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MECA DOS CURRIES

Birmingham, na Inglaterra, é a terra da comida balti, conceito indiano de servir irresistíveis receitas na panela em que são preparadas - programa imperdível para a “volta ao normal” de brasileiros no Reino Unido

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Por Carlos Eduardo Oliveira, de Birmingham

Cinco garotas de micro-mini-saias e decotes pra lá de ousados descem do Uber já meio “altas”. Temperatura: sete graus centígrados. São onze da noite de um sábado, e a Broad Street, passarela e centro nevrálgico da cidade, literalmente “ferve” – definitivamente, a “night” de Birmingham tem muito a ensinar a Londres. E não só no quesito “fervo”: aqui, a 160 quilômetros da capital, reside a autoproclamada mais autêntica cena de restaurantes indianos do país. Quiçá de todo o Reino Unido. Programa imperdível para quem aprecia sabores complexos quando nós, brasileiros, pudermos circular novamente pela terra da Rainha Elizabeth.

“Aqui em Birmingham temos uma enorme comunidade indiana e paquistanesa”, conta o restaurateur Zafar Hussain, conhecido como Zaf. “Até os anos 60, a predominância em muitos bairros era de irlandeses, que começaram a se mudar, dando lugar a levas de imigrantes da Índia, Paquistão e Caxemira”, conta, ele mesmo filho de pais oriundos do convulso território situado no norte indiano. Ao trazer sua cultura para a terra da rainha, inúmeros imigrantes abriram restaurantes, caso do Shababs, fundado há décadas por seu hoje aposentado pai, endereço famoso e sempre indicado a quem está em trânsito na cidade.

Assim, tamanha era a quantidade de restaurantes indianos em Birmingham que fez surgir um movimento chamado Balti Triangle, “triângulo balti”, referência não apenas à região que concentrava a maioria deles, como também à autenticidade de casas a cumprir o ritual de servir a comida ao cliente na mesma panela em que é preparada – o balti, um bowl de aço espesso que vai ao fogo. “A ideia é manter o curry o mais aquecido possível até chegar à mesa, para conservar a intensidade de seus aromas e sabores”, explica Zaf. Ou seja, a panela dá nome ao prato. E ao bairro.

Na contramão do horário comercial de Londres (onze da noite), o Shababs “bomba” até às quatro da matina – mesmo em dias de semana. Pequeno, confortável, ar modernoso, a agradável trilha sonora é uma espécie de música indiana modernosa. A equipe é formada por jovens de origem hindu, todos nascidos no Reino Unido. Por motivos religiosos, não há bebidas alcoólicas na carta, mas, a pedido

do cliente, consegue-se cerveja nas delis vizinhas (em sua maioria, de propriedade de “patrícios”). Há ainda a opção de se trazer o vinho, sem cobrança de rolha.

A preços bem razoáveis (estamos falando em libras esterlinas, não custa lembrar), do tandoor (forno típico indiano) emergem maravilhas como pão nan com alho, acompanhado de deliciosos chutneys, picantes e agridoces; como entrada, funciona bem a Chicken Tikka, porção diminuta do tradicionalíssimo prato de frango Chicken Masala. A estrela da noite é o Lamb Balti – a receita traz o lombo do cordeiro ladeado por cogumelos, aloo (batatas) e chana (grão de bico), envoltos em cremosa e aromática camada de curries. Memorável.

Além de saborosa, comer direto do balti é uma experiência lúdica, uma divertida brincadeira. Obviamente, quem preferir pratos, os têm à disposição. Entre leve, médio ou autêntico, o nível de ardência do curry fica a critério do comensal – mas claro, nada como se entregar ao real deal, como fazem os locais.

Tradição renovada

Se o Shababs dista alguns minutos do centro, no Balti Triangle, outro endereço exponencial da arrebatadora cena da cozinha indiana de Birmingham fica na própria Broad Street citada no começo do texto – a principal passarela da cidade. Elegante, ambiente todo em branco ao melhor estilo fine dining, o Pushkar (“reencarnação”) concentra a preferência das EM SUAS PAREDES, RAI tradicionais famílias indo-paEXIBE, ORGULHOSO, AS VÁRIAS CONQUISTAS quistanesas. Aberto em 2010, apresenta um impecável trivial indiano, mas com toques su-

NO BRITISH CURRY tilmente contemporâneos que vão

AWARDS, PREMIAÇÃO um tantinho além do conceito balti. ANUAL AOS MELHORES O chef e proprietário, Rai Singh, é de Birmingham, mas poliu seu taDO VASTO UNIVERSO DE lento na Europa, em cozinhas estre-

MESAS INDIANAS ladas pelo Guia Michelin, em Israel e

NO REINO UNIDO até no Rio de Janeiro(!), onde morou brevemente. Em suas paredes, Rai exibe, orgulhoso, as várias conquistas no British Curry Awards (ver box), premiação anual aos melhores do vasto universo de mesas indianas no Reino Unido, “algo muito prestigioso aqui na Inglaterra”, diz. Na parte dos fundos há ainda um salão que funciona como galeria de arte, com quadros e gravuras. “Além dos pratos balti, nosso forte são as tradicionais receitas indianas. Pratos à base de galinha e frutos do mar têm muita saída. Mas eu diria que somos um restaurante de cozinha indiana de vanguarda, com um toque de modernidade”, assinala Rai. Verdade: ao contrário do Shababs, o menu do Pushkar dá ênfase também à coquetelaria e à carta de vinhos, alguns deles velhos conhecidos dos brasileiros. “Atualmente, boa parte dos clientes tem gostado de harmonizar a comida indiana com Malbecs argentinos de Mendoza”, revela. Ah, sim: não dá para passar em branco que Birmingham é a terra onde nasceu o heavy metal. Através de um certo Black Sabbath. E depois, um certo Judas Priest. Mas essa é outra (ruidosa) história.

“Oscar” do Curry

Realizado anualmente desde 2005, o British Curry Awards é uma premiação dedicada à grande indústria do curry no Reino Unido. Em diversas categorias, que incluem fabricantes, são apontados não apenas os melhores restaurantes por região da Inglaterra, mas também de Gales e da Escócia.

Shababs

163 Ladypool Road, Balti Triangle, 812 8LQ www.shababs.co.uk

Pushkar

245 Broad Street, Birmingham, B1 2HQ www.pushkardining.com

Birmingham – Como chegar

Em Londres, a partir da estação King’s Cross, de conexão com várias linhas do metrô, pegar os trens da National Rail (cerca de 15 libras) ou da Virgin Trains (cerca de 30 libras). O primeiro, mais simples, é como composições de subúrbio, com gente em pé e parada em várias estações; o segundo, além de mais rápido, é bem mais confortável. Os preços variam se o horário escolhido for ou não de pico. Há duas estações em Birmingham, sendo que a central é New Street, no coração da cidade; a outra, Birmingham International, tem conexão com o aeroporto local.

COLIN

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