SUPLE
MENTO
LITE
RÁRIO Florianópolis-SC – Março/2020 – N. 152 – Edições A ILHA – Ano 39
O LIVRO NO BRASIL
A SALVAÇÃO DE LIMA BARRETO LIVRO, ESSA ARMA PERIGOSA AUTORES CLÁSSICOS PARA CRIANÇAS
WILSON GELBCKE, IMORTAL
Portal A ILHA: http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br
NOSSO CRUZ E SOUSA MAIOR
Florianópolis-SC – Março/2020 – N. 152 – Edições A ILHA – Ano 39
SUPLE
MENTO
LITE
RÁRIO
EDITORIAL RUMO AOS QUARENTA ANOS DE LITERATURA
Estamos entregando a edição 152 do SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, a revista do Grupo Literário A ILHA, que completa 40(quarenta) anos de circulação em junho próximo, com a edição 153. Para comemorar este importante aniversário, um importante marco para a literatura produzida em Santa Catarina e no Brasil, a revista mais perene do gênero, as Edições A ILHA e o Grupo Literário A ILHA estarão publicando mais uma antologia, talvez a mais importante de todas que já publicamos. Porquê? Por que a nova antologia comemora 40 anos de literatura do Grupo Literário A ILHA e da sua revista, marco inédito para um grupo literário e sua publicação. Por que será um grande livro, mostrando a produção dos integrantes do grupo. Essa nova antologia será um painel que dará uma mostra da lavra dos nossos escritores, pois não publicaremos apenas um trabalho de cada um. Então, escritores do Grupo Literário A ILHA, vocês receberão convite para participação na antologia ainda neste mês de março. O critério para participação é a frequência do escritor nas revistas do grupo. Vamos comemorar nossos quarenta anos de literatura? Comemoraremos, também, participando da Feira do Livro de Lisboa, com o lançamento da edição de aniversário, em junho, desta revista, da antologia POETAS DA ILHA e do livro PORTUGAL, MINHA SAUDADE. Nesta edição, reproduzimos algumas matérias importantes publicadas em números anteriores da revista, para relembrarmos alguns acontecimentos marcantes da nossa literatura. Sintam-se à vontade em nossas páginas, leitores e escritores. O Editor
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ESCRITORA ABATIDA Mary Bastian
A gente sai pra passear, que escritora também é filha de Deus e, p or qual quer razão, esquece que não está em casa, acha que pode ir ao banheiro como está acostumada, durante a madrugada, sem acender a luz. Doce engano. Ao tentar apoiar a mão na parede, a parede fugiu, a mão escorregou e puf t! Lá fui eu, às quatro horas da
madrugada, encontrar o chão de uma for ma na da d i gna na minha idade. Costas e cabeça no chão, braços e pernas pro ar. Cinematográfic o e aos gritos: Valesca, eu tô caindo! Ri díc ul o! Ac ord ei. Valesca e Roberto não conseguiam me levantar - estou gordinha, não tenho aquela propriedade que outras pessoas têm de ficar durinha e conseguir levantar, um vexame. Um susto s em ne c es sidade, pois era só ter acendido a luz d o c o r r e d o r, m a s cabeça velha é teimosa. E aí, depois de muito bem aten-
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dida, de tomar água pra passar o susto, comprimido pra passar a dor, voltei pra cama quentinha, (eu estava em Gramad o, fa z fr i o de noite!) e dormi o sono dos inocentes. Acordar já foi mais difícil, doía tudo. Fiquei com um joelho roxo, um galo na cabeça, dor nas costas e desmunhequei a mão direita, que ainda dói pra eu não me esquecer do acontecido e de que luzes no corredor são pra ajudar, não pra bonito. Enfim, tô quase pronta pra outra, c omo se diz, mas não quero repetir a façanha. Já chegam as dores da idade, da artrose e outras que tais. Quero tranquilidade, quero “a paz de criança dormindo”, e passeios sem sobressaltos. Desculpem, afilhados, prometo que na próxima terei mais cuidado.
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dita do Historiador”, um romance à altura de um Don Brown, “A terceira Moeda” e “Á s d e O u r o s ”. Mas não foi só este WILSON gênero que o grande GELBCKE, escritor praticou. IMORTAL Ele produziu infanPor Luiz Carlos Amorim to-juvenis, contos, Wilson Gelbcke, um poemas e biografias. dos membros mais Foi autor premiado il us t res d o Gr up o e muitos outros prêLiterário A ILHA, nos deixou, recentemente: foi fa zer prosa e poesia com Júlio Queiroz, Quintana, Coralina. Um grande romancista, um grande escritor da literatura produzida em nosso Estado, é um dos mais impor tantes representantes da literatura catarinense m i o s l h e s e r i a m e brasileira. concedidos, se P r o d u z i u o b r a s todos os seus livros importantes dentro tivessem sido publido gênero romance, cados por editoras c o m o “A M á s c a ra de âmbito nacional. de Capelle”, seu pri- Gelbcke nasceu em m e i r o r o m a n c e , São Paulo, em 1933, publicado em 1997, mas viveu grande e desde então não par te de sua vida p a r o u m a i s . E m em Santa Catarina seguida veio “ Vin- e produziu sua lite4
ratura aqui, depois que aposentou-se. Era um escritor a t i vo, d i n â m i c o e ve r s á t i l , p r o d u z i a c o n s t a ntem ente e prestigiava os seus pares sempre que havia algum acontecimento literário ou cultural. Estava sempre presente às feiras do livro da região e nos encontros de es c ritores e lanç amentos de livros. Era presença marcante em eventos que reuniam artistas e escritores e uma pessoa querida e respeitada por todos. Ele nos deixou em quatro de dezem bro de 2019, aos 86 anos. Uma grande perda para a lite ratura brasileira e lusófona. Mas ele deixa a sua obra, 17 livros que o tornam imor tal para todos os seus leitores e admiradores e todos aqueles que amam literatura e que recriarão a sua
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lavra, ao lê-la. Um dos grandes escritores que já tivemos e continuaremos tend o, p ois a sua obra é imortal. “ Eu acho que vou lutar para as pessoas saberem que devem gostar de ler”, disse Gelbcke. E ele fez isso: fez palestras, foi a escolas, distribuiu livros, escreveu – e muito bem – e foi lido. Sua marca, sua obra, jamais vai se apagar. Não é por acaso que ele é um dos imortais da Academia Joinvillense de Letras. E l uto u, e s c reveu muito, escreveu para leitores em formaç ão, s empre tendo em foco a sua determinação de
difundir a leitura, de incentivar o hábito de ler. Além de ser um excelente contador de histórias, Wilson Gelbcke era também pintor, o que permitia que fosse também o autor das ilustra-
ções de alguns de seus livros e enriquecia ainda mais a qualidade do texto. Como artista plástico, que pintava e desenhava muito bem, a sua ilustração favorecia a
narrativa, já que ela estava muito mais integrada à histó ria do que se fosse feita por outra pessoa. E um livro de grande qualidade com esmerada apresentação, atrai a s c r ia n ç a s e fa z novos leitores. Wilson Gelbcke e s c rev ia h i s tó r ia s c o m o s e es c rev ia antigamente. “A história tem de ter algo de bom, de bem. Tenho de sentir que tem uma razão nas m inha s hi s tór ia s ”. E ele não abdicou, jamais, do prazer de escrever. “Nada vai substituir o livro. Ele tem essa vantagem: não morre.”, dizia. E tinha razão. Sua literatura permanecerá para sempre.
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RELEMBRANDO: da edição 83, de Dezembro/2002:
OS ÚLTIMOS POEMAS DE QUINTANA
Aqui, alguns dos poemas do derradeiro livro de Mário Quintana. Trata-se da edição trilíngue (português, inglês e espanhol) dos poemas escritos por Quintana para o livro "ÁGUA", publicado em 2001 pela Editora Artes e Ofícios, de Porto Alegre, a pedido do Banco do Brasil.
O HOMEM E A ÁGUA
FLORICULTURA NO CERRADO
Deixa-me ser o que eu sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo. E o meu destino é seguir... seguir para o mar. O mar onde tudo recomeça... Onde tudo se refaz...
Quando a árvore não dá frutos seus galhos se contorcem como mãos de enterrados vivos, os galhos desnudos, ressecos, sem o perdão de Deus! E, depois, meu Deus, uma lenta procissão de retirantes... De vez em quando um tomba, exausto à beira do caminho porque não há no lábio o frescor da água. A doçura do fruto...
USINA DE ITAIPU Como um riso trancado o rio explode numa gargalhada de luz, calor, energia! Parece até mágica do Homem da Usina. (E, se duvidares muito, daqui a pouco sairão voando todas as gravatas borboletas...) 6
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Pra que pensar? Nós também fazemos parte da paisagem!
PONTE DE BLUMENAU Entre a minha terra e a tua Há um ponte de aço. Desafiando o rio, Desafiando o vento, Desafiando a chuva, Desafiando tudo! Quem é que me espera, Que ainda me ama, Lá do outro lado Da ponte de aço?
FORTALEZAS DA ILHA DE SANTA CATARINA Os velhos marinheiros meus avós... Para eles ainda não terminou a espantosa Era dos Descobrimentos. Das construções com longos e intermináveis corredores que a lua vinha às vezes assombrar. Nas casas novas não há lugar para os nossos fantasmas! E se acabarem as construções antigas, a nossa história vai ficar sem teto!...
CATARATAS DO IGUAÇU Os rios são caminhos mais antigos que a redondeza da terra. Eles descem horizontes seguem sozinhos no ar. E a bela asa em pleno vôo, entre o partir e o chegar, sem se importar com fronteiras. Mas como se há de parar?
PRAIAS DO NORDESTE Ondas dançando na praia, Areia quente como o nosso olhar. Do que eu ia escrever até me esqueço... 7
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NOSSO CRUZ E SOUSA MAIOR Por Ledo Ivo
Quer por um imperativo de simplificação, quer pelo propósito de proceder ao aprofundamento dos atos e circunstâncias, somos sempre inclinados a conferir um sentido simbólico às cenas e ocorrências que, ao emergir da rotina dos dias, se deixam cercar por uma aura insólita. Dir-se-ia que o acontecimento incomum mostra uma singularidade que nos leva à interpretação correta e à leitura judiciosa. E, assim, ele nos aparece
dotado de uma verdade e até de uma fatalidade que nos tranquiliza e permite que nos apliquemos às dissertações mais vastas ou imaginosas. Na história da literatura brasileira, nenhum acontecimento é mais denso e rico dessa nota extraordinária em que um episódio parece resumir e explicar toda uma jornada da existência, outorgando-lhe uma verdade final, do que a morte de Cruz e Sousa. Devastado p e l a t u b e r c u l o s e, ele morre em Barbacena, em 1898, e seu corpo, envolvido num saco de estopa, é trasladado para o Rio de Janeiro num vagão destinado ao transporte de cavalos.
Os temperamentos menos afeiçoados ao lado misterioso da vida não se recusam a reconhecer uma espécie de coerência cruel que impera em certas existências até o desfecho. No caso de Cruz e Sousa, é como se a própria mor te se tivesse incumbido de punir uma de suas vítimas com uma humilhação derradeira, c onfe rindo uma visibilidade i n exo r áve l a u m a maldição. A condição de negro puro o conduziu a u m a n o t ó r i a m a rgi na l i da d e s o c ia l, ora ostensiva, ora mascarada pela tolerância dos convívios inevitáveis. E, ao lado dessa separação, a qualidade de poeta simbolista terá criado, em torno dele, fronteiras e hostilidades mais intransponíveis ainda. Quando da criação da Academia Bra-
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sileira de Letras, em 18 97, um a n o antes da morte de Cruz e Sousa, o seu nome foi lembrado para ser um dos seus integrantes. O fato de o poeta ser negro não haveria de constituir obstáculo relevante para o seu ingresso na instituição. O mulato escuro Machado de Assis imperava na formação do novo cenáculo, respeitosamente rodeado de numerosos e entusiásticos mestiços claros. E, a propósito de Machado de Assis, vem a talho de foice relembrar que a majestade das letras, o seleto convívio social e a amizade que o unia ao aristocrático Joaquim Nabuc o já o haviam praticamente embranquecido – e de tal modo que, no seu atestado de óbito, ele figura como pertencente à raça branca. Ta m b é m e nt r e o s
fundadores da Academia trafegava, com o invejável desembaraço que ainda hoje c onfunde os seus biógrafos, o negro José do Patrocínio – amigo e compan h e i r o d e C r uz e Sousa , que have ria de incumbir-se do sepultamento do poeta no Rio de Janeiro, vencida a
humilhante etapa ferroviária do vagão de transporte de cavalos. Foi o Simbolismo, esse movimento poético tão emparedado como o próprio poeta, que vedou a entrada de Cruz e Sousa na instituição que, em seu nascedouro, se tornou a 9
grande fortaleza do Realismo, do Parnasianismo e do Naturalismo, sob a regência férrea de Machado de Assis, Coelho Neto, Olavo Bilac e Alber to de Oliveira, e a vigilância crítica de José Ve rís s i m o. N e s s e ambiente que conferia à Arte um sentido quase religioso e na qual os condores românticos tinham sido substituídos pelos buriladores e cinzeladores do verso e da prosa, não havia lugar para o branco cisne simbolista – e muito menos para o insólito, incômodo, indesejável e talvez inex p li c ável c is ne negro. A incompreensão crítica que rodeou o Simbolismo brasileiro pode ser aferida pela fa m os a c rít i c a d e José Veríssimo que figura na 6° série de seus Estudos de literatura brasileira.
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Nela, o crítico sustenta que a poesia d e C r uz e S o u s a decorre de sua condição de preto – e de “preto ignorante”, para repetir aqui as suas duras palavras. Para José Veríssimo, todos os versos do poeta de Broquéis “ Têm a monotonia barulhenta do tam-tam africano”. A sua música, que enfeitiça o leitor de agora pelo seu mágico poder de envolvimento rítmico e verbal, ele a atribui ao “dom da melodia, que é comum nos negros”. O crítico e históriador literário chega mesmo a condenar Cruz e Sousa pela sua “impossibilidade de exprimir o que acaso sentiria – ou talvez não sentisse, não vendo na poesia senão uma acumulação melo diosa de palavras”. E completa: “É o que explica o seu processo, um verdadeiro cacoete, próprio dos primitivos, das
re p et i ç õ es e nfát i cas, substituindo expressões que lhe faltam.” Assim, para o nefasto crítico do nosso Realismo, a importância da poesia de Cruz e Sousa – desse “negro bom, sentimental, ignorante, de uma esquisita sen-
sibilidade” – não passava de uma carinhosa invenção ou farsa de amigos, já que o poeta não possuía, a seu ver, “nenhuma concepção teórica de sua arte, nenhuma estét i c a a c o m un i c a r, nem sequer, creio eu [isto é, crê José 10
Veríssimo], consciência de sua arte”. A leitura do universo poético de Cruz e Sousa, após 12 2 a n o s d a s u a mor te, aponta evidentemente para uma direção contrária àquela que José Veríssimo tanto exaltou. Não a Áfr i c a dos batuques e ritos ancestrais, mas a civilizada e refinada Europa que produziu o Simbolismo e permitiu que um negro b r a s i l e i r o, c o m o seu gênio singular, transplantasse para a língua portuguesa ritmos, imagens, analogias, metáforas, a sua festa de assonâncias, aliterações, enumerações ordenadas e caóticas e toda uma retóric a peregrina. Os processos e exemplos de expressão lírica verberados por José Veríssimo e outros críticos do seu tempo não são africanismos e sim musicalidades e
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europeísmos requintados. Foi nela, nessa Europa que associou o Símbolo à criação poética, que Cruz e Sousa, leitor e admirador fervoroso dos parnasianos e simbolistas franceses, especialmente d e V i c to r H u g o e Baudelaire, extraiu a
embranquecimento pela cultura buscada nas mais requintadas e prestigiosas fontes ocidentais, com um ex t ra o r d i ná r i o poder de assimilação do qual resultou o aprimoramento persistente dos dons nativos, convertidos em suprema arte lite-
lição magistral que haveria de firmar e afirmar a sua esplêndida marginalidade e genial diferença.
rária e poética. Lembro, aliás, que essa operação, em que um talento ou u m g ê n i o n a t i vo s se apoderam antropofagicamente dos alimentos espirituais da Europa , trans formando-os em faustosos banquetes pessoais, nem
Em Cruz e Sousa ocorreu, por caminho diferente, aventura estética assemelhada à de Machado de Assis: a do
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sempre inspira aceitação ou simpatia. Assim, o sertanejo Grac ilian o Ram os costumava chamar Machado de Assis de “negro metido a inglês”. No trajeto do reconhecimento de Cruz e Sousa como um dos maiores poetas produzidos pelo nosso pais e pela nossa língua, devemos ao ensaísta francês Roger Basti de uma c on sagradora fixaç ão hierárquica. Ele colocou o nosso poeta ao lado do alemão Stefan George e do f r a n c ê s S té p h a n e Mallarmé, considerando-os os três grandes expoentes universais do Simbolismo. A fina observação de Roger Bastide, exarada na década de 40, não foi empalidecida pelo tempo; e ainda hoje ela deve ser preservada, e s p e c i a l m e n te s e levarmos em conta
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que a poesia é uma o p e r a ç ã o l i n g uís tica e etimológica, um en c a nt a m ento produzido pelo agenciamento das palavras e estruturação da linguagem. Nesse plano encantatório e musical, o nosso cisne negro não se secundariza. As suas penas escuras são tão belas e augustas como as dos preclaros cisnes brancos do outro lado do Atlântico. Uma aura lhe circunda a poesia – e eu diria, mesmo, que ela é profundamente europeizada, dotada de um clima de estrangeiridade que, às vezes, alcança o paroxismo. O leitor e as similad or d os clangores hugoanos está presente nos primeiros poemas, no parnasianismo que haveria de sustentar a sua ex p r e s s ã o d e f i n i tiva. E, ao lado de Victor Hugo, outras
leituras e assimilações e até paródias e empréstimos inevitáveis, atravessam e nutrem a sua arte poética, identificando-o como um leitor reiterado de Baudelaire, tanto de seus versos, como de seus poemas em prosa e até da teoria das correspondências. E ele ostenta
ainda a musicalidade embaladora de Verlaine e uma certa marmorização do verso, procedimento sorvido decerto em Théophile Gautier. E , f i n a l m e n t e, h á a presença larga de Mallarmé. Não ap enas os faun os o perseguiram. Em sua vida, Cruz e 12
Sousa experimen tou “ l e fouet d’un m o n a r q u e r a g e ur, Le Guignon” (“o chicote de um monarca enraivecido, o Azar”). Uma formação estética harmoniosa rege a trajetória do negro Cruz e Sousa, impondo-o como um dos poetas mais branc os de nos sa história, no tocante aos seus meios de expressão e aos s eus interes s es e curiosidades culturais. Essa brancura, que se assenta nos processos poemáticos e versificatórios e em sua auré ola espiritual, não esconde, porém, as numerosas ilhas d e n e g r i t u d e, e m que o poeta alude à sua raça, à sua classe, ao amargurado e desamparado destino pessoal gerado pela sua cor humilhada e até amaldiçoada. Num de seus sonetos, ele assim se exprime:
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Neste mundo tão trágico, tamanho, Como eu me sinto fundamente estranho E o amor e tudo para mim avaro… Ah! Como eu sinto compungidamente, Por entre tanto horror indiferente, Um frio sepulcral de desamparo. H o r r o r , e s t r a - sentimentos percor- o selo de sua condinheza, indiferença, rem toda a poesia de ção. E, no poema “As desamparo – esses Cruz e Sousa, como devotas”, ele alude À raça que se amortalha No horror que não se define… A condição pessoal se casa, visceralmente, ao estranhamento e marginalidade que o Simbolismo outorgou aos seus sequa zes. Todo o empório estilístico da escola, inclusive a transição expressional em que o Parnasianismo se endereça a uma nova estética, está em Cruz e Sousa, como um legado fulgurante. Uma estranheza existencial resplandece na refinada arte poética dos sonetos de Faróis, que parecem buscar uma perfeição além da perfeição. Numa vertigem impre-
catória, o poeta protesta contra a sua ínfima situação terrestre. Na cachoeira rítmica dos refrões, repetições e reiterações, a sua musicalidade arrasta uma soberba procissão de imagens e visualidades. Poeta extremamente sensível à transição e variação das horas e dos dias, Cruz e Sousa explora o cromatismo das paisagens que esvaecem e se eterizam para registrar essas mutações. Desde os primeiros poemas até os derradeiros, uma queixa interminável se eleva 13
rumo ao céu mudo, atrelada a um desfile de sinestesias perturbadoras. As palavras, prismáticas, fulguram como joias da melhor água. Dotado desses s or tilégios suc es sivos, o poema de Cr uz e Sous a s e torna grávido de significados diversos ou numerosos. São dicções de um território de difícil demarcação: da noite que é dia, do dia que é noite, da tarde que é manhã. A abolição do cotidiano abre a porta para todas as misteriosidades e impenetrabilidades, da mais chã à mais side-
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ral. Em toda a poesia em língua portuguesa, ninguém alcançou, como Cruz e Sousa, esse poder de encantaç ão que fa z da poesia uma persistente alquimia do verbo, dentro da mais ortodoxa lição rimbaudiana. A sua poesia não é apenas uma linguagem específica e pessoal dentro do vasto território da língua comum. É uma linguagem dentro da própria linguagem poética: uma lunaridade que con-
fere clareza à escura mores. Numa fusão noite da alma e uma misteriosa, noite e dia solaridade atropelada ao mesmo tempo clareiam e ensombrecem a atormentada marcha do poeta em busca das brancuras cósmicas e espirituais dos mundos estelares e das almas aflitas, e das brancuras das carnes femininas, que povoam os seus sonhos de negro sensual. E ele celebra tanto as “Brancuras imortais da Lua Nova” como as mãos e os seios e os corpos brande sombras e cla- cos:
Ó Mãos ebúrneas, Mãos de claros veios, Esquisitas tulipas delicadas, Lânguidas mãos sutis e abandonadas, Finas e brancas, no esplendor dos seios. Em outro soneto, “As hóstias”, ele confere um sentido ao mesmo tempo religioso e sensual à união com uma mulher branca: Como num templo, numa clara igreja, Que o sonho nupcial gozado seja, Que eu durma e sonhe nos teus níveos flancos. Contigo aos astros fúlgidos alado, Que sejam hóstias para o meu noivado As flores virgens dos teus seios brancos! Note-se que, nesse clara. Em sua poesia, com frequência, vocásoneto, até a igreja é Cruz e Sousa utiliza, bulos do glossário 14
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litúrgico ou eclesial. É um dos procedimentos estilísticos mais contumazes da escola simbolista, caracterizada pela luxuosidade da linguagem e adoção de palavras raras, como se pode verificar em Yeats, Mallarmé, Rubén Darío, Stefan George, J. K. Huysmans. O festival de brancuras e luminosidades que domina a sua poesia – uma brancura estilís t i c a d e a d e p t o fervoroso do Simbolismo, uma brancura obsessional ancorada no mais fundo de sua psicologia e de sua fisiologia de homem de cor – não o impede de cantar a beleza negra. Em muitos dos seus poemas, a negra Gavita – com quem se casou em 1893 – surge de forma ora ostensiva, ora alusiva ou metafórica; e o poeta partilha com ela os seus sonhos e desgraças, endereça-lhe a sua
inquietação metafísica e os seus ambíguos anseios carnais, protesta contra as misérias que os rodeiam e exprime as nostalgias de uma vida mais alta e mais pura. Gavita, como se sabe, deu-lhe três filhos, que morre -
ram tuberculosos. E ela mesma morreu louca e tuberculosa, em 1901, o que acent ua a i n d a m a i s a veemência do guignon mallarmeano, do mau olhado, do destino impiedoso que p e r s e g ui u Cr uz e Sousa e sua família. O negror da noite, 15
dos corpos dos escravos nas senzalas, de certas c abeleireiras, dos escuros vinhos embriagadores, remete para os temas em que o poeta mergulha na treva, nela reconhecendo a sua pátria primitiva, a sua origem e a fatalidade do seu destino. O encanto ou enfeit i ç a m e n t o ve r b a l , essa magia da linguagem que se torna clara à força de ser obscura e sibilina, levou Cruz e Sousa a criar, com o seu estranhamento, um território mágico em que o homem proclama a sua solidão e emparedamento, a impossibilidade de realizar uma comunicação ou uma comunhão com os seus semelhantes e, num tom imprec a t ó r i o, d e d o r e revolta, lamenta a miséria de sua travessia terrestre, o seu emparedamento
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social e existencial. O alto e raro lavor poético desse lamento lancinante assegura ao poeta um lugar excelso na poesia brasileira. Nesse páramo, ele se distingue pela sua estrangeiridade: c isne negro entre as águias e sabiás do Romantismo, os c a n á r i o s d o Pa rnasianismo e os papagaios do Modernismo. Contudo, há um regionalismo como que escondido ou disfarçado em Cruz e Sousa. As suas névoas e brumas, que uma leitura inocente poderá conduzir à conclusão de que ele transplantou para a nossa língua o clima dos simbolistas franceses e belgas, c o m o Ve r l a i n e e Rodenbach, não destoam das névoas e brumas da cidade de Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, onde ele
nas c eu, em 1861. No seu desamparo e deslumbramento c ósmic os freme a contemplação do vasto céu brasileiro. As suas ilhas aparentemente imaginárias bem podem ser as de sua terra nativa, esse estado de Santa Catarina que tão
cedo e tão belamente soube reconhecer o gênio poético de seu filho negro e filho de escravos. E os pinheiros que se erguem airosamente em seus versos poderão ser menos europeus do que se pensa, d es d e que or nam
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as formosas paisagens catarinenses. Mesmo a obsessão de mulheres brancas e louras não se distancia do ambiente natal, do Brasil diferente colonizado por alemães e açorianos, poloneses e italianos. Assim, a alienação geográfica de Cruz e Sousa pode ser apenas o res ul t a d o d e uma leitura parcial e preconcebida. Paira em toda a sua obra poética uma fulguração tropical que é o selo vistoso de sua natividade e brasilidade. Um século transcorreu desde o dia em que um trem, vindo de Barbacena, trouxe o c orpo de Cruz e Sousa, num saco de estopa, estendido num vagão destinado ao transporte de cavalos. Nestes cento e vinte e dois anos a sua obra percorreu um itinerário consagrador,
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Sorrindo a céus que vão se desvendando, A mundos que se vão multiplicando, A portas de ouro que se vão abrindo! O poeta maldito se tornou um dos nossos clássicos mais eminentes. Cruz e Sousa é hoje Castro Alves, Gonçal- Carlos Drummond de um dos nossos poetas ves Dias, Olavo Bilac, Andrade. A sua voz é nacionais, ao lado de Manuel Bandeira e uma das mais altas No silêncio das noites estreladas. Rendida a essa c on di ç ão gl or i os a d e C r uz e S o u s a e associando-se a Academia Brasileira de Letras que ora o festeja, reverente e arrependida por não
ter feito dele um dos nossos. (Embora ele, Cruz e Sousa, seja muito maior do que muito imortal da Academia. Nota do editor) [Do livro O Aju-
dante de Mentiroso | © Lêdo Ivo, 2009 | Publicado pela Educam, Editora Universitária Candido Mendes | Reproduzido com autorização do Autor.]
Veja um trecho do poema “Cristais”, no qual é claro o uso da sinestesia, recurso estilístico que associa dois sentidos ou mais (audição, visão, olfato, etc.): Mais claro e fino do que as finas pratas o som da tua voz deliciava… Na dolência velada das sonatas como um perfume a tudo perfumava. Era um som feito luz, eram volatas em lânguida espiral que iluminava, brancas sonoridades de cascatas… Tanta harmonia melancolizava. Filtros sutis de melodias, de ondas de cantos volutuosos como rondas de silfos leves, sensuais, lascivos… Como que anseios invisíveis, mudos, da brancura das sedas e veludos, das virgindades, dos pudores vivos. 17
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DESEJO UM EXCELENTE DIA!
Michele Stringhini
Desejo um excelente dia, Pois posso acordar e sentir que a vida Me proporciona mais uma chance. Desejo um excelente dia, Pois desfruto da felicidade Com quem me ama todos os dias. Desejo um excelente dia, A todos que respiram bondade. Desejo um excelente dia, A quem batalha todos os dias. Desejo um excelente dia, Aos professores que todos os dias Empenham esforços e muito conhecimento com qualidade. Desejo um excelente dia, A todo estudante que se dedica aos estudos, Alcança boas notas e avança de ano por mérito próprio. Desejo um excelente dia, A todo agricultor, policial, bombeiro, enfermeiro, médico, escritor, poeta, Desenhista, pintor, gari, dona de
casa, menino, menina, independentemente da cor, Independentemente da nacionalidade ou classe social, Independentemente do cargo ou formação, Independentemente do nível cultural. Desejo um excelente dia! Promovemos uma pausa para desejar um excelente dia!
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Florianópolis-SC – Março/2020 – N. 152 – Edições A ILHA – Ano 39
LIVRO, ESSA ARMA PERIGOSA
Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos em 2020. Http:// lcamorim.blogspot. com.br – http://www. prosapoesiaecia. xpg.com.br
Mencionei, em uma outra crônica recente, que o ano de 2020 não começou muito bem, mas me referia ao mau tempo que vem
causando estragos em al guns p ontos d o B rasil. Mas se olharmos para o e s t a d o l a s t i m áve l em que se encontram a cultura e a educação deste país, entre outras coisas, percebemos que, infelizmente, a coisa chega a ser bem mais grave. No início de fevereiro, estouraram notícias de censura de livros de literatura clássica e também contemporânea, em Ron d ônia . Em seguida, a biblioteca da Presidência, em Brasília, foi desm o n t a d a para dar lugar a um gabinete d a p r i m e i r a d a ma do país. Antes disso
Biblioteca da Presidência, sendo desmontada.
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tudo, o presidente criticou os livros didáticos, dizendo, entre outras coisas, que “Os livros hoje em dia, como regra, são um amontoado de muita coisa escrita”. Os “políticos” brasileiros não têm nenhuma cult u r a e n ã o f a ze m n e n h um a q u e s t ã o de ter. O q ue es t á ac on t e c e n d o? J á n ã o basta o estado de falência da educação brasileira, agora vamos demonizar os livros para que se leia menos ainda do que já se lê, por aqui? E isto tud o par tin d o d a s “ a u to r i d a d e s ” maiores do país, que deveriam zelar p ela educ aç ão de seus cidadãos, pela manutenção da cultura e da arte para todos. Eles, que são pagos por nós, que estão a nosso ser viço, que estão a ser viço do povo e deveriam traba-
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lhar para ele, e que fazem justamente o contrário. É inadmissível, mas o Estado de Ron dônia censurou – ia mandar reco lher das bibliotecas, mesmo, mas depois com o clamor do povo, indignado c o m o r et r o c e s s o e falta de respeito, voltou atrás – livros de grandes escritores brasileiros como Mário de Andrade, Ferreira Goular t, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Machado de Assis, Euclides da Cunha e outros e também e s c r i t o r e s i n te rnacionais, como Franz Kafka, Edgar Allan Poe. A des c u l p a? O s l i v r o s fo ra m “ c o n s i d era dos inadequados para crianças e a d o l es c e ntes ”. Quem serão esses “ ex p e r t s ” e m l i te ratura do governo de Rondônia que acham que tem c o m p etên c ia pa ra
refugar obras de grandes escritores e autores de clássicos? Voltamos no tempo, regredimos, ao invés de nos desenvolvermos, d e p r o g r e d i r m o s? Es t a m os vo l t a n d o ao nazismo, à inquisição? É inacreditável. E a B i b l i ote c a d a Presidência, num país onde o presidente acha que os livros “ têm muita c o i s a e s c r i t a”, foi desmontada, porque o “governo” precisava de mais es paç o para mais um ga b i n ete p a r a
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a primeira dama. A Biblioteca da Presidência abriga 42 mil itens, mais três mil d i s c ur s os d e p re sidentes, pois uma de suas funções é preservar a memória dos presidentes do país. Com o desmonte, a biblioteca presidencial do Planalto terá seus espaços de estudo, c onv i vên c ia e l ei t ur a p r at i c a m e n te ex t i n t o s . Ta m b é m não terá mais capacidade de aumentar o acervo. Mas já no mês de setembro de 2019, a censura amea-
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ç ava o d i r e i t o d e expressão e da livre escolha dos cidadãos deste país: Crivela, prefeito do Rio de Janeiro, c oloc ou fiscais da prefeitura para percorrer os estandes da Bienal do Livro, que acontecia na Cidade Maravilhosa, para verificar se não havia livros q u e e s t ava m f o r a do padrão que eles estipularam. Ou seja: livros que tratassem da temática gay, pois foi o beijo entre dois meninos na história em quadrinhos Vingadores q u e d ef l a g r o u e m
Crivela a prepotência de censurador. Como disse Mônica Bergamo, “um novo e sombrio tempo se anuncia, da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias e do repúdio ao princípio democrático”. Vivemos tempos bicudos. Mais e mais eventos de violência contra o li v ro vêm ac on tecendo neste nosso país. Vamos começar a queimar livros, agora , em praça pública, como em tempos
idos que não deveriam ser revividos? E s t a m o s ve n d o a luz no fim do túnel s e a p a g a r. I s s o é muito grave. Há que se fazer alguma coisa, pois isso não pode continuar. Livro é uma arma perigosa, sim, mas contra a ignorância, a intolerância e a falta de cultura. Não aprendemos nada, com os erros do passado? O que deveria ser vir de lembrança para não repetirmos absurdos está serv in d o d e exem p l o para recriar atrocidades?
REVISÃO DE TEXTOS E EDIÇÃO DE LIVROS Da revisão até a entrega dos arquivos prontos para imprimir. Contato: revisaolca@gmail.com
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PALÁCIO CRUZ E SOUSA
Maura de Senna Pereira
Agora eu sei que a Poesia é todopoderosa
(Agora eu sei, ó Cisne Negro que a Dama Branca levou)
e nem sair de ventre escravo ser pobre e desprezado enviar bilhetes mendigando pão e soluçar na véspera da morte impedem o canto imorredouro
Faz oitenta anos e como se a terra elegesse o filho máximo seu nome é hoje nume no Paço mor, primor arquitetônico restaurado, Palácio rosado, róseo, rosa, onde grandes homens tem mandado
miséria, dor, injustas contingências mais fazendo brilhar o gênio emparedado - e seu Missal e seus Broquéis e seus Faróis e os clarões finais dos Últimos Sonetos
Agora eu sei que a Poesia é todopoderosa
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momento, não reparei se uso roupa de baixo, mas isso será necessário? Sinceramente não sei responder. DESPERTAR Para tampar meus Marli Lúcia Lisboa órgãos sexuais (Bulucha) – São José, SC serão necessárias d ua s ves tes, uma M a n h ã . A b r o o s em cima da outra? É olhos e interrogo - engraçado. -me: eu sou quem? Não sei que dia é Percorro um olhar lento pelo meu quarto e reparo coisas, algo, matéria. Na extremidade, à direita do meu leito, há algo que reflete o que passa p e l a s u a f r e n t e: espelho! Dirijo-me a ele e não reparo em mim, senão matéria que respira. Vive? Não sei o que deveria ver no espelho. Como todas as ma n hã s , v i s to - m e maquinalmente, sem s ent ir meu c or p o, minha roupa. Não sinto nada! Apesar d i s s o, re pa r o na s cores que estão me c obrindo: a zul claro e branco. Um 23
hoje e não pretendo saber. Aqui fora o mundo é inteiro, complexo, diferente. Todos correm com seus afazeres, mas como não tenho afazeres, meus passos são lentos, meu andar é calmo. Hoje é ontem, será amanhã. Será amanhã?
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Não tenho pensamentos. Vejo, lá ao longe, uma construção chegando ao seu término, estão p i n t a n d o. Pa r a l á chegar, deve faltar algum tempo. Vou caminhando. Chego agora em um cruzamento: ao sinal vermelho, os carros param como máquinas e ao sinal verde os seres atravessam a rua como... como máquinas? Não sei, eu atravesso. À minha frente, caminha um menino com uma tabuleta nas c ostas: “COMO TODO SER HUMANO, VÁ AMAR, SENTIR ESTE VERÃO COM COCA- COL A
1 L I T R O ”. E n t r o em um bar e peço este liquido bem g e l a d o, n ã o s i n to g os to. Pag o, s a i o e continuo minha caminhada. No decorrer dos meus passos, encontro pela calçada alguma coisa pedindo esmola pelo amor de sei lá quem. Amor? Amor. Palavra es quisita , esta. Deixo essa coisa para trás e chego em outra travessa. Esta não tem lua , sinaleira , p or isso atravesso sem m e i nte r e s s a r e m olhar para os lados. Alguém grita: - Cuidado o carro! Eu, m e c ui d a r d e uma máquina? Pois 24
sim, é uma máquina guiando outra. E se me bater? Não tem impor tância, não sentirei nada, apenas deixarei de respirar esse ar p es ad o, pa rad o e sem vida. Morrerei. Passado esse momento de impacto, caminho e passo por uma discoteca. Há sons saindo de dentro dela, só que não consigo diferenciar se o som é de animal ou não. Ah! Lá longe está a construção que está sendo pintada. Um cachorro anda sem destino à minha frente e, pela lei da natureza , para no primeiro poste que encontra. No outro lado da rua há uma turma de hippies. O que será que eles são? Serão alguma c o i s a? S e r e i u m deles? Não, eu não sinto isso, pra que pensar? Uma freada brusca fa z- me olhar para
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trás, como que por um instinto animal. Apenas uma máquina que atropela uma criança, ela só chegou a levar um susto, como dizem! Olhando em frente, vejo que não é possível seguir em linha reta até a construção. Sou obrigado a desviar-me para a direita e deixar de contemplar a pintura do prédio por alguns minutos. Atravesso uma rua estreita, amontoada de seres que correm como que ligados por um botão, como se estivessem obedecendo a um comando. Escuto uma voz gritando: “Globo! ”. Passo e compro um jornal, mas nem me interesso em olhá-lo. Tiro o dinheiro do bolso da minha calça e percebo que não estou com roupa de baixo. Dou a nota para o jornaleiro e nem espero pelo troco.
Recomeço a andar. Ah! Vejo de novo a c onstrução, agora em linha reta, finalmente chegarei até lá. Até lá, para fazer o quê? O que me faz caminhar até e s s a c o n s t r u ç ã o? Um impulso dentro de mim, s erá que estou obedecendo alguma máquina? Há uma criança chorando que agarra as saias de sua mãe, pedindo um picolé. Sim, o tempo está quente, mas não devo sentir calor. - Vai uma graxa aí? Olho os meus pés e vejo que estou de chinelo. - Não. Onde está minha máquina? Não tenho máquina, eu ando. Mas não sinto meu a n d a r, é a u t o m á -
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tico. Será...? Estou mais perto da construção, os operários já estão com a pintura bem adiantada. Devem estar no segundo andar ou n o t e r c e i r o, m a i s ou menos. Daqui a algumas horas terminarão seu serviço e a construção estará pronta. Eles, os operários, obedecem a algum botão de dentro de si? Ainda não sei o que me fa z c ami nhar até essa já maldita construção. - Po r f av o r, v o c ê poderia me informar as horas? Olho em meu pulso e não tenho relógio. - Não. Sim, não sei que horas são. Quanto tempo estou a caminhar, a que horas
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m e a c o r d e i? N ã o saberei a hora que irei chegar à construção que está sendo pintada e nem a hora que chegarei de volta à minha toca. Ih! Sinto que terei que ir ao banheiro. Preciso entrar em u m b a r. I n f e l i z mente, não poderei agir como aquele cachorro que encontrei momentos antes. Encontro um bar e e n t r o. Fa ç o d e forma mais rápida dessa vez, pois estou sem roupa de baixo. Acabo de evacuar e limpo-me. L i m p a r- m e? S i m , lim par- m e a p ena s para não sujar minha c al ç a , p oi s estou sem roupa de baixo. Antes de sair do bar, compro cigarro, mas máquina e animal não fumam. Eu não fumo. Jogo os cigarros fora e l o g o ve j o a r a p a ziada atacar os
mesmos, como per feitos animais loucos. A c o n s t r u ç ão? Ah! Ali está ela, já p e r t o. C o n t i n u a m a pintura, ainda não acabaram. O que será o dia de amanhã? Não penso, não sinto! A fila para entrar naquela cabine é
t r e m e n d a . To d o s são animais domesticados, enfileirados para poderem tocar naquele corpinho preto e falarem. Ora b olas! E ainda é necessário pagar a máquina! Já estou mais perto da construção. Já posso 26
perceber duas latas de tinta em cima do andaime. A marca, não sei. Atravesso a rua com passos mais rápidos, mas quando chego na calçada, paro. Não ando, não olho, não p e n s o, n ã o s i n t o, não respiro, não sou nada, não sei de nada, não, não... Estou na mesma calçada onde está a construção. A tinta, a pintura branca... Sim, sim... devo saber de algo, estou vivo, devo respirar, d e v o s e n t i r, m a s não sinto ainda, penso em nada, abro os olhos e olho os meus pés... ando. Primeiro passo, pé direito, pé esquerdo p a r a d o . P é esquerdo, pé direito parado. Assim é meu andar! Se quiser, pode andar junto comigo! Eu a c onvido para esta aventura, máquina. Você! Recomeço meus
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passos lentamente. Não olho para a frente, olho para os lados. Uma senhora deixa cair as compras. Passo por ela sem parar. Não paro, mas meus passos são lentos. Quero desligar-me da c onstrução, da pintura... Há uma loja de móveis. Meus passos são lentos, c h e g a m a p a r a r. Ve j o u m e s p e l h o. Serei eu? Eu? Não. Estou sem roupa d e b a i xo, d eve r i a ficar transparente. O que passa pela sua frente, espelho? Serão máquinas
sem roupa de baixo, animais, sons, que mais? Serão latas de tinta...? Não sei, não quero saber. Veja só que coisa engraçada! Um palhaço, não consigo rir. Há alguma máquina trabalhando comigo nisso tudo? Vo l t o - m e p a r a a frente... e... esbarro-me. A construção está logo ali, a pouc os metros de mim. Dirijo meu olhar para o andaime, não há ninguém. Há uma lata de tinta. Antes, há um bar. Volto-me para o bar sentindo... não sentindo nada. Uma
tabuleta indica o resultado da extração de hoje da loteria federal. Vejo números, mas eles nada me indic am, não compro bilhetes da loteria. São máquinas. Volto a caminhar, a lata de tinta não vejo mais, pois não olho para cima. Estou com o pé direito na fachada da construção. De repente... (Primeira parte da novela HORA H, uma sequência de capítulos que podem s e r l i d o s s e p a ra damente, como contos.)
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POEMA DE AMOR À VIDA
OLHO O POEMA
Teresinka Pereira – Estados Unidos
Jacqueline Aisenman – Suiça
Olho o que temo iluminando o meu desatino: um poema transformado na mão que oferece no rosto que aparece no jovem que se foi...
Há uma vaga que sobe em meu coração... ela é tão forte, tão forte, tão forte... mas desaba na areia dos meus olhos em doce e suave espuma... É que meu coração anda cantante ele tem dentro de si tanto amor... que acaba por transbordar nos meus olhos como se fosse perfume... Tenho esta alegria interna De sentir a vibração do universo E mesmo a aproximação do inverno Não tira de mim a emoção que se dispersa! Há um sonho em meu coração ele é tão grande, tão grande, tão grande e se joga em mim transformando a realidade... É que este sonho é verdadeiro ele tem dentro dele tanto ardor... que desafoga as mágoas e tudo transforma em felicidade... Meu coração sonha Sonha o meu coração Meu coração concebe a vida e eu acredito nela!
O poema já me pesa nos olhos, nas mãos, no peito, nos ombros e principalmente na boca. O poema ficou desafiando o meu presente e o meu futuro. Juro que este poema foi um erro de cálculo, um erro de tempo, de eco, uma exibição de rima um diminuto querer que já se acabou
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MAR SEM FIM Maria Teresa Freire – Curitiba, PR
À beira do lago, o vento suave balança as árvores, ondula as águas, anuncia o dia quente pronto p a r a a s aíd a d a s embarcações. Cada barco leva um sentimento que acalenta a alma do mar inheiro. Es p e rança de encontrar na sua viagem o b em que lhe sus tenta a vida. Medo por não saber
enfrentar o que o mar pode lhe causar. Ansiedade p or s in grar n ova s rotas e descobrir o inusitado, o desconhecido. Entusiasmo pela liberdade conquistada e sentida na pele que o sol aquece e a água salgada umedece. Coragem por chegar mais longe, onde o embalo das ondas o levarem e o vento, às vezes ameno, às vezes bravio, o conduzirem. Determinação para continuar em frente, ainda que almeje pela segurança
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da terra firme. Paz naquele imenso oceano, agora c alm o, m os tran d o a infinitude da natureza, a sua força, o seu poder que lhe penetra nas entranha s e fa z d es s e marinheiro um intrép i d o, ave n t ur e i r o, sonhador, viajante das águas do mundo. Singra mares, aporta em ilhas desconhecidas, descobre praias nunca exploradas, transporta passageiros ávidos pela aventura ou plácidos turistas a usufruirem o sol forte que lhes bronzeia a pele. Também pode pescar grandes e pequenos peixes que en c hem s eus porões, que lhe dão ganho de vida. Navega, navega. Por várias razões. Para cumprir suas funções, suas promessas, para realizar seu trabalho. Mas, acima de tudo, porque ama a imen-
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sidão do mar, que sempre lhe espera, bravio, calmo, verde, azul. Sempre aguardando o marinheiro que não lhe nega o chamado. Suas conquistas, sua alma apaziguada, conduzem-no pelo rastro que seu barco sulcou, trazendo-o de volta para seu anc oradouro onde se abraça à alegria de viver, de saborear a condição de ir,
mas de voltar, conforme seu coração o guia, seu desejo lhe dita, sua mente decide. O marinheiro parte na confiança do seu reto r n o. Po r ma i s
que anseie pelo mar aberto à sua disposição e à sua vontade, o seu acalento está na beirada do lago, o seu aconchego está nos braços de quem o aguarda, nos olhos de quem o vê ao l o n g e, n o s orriso atraente que lhe sente a falta. O marinheiro aporta, seu barco ancora. Ali, queda-se na espera da próxima i da , s a b e n d o q ue volta.
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ALÉM DA MONTANHA Erna Pidner – Ipatinga, MG
Além da montanha, Num recanto escondido, Onde há paz, harmonia Entre a terra e o céu, Onde tudo combina Num cenário perfeito, Onde reina a beleza, Onde impera o amor, Onde os raios de sol Dão mais luz e calor, Onde o vento assobia Uma linda canção, Onde nenhum mortal Se aventura a chegar, Onde só me é dado Ir com o meu pensamento, Lá se encontra guardado Um imenso tesouro Que me foi confiado. Tesouro inesgotável, Como esse, não há. Tantas vezes lá fui E dele me servi, Mas inexplicavelmente, Nunca chega ao fim: Cada vez enriquece mais
O meu interior, Quando vê que lhe dou O devido valor. Pra que dele tu fazes Um tão grande segredo? Irás me perguntar, E direi que não faço E o divido contigo, , Pois esse imenso tesouro, Mais valioso que ouro, Não é mais que a fonte De minha inspiração.
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A PARTIDA
SUSANA ZILLI DE MELO
A tarde se deitava, o sol se desmoronou sobre o horizonte, que se transformou pouco a pouco num braseiro coberto de um imenso manto. A noite calmamente chegou, o mar vibrava de emoção e os pássaros em revoada agradeciam por mais um dia. Pelos caminhos dos homens, mendigos estendiam as mãos numa súplica e o forte olhar impedia um não! vibrante. Pelas águas do mar, navios se despediam. As águas molhadas e sem medo corriam sucess i va m e nte p a r a a praia e lá se perdiam na areia quente. Nos campos, trabalhadores deixavam
seus afazeres e ingeriam o sacrifício ganho naquele dia e o repouso era somente uma pausa para o amanhã. Um poeta ao longe gritou: - Noite, és ao mesmo tempo glória e sepultura, pureza e impureza dos corações amantes!
poças de lama. Um canto encheu de saudade, amor, lágrimas e de ritmos suaves um olhar de criança. Por entre os cabelos a noite se fazia presente. Nos olhos, o dia era tranquilo e claro, anunciando ma i s um r a i a r d o s ol, que ainda se
O transparecer das águas, o brilho dos olhares longínquos, o romper dos abraços e o último som se fez ecoar. Pelas fazendas, galos corriam entre os milhos espalhados pelo chão, por entre cascalhos de pedras e
sentindo lento e sonolento, se desper tou. As mãos estendidas agradec iam esta nova promessa de vida, num pedido suplicante e sem cessar, quase como um devaneio: volta, volta, volta...
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QUEM É O FADO?
VISITA
Luiz Carlos Amorim
Pierre Aderne – Lisboa, Portugal
o fado é português mas ninguém sabe quem o fez construído com saudade, não se sabe sua idade, foi levado por um rio, pelos braços de um mar concebido pela dor, pela morte de um amor é a oração de um coração condenado a navegar…
Há muito tempo A poesia me visitou E ficou morando perto, Muito perto, Minha vizinha mais ilustre. Mais do que isso, Fez morada em mim, Inquilina vitalícia, Prima-irmã da emoção, Da minh’alma e da saudade. E essa proximidade, Esse aconchego, Essa cumplicidade, Me trouxe mais que poesia, Trouxe muitos poetas. Eles são meu alento, Irmãos na inspiração, São poemas caminhantes, Trilhamos o mesmo caminho. A poesia é o horizonte, Ela é a essência Da vida que eu quero verso.
o fado é português ninguém sabe quem o fez é alma de um porto o navio de um corpo são olhos de uma dor é a voz de um lamento é o silêncio de uma rua a ausência de uma lua é o destino de uma vida no porão de um sentimento…
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A TRAJETÓRIA DO LIVRO NO BRASIL Marcelo Vaz
A chegada da família real portuguesa no Brasil, em 1808, foi decisiva para que a colônia deixasse de ser submetida a amarras mercantilistas e começasse a consquistar a autonomia que lhe daria condições de seguir vida independente. Para o que viria a ser a indústria editorial brasileira, não foi diferente. Menos de dois meses após o desembarque da Corte portuguesa no Rio de Janeiro, o príncipe regente, dom João VI, emitiu uma carta régia autorizando a impressão no Brasil. Até então, qualquer escrito que surgisse na colônia deveria ser publicado na Europa ou permanecer na forma de manuscrito
– restrição que pode, em parte, ser atribuída ao conservadorismo da administração do marquês de Pombal (1750-1777), para quem a impressão na colônia significava fonte de poder e influência dos jesuítas. A carta régia de dom João VI foi impressa em um dos dois prelos (ou prensas) que Portugal impor tou da Inglaterra para uso na metrópole e que, ironicamente, devido às turbulências políticas de 1807, munca chegaram a ser usados lá: ficaram encaixotados no cais de Lisboa, com 28 tipos de fontes para impressão. “A arte de imprimir com tipos móveis, que os governantes por-
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tugueses tanto se empenharam para não deixar chegar ao Brasil, acabou sendo trazida ao país pelo próprio governo”, resume o inglês Laurence Hallewell em “O livro no Brasil”, possivelmente a mais completa história das editoras comerciais no Brasil. Resultante de tese de doutorado defendida naUniversidade de Essex(Inglaterra) em 1975, o livro chegou, há 15 anos, à segunda edição brasileira, publicada somente depois de Hallewell ter sido convidado a dar aulas de biblioteconomia na Universidade Federal da Paraíba. São 816 páginas de histórias detallhadas de edito-
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res e publicações, além de estatísticas que ajudam a compreender a formação e o desenvolvimento da cultura do livro no país. “O livro no Brasil” começa sua narrativa mesmo antes da descoberta da América, passa pelo primeiro século e meio de colônia, época em que “a indústria da impressão não era administrativamente necessária, nem economicamente possível”, registra a tentativa frustrada dos holandeses de introduzir a impressão em Recife, na década de 1640, e chega ao século XVIII, quando se tem prova definitiva da existência de uma prensa em território brsaileiro. Isidoro da Fonseca, um dos principais tipógrafos de Lisboa, foi responsável por um prelo no Rio em 1747. Ele teria vindo de Portugal, contra a vontade das autoridades da metrópole, a convite do governador do Rio e de Minas. Logo que se soube em Lisboa de
sua oficina de impressão, no mesmo ano ano, foi emitida uma ordem para fechá-la. Mas é somente no século XIX que, como conta Hallewell, essa história começa para valer. No início, ainda sob for te controle ideológico e, na capi-
tal, sob monopólio do governo, da instituição da Imprensa Régia, em maio de 1808, até maio de 1821, o órgão real deteve a exclusividade da impressão na Corte, como era conhecido o Rio. Por isso, não é de espantar que o pri35
meiro concorrente do órgão oficial não tenha sido da cidade: Manuel Antonio da Silva Serva, antigo comerciante de Lisboa, que instalou em 1811 sua tipografia em Salvador, “maior do que um mercado de tamanho limitado poderia justificar”. Como os preços cobrados pela Imprensa Régia eram demasiadamente altos, era fácil para ele conseguir encomendas na capital. Após o fim do monopólio, decretado em 2 de março de 1821, instalaram-se no Rio as primeiras oficinas tipográficas particulares. Às vésperas da independência, seriam cerca de sete. Na metade dessa mesma década, Paris tinha 480 livrarias e 850 tipografias Os príncipais tipógrafos dos anos que se seguiram foram Pierre R. François Plancher de la Noé, que imprimiu a Constituição do Império do Brasil, e Francisco de Paula Brito, sucessor de Plancher e “o
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primeiro editor digno deste nome que houve entre nós”, em citação de Machado de Assis. Além do elogio de Machado, Paula Brito pode ser lembrado também pelo fato de sua loja ter abrigado a “Sociedade Petalógica”, grupo de poetas, compositores, atores, líderes da sociedade, ministros de governo, senadores, jornalistas e médicos que “constituiam movimento romântico de 184060”. Não é fato isolado, no caso de Paula Brito, que uma loja ou casa editorial tenha sido ponto de encontro da eleite cultural. Como se descobre mais adiante na leitura, a paulistana Casa Garraux, de Anatole Louis Garraux foi, na década de 1870, local de encontro de estudantes da Faculdade de Direito, fundada em 1827, e de fazendeiros de café que eram educados, em número cada vez maior, na
França ou na Alemanha. Outro exemplo é a Livraria José Olympio, no Rio de Janeiro, onde se encontravam escritores e artistas de opinião progressista. Carlos Drummond de Andrade chega a sugerir que a orientação socialista da literatura brasileira entre 1935 e 1937
deveria ser compreendida como resultado dos bate-papos da rua do Ouvidor, número 110. O desenvolvimento de uma indústria editorial paulista viria na geração seguinte, com Monteiro Lobato. Segundo Hallewell, o escritor e editor deu pa s s os q ue ir ia m 36
revolucionar as perspec tivas d o autor brasileiro. Lobato se deu conta de que o mais sério problema que o livro enfrentava no Brasil era a falta de pontos de venda – havia pouco mais de trinta livrarias em todo o país, dispostas a aceitar livros em consignação. Então, em 1918, ele começou a oferecer livros para lojas de varejo, farmácias e padarias, mas não açougues, “por temor de que os livros ficassem sujos de sangue”. Isso lhe proporcionou uma rede de quase dois mil distribuidores espalhados pelo Brasil. O criador de Emília e companhia não parou por aí. Para cultivar um público leitor em âmbito nacional, implementou, além da distribuição, uma série de inovações: o lançamento de novos autores, o pagamento de direitos autorais compensadores, a publicidade em jornais,
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capas ilustradas e a melhoria na aparência interna dos livros. No início dos anos 1930, apareceu no Brasil um novo centro editorial, Porto Alegre. Lá era sediada a a livraria Globo, reconhecida no mercado livreiro brasileiro tanto pelos autores que passou a publicar, como pela qualidade, personificada na figura de Érico Veríssimo. Foi ele quem inaugurou na indústria do livro no Brasil a figura do editor profissional, que não era dono da editora. Na década seguinte, a editora José Olympio contribuiu para que os anos 1940 fossem denominados “a idade de ouro da tradução no Brasil”. O editor contratou escritores profissionais para traduzir obras estrangeiras, o que assegurava que todos os textos estariam bem escritos e que os trabalhos seriam feitos com cuidado e com
preocupação, uma vez que o tradutor devia pensar na própria reputação como escritor. José Olympio é tido como o principal editor brasileiro na década de 1930 e no início dos anos 1940. Hellewell descreve o crescimento da indústria editorial nos anos
do livro no país, o historiador constata que “há indícios de que a cultura brasileira não estimula o hábito da leitura”. Num oceano de fatores supostamente inibidores do desenvolvimento da leitura, o historiador afirma que, em sua opinião, o bloqueio
de 1950 e a crise de duas décadas mais tarde. Seu trabalho, embora muito descritivo, não se resume a uma mera cronologia e, no final, ao desembocar na atualidade, adquire um tom mais analítico. Preocupado com o analfabetismo e com a baixa difusão
mais forte é o fato de o Brasil continuar a ser “uma sociedade essencialmente oral”. Como elemento favorável à mudança de atitude, ele confia na “fermentação intelectual” produzida pelas interrelações de grandes massas de seres humanos.
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FIM DO MEDO
Júlio de Queiroz
Dá-me tua mão, irmão, abre as pétalas da tua consciência.
emanações. Tu o consegues. Entra na tua fonte. Deixa correrem tuas águas
Vê, tudo é os medos com que nos temos apavorado desde a infância do tempo. Um dia, nossa espécie terá palavras adultas para o nascer e o morrer; saberá que não há términos. Saberá, com a certeza que nos sonegamos, que nenhum de nós foi ou será terminal. Etapa é o que cada um de nós é. somos etapas de amor passando uns pelos outros; a tarefa comum e individual é amar.
universais. Asperge, lava, inunda não apenas tua carne ofendida mas toda a ofendida humanidade. Podes apressar ou retardar, não impedir, o fim do medo, a instauração do amor compaixão. Ajuda a abrir o portal.
Desveste a angústia. Este estádio fala da dor - que tememos com horror préhistórico – mas também fala da mansa compaixão abraçando tudo que a vida faz latejar aurora que pressentimos verdade – Não te passo lições fáceis, isso seria menosprezar teu entender: envolve com amor equidistante este viajado e dolorido pedaço de ti. Sem palavras, entra no vocabulário sutil das 38
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AUTORES CLÁSSICOS PARA CRIANÇAS
Adaptação de clássicos da literatura em versões para crianç a s e j oven s não faltam no mercado – algumas excelentes, outras nem tanto. M a s p o u c a g e n te sabe que há coleções para crianças com textos originais de autores como Machado de Assis, Lima Barreto, Gabriel Garcia Márquez e Manuel Bandeira, em roupagem concebida especialmente para elas. Quem tem filhos pequenos sabe o quanto a forma do livro pode decidir ou não a continuação da leitura. O papel das ilustrações, das cores e das texturas faz total diferença para os pequenos leitores.
Katia Casalvra
Há quase vinte anos a Ed i t o r a R e c o r d l a n ç o u uma c o l e ção com contos do colombiano Gabriel Garcia Márquez. São seis volumes, todos com 32 páginas, ilustrados com maestria por Carme Solé Ven drell. Os contos são extraídos de três obras distintas de Márquez: “Doze contos peregrinos”, “Os funerais da Mamãe Grande” e “A incrível e triste história de Cândida Erendira e sua avó desalmada”. Os admiradores do autor já podem testar a eficácia do realismo mágico nas cabeças infantes. Em “ Um senhor muito velho com umas asas enormes” (de 39
“A incrível e triste…”), um c a s a l c om e ç a a cobrar ingressos da vizinhança após aterrissar no quinta deles um anjo-homem caído do céu. “A luz é como água” (de “Doze contos”), traz a história de dois irmãos que armam um fuzuê no apartamento onde moram e navegam na luz que sai das lâmpadas da casa. Sem o uso de ponto final ou parágrafo, marca de algumas obras de Márquez, a leitura de “A última viagem do navio f a n t a s m a ” (d e “A incrível e triste…) talvez necessite de ajuda dos pais. O texto, aparentemente simples, tem palavras difíceis e a
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falta de pontuação emperra o ritmo da leitura. Completam a coleção os contos “A sesta de terça-feira” (de “Os funerais da M a m ã e G r a n d e ” ), “ O ve r ã o fe l iz d a senhora Forbes” e “ Maria dos Prazeres” (ambos de “Doze Contos”).
Outra cuidadosa coleção da editora Cos ac & Naif, a “Dedinho de Prosa”, apresenta “Conto de escola”, de Machado de Assis, “O homem que sabia javanês”, de Lima Barreto, e “O presente dos magos”, de O. Henry (pseudônimo de William
Sidney Porter). “Conto de escola”, de Machado de Assis, ex traído do livro “Várias histórias”, publicado em 1896, pode ser considerado como uma atraente p or t a d e entrada ao universo do autor. A histó ria do menino que é comprado pelo amigo para dar aulas de sintaxe, mostra de forma leve e divertida traços machadianos marcantes, como a ironia e a linguagem referencial (direta). As ilustrações do premiado Nelson Cruz dão ao conto um movimento particular. Tambem acompanhado de um glossário, o livro mostra ao leitor-mirim o significado de palavras como algibeira, botica, sueto. “Conto de escola” acaba de ganhar versão bilíngue em francês. O conto “O homem que sabia javanês”, d e L i m a B a r r e t o, publicado em 1911, 40
parece mais atual a cada leitura. Fala das desventuras de um malandro que resolve se candidatar a um posto de professor de javanês sem ter a mínima ideia sequer do alfabeto da língua. Em pouco tempo, baseado em mentiras e escassas investidas reais
nos estudos, ele ganha um emprego e começa a dar palestras por todo o mundo. As belas ilustrações de Odilon M oraes rec riam a atmosfera do Rio de Janeiro no finall do século XIX. A Global, com a coleção Magias Infantis,
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traz poemas como “Na rua do Sabão”, de Manuel Bandeira, “Canção da tarde no campo”, de Cecília Meireles, “O menino poeta”, de Henriqueta Lisboa, “ O p i ã o”, d e Gui lherme de Almeida, entre outros. Todos em versão integral e original, são ilustrados por um time de feras, como Marilda Castanha, Lélis, Odilon Moraes e Ana Raquel, entre outros. São todos poemas curtos e interessantes para começar a aventura por entre rimas e jogos de palavras. O clássic o poema de Bandeira, “Na rua
do Sabão”, é quase uma letra musical. Nel e, a s c r ian ç a s possivelmente reconhecem os versos “Cai, cai balão / cai, cai balão / na rua d o Sa b ã o”. A l i n guagem simples e ritmada de Bandeira não oferece dificuldades para quem não conhece a obra do poeta pernambucano, mesmo para os pequenos. Da mesma editora e autor, há a versão p o e m a “ Tr e m d e ferro”. “O poeta aprend i z ”, d e V i n í c i u s de Moraes, foi lançado em versão para crianças em 20 03 pela editora Companhia das Letrinhas. O poema original integra o livro “Para viver um grande a m o r ”. Tr a n s f o r mado em canção como resultado da parceria de Vinícius e Toquinho, ganhou arranjo da cantora Adriana Calcanhoto, que também ilustrou 41
a presente edição. Acompanhado de um CD, da letra e da partitura, o livro é um presente caprichado para crianças a par tir de quatro anos. É d i f í c i l c r ava r o momento certo em que se deve apresentar esses livros às crianças. Obviamente, a tarefa requer perspicácia e sensibilidade dos pais. Seria qua s e impossível uma c r i a n ç a d e c i n c o, seis anos, entender sozinha as aventuras do gatuno profes sor de javanês ou os devaneios de Márquez por tantos mundos imaginários. Mesmo assim, não se deve substimá-las. Cabe ao adulto saber a hora certa de despertá-las.
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RELEMBRANDO: da edição 78, de setembro/2001:
ENCONTRADOS INÉDITOS DE CORA CORALINA
Foram encontrados, no início do segundo semestre de 2001, cerca de quarenta poemas inéditos de Cora Coralina. Eles foram lançados em livro, pouco depois de agosto, mês do aniversário da poetisa, que nasceu em 20 de agosto de 1889. Faz mais de quinze anos que perdemos Cora Coralina, essa grande mulher brasileira que nos deixou o seu legado mais valioso: a sua poesia. Ela teve uma trajetória literária peculiar: embora escrevesse desde muito jovem, tinha 67 anos quando seu primeiro livro foi publicado
e quase 90 quando sua obra chegou às mãos de Carlos Drummond de Andrade, responsável por sua apresentação ao mundo literário nacional. Desde então, sua obra vem conquistando o público e seus livros têm sucessivas edições. Cora Coralina, com seu estilo pessoal e característico que a consagrou, foi poeta e uma grande contadora de histórias de coisas da sua terra. Sua obra é considerada por vários autores um registro histórico-social deste século. Os escritos inéditos foram encontrados por familiares da mais famosa poeta goiana, durante o trabalho de reconstituição de seu acervo. Detalhe marcante da obra de Cora, os poemas exaltam a cidade de Goiás, onde a poeta nasceu. Parte da história da cidade é contada nos poemas e contos da poeta. Através da palavra, ela faz um painel da cidade em que nasceu e morreu, 42
biografando o povo do lugar e revendo o passado. Uma obra com forte influência modernista e engajamento social. A poeta Ana Lins dos Guimarães P. Bretas recorre ao artifício de criar Cora Coralina, a velha senhora que faz doces e versos, e Aninha, a menina que encarna as experiências de sua infância, unindo as duas pontas da vida. Cora antecipou seu tempo, rompendo com uma sociedade preconceituosa da época, quanto ao papel social da mulher. Além dos poemas, foram encontrados cadernos com contos, cartas e uma pasta com manuscritos que não puderam ser aproveitados. Todos os manuscritos estão sendo revistos e copiados para evitar que se percam. Há cartas que não foram enviadas, textos comentando artigos de jornais e outros de forte cunho social.
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O AUTORETRATO
AVESSO
Rita Queiroz – Salvador, BA
Mario Quintana
No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão...
Verso Reverso Me desconecto Me desintegro.
e, desta lida, em que busco pouco a pouco - minha eterna semelhança, no final, que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco!
Poesia... Me reintegro Me reinvento Me exponho Me vejo. Paixão... Escritas Tintas Cor Vida. Sonho... Palavras Sinfonia Pureza Imensidão. Renascer... 43
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BARULHO DO TREM
Flávio Augusto Orsi de Camargo – Vacaria, RS
Pensamento deserto procurei a palavra que apontasse o rumo dum poema incerto.
Silêncio oco. Ronronar do gato. zumbido no ouvido... A palavra não vem e o poema não anda.
Procurei no silêncio,
Espera...espera... escuta!... escuta!... É o… é o... O barulho do trem prenunciando a chuva! Talvez ela traga de volta a palavra num apito levada na última curva.
entre a madrugada do dia que não vem e o crepúsculo da noite que não termina. Na lareira, os últimos lampejos pelo cano esvaem a palavra envolta em fumaça e chama. Absorto. Olhar parado.
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A SALVAÇÃO DE LIMA BARRETO Enéas Athanázio, Baln. Camboriú, SC
Adquiri numa liquidação paulistana o livro “ L ampião”, de Ranulfo Prata (18 9 6 / 19 4 2), c o m excelente prefácio de meu amigo Paulo Dantas, um clássico do assunto que andava esgo tado. Escrito em 193 3, no auge do cangaço, com base em minuciosas pesquis as de c amp o, relata em pormenores as inacreditáveis barbaridades praticadas pelo terrível “capitão” Virgulino Fer reira da Sil va , seus grupos e subgrupos, desafiando os governos federal e dos sete Estados da região. Como também desafiava
a curiosidade de jornalistas, cineast a s, c r iminalis t a s, sociólogos, fotógrafos e estudiosos, inclusive o escritor franco-suiço Blaise Cendrars, que ficou fascinado por esse b a n d i d o s i n g u l a r, e p o r o b s e r va d o res das táticas de guerra móvel em que ele foi mestre. Dois aspectos, porém,
ressaltam do livro, de forma bem clara: o prestígio das teor ia s d e L o m b r os o sobre o criminoso nato, ain da im p e rantes na época, e a onipresença da corrupção de então e de hoje, prejudicando o combate ao cangaço e contribuindo para sua s o b rev i vên c ia p or tantos anos. 45
Po r o u t r o l a d o, o l i v r o m e t r o u xe à lembrança um episódio relevante acontecido com Ranulfo Prata e Lima Barreto, escritor que muito estudei e sobre quem publiquei um livro. Como se sabe, Lima era entusiasta dos novos escritores, sempre pronto a incentivá-los e orientá-los em suas carreiras iniciais, como aconteceu, entre muitos outros, com Ranulfo, autor de livros de sucesso, como “Navios Iluminados”, “Dentro da Vida” e “Triunfo”. Médico na cidade de Mirassol (SP), ele acompanhava com tristeza a decadência física de Lima, entregue ao mais in c ontro lável alc oolismo, perambulando pelas tascas cariocas, sujo e maltrapilho, objeto de troças de m a u g o s t o. C o m padecido do amigo talentoso, intentou
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sua salvação e conseguiu levá-lo para Mirassol, pequena cidade paulista onde residia e medicava, ar vorando-se na alma salvadora de Lima, lá c olocado em severa disciplina, sem ingerir álcool, bebendo muito leite, c o m e n d o e d o rmindo bem, e, por c er to, medicado. Em pouco tempo a melhora foi visível, o escritor recuperou a cor natural, tornou-se menos trêmulo e engordou alguns quilos.A estação de c ur a m e r e c e u um capítulo de seu biógrafo, Francisco de Assis Barbosa, e a
série de três crônicas do próprio Lima, hoje recolhidas às suas Obras Completas, publicadas pela Brasiliense. A presença de tão célebre escritor na cidade alvoroçou a m o ç ada l o c a l e ele foi convidado a fazer uma palestra
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em Rio Preto, cidade maior e vizinha. A movimentação e os preparativos foram enormes, iriam em caravana, com muitos carros e gente, para melhor exibir a celebridade. Ora, Lima era a timidez em pessoa – “ tenho a alma de bandido tímido” (dizia), – deu para ficar ner voso e no dia marcado desapareceu. Procura daqui e dali, acabou sendo encontrado numa sarjeta, bêbado, quase inconsciente. O convite que tanto instigava os jovens da terra se tornou uma violência insuperável e o infeliz Lima rever teu aos braços do vício. Pouco mais de um ano depois estava morto, aos 41 anos de idade. Havia escrito uma conferência genial, que, com cer teza, faria imenso sucesso – “O destino da literatura.”
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JAMAIS, SEM TI
EX-CADA
Maura Soares – Florianópolis, SC
Rita Marília – Florianópolis, SC
Simples assim é o viver: Sinuoso Subindo sempre Sentindo emoções Sensações Subindo sempre Sem degrau de descida Só ilusão e subida Sem descanso, só fadiga. No último A queda fria Vazia.
Fizeste com que eu acreditasse que não faria nada, jamais, sem tua presença a me guiar nos mínimos detalhes. Jamais, sem ti, assim também eu pensava, mas veio o rompimento, e aquele ditado se esvaiu no espaço.
Saudade Dos primeiros degraus. Da subida!
Antes era Jamais, sem ti. Agora estou sem ti e caminho leve e solta, liberta de todas as amarras.
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CAROCINHO DE PÊSSEGO
Else Sant´Anna Brum
O dia amanhec eu radioso. Amanda levantou cedinho para ir ao mercado com papai e mamãe. Os pêssegos, suas frutas prediletas estavam lindos! Enquanto ia colocando muitos pêssegos na cestinha, o dono da banca lhe disse: - Tenho um pêssego especial para você. Foi o único que vingou no meu pessegueiro. Carregou de flores e depois só deu esta fruta. Veja que beleza! É sua. Amanda ficou a semana inteira olhando o pêssego na fruteira, sem coragem de comê-lo. Um dia, não resistiu. Cortou-o ao meio e comeu-o junto com seu amigo e vizinho Paulo Victor
que chegou bem na hora. Olhando o caroço do pêssego eles viram que não era um caroço comum. Era bem pequeno, brilhante e todo rajado. Uma coisinha linda que ficou sendo um dos tesouros de Amanda. Ela tinha uma coleção de cigarras secas, pedrinhas , pedacinhos de vidro coloridos e botões. O carocinho ficou sendo seu tesouro preferido. Uma tarde, adormeceu com o carocinho rajado na mão. Acord o u o u v i n d o uma voz que a chamava:Amanda...! Amanda...! Muito surpresa,
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Amanda ouviu o carocinho dizer-lhe: - Não tenha medo, amiguinha, sou eu. É que está na hora de você me plantar para que eu me torne um pessegueiro. - Plantar? Mas como você vai brotar dessa dureza toda? - Sou duro, sim, mas a vida que existe dentro de mim tem força para romper esta casca grossa e sair verde e linda! No domingo, Amanda foi visitar seus avós que moravam numa chácara e levou com ela o carocinho, contando-lhes sua história. A pedido
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da n et a , s eu avô escolheu um lugar apropriado, fez um buraco com a pá e afofou bem a terra. A menina despediu-se do carocinho com um beijo, plantou-o com carinho dizendo: -Vou ficar esperando v o c ê b r o t a r! N ã o demore muito. Algum tempo passou .Um dia Amanda convidou Paulo Victor para ir na casa do vovô. El e a n d ava curioso para ver se aquele carocinho duro ia mesmo brotar. Ao chegarem, o avô falou: - Tem novidade no quintal! Os dois foram correndo. E, lá, no marron da terra, viram que se destacavam lindas folhinhas verdes num caule fino e reto. Bateram palmas de alegria e Paulo Victor, já com água na boca, fez Amanda prometer-lhe muitos pêssegos. O tempo foi passando e o pessegueiro foi
crescendo. Um dia, Amanda telefo n o u p a r a Paul o Victor: - Vovô e s t á c h a mando para vermos o pessegueiro. Vamos lá? Ao chegarem no quintal da casa do vovô, as c rian ç a s presenciaram uma
- Sabe, disse Paulo Victor, que o pessegueiro é originário da China e que existem mais de 3 mil espécies de pêssegos? - E sabe, disse a menina, que a professora pediu que encontrássemos as cinco vogais em apenas duas palavras e eu es c revi “Amanda” e “pessegueiro”? A m a i o r s ur p r e s a aconteceu meses depois, quando os pêssegos ficaram m a d u r o s . To d o s eles tinham o caroço rajado e brilhante como o que Amanda tinha plantado. - Mais uma espécie, disseram as crianças ao mesmo tempo e entraram em casa com as mãos cheias de belos pêssegos! É, disse o avô, com toda a c alma que lhe era peculiar: O semelhante produz o semelhante!!
verdadeira festa de abelhas, beija-flores, borboletas e outros bichinhos que vieram em busca do néctar. O pessegueiro estava todo florido! Passaram a tarde ali embaixo da querida árvore apreciando a (Contatos com a beleza das flores e escritora: elsebrum@ conversando, gmail.com) 49
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MISTURAS
SOLIDÃO
Rosângela Borges – México
Aracely Braz
Não vou tentar de novo. Posso conseguir o velho apagar a vela desdobrar o sério pra marcar e misturar, posso desfazer o brilho maldito, te entregar as velas acesas e enterrar o novo perdido. Quanto ao resto que anda por aqui, quanto a tudo que andava adormecido, eu digo: não vou tentar de novo… Pra acertar e colorir, pra acordar o que já ficou pra trás, eu troco nossa alucinação pela minha estranha paz. … e se o amor tentar de novo, eu te esqueço e te apago, porque já não te quero mais!
Céu nebuloso, sol abatido, olhos sem brilho, vida sem luz… Estou triste. Mas não quero chorar. É uma luta exaustiva, mas não consigo mudar. Nem as flores colaboram: É uma a se desmanchar, mais outra e outra mais. Minha vida está vazia. Ela não tem sol, nem sal, nem rumo, nem luar. Coração ordena, razão condena, mas a mão traça: são riscos e rabiscos de uma alma saudosa, melancólica, sensivelmente só. E me pergunto: Quem sou? O que sou? Um coração machucado, descrente, inocente, injustiçado? Então volto. Só volto… Numa sequencia de dias sombrios, sem brilho da lua, sem sal, nem sol, a vagar… devagar… a divagar… Eu e a solidão! 50
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TIA LOLITA
Edltraud Zimmermann Fonseca – Indaial, SC
Que saudades minha tia-mãe querida. Você me segurou, abraçando-me, conduzindo meus passos e destino a um novo mundo. Não poderia ter recebido amor e carinho como os que recebi todos os anos em que caminhamos juntas, de mãos e corações unidos. Fa z í a m o s p l a n o s para a nossa velhice: você, uma linda jovem com dezoito anos e eu com sete anos, me descobrindo na cidade grande, Rio de Janeiro, capital da República. Vestindo tão cedo a camisa da responsabilidade, trazendo para junto de você uma criança com graves
problemas a serem resolvidos. Quem o teria feito melhor do que vo c ê? A n o s a f i o caminhando pelos c orredores de um hospital, respirando fundo, aguardando minha saída da sala de cirurgia. A fé e a esperança nunca nos faltaram. Víamo-nos idosas, atravessando os trilhos dos bondes na rua Francisco Sá, ambas se amparando a passos trôpegos. - Devagar, tia. Conseguiremos! Imaginávamos os passantes nos admirando! - Q ue lin d o! Duas velhinhas se ajudando a atravessar os trilhos! Esta imagem, este sonho de envelhe cermos juntas 51
não aconteceu. Envelhecemos sim. O destino dos separou, mas nosso amor e minha gratidão fizeram com que nossos corações e nossas mãos continuassem unidos eternamente! Que saudade minha querida e inesquecível tia Lolita! Faz tantos anos ... Um dia voltaremos a nos encontrar , se Deus quiser !
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ESTRELA CHAMADA FREDDIE
VIUVEZ
Tamara Zimmermann Fonseca -
Célia Biscaia Veiga – Joinville, SC
(Para Freddie Mercury)
A aparência forte Guardava Um ser frágil e carente A voz capaz de vibrar multidões, Não foi capaz de ser ouvida Nos momentos mais precisos. Não foi ouvida ou se calou? Sua herança está perpetuada Anos após sua morte Você consegue, Freddie, Nos dias de hoje, Nos emocionar Com sua voz forte Que por vezes Foi a trilha sonora de muitas fases De nossas vidas! Uma estrela, chamada Freddie, Continua a brilhar! “The show must go on!”
Quando acordamos, um dia após uma perda parece estranho estar tudo no lugar... O sol está na trajetória pelo céu E à noite permanece o brilho do luar. Pássaros cantam saudando o amanhecer E até o trânsito difícil não melhora... Surgem mil providências a tomar E a cada uma, iniciando, a gente chora. O tempo vai passando e a saudade Aumenta lançando a felicidade Para bem longe, onde não se pode ver. Mas a vida continua e então preciso Tentar descobrir motivos para o riso Aprendendo com a saudade conviver. 52
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RELEMBRANDO – Edição 115 – Dez/2010
GRUPO LITERÁRIO A ILHA FAZ 30 ANOS E LANÇA A COLEÇÃO LETRA VIVA EM JOINVILLE Por Luiz Carlos Amorim
O Grupo Literário A ILHA esteve em Joinville, lançando a sua coleção LETRA VIVA, publicada em comemoração aos 30 anos de existência e resistência do grupo e da revista SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA. Foi em setembro, na Biblioteca Rolf Colin, onde nos receberam de braços abertos, o que agradecemos. O auditório montado na Sala de Leitura da Biblioteca Municipal ficou lotado de convidados. Depois de nos apresentarmos e de falarmos dos trinta anos de literatura do Grupo A ILHA, a literatura que estávamos ali para oferecer começou a sair dos vários volumes da Coleção Letra Viva e tomou forma na voz e na interpretação de um grupo de atores, liderados pela nossa poeta, cronista e atriz
Célia Biscaia Veiga. Primeiro foi a crónica extraída do livro de Mar y Bastian, “Há braços”, que começou a ser lida para o público. E quando chega a passagem em que a autora via jovens na praça com c ar ta zes, dizen d o que o abraço era de graça, três ou quatro atores se levantaram no meio do público e começaram a abraçar todas as pessoas da plateia. Foi uma performance original, muito bonita e emocionante. Depois foi a vez d o tex t o ex t r aíd o do livro de Célia B. Veiga, a organizadora da festa, “Não é Comigo”, sobre o
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atendimento de Call Centers, que deixam a gente esperando horas e horas. Foi muito engraçado uma pessoa ao telefone tentando se fa zer ouvir, mas apenas ouvindo “ vamos transferir a sua ligação”, “Não desligue, que a sua ligação é muito importante para nós”, “Este assunto não é comigo”, etc., bem como acontece na vida real. A crônica do meu livro que estava em lançamento com os outros da coleç ã o L E T R A V I VA foi “Jac atirões n o jardim”. E a dramatização foi fantástica, pois enquanto ela era lida, algumas pes-
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soas montaram uma árvore num mural e foram distribuídas para o público flores de papel crepon brancas, rosas e lilases, representando as flores de jacatirão e todos foram convidados a colar
essas flores coloridas no pé de jacatirão. Assim, quando a leitura acabou, a árvore estava toda florida. Houve declamação de poesia, também, e de um poema de Quintana, embutido na minha crónica.
Foi uma noite maravilhosa, com um público fantástico que prestigiou o retorno do Grupo Literário A ILHA a Joinville, depois de dez anos de sua transferência para Florianópolis.
PONTO DO POETA
Pinheiro Neto Florianópolis, SC
IDENTIDADE Mia Couto
Quero nunca Perder de vista Teus olhos verde-jade, Tua alma, teu corpo Tua verdade. Quero não ser peso Para o teu coração Para tuas vontades Para tua canção
Preciso ser um outro para ser eu mesmo Sou grão de rocha Sou o vento que a desgasta
Ofereço em troca: Meus espectros Minha demência Meus monstros Minha impotência.
Sou pólen sem inseto Sou areia sustentando o sexo das árvores Existo onde me desconheço aguardando pelo meu passado ansiando a esperança do futuro No mundo que combato morro no mundo por que luto nasço. 54
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POR ONDE A VIDA DEVERÁ SINGRAR! Lorena Zago - Presidente Getúlio - SC
Caminhando ao longo da vida, eu vou, Sem destino e aflições. Só levo comigo as sensações De encontrar-me com a paz, De que tanto necessito. Passo a passo vou singrando Com leveza na alma. Missão cumpre-se durante o processo. O vento assovia Orquestrando os meus pensamentos. Ao longo do caminho compartilhando meus sentimentos, Leves, harmônicos a flutuar, Sem endereço para ancorar. A suavidade mescla notas de conforto e solidão, Mas para trás, não volto não. Haja o que houver, Será absorvido com a evolução. A compreensão virá E o entendimento apontará Para onde a minha vida deverá singrar!
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FARMÁCIA DA POESIA
A Farmácia da Poesia localiza-se na cidade de Shropshire, no Reino Unido. Lá, a poe tisa Deborah Alma prescreve poemas e m ve z d e m e d i camentos aos s e u s “ p a c i e n t e s ”. Segundo a Sky News, Alma organiza os livros de acordo c o m o “ h u m o r ”, porque acredita que a poesia pode mesmo a ajudar uma vasta gama de doenças emocionais, como stress ou até corações partidos. Além de gerir a farmácia, Deborah Alma é também responsável por oficinas de poesia e consult a s p o ét i c a s , n a s quais convida os “pacientes” para uma sala e prescreve cuidadosamente o poema mediante as respostas às suas perguntas. “Eu acho que, se há alguma habilidade
no que faço, é conseguir o poema certo para a pessoa certa, depois de conhec ê - la e c onver s ar com ela”, explica a escritora. “Quando prescrevo um poema, essa pessoa torna-se seu proprietário.” Alma já trabalhou com pacientes com demên c ia durante vár i os an os e v iu d e p er to “ c om o é que a poesia pode alterar o humor de alguém”. Além disso, aperc ebeu-se que as pessoas “gostam de ser ouvidas com muito cuidado”. Foi então que Deborah Alma, num
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“ m o m e n t o l o u c o ”, viu uma ambulância à venda e decidiu comprá-la. A partir desse dia sabia que tinha passado a ser a “poetisa da emerg ê n c i a” q u e v i a j a pelo país para distribuir versos aos que mais prec is am de um conforto de palavras. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um relatório que confirma os benefícios das artes para a s aúde. N o caso da Farmácia da Poesia, o poema certo para a pessoa cer ta pode fazer toda a diferença.
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RELEMBRANDO: da edição 49, de Jul/94
NOITE DOS AUTORES CATARINENSES Aconteceu, no dia 09 de junho/94, no Museu de Arte de Joinville, a Noite de Autógrafos de Autores Catarinenses, em comemoração ao décimo quarto aniversário do Grupo Literário A ILHA e da sua revista. Foram lançados os livros “Folhas ao Vento” – poemas, d e M a r ia na; “ Ri o Cachoeira, Saudade” – poemas, de Abel B.
Pereira, joinvillense radicado em Florianópolis; “Canção de Amor” – contos e poemas, de Luiz Carlos Amorim e “Poesia Viva”, a antologia poética com poemas de todos os poetas do Grupo Literário A ILHA. N a oportunidade, estavam sendo abertas duas exposições de artes plásticas e, além de leitura de poemas de Quintana pelo grupo
TEU de teatro, houve também concerto do Coral Universitário da Furj, regido pelo Maestro Melara. Um excelente trabalho de integração de artes, trazendo cada vez mais público ao Museu de Arte, apesar da falta de apoio e assistência por parte da Fundação Cultural a uma casa que merece muito mais atenção do poder público.
RELEMBRANDO: da edição 22, de novembro/1986:
NOITE DE AUTÓGRAFOS EM SÃO FRANCISCO Numa promoção do Grupo Literário A ILHA e da Associação Catarinense de Escritores, através do seu delegado na Babitonga, Luiz Carlos Amorim, aconteceu, no dia 27 de novembro de 1981, na sede da AABB de São Francisco do Sul, a Noite de Autógrafos de Escritores Catarinenses. Foram lançados, na oportunidade, os livros “Minha Senhora do Desterro”, de Pinheiro Neto, “O Cavalo em Chamas”, de
Silveira de Souza, “Crime na Baía Sul”, de Glauco R. Correa, “Pedaços”, de Luiz Carlos Amorim e a edição número 4 da revista Suplemento Literário A ILHA. A noite de autógrafos foi bastante prestigiada pelos francisquenses amantes da literatura. Nunca havia sido realizada uma reunião de tantos escritores catarinenses em São Francisco do Sul, o que possibilitou a aproximação autor/leitor 57
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PORTUGAL, NOSSA SAUDADE
Urda Alice Klueger – Palhoça, SC
Escritora, historiadora e doutora em Geografia Eu já li um bocado de tex tos de Luiz Carlos Amorim. Anos atrás, de uma assentada só, li c erc a de 6 0 0 – para selecionar os que sairiam no livro “Borboletas nos jacatirões”. Todavia, penso que nunca o Amorim escreveu tão bem como quando começou esse namoro dele com Portugal. É namoro antigo, vindo lá da escola primária, quando ele ganhou um concurso de redação falando da terrinha, e que vai se ampliando sempre,
desde que as duas filhas dele foram morar lá e ele anda em vai e vem pelo Atlântico. Fica-me uma dúvida: foram as profundas raízes que temos em Portugal que o fez passar a escrever cada vez melhor, ou foram todas essas andanças Atlântico afora que lhe deram 58
como que uma nova dimensão do mundo, já que não está a escrever melhor apenas sobre Portugal, mas também sobre a nossa terrinha de cá... Ah! Amorim, como tu, eu d i g o: “ Portugal, minha saudade!...” Pois é tão único esse nosso antepassado!
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RELEMBRANDO – Edição 125 – Junho/2013
GRUPO LITERÁRIO A ILHA NO SALÃO INTERNACIONAL DO LIVRO DE GENEBRA Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - Http:// luizcarlosamorim. blogspot.com
Genebra, como já disse em outras ocasiões, é uma cidade belíssima. E o Salão Internacional do Livro de Genebra é uma festa para todos os sentidos Digo que é uma festa para todos o s s e nt i d o s , p o i s além do colorido das gentes e dos livros enchendo os olhos da gente, do barulho das pessoas falando e vivendo livros e literatura, do cheiro de livro novo e dos cheiros que recriamos lendo as obras apresentadas no Salão, existe o contato com os escritores do Brasil e de Portugal, o abraço amigo que nos acolhe. E poder abraçar toda essa gente, conhecê-los, não tem preço. Como querer mais do que
isso? E ntão me senti em casa, com a acolhida da Jacqueline e do Paulo e de todos os escritores brasileiros e portugueses que participaram do Salão Internacional do Livro de Genebra. Já sinto saudades e espero poder estar em Geneb ra para o Sa lão Interrnacional do Livro de 2014. O Salão Internacional do Livro de Genebra encerrou-se no dia 5 de maio, um dos maiores eventos literários da Europa. O sucesso da mega festa do livro foi enorme e superou expectativas. E o
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sucesso do estande do Varal do Brasil, que levou escritores brasileiros para integrá-los ao cenário mundial da literatura é inegável. O Varal do Brasil reúne autores de todo os cantos do Brasil e divulga a literatura brasileira dentro e fora do Brasil. E vários desses autores, como já mencionei, estiveram presentes ao Salão, participando do lançamento da antologia Varal do Brasil 3 e realizando lanç a m e n t o d e s ua s próprias obras, integrando a nossa literatura com a litera-
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tura de outros tantos países. O Salão tem proporções enormes, o número de países que participa dele é muito grande e este ano contou com mais de cento e vinte mil visitantes. Daí a importância de haver, num evento da magnitude do Salão, um estande com a literatura brasileira, que se destacou e se fez notar, atraindo o interesse e a atenção do embaixador do Brasil na Suiça e contando com a visita do escritor Paulo Coelho, que mora em Genebra. Na próxima edição, a organização do Salão dará mais espaço aos escritores brasileiros, pois o Varal do Brasil chamou a atenção pela movimentação e animação que foram uma constante naquele reduto brasileiro. O reconhecimento do sucesso do estande dos escritores tupiniquins foi pleno, evidenciando que a iniciativa de
apresentar a literatura dos brasileiros num evento de âmbito mundial como o Salão foi acertada. Foi uma honra, para mim, par ticipar do Salão e representar a literatura catarinense num evento literário tão importante fora do Brasil. Além da
edição especial do Suplemento Literário A ILHA, levei a edição normal, divulgando, assim, os escritores catarinenses e brasileiros que estão s e m p r e c o n o s c o. Fiquei muito feliz de receber a visita de brasileiros que moram na Suiça, que foram 60
a minha sessão de autógrafos para conhecer a minha obra, pois eram pessoas que nem me conheciam, apenas tinham ouvido falar de mim ou tinham lido alguma c oisa em algum jornal ou revista. É gratificante esse reconhecimento e carinho, quando se está tão longe de casa, tão longe do Brasil. Meus livros "O Rio da Minha Cidade" - crônicas, Menção Honrosa nos Prê mios Literários Cidade de Manaus; "Nação Poesia" - antologia poética dos meus 30 anos de poesia e "Borboletas nos Jacatirões" - crônicas, contos e poemas, tiveram boa aceitação por parte dos leitores oriundos de países de língua portuguesa. Em próximas edições do Salão, o Grupo Literário A ILHA poderá fazer-se ainda mais presente, com mais representantes da literatura catarinense.
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RELEMBRANDO: da edição 82, de Setembro/2002:
LUIZ DELFINO, O MAIOR LÍRICO DA POESIA BRASILEIRA Quem foi Luiz Delfino? Não, ele não foi apenas um político que virou nome de rua. Ele é, isto sim, o segundo maior poeta catarinense, o maior lírico da poesia brasileira. Ele até foi senador, por Santa Catarina, foi também médico, mas foi na literatura que se perpetuou, ficando atrás apenas de Cruz e Sousa. D elfino nasceu em 1834, na ainda Desterro. Morou na ilha até os 16 anos. Mudou-se, então, para o /rio de Janeiro, onde se formou em Medicina. Morreu em 19l0. Não publicou nenhum livro em vida, o que fez com sua obra quase se perdesse no tempo. Sua poesia, de rima e métrica perfeitas, era publicada na maioria dos jornais e revistas de sua época, o que o fez conhecido e amado como poeta. Chegou a ser eleito, pelos próprios colegas escritores, em
1898, o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. S ua obra é imensa - escreveu mais de cinco mil poemas – e foi publicada em 14 livros, por seu filho, Tomás Delfino, entre 1926 e 1943. A obra publicada, no
entanto, soma apenas um mil e quatrocentos poemas. É que em 1968, foi leiloado tudo o que estava dentro de uma casa que pertenceu ao poeta, no Rio de Janeiro, onde estavam seus originais. Quem comprou foi o americano David T. Hoberly, que estuda literatura brasi61
leira. A poesia inédita de Delfino saiu do país e talvez nunca mais a vejamos. Sua poesia vai do romantismo ao parnasianismo, passando pelo simbolismo. A perfeição na rima em métrica dá cadência e musicalidade à obra de Luiz Delfino. O amor e a mulher eram seus temas preferidos. Foi ele um verdadeiro obsessionado pelo mito da beleza, da sensualidade, da idealizada companhia feminina, cantando o amor com toda a sua força e com as suas formas de atração. R ecentemente, Lauro Junkes, que estuda a obra de Delfino, organizou e publicou dois volumes com a obra completa do poeta, com mais de mil e trezentas páginas: “Poesia Completa – Sonetos” e “Poesia Completa – Poemas Longos”. Os livros foram distribuídos a todas as bibliotecas
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A AVENIDA
Conto de Felipe Melo - Praga, República Tcheca.
Só havia uma rua na minha cidade, se chamava Avenida Mundo. Era famosa por abrigar tudo que se pode encontrar em qualquer parte do planeta, algo c o m o a p r in c i pa l capital de cada continente resumida em uma rua com dois passeios. Por conta dessa riqueza, perc o r r e r a ave n i d a levava vinte anos, dez em cada direção. Nasci filho único de uma família de açougueiros, portanto, carne crua era meu cotidiano. Mas a atividade nunca me atraiu. Meu sonho era conduzir ônibus, mais especificamente,
aquele responsável por fazer a travessia da Avenida Mundo, ida e volta, e que passava a cada vinte anos em frente ao nosso açougue. Descobri essa vontade aos dez anos e levei mais dez até encontrar coragem para contar aos meus pais que nosso açougue terminava ali. Fiz o anúncio na manhã do meu aniversário, quando vieram ao meu quarto me acordar com votos de felicidade. Nenhum dos três conteve o pranto. Minha mãe revelou sonhar com meu
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casamento e com uma nora ajudando no corte da carne. Meu pai revelou já ter sonhado com seu neto, meu filho, a quem levaria para o abatedouro e ensinaria o ofício da família. Como o estrago já estava feito, revelei também meu asco pela carne crua que havia me alimentado, e que havia dez anos eu sonhava com o ônibus, desde que meu pai havia me contado sobre ele pela primeira vez. Fui considerado ingrato, não sem razão. Mas mesmo em tenra idade eu
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já compreendia que a ingratidão seria melhor suportada por meu coração do que a frustração. Ao final, o amor materno foi mais forte e ouvi de minha mãe que se aquela era minha real vontade, que me aprontasse, pois o ônibus retornaria naquela noite, após ter partido vinte anos antes, na manhã de meu nascimento, e voltaria a partir na manhã seguinte. A informação me pegou de surpresa. Sempre soube que o trajeto leva vinte anos, porém, acreditei que houvesse margem de erro. Eu não estava preparado, jamais pilotara um veículo
daquele tipo, não tinha planos de viagem, suprimentos ou qualquer outra ideia de como passaria as duas décadas seguintes. Mesmo magoado, meu pai reconheceu que se assim era, então ninguém poderia guiar o ônibus melhor que eu, pois nenhum requisito era mais importante que não estar preparado. Com resignação me explicou que ninguém pode dirigir aquele ônibus e conhecer o futuro ao mesmo tempo, pois de outra forma perderia a capacidade de se surpreender e a oportunidade de apreciar o caminho, invalidando o propósito da viagem.
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Não me convenci com a explicação e argumentei que sem planejamento a viagem ofereceria mais perigos do que eu poderia suportar. Ele então me mostrou que planejamento não traz segurança: - Veja do outro lado da rua, o que temos? Um castelo, um restaurante, uma mesquita e uma favela. Quem visitou uma vez a favela e viu os efeitos da necessidade insatisfeita materializados na fome e na pobreza jamais voltará, preferindo se trancar no castelo onde encontrará segurança. Mas se assim o fizer nunca conhecerá novos
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sabores, pois para tal precisará ir ao restaurante. Caso tome coragem e vá, se não mantiver o estado de espírito, temerá degustar um peixe pelo risco de se engasgar com espinhos, ou ingerir temperos exóticos por medo de intoxicação. Se o medo prevalecer ele seguirá para a mesquita, pois lá receberá o mais perigoso dos presentes, a certeza. Se convencerá de que existe apenas um caminho a tomar, pois ao final apenas um de dois destinos é possível:
o castelo ou a favela. Recordando a experiência traumática na favela, preferirá seguir o caminho até o castelo. Trata-se portanto de um ciclo. A sabedoria e didatismo de meu pai eram novidade para mim. Interessado no raciocínio, perguntei como sair daquele ciclo: - Percebe quais são os combustíveis desse ciclo? Medo, tédio e certeza. O medo leva ao conforto do castelo. O conforto leva ao tédio que conduz ao restaurante. Os
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riscos da refeição levam à busca pela certeza da mesquita. A certeza restringe seu campo de ação e te leva de volta ao castelo, por medo. Assim, a escapada é simples: elimine o combustível e o ciclo se extinguirá. Ao terminar, meu pai saiu, emocionado. Minha mãe me instruiu a terminar os preparativos – pois o tempo passa mais rápido quando precisamos dele – e me deixou sozinho. A explicação de meu pai havia sido um forte golpe em minhas convicções. Percebi como as emoções são impiedosas com a razão e parecem se alimentar de sua ausência. Meu pai acabava de me dizer, em meu primeiro dia de adulto, que vida e certeza não se falam, por opção da vida. Mas como é possí-
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vel dormir e acordar sabendo que a incerteza é a única guia dos próximos passos? Não seria o castelo preferível nesse caso? Pois apesar de tedioso, ainda poder-se-ia tornar-se um rei. No meio da dúvida, vi no canto do quarto, jogado ao chão e bastante desgastado um exemplar d’A Roupa Nova do Rei. Havia recebido de presente de minha avó paterna essa obra que contava sobre um farsante que vendera ao rei uma vestimenta que apenas os inteligentes podiam ver. O rei andava nu e todos fingiam notar as roupas, menos uma criança, que na ignorância das consequências escancarou a mentira dos demais. O que viu aquela criança? A verdade, mais especificamente, a
sua verdade, coisa parecida com minha imaginação aos dez anos quando soube do ônibus que dava a volta na Mundo. Tão ignorante das consequências quanto a criança do conto, me vi no espelho. Passei o resto do dia juntando roupas
tava lá. Voltei para o quarto e dormi. Acordei cedo no dia seguinte. Meus pais me aguardavam na porta da rua. Choravam, mas também sorriam. Minha mãe me instruiu a sempre me permitir olhar para os dois lados, desde que eu sempre também mante-
e ajudando meus pais. Era o último dia de minha carreira como açougueiro. Quando retornei ao quarto vi pela janela o ônibus chegando junto com a noite. Desci para falar com o motorista mas ele já não es-
nha minha atenção no caminho e dele me torne amigo. Cheguei ao ônibus. Estava vazio. Meu pai gritou que não me preocupasse, pois o último motorista também partira sozinho. Essa era a regra.
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PROJETO CULTURAL CULTIVE
Valquíria Imperial - Genebra, Suiça
2° Encontro Cultural Internacional Cultive – ECIC Tipo de evento- Cultural sem fins lucrativos; Organização – Association Cultive - Club International D’art Littérature et Solidarité Site : www.cultive-org.com - Email : cultivelitterature@ gmail.com Apresentação : Association Cultive - Club International D’art Littérature et Solidarité é uma associação que está trabalhando pela divulgação de autores, obras, arte, música organizando eventos na Europa e no Brasil desde 2016. Os eventos da Cultive incluem não só a promoção do trabalho dos autores como leva os eventos à escolas de comunidades carentes. No Brasil já foram reali-
zados a 4 Campanhas da Felicidade na aldeia indígena de Camurupim- Paraíba; 2 festivais culturais cultive em 5 estados do Nordeste do Brasil; o 1° Festival Internacional Cultural Brasil Suíça em 2019; 3 Salões do livro de Genebra com participação de autores brasileiros, angolanos, portugueses, peruano, colombianos e suíços; 1° internacional Cultive em 3 países ( incluindo Lisboa) foi em 2019 com o apoio da APP. A Associação Cultive edita livros e duas revistas culturais: a Revue Cultive online quadrimestral, aberta a interessados culturais e editada em língua portuguesa, a Revue Artplus (anual) é impressa, papel couché colorido/capa 250g couché colorida, editada em português e francês, registrada na Suíça, que divulga a cultura lusófona, europeia e de outros países focalizando, arte, literatura, exposições, música, ações culturais etc. Proposta – realização da 2° ECIC - Evento cultural focando arte, música, lite66
ratura e folclore; Entrada – Gratuita aberta ao público - Local – Oeiras – Portugal; Data – Junho / 2020; Objetivo - Promover o encontro de autores, músicos, artistas plásticos e artesãos de diversas origens e nacionalidade, assim como divulgar e promover o intercâmbio entre todas as formas de arte; Conteúdo do evento - Exposição de artes p l á s t i c a s e a r tes a nato (exposição aberta ao público com obras de artistas plásticos de várias nacionalidades); exposição e lançamento de livros (aberto a todo escritor e poeta); Sarau poético aberto a todo poeta; colóquio (palestra e debates sobre literatura ministrado por convidados portugueses, e outros convidados); oficina de escritura (ministrado por convidados portugueses e outras nacionalidades); show musical (música popular, clássica, lírica e folclórica com artista locais e/ou internacionais).
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SER GERAIS Luciene Michella Baschiera (Homenagem aos 300 anos do estado de Minas Gerais
Ser Gerais é ser Minas É caminhar no orvalho É esperar o cantar do galo na madrugada Acordar sem medo Andar na relva Sentir o cheiro doce da mata molhada de rio. Ser gerais é ser curtido em barro é andar na avenida e ouvir o cantar dos pássaros Ir á igreja, rezar e cantar a alegria de encontrar um amigo É cumprimentar o velho e a criança, cuidar de pai e mãe, esperar a aurora. Ser gerais é não ter medo, só viver, só sentir. É pensar no apartar do gado e no piar dos pássaros É pensar, sim, só no café que vai florir. Ser Gerais é amar sem nada esperar Porque agente sabe que amor não cobra, só ama… Ser gerais é ser menina brejeira e faceira, alcançar as estrelas sem sair do chão. Ser gerais é ser companheiro, é amar o parceiro. Ser gerais é ser brasileiro com encanto e magia ... Ser Gerais é ser Minas... Minas Gerais.
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LITERARTE A ANTOLOGIA DO GRUPO A ILHA – 40 ANOS
O Grupo Literário A ILHA completa 40 anos neste ano de 2020. São quarenta anos de literatura, de existência e resistência, abrindo espaços para a literatura dos brasileiros. Para comemorar, esta-
remos publicando mais uma antologia, reunindo o máximo de escritores que fazem parte deste grupo literário. Como os membros do Grupo A ILHA escrevem vários gêneros – poesia, conto, crônica, teremos uma antologia versátil, que abrigará gêneros diversos. A mais recente antologia do grupo foi de poesia, mas esta n ova q u e estamos organizando será de c onto, c róni c a e poesia. A realiza-
ção da antologia será em sistema de cooperativa, cada autor pagará cinco páginas e terá direito a dez exemplares do livro. O critério de escolha dos autores será a frequência da participação nas revistas do grupo e os convites serão enviados individualmente. A princípio, a antologia abrigará quarenta escritores.
FEIRA DO LIVRO DE LISBOA O Grupo Literário A ILHA está em tratativas com a organização da Feira do Livro de Lisboa, que acontece em junho, para o lançamento dos livros POETAS DA
ILHA – antologia poética do Grupo Literário A ILHA; PORTUGAL, MINHA SAUDADE – crônicas, de Luiz Carlos Amorim e “MEU PÉ DE JACATIRÃO” – poemas,
também de Luiz C. Amorim. Além desta edição do Suplemento literário A ILHA e da edição de maio da revista ESCRITORES DO BRASIL.