A Magazine #19

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metromídia

Ano 3 Nº 19 R$ 15,00 € 5,00 ISSN 1984-4514

COMUNICAÇÃO

Carol Francischini CARLA BRUNI POR AIMÉE LOUCHARD MOTOR VEYRON BLEU CENTENAIRE CAFÉS E RUAS DE PARIS POR JOHNNY

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F I L A D É L F I A

P E N D E N T E R E L Í Q U I A . L A N Ç A M E N T O S C AT T O .

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EDITORIAL

FRANÇA NO BRASIL

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Fotografia Marcelo Bormac Edição Deborah e Barbara Lopes (Mninas) Beauty Diego Américo (Girassol) Tratamento Digital Proforma – Central de Imagens Vestido Daslu Brincos Carol Kauffmann

m abril iniciou-se o Ano da França no Brasil (de 21 de abril a 15 de novembro de 2009). Então, convido você, leitor, a embarcar em uma viagem cultural, artística e gastronômica pelas páginas de A Magazine. A exposição O Século do Jazz , no Musée du Quai Branly, em Paris, nos revela como esse importante ritmo americano foi recebido pelos franceses e influenciou “todos os outros tipos de arte”, segundo o curador da mostra Daniel Soutif. Filho dileto de Dijon, Gustave Eiffel (1832-1923) foi o criador de um dos maiores símbolos da França no inconsciente coletivo mundial: a Torre Eiffel, que em 2009 comemora 120 anos. Em passagem por essa cidade, o casal Heitor e Silvia Reali nos trouxe um pouco dos sabores da alta-gastronomia francesa na reportagem Dijon, à la Carte. Em um ensaio fotográfico em que a arte encontra a poesia e a poesia encontra a arte, o fotógrafo João Henrique Netto, o Johnny, clicou os cafés e as ruas de Paris. Belas imagens ancoradas por versos do ensaísta francês Michel Butor. No ensaio de moda Belle de Jour, as lentes de Marcelo Bormac capturaram toda a sensualidade da top Carol Francischini. Confira o excelente resultado. Mais França no perfil da primeira-dama Carla Bruni, escrito pela carioquíssima, e competente repórter de nome francês, Aimée Louchard; na mostra de cinema Femmes D’Aujourd’hui, que chega ao Rio de Janeiro em junho; e no centésimo aniversário do Bugatti Veyron, carro criado por Ettore Bugatti, em 1909, na cidade de Molsheim, na Alsácia, França.

Casquete de pérolas Walério Araújo

Enjoy

FRAN OLIVEIRA DIRETOR EDITORIAL FRAN@AMAGAZINE.COM.BR

Carol Francischini CARLA BRUNI POR AIMÉE LOUCHARD MOTOR VEYRON BLEU CENTENAIRE CAFÉS E RUAS DE PARIS POR JOHNNY

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a beleza de uma luneta de cerâmica rolex vai além de superficial. A luneta de um relógio pode deteriorar quando é exposta à luz do sol, ao cloro da água e aos arranhões. É por isso que a Rolex desenvolveu uma luneta especial, feita de um material cerâmico extremamente rígido. Esse material possui excelentes propriedades anticorrosivas e sua cor não é afetada pelos raios ultravioleta, além de ser praticamente à prova de arranhões. Para gravar os numerais neste material rígido, a Rolex desenvolveu e patenteou um processo exclusivo. Os numerais são forjados antes do enrijecimento do material cerâmico. A luneta é totalmente coberta com ouro amarelo ou platina, átomo por átomo. Por fim, o material é polido para que apenas o metal precioso dos numerais seja preservado. São necessárias 40 horas para produzir uma luneta de cerâmica. Para a Rolex nenhuma medida é extrema na busca pela beleza eterna. Descubra mais em rolex.com

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COMUNICAÇÃO

PUBLISHER CESAR FOFFÁ DIRETORA EXECUTIVA LOURDES FOFFÁ

COLABORADORES

A MAGAZINE REDAÇÃO DIRETOR EDITORIAL FRAN OLIVEIRA FRAN@AMAGAZINE.COM.BR EDITORA TATIANNA BABADOBULOS TATIANA@AMAGAZINE.COM.BR DIAGRAMAÇÃO FÁBIO TATENO TRATAMENTO DE IMAGEM JUST LAYOUT PROJETO GRÁFICO FRAN OLIVEIRA REVISORA GISELA CARNICELLI

JOHNNY Formado em 1988 pelo Back College, em Londres, João Henrique Netto, o Johnny, se especializou em fotografia de publicidade na Escola F-8, em Madri. Desde 1991 fotografa para o mercado publicitário. Em 2008, lançou Eles Falam da Alma, livro com 220 fotos de mais de 150 personalidades. Seu novo projeto é Do Lixo ao Luxo – um olhar particular sobre São Paulo.

AMNON ARMONI

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO AIMÉE LOUCHARD, AMNON ARMONI, BARBARA L OPES , C LAUDIA ANDRADE , D EBORAH L OPES , HEITOR REALI , J OHNNY , J OHNNY MAZZILI, KATIA L IMONGI , MARCELO BORMAC, MARCELO W YSOCKI, M ARCO MERGUIZZO , M ONICA NEHR, RAPHAEL CINTRA, SILVIA R EALI COMERCIAL DIRETORA VIVIANE GOMES VIVIANE@AMAGAZINE.COM.BR EXECUTIVOS DE CONTA KELLANY VERARDI - KELLANY@AMAGAZINE.COM.BR ROSANI PEDRO - ROSANI@AMAGAZINE.COM.BR REPRESENTANTES COMERCIAIS BRASÍLIA-DF: A3 COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA LTDA TEL.: (61) 3201-0001

Foi diretor do núcleo de Formação e Relações Internacionais do Institut Français de la Mode (IFM), em Paris – um dos mais prestigiados centros de formação, informação e pesquisa do setor europeu têxtil e de vestuário. Foi também diretor executivo do Instituto Brasil de Arte e Moda – instituição dedicada à formação, pesquisa e cultura de moda. Hoje é responsável pela área de comércio exterior da Ellus, além de professor para os cursos de MBA em moda e gestão do luxo na FAAP e negócios e varejo de moda na FGV de São Paulo.

ADMINISTRAÇÃO DIRETOR DE PLANEJAMENTO ATHAYDE DE ALMEIDA DIRETOR FINANCEIRO ADOLFO INOUE ASSISTENTES REGGIANE FORTUNATI E K ELIANE S ANTOS INFORMÁTICA CÉSAR SILVA E GABRIEL RODRIGUES MARKETING E CIRCULAÇÃO DIRETOR MARCELO FOFFÁ GERENTE NILCE SANTOS A MAGAZINE ONLINE PROGRAMADOR THIAGO CARVALHO WWW.AMAGAZINE.COM.BR IMPRESSÃO - METROMÍDIA GRÁFICA TEL.: (11) 4208-1601 DISTRIBUIÇÃO - DINAP E CORREIOS A MAGAZINE É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL A MAGAZINE EDITORA E PUBLICIDADE LTDA., UMA EMPRESA DO GRUPO METROMÍDIA COMUNICAÇÃO DE

CLAUDIA ANDRADE É arquiteta e doutora pela FAU-USP, e sócia da Andrade Azevedo Arquitetura Corporativa. Atua como professora colaboradora do MBA de Gerenciamento de Facilidades da Escola Politécnica da USP e é também autora de A História do Ambiente de Trabalho em Edifícios de Escritórios: um Século de Transformações, lançado em 2007.

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REDAÇÃO : CALÇADA DAS HORTÊNSIAS, 39 CENTRO COMERCIAL A LPHAVILLE - BARUERI - SP CEP 06453-017 - TEL.: (11) 4208-1600 ASSINATURAS – TEL.: (11) 4191-2397 E-MAIL: ASSINATURA @ AMAGAZINE.COM.BR A S OPINIÕES E OS ARTIGOS CONTIDOS NESTA EDIÇÃO NÃO EXPRESSAM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DOS EDITORES.

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO EM QUALQUER MEIO DE COMUNICAÇÃO DAS FOTOS E MATÉRIAS PUBLICADAS.

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Linha GENESIS

www.eternn.com.br

Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro.

Pentágono

Leonardo da Vinci

a singular alegria de viver

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SUMÁRIO

52 RELOJOARIA 36 JAZZ 28 CINEMA

56 DESIGN

32 PERFIL 42 FOTOGRAFIA

62 MODA

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88 CAVA

72 ELLUS DELUXE 104 ARQUITETURA 92 DIJON

110 BUGATTI

96 DYLAN 114 JET SKI 76 TAQUEPLAQUE

SEÇÕES

100 HI-TECH 80 MALTA

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EDITORIAL COLABORADORES ACESSÓRIOS TRENDS VIAGEM WAY OF LIFE LOUNGE BAR EVENTO

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POR TATIANNA BABADOBULOS

ACESSÓRIOS

EM PRIMEIRA MÃO Enquanto estamos na coleção outono-inverno, as grifes internacionais lançam suas coleções simultaneamente no Brasil e na Europa. É por isso, por exemplo, que a francesa Louis Vuitton exibe nas vitrines brasileiras a Coleção Spring Summer 2009. Esta bolsa, a Flight Bags Savane (R$ 8.150), foi inspirada nas utilizadas por aeromoças dos anos 1970. O modelo tem estampa de leopardo, borlas e correntes. Louis Vuitton, tel.: (11) 3088-0833

PARA ARRASAR Feita de couro de avestruz, na cor diamante grafite, a bolsa Cloutch Carré (R$ 3.175) é ideal para festas, principalmente por conta de seu charme. O modelo faz parte da nova coleção da grife que comemora 35 anos e estreia seu novo logo “5-D” aplicado nas placas de metal e nas exclusivas estampas logadas VH. Além de couro de avestruz, a nova linha utiliza também couros exóticos de jacaré e píton. Victor Hugo, tel.: (11) 3082-1303

AZUL DA COR DO CÉU A também francesa Longchamp trouxe sua coleção Summer para sua única loja no Brasil – instalada no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Os modelos da estação são em verniz, e a cor branca contrasta com os tons de azul. Também fazem parte dos modelos azuis escuros mosaicos coloridos em coral e laranja. A Cosmos azul (foto), por exemplo, custa R$ 2.195. Longchamp, tel.: (11) 3552-1555

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view imagem www.carmim.com.br ACESSORIOS.indd 13

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POR FRAN OLIVEIRA

ACESSÓRIOS

SOFISTICAÇÃO FASHION Óculos da linha solar Agde – com hastes em madeira preciosa e lentes coloridas e ovaladas – são as sugestões da Cartier para as fashionistas. As hastes, confeccionadas em madeira africana bubinga, têm acabamento em verniz e finalizam com sofisticação o arrojado acessório. Preço: R$ 10.800, www.cartier.com

INFLUÊNCIA ÉTNICA A coleção primavera-verão 2009 de Marc Jacobs para a Louis Vuitton comemorou a tradição artesanal da grife com uma seleção de peças impecavelmente confeccionadas para brilharem na passarela. Sutis influências étnicas tornaram-se verdadeiras referências nos acessórios, como esses braceletes de madeira laqueados com pintas de leopardo (foto) ou listras de zebra. www.louisvuitton.com.br

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Par de brincos de ouro branco com diamantes nas lapidações brilhante e navette. (Foto ampliada para melhor visualização)

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POR AMNON ARMONI

TRENDS

LUXO EM TEMPOS DE CRISE

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cabo de ler uma entrevista recente do diretor do Luxury Institute, Milton Pedrazza, no blog The Luxe Chronicles sobre a influência da crise mundial no mercado de luxo. O prólogo cita a seguinte frase atribuída a Mark Twain: “Os boatos sobre a minha morte são altamente exagerados.” Utilizando como mote a fina ironia de Twain, a entrevista examina a validade dos diversos artigos escritos nas últimas semanas pela mídia mundial especializada proclamando a morte do mercado de luxo. Em contraposição aos algozes do luxo, outra corrente de especialistas defende com vigor a imunidade do setor aos altos e baixos da economia mundial. Esse vai e vem de opiniões está refletido nas manchetes sobre o tema que circularam recentemente na mídia – “Marcas de luxo crescem com os ricos migrando para a qualidade”, disse o Telegraph semanas atrás, mas a Reuters escreve “A crise financeira anuncia uma era de ‘nova seriedade’” apenas uma semana após. “O setor do luxo enfrenta tempos difíceis” sugere a AP Business Writers no início de outubro de 2008, enquanto na mesma semana o Wall Street Journal declara: “O luxo não sente a dor”. Afinal, quem está com a razão? A Richemont, empresa suíça dona das marcas Cartier e Montblanc e a segunda maior do setor, anunciou queda de 12% no último trimestre de 2008 e descreveu o mercado como o pior dos últimos 20 anos. No mesmo período, a Bulgari divulgou um declínio de 17% nas vendas de joias e 28% em relógios, enquanto seu presidente Francesco 16

Trapani declarou que 2009 será um ano “muito difícil”. A inglesa Burberry anunciou um corte de 50 milhões de dólares em custos com a demissão de 540 pessoas – aproximadamente 9% da sua força de trabalho – e o fechamento de uma de suas duas fábricas na Inglaterra. Já a Chanel, um dos ícones franceses e mundiais do luxo, chocou o mercado ao anunciar a demissão de 200 funcionários. Ponto para o time do contra. Mas a penúria aparentemente não é universal. Algumas empresas estão otimistas. A Tod’s, empresa italiana de acessórios de couro, divulgou em fevereiro uma projeção de aumento de vendas e lucro para este ano. A Swatch, fabricante de relógios suíça, teve acréscimo de vendas e pedidos no primeiro trimestre de 2009 em comparação com novembro e dezembro e projeta um brando retorno de crescimento de vendas e consumo para o segundo semestre deste ano. A LVMH, líder mundial do setor, apresentou um faturamento recorde de 17,2 bilhões de euros em 2008, um aumento de 4% sobre 2007. No último semestre de 2008, o faturamento também cresceu 4%, atingindo 5,2 bilhões de euros. Seu presidente, Bernard Arnault, declarou que os resultados reafirmam a excepcional atividade da empresa em períodos de crise econômica. Ponto para o time a favor. Apesar do empate, ainda estamos no primeiro tempo e o jogo ainda está longe de terminar. Os recentes resultados financeiros não deixam nenhuma dúvida que o luxo é uma indústria cíclica e sem imunidade contra turbulências econômicas. Após uma década de crescimento vertiginoso, esse é um momento que desafia a própria existência de cada empresa do setor e expõe suas dificuldades para garantir a sobrevivência em face de uma noção de luxo também em mutação. Qual é a fronteira entre permanecer raro e único versus a pressão financeira de crescimento pela venda para as massas – o fenômeno do masstigio: contração das palavras massa e prestígio? Como resistir à tentação de diversificação para conservar as características de inacessibilidade da marca? Como fugir do ciclo vicioso: “quanto mais a marca é desejada, mais ela cresce... E quanto mais a marca cresce, menos ela é desejada?” Como preservar a noção de alta qualidade dos produtos com volumes crescentes de produção em face da globalização? Essas são questões básicas que desafiam ainda mais o setor do luxo nestes tempos de crise. A resposta de cada empresa vai determinar quem vai ficar na primeira, segunda ou terceira divisão. Acompanhe com atenção – o segundo tempo promete ser bem mais empolgante que o primeiro. Amnon Armoni é responsável pela área de comércio exterior da Ellus, professor nos cursos de MBA em moda e gestão do luxo na FAAP e negócios e varejo de moda na FGV de São Paulo.

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POR CLAUDIA ANDRADE

TRENDS

EVOLUÇÃO E TENDÊNCIAS

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s escritórios no século passado foram laboratórios vivos para o desenvolvimento tecnológico e construtivo. Nos últimos 100 anos, as técnicas construtivas evoluíram; surgiram inúmeros equipamentos e a revolução tecnológica fez quase desaparecer o trabalho manual. Surgiu, em contrapartida, o trabalho intelectual e criativo, dando uma nova dimensão à relação empresa-empregado. As plataformas globais de fluxos de trabalho, a nova geografia mundial de negócio, o acirramento da competitividade e a velocidade da informação formam o cenário da nova sociedade do século 21. A velocidade dessas mudanças representa um fator determinante na complexidade dos ambientes de trabalho. Impossível pensar em grandes áreas abertas, na alta sinergia entre grupos e na flexibilidade para configurações do espaço sem a criação, por exemplo, das grandes lajes sem interferências internas. Impossível pensar na mobilidade das pessoas e na agilidade das tomadas de decisão sem a revolução da tecnologia da informação. Impossível pensar no escritório hoje sem considerar a grande complexidade cultural e sócioeconômica mundial, que determina tanto a organização do espaço físico quanto o comportamento das pessoas no trabalho. O desenvolvimento histórico permitenos compreender essa evolução dos escritórios. No final da década de 1920, a chegada das multinacionais, a substituição do modelo europeu de metrópole pelo americano, repleto de arranha-céus, refletiu-se

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na forma de organização de cidades e empresas. Naquela época, o Brasil ainda era predominantemente rural e seu setor terciário era incipiente, formado por bancos, serviços públicos e pequenas empresas prestadoras de serviços voltadas exclusivamente para o consumo interno e pouco dependentes da economia internacional. Além disso, os fluxos de negócio e informações eram lentos, tornando naturais os descompassos de tempo entre países. Os preceitos do taylorismo nortearam o processo de organização física das empresas brasileiras até o final da década de 1980, quando é inaugurada a sede do Citicorp, na avenida Paulista, onde foi usado pela primeira vez o sistema de mobiliário integrado, criado por Robert Prospt, designer da Herman Miller no final da década de 1960. Inicia-se, a partir daí, um período de mudança mais expressiva no ambiente e na forma de rea-lização do trabalho, principalmente dentro das empresas multinacionais, que passaram a seguir um padrão de ocupação importado da matriz. Hoje, além da possibilidade de trabalhar em casa, a tendência é projetar escritórios compostos por diversos tipos de ambientes de trabalho, de modo que as pessoas deixam de ter estações de trabalho fixas e passam a se movimentar no escritório de acordo com as suas necessidades. Isso ocorre por diversas razões. Se entendermos que hoje o trabalho em escritório está cada vez mais ligado à base intelectual, que a tecnologia da informação nos permite acessar arquivos eletrônicos de qualquer lugar e que a dinâmica do trabalho mudou, não faz mais sentido pensarmos no ambiente físico da forma como ele foi pensado até então. As diversas atividades realizadas ao longo do dia exigem espaços diferenciados, com condições de conforto (iluminação, ergonomia, acústica e térmica) e requerimentos funcionais e estéticos específicos – espaços abertos para interagir, fechados para se concentrar, salas para trabalhar em equipe, assim como áreas de integração e descompressão, para recarregarmos energias – tal qual ocorre em nossas residências, onde os espaços são dimensionados, mobiliados e dotados de soluções de acordo com o seu uso. Resta saber se os traços culturais da sociedade brasileira, traduzidos por empresas ainda hoje centralizadoras e hierarquizadas, irão permitir a adoção desse novo conceito. Talvez o que devamos entender é que as pessoas precisam de um ambiente não só seguro, funcional e confortável, mas, sobretudo, agradável, criativo, inovador e flexível. Isso refletirá o valor dado ao ser humano, à sua capacidade produtiva e à complexidade de um universo em constante transformação. Claudia Andrade é arquiteta e professora-colaboradora do MBA de Gerenciamento de Facilidades da USP e autora de A História do Ambiente de Trabalho em Edifícios de Escritórios: um Século de Transformações.

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POR TATIANNA BABADOBULOS

VIAGEM ÁGUAS ITALIANAS Localizada na Sardenha (Itália), a Costa Esmeralda reúne quatro hotéis: Cala di Volpe, Pitrizza, Romazzino e Sheraton Cervo Hotel, concentrados no coração de Porto Cervo. O primeiro, por exemplo, tem vista para a baía de mesmo nome, com suas águas cristalinas e mar turquesa. O Hotel Pitrizza oferece o que há de mais luxuoso e romântico em termos de hospedagem. O Romazzino tem arquitetura caiada, rodeado pelas encostas e jardins floridos que seguem para uma praia particular. O Cervo Hotel tem vista panorâmica da Piazzetta, além de estar localizado próximo a lojas de estilistas famosos. Costa Esmeralda, www.costasmeraldaresort.com

ILHA GREGA A partir do próximo verão europeu, os hóspedes do hotel Belvedere, que fica na ilha grega Mikonos, poderão desfrutar da nova geração de apartamentos recentemente reformulados. Inspirado pelo mar Egeu e pelo tradicional branco da ilha, cada um dos oito tipos de apartamentos têm toques de águamarinha, mosaicos de mármore cortado à mão e chão de mármore cristal. A tecnologia está à disposição com estações de recepção para iPod, sistema surround de DVD, internet por banda larga e conexão sem fio. Belvedere, tel.: 30-2289-0-25-122, www. belvederehotel.com

BUENOS AIRES, QUERIDO! Localizado em frente ao Obelisco da avenida 9 de Julio, em Buenos Aires, o cinco estrelas Hotel Panamericano oferece aos hóspedes praticidade, além de estar muito bem-localizado, uma vez que está em frente ao teatro Colón, e próximo a San Telmo, onde estão os antiquários e sua famosa feira. Por ali também é possível chegar facilmente às butiques da avenida Alvear e aos restaurantes da Recoleta. Hotel Panamericano, Avenida Carlos Pellegrini, 877, Obelisco, Buenos Aires. Reservas no Brasil pelo telefone: (11) 3522-6829.

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POR TATIANNA BABADOBULOS

WAY OF LIFE DE PAI PARA FILHA Da terceira geração da família de joalheiros, Lydia Sayeg, herdeira da Casa Leão Joalheria, trabalha na empresa, que existe há 90 anos, há mais de 25. Em 2001, porém, assumiu o comando geral da companhia. Aos 13 anos começou a observar o trabalho de seu pai e a estudar gemologia com ele em casa. Gemóloga formada pela GIA (Gemological Institute of America), Lydia conta que suas joias são confeccionadas em oficina própria e diferenciadas em modelo, qualidade de ouro, pedras e feitio. E completa: “Faço questão de preservar a alta qualidade e o bom gosto das peças, e oferecer aos clientes atendimento personalizado, com hora marcada”. Casa Leão Joalheria, tel.: (11) 3031-3200, www. casaleao.com.br

BANQUETE COM EXCLUSIVIDADE Há 13 anos preparando banquetes exclusivos para jovens e senhoras da sociedade paulistana, empresários, decoradores e floristas, foi na adolescência que Isabella Suplicy começou na profissão. Especialista em bolos e doces, a banqueteira conta que seu diferencial é a exclusividade. A novidade que ainda será lançada é um doce de romã, preparado com amêndoas e água de rosas.

SOFISTICAÇÃO E ELEGÂNCIA O estilista José Vitor Zerbinatto colocou em cena o romantismo, o glamour e o luxo da década de 1950 na sua coleção inverno para a grife Madame X. Depois de observar o trabalho dos estilistas de alta-costura, ele elaborou modelagens versáteis, que vestem a mulher ora com a cintura bemmarcada com volumes dramáticos, ora com corte reto em peças fluidas. Uma glamourosa série de vestidos pretos com cortes anatômicos e sobreposições determina o fim do “natural” pretinho básico. Destaque para a linha de vestidos vermelhos inspirados no trabalho de Valentino. 22

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POR FRAN OLIVEIRA

LOUNGE BAR

HEMINGWAY BAR’S Grandes expectativas vêm, geralmente, acompanhadas de grandes desilusões… Mas não para os clientes que pedem o Nautilus, a mais nova criação entre os drinques sofisticados do Bar Hemingway, no hotel Ritz, em Paris. Com visual que chama a atenção, seu nome foi inspirado no famoso submarino da obra de Júlio Verne (Vinte mil Léguas Submarinas). Ao saborear essa “piscina” de vodca e maracujá – com uma deliciosa mistura de morango, que emerge lentamente do fundo da taça – você sentirá uma sensação refrescante seguida de uma explosão de sabores. Bar Hemingway, Ritz Paris, 15 Place Vendôme, tel.: 33 (0) 1 43 16 33 65.

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Paisagem Surpreendente

Av. Faria Lima, 2705 quase esquina com a Av. Cidade Jardim - dentro do Museu da Casa Brasileira 4 s QUINTADOMUSEU COM BR s QUINTA QUINTADOMUSEU COM BR

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FOTOS GUILBER HIDAKA

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MINI COOPER [FESTA URBANA – SP] 1 VIVIANE VENTURA | 2 CHRIS WILLIS | 3 MÖET CHANDON | 4 GRAFFITI | 5 MINI COOPER | 6 MARCELO FOFFÁ

(DIRETOR DE MARKETING DE A MAGAZINE) E ALAN CREAN (GERENTE DE MARKETING DA BMW DO BRASIL) | 7 FELIPE SOLARI GISELE DUARTE E ANDRÉ VASCO | 8 ANUAR TACACH | 9 JÖRG HENNING DORNBUSCH (DIRETOR-PRESIDENTE DA BMW DO BRASIL) | 10 MARCELLE BECKER | 11 RICARDO DE OLIVEIRA | 12 BETTINA PRATA | 13 RENATA KUERTEN | 14 RICARDO FUCHS (PRESIDENTE DO CLUBE PINHEIROS), HUGO JANEBA (PRESIDENTE DE MARKETING DA VIVO) E CARLOS MELO (DIRETOR DA LG) | 15 TATIANA MONTEIRO DE BARROS | 16 ANDRÉ PETRI | 17 FERNANDA BARBOSA | 18 MINI MINI 14 15

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CINEMA

FEMMES D ’A U J O U R D ’ H U I Tradicional, o 31o Festival International Films de Femmes, em Créteil, na França, manteve o compromisso de lutar contra todas as formas de discriminação: de raça, gênero, cultura ou classe social. Realizado em março passado, o evento contou com 150 filmes que defenderam com talento o olhar feminino sobre a sociedade

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No desenvolvimento do cinema como forma de arte, muitos dos filmes realizados na França são considerados marcos relevantes

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ugar de debates históricos, a mostra permaneceu atenta ao engajamento artístico, político e social das mulheres do mundo inteiro por meio do cinema. O festival assumiu seu legado duplo entre feminismo e a ação cultural, colocando a imagem e os modos de representação cultural no centro de suas reflexões. As cineastas brasileiras Laís Bodanzky, Inês Cardoso e Giselle Beiguelman participaram da Mostra Competitiva Internacional com o longa-metragem Chega de Saudade; o documentário Cocais, a Cidade Reinventada; e o curta Carscapes, respectivamente. O filme de Bodanzky recebeu o prêmio especial do júri oficial. A trama, escrita por Luiz Bolognesi, conta histórias vividas em um clube de dança destinado a pessoas que já passaram dos 40 anos. O cinema francês é atualmente o mais dinâmico da Europa em termos de público, número de filmes produzidos e de receitas geradas por suas produções. Teve papel importante na história desse meio de comunicação social, tanto em termos técnicos como históricos. Os primórdios do cinema contam com vários nomes franceses, entre os quais os irmãos Lumière. No desenvolvimento do cinema como forma de arte, muitos dos filmes realizados na França são considerados marcos relevantes. E é essa relevância, com filmes dirigidos somente por mulheres, que a 6ª edição do FEMINA – Festival Internacional de Cinema Feminino – traz para a cidade do Rio de Janeiro. Entre os dias 1º e 7 de junho acontece a mostra Especial Films de Femmes

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Filmes dirigidos somente por mulheres na 6a edição do FEMINA – Festival Internacional de Cinema Feminino

Aujourd’hui Créteil-Rio, na Caixa Cultural RJ. Além da programação de filmes, diretoras francesas e brasileiras, e representantes do Films de Femmes, participarão de debates com o público e discutirão temas como a produção audiovisual feminina no Brasil e na França, a situação das mulheres no mercado de trabalho e na política dos dois países, a contemporaneidade do feminismo, entre outros assuntos. Para a mostra no Rio de Janeiro já foi confirmado o documentário Une Passeuse, de Claire Ruppli. Filmado em 2007, durante 56 minutos Ruppli acompanha a diretora do Festival Internacional de Films de Femmes de Créteil, Jackie Buet, e aborda questões a respeito de como é estar à frente de um projeto que

Les Bureaux de Dieu (foto), de Claire Simon; Une Passeuse, de Claire Ruppli; e Debout!, de Carole Roussopoulos: filmes confirmandos para a mostra no Rio de Janeiro

acontece há 30 anos. O longa-metragem franco-belga Les Bureaux de Dieu, de Claire Simon, revela, em 120 minutos, que no “escritório de Deus” se ri, se chora, se desabafa. Dança-se, fuma-se sobre o balcão, chega-se, incógnito, para contar sua história comum ou extraordinária. Já a película Debout!, de Carole Roussopoulos, mostra o movimento de liberação das mulheres ocorrido durante maio de 1968 – rebelião que, segundo alguns filósofos e historiadores, foi o acontecimento revolucionário mais importante do século 20, pois não se deveu a uma camada restrita da população, como trabalhadores ou minorias, mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe. MAGAZINE

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PERFIL

Carla Bruni

Beleza, atitude e charme da primeira-dama francesa cruzam fronteiras POR AIMÉE LOUCHARD

E

la tem nome de princesa e porte de rainha. Carla Gilberta Bruni Tedeschi Sarkozy. A mulher que foi pedida em casamento pelo presidente da França duas horas depois de lhe ser apresentada em um encontro às escuras e estava casada com ele em sete semanas é, para se dizer o mínimo, incomum. Lindíssima e sofisticada, está na ordem do dia. Ou como preferem os novos patrícios: é branchée. No país da Marselhesa, Carla conseguiu, no posto de primeira-dama, alavancar a popularidade do marido Nicholas Sarkozy, bater a marca de mais de quatro milhões de entradas no site de buscas Google e dividir os flashes com expoentes tão singulares da atualidade quanto o papa Bento XVI, o líder tibetano Dalai Lama, a rainha Elizabeth II e o presidente Lula em encontros ao redor do mundo. Tudo isso em

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pouco mais de um ano. “Gostaria de, respeitando a dignidade do cargo, conservar minha personalidade”, anunciou logo na primeira coletiva após o casamento aos jornalistas, que insistiam em compará-la às predecessoras Madames Mitterand e Chirac. Era um recado firme de que ela tem voz própria e nenhuma intenção de viver à sombra de alguém. Bem-nascida no seio de uma família de magnatas dos pneus e do petróleo, La Bruni abriu seus cintilantes olhos azuis para este mundo em Turim, no norte da Itália. Filha de pai industrial e mãe concertista, foi criada entre a Suíça e a França, para onde a família emigrou fugindo das ameaçadoras Brigadas Vermelhas, grupo radical que aterrorizou a Itália nos anos 1970, com inúmeros sequestros seguidos de assassinatos. Depois do ensino médio na Suíça, chegou a cursar a Sorbonne, que abandonou em 1988 para dedicar-se às passarelas.

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ENSAIO POLÊMICO Animada com o êxito da estreia, seguiu em frente e gravou mais dois álbuns: No Promises, todo cantado em inglês e baseado em poemas de William Butler Yeats e Emily Dickinson, em 2007; e no ano seguinte, Comme Si De Rien N’Était, cantado em inglês e em francês. Com os olhos do mundo voltados para o que Carla Bruni canta, come, bebe, veste ou faz, as polêmicas tornaram-se inevitáveis. Em setembro de 2008, ela concordou em ser capa da revista americana Vanity Fair. No ensaio fotográfico, clicado pela super

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Contemporânea das supermodelos Naomi Campbell, Kate Moss e Claudia Schiffer, Carla Bruni não fez por menos. Ao desfilar regularmente para as maisons Dior, Chanel e Yves Saint Laurent, entrou para o prestigiado time das 20 manequins mais bem pagas do planeta e amealhou uma fortuna considerável, já que recebia, em média, 7 milhões de dólares em cachês a cada temporada. Após uma década como modelo de sucesso, deixou o sangue falar mais alto e se rendeu à música, iniciando a carreira de cantora e compositora. Em 2002, lançou o álbum Quelqu’un m’a dit. Muito elogiado pela crítica, o CD vendeu mais de 200 mil cópias na França e foi número 1 em vendas pela Amazon no país. “Escuto todos os ritmos desde os 10 anos de idade, das canções francesas dos anos 1960 de Françoise Hardy, Serge Gainsbourg e Charles Aznavour, ao pop inglês dos Beatles e o folk americano de Bob Dylan, além do jazz e blues de Ella Fitzgerald e Billie Holiday. Por isso minhas influências musicais são diversas e ecléticas”, comentou no lançamento.

Annie Leibowitz, Sarkozy juntou-se à mulher em uma cena familiar na sala de tevê. Até aí, nada de mais. Só que entre declarações de como o namoro dos dois foi “fogoso” desde o início, Carla teve o privilégio de estampar sozinha, em um deslumbrante longo vermelho tomara que caia, a página dupla da abertura da matéria, em foto capturada no teto do Palácio do Eliseu, a sede do governo francês. Os ecos da audácia fizeram tremer as estruturas da Torre Eiffel. “Inapropriada”, “oferecida”, “coisa digna de um ego de grandes proporções” foram alguns dos comentários das dezenas de editoriais, blogs, programas de rádio e afins. Carla não revidou os ataques e soube esperar o momento oportuno para dar o troco. Com luvas de pelica, comme il faut. Em janeiro último, a primeira-dama passou um pito público no primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi quando este, em declaração absolutamente desastrada, se referiu ao recém-empossado presidente americano, Barack Obama, como “um jovem belo, talentoso e bronzeado”. “É por isso que eu me sinto tão feliz por ter me tornado francesa”, ela alfinetou o premier e, de quebra, ganhou a simpatia dos compatriotas. Há quem aposte que nada do que ela faz é inocente ou fortuito – do prosaico fato de ter trocado os saltos altos por sapatilhas para não evidenciar publicamente a diferença de estatura com o marido baixinho, às intermináveis reuniões com o estilista John Galliano para preparar um guarda-roupa careta na visita à soberana da Inglaterra no Palácio de Buckingham ou, ainda, ao uso do véu islâmico na ida a uma mesquita na capital da Tunísia.

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“Ter um passado não é chocante, o chocante seria fingir que não tenho nenhum passado” [Carla Bruni]

ENREDO DE FOLHETIM Seja como for, Carla Bruni parece ser daquelas mulheres que jamais teve TPM ou chegou a um quilômetro – quanto mais à beira – de um ataque de nervos. Quando mencionam a longa lista de namorados famosos que inclui, entre outros, os roqueiros Eric Clapton e Mick Jagger, os atores Kevin Costner e Vincent Perez e o milionário Donald Thrump – um assunto, aliás, recorrente na biografia dela – Bruni é direta: “Ter um passado não é chocante, o chocante seria fingir que não tenho passado algum”, desfecha. Em dezembro, em visita ao Brasil para onde veio com Nicholas Sarkozy na missão de oficializar a realização do Ano da França em 2009, ela manteve o savoir fair, que já é marca registrada. Soberba em um vestido de poás e sandálias de pedras azuis que mostravam as unhas cuidadosamente pintadas de carmim, ela assistiu a um desfile de moda em uma comunidade carioca, comemorou o aniversário de

41 anos em jantar em Ipanema oferecido por uma socialite de origem francesa, onde até tentou entrar no coro de Primavera, um hit de Tim Maia, puxado pelos cantores e artistas presentes – e ainda distribuiu muitos sorrisos e autógrafos à multidão de tietes que cercou o Copacabana Palace durante toda a estada. Mas os momentos mais ternos da temporada brasileira foram desfrutados em um paradisíaco resort na praia de Itacaré, na Bahia. Lá, a bela nadou com o filho Aurélien, de 7 anos, fruto de um romance anterior, namorou Nicholas e reencontrou Maurizio Remmert, o pai biológico, um industrial italiano radicado há 30 anos em São Paulo, a quem ela só conheceu adulta, depois da morte do homem de quem sempre acreditou ser filha. Com todos os ingredientes de um folhetim clássico, a vida de Carla Bruni, na certa, daria muito ibope no horário nobre. O azar é dos franceses que não curtem uma boa novela. C’est dommage! MAGAZINE

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EXPOSIÇÃO

O SÉCULO DO

JAZZ “O jazz foi um tipo de substância, uma loucura que mais ou menos acabou por influenciar todas as artes, como se não tivesse sido só música, mas um estado de espírito que se expandiu para além do mundo da música” [Daniel Soutif] TRADUÇÃO

O

K ATIA LIMONGI

jazz, com o cinema e o rock, pode ser considerado um dos maiores acontecimentos do século 20. Essa expressão musical híbrida nasceu no início do século e marcou todos os aspectos da cultura mundial com seus sons e ritmos. Muito mais do que gênero musical, o jazz não só revolucionou a música, mas também introduziu uma nova maneira de pensar na sociedade, influenciando profundamente a história da arte do século passado. Com quase 2 mil metros quadrados, a exposição O Século do Jazz – que acontece até 28 de junho no Musée du Quai Branly, em Paris – convida o público a conferir como o jazz influenciou as outras formas de arte, como pintura, fotografia, cinema e literatura, sem se esquecer das artes gráficas, os quadrinhos e

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desenhos animados. Pelas dez seções cronológicas e quase mil peças, o visitante é levado a uma leitura multidisciplinar viva da história complexa da música, com objetos e documentos, partituras ilustradas, pôsteres, discos, fotografias e muito mais. A variedade de documentos expostos mostra o sem-número de matérias influenciadas pelo fenômeno que foi o jazz: pinturas de Léger, Pollock, Dubuffet, Basquiat e Bearden com fotografias de Man Ray, Carl Van Vechten, Jeff Wall e outros artistas europeus menos conhecidos. A exposição conta com cópias da Survey Graphic; capas da Columbia e Atlantic; comic strips de Loustal e Guido Crepax; Chasing the Blue Train, uma instalação de David Hammons; quase 40 fontes musicais, incluindo uma com a famosa Strange Fruit de Billie Holiday, brilhantemente revivida por Maria Schneider.

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Retrato de Billie Holiday, em 23 marรงo 1949. Biblioteca do Congresso, Washington, D. C.

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Uma sala dedicada ao cinema apresenta inúmeros trechos de filmes, como Begone Dull Care, trecho de um filme de Norman Mac Laren; Ascenseur pour L’échafaud (Lift to the Scaffold), de Louis Malle; e até Jammin’ the Blues, de Gjon Mili (1944), mostrado por inteiro. A exposição tem como guia um fio vermelho que leva o visitante a conferir, ano por ano, os principais eventos da história do jazz. As inúmeras partituras, os pôsteres, discos, críticas musicais, revistas, livros, fotografias, filmes, desenhos animados e gravações exibidas lembram os episódios mais marcantes da época. Um fio condutor vai levá-lo de Nobody, de Bert Williams (1905), ou Some of These Days, de Sophie Tucker (1910) – sucessos que precederam o aparecimento do misterioso termo “jazz” – aos shows no Lincoln Centre ou à nova geração “downtown” de Nova York e muitos espetáculos históricos, sem esquecer a primeira gravação de jazz do Original Dixieland Jazz Band, em 1917. Recheado de sons e audiovisuais, os clipes musicais são tocados em ordem cronológica, como se fossem palcos encontrados pelo caminho. As salas temáticas (Harlem Renaissance, The Swing Years, Bebop, The Free Revolution), que aparecem tendo como guia o fio, destacam a relação do jazz com as outras artes e também seguem a sequência de eventos. A variedade de estandes presente na linha do tempo reflete a abundância das criações geradas pelo jazz, das capas de álbuns pelos gênios Alex Steinweiss e Lee Friedlander, aos vídeos de Adrian Piper, Christian Marclay, Lorna Simpson e Anri Sala.

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PRÉ-1917

A moda foi tanta que uma expressão criada

É claro que é impossível determinar uma

por Fitzgerald, “filhos do jazz”, veio a des-

data precisa para o início do jazz. No entan-

crever toda uma era. Além das maravilhosas

to, o ano de 1917 é considerado crucial por

ilustrações que decoravam as partituras, a

conta da combinação de dois eventos im-

época do jazz pode ser vista em fotografias

portantes. Em fevereiro, a Original Dixieland

de Man Ray (em especial uma delas intitu-

Jazz Band, com seus músicos brancos, fez

lada Jazz, de 1919). Outras fotografias que

a primeira gravação com o título de jazz

retratam bem a época são das duplas Ar-

(mais precisamente, grafado Jass). Em no-

thur Dove e James Blanding Sloan e Miguel

vembro do mesmo ano, o exército america-

Covarrubias e Jan Matulka, que na época

no fechou o distrito vermelho de Storyville

moravam nos Estados Unidos. Enquanto os

em New Orleans. Os estabelecimentos do

brancos americanos estavam vivendo a sua

bairro empregavam um número grande de

“Era do Jazz”, pela primeira vez na história

músicos, em sua maioria emigrantes que

os afro-americanos alcançavam reconheci-

acabaram indo para Nova York e Chicago.

mento cultural com o movimento conhecido

Há que se ter cuidado, porque bem antes

mais tarde como Harlem Renaissance. Se

disso havia um grande sinal do fenômeno

o jazz de Louis Armstrong ou Duke Elling-

musical que mudaria o mundo e inspiraria

ton era o componente dessa efervescência

muitos artistas, como os menestréis, ragti-

criativa, a música não era o único aspecto.

me, entre outros.

Sob a liderança do escritor Langston Hughes ou do pintor Aaron Douglas, grande número

NOS ESTADOS UNIDOS [1917-1930]

de artistas produziu obras de arte incríveis,

Nos Estados Unidos, logo após a Primeira

tanto literárias quanto visuais. É importante

Guerra Mundial, houve uma loucura pelo

lembrar o papel que artistas brancos como

jazz, como pode ser visto no livro de F. Scott

Winold Reiss e Carl van Vechten tiveram

Fitzgerald, Tales of the Jazz Age, de 1922.

nesse movimento negro.

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NA EUROPA [1917-1940]

cais foram testemunhas dessa nova moda e

James Reese Europe’s infantry band, Os

de seu ritmo sincopado, que também serviu

Harlem Hellfighters, chegaram na França

de fonte de inspiração para muitos artistas.

durante a Primeira Guerra e introduziram

Nos Estados Unidos, o pintor moderno Stuart

ritmos sincopados ao som europeu. Com o

Davis e o regionalista Thomas Hart Benton di-

fim das hostilidades, o jazz rapidamente se

vidiam o mesmo interesse musical. Na Euro-

infiltrou em todos os aspectos da cultura eu-

pa, Frantisek Kupka dedicou diversos quadros

ropeia. Em 1925, a chegada da revue nègre

a esse tipo de jazz, que especialistas, como

com Josephine Baker coroou a invasão do

Charles Delaunay, descreviam como hot. Um

tumulte noir, assim chamado por Paul Colin.

evento importante no final da década foi de-

De Jean Cocteau a Paul Morand, Michel Lei-

cisivo: Alex Steinweiss, um artista desconhe-

ris ou George Bataille, inúmeros autores se

cido naquele momento, criou a primeira capa

inspiraram de uma forma ou de outra nessa

de disco para a Columbia Records.

Acima, no alto, O Quarteirão II, 1972. Coleção de Arte Afro-americana, de Walter O. Evan, Savannah. Abaixo, capas de disco. Na página oposta, Retrato de um músico, 1949. Doação anônima, Museum of Art and Archaeology, Missouri University – Columbia. Josephine Baker no Folies Bergères, 1927. Coleção Rennert, Nova York

onda musical. O fenômeno não foi menos apreciado no campo das artes visuais, de

TEMPO DE GUERRA [1939-1945]

Marcel Janco a Kees Van Dongen, Pablo Pi-

A Segunda Guerra Mundial teve um impacto

casso, Otto Dix ou Fernand Léger.

dramático na cultura de todo o mundo. A música acompanhava os soldados nos campos

OS ANOS DO SWING [1930-1939]

de batalha e a calamidade não deteve a reper-

Depois da Era do Jazz veio o Swing, uma

cussão do jazz em outras áreas da arte. Assim

dança que nasceu nos anos 1930, com as

que Piet Mondrian chegou em Nova York, ele

apresentações de bandas negras importan-

descobriu o Boogie Woogie, que determinou o

tes, com Duke Ellington e Count Basie ou

estilo de suas últimas obras de arte. William

de brancos, como as de Bennie Goodman,

H. Johnson reverenciou os passos tão popu-

Tommy Dorsey ou Glenn Miller. Com o fim

lares do Jitterbug. Enquanto isso, em Paris,

do cinema mudo, inúmeras comédias musi-

os Zazous, provavelmente chamados assim

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À esquerda, colagem para homenagear os músicos Duke Ellington, Louis Armstrong e a cantora Bessie Smith. À direita, capa da revista Life de 1926

por causa de uma música de Cab Caloway, ficaram conhecidos pelo

essa diferença: na costa leste, letras geométricas e fotos em close-up de

seu estilo excêntrico de vestir – o terno Zoot – que demonstrava a sua

músicos negros; na costa oeste, praias ensolaradas e lindas garotas

oposição aos invasores. E nessa época, o jazz gozava de grande popu-

loiras... Porém, essas imagens de férias eternas não nos deixam es-

laridade na França, o que talvez explique o interesse de Jean Dubuffet

quecer que a Califórnia também era um lugar para encontros de jazz

e Henri Matisse, que pegou uma tesoura e recortou papel colorido, que

e poesia, tão adorados pela Beat Generation.

se desenvolveu na famosa obra Jazz. A REVOLUÇÃO FREE [1960-1980] BEBOP [1945-1960]

Ornette Coleman gravou Free Jazz em 1960. Com o título – Free jazz!

Com o Bebop, que se espalhou no final da Guerra, o jazz se tornou

ou Free jazz – o disco tem na capa uma reprodução de White Light, de

moderno, enquanto na pintura o expressionismo abstrato estava se pre-

Jackson Pollack, e marca uma nova ordem: após o período moderno,

parando para dar as caras. Alguns de seus protagonistas, em especial

veio a fase avant-garde libertária. As artes visuais responderam ao

Jackson Pollock, encontraram inspiração direta no jazz que ouvia o tem-

movimento negro – Black Power, Black Muslims, Black Panthers –

po todo. Na Europa, Renato Guttuso, Antoni Tapiès e Nicolas de Staël

mostrando artistas maduros, como Romare Bearden; novatos, como

também encontraram no jazz a inspiração para seus quadros. Uma nova

Bob Thompson – que viveu pouco –, e na Europa, com o britânico

arte, que nasceu com o disco de vinil, foi a capa de disco. Dezenas de ar-

Alan Davie. Dentre os muitos efeitos dessa revolução, não se pode

tistas gráficos, famosos e desconhecidos – de David Stone Martin a Andy

esquecer de Notes towards an African Orestes. No filme, o diretor

Warhol, Josef Albers a Marvin Israel, Burt Goldblatt a Reid Miles –, todos

Pier Paolo Pasolini traz uma improvisação de Gato Barbieri.

se dedicaram à tarefa de seduzir os amantes da música em um formato bem definido: 30 x 30 cm. E, por fim, o cinema também não escapou da

PERÍODO CONTEMPORÂNEO [1960-2002]

influência do jazz contemporâneo. Dentre as dezenas de filmes, podemos

A presença do jazz na arte contemporânea, se não foi sempre óbvia,

citar Ascenseur pour l’échafaud (Lift to the Scaffold), de Louis Malle, e La

esteve longe de ser negligenciada, como pode ser observado nos

Notte (The Night), de Michelangelo Antonioni.

trabalhos de Jean-Michel Basquiat ou de Robert Colescott. Também os vídeos de Adrian Piper, Christian Marclay, Lorna Simpson e Anri

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JAZZ DA COSTA OESTE [1949-1960]

Sala confirmam essa presença da mesma forma que Prologue, do ar-

A história do jazz comumente aceita é a de que o Bebop era música

tista canadense Jeff Wall, cuja inspiração veio do romance de Ralph

de negros de Nova York, diferente da música da costa oeste; perto

Ellison, The Invisible Man. Finalmente, o pequeno trem azul de David

dos estúdios de Hollywood, era branca, cool e sofisticada. Na ver-

Hammons, percorrendo as montanhas de carvão, e as tampas de

dade, apesar do clima mais agradável e cheio de sutilezas, o jazz da

piano criadas por esse lendário artista afro-americano concluem a

costa oeste tinha tanta personalidade e energia quanto o de Nova

visita à exposição: se o século 20, o século do jazz, terminou, o trem

York. No entanto, o desenho gráfico das capas dos discos reflete bem

da música que o acompanhou ainda está em movimento.

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arte

fotografia

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FOTOGRAFIA

CAFÉS E RUAS DE PARIS FOTOS

JOHNNY

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descoberta (ou invenção) da fotografia, no século 19, representou uma revolução que transformou o homem. Um clique nos captura e ao mesmo tempo nos revela. Todo tipo de imagem é estimulante e desafiador aos fotógrafos, mas não é difícil achar a razão, por que, com uma câmara na mão, eles foram sempre desafiados a fotografar gente. Congelar a imagem de um rosto, de um corpo, é uma experiência de arte e humanidade. A diversidade de informações e sensações que a fotografia de uma pessoa apresenta é extraordinária (do tradicional retrato 3 x 4 às fotos de arte). Não é por acaso, portanto, que as imagens de pessoas constituem capítulo especial na história da fotografia. Personalidades, autoridades, famosos, anônimos, ninguém escapa da curiosidade e da investigação fotográficas. Levar essas fotografias a um público ampliado é uma forma de ajudar todos a conhecer seus semelhantes e se conhecer. O trabalho de muitos anos de João Henrique Netto, o Johnny, pode ser visto desta forma: como contribuição para a melhor compreensão do nosso tempo por meio de imagens que revelam a alma de gente que faz a nossa história. Mas também pode ser “lido” com o olhar de quem admira o seu talento de artista, quando compõe luz, forma, movimento e aperta o botão na hora mágica. [Julio Fontana Neto] 42

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Desde a distância insondável, quando saboreio a eternidade, escuto o eco do teu pranto e, para te consolar, mando as reverberações dos meus pensamentos na esperança de te reencontrar depois de tantas metamorfoses nos caminhos da minha generosidade [Michel Butor]

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O meu olfato percebe o incenso que se levantará sobre os passos, devolvendo a vida à minha velhice para que possa repartir as minhas bênçãos por toda a cidade cujas pirâmides se levantam por cima das árvores nas terras do vento [Michel Butor]

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Guardei no meu coração todas as fases da Lua; a minha boca borrou-se e só os meus olhos podem expressar-se no incenso das noites de espera para mostrar ao Sol e a todos os seus filhos perdidos o caminho da sua libertação [Michel Butor]

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O teu assombro por existir entre tanta casualidade conforma-se com o meu questionamento sobre o som da chuva sobre as folhas para te murmurar segredos que te far達o perdurar alguns meses ou alguns anos para narrar as tuas aventuras [Michel Butor]

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RELOJOARIA

ARTE + TEMPO Algumas relações, como a estabelecida entre a casa Vacheron Constantin e o Museu Barbier-Mueller, parecem estar escritas nas estrelas, já que ambos partilham os mesmos valores, a mesma filosofia e as mesmas paixões em uma busca de renovação constante. Mesmo que a dita busca seja realizada em dois âmbitos muito diferentes, em ambos os casos a mesma questão inexorável é reduzida: o tempo é uma arte. Uma arte que é vista sublimada com a passagem do tempo POR RAPHAEL CINTRA

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omo resultado dessa busca surgiu a coleção Métiers d’Art Les Masques, inspirada nos tesouros que se escondem na coleção privada de Jean-Paul Barbier Mueller e na tradição relojoeira Métiers d’Art que a Vacheron Constantin consolidou durante mais de 250 anos. Em sua apresentação, em 2007, o projeto causou uma grande expectativa no mundo da haute horlogerie. Em cada um dos anos do triênio, que se estende até 2009, foram criadas quatro novas máscaras (cada uma delas representa um dos quatro continentes – Ásia, América, África e Oceania), com seus estojos correspondentes, em séries limitadas de 25 relógios, totalizando 300 relógios. A máscara do Japão emana delicadeza e serenidade pela sua cara com forma de lua, dos seus olhos torneados e de suas faces arredondadas, tudo enquadrado com as orelhas curvas e estilizadas. O nariz e a boca mostram um inusitado realismo, enquanto que o azul intenso do chignon coiffure, que abarca uma multidão de pequenos cachos esculpidos em madeira, contrasta com o dourado da cara. A parte anterior da máscara está coberta por um feltro para assim proteger o queixo de quem a usasse. Parece que a máscara representa Amida Nyorai, cujo nome significa “luz infinita” ou “vida infinita”, um dos cinco Budas da Sabedoria, os quais guiam os crentes a uma segunda vida que começa depois da morte. O perfil da figura, tão especial, que data do século 19, lembra a cara da famosa estátua de Buda que se encontra no Santuário Kamakura, no Japão. Considerado uma das peças de uma chaminé de um “queimador de incenso”, a máscara do México não pode ser qualificado como “máscara”, mas como um retrato extremamente delicado. As linhas do rosto barbudo, esculpido com uma grande atenção à proporção e ao volume, mostram uma vontade de-

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terminada de naturalismo por parte do artista. Esse retrato parece ser de um nobre maia, que tinha uma pérola fixada na cartilagem do nariz, ornamento característico do período clássico antigo. Cada uma das máscaras requereu uma atenção especial e destreza. A máscara do Gabão, por exemplo, centra-se na arte da caça, em que todos os delicados detalhes proporcionam suave acabamento. Essa máscara, da célebre coleção do poeta Tristan Tzara, foi exposta por Charles Ratton, em Paris, em 1931 e, posteriormente, em 1935, no prestigiado Museu de Arte Moderna de Nova York, onde foi aclamada como uma das “revelações” da “arte negra”. As suas características plásticas e pictóricas sempre mostraram uma natureza perturbadora que em certa medida reflete o sentido estético de um período de agitação. A máscara de Papua (Nova Guiné) — feita de madeira pintada, replicada com ouro vermelho, que foi submetido a um tratamento químico muito específico que realça a sua cor, e coberto manualmente com pátina, para ressaltar os matizes da pintura — é uma representação masculina dos espíritos agressivos dos ancestrais que tinham como uma das funções principais devorar os jovens adolescentes durante os seus ritos de iniciação antes de devolvê-los às suas mães, vomitando-os, transformados já em jovens adultos. Até que chegou o homem branco. Todos os homens se integravam na sociedade mediante ritos de iniciação em que aprendiam a se separar do mundo das mulheres e das suas mães, estabelecendo uma relação muito pessoal com o seu antepassado brag, poderoso e masculino, por meio de imagens consubstanciais a ele. A peça mostra tanto as características zoomórficas como as antropomórficas das máscaras da desembocadura do rio Sepik, todas as quais, na sua diversidade de formas, apresentam um longo nariz que evoca o bico de um pássaro.

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DESIGNER

TUNDRA DESIGN A tundra é uma vegetação proveniente do material orgânico que aparece no curto período de degelo durante a estação “quente” das regiões de clima polar. O designer Frank Juhls inspirou-se neste cenário para criar joias exclusivas TEXTO E FOTOS DE

JOHNNY MAZZILLI

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inamarca, segunda metade da década de 1940. Após a Segunda Guerra Mundial, o inventivo e inquieto dinamarquês Frank Juhls abandona sua combalida terra natal e se muda para o norte da Noruega, apaixonado pelo estilo de vida nômade dos sámis, povo da distante Lapônia. Alemanha, pós-guerra. Regine, uma jovem atriz alemã desiludida, abandona uma promissora carreira e faz o improvável – deixa a Alemanha romanticamente identificada com o vai e vem dos sámis pelas vastidões geladas da Lapônia. Ambos se instalam na pequena vila de Kautokeino. Autêntico selfmade man, Frank constrói, em uma colina, uma confortável cabana de caça. Culto pintor, apreciador de música clássica, caçador e faz-tudo, ele logo se torna uma figura conhecida naquela região remota. Regina, por sua vez, ao chegar pede a uma família sámi que a adote em troca de seu trabalho com os animais e afazeres domésticos. Os sámis viviam dizendo a Frank que ele precisava conhecer a bela alemã que veio morar com uma das famílias. Frank se animava com a ideia. O mesmo diziam a Regine: que ela precisava conhecer “o dinamarquês”, um sujeito diferente.

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No alto, a casa-ateliê construída pelo casal. Da esquerda para a direita, detalhe da casa, Regine e Frank Juhls e estagiário de joias

Frank e Regine construíram juntos uma vida romântica e inusitada. Por um tempo moraram na cabana, até o dia em que ela pegou fogo. Reconstruíram-na e tempos depois lançaram os alicerces de uma casa única no mundo, fruto da criatividade e imaginação de Frank. Os belíssimos tetos abaulados são uma abstração que remete aos montes de neve que se acumulam no inverno. Cada ambiente representa uma década da vida deles juntos. Mais que uma casa, o ambiente criado pelo casal é uma mistura de museu, ateliê, galeria de arte e joalheria. Lá estagiam designers de joias do mundo inteiro. A indumentária sámi utiliza muitas joias de prata, mas curiosamente o povo nunca soube produzi-las, pois seu nomadismo impedia que transportasse muitos apetrechos. Um dia foi pedido a Frank que desenhasse e produzisse algumas peças, e o sucesso foi tal que ele ficou inundado de pedidos. E assim teve início sua trajetória de designer de joias. Frank iniciou sua produção construindo peças tematizadas na cultura sámi. Com o tempo — inspirado por elementos, como líquens, musgos, pingentes de gelo, aves migratórias — desenvolveu uma exótica linha, que batizou de Tundra Design. Exclusivas, essas peças podem ser encontradas na Juhls Silver Gallery nas cidades de Oslo, Bergen e Trondheim, na Noruega. 58

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POWERFUL BRAND

ELLUS DELUXE Marca de jeanswear genuinamente brasileira exporta seus modelos para diversos países e dita moda com suas lavagens diferenciadas POR TATIANNA BABADOBULOS

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esde 1972, quando foi fundada pelo casal Nelson Alvarenga e Adriana Bozon, a Ellus se destaca no mercado de moda brasileira. A marca começou a atuar no segmento de jeans naquela época e, cinco anos depois de criada, já tinha o modelo “five pockets”. Depois já vieram outros destaques, como o jeans colorido e o stone-washed (“o jeans lavado à pedra”). Se Nelson é o presidente da empresa e responsável pelos negócios, Adriana é a diretora de criação não apenas da Ellus, mas também da 2nd Floor, grife mais jovem lançada em 2007 durante a São Paulo Fashion Week. Além do Brasil, os produtos da Ellus podem ser encontrados em países da Europa, Oriente Médio, América Latina, Estados Unidos e Ásia. Com orgulho de ser brasileira, Adriana Bozon diz que o “made in Brazil é muito importante para agregar valor ao produto.” Faz pouco tempo que existe a Ellus jeansdeluxe. “É o jeans sempre original, tanto em termos de lavagem como de modelagem. A linha Limited traz peças com tecidos nobres com edição

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limitada. É uma sofisticação para atender aos clientes mais exigentes”, conta Adriana Bozon. De olho no mercado fashion e nas tendências jovens, na última edição da SPFW, em janeiro, a Ellus apresentou sua coleção com a modelo Agyness Deyn na passarela. A top, que ficou conhecida como a “nova Kate Moss”, foi escolhida por ter “uma atitude rocker que tem tudo a ver com a Ellus”. “Tentamos a modelo por mais de um ano, mas a agenda dela não conciliava com as datas da SPFW. Ela é uma profissional à frente de seu tempo, tem um estilo que é copiado por todo mundo e lança tendências”, justifica Adriana, que confirma ser o jeans o curinga da marca. Há mais de 20 anos na empresa, Adriana Bozon comanda a equipe de criação e afirma que a inspiração para as novas coleções vem “de vários caminhos, como viagens, exposições, filmes, livros, pessoas”. “É todo um conjunto que vai definir as ‘vontades’ para uma próxima estação. Além disso, conto com uma equipe de mais de 30 designers que traz suas pesquisas e, então, definimos os temas em um grande brainstorm. É um trabalho em

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Agyness Deyn: a top ficou conhecida como a “nova Kate Moss� e foi escolhida para representar a marca por sua atitude rocker, que tem tudo a ver com a Ellus

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Marca de prestígio: no sentido horário: as modelos Cindy Crawford, Agyness Deyn e a diretora de criação Adriana Bozon, as modelos Kate Moss e Alek Wek

equipe e os designers são jovens, com ideias frescas e, assim, fazemos uma reciclagem criativa.” Entre os detalhes que a marca investe para se diferenciar da concorrência está principalmente a lavagem. “A Ellus se diferencia pela originalidade, por isso investimos muito em pesquisa. A lavagem é um processo que demanda muito tempo até chegarmos à aprovação final”, conclui Adriana. Antenado nas tendências, Nelson Alvarenga acredita que é preciso renovar sempre e que o ciclo normal de renovação de uma grife é de cinco a dez anos. “Se não houver reconstrução a cada cinco e dez anos, a marca é engolida pelas novas.”

CAMPANHAS Em meio à ditadura militar e à censura, no início dos anos 1980, a Ellus realizou campanhas publicitárias que marcaram época, como a “Mania de Você” que, ao som da música de mesmo nome na voz da roqueira Rita Lee, um casal se despia em uma piscina, em pleno horário nobre na televisão. Em catálogos, a Ellus 74

já investiu, por exemplo, na top Cindy Crawford, no auge de sua carreira, nos anos 1980. No mesmo período, a empresa patrocinou algumas edições do concurso de modelos The Look of the Year. Na década seguinte, foi a vez de o fotógrafo inglês Terry Richardson clicar a atriz Milla Jovovich especialmente para a marca, além das tops Alek Wek e Kate Moss. Foram garotas-propagandas da Ellus nos anos 2000: Xuxa, Daniella Cicarelli e Fernanda Torres. A nova coleção inverno 2009 traz o resgate da origem do índigo e a Ellus se inspira no universo dos mineradores e de outros hardworkers. As lavagens têm tingimentos diferenciados, de modo que a cartela de cores é composta do cinza claro ao azul profundo e preto. O couro também aparece e recebe tratamentos que conferem efeitos especiais em jaquetas e casacos. São peças navalhadas com aparência de pelo, com filme metalizado e manchas de efeito. Outro ponto alto é o tricô flamê da alfaiataria com feltragem de lã feita por processo manual, o Tyvec (um tecido falso com filme metálico) e o xadrez.

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CIDADES E BAIRROS

TLAQUEPAQUE, GUADALAJARA A

M A G I A TEXTO E FOTOS DE

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HEITOR E SILVIA REALI

laquepaque. Guarde este nome tão sonoro quando for a Guadalajara, México. O distrito a 15 minutos do centro da capital do Estado de Jalisco é conhecido como a “Cidade dos Artistas e Artesãos do México”. E olha, que ele já era famoso entre os ceramistas indígenas, muito antes da chegada dos espanhóis em 1542. É lá no centro histórico desta pequena vila que estão as melhores galerias de arte, de decoração e as oficinas dos ceramistas. Na rua Independência, a Galeria Rodo Padilha (www.rodopadilha.com) apresenta, além de quadros, obras deste artista em esculturas de cerâmica de alta temperatura e bronze. Ela é conhecida carinhosamente como a ‘casa das bicicletas’. Isto porque o artista privilegia grande parte de suas obras com figuras andando de bicicle-

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C O R E S

ta. Ora uma mulher carregando enormes buquês, ora gordinhos com bigodões e chapelões, bem ao estilo mexicano. Na mesma rua está outra badalada galeria, a de Sergio Bustamante (www.sergiobustamante.com.mx). Este reconhecido artista mexicano é criador de figuras surrealistas de cerâmica, metal e jóias artesanais. Mas são suas esculturas em papel machê que se destacam. Outras alternativas que identificam o melhor e mais colorido artesanato mexicano, elaborado em palha, madeira, couro e tapeçaria podem ser encontrados nas lojas que enquadram a rua Independência. Como a El Prieto Azabache, na rua Juarez. Especializada em artigos de couro, tem nas bolsas e maletas os produtos com mais sofisticação. No mesmo rol das boas lojas, pode-se ainda citar a Galeria Rosita Canela, na Morelos, tradicional em tapetes e mantas.

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Nada escapa aos contrastes fortes das cores. São cores sem-cerimônia nenhuma, “uma louca liberdade de tons e pátinas das casas mexicanas do interior”, como já disse o renomado arquiteto Ricardo Legorreta

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A maioria destas galerias, são mais de 200, está instalada em “casonas” coloniais, amplas, mas intimistas e aconchegantes por dentro. São em seus interiores que arquitetos e decoradores mexicanos vão renovar seus estoques de idéias e cores. Os preços não são baratos, mas valem pela originalidade e capricho. Pausa. Brasileiros levam vantagem no preço sobre qualquer outro turista estrangeiro em Guadalajara. Devemos isto a Pelé, Rivelino & Cia., desde 1970, quando nessa cidade nos tornamos tricampeões mundiais. Cordialidade e gentilezas mostram o carinho deste povo ao nosso país. Será isso somente o que nos faz sentir bem num lugar? Outros fatores contribuem para essa mesma sensação nessa pequena comunidade. A luz é um deles. É ela que expõe a graça dos volumes e as cores fortes dessas construções seculares. A cor de uma parede, de uma janela ornada com jardineiras floridas que se abrem sob um sol forte. São cores sem-cerimônia nenhuma, “uma louca liberdade de tons e pátinas das casas mexicanas do interior”, como já disse o renomado arquiteto Ricardo Legorreta. A verdade é que o bairro surge colorido, como uma aldeia calidoscópica. Nada escapa aos contrastes fortes das cores, nem igrejas e pequenos hotéis-butique, como o Rosa Morada Cocina e Hotel (rosycruz@hotmail.com).

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A Galeria Rodo Padilha é conhecida como a ‘casa das bicicletas’ porque o artista privilegia grande parte de suas obras com figuras andando de bicicleta

A cartela de cores, porém se estende em outro patrimônio da cidade – a gastronomia. Os melhores e mais sofisticados restaurantes oferecem uma moderna cozinha mexicana. Rica em verduras, legumes, frutas, pimentas e...cores. Sim, lá é verdade o mote de “primeiro comer com os olhos”. Em Tlaquepaque, como em todo o México, a culinária, como na França é cultura. Antes de se dirigir a um dos muitos restaurantes, vale conhecer o mercado Juarez. Freqüentado por moradores e visitantes, os produtos estão organizados por setores. Vá direto na ala das pimentas, pois é ela o ingrediente mais importante dos chefs mexicanos. Com mais de 60 variedades, graus de ardor e formatos, ela entra no preparo dos moles, molhos muito elaborados e espessos, que podem conter até chocolate. Vai ser difícil decidir qual levar para casa. Entre as mais ardentes, a chili pikin, chipotle, morita, e a yahualica.

Para fechar com chave de ouro seu passeio, escolha uma mesa ao ar livre no pátio interno do centro gastronômico El Parián, onde estão reunidos vários restaurantes com apresentação de mariachis. Comece pedindo uma tequila: derecho, pura, – isso é para os que têm gargantas fortes – ou banderita, com sal e limão. Ou ainda as variantes mais suaves e sofisticadas, como as margaritas, com gelo moído, sumo de limão e cointreau. Depois de experimentar o sabor de um dos pratos que evidencia a presença de especiarias tropicais de forma sutil, vale saborear no Salon Monterrey, uma torta “chabela”, doce típico da região, ao preço médio de 11 dólares. Esse é o prato que a personagem Titã, interpretada por Lumi Cavazos, preparava para seu amado no filme Como Água Para Chocolate. Há lembranças de uma viagem que se deixam guardar num compartimento especial da memória, numa delas, no porta-jóias, está Taqueplaque. MAGAZINE

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DESTINO

MALTA O exotismo mediterrâneo do país amarelo TEXTO E FOTOS DE

JOHNNY MAZZILLI

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Acima, típica vila maltesa no povoado de Senglea, no Grand Harbour. Na página ao lado, vista parcial do Grand Harbour

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um minuto do pouso na pequena capital La Valetta, acordei de um sono pesado e estiquei um olhar sonolento pela janela do avião. O que vi, surpreso, foi um país amarelo – até onde eu podia enxergar, morros baixos amarelos e pardacentos pontilhados de construções amarelas formavam um mosaico exótico. Aquilo nada se parecia com o que eu tinha visto até então. Decidi, no aeroporto, alugar um carro; mas só depois vi que os carros tinham o volante no lado direito, herança da colonização britânica. Saí do aeroporto dirigindo de forma exageradamente cautelosa, e aos poucos me adaptei ao esquema de trocar as marchas com a mão esquerda e dirigir na mão contrária. Embora não seja um bicho de sete cabeças, a força do hábito é a maior responsável pelos muitos acidentes que envolvem turistas: as saídas das rotatórias são um convite para batidas, de modo que muitas vezes segui uma 82

dica básica: se você tem dúvidas de onde deve entrar, não se arrisque nas saídas de uma rotatória – dê uma, duas ou três voltas e ensaie sua saída. Embora eu não tenha batido em ninguém durante os sete dias que rodei por este diminuto país, várias vezes freei subitamente a poucos metros de outros veículos. Como os locais sabem que têm uma rara condição mundial de tráfego invertido, me olhavam de forma indulgente e balançavam a cabeça. Malta é um país arquipélago formado por três pequenas ilhas: Malta, Gozo e a desabitada Comino (Camúna, para os malteses). Em toda parte, muros baixos de pedras amarelas, e nos terrenos, videiras de uvas brancas ou cactos de frutos vermelhos, usados para fazer o Bajtra (báitra), um licor típico. Apesar do calor intenso, há uma expressiva produção de vinhos brancos. Malta é um país realmente singular. Não apresenta montanhas nem rios, somente um ribeirão com um metro de largura e meio de profundidade, pouco

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Com poucas fábricas e muitas empresas não poluentes, o país se orgulha de seu forte turismo

para abastecer uma população de aproximadamente 350 mil habitantes. Quase toda a água doce consumida no país vem de três plantas de dessalinização de água salgada, um processo caro e que consome muita energia elétrica, por sua vez oriunda da queima de petróleo. Esse cenário encarece a água e a eletricidade e aumenta a dependência energética do país. Com poucas fábricas e muitas empresas não poluentes, o país se orgulha de seu forte turismo. Rodeada por águas de um azul turquesa que nada devem ao melhores visuais do Caribe, Malta é frequentada por hordas de turistas durante os doze meses do ano, ávidos por um oásis de tropicalidade em plena Europa. Os italianos são os mais assíduos. De junho a agosto, verão europeu, a temperatura às vezes ultrapassa os 40o C, sufocante até para padrões brasileiros. No inverno, de dezembro a fevereiro, as temperaturas são amenas. Tudo devido à localização geográfica do país, a 100 quilômetros da 84

Sicília, extremo sul da Itália, e a pouco mais de 300 quilômetros da Tunísia, norte da África. Malta foi disputada por fenícios, cartagineses, romanos, árabes e normandos. A ocupação britânica começou em 1801 e encerrou com a independência do país, em 1964. Malta teve uma participação inusitada na Segunda Guerra Mundial. Foi duramente bombardeada pela aviação alemã, por ser um elo importante de ligação entre o sul da Itália e o norte da África. A força aérea maltesa, composta por quatro aeronaves antigas até para a época, deteve o avanço da Luftwaffe com um velho avião para cada dez aeronaves nazistas, bem mais modernas e velozes. Os pilotos malteses resistiram por seis longos meses de batalhas, perdendo apenas um avião. Sucessivas invasões moldaram o exótico aspecto multicultural de Malta. É nítida a forte influência árabe, assim como a italiana, presente na comida, no modo de

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A localização geográfica das ilhas proporciona luminosidade quente e duradoura, e o país sedia várias superproduções hollywoodianas

vida e arquitetura. Os clássicos varais na varanda, comuns em Nápoles e outras regiões da Itália, estão em todo lugar. As rochas calcárias abrigam conchas pré-históricas e fósseis marinhos. No Ta Ricardu, agradável taberna em Gozo, uma espécie de trilobita, artrópode do Paleozoico, emergia silencioso do calcário ao lado de minha mesa. “Almoço com o trilobita na Ilha de Gozo”, pensei. A localização geográfica das ilhas proporciona luminosidade quente e duradoura, e o país sedia várias superproduções hollywoodianas: Gladiador, Conde de Monte Cristo e Troia foram filmados lá, assim como centenas de produções de menor porte. O litoral do arquipélago é bastante recortado por penhascos. Lanchas, iates e veleiros, repletos de turistas, cortam as águas. O idioma maltês é falado apenas nas três ilhas do arquipélago. Deriva de dialetos árabes, mas absorveu forte influência inglesa e italiana. É o único idioma arábico escrito em alfabeto romano. Uma surpreendente mistura.

Em La Valetta, vielas estreitas pontilhadas de bares e restaurantes de comida siciliana e frutos do mar fervem de estrangeiros. Grande parte da cidade é cercada de muralhas e fortificações cuidadosamente iluminadas à noite. La Valetta, expoente do barroco europeu, abriga centenas de monumentos públicos e é uma obra de arte a céu aberto. De manhã, vá até a vila pesqueira de Marsaxlokk (Mársash lóc), a poucos quilômetros de La Valetta. A baía repleta de barquinhos multicoloridos, emoldurada pelas construções barrocas da “avenida” da praia, compõe um visual vibrante e colorido. Aproveite para almoçar no Ta Peppi, um restaurante pequeno e modesto que serve peixes e crustáceos de preparo simples e surpreendentemente saborosos. Barracas oferecem um mundaréu de quinquilharias e inutilidades domésticas. Preste atenção aos belíssimos bordados malteses, doces típicos e garrafas de Bajtra. MAGAZINE

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Em La Valetta, a cuidadosa iluminação pública valoriza o belíssimo entorno fortificado da cidade

À noite, uma opção mais sofisticada é jantar no restaurante do Hotel Meridién, na movimentadíssima Balutta Bay (baía de Balutta), a aproximadamente 25 quilômetros de La Valetta. Não perca o Upper Barrakka Gardens, um jardim público erigido em 1661, onde se tem uma visão dramática do Grand Harbour e das três cidades fortificadas do outro lado da baía – Vitoriosa (Bírgu, para os malteses), Cospicua e Senglea. Foi no Upper Barrakka que conheci um senhor muito curioso. Com 96 anos, lúcido, falante e de humor afiadíssimo, ele é membro do Conselho de Notáveis de Malta, advogado e reitor da Universidade. Apreciava a vista na companhia de dois amigos, e, em certo momento de nosso animado papo, veio com essa: “Entre a honra e o dinheiro, o segundo será o primeiro”. 86

No dia seguinte, perambulei pelas vielas do lado oposto da baía, nas cidades fortificadas. De lá apreciei o visual do Upper Barrakka, onde eu estive no dia anterior. Pouco antes do anoitecer voltei ao local para o fim de tarde. Mdina, a “cidade silenciosa”, perdida no tempo, com seus becos e vielas tranquilas, igrejas e casarios antigos, abriga algumas vidrarias de Murano maltês que produzem maravilhos vidros artesanais. Vale a pena uma ida aos penhascos da Blue Grotto, gigantesca formação calcária à beira-mar. Mais interessante do que sua visão superior é um passeio de barco em seu interior. Por fim, não se esqueça de trazer para casa uma garrafa de Bajtra, o adocicado licor local. Sahhiet! (saúde!)

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BEBIDA

CAVA PORQUE TE QUERO CAVA Na galeria das flûtes de estirpe, as borbulhas de alma catalã brilham tanto quanto as da região de Champagne POR MARCO MERGUIZZO

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inho branco que se transformou espontaneamente em espumante dentro da garrafa, o champanhe é a bebida mais elegante e glamourosa da adega. A seu lado, hoje, o cava espanhol – denominação masculina, no idioma de Cervantes (1547-1616), para adega subterrânea ou bodega, referência aos barris em que esse ultrarrequisitado espumante é produzido – ganha cada vez mais espaço e prestígio, dividindo as preferências no mundo dos rótulos borbulhantes. Velho conhecido dos amantes mais atentos das flûtes aqui e lá fora, sua qualidade se equivale à das melhores taças de seu primo-irmão gaulês. De personalidade única e intrigante, a origem e alma dessas garrafas, produzidas há quase 140 anos, são catalãs. Há quem acredite, por isso, que em uma taça de cava podem ser encontrados o mesmo espírito inquieto e vulcânico e o frescor inventivo expressos nas obras de Antoni Gaudí (1852-1926), mestre da arquitetura gótica, e de Ferran Adrià, o chef-mago da cozinha tecnoemocional que revolucionou a gastronomia no século 21. A denominação de origem “cava”, porém, tem pouco a ver com a sua origem geográfica. Ela 88

apenas indica os espumantes feitos pelo sistema clássico, ou tradicional, em que a segunda fermentação ocorre na garrafa. Chamado de champenoise, nesse processo o vinho “adormece” com sua borra (sedimentos) durante nove meses sob a escuridão e o silêncio da cave para se transformar em espumante e, só depois disso, ser comercializado. Para ser um cava legítimo, portanto, a bebida necessita fermentar na garrafa durante esse tempo, visando a adquirir seu patrimônio de aromas e sabores. Já os de categoria reserva precisam de dezoito meses e, os gran reservas, vinte e quatro. Esse período de “repouso”, imprescindível à construção organoléptica da bebida, agrega qualidade e complexidade à ela.

PENEDÈS: DENOMINAÇÃO DE ORIGEM Embora seja produzido em toda a Espanha, é na região do Penedès, no nordeste do país – a maior e mais importante área demarcada para produção de vinhos da Catalunha – que saem 95% dos cavas que ostentam o selo D.O.C., a Denominação de Origem Controlada, que distingue os goles ali produzidos dos das demais regiões do país e de outras partes do mundo. É também nesse ponto da Catalunha que são produ-

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zidas as melhores garrafas. Ou seja: quando se fala em cavas de qualidade, se fala dessa região pródiga e particularmente instigante do país de Dom Quixote. Se a região do Penedès (segunda maior produtora de espumantes do mundo, perdendo apenas para Champagne) é a pátria do cava, a cidadezinha de Sant Sadurní D’Anoia, a apenas 50 quilômetros de Barcelona, é a meca do espumante catalão. Situada no alto Penedès e com pouco mais de 11 mil habitantes, ela abriga quase uma centena de bodegas em funcionamento, dentre elas a pioneira Cordoníu. É ali que a saga dos cavas espanhóis começou a ser escrita por um certo Don José Raventós. Oriundo de uma família de produtores da região, ele elaborou depois de visitar Champagne os primeiros exemplares de um vinho espumoso. Da pequena bodega, fundada em 1872, resultou o que hoje é a gigante Codorníu.

Seguindo as técnicas francesas de elaboração do champanhe, Don José sabiamente batizou os vinhos de cava, para assim diferenciá-los dos pioneiros e respeitar as leis de proteção ao espumante francês. Vale destacar que até hoje a rigorosa legislação europeia proíbe chamar de champanhe o vinho espumante feito fora da região homônima francesa. Graças ao controle de qualidade dos métodos de produção e ao Consejo Regulador de los Vinos Espumosos, que vela pelo cumprimento da regulamentação dos cavas, a evolução dos espumantes espanhóis tem sido impressionante nas últimas décadas. De olho no mercado internacional e por conta dos altos investimentos realizados pela indústria vinícola espanhola, eles ostentam cada vez mais méritos de grande espumante, ganhando espaço no ranking de preferências dos experts. MAGAZINE

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QUESTÃO DE ESTILO De acordo com a regulamentação espanhola, os espumantes podem ser classificados como: cava (considerado de melhor qualidade e mais nobre, é elaborado unicamente pelo método champenoise); granvas (também conhecido como charmat catalão, cuja a segunda fermentação é realizada não na garrafa, mas em grandes tanques pressurizados) e o vino gasificado, que resulta da simples adição de gás carbônico industrial a um vinho branco que serve de base. Embora o método de elaboração seja o mesmo do de Champagne, a diferença entre ambos se estabelece tanto no terroir (expressão francesa, sem tradução para o português, que define o conjunto de fatores naturais e humanos que caracterizam um lugar) quanto na variedade das uvas com que ele é elaborado, originando rótulos distintos no aroma e no paladar. No champanhe, as uvas francesas chardonnay, pinot noir e pinot meunier formam o blended clássico. Já nos cavas, as espanholas macabeo, parellada e a xarel-lo predominam (porém, os melhores rótulos 90

levam a chardonnay). Enquanto o champanhe ostenta mais complexidade e elegância, o cava é mais frutado e tem sabor mais potente e pronunciado, além de uma interessante relação de qualidade e preço. Embora apresente boa estrutura, não é um rótulo de guarda e, como todo espumante, deve ser bebido jovem, para que o perlage (as indefectíveis bolinhas) e todo seu frescor possam ser apreciados e reverenciados.

PARA TODAS AS HORAS Bebida gastronômica por natureza, na Espanha o cava escolta ostras, almêijoas, lagostins e vieiras. “Com caviar constitui uma entrada senhorial”, diz o gastrônomo catalão Nestor Lujan. “Mas as ostras são sua escolta perfeita”, completa. Segundo ele, o cava “pode – e deve – estar presente à mesa da entrada à sobremesa”. O tipo brut, por exemplo, de paladar mais seco, é indicado para acompanhar pescados, carnes brancas e molhos mais leves. Já o rosé harmoniza-se perfeitamente bem com carnes sofisticadas, como vitela, cordeiro, pato e galinha d’angola. Salute.

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ESTRELAS CATALÃS Quatro cavas de estilo para brindar e saborear a vida

CODORNÍU SELECCIÓN RAVENTÓS

JANÉ VENTURA ROSADO BRUT

Um nome de grande prestígio no mundo das

De paladar marcante e complexo, este rosé,

borbulhas. Josep Raventós fez o primeiro

apontado pelo Guia Peñin como um dos me-

cava da Espanha, em 1872, e a empresa é

lhores da Espanha em 2008, mostra o talento

a maior produtora individual de espumantes

da vinícola-butique do Penedès em produzir

do mundo (mais de 60 milhões de garra-

cavas de alta qualidade pelo método clássico.

fas). No topo de seus cavas está este gran

Produzido com a cepa garnacha, as uvas são

reserva, que passa 24 meses em garrafa.

colhidas manualmente em vinhedos próprios

É composto de 25% de macabeo, 25% de

de baixo rendimento. Maturação em garrafa

xarel-lo e 50% de chardonnay. Borbulha ge-

por 30 meses. Ideal para acompanhar tapas

nerosa e duradoura. Paladar macio, menos

GRAN CAUS RESERVA BRUT NATURE 2002

e pratos com frutos do mar. Sugestão de

agressivo, com aromas delicados de cítricos

Do premiado produtor Can Ràfols dels Caus,

guarda: até 5 anos. Importado pela Mistral de

e frutos secos, tendo na boca fina untuo-

do Pendedès, atualmente é um dos cavas

SP, tel.: (11) 3372-3400, www.mistral.com.br.

sidade. Rótulo gastronômico, brilha, porém,

mais prestigiados da Espanha. Utiliza 50%

Preço: US$ 49.50

com pratos à base de pescados. Importado

de xarel-lo, 20% de macabeo e 30% de

pela Interfood de SP, tel.: (11) 2602-7255,

chardonnay. Tem os aromas característicos

www.interfood.com.br. Preço: R$ 84,00

dos espumantes de classe: pão, fermento e frutas secas. Espuma cremosa, refrescante. Seco e complexo em boca, é extremamente elegante e ideal para acompanhar comida mexicana, indiana, tailandesa e japonesa (cozinha do cru, como sushi e sashimi), além de ostras e peixes defumados. Pronto para consumo, tem, porém, grande potencial de guarda. Importado pela Vinci de SP, tel.: (11) 2797-0000, www.vincivinhos.com.br. Preço: R$ 197,16

JANÉ VENTURA GRAN RESERVA BRUT NATURE VINTAGE 2004 Da mesma vinícola-butique anterior, este cava do tipo brut é produzido em vinhedos biodinâmicos. Cortes clássicos da macabeo (30%), xarel-lo (30%) e parellada 40%. Paladar cremoso, de frescor exuberante, cheio de personalidade. Sugestão de guarda: até 5 anos. Importado pela Mistral de SP, tel. (11) 3372-3400, www.mistral.com.br. Preço: US$ 59.90 MAGAZINE

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GASTRONOMIA

DIJON, À LA CARTE Viagens que associam cultura e lazer costumam ser mais interessantes e não terminam quando se volta para casa. Acrescente agora um sabor a mais, a alta-gastronomia, e voilà: você chegou em Dijon TEXTO E FOTOS DE

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HEITOR E SILVIA REALI

scolhemos o caminho mais longo para chegar em Dijon, no centro-norte da França, considerada a capital da Borgonha. Poderia ter optado pelo TGV (trem de alta velocidade) saindo da Gare de Lyon, Paris, em uma viagem de apenas uma hora e meia. O roteiro escolhido por estradas vicinais foi prazeroso e prendeu nossa atenção todo o tempo, desde a capital e as planícies até os contrafortes das montanhas de Morvan. Mas foi a partir de Paray-le-Monial, quando acompanhamos o Canal du Centre, e suas eclusas, ladeado por ciprestes, que a história foi outra. Não é por menos que essa estrada é patrimônio nacional. Atravessamos vilas medievais pontilhadas de abadias, palácios e castelos que dão a marca de nobreza à paisagem dominada por vinhedos. São cinco as regiões produtoras de vinhos na Borgonha: Côte de Nuits, Côte de Beaune, Côte Chalonnaise, Chablis e Mâconnais, cada uma com sua particularidade. O saboroso legado de mais de mil anos pode ser degustado em quase 300 vinícolas abertas à visitação. Um cruzeiro de pedra no

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caminho vai indicar que chegou aos vinhedos de pinot noir da prestigiosa Domaine de la Romanée-Conti, considerada um dos vinhos mais sofisticados da França. Mas Borgonha não é só vinho. É no Arco do Triunfo, a Porta Guillaume, que fazia parte das muralhas da antiga cidade, que Dijon acolhe o visitante. O Arco também funciona como portal do tempo, desses que você atravessa e cai direto em uma vila medieval. Não se apresse. Vale a liberdade, o improviso, enfim, a descoberta. Se buscar definir a singularidade de Dijon é quase inevitável começar pela sua arquitetura à colombage – casas construídas com vigas de madeira de cor escura que formam ricos grafismos. Os telhados policromos são outra particularidade das construções do centro histórico. Mas o coup de foudre recai impreterivelmente na sua culinária. Alguns de seus produtos são emblemáticos, como a mostarda, o pain d’épices e o licor de cassis. Todos merecem um capítulo à parte. Conhecê-los é fazer uma viagem gastronômica pelos idos tempos.

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A riqueza da cidade surgiu no século 14 com a mostarda. Na receita básica, os grãos de dois tipos de sementes: a branca (Brassica hirta) e a negra (Brassica nigra) são macerados e misturados ao vinho ou vinagre, água, sal, ácido cítrico e ervas. A receita elaborada com vinhos da região de Borgonha e com as melhores sementes foi regulamentada pelo rei Carlos VI e, a partir daí, a região se consagrou pela qualidade da mostarda de Dijon. Hoje a maioria das sementes é proveniente do Canadá, mas a receita permanece com seus habitantes. Aqui vale uma pequena história para provocar os franceses: dizem as “boas línguas” que foram os romanos que levaram a mostarda para a Borgonha. O nome deriva do latim mustum ardens, ou seja, mosto ardente. A mostarda já era conhecida desde a época que o exército romano utilizava as estradas que passavam por Dijon para conquistar a Gália. Os franceses tiram de letra essa controvérsia, afirmando que a única mostarda com “Denominação de Origem Controlada” é a produzida na cidade. E, a preferida entre os 94

chefs de todo o mundo é a fina e aromática Malle. Outro produto emblemático de Dijon é o pain d’épices. Para este não existe discordância: é francês quatrocentão. Desde 1600 sua receita é guardada a sete chaves. Catherine Dugourd, que dirige a mais prestigiada pâtisserie da cidade, Mulot & Petitjean, fundada em 1796, depois de muitos elogios à iguaria, deu algumas dicas: “a base é uma massa de pão, mel e açúcar que deve repousar de três dias a três semanas e depois misturada com ovos e anis”. E, para finalizar, mais uma marca registrada da cidade, o licor de cassis. Criado em 1840 por Auguste Lagoute, o produto é feito a partir da maceração da fruta em um álcool neutro e, posteriormente, edulcorado com açúcar cristalizado. E, bingo, não tardou muito para que o recém-criado licor se tornasse ingrediente de novas receitas, até mesmo aquela que é misturada com a mostarda. Esqueça nosso básico cassis com papaia. Lá ele é servido tanto como digestivo (liscio), ou aperitivo – servido com vinho branco (kir), ou com champagne (kir royale).

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AGENDA DE VIAGEM Hotel Sofitel La Clouche www.hotel-lacloche.com Restaurant Hotel du Nord www.hotel-nord.fr Restaurant Hostellerie du Chapeau Rouge www.chapeau-rouge.fr

LOJAS DE IGUARIAS REGIONAIS Mulot & Petitjean mulotpetitjean@mulotpetitjean.fr Bourgogne Street www.bourgognestreet.fr Maison Milliere www.maison-milliere.com La Moutarderie Falot www.fallot.com Charcuterie Degrace, Halles Tel.: 03 80713953

Dijon é uma cidade pequena, com pouco mais de 200 mil habitantes, provinciana, charmosa e acolhedora. A área mais gostosa, coincidência ou não, é a que fica ao redor do mercado – Les Halles – uma construção metálica do final do século 19. Há galerias de arte, lojas de antiguidades e chocolateries, onde podem ser encontrados os chocolates artesanais de Bernard Dufoux, produzidos em La Clayette, e há dez anos considerados o melhor da França. Glamour à parte, ali estão os restaurantes com mesinhas nas calçadas. São sofisticamente simples, mas plenos de charme. Também no entorno do mercado está um dos pontos mais concorridos da vila: a Praça Rude, com a estátua em bronze do vindimador. Conta-se que há 200 anos, em vez de água, a fonte jorrava vinho. No mercado, podemos observar como os alimentos enfeitiçam os franceses. Só de queijos são 600 tipos. À déguster impérativement, o citeaux, queijo produzido na abadia dos padres cistercienses, e o

époisses, queijo redondo com crosta vermelha, típico de Dijon. Completam as barracas de frutas da estação as castanhas, cogumelos, salsichas, salames, escargots, para citar apenas alguns produtos. Costuma-se ter fila de espera em algumas bancas, como da prestigiada carne bovina charolais e do frango de Bresce, uma espécie só criada nessa região. É impossível não entrar nessa curtição gastronômica, mesmo quando se sai do mercado. Não há meio de virar a mesa. Vitrines de lojas de especiarias são um convite à alma do voyeur da gastronomia e com petiscos para consumi-los com genuíno gourmandise. Os bistrôs, que oferecem um chablis Domaine Droin, ou um Clos de Tart, além dos aromas de um confeito recém-oferecido por um pâtissier, subverte seu destino e interrompe a continuidade de seu passeio. Viajar é isso. Curtir, passear, comer bem e tomar vinho, em uma felicidade de dar gosto. As coisas são assim, simples, em Dijon. MAGAZINE

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HOTEL-BUTIQUE

Dylan Estilo e serviço inigualáveis em privilégio da Individualidade POR K ATIA LIMONGI

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adalado hotel-butique de Dublin, o Dylan foi inaugurado em janeiro de 2007. O luxuoso edifício vitoriano de 44 quartos está aninhado no frondoso bairro de Ballsbridge, a apenas alguns minutos do centro histórico de Dublin, St. Stephen’s Green, Grafton Street e Trinity College. Ele já foi o Hibernian Hotel e hoje é parte da rede Fylan Collection (da qual também é membro o Dunboyne Castle Hotel & SPA, em Meath). O Dylan de hoje é resultado de uma reforma de 25 milhões de euros. O trabalho impecável de Spirit & Style e HKD transformou o Dylan em um estabelecimento elegante, luxuoso e moderno, com móveis feitos sob medida por Christopher Guy, iluminação em fibra ótica, lustres de cristal Murano e um bar de estanho acolhedor. Desde o primeiro momento, quando os hóspedes adentram a sofisticada recepção revestida em couro e cromo e são recepcionados pelo dedicado comitê de boas-vindas (que usa roupas do estilista irlandês Leigh Tucker), sabem que sua estada será nada menos do que memorável. “Queríamos um hotel de luxo em que os hóspedes se sentissem em casa fora de casa, e não um hotel cheio de estilo e nenhuma substância.

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Bar de estanho criado por Spirit & Style: colorido vibrante e dramático, com uma incrível variedade de coquetéis

Tentamos imaginar todas as possíveis necessidades de um hóspede e procuramos satisfazê-las de forma criativa, com serviço personalizado”, afirma o gerentegeral Siobhan Delaney. Mais do que qualquer coisa, a experiência no Dylan nos remete à individualidade. Não há dois apartamentos iguais. Alguns são coloridos e extravagantes, outros modernos e neutros. E em cada um deles você vai encontrar mobiliário feito sob encomenda por Christopher Guy, peças antigas memoráveis em prata e cristal, a famosa cerâmica Belleek e retratos em preto-e-branco de Philip Pankov. Em todos os apartamentos há as inesquecíveis camas Seventh Heaven vestidas com os finos lençóis Frette e, para nunca mais esquecer, os hóspedes podem escolher um travesseiro especial do menu de travesseiros. Em todos os apartamentos há TVs de plasma, iPods, telefones Bang & Olufsen, internet sem fio e produtos para banho da grife italiana Etro. Escolha jantar ou beber no Dylan restaurant ou no Dylanbar. O chef Padraic Hayden (ex-chef do One 98

Pico) cria menus contemporâneos no restaurante Still, finamente decorado em branco. A impressionante carta de vinhos, com mais de 230 variedades, é cuidadosamente elaborada pela sommelier Camilla Guidolin. O Dylanbar, por outro lado, tem um colorido vibrante e dramático, com incrível variedade de coquetéis feitos a pedido. O bar de estanho criado por Spirit & Style, a lareira com espelhos e o mobiliário em vermelho, púrpura e verde criam certo ambiente lúdico para a integração dos hóspedes. O hotel tem duas salas de reuniões — uma opulenta biblioteca de grife para reuniões informais e eventos mais íntimos; e uma mais formal, que comporta até 12 pessoas. Com equipamentos de áudio e vídeo de última geração, acesso à internet sem fio, uma elegante decoração e varanda agradável, esses espaços podem ser usados em muitas situações e são servidos pelo Still. A localização do hotel é ideal, próximo à rua Baggot, onde estão os melhores bares e restaurantes de Dublin. www.dylan.ie ou tel.: 353 (1) 660-3000.

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arquitetura

elizabeth de portzamparc

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LUXO POSSÍVEL Loft hi-tech surpreende público da Feicon 2009 demonstrando tecnologia de ponta com a aplicação do reconhecimento facial POR NATÁLIA MESTRE

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grande feira da indústria da construção – a Feicon Batimat – recebeu pela primeira vez este ano a iHouse, empresa de automação residencial, que tem como um de seus sócios Leonardo Senna. A companhia, que desde o ano 2000 vem desenvolvendo soluções tecnológicas inteligentes para o mercado Premium de tecnologia residencial, investiu aproximadamente 500 mil reais na construção de um loft de 150 metros quadrados com a proposta de aproximar o público da feira desse mundo high-tech. Também este ano, a iHouse começou a trabalhar com uma nova diretriz: trazer soluções mais acessíveis para um público médio padrão. “Hoje 100

já temos produtos que atendem a necessidade mínima de tecnologia a partir de 2% do valor do imóvel a partir de 150 mil reais”, revela Daniel Hornos, gerente comercial da marca. Foi justamente pensando nisso que o conceito iHouse esteve ao alcance de um grande número de pessoas, que por sinal fizeram fila para conhecer o interior do loft na Feicon. Aliás, 2009 é mesmo o ano em que a empresa está expandindo seus horizontes: duas novas filiais serão inauguradas no exterior: uma em Dubai, apostando no crescimento do mercado imobiliário dos Emirados Árabes, e outra em Miami. Além disso, os produtos inteligentes da marca podem ser vistos num luxuoso complexo residencial na Suíça, o Hotel Du Parc, um empreendimento de

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A SmartFaucet foi a grande vedete da feira: uma torneira que reconhece o usuário para fornecer a água na temperatura e fluxo desejados, além de exibir e-mail e a previsão do tempo

altíssimo padrão com 24 unidades residências de 300 a 900 metros quadrados cada, com custo do metro quadrado avaliado em aproximadamente 30 mil dólares. Essa é uma grande confirmação de sucesso da iHouse no Brasil e no mundo, além de ser motivo de orgulho para todos os brasileiros, já que a empresa é 100% nacional – o que também possibilita que os custos de instalação e manutenção dos produtos sejam mais acessíveis.

POR DENTRO DO LOFT A reportagem de A Magazine esteve presente na Feicon e pode atestar que, quando se entra no loft, a sensação é de que o futuro agora é presente: tudo aquilo que antes pertencia apenas aos filmes de ficção existe de fato. Ter sua banheira preparada antes mesmo de chegar em casa agora é possível – basta acionar o equipamento via telefone celular. Na porta de entrada, o Smartdoor possibilita a abertura do loft pela identificação da digital. Com ele você pode ainda controlar a luz e o ar-condicionado no interior da residência. Além disso, o Smartdoor representa o máximo de segurança, já que é possível saber

quem teve acesso a sua residência, controlar a entrada e saída de funcionários e ainda acionar a função “dedo do pânico” em caso de situações emergenciais – você cadastra um dedo diferente daquele que usa no dia a dia para eventuais problemas. Do lado de fora, uma luxuosíssima BMW Série 3 estacionada na garagem demonstra como funciona o Smartstop, um sistema de sensores cujo painel muda a luz em três cores e auxilia o motorista a fazer manobras. Dentro do loft, alguns dos produtos já consagrados da marca: a Smartsauna, com a vantagem de evitar as oscilações das saunas convencionais ao ajustar a potência necessária para nivelar a temperatura, o Smartshower, misturador inteligente para chuveiro com painel digital em silicone – o banho fica pronto já com a água na temperatura desejada, o que evita desperdício e gasto desnecessário de energia elétrica, e a cobiçada Smarthydro, banheira inteligente com design internacionalmente premiado, posicionada estrategicamente no centro do ambiente. Todos os produtos unem tecnologia com design arrojado e são de fácil manuseio. Uma grande vanMAGAZINE

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O Fadec (face detection), ao reconhecer a pessoa, pode abrir portas ou comandar equipamentos

tagem para o consumidor é a parceria estabelecida entre a iHouse e seus maiores clientes – dentre eles Cyrela, Adolpho Lindenberg, Cipesa, Condomínios Inteligentes, Gafisa, Inpar, Plarcon e Intermarine, que permite aos compradores de novos apartamentos e barcos já terem esses produtos inteligentes instalados – um grande salto em termos de modernidade e conforto.

DÉCOR HIGH-TECH Toda a modernidade trazida pelos produtos da iHouse no loft esteve refletida também na decoração. Profissionais como o arquiteto Marcio Guirado e o paisagista Marcelo Faisal encararam o desafio e criaram um ambiente futurista e, ao mesmo tempo, aconchegante e com muito estilo. A sala de estar foi equipada com móveis supersofisticados de marcas premium, onde também observamos um ultramoderno Media Center com uma nova maneira de gerenciamento de mídias, o chamado kaleidescape, enquanto a cozinha conta com décor em inox e apetrechos – inclusive um cooktop em formato inusitado da italiana Valcucine. A Galleria della Pietra, empresa fornecedora de pedras semipreciosas exclusivas em toda a América Latina com 102

uma variedade impressionante de ônix e mármores, participou com duas peças de Ônix Miele e Gracialle para a cuba e o painel de cabeceira da cama do loft, além de um Quartzite Silver para o piso da Smarthydro.

NOVIDADES PARA 2010 Também dentro do loft estiveram expostos os produtos conceito da iHouse, sem previsão de chegada no mercado: a torneira inteligente Smartfaucet, e o Fadec, novo módulo de reconhecimento facial. “Os novos produtos da iHouse atingiram níveis de modernidade e conforto nunca imaginados”, afirma Leonardo Senna. Transmitindo o conceito “tudo-ao-mesmo-tempoagora” dos novos tempos, a torneira possibilita que você se barbeie enquanto checa a previsão do tempo, lê seus e-mails ou ainda verifica sua agenda pessoal. De desenho assinado pelo escritório Nódesign, a Smartfaucet tem corpo metálico e uma tela touchscreen colorida conectada à Internet – é nela que estão contidas as informações como previsão do tempo, os e-mails recebidos e a agenda de compromissos. Uma microcâmera instalada na parte superior da tela é responsável pela leitura facial e, após re-

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Do lado externo do loft, apresentado na Feicon, o Smartstop auxilia o estacionamento da BMW

conhecimento, a peça é acionada na temperatura e fluxo de água de preferência do usuário. O bocal da torneira muda de cor conforme a temperatura. Ele varia de azul (água fria) até vermelho (água muito quente), mas existe uma gama de transições nesse intervalo. Isso é possível através da capacidade de combinações de cores RGB (Red Green Blue) que a torneira é capaz de gerar. Desta forma, a água morna emitirá uma cor rosada. O fluxo também é controlado de forma eletrônica. Já o Fadec, o módulo de reconhecimento facial da iHouse, traz o conceito de que o próprio usuário é o controle remoto da casa. Formado por um módulo que contém uma tela touchscreen colorida de 2.8 polegadas, uma microcâmera e um poderoso software, ao reconhecer o cliente pela sua face, comanda o produto que estiver associado a ele, como ar-condicionado, persianas, luz, portas automáticas ou outros equipamentos inteligentes da iHouse, como o Smartshower, ou a Smarthydro, por exemplo, conforme as preferências de cada pessoa. O módulo é instalado na parede, mas é possível movimentá-lo e mudar seu ângulo, o que facilita o reconhecimento facial pela microcâmera – localizada na parte superior do Fadec. Associado ao ar-condicionado, por exemplo,

cada vez que o usuário se direcionar ao aparelho, este será ativado e mudará a temperatura, conforme pré-configurado. Se a pessoa desejar desligar o ar-condicionado, basta se direcionar ao Fadec novamente. Outra aplicação interessante é associar este produto a uma porta elétrica da área privativa de uma residência, pois ela se abrirá automaticamente todas as vezes que pessoas cadastradas se aproximarem. Para realizar o cadastramento para o reconhecimento facial, basta acionar o produto via touchscreen – por meio da biometria facial, são extraídos diversos pontos-chaves da face, como a distância entre os olhos e a circunferência, que ficam gravados no banco de dados do equipamento. Esses produtos foram apresentados como conceito e sem data prevista para chegada ao mercado. E o que mais deve vir pela frente? “Para o futuro, a iHouse planeja continuar desenvolvendo produtos que promovam uma nova maneira de interagir com os equipamentos de uso diário, sejam eles quais forem”, afirma o gerente comercial Daniel Hornos, que ainda aposta na sustentabilidade, praticidade e na qualidade de vida proporcionada pelos produtos para que a marca seja cada vez mais bem-sucedida. MAGAZINE

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ARQUITETURA

ELIZABETH DE

PORTZAMPARC Arquitetura racionalista, com formas esculturais puras e jogos de volume que se opõem ou se misturam

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arquiteta Elizabeth de Portzamparc está em processo de estabelecimento no Brasil. Ela montou seu escritório no Rio há três anos e se prepara para concluir uma série de projetos importantes no país. Brasileira radicada na França há mais de 30 anos, ela ficou conhecida como designer de interiores, mas tem realizado importantes projetos arquitetônicos e urbanísticos em toda Europa, alguns deles em parceria com grandes nomes da arquitetura mundial. Casada com o arquiteto francês Christian de Portzamparc – autor do projeto da Cidade da Música, na Barra da Tijuca – Elizabeth apresentou o marido ao prefeito Cesar Maia e o estimulou a aceitar a empreitada da realização do projeto da sala sinfônica. A arquiteta já projetou a casa onde a família vai morar no Rio. A construção vai ser erguida em um terreno no bairro da Urca e tira partido de algumas das características mais marcantes do trabalho de Elizabeth, como as transparências e o movimento a partir de jogos de oposições entre linhas oblíquas. O escritório aberto por Elizabeth, no bairro da Gávea, já começou a trabalhar em alguns projetos importantes. No Rio de Janeiro, ela assinou a remodelagem de áreas externas e internas do Riocentro e um prédio na Lagoa está em projeto. A construção será sustentável e tem seis pavimentos para abrigar cinco apartamentos de luxo (um por andar e um). Nos últimos anos, não houve trabalho para as fachadas laterais dos prédios, porque eles passaram a ser geminados. Houve uma perda muito grande na concepção das fachadas laterais das moradias no Rio – só havia preocupação com as fachadas frontais. “Vou investir muito no tratamento das laterais dos prédios, valorizando a paisagem da Lagoa”, explica Elizabeth. A obra deve ser concluída em 2010. 104

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Acima, projeto para extensão sobre o mar, em Mônaco. Na página ao lado, Ancienne Comédie – projeto do metrô de superfície de Bordeaux

Fora do Rio, Elizabeth e sua equipe foram escolhidos por uma delegação franco-brasileira para projetar um centro cultural francês em Florianópolis, ao lado do palácio do Governo, à beira-mar. Este prédio será exemplar em matéria de sustentabilidade e deverá ser inaugurado em 2010. Elizabeth acaba de ser convidada pelo Governo de Santa Catarina para integrar uma comissão pluridisciplinar de reconstrução das cidades do Vale do Itajaí, entre elas Blumenau e Itajaí, destruídas pelas enchentes de 2008. A ideia de construir moradias de caráter sustentável com módulos pré-fabricados de madeira calafetada e adaptados às condições locais será uma importante contribuição para a pesquisa de soluções para a habitação popular no Brasil. Sob indicação do Culture France, órgão que cuida da difusão da cultura francesa em todo o mundo, a arquiteta vai realizar uma exposição itinerante sobre sua obra no Brasil. A mostra representa a arquitetura dentro do calendário de comemorações do Ano da França no Brasil, que será comemorado em 2009. A inauguração está prevista para agosto, no Paço Imperial do Rio de Janeiro, sob a curadoria do diretor da instituição, Lauro Cavalcanti. 106

Depois, a exposição segue para São Paulo, Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre. Na Europa, o escritório da arquiteta atualmente é responsável pelo projeto do Museu Jean Cocteau, na França; pela criação de um balneário turístico e ecologicamente viável em um país em desenvolvimento do Leste Europeu; e dois projetos de hotéis cinco estrelas no Marrocos (Casablanca e Rabat). Tanto no Leste Europeu quanto na África do Norte, a preocupação da arquiteta e sua equipe foi criar construções sustentáveis e integradas não apenas com a paisagem e a geografia, mas também com a história e a cultura locais. “Tenho formação em sociologia e sempre me cerco de profissionais especializados na cultura da região para realizar intervenções integradas à cultura local e que possam dar retorno à população”, explica Elizabeth. Outro projeto importantíssimo é o de um bairro novo para Mônaco. Nesse trabalho, inscrito em um concurso internacional, o escritório da arquiteta fez parceria com outros escritórios de nomes de quilate, como o de Frank Gehry, Rem Khoolaas e Christian de Portzamparc.

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No sentido horário, projeto de arquitetura de interior do jornal francês Le Monde; Casa Jardim, no bairro da Urca, Rio de Janeiro; Museu da Bretanha, em Rennes, na França; e Centro Culltural de Florianópolis

ESTILO ARQUITETÔNICO A assinatura personalizada de Elizabeth de Portzamparc se exprime nas suas realizações em diferentes escalas: do objeto ao território, no design, na arquitetura e no urbanismo. A abordagem estética, muito distante dos excessos formalistas decorativos e gratuitos, é facilmente reconhecível em seus trabalhos: o Parque de Exposições e Centro de Convenções do Riocentro; a GBQ (Grande Biblioteca do Quebéc); o metrô de superfície de Bordeaux; o jornal “Le Monde”, a sede do Banco Popular, os edifícios de apartamentos em Boulogne, em Mônaco, no Rio de Janeiro e em Genebra; o Centro Cultural Francês em Florianópolis; a museografia do Museu da Bretanha e da Fundação Jean Cocteau. Apesar da diferença desses assuntos e suas escalas, encontramos traços característicos de seu trabalho: quadros rigorosos em que a audácia 108

técnica e as inovações tecnológicas são expressas sutilmente. Sua contribuição arquitetural se baseia em uma releitura pessoal e sensual da arquitetura racionalista por meio de propostas de formas esculturais puras e jogos de volume que se opõem ou se misturam. Formas sempre leves, dinâmicas e elegantes, apoiadas em uma reflexão técnica de ponta. Outro aspecto importante de seu trabalho atual são suas pesquisas sobre sistemas industriais elegantes e econômicos para a arquitetura: pilares, módulos habitacionais sustentáveis e luminárias fotovoltaicas. Os projetos apresentados aqui mostram que Elizabeth de Portzamparc traz as respostas adequadas aos diversos assuntos nos quais o seu escritório trabalha. Essas referências mostram também a sua competência nas áreas da imagem e da identidade visual de instituições de prestígio na França e no plano internacional.

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motor

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MOTOR

A LIBERDADE É AZUL Veyron Bleu Centenaire. Modelo exclusivo de aniversário POR

FRAN OLIVEIRA

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m 1909, Ettore Bugatti deu início ao seu negócio na cidade de Molsheim, na Alsácia, França. O nome da empresa era “Ettore Bugatti Automobiles i.Els.”. Embora o nome tenha sido alterado para Bugatti Automobiles S.A.S., o local e a filosofia da marca foram preservados. Em 2006 foi lançado o primeiro modelo sob a “nova administração” — exatamente 50 anos após o último carro da primeira empresa ter deixado os portões da fábrica de Molshreim. O Bugatti Veyron está no mercado há três anos e já alcançou a condição de ser parte incontestável da história automobilística, com 250 carros encomendados até março de 2009, e aproximadamente 200 unidades entregues. Isso significa que há somente 50 Veyrons à venda até que se atinja o limite de 300 unidades.

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Detalhes: luzes, grades e roda especial (acentuada por um fio de luz de freio vermelha). Mais detalhes: interior revestido de couro especial na tonalidade bege-neve e console central revestido com o mesmo couro

A marca, que produz apoiando-se em seus valores mais importantes, “arte–forma–técnica”, desenvolveu o Bugatti Veyron Bleu Centenaire, um modelo exclusivo para celebrar a história centenária da empresa. Esse modelo especial continua com a tradicional especificação de duas tonalidades da Bugatti, mas dá destaque a não mais que uma cor: o conhecidíssimo azul-claro sombreado. A combinação exclusiva do Centenaire, de um “azul ligeiramente fosco” e um “azul ligeiramente brilhante” oferece, portanto, uma nova impressão do esquema de duas tonalidades conhecido até hoje — há partes do motor cobertas, também, com o tradicional azul Bugatti. As faixas que decoram o teto e os espelhos retrovisores externos são de alumínio anodizado e polido. Acrescentou-se o desenho de uma roda especial — acentuado por um fio de luz de freio vermelha. A grade na parte dianteira e nas entradas de ar laterais brilham como espelho. O interior do Centenaire foi revestido de couro especial na tonalidade bege-neve com acolchoamento nos assentos. O console central foi revestido com o idêntico couro. As novas luzes de diodo de emissão de luz, controle de distância de estacionamento e uma câmera traseira se 112

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Bugatti Veyron Grand Sport, no Salão do Automóvel de Genebra: quantidade limitada de 150 unidades

tornaram parte do equipamento standard em todos os Bugatti Veyron a partir deste ano. O Bleu Centainaire tem todas as características de desempenho dos outros modelos Veyron, como aceleração e desaceleração, que têm sido muito apreciadas desde o momento em que o Bugatti Veyron entrou em cena. O carro custará 1,35 milhão de euros, sem incluir impostos e o transporte. “O ano de 2009 será especial para a Bugatti. Comemoraremos o nosso centenário fazendo referências ao nosso passado de sucesso e — espera-se — ao nosso futuro de êxito”, esclarece Franz-Josef Paefgen, presidente da empresa.

BUGATTI VEYRON GRAND SPORT Este ano, no Salão do Automóvel de Genebra, o Bugatti Veyron Grand Sport foi mostrado pela primeira vez a um público maior na Europa. O Bugatti Grand

Sport é o único veículo esportivo com teto escamoteável baseado no Veyron Coupé e foi lançado durante o Concours d’Élégance realizado no ano passado em Pebble Beach, Califórnia. Este novo modelo começou a ser produzido no final de março com a quantidade limitada de 150 unidades ao longo do seu ciclo. Os primeiros números de chassis estarão reservados para os atuais clientes do Veyron Coupé, exaltando assim a lealdade desses clientes ao mesmo tempo em que lhes proporciona a oportunidade de estar no topo da lista de espera. Essa medida foi amplamente apreciada. A Bugatti Automobiles S.A.S. comemorará o seu centenário em várias ocasiões ao longo do ano, terminando em um evento em Molsheim no dia 12 de setembro. No final do mês de abril, a empresa esteve presente no importante Concorso d’Eleganza Villa d’Este em Cemobbio, no norte da Itália. MAGAZINE

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ADRENALINA Impulsionados por motor de 255 HP, novos modelos de motos aquáticas atingem a velocidade de uma Ferrari F430 POR MARCELO WYSOCKI

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recém-chegada ao mercado dos modelos RXP-X e RXT-X — motos aquáticas que levam a assinatura da conceituada Sea-Doo, empresa canadense líder no desenvolvimento de jets e sport boat, da Bombardier Recreational Products Inc. — só faz reforçar a velha máxima que diz que “a diferença entre um adulto e uma criança é o preço dos brinquedos”. Com valores que beiram a casa dos 70 mil reais, os novos “brinquedinhos” trazem diversas inovações. Segundo a fabricante, o RXP-X é capaz de atingir a velocidade de 80 quilômetros por hora em 2,9 segundos. É o mesmo que uma Ferrari F430. Tal desempenho deve-se ao poderoso motor Rotax de até 255 cavalos de potência, que proporciona a mais rápida aceleração de uma moto aquática. Assim, em um piscar de olhos, pode-se pas114

sar facilmente de 100 quilômetros. E as novidades não param por aí. Os mimos contam ainda com assento de competição, painel digital com 20 funções, sistema de auxílio à pilotagem em baixas rotações ou com motor desligado (chamado de OPAS), marchas frente, ré e neutro e espelhos retrovisores. Inspirados em versões de competição, as motos surpreendem e trazem como opcionais um avançado sistema de navegação por GPS e sonar, além de guidão estilo corrida e aderência extra, recursos especialmente projetados para proporcionar performance mais ágil e precisa. O RXP-X é uma embarcação indicada para quem busca opção mais esportiva. Com capacidade para duas pessoas, é ideal para utilização em lagos. Já o modelo RXT-X, para três pessoas, foi projetado para quem deseja lazer e navegação no mar.

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