Texto 3 HISTÓRIA DO SURDO NO BRASIL E NO MUNDO

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Educação de Surdo e Língua de Sinais Texto 3 HISTÓRIA DO SURDO NO BRASIL E NO MUNDO Observando a trajetória histórica do ontem e o processo hoje, a história da humanidade foi testemunha de como as pessoas com deficiência foram excluídas da sociedade. Durante os séculos X a IX a.C, as leis permitiam que os recém-nascidos com sinais de debilidade ou algum tipo de má formação fossem lançados ao monte Taigeto. As crianças que nasciam com alguma deficiência eram deixadas nas estradas para morrerem. Diante da literatura antiga, a Bíblia faz referência ao cego, manco e ao leproso como pedinte ou rejeitados pela sociedade. E sobre a educação não havia notícia. A surdez que é uma deficiência insignificante, as crianças eram consideradas irracionais, obrigadas a fazerem os trabalhos mais desprezíveis, viviam sozinhos e abandonados na miséria. Eram considerados pela lei da época como imbecis. Não tinham direitos e também eram sacrificados, não recebiam comunhão nem heranças e ainda havia sanções bíblicas contra o casamento de duas pessoas surdas. Mais tarde, durante a Idade Média a igreja condena o infanticídio, fornecendo a idéia de atribuir a causas sobrenaturais as "anormalidades" que apresentavam as pessoas. É importante ressaltar que até o início da Idade Moderna não havia notícias de experiências educacionais com as crianças surdas. O surdo era visto como um ser irracional, primitivo, não educável, não cidadão; pessoas castigadas e enfeitiçadas, como doentes privados de alfabetização e instrução, forçados a fazer os trabalhos mais desprezíveis; viviam sozinhos e abandonados na miséria. Eram considerados pela lei e pela sociedade como imbecis. Não tinha nenhum direito e também eram sacrificados. A história dos surdos começou assim: triste, muda e dolorosa. A idéia que tinha sobre os surdos era de piedade e tamanha ignorância. O mais antigo registro que menciona a “Língua de Sinais” é de 368 a.C, escrito pelo filósofo Sócrates , quando perguntou ao discípulo: “Suponha que nós , os seres humanos, quando não falávamos e queríamos indicar objetos , uns para os outros , nós o fazíamos , como fazem os surdos mudos , sinais com as mãos , cabeça e demais membros do corpo?” A comunicação por sinais foi a solução encontrada também pelos monges Beneditino da Itália, cerca de 530 d.C, para manter o voto de silêncio. Além disso, quase nada foi registrado sobre a comunicação com os surdos até a Renascença, mil anos depois. A primeira referência de exclusão a que os surdos se remetem ocorre pelo pensamento de Aristóteles. Na afirmação de que o pensamento não podia se desenvolver sem linguagem e que esta não se desenvolvia sem a fala. Sendo assim, como o surdo não fala conseqüentemente então não pensa. O primeiro educador de surdos que se tem notícia foi Pedro Ponce de Leon (1510-1584), um frade Beneditino espanhol que, embora não tenha deixado registro de seus métodos, depoimento escrito por alguns de seus alunos indicava que utilizava a combinação de sinais com a o esforço concentrado na escrita. Inventou o alfabeto manual transformando-o em instrumento de acesso à escrita e à leitura para só então enfatizar a fala. Na Itália Girolano Cardano, utilizava sinais e linguagem escrita para ensinar a língua oral de seu país. Alguns professores nos séculos seguintes dedicaram–se à educação dos surdos. Entre eles destacaram-se: Ivan Pablo Bonet (Espanha); Abbé Charles Michel de L’Épée (França); Samuel Heinicke e Moritz Hill (Alemanha); Alexandre Graham Bell (Canadá e EUA) e Ovide Decroly (Bélgica). Esses professores divergiam quanto ao método mais indicado para ser adotado no ensino dos surdos. Uns acreditavam que o ensino deveria priorizar a língua falada (método oral puro) e outros utilizavam a língua de sinais – já conhecida pelos alunos – e o ensino da fala (método combinado).


A história nos leva até um marco muito importante: Charles Michel de L´Épée, conhecido como Abbé de L`Épée.Fundador da primeira escola pública para surdos, em Paris. Considerou insuficiente a linguagem natural dos surdos e inventou os signes méthodiques, sinais metódicos que era o resultado da combinação de sinais com o francês escrito para integrar à gramática da língua. L’Epée pesquisa junto aos surdos e começa a transmitir a idéia de que a língua de sinais seria transmissora de conhecimento junto aos surdos, A religião na época era a possibilidade de acesso à cultura e de ser letrado. Com a permissão do rei Luís, L´Epee fundou a primeira escola pública para surdos em Paris. A EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL A educação do surdo desenvolve-se na Europa e aqui no Brasil começa a ter um movimento em 1857, a convite de D. Pedro II o diretor e professor surdo francês Eduard Huet discípulo de L`Epée, vem para o Brasil e funda o instituto dos Surdos-mudos, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES, que usava o método combinado. Naquele tempo no Brasil não se tinha idéia pública da educação dos surdos e inclusive as famílias relutavam em educá-los. No início, eram educados por linguagem escrita, articulada e falada, datilologia e sinais. A disciplina "Leitura sobre os Lábios" estaria voltada apenas para os que apresentassem aptidões e a desenvolver a linguagem oral. Assim se deu o primeiro contato com a Língua de Sinais Francesa trazida por Huet e a língua dos sinais utilizada pelos alunos. Não foi fácil a Huet iniciar a tarefa de constituição da escola. Como ele trouxe uma carta de recomendação da França, em 1862 foi apresentado ao Reitor do Imperial Colégio de D.PEDRO II que facilitou os meios de abrir a primeira escola de surdos no país. O seu trabalho contava com auxílio da nobreza ligada ao governo. Ao decorrer da história o inventor de telefone o Escocês Alexander Graham Bell abre uma escola oralista para surdos. Defende o ensino da fala e que o surdo não poderia casar entre si, nem lecionar para outros surdos. Em 1878 o I Congresso Internacional sobre a instrução dos surdos-mudos aprova a resolução que só a instrução oral pode integrar o surdo na sociedade. Em 1880 realiza-se em Milão, o Congresso Internacional de Educadores de Surdos. Neste congresso ficou decidido pelos professores ouvintes a proibição da língua de sinais. Os professores surdos foram excluídos desta votação. A partir do congresso de Milão decaí muito o número de surdos envolvidos na educação de surdos. Em Milão (1880) O II Congresso aprova duas resoluções que mudaram a história dos surdos: 1- Que a fala é incontestavelmente a única maneira de incorporar os surdos-mudos na sociedade; 2- Que o método oral deve ser utilizado puramente. Os gestos devem ser proibidos. Depois em 1896, o professor do Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES - A. J. de Moura e Silva a pedido do Governo Brasileiro, viajou para o Instituto Francês de Surdos, para avaliar a decisão do Congresso de Milão e concluiu que o método oral puro (oralismo) não era adequado para todos os surdos. Assim o antigo Instituto no Brasil continuou como um centro de integração para o fortalecimento do desenvolvimento da LIBRAS , pois segundo o Relatório do diretor Tobias Rabello Leite (1871) , esta escola já possuía alunos vindos de várias partes do país e após dezoito anos retornavam as cidades de origem levando com eles a LIBRAS. Um aluno em especial teve destaque no Instituto de Surdos-Mudos naquela época, Flausino Jose da Gama que além de excelente aluno , foi promovido a repetidor (professor) ensinando LIBRAS aos seus colegas. Como conseqüência do Congresso de Milão, a filosofia educacional começou a mudar na Europa e em todo o mundo. O método combinado, que utilizava tanto sinais como o treino da língua oral, foi substituído em muitas escolas pelo método oral puro, o oralismo. Os professores surdos já existentes nas escolas naquela época foram afastados e os alunos desestimulados e até proibidos de usarem as línguas de sinais de seus países, tanto


dentro como fora das escolas. Era comum a pratica de amarrar as mãos das crianças para impedi-las de fazer sinas. Até então ocorre um período de isolamento da comunidade surda, que resiste a imposição da língua oral e a partir dos anos 60 inicia uma fase de manipulação para entrar numa fase de abertura para a língua de sinais. A educação torna-se um ponto importante para o resgate da língua de sinais e a cultura surda para os surdos. O Americano Lingüista William Stokoe é considerado um marco diferencial para o entendimento da definição de línguas naturais, até então somente compreendidas como sendo propriedade das línguas faladas, a partir do início das pesquisas lingüísticas iniciadas por Stokoe nos anos de 1960, passa a acontecer o reconhecimento das línguas na modalidade sinalizadas. Surgem defensores da língua de sinais no Brasil e são fundadas as associações de surdos e a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS (1987) dirigida apenas por surdos, para desarticular a antiga FENEIDA que era composta apenas por pessoas ouvintes. Começam a ser implantadas as primeiras escolas para surdos e a surgir às discussões sobre metodologias, filosofias para ensinar ao surdo. Atualmente ainda é usado o método do bilingüismo nas escolas de surdos, que defende o uso da língua de sinais como língua de comunicação e o português como segunda língua entre os surdos. A FENEIS foi fundamental no processo de crescimento da política surda. Não existem dúvidas que os surdos têm voz pela sinalização e já conseguiram abrir várias portas, antes fechadas para eles. A trajetória do movimento político de luta e resistência contra a oralização e pela propagação da língua de sinais é histórica. A FENEIS, em 1998, preocupada com a grande diferença de sinais procurou desenvolver um projeto para uniformizar, padronizar os sinais para facilitar a comunicação, principalmente entre os instrutores surdos. E, nesse momento de troca, foram tomando consciência da sua condição bilíngüe e da relação de contato direto entre Libras e Língua Portuguesa. Hoje, há escolas aqui no Brasil que, mesmo ainda sem uma proposta bilíngüe, têm se tornado fator de integração da cultura surda brasileira, por que as crianças, jovens e adultos se comunicam em LIBRAS, e muito professores destas escolas já sabem ou estão aprendendo esta Língua. Por outro lado, várias escolas, em cidades ou estados que não possuem associações de surdos, trabalham ainda com uma metodologia oralista e as crianças surdas destas escolas desenvolvem um dialeto entre elas parar uma comunicação mínima, e ficam totalmente afastadas da Cultura Surda Brasileira e a maioria não tem um bom rendimento escolar. Devido ainda a esta metodologia oralista, há alguns surdos que, rejeitando a Cultura Surda e conseqüentemente a LIBRAS, só querem utilizar a Língua Portuguesa, e há alguns que embora queiram se comunicar com outros surdos em LIBRAS, devido o fato de terem se integrado a Cultura Surda tardiamente, usam, não a LIBRAS, mas um bimodalismo, ou seja, sinalizam e falam simultaneamente, como os ouvintes quando começam a aprender alguma língua de sinais. Pelo não domínio da Libras , quando estão em uma situação (eventos acadêmicos, políticos, jurídicos,etc.) que exigiria interprete de LIBRAS , para melhor compreensão , não conseguem entender nem a Língua Portuguesa nem a Língua de Sinais, ficando marginalizados, sem poder ter uma participação ativa. Portanto a divulgação da Libras é tão importante , pois através da sua Língua os surdos terão um papel efetivo na sociedade.

Fontes de consultas: FELIPE, Tanya; MONTEIRO, Myrna S. LIBRAS em contexto. Curso Básico. Brasília : Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação Especial, 2001 Trechos extraídos de textos autoria de NEIVA AQUINO ALBRES, EMELI MARQUES. (www.editora-arara-azul.com.br).


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