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Urutau
Há muitas lendas sobre a ave Urutau (Nyctibius griseus). comum em toda a América do Sul. Conhecida ainda como Anda-a-Lua (em Minas Gerais), Chora-a-Lua (na Bahia) ou Pai da Noite (em Pernambuco), é uma ave de boca grande que inspirou histórias de mistério. Tem canto melancólico e agudo, como se fosse uma risada de dor, que angustia quem o ouve. Muitos a chamam de “ave fantasma”, talvez porque, numa corruptela do guarani, seu nome queria dizer exatamente isso: guyra (“ave”) e táu (“fantasma”). É muito difícil de avistar, pois tem hábitos noturnos e plumagem que pode ser confundida com um galho. Outra curiosidade é que o Urutau pode “enxergar de olhos fechados”, pois tem duas fendas em suas pálpebras. Dizem que o Urutau ou Mãe da Lua era uma mulher que amava festas. Um dia deixou o marido, Paulo, sozinho e foi se divertir. Ao voltar, encontrou-o morto. Cheia de culpa, deu um grito terrível, transformou-se na ave e pôs-se a falar: Paulo! Paulo!, soluçando, numa risada de dor. No Maranhão, a Mãe da Lua era uma moça feia, alta, esquelética, com os olhos vermelhos e o nariz comprido, que queria muito casar. Uma noite, encontrou um príncipe que aceitou casar-se em troca de ela se tornar sua guia. Porém, quando a Lua clareou a noite, o rapaz viu o rosto da moça. Assustado com sua feiura, foi embora para sempre. Lua o esperou por muito tempo, Mãe da Lua o esperou por muito tempo, até que uma feiticeira lhe ofereceu asas para ir em busca do noivo. Foi assim que ela virou uma ave sinistra. Vagou a noite inteira, nunca encontrou o noivo e ficou morando no oco de uma árvore. Sempre que a Lua surge, ela põe a cabeça para fora e, lembrando-se do noivo, grita, com voz histérica: “Foi!... Foi!... Foi! Seu canto melancólico inspirou grandes escritores brasileiros, como José de Alencar, em O Guarani (1857): “O urutáo no fundo da matta solta as suas notas graves e sonoras que reboando pelas longas crastas de verdura vão echoar ao longe como o toque lento e pausado do angelus”, e Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas (1956): “Todo o mundo dormindo. Só o chochôrro mateiro, que sai de debaixo dos silêncios, e um ô-Ô-ô de urutau, muito triste e muito alto”. Alguns povos de língua guarani contam que o Urutau é a índia
Nheambiú, transformada em ave depois da morte do noivo, Quimbae. Para os Karajá, foi Imaeró quem se transformou em Mãe da Lua quando Taina-Can (a estrela - d’alva) preferiu sua irmã, Denaque, como esposa. Para os índios da região do rio Buopé, o Urutau nada mais é do que o tuxaua Duiruna, que virou ave ao ver a mulher Ueundá se transformar no peixe Pacutinga ou Pacu-Branco. Já os Tupinambá acreditavam que ela trazia notícia dos antepassados e nunca a matavam. Para outros povos indígenas, as penas dessas aves colaboravam para tornar as moças imunes às paixões perigosas, por isso a tradição era depenar a ave, secar as penas ao Sol e então deixar as moças sentadas sobre elas durante três dias seguidos. Nesse período, as mulheres mais velhas vinham conversar aconselhando-as a serem honestas. Ao final do período elas estavam “curadas”. Já para outros povos, bastava varrer o chão embaixo da rede das moças com as penas da ave para protegê-las das paixões.
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OUTROS NOMES: Anda-a-Lua, Ave Fantasma, Chora-a-Lua, Mãe da Lua, Pai da Noite REGIÕES DO PAÍS: Todas ORIGEM: Indígena