em casa, pela mão das parteiras experientes e à luz dos lampiões. As casas eram pontos de pousadas para quem vinha de longe. Os viajantes pernoitavam e partiam no cantar do galo para seus destinos. As crianças adoravam esta parte, pois os andantes sempre tinham muitas histórias na bagagem, alguns eram muito engraçados, bons falantes, poetas e patrocinavam cenas hilárias que faziam as crianças delirarem. As vivências lúdicas eram muito fortes e ajudavam a manter o gosto de viver, mesmo na dor, nas perdas, nos sofrimentos do corpo e da alma, nos golpes do destino. 13. Seus poemas incríveis, como MULINHA, são docemente comoventes por nos remeter ao abraço puro da infância. De que forma poderia a poesia ser mais divulgada no âmbito escolar, no trabalho de alfabetização, a ponto de se tornar protagonista num processo educativo de alfabetização, visto que com ela viria o doce teatro da infância e tudo o mais? Diga uma ini-

com a palavra poética. Nunca encontrei uma única criança que descobrisse a poesia e não se apaixonasse, e não pedisse mais e mais poemas para ler. O que falta é dar acesso a este recurso mágico que tanto as faz felizes. 14. Literatura Infantil é apenas para criança? ciativa que esteja faltando, ELOÍ - Considerando que em qualquer âmbito o adulto é o mediador entre a criança e o livro, então, o ELOÍ - Outro dia uma adulto deve ler a literatura menina da quarta série me infantil para acompanhar a escreveu e contou que meu formação leitora da criança. livro Pomar de brinquedo tinha sido seu primeiro livro Por outro lado, há livros, de poemas e que havia des- ditos infantis, que concoberto que era muito gos- seguem encantar adultos toso ler poesia. Fiquei feliz e crianças ao longo dos com o fato, mas, ao mesmo tempos. tempo lamentei que esta criança só tenha encontrado 15. "Sempre é tempo para a poesia na quarta série. alguém se tornar um leitor". Passou a alfabetização e as Assim diz O BALAINHO. séries seguintes sem poesia Que iniciativa deveria o em sua vida. governo realizar, além da compra de livros e Acredito que temos que ampliação das bibliotecas, criar uma tradição de ler tomando por base que poemas para as crianças, "qualquer governo anseia por como criamos a tradição um povo leitor' de ler e contar histórias. Os educadores que fazem ELOÍ - Há pessoas que a experiência de oferecer descobrem o livro aos 60, poesia para seus alunos dão 70, e até com mais idade e testemunho do quanto foi se apaixonam e se tornam prazeroso e rico o convívio grandes leitoras. Lecionei

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qual poderíamos encontrar prosas que falem do lápis, da doçura das frutas, de escadas, de amores infantis?

para a educação de adultos - atualmente EJA – e pude comprovar este fato. Muitos fatores concorrem para a criação de uma tradição de leitura num município, num Estado, num país. O acesso aos livros através das bibliotecas escolares é, inegavelmente, um dos fatores decisivos para criar a prática leitora. Livros de ótima qualidade têm chegado às escolas públicas. Mas, sem o investimento em dinamizadores para estes acervos, bibliotecários, ou responsáveis pelas bibliotecas, corre-se o risco de ver os livros desaparecerem, em pouco tempo, ou ficarem nas caixas, ou, ainda, enfileirados nas prateleiras. 16. Suas prosas são saborosas, são companheiras de viagens. Tem algum livro de prosas publicado, no

Com os alunos maiores lia as crônicas, e outros poemas da autora. Os fascínios, meu e de meus alunos, se misturavam nessas leituras, de ELOÍ - Tenho um livro modo que estas vivências chamado Pedras Soltas, criaram uma ligação eterna publicado pela EdUFSC, de com Cecília Meireles. crônicas editadas, antes, em jornal, e reunidas nessa obra. 18. Leu um livro que contribuiu para alterar o rumo 17. Mário Quintana, Manoel de sua vida ou consciência, de Barros... Talvez o Brasil ou tenha de alguma forma não conheça mesmo o influenciado os seus passos Brasil. Longe de tudo, ou os seus dizer. poderia nos falar sobre um poeta que terá lido e ELOÍ - O livro Solte os muita alegria trouxe ao seu Cachorros, de Adélia Prado coração? mudou o rumo de minha vida. ELOÍ - Sou devota de muitos poetas, inclusive de Mario Quintana e Manoel de Barros, que você menciona. Gosto muito dos poetas antigos. Ludovico Ariosto me encanta até a raiz dos cabelos. Seu livro, Orlando Furioso, é uma estação de cura. Mas, Cecília Meireles é um caso de amor à parte. Como professora lia com as crianças poemas do livro Ou Isto Ou Aquilo: O cavalinho branco, Colar de coral, Leilão de jardim, O Jogo e a bola, Rômulo rema, O sonho de Olga, Procissão de pelúcia, Avó do meninó etc.

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(Entrevista dada a Marciano Vasquez, grande escritor de literatura para crianças, uma homenagem da revista e da entrevistada a ele, in memoriam.)


POESIA

FRANCIELLE CONSONI NA TUA FORMA DE QUERER No fundo dos teus olhos, Teus olhos abstrusos, Confusos, No que me diz respeito. Suspeito, No teu silêncio conveniente, Ausente, Na tua forma de querer Por querer. E esquece, que o que não é visto, Não é bem quisto, E logo, não mais insisto E arrisco, Que da mesma forma que desisto, Conquisto, Todo o teu apetecer.

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Capa de A COR DO SOL em cinco línguas, um dos livros que será lançado na Feira do Livro de Lisboa e que pode ser pedido no Brasil pelo e-mail lcaeditor@bol.com.br .

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